Anais do Conic-Semesp. Volume 1, 2013 - Faculdade Anhanguera de Campinas - Unidade 3. ISSN 2357-8904
TÍTULO: PROTEINOGRAMA SÉRICO DE EQUINOS SUBMETIDOS A EXERCICIOS EM ESTEIRA DE ALTA VELOCIDADE
TÍTULO:
CATEGORIA: CONCLUÍDO
CATEGORIA:
ÁREA: CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE
ÁREA:
SUBÁREA: MEDICINA VETERINÁRIA
SUBÁREA:
INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUIÇÃO:
AUTOR(ES): FABIO SIQUEIRA MORAES CAMARGO
AUTOR(ES):
ORIENTADOR(ES): GESIANE RIBEIRO
ORIENTADOR(ES):
COLABORADOR(ES): LUIS CLAUDIO CORREIA DA SILVA, MARIA LETICIA PIFFER, MAURICIO MIRIAN, RENATA GEBARA SAMPAIO DÓRIA, VANESSA APARECIDA FEIJÓ, WILSON ROBERTO FERNANDES
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi avaliar se o exercício físico realizado durante um Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP) em esteira de alta velocidade é capaz de promover alterações no proteinograma de cavalos destreinados. Quatro cavalos árabes, clinicamente sadios, e a pelo menos três meses sem exercer atividade física controlada foram submetidos a um Teste Padrão de Exercício Progressivo em esteira rolante de alta velocidade. O Teste foi conduzido no Laboratório de Medicina Esportiva Equina (LAMEQ), localizado nas dependências do Setor de Clínica Médica de Equinos do Hospital Veterinário da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo (FMVZ/USP), seguindo protocolo estabelecido pelo grupo de pesquisa do LAMEQ. Amostras de sangue para realização de proteinograma sérico foram coletadas nos momentos zero (antes de se iniciar o Teste), cinco minutos e seis horas após o término do Teste. Após centrifugação e separação do soro, as proteínas foram separadas por eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS-PAGE, e suas concentrações determinadas por densitometria computadorizada. A análise estatística comparou os valores obtidos nos três momentos avaliados e não apontou diferença significativa. Concluiu-se que o Teste Padrão de Exercício Progressivo realizado neste estudo não promoveu alterações no proteinograma de cavalos árabes destreinados em cinco minutos e em seis horas após o término do exercício.
INTRODUÇÃO
O exercício de alta intensidade está associado à lesão de células musculares e, por consequência, ao aparecimento da chamada resposta de fase aguda, que envolve o sistema complemento, neutrófilos, macrófagos, citocinas e proteínas de fase aguda que, provavelmente, tem a finalidade de eliminar tecido lesado (EVANS & CALMON, 1991).
As proteínas de fase aguda são, em sua maioria, glicoproteínas sintetizadas pelos hepatócitos, que surgem na circulação sanguínea durante processos inflamatórios (JACOBSEN, 2007). O interesse crescente por tais proteínas se fundamenta no seu potencial uso como indicadoras confiáveis da presença, grau e tempo de evolução de alguma forma de doença inflamatória ou inflamação
(JACOBSEN et al., 2005), pois a concentração plasmática das proteínas de fase aguda é diretamente proporcional ao grau de lesão tecidual e/ou de inflamação (CERÓN et al., 2005).
Segundo Kaneko (1997), as proteínas de fase aguda podem ser classificadas como positivas ou negativas. No primeiro grupo, enquadram-se, dentre outras, a glicoproteína ácida e a haptoglobina (TAKIGUCHI et al., 1990). No segundo grupo, destacam-se a albumina e a transferrina, cujos níveis séricos tendem a decrescer na presença de condições inflamatórias (KANEKO et al., 1997).
OBJETIVOS
Determinar se um Teste Padrão de Exercício Progressivo em esteira de alta velocidade é capaz de promover alterações no proteinograma de cavalos destreinados, em especial sobre os níveis séricos das proteínas relacionadas com a fase aguda da inflamação.
METODOLOGIA Animais
Foram avaliados quatro equinos adultos, clinicamente sadios, e a pelo menos três meses sem exercer atividade física controlada. Os animais utilizados neste estudo são da raça Árabe, machos e fêmeas, com peso variando entre 320 e 350 Kg. Durante este período experimental, os animais ficaram estabulados em cocheiras e foram alimentados com feno de capim coast cross e água ad libitum, e suplementados com ração comercial para equinos e composto mineral.
Após a chegada à Instituição, os animais passaram por um período de sessenta dias de adaptação ao manejo nutricional e ao ambiente, incluindo a sala em que se localiza a esteira e as pessoas envolvidas com a pesquisa. Durante este período, os animais foram gradativamente adaptados a caminhar sobre a manta da esteira, inicialmente puxados por cabresto sobre a manta estática e depois colocados para caminhar sobre a manta em movimento, sem e com inclinação.
Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP)
O TPEP foi dividido em 8 estágios com duração de 3 minutos e velocidades progressivas de 2,5m/s, 3,3m/s, 4,1m/s, 5,0m/s, 6,6m/s, 8,3m/s, 10m/s, 12,5m/s, com inclinação da esteira a 6%. O TPEP foi interrompido quando os cavalos não
conseguiram mais acompanhar a velocidade da manta da esteira, mesmo sendo estimulados.
Colheita das amostras
As amostras de sangue destinadas às análises laboratoriais foram colhidas por meio de punção jugular em três momentos relacionados ao TPEP – M0: antes do início do teste, M1: 5 minutos após o término do teste e M2: 6 horas após o término do teste. Foram utilizados frascos de colheita contendo gel SST, que foram centrifugados a 1500 rpm por 5 minutos, a fim de promover a separação do soro. As alíquotas de soro foram armazenadas em tubos do tipo eppendorfs, identificadas e congeladas a -20°C até o processamento.
DESENVOLVIMENTO
Quantificação de Proteínas de Fase Aguda
A determinação da proteína total sérica foi realizada pelo método do biureto, empregando-se kit comercial (Labtest). Para o fracionamento das proteínas foi utilizada a eletroforese em gel de acrilamida contendo dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE), conforme técnica utilizada por Fagliari et al. (2008). Após fracionamento o gel foi corado durante 10 minutos em solução de azul de coomassie, constituída de metanol (50%), água (40%), ácido acético glacial (9,75%) e azul de coomassie (0,25%). Em seguida, o gel foi colocado em solução de ácido acético a 7% para retirar o excesso de corante, até que as frações proteicas se mostraram nítidas.
As concentrações das proteínas foram determinadas em densitômetro
computadorizado (Shimadzu CS 9301 - Tokio, Japan). Como referência foi utilizada solução marcadora (Sigma - Saint Louis, EUA) com pesos moleculares 29.000, 45.000, 66.000, 97.400, 116.000 e 205.000 Dáltons (Da), além de proteínas
purificadas – albumina, imunoglobulina G (IgG), haptoglobina, α1-antitripsina e
transferrina.
Análise Estatística
Foi realizada a comparação das distribuições dos resultados encontrados nos três momentos de estudo pela prova não paramétrica de Friedman, a 0,05 de significância. Para tanto, o pacote estatístico SPSS v.9 foi utilizado.
RESULTADOS
Os resultados obtidos estão apresentados nas tabelas a seguir. A Tabela 1 mostra os valores obtidos no primeiro momento de avaliação dos cavalos, ou seja, imediatamente antes de iniciarem o Teste na esteira rolante e, portanto, representa o proteinograma basal de cada animal.
Tabela 1. Proteinograma sérico de quatro cavalos árabes destreinados no momento zero, ou seja, antes de serem submetidos a um Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP) em esteira rolante
Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Valor Médio
Proteína Total 6,22 6,6 6,9 5,77 6,372
IgA 0,16 0,02 0,11 0,01 0,075
Ceruloplasmina 0,001 0,007 0,001 0 0,002
Transferrina 0,366 0,44 0,45 0,32 0,394
Albumina 3,86 3,94 4,43 3,8 4,007
IgG de Cadeia Pesada 1,04 1,12 0,93 0,8 0,972
Haptoglobina 0,01 0,01 0,02 0,02 0,015
Alfa 1 glicoproteína ácida 0,001 0,003 0,003 0,002 0,002
IgG de Cadeia Leve 0,38 0,59 0,43 0,32 0,430
23.000 Da 0,2 0,24 0,23 0,19 0,215
A tabela 2 apresenta os resultados obtidos no segundo momento de avaliação dos cavalos, ou seja, cinco minutos após o término do Teste.
Tabela 2. Proteinograma sérico de quatro cavalos árabes destreinados cinco minutos após serem submetidos a um Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP) em esteira rolante
Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Valor Médio
Proteína Total 6,02 7,32 7,6 7 6,985
IgA 0,09 0,02 0,02 0,02 0,037
Ceruloplasmina 0 0,003 0 0 0,0007
Transferrina 0,41 0,5 0,51 0,42 0,460
Albumina 3,97 4,89 5,03 4,68 4,642
IgG de Cadeia Pesada 0,69 0,77 0,91 0,86 0,807
Haptoglobina 0,01 0,02 0,02 0,02 0,017
Alfa 1 glicoproteína ácida 0 0 0 0 0
IgG de Cadeia Leve 0,38 0,53 0,47 0,43 0,452
23.000 Da 0,2 0,33 0,25 0,28 0,265
A tabela 3 apresenta os resultados obtidos no terceiro momento de avaliação dos cavalos, ou seja, seis horas após o término do Teste.
Tabela 3. Proteinograma sérico de quatro cavalos árabes destreinados seis horas após serem submetidos a um Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP) em esteira rolante
Animal 1 Animal 2 Animal 3 Animal 4 Valor Médio
Proteína Total 6,42 6,82 7,07 6,47 6,695
IgA 0,17 0,02 0,13 0,13 0,112
Ceruloplasmina 0 0,01 0 0 0,002
Transferrina 0,43 0,41 0,42 0,34 0,400
Albumina 4,02 4,25 4,76 4,43 4,365
IgG de Cadeia Pesada 0,97 1,1 0,89 0,83 0,947
Haptoglobina 0,01 0,01 0 0,01 0,007
Alfa 1 glicoproteína ácida 0 0 0 0 0
IgG de Cadeia Leve 0,35 0,43 0,38 0,34 0,375
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As avaliações realizadas neste experimento buscaram descobrir se o Teste Padrão de Exercício Progressivo (TPEP) utilizado pelo grupo de pesquisa do LAMEQ acarreta alterações no proteinograma de cavalos árabes destreinados em cinco minutos e seis horas após o exercício.
A metodologia adotada para a realização dos proteinogramas no presente estudo já havia sido utilizada com sucesso por diversos autores (DI FILIPPO et al., 2011; ALVES et al., 2010; SAQUETTI et al., 2008) e, segundo Kaneko et al. (1997), o fracionamento eletroforético representa um dos mais confiáveis métodos de identificação e quantificação de proteínas dos fluidos corporais. Em 1995, Gordon relatou que o uso de eletroforese em gel de poliacrilamida contendo dodecil sulfato de sódio (SDS-PAGE) possibilita a detecção de concentrações proteicas extremamente baixas e a identificação de 20 a 30 proteínas, utilizando-se micro-quantidades de amostra, enquanto outras técnicas utilizadas, como a fita de acetato de celulose ou o filme de agarose, possibilitam apenas a identificação de cinco a sete grupos de proteínas (MATTEWS, 1982; EDINGER et al., 1992). Segundo Fagliari et al. (2006), a grande vantagem da técnica de SDS-PAGE é a possibilidade de identificação de maior número proteínas específicas, em especial imunoglobulina G e as proteínas de fase aguda.
A análise estatística comparou os valores obtidos nos três momentos avaliados e não apontou diferença significativa. Estes resultados significam que o Teste Padrão de Exercício Progressivo realizado não promoveu alterações nos valores proteicos em cinco minutos e nem em seis horas após o término do exercício. Uma possível explicação para estes resultados seria a leve intensidade do exercício físico realizado durante o Teste, que foi interrompido quando os cavalos destreinados não conseguiram mais acompanhar a velocidade da manta da esteira.
Sugere-se, para uma próxima avaliação, a realização do proteinograma não somente nos momentos realizados neste trabalho como também em 12 e 24 horas após o término do Teste, pois, segundo Jain (1993), o estímulo à síntese de proteína de fase aguda ocorre no período de 6 a 8 horas após a injúria.
Concluiu-se que o Teste Padrão de Exercício Progressivo realizado neste estudo não promoveu alterações no proteinograma de cavalos árabes destreinados em cinco minutos e em seis horas após o término do exercício.
FONTES CONSULTADAS
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DI FILIPPO, P.A.; NOGUEIRA, A.F.S.; SANTANA, A.E. Determinação sérica de haptoglobina, ceruloplasmina, 1-glicoproteína ácida, transferrina e α1-antitripsina, em equinos com cólica. Ciência Rural, Santa Maria, v.41, n.12, p.2108-2113, dez, 2011.
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