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Jornal de Estudos Espíritas - Resumo - Art. N. 010205

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Jornal de Estudos Espíritas 4, 010205 (2016) - (6pgs.) Volume 4 – 2016

Experiência de Quase Morte (EQM) sob a luz do Espiritismo

Hebe Lagui de Souza

1,a

1

Campinas, SP

e-mail:ahlaghi@uol.com.br

(Recebido em 10 de Janeiro de 2016, publicado em 16 de Novembro de 2016).

RESUMO

Raymond Moody Jr. denominou de Experiência de Quase Morte acontecimentos narrados por pessoas que aparen-temente morreram seja por meio da intervenção médica, seja de forma natural, e voltaram à vida. Ao retornarem, trouxeram a lembrança de tudo o que vivenciaram durante o tempo no qual permaneceram fora de seu corpo físico. Foram experiências que, antes dos estudos desse cientista, eram consideradas como causadas por fatores externos tais como: memória do nascimento e alucinações tóxicas do cérebro ou metabólicas causadas por alterações nos gases sanguíneos, especialmente pela falta de oxigenação cerebral, causando problemas neuroquímicos e neuroa-natômicos. Moody analisou um grande número de pessoas que vivenciaram essa situação conseguindo demonstrar que tais experiências, ao contrário do que se pensava, eram benéficas por causarem mudanças positivas em atitu-des, crenças e valores pessoais. Percebendo o valor de sua descoberta, Moody publicou a obra Vida depois da Vida, que despertou o interesse de outros pesquisadores pelo assunto, incluindo aqueles que levantaram questões sobre a possibilidade de tais eventos causarem problemas interpessoais e intrapsíquicos dependendo da maneira como eles ocorressem. O objetivo deste artigo é, portanto, analisar sob a luz do Espiritismo, as observações realizadas pelo psiquiatra Raymond Moody em pessoas que passaram por situações às quais denominou de quase morte. Palavras-Chave: Experiência de quase morte, transformação espiritual, Estado de consciência.

I

I

NTRODUÇÃO

Raymond Moody é Doutor em psiquiatria pela Uni-versidade de Virginia, Doutor em psicologia e filosofia pela Universidade da Geórgia Ocidental, na qual, poste-riormente, se tornou professor, recebendo como prêmio o doutorado em Medicina. Tornou-se, também, Mestre em Estudos da Consciência pela Universidade de Nevada em Las Vegas.

A grande importância de seu trabalho foi demonstrar que durante o tempo em que seus clientes permaneciam “mortos”, eles vivenciavam uma situação em que se sen-tiam fora de seu corpo físico transcendendo a si mesmos para uma outra dimensão quando, então, perdiam a no-ção do tempo e do espaço. Estas situações foram de-nominadas por ele experiências de quase morte. Temas relacionados a esses assuntos têm nos conduzido, desde a nossa origem, a vários questionamentos como: Será que deixaremos de existir e de nós somente restará um corpo inerte? Ou será que encontraremos um dia a ressurrei-ção como citam os textos bíblicos? Nesse caso será que é nesse ponto que seremos julgados pelo supremo Ser? Ou será que poderemos retornar à vida em uma próxima encarnação renascendo como pessoas diferentes para re-viver em uma nova vida? São quesitos para os quais não se encontravam respostas. Com o advento do Es-piritismo, Kardec demonstrou [1] que após a morte, o Espírito continua vivo e pode comunicar-se com aqueles que ainda vivem no corpo físico. Ele também demonstrou que vivemos inúmeras vidas por meio de um processo de reencarnações sucessivas sob a ação de uma lei de causa e efeito. Porém, Moody provavelmente não o conhecia

ou não quis entrar nessa questão. Ele apenas compro-vou que pessoas que aparentemente estavam “mortas”, ao voltarem, podiam relatar vislumbres miraculosos da existência de uma vida que existe além da morte. Essa descoberta resultou no seu primeiro livro intitulado Vida

Depois da Vida [2].

Em vista do sucesso obtido em sua primeira publica-ção, ele prosseguiu com suas pesquisas analisando mais de mil pessoas. Os novos resultados possibilitaram a edi-ção de um segundo livro, o qual ele denominou A Luz

do Além [3]. Tal como no primeiro, ele expôs sobre a continuidade da vida para além da morte deixando claro que a consciência em todos os que foram por ele analisa-dos permaneceu lúcida e capaz de guardar as lembranças de tudo o que foi vivenciado. Portanto, mesmo fazendo parte de uma época bem depois de Kardec, ele reforçou com os conhecimentos que adquiriu, a Doutrina Espírita e, ao mesmo tempo, foi reforçado por ela.

Seu segundo livro sobre o assunto foi prefaciado por Andrew Greeley, um reverendo católico que nessa época era bem conhecido como professor de sociologia na Uni-versidade do Arizona e posteriormente na UniUni-versidade de Illinois em Chicago além de ser um cientista associado ao National Opinion Research Center (NORC) em Illi-nois. Nesse prefácio Greeley afirma que [3, pg. 7]:

“Ray-mond Moody conseguiu realizar um feito raro na busca do conhecimento humano”. Disse ele: “Moody criou um paradigma”. Para o leitor ter uma ideia do alcance desse

comentário, segundo a obra científica de Thomas Kuhn intitulada The Structure of Scientific revolutions [4]

(Es-trutura das Revoluções Científicas), cuja primeira edição

foi publicada em 1962, as revoluções no âmbito da

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ência ocorrem quando uma nova perspectiva (um novo paradigma) é criada, pois, ela servirá de modelo para uma nova abordagem da realidade e a partir de então, pode-se obter grandes progressos em áreas nas quais isso parecia impossível. De um modo geral, em todo o seu prefácio, Greeley expressou o valor das descobertas fei-tas por Moody apesar de não ter sido ele o primeiro a ser seu descobridor. Há muito tempo elas já eram co-nhecidas, porém, ele foi o primeiro a se preocupar com elas [3, pg. 8].

Entre os psiquiatras que aderiram a linha de pesquisa de Moody, Bruce Greyson [5] tem sido um dos mais con-ceituados. Atualmente ele trabalha na Universidade de Virginia, Departamento de Psiquiatria e Ciência Neuro-comportamental, na qual, como seguidor de Moody, tem se dedicado a realizar o mesmo tipo de pesquisa. Inici-almente, o seu empenho era direcionado especialmente a clientes com tendências suicidas. Imaginou que para o tipo de clientela que possuía o conhecimento do que acon-tece com a morte poderia ser de fundamental importân-cia. Resolveu, dessa forma, dirigir um grupo de pesquisa-dores que se interessasse pelo assunto. Greyson publicou inúmeros artigos e, dentre eles, em um que foi divulgado pela Revista de Psiquiatria Clínica [5], cita que “A

cons-ciência mística e o funcionamento cerebral intensificado durante uma EQM ainda constitui um desafio para os modelos atuais sobre a interação cérebro/mente e podem eventualmente levar a modelos mais completos para o en-tendimento da consciência”.

II

A

ORIGEM DE SUAS PESQUISAS

Quando Moody era ainda estudante de medicina, um de seus professores, o Dr. George Ritche foi acome-tido de pneumonia dupla, doença essa que o conduziu à “morte”. Socorrido pelos médicos que o assistiam re-tornou à vida quando, então, narrou tudo o que havia vivenciado durante o tempo no qual, aparentemente es-teve morto. Mais tarde, ao se tornar professor, um de seus alunos adoeceu gravemente e aparentemente deixou de viver. Da mesma forma que o professor, esse aluno foi socorrido, retornou à vida e contou a ele a mesma histó-ria, isto é, o que vivenciou antes de voltar a viver. Esses acontecimentos o interessaram profundamente e, sendo ele o psiquiatra que assistia as pessoas que voltaram de uma aparente morte, decidiu usá-las para realizar uma investigação mais profunda. Para que pudesse satisfazer a sua intenção usou um método investigativo de questi-onamentos que incluía perguntas e respostas sobre o que acontecia enquanto se mantinham no estado de “morte” aparente. Analisou dessa forma um número razoavel-mente grande de indivíduos somando-se mais de cem no primeiro livro e mais de mil no segundo, em um total de pouco mais de dois mil indivíduos.

Os primeiros resultados que obteve se apresentaram promissores e suficientes para que se pudesse vislumbrar a sobrevivência humana depois que a vida corpórea ter-mina. O mais importante dessa descoberta foi verificar que a visão desse mundo pode modificar completamente

a vida das pessoas fazendo-as perderem o medo de mor-rer. Muitos, inclusive, reclamaram contra os médicos por terem-los trazido de volta. Do “outro lado da vida”, es-sas pessoas encontravam um outro mundo que se mos-trava maravilhoso e que os envolvia completamente por um sentimento de paz e de alegria após atravessarem um túnel escuro o qual apresentava em seu final uma luz radiante. Para alguns essa luz era Jesus e para ou-tros era Deus, e para ouou-tros ainda podia ser um Espírito iluminado, ou seja, um ser de luz. Porém, fosse quem fosse, dela se irradiava um sentimento descrito como de “infinito amor”. Era ali, diante dela que a vida de cada um passava-lhes pela mente de forma muito clara como se revivessem rápida e detalhadamente cada segundo vivido na Terra. Essa Luz, além da morte se mostrou repleta de amor e compreensão.

No livro A luz do Além [3, pg. 11], seu autor deixou claro que:

Esse mundo é habitado por pessoas que já deixaram seus corpos físicos havendo entre elas parentes e ami-gos (...). Um mundo que é governado por um Ser Supremo que orienta o recém chegado numa recapi-tulação de sua vida antes de enviá-lo de volta para a Terra.

Após o retorno, jamais essas pessoas se tornaram as mesmas que haviam sido, além de adquirirem a crença de que o amor e o conhecimento são as coisas mais impor-tantes da vida. Em relação ao conhecimento, inclui-se aquele que mostra que a morte não representa o fim de cada um de nós e que continuaremos sentindo a nós mes-mos tal como somes-mos no corpo físico, apesar da sensação de já termos deixado a vida material. Esse fato, além de extraordinário, é consolador, pois nos leva a adquirir serenidade com relação à morte.

III

D

IFICULDADES ENCONTRADAS

Após o lançamento de seu primeiro livro, e o grande sucesso obtido a ponto de esgotar-se rapidamente a pri-meira edição, seu autor deparou-se com críticas que vi-nham dos céticos. Diziam eles, especialmente os médicos da época, que o número de pessoas observadas era muito pequeno e não representava qualquer tipo de amostra-gem significativa. Muitos médicos afirmavam nunca te-rem ouvido falar sobre EQM apesar de tete-rem trazido de volta pessoas que aparentemente haviam morrido. Ou-tros comentavam que o que acontecia era apenas falta de oxigênio nas células cerebrais e houve também quem afirmasse que essas pessoas apresentavam esquizofrenia ou haviam sido religiosas e no momento de sua morte a vivência religiosa aflorava em um tipo de possessão de-moníaca.

Moody, entretanto, continuou sua pesquisa utilizando um número bem maior de pessoas o que lhe permitiu es-crever um segundo livro. O assunto despertou a atenção de novos pesquisadores que, então, passaram a se dedi-car ao mesmo tipo de análise, e todos eles encontraram os mesmos resultados. Somou-se dessa forma um grande número de pessoas que foram analisadas, de tal forma

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que já não se podia mais ouvir críticas relacionadas com a amostragem. Para escrever seu segundo livro, Moody havia utilizado bem mais que mil pessoas o que já seria suficiente para validar sua pesquisa. É nesse livro que ele expõe com muita clareza que além da morte existe um mundo repleto de amor e compreensão que poderia ser alcançado por meio de uma excitante viagem através de um túnel ou passagem.

IV

A

S OBSERVAÇÕES FEITAS E AS CON

-CLUSÕES ÀS QUAIS CHEGOU

Diante dos resultados obtidos, Moody detectou nove situações que podem acontecer quando se está próximo da morte e, aparentemente, a vida termina. A essas si-tuações ele designou de elementos os quais agrupou da seguinte forma:

1. Sentimento de estar fora do corpo físico; 2. Percepção visual acurada;

3. Percepção de Sons ou vozes audíveis; 4. Sentimentos de paz e quietude; 5. Fenômenos de luz;

6. Recapitulação da vida;

7. Sensação de estar em outro mundo; 8. Encontro com outros seres;

9. A experiência do túnel.

Nem todos os elementos ocorreram igualmente nos in-divíduos pesquisados quanto à seqüência acima apresen-tada. Houve quem vivenciasse uma única situação como, por exemplo, o sentir-se fora do corpo físico. Moody dei-xou claro que era suficiente apenas um elemento para se identificar uma EQM.

Fossem quantos fossem os elementos presentes em cada uma das pessoas analisadas, em todos houve pre-cognição, ou seja, premonição. E qual o significado des-tas duas palavras? Elas possuem o mesmo sentido, isto é, podemos definí-las como sendo a consciência de fatos que ainda não aconteceram, mas que poderão acontecer no futuro. Premonições de acidentes podem salvar a vida de quem iria passar por eles. Aqueles que voltaram de uma EQM, apesar de não terem, de fato, encontrado a morte pois, verdadeiramente não deixaram o corpo físico de um modo definitivo, adquiriram o conhecimento de sua sobrevivência para além da matéria.

O Espiritismo é uma doutrina que oferece valiosas noções sobre o assunto por oferecer a oportunidade para um entendimento maior sobre a possibilidade de volta ao corpo orgânico, ou seja, à volta à vida. São noções im-portantes, pois mostram que o nosso Espírito é ligado ao nosso corpo físico por meio de um cordão perispiritual fluídico que nos mantém fisicamente vivos mesmo que, em Espírito, possamos nos sentir fora do corpo material.

Na morte, esse cordão se desliga completamente da ma-téria orgânica libertando o Espírito definitivamente do corpo físico e, nesse caso, esse Espírito não poderá mais retornar a ele. Durante uma EQM, a possibilidade de retorno à vida depende unicamente da continuidade da ligação fluídica perispiritual com o corpo físico que lhe pertence. Esta é uma das condições imprescindíveis para que os acontecimentos vivenciados pelo Espírito possam ser lembrados ao retornar à vida.

De uma forma geral, muitos dos que voltaram não conseguiram reconhecer de imediato o seu corpo orgâ-nico, mas ao flutuarem acima dele, ao se reconhecerem, frequentemente, adquiriam sentimentos de temor e an-gústia deixando-se envolver por uma confusão repentina. Contudo, existiram casos, nos quais, o reconhecimento do próprio corpo e a confusão e a angústia ocorreram de imediato. Porém, passado os primeiros momentos conse-guiram entender o que aconteceu com eles e, dessa forma readquiriram a paz e, conseqüentemente, a calma. Ao continuar o assunto, em seu segundo livro, Moody des-creve pessoas que notaram algumas diferenças em relação ao seu corpo perispiritual, como, por exemplo, as mãos pareciam formadas de luz e apresentavam minúsculas es-truturas em seu interior podendo visualizar em seus dedos delicadas impressões digitais.

Convém lembrar o que diz o Espiritismo com relação ao corpo fluídico que envolve o Espírito. Kardec o de-nominou de perispírito (questões 93 a 95 de O Livro dos

Espíritos [1]). Esse corpo resulta de uma condensação do fluido cósmico universal e se liga ao corpo físico por meio de um cordão fluídico, que é o laço que une o Espírito ao corpo orgânico. O perispírito, segundo o Espiritismo, pode variar de acordo com o nível evolutivo alcançado pelos indivíduos de um mesmo mundo, isto é, pode ser mais sutil e luminoso naqueles com níveis mais elevados evolutivamente, ou pode ser mais grosseiro e compacto nos menos elevados o que explica perfeitamente a visão das pessoas cujas mãos pareciam formadas de luz, aconte-cimento esse causado por um nível evolutivo bem maior.

V

A

EXPERIÊNCIA DE SE VER FORA DO

CORPO FÍSICO

Nem sempre as pessoas que sofreram uma EQM, de acordo com Moody, passaram por um túnel. De acordo com este autor, houve quem fosse propelido a atraves-sar belas e ornamentadas portas que surgiram à sua frente, parecendo simbolizar uma passagem para um ou-tro reino [3, pg. 20]. Outras pessoas, porém, encontra-vam uma escadaria que se dirigia para cima parecendo chegar ao infinito e ao subí-la se defrontavam com uma luz viva e forte – luz essa que as levavam a rever as suas vidas. Como exemplo, Moody cita a história de um me-nino que se encontrava “agonizante” por sofrer de câncer no pulmão, e em certo momento ele disse para sua mãe que estava vendo uma escadaria e que ele iria subir por ela o que deixou a mãe tranquila [3, pg. 20]. Moody afirma [3, pg. 21] que as descrições podem ser variadas, mas é sempre a mesma quanto à sensação do que está

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acontecendo. Em todos os casos, ocorreu um encontro com uma bela e intensa luz diante da qual sempre ocor-reu uma revisão completa da existência já vivida.

VI

V

ISLUMBRES DO FUTURO

Na página 35 de seu segundo livro, Moody menciona algumas ocorrências de vislumbres do futuro que, bem mais tarde, na vida dessas pessoas, se concretizaram. Contudo, embora esses acontecimentos tenham ocorre-rido com um número bastante reduzido de pessoas (o que, a princípio, o fez relutar quanto a considerá-las como um dos elementos da EQM), ele resolveu considerá-los váli-dos movido pelo fato de que, não obstante, eles tinham acontecido. Uma dessas descobertas chegou até ele em 1975 e veio por acaso, isto é, por meio de uma senhora que resolveu procurá-lo para contar o que havia vivenci-ado em 1971 ao passar por uma EQM. Um pouco mais tarde, ele se defrontou com uma outra notícia exposta por Kenneth Ring, psicólogo e professor emérito de cologia na Universidade de Connecticut (EUA). Este psi-cólogo havia descrito que um de seus antigos clientes, aos oito anos de idade, passou por uma EQM e ao vivenciar a situação de morte aparente, teve vislumbres do futuro de sua vida, coisa que até 1968 não havia dado crédito. A lembrança desse acontecimento, porém, se tornou ví-vida quando bem mais tarde os fatos que havia visto quando criança realmente aconteceram [3, pgs. 36 e 37]. As lembranças eram de que ele que se casaria aos 28 anos e teria duas filhas. Agora, sentado em uma cadeira em sua sala ele observava suas meninas brincando sobre o assoalho, repetindo a cena que havia presenciado aos 8 anos de idade. Entretanto, naquela visão, ele não perce-beu quem seria sua esposa. A conformação da sala onde se encontrava agora era a mesma que aquela que vira quando menino ao passar pela EQM. Ring tentou encon-trar uma explicação para essa situação de visão do futuro, contudo, o que conseguiu foram respostas especulativas argumentando a existência de uma quarta dimensão na qual durante a experiência de EQM as pessoas podem vivenciar ao rever suas vidas no futuro, não podendo, porém, modificá-las.

Qual seria a explicação para esse tipo de aconteci-mento de acordo com o Espiritismo? Nossos atos já esta-riam programados ao nascermos? Certamente não. En-tretanto, ao adquirirmos o livre arbítrio podemos esco-lher o caminho a seguir segundo as nossas necessidades evolutivas. Uma das explicações possíveis é a de que tenhamos compromissos com outros Espíritos, seja da nossa última vida ou de outras vidas passadas. Assim, quando no plano Espiritual ainda antes de voltarmos em uma nova reencarnação adquirimos a consciência desses acontecimentos e sentimos necessidade de refazer essas antigas contendas no sentido de transformar ódios em amor, a única maneira de conseguir realizar o nosso de-sejo é tê-los como familiares (ver, por exemplo, os itens 18 e 19 do capítulo IV de O Evangelho Segundo o

Es-piritismo [6]). Contudo, essa é apenas uma entre outras possibilidades, porém, em geral a nossa escolha depende

em grande parte dos compromissos que adquirimos em relação a outros Espíritos que por meio de nós virão no futuro pertencer à nossa família. No capítulo XVI de A

Gênese, Kardec apresenta uma explicação muito racional

para o fenômeno de premonição.

VII

D

O OUTRO LADO DA VIDA

:

AS DIFE

-RENÇAS NO TEMPO E NO ESPAÇO

Outro ponto importante observado por Moody foi a perda da noção que algumas pessoas apresentaram du-rante o tempo no qual estavam aparentemente “mortas” e que, em nada, se assemelhavam às questões relacio-nadas com o tempo e o espaço que haviam vivenciado neste mundo em que vivemos. A maioria dessas pessoas, ao serem interrogadas sobre essa questão, respondeu que tanto poderiam ser segundos, horas ou milhares de anos que não faria a menor diferença e nada tinha a ver com a marcação dos nossos relógios terrenos. Uma senhora à qual Moody perguntou quanto tempo durara sua ex-periência ela respondeu: “você poderia dizer que durou

um segundo ou dez mil anos que não faria a menor di-ferença” [3, pg. 26]. Continuando o assunto na mesma página, o autor explica que: “os limites impostos pelo

es-paço na nossa vida quotidiana são frequentemente rompi-dos durante uma EQM e caso se deseje ir a algum lugar basta que ela pense nesse lugar que ela já estará lá”.

Cabe neste assunto olharmos um pouco sobre o que nos diz o Espiritismo. No livro A Gênese [7, capítulo VI, pg. 87], Kardec refere-se às definições de espaço e tempo mostrando que dentre as que ele conhecia, a prin-cipal é a que define o espaço como a extensão que separa dois corpos. Essa noção conduziu os sofistas do passado a deduzirem que onde não houvesse matéria não have-ria o espaço deixando a noção de que o espaço é finito. Na página 88 do mesmo livro Kardec, porém, afirma o seguinte:

“Eu digo que o espaço é infinito, por esta razão é impossível supor que haja algum limite e que, ape-sar da dificuldade que temos em conceber o infinito, é-nos, entretanto, mais fácil ir, eternamente em pen-samento no espaço, do que nos determos em algum lugar qualquer, depois do qual, não encontraríamos mais extensão a percorrer.”

Kardec afirma que tal como o espaço, o tempo é tam-bém uma palavra definida por si própria. Pode-se definí-la de forma mais justa ao estabelecermos sua redefiní-lação com todo o infinito [7, pg. 89]. Portanto, o tempo e o espaço no mundo espiritual, isto é, para aqueles que morrem ou aparentemente passaram para uma outra dimensão, a sensação de tempo no qual se passa lá é impossível de ser demarcada. É dessa forma que para um Espírito basta apenas querer ir para um lugar que em seguida ele estará lá sem que se possa contar o tempo que demorou a che-gar a esse local e nem se pode imaginar o que acontece ou quanto espaço se percorre ao desejarmos alcançá-lo – coisas que ocorrem na eternidade, às quais, dado ainda ao nosso nível evolutivo não conseguimos entender.

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VIII

EQM

EM CRIANÇAS

No capítulo 3, página 59 do livro A Luz do Além, Moody analisa as experiências de quase morte em crian-ças considerando-as como possuidoras de um significado muito especial por várias razões. Primeiro porque elas não possuem tempo suficiente para pensar sobre a vida e sobre a morte e sobre o que acontece além da vida, além de não fazerem especulações sobre o mundo adulto que as cerca. Dificilmente ouvem comentários dos adultos a respeito desse assunto e dessa forma não se tornam con-dicionadas ou influenciadas por eles. Por esse motivo as incluiu em suas análises. Utilizou um número razoavel-mente grande delas para poder garantir a veracidade de seus achados. Constatou, nessa análise, que crianças não apresentavam diferenças com relação aos adultos durante os acontecimentos de EQM começando pela travessia ao longo de um túnel escuro no fim do qual havia uma luz muito límpida e brilhante que os recebia e os mandava voltar para a vida material. Todas as crianças analisadas contaram histórias semelhantes.

Temos, neste ponto, de considerar uma questão de grande importância e sobre a qual muitas pessoas têm questionado a respeito. Por quê uma criança, em tenra idade, deixaria a vida neste mundo sem nem mesmo ter ainda vivido? Sobre o assunto, no Livro dos Espíritos, questão 199, encontra-se a seguinte consideração feita por Kardec:

“A duração da vida de uma criança pode ser para o Espírito que está nela encarnado, o complemento de uma existência interrompida antes de seu tempo mar-cado, e sua morte no mais das vezes, é uma prova ou uma expiação para os pais.”

Continuando na mesma questão, Kardec prossegue explicando que o Espírito da criança que morreu em tenra idade tenta recomeçar em seguida uma nova existência, visto que, apesar de sua aparência angelical, trás do pas-sado defeitos que mais tarde irão se expressar em atitu-des perante o mundo e as pessoas. Elas não são ainda Espíritos puros ou angelicais. Por esse motivo, não é ra-cional considerar-se a infância como um estado normal de inocência. Pensemos, dessa forma, nas crianças que passaram por uma situação de EQM. Baseando-se no Es-piritismo, pode-se pensar que os casos de EQM pela qual algumas dessas crianças passaram, e que foram estuda-das pelo Dr. Moody ou outros pesquisadores sérios, con-sistem de provações e aprendizado espiritual para elas e para os pais, além de estarem contribuindo para o des-pertar da nossa sociedade para as realidades do Espírito.

IX

C

ONCLUSÕES

Moody concluiu o seu trabalho com uma questão muito importante: As pessoas que passam por uma EQM

estariam realmente mortas? Muitos de seus pacientes que

haviam sido considerados mortos por não voltarem sob a ação dos médicos assistentes, e terem sido rigorosamente analisados quanto a existência de algum sinal vital por meio dos monitores do eletroencefalograma cerebral não

mostraram sinais que pudessem evidenciar que ainda vi-vessem. Em seu livro A Luz do Além [3], nas páginas 80 e 81, Moody considerou, diante desse fato, que a morte é um estado do qual não se retorna e, portanto, a morte é um processo irreversivo concluindo que:

“Todos aqueles que retornaram nunca estiveram re-almente mortos, pois, apenas alguns dos critérios da morte foram preenchidos, como por exemplo, o cora-ção parou de bater por um longo tempo ou, então a respiração cessou. Em certos casos, a emissão de on-das cerebrais é interrompida, recomeçando espontane-amente depois. Algumas pessoas podem apresentar hi-potermia (queda dramática da temperatura do corpo) e não apresentarem nenhum sinal de atividade cere-bral até que a temperatura seja restabelecida. Embora essas pessoas estejam perto da morte, por definição ainda não estão mortas.”

Questões como essas contradizem a crença já tida de que se o coração parar por mais de cinco minutos não adi-anta tentar o ressuscitamento porque o cérebro já teria sido irremediavelmente danificado pela falta de oxigênio. Porém, de acordo com as técnicas modernas de ressusci-tamento, esta regra, segundo Moody [3, pg. 81], deve ser reconsiderada. Como exemplo, Moody cita um homem que se feriu seriamente em um acidente de carro e foi conduzido à emergência de um hospital no qual foi consi-derado morto. Assim, foi levado e colocado atrás de um biombo em uma maca para ser posteriormente conduzido ao necrotério, enquanto tentavam salvar outros feridos do mesmo acidente que ali chegaram. Quando os atendentes foram buscá-lo perceberam que esse homem se contorcia. No entanto ele não havia apresentado qualquer evidência de sinais vitais como, por exemplo, a batida do cora-ção e as suas pupilas estavam imóveis. A mesma coisa aconteceu com um outro homem que por ser considerado morto foi levado para o necrotério com seu corpo coberto por um lençol. Horas mais tarde, ele voltou espontane-amente. Os médicos que o assistiram não conseguiram explicar o que aconteceu. Para Moody, tal fato mostrou que existe ainda muita coisa que não sabemos sobre a psicologia e fisiologia da morte. Diante desses aconte-cimentos, concluiu que as pessoas que passam por uma EQM nunca estão realmente mortas, mas estão muito mais perto disso do que a maioria de nós [3, pg. 82].

Outra conclusão a que chegou é a de que, embora existam pessoas que possam reconhecê-lo em um breve período de tempo depois de deixá-lo, nem sempre as pes-soas reconhecem o próprio corpo. Para esse autor um dos exemplos mais notáveis foi-lhe concedido por um psiquia-tra que passou por uma EQM. Ele lhe contou o seguinte: “Na vida você pode pensar que sabe como se parece. Mas quando a gente sai do próprio corpo e passa a vê-lo de uma perspectiva externa, se torna muito di-fícil saber qual, dentre todos os corpos que estão ali pode ser o seu. No seu caso ele estava vagando em um hospital do Exército olhando para as fileiras de corpos nas camas tentando descobrir qual era o seu. Como não conseguisse o intento, saiu e foi para casa. Quando percebeu que ninguém podia vê-lo, nem ouvi-lo, retornou e recomeçou a procurá-lo.”

(6)

Outro conhecimento que é importante sobre a morte encontra-se no Livro dos Espíritos [1], questão 155, que mostra que quando ocorre a morte, o Espírito se liberta do corpo material por meio da liberação das amarras do perispírito no corpo físico. Entretanto, esse processo de liberação pode ser longo dependendo das condições espi-rituais da alma. Nessa questão, conforme Allan Kardec: “A alma se liberta gradualmente e não se escapa como um pássaro cativo que ganha subitamente a liberdade. Esses dois estados se tocam e se confundem e é assim que o Espírito se libera pouco a pouco de seus laços que apenas se desatam e não se quebram.”

Ainda no Livro dos Espíritos, em continuidade ao as-sunto, Kardec deixa claro que a morte nada mais é senão a destruição do corpo físico, e que não atinge o envoltó-rio perispiritual. Contudo, a separação perispiritual do corpo orgânico não ocorre senão gradualmente e com uma lentidão que pode variar bastante de acordo com os indi-víduos, isto é, pode ser rápida para alguns ou lenta para outros. Ela pode ser tão lenta a ponto de durar de sema-nas a meses dependendo da vida que cada um apresentou durante sua existência em termos de materialismo e sen-sualidade. Mas, em casos de mortes violentas causadas por acidentes, pode haver sofrimento, pois quem passa por isso é passível de sentir seu corpo se decompondo1.

Nos casos de EQM, entretanto, houve a possibilidade da pessoa ser socorrida e se recuperar, tal como aquele homem que tendo se ferido seriamente em um acidente de carro voltou a viver depois de ter sido considerado morto pelos médicos assistentes a ponto de ficar esperando que o levassem para o necrotério. De fato, Moody tem razão ao afirmar que existe muita coisa que não sabemos sobre

a psicologia da morte e, para mim, do que seja realmente a morte. Ouso a pensar que a morte é apenas uma con-seqüência da liberação do perispírito de seu corpo físico que fica e se decompõe, mas que fora dele a vida de cada um de nós continua tal como era no corpo físico. Mas, lembro também da questão 136a do Livro dos Espíritos, é dito que “a morte do corpo rompe os laços que o prendem

à alma e esta o abandona”. Juntando com o conteúdo da

questõa 155 reproduzida na nota de rodapé citada acima, penso que a morte inicia o processo de desligamento do Espírito do corpo, e que o aspecto moral vai indicar se esse desligamento será mais ou menos longo.

R

EFERÊNCIAS

[1] Kardec, A. 2002. O Livro dos Espíritos, 138aedição. Tradu-ção: Salvador Gentile. Editora: IDE, São Paulo.

[2] Moody, R. 1986. Vida Depois da Vida. Tradução: Celso Var-gas. Editado pelo Círculo do Livro. São Paulo.

[3] Moody, R. 1988. A Luz do Além. Tradução: Celso Vargas. Editado pelo Círculo do Livro. São Paulo.

[4] Kuhn, T. S. 1970. The Structure of Scientific Revolutions. 2nd. ed., enlarged. Chicago and London, University of Chi-cago Press.

[5] Greyson, B. 2007. “Near-death experiences: clinical im-plications”, Rev. Psiq. Clín. 34, 49-57. Acesso através do link: http://www.scielo.br/pdf/rpc/v34s1/en_ a15v34s1.pdf

[6] Kardec, A. 2009. O Evangelho Segundo o Espiritismo, 365a edição. Tradução: Salvador Gentile. Editora: IDE, São Paulo. [7] Kardec, A. 2003. A Gênese. Editora: Mundo Maior, São

Paulo.

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1 Caso alguém estranhe que esse comentário seja apenas válido para suicidas, veja o comentário de Kardec após a questão 155 do Livro

dos Espíritos [1]: “Essas observações ainda provam que a afinidade, persistente entre a alma e o corpo, em certos indivíduos, é, às vezes,

muito penosa, porquanto o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso, porém, é excepcional e peculiar a certos gêneros de vida e a certos gêneros de morte. Verifica-se com alguns suicidas.” (Grifos em negrito, meus). Note que o comentário em

destaque é feito no plural. Embora o merecimento de uma vítima seja fator preponderante, pode haver casos em que o apego ao corpo material seja tão grande que mesmo diante de uma morte acidental, o Espírito venha a sentir alguma repercussão da decomposição do corpo.

Title and Abstract in English

Near Death Experience (NDE) under the light of Spiritism

Abstract: Raymond Moody Jr. called Near Death Experience (NDE) the descriptions made by people who aparently died during a medical intervention or by natural causes, and came back to life after some time. These people, then, speak about the memories of everything they have lived during the time they remained out of the body. These experiences have been considered to be caused by external factors as birthday memories, toxic or metabolic hallucinations, lack of oxygen in brain, etc. Moody, however, analized a large number of people who passed by these experiences. Contrary to the current thought, he showed that these experiences are beneficial to these people since they have demonstrated positive changes in their lifes. Moody published the book Life after Life which attracted the attention of other researchers to the NDE subject. In this article, we analise under the light of Spiritism, the observations and thoughts of Dr. Raymond Moody based on people who passed by a NDE situation. Keywords: Near Death Experience, spiritual transformation, state of consciousness.

Referências

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