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O princípio da primazia da decisão de mérito no processo civil a fim de atingir a tutela jurisdicional e a efetividade do processo

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MARJANA NAIARJA MACHADO STROBEL

O PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO NO PROCESSO CIVIL A FIM DE ATINGIR A TUTELA JURISDICIONAL E A EFETIVIDADE DO PROCESSO

Ijuí (RS) 2018

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MARJANA NAIARJA MACHADO STROBEL

O PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO NO PROCESSO CIVIL A FIM DE ATINGIR A TUTELA JURISDICIONAL E A EFETIVIDADE DO PROCESSO

Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ - Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS- Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Joaquim Henrique Gatto

Ijuí (RS) 2018

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Dedico este trabalho à minha família, pelo apoio e compreensão que tiveram e, também em especial ao meu filho, meu incentivador de todas as manhãs.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente à Deus, que me deu o dom da vida e me impulsiona todos os dias com suas infinitas bênçãos.

À minha mãe, pelo seu amor incondicional, além de ser meu porto seguro em todos os momentos da vida e, principalmente nessa fase de estudos. À meu companheiro, pela paciência e cuidado de sempre. Sou grata também ao meu filho, que mesmo demandando tempo e paciência, foi meu maior incentivador nas batalhas da vida.

Agradeço também ao meu orientador Joaquim Henrique Gatto, pela confiança e disponibilidade, ajudando e esclarecendo todas as minhas dúvidas.

Aos demais familiares e amigos pela paciência e ajuda nos dias em que o estudo foi sempre prioridade.

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“a justiça atrasada não é justiça, senão injustiça qualificada e manifesta.” Rui Barbosa

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O presente trabalho de conclusão de curso faz uma análise do princípio da primazia da decisão de mérito como garantidor da tutela jurisdicional, além de norma fundamental do processo civil brasileiro. Aborda de que forma o aludido princípio e suas regras de aplicação contribuem para que o processo discorra livre de vícios meramente formais, chegando então, ao mérito da demanda. Estuda a jurisprudência defensiva dos Tribunais, demonstrando se o mesmo tem total aplicabilidade, independente do grau de jurisdição. Faz uma breve análise das casuísticas dos Tribunais sobre a primazia do mérito e tece considerações sobre as mesmas. Finaliza concluindo que o processo civil brasileiro está envolto em demasiada formalidade, porém a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito contribui para que a as partes cheguem ao mérito da demanda, garantindo a elas o acesso à justiça e a tutela jurisdicional efetiva, que deve ser garantida pelo Poder Judiciário.

Palavras-Chave: Norma fundamental. Primazia do mérito. Acesso à justiça. Tutela jurisdicional efetiva.

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The present work of conclusion of course makes an analysis of the principle of the primacy of the decision of merit, as guarantor of the judicial protection as well as fundamental norm of the Brazilian civil process. It deals with how the aforementioned principle and its rules of application contribute to the process discourage free of merely formal defects, arriving at the merit of the demand. It studies the defensive jurisprudence of the Courts, demonstrating if it has full applicability, regardless of the degree of jurisdiction. It gives a brief analysis of the casuistry of the Courts on the primacy of merit and makes considerations about them. It concludes by concluding that the Brazilian civil procedure is too much involved, but the application of the principle of the primacy of merit decides that the parties reach the merits of the claim, granting them access to justice and effective judicial protection, which must be guaranteed by the Judiciary.

Keywords: Basic rule. Primacy of merit. Access to justice. Effective jurisdictional protection.

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INTRODUÇÃO ... 8

1 A PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO E ATUTELA JURISDICIONAL EFETIVA.. ... 10

1.1 O acesso à justiça e o direito da parte à solução integral do mérito do processo ... 10

1.2 O princípio da primazia da decisão de mérito como norma fundamental .... 14

1.3 Regras de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito no primeiro grau de jurisdição ... 16

1.4 Abandono ao formalismo exacerbado no processo civil...18

2 O PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO E A JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES ... 21

2.1 A primazia do mérito na fase recursal ... 21

2.2 A jurisprudência defensiva ... 26

2.3 Primazia do julgamento de mérito a qualquer custo? ... 29

2.4 Casuísticas dos Tribunais ... 32

CONCLUSÃO ... 40

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho analisa o princípio da primazia da decisão de mérito como garantidor da tutela jurisdicional e do acesso das partes ao resultado final efetivo do processo. Neste sentido, analisa o princípio como norma fundamental do processo civil, servindo de base ao direito processual civil brasileiro, combatendo a jurisprudência defensiva e favorecendo a produção de efeitos processuais eficazes.

Essa análise vem a ser necessária em face da crescente burocratização dos processos, levando, muitas vezes, a sua extinção sem resolução de mérito, ou seja, diante de tantos obstáculos processuais, o mérito nem ao menos é discutido.

Para a realização deste trabalho foram efetuadas pesquisas bibliográficas, além de artigos no meio eletrônico e análise também de casos dos Tribunais, a fim de permitir um aprofundamento no estudo da questão processual em face do princípio da primazia da decisão de mérito.

Inicialmente, no primeiro capítulo, faz-se esclarecimentos acerca do que realmente se entende por acesso à justiça, um direito fundamental garantido pela norma constitucional através de uma tutela jurisdicional efetiva, e então, buscou-se relacionar o princípio da primazia da decisão de mérito com os princípios fundamentais garantidos pela Constituição Federal de 1988, garantindo assim, que se satisfaça a pretensão das partes através da resolução do mérito da demanda. Diante dessa premissa, de sempre que possível resolver o mérito da demanda, surgem algumas regras de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito, que vêm para auxiliar o magistrado e também as partes, pois o processo deve ser uma comunidade de trabalho, na busca pela tutela processual efetiva. Por isso,

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nesse primeiro capítulo, procurou-se demonstrar a importância desse referido princípio para que o processo seja célere e eficaz.

No segundo capítulo analisa-se o princípio da primazia da decisão de mérito em face da jurisprudência defensiva dos Tribunais Superiores, demonstrando se o mesmo tem total aplicabilidade, independente do grau de jurisdição. Além disso, aborda-se a questão de que se deve ou não dar primazia ao julgamento de mérito a qualquer custo. De fato, o processo tem natureza formal, porém, isso não pode atrapalhar o andamento processual e invalidar os atos por vícios considerados meramente formais e que podem ser sanados, desde que dada a oportunidade pelo magistrado. Por fim, foi feita uma abordagem no tocante às casuísticas dos Tribunais, colacionando-se julgados abordando a temática.

Dessa forma, procurou-se fazer uma análise bem ampla do princípio estudado para demonstrar sua real aplicabilidade, a fim de garantir um processo célere, porém justo e livre de vícios meramente formais.

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1 A PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO E A TUTELA JURISDICIONAL EFETIVA

O Processo Civil vem se aperfeiçoando e tem como principal objetivo possibilitar uma tutela jurisdicional mais justa e efetiva, garantindo, ao final da demanda, um resultado realmente útil, esgotando a atividade jurisdicional. Também tem como desígnio trazer maior celeridade ao processo, pois infelizmente muitos acabam prolongando-se no tempo, prejudicando as partes ao acesso à justiça e à real efetividade da jurisdição.

Para que o processo produza efeitos válidos e úteis, são necessários meios para possibilitar que a parte chegue ao resultado final da lide. Um desses meios é a utilização do princípio da primazia da decisão de mérito, disposto no artigo 4º do CPC, o qual aduz que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. (BRASIL, 2018)

Em virtude desse diploma o magistrado, em consonância com as partes, deverá sempre que possível procurar resolver o mérito da demanda, com a resolução do litígio trazido à análise jurisdicional. Deverá, então, utilizar-se das regras de aplicação do princípio mencionado, as quais serão expostas e detalhadas no presente capítulo, para que a resolução do mérito da demanda seja sempre o fim processual.

1.1 O acesso à justiça e o direito da parte à solução integral do mérito do processo

O mérito processual vai muito além de uma decisão final e, segundo o Dicionário Jurídico “é a matéria de fato e de direito que constitui o principal objeto da lide”. De acordo com esse conceito, o mérito abrange tanto o pedido, a lide ou litígio, quanto às condições e os pressupostos de uma ação, que está destinada a realizar a tutela jurisdicional.

O pleno e efetivo acesso à tutela jurisdicional é garantia fundamental constitucionalizada (CF, art. 5º, XXXV) e deve ser concedido a todos, mediante um processo justo e adequado. O autor Humberto Theodoro Júnior (2016) refere que a

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ação outorgada como direito fundamental seria sempre o direito à tutela jurisdicional, mesmo quando a sentença seja negativa em relação ao mérito, pois foi proporcionado o acesso à justiça, nos moldes de um processo justo e efetivo. Todavia, para o autor, não é correto afirmar que a parte tenha obtido a tutela jurisdicional, pois sua pretensão não foi alcançada, por isso deve-se referir à prestação jurisdicional, que, no caso de a demanda for procedente, seja apta a tutelar de forma plena e efetiva o direito lesado. (BRASIL, 2018)

Ainda sobre a tutela jurisdicional cabe salientar o que menciona o renomado doutrinador Humberto Theodoro Júnior (2016, p.155, grifo do autor):

O que o processo gerado pelo exercício do direito de ação abre sempre é o caminho para a prestação jurisdicional correspondente à justa composição do litígio, obtida com fiel observância de todas as garantias que a Constituição confere ao devido processo legal. Em outros termos, a ação será sempre garantia da prestação jurisdicional devida nos termos do acesso à justiça assegurado pelo inciso XXXV do art. 5º da Constituição. Não se alcançará, porém, a meta colimada da tutela jurisdicional, se não apurar, no processo, a existência de direito lesado ou ameaçado a ser protegido.

Ainda que se fale em prestação jurisdicional, o direito postulado pela parte deve receber uma tutela adequada, compatível e que atenda aos interesses processuais, a fim de atingir o mérito e fazer justiça, pois quando o Judiciário é movimentado pela parte, presume-se que esta veio até aquele em busca de justiça, para resolver o litígio que a perturba.

Nesse sentido é o entendimento dos autores Dinamarco e Lopes (2017, p. 54), que mencionam ser o processo um “meio para que o exercício da jurisdição possa legitimamente produzir resultados úteis na vida exterior das partes em suas relações recíprocas ou com os bens da vida.”

Quando se fala em bem da vida a Constituição Federal tem extrema importância no tocante a garantir que esse bem não seja violado, pois é através dela que os princípios e as garantias se impõem em relação ao sistema processual. Nesse sentido, como garantidora de direitos, se estabelece o acesso à justiça, garantia fundamental em um Estado Democrático de Direito, conforme seu artigo 5º,

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XXXV preceitua que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.” (BRASIL, 2018)

No Código de Processo Civil, o acesso à justiça é resguardado em seu artigo 3º, o qual dispõe que “não se excluirá da apreciação jurisdicional ameaça ou lesão a direito.” (BRASIL, 2018)

Importante ressaltar o entendimento de Dinamarco e Lopes (2017, p. 55, grifo do autor):

Tais são óbices legitimamente postos à plena universalização da tutela jurisdicional, de cuja presença no sistema se infere a legítima relatividade dessa garantia. Dos óbices legítimos e intransponíveis é indispensável distinguir os óbices perversos, residentes às vezes na própria lei, em sua interpretação apegada a valores do passado e principalmente em certas realidades sociais, econômicas ou culturais estranhas à ordem processual – como a pobreza, a ignorância, o temor reverencial, as influências nefastas de poderosos, os desvios de conduta de certos juízes etc. Essas barreiras internas e externas são evidentemente ilegítimas e dificultam o acesso à justiça.

O direito fundamental de acesso à justiça deve ser compreendido além de uma garantia de acesso ao judiciário, a partir da qual um indivíduo reivindica seus direitos e resolve seus litígios através de um juiz imparcial que profere uma sentença de mérito, solucionando as pretensões das partes. Presume-se que o sistema deveria ser de fácil acesso à sociedade para ter capacidade de gerar resultados efetivos, especificamente com a resolução do mérito, zelando pela justiça, pelos direitos fundamentais e solucionando os anseios sociais.

É dever do Estado, por meio do Poder Judiciário, garantir o acesso à justiça, vez que é universal, participativo, isonômico, liberal, transparente, conduzido com impessoalidade pelos agentes do direito em observância das regras, porém, sem demasiados excessos formais, alcançando um resultado útil do processo. Esse é o modelo político da democracia, exercida pelo próprio Estado. (DINAMARCO; LOPES, 2017)

No entanto, a garantia constitucional do acesso à justiça vai muito além da obrigação Estatal de prestar a tutela jurisdicional, devendo o Estado assegurar

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meios e estratégias que facilitem o acesso à justiça. Diante dessa procura judicial, cabe ao Estado também, garantir a efetividade dessa tutela jurisdicional, para que as partes tenham os direitos reivindicados analisados e se possível, dentro da lei e, principalmente a critério do magistrado, concedidos.

Humberto Theodoro Júnior (2016, p.74), notavelmente leciona sobre o tema:

É de se ter em conta que, no moderno Estado Democrático de Direito, o acesso à justiça não se resume ao direito de ser ouvido em juízo e de obter uma resposta qualquer do órgão jurisdicional. Por acesso à justiça hoje se compreende o direito a uma tutela efetiva e justa para todos os interesses dos particulares agasalhados pelo ordenamento jurídico.

O acesso à justiça deve ser visto não apenas como acesso ao judiciário, mas sim de acesso ao processo justo e eficaz. Dessa forma, o princípio da primazia da decisão de mérito, evidenciado no artigo 4º do Código de Processo Civil assegura que “as partes têm o direito de obter em prazo razoável a solução integral do mérito, incluída a atividade satisfativa”. Também se faz presente no artigo 6º do aludido diploma legal quando prescreve que: “todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva”. Ou seja, deve-se dar primazia à produção de um resultado final satisfatório do direito, através do mérito processual. (BRASIL, 2018)

Assim, segundo Moretti e Costa (2016) para que não ocorra novamente uma movimentação da máquina judiciária, o processo deve primar pela real satisfação do direito material, por meio da análise do mérito da demanda.

Ao longo dos anos vem se desenvolvendo uma consciência voltada à garantia plena do acesso à justiça, alcançando a todos, e ainda, proporcionando a concreta prestação jurisdicional. Portanto, a gestão jurisdicional das varas judiciais, dos Tribunais e demais órgãos de prestação jurisdicional devem possibilitar a efetividade do processo, com decisões úteis e justas, garantindo que o acesso à justiça não seja mera formalidade e, através dessa garantia assegurar que a parte obtenha um resultado realmente legítimo por meio do processo.

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1.2 O princípio da primazia da decisão de mérito como norma fundamental

Os princípios processuais são auxiliadores na garantia da satisfação do direito, e é na Parte Geral do Código de Processo Civil, no Capítulo I denominado “Das normas fundamentais do processo civil”, nos doze primeiros artigos da Lei, que se encontram princípios e regras que formam o alicerce do processo civil brasileiro e todos eles derivam da Constituição Federal de 1988.

Pressupõe-se que o legislador se preocupou em valorizar a norma Constitucional, trazendo garantias constitucionais ao Código de Processo Civil e garantindo um processo mais justo e eficaz. É nesse sentindo o dizer de Ronaldo Brêtas de Carvalho Dias (apud FERREIRA, 2017):

A rigor, ao se falar em processo constitucional, não se cogita de um ramo autônomo do direito, mas de uma visão técnica e científica, que se acentuou com a tendência da constitucionalização do ordenamento jurídico, surgida após a segunda guerra mundial, ao se configurar constitucionalmente o Estado Democrático de Direito. Portanto, em noção ampla, pode-se considerar o processo constitucional estudo metodológico e sistemático pelo qual o processo é examinado em suas relações diretas com as normas da Constituição, formatando a principiologia normativa de devido processo constitucional (ou modelo constitucional de processo).

A relação entre a norma constitucional e a norma ordinária precisa ser harmônica, e juntas elas devem tornar-se um conjunto de regras que atuam para que os indivíduos tenham seus direitos protegidos e, muito além disso, para que obtenham um resultado útil no fim do processo. Em um Estado Democrático de Direito efetivo, as garantias constitucionais devem resguardar os anseios sociais e buscar a participação da sociedade na resolução dos litígios. (FERREIRA, 2017)

Diante disso, é evidente a importância da Carta Magna nas relações processuais, e encontramos na Exposição de Motivos do Código de Processo Civil essa premissa, com a seguinte explicação: (BRASIL, 2018)

A necessidade de que fique evidente a harmonia da lei ordinária em relação à Constituição Federal da República fez com que se incluíssem no Código, expressamente, princípios constitucionais, na sua versão processual. [...] Trata-se de uma forma de tornar o

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processo mais eficiente e efetivo, o que significa, indubitavelmente, aproximá-lo da Constituição Federal, em cujas entrelinhas se lê que o processo deve assegurar o cumprimento da lei material.

Ao dizermos que a versão processual dos princípios constitucionais garante um processo mais eficiente, está-se moldando o direito processual para que a realidade realmente seja esta. Por isso, o princípio da primazia da decisão de mérito vem ganhando cada vez mais espaço nas relações processuais, pois é através dele que o processo tem produzido resultados legítimos e alcançado o direito fundamental de acesso à justiça.

Ainda nesse sentido Cássio Scarpinella Bueno (apud FERREIRA, 2017) preceitua que “o primeiro contato com o direito processual civil se dá no plano constitucional e não no do Código de Processo Civil que, nessa perspectiva, deve se amoldar, necessariamente, às diretrizes constitucionais.”

É evidente a necessidade de desenvolver um processo sob o viés constitucional e são os princípios constitucionais adotados pelo Código de Processo Civil, juntamente com aqueles já elencados por ele, como o princípio da primazia de decisão de mérito, que devem tornar o processo um meio eficaz e célere de resolução de conflitos.

O princípio da primazia decisão de mérito é visto como norma fundamental no processo civil, pois é por meio dele que se identificam obstáculos superáveis e satisfaz-se a pretensão das partes com a resolução efetiva do processo, através do mérito da demanda.

Para a concreta aplicação desse princípio é necessário que autor, réu e magistrado passem a ver-se como uma comunidade de trabalho, construindo uma decisão correta para o caso concreto, sendo essa comunidade de trabalho compreendida em consonância com o Estado Democrático de Direito. (CÂMARA, 2015)

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Deve-se compreender o processo civil na perspectiva do Estado Constitucional e, através da adoção dos princípios processuais, alcançar o compromisso da jurisdição assumido pela Constituição Federal de 1988.

1.3 Regras de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito no primeiro grau de jurisdição

Para a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito algumas regras são necessárias e estão identificadas no Código de Processo Civil, facilitando a produção de resultados legítimos, que primam pela satisfação do direito pretendido pelas partes.

Há várias disposições espalhadas pelo Código de Processo Civil que consistem em condições de aplicação do princípio da primazia do julgamento do mérito. O juiz deve aplicá-las, a fim de viabilizar, tanto quanto possível, o exame do mérito, concretizando o dever de prevenção, decorrente do princípio da cooperação (CUNHA, 2015).

A primeira regra a ser destacada, de acordo com o artigo 139, IX, do CPC, incumbe ao juiz “determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios processuais”. Além do §2º do artigo 282 do Código de Processo Civil, segundo o qual preceitua que “quando puder decidir o mérito a favor da parte a quem aproveite a decretação da nulidade, o juiz não a pronunciará nem mandará repetir o ato ou suprir-lhe a falta”. (BRASIL, 2018)

Para que se entenda com mais clareza o aludido artigo, cabe transcrever exemplo do renomado desembargador Alexandre Freitas Câmara (2015, p. 12):

Pense-se, por exemplo, no caso em que o juiz verifica não ter havido a correta intimação do réu para comparecer a uma audiência de instrução e julgamento, vício este que só é percebido quando os autos estão conclusos para sentença. Ora, se o material probatório existente nos autos é suficiente para a prolação de uma sentença de improcedência do pedido (pronunciamento de mérito favorável ao réu, que seria favorecido pela decretação da nulidade da audiência para a qual não fora regularmente intimado), não há qualquer sentido

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em anular-se a audiência. Deve-se, pois, proferir sentença de mérito, e não anular o ato processual.

Deste modo, sem o reconhecimento da nulidade o processo continuou a produzir resultados através da sentença de mérito, não causando prejuízo à parte que seria beneficiária por tal nulidade.

Também merece destaque o artigo 317 do CPC, o qual prescreve que “antes de proferir decisão sem resolução de mérito, o juiz deverá conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício”. (BRASIL, 2018)

Ainda segundo Alexandre Freitas Câmara (2015) não é compatível a extinção do processo sem resolução de mérito com as normas fundamentais do processo civil brasileiro, que dão às partes a oportunidade de sanar o vício processual.

Conforme a previsão do artigo 321 do CPC cabe ao órgão jurisdicional apontar com precisão o vício que precisa ser sanado, dessa forma, aludido artigo preceitua: (BRASIL, 2018)

O juiz, ao verificar que a petição inicial não preenche os requisitos dos arts. 319 e 320 ou que apresenta defeitos e irregularidades capazes de dificultar o julgamento de mérito, determinará que o autor, no prazo de 15 (quinze) dias, a emende ou a complete, indicando com precisão o que deve ser corrigido ou completado.

O disposto no artigo 488 do diploma legal se refere no mesmo sentido do artigo supracitado, segundo o qual, “desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem aproveitaria eventual pronunciamento nos termos do art. 485”, que seria a extinção do processo sem resolução de mérito. (BRASIL, 2018)

Como exemplo, temos o caso de um juiz verificar que o processo está parado a mais de trinta dias, por desídia do autor, que pode ser causa de extinção do processo sem resolução de mérito, mas percebe também que o direito pretendido pelo autor, já se extinguira por força de prazo decadencial, o que é causa de prolação de sentença de mérito. Como a sentença de mérito, nesse caso,

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favoreceria o demandado, mesma parte que seria beneficiada pela extinção do processo sem resolução do mérito, deve ser considerado o pronunciamento resolvendo o mérito em questão, pois dessa forma, dá-se uma solução definitiva ao caso. (CÂMARA, 2015)

Os artigos supracitados sobre as regras de aplicação, em instâncias inicias, do princípio estudado têm um objetivo em comum, a busca pela correção dos vícios processuais que comprometem o julgamento de mérito e que consequentemente não produz o resultado esperado pelas partes, gerando insatisfação e desapreço pelo processo civil brasileiro.

1.4 Abandono ao formalismo exacerbado no processo civil

O formalismo no processo civil, por si só, é algo benéfico, trazendo organização processual e equilibrando a relação entre as partes, impedindo que sejam cometidos excessos por quaisquer das partes e, até mesmo pelo juiz, que deve zelar pelo regular andamento processual, porém sem ser arbitrário.

Quando o formalismo é empregado no sentido negativo, ou seja, quando há demasiadas exigências formais que afrontam os interesses das partes, gerando assim, um desiquilíbrio processual, afrontando direitos fundamentais e protelando o direito à prestação jurisdicional, ele pode ser chamado de formalismo excessivo. (FERREIRA, 2017)

A primazia do mérito atua no combate a esse tipo de formalismo, pois o processo deve ser conduzido da melhor forma possível, para que os vícios processuais sanáveis sejam corrigidos pelas partes, a fim de evitar uma sentença terminativa e, consequentemente, priorizando o mérito processual, resolvendo o litígio entre as partes.

O abandono da extrema formalidade processual é um fator importante no saneamento dos vícios processuais, pois com a constitucionalização do processo viu-se a necessidade de adotar um novo tipo de formalismo, que seja igualitário e

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democrático, zelando pelas garantias constitucionais, almejando um fim justo e adequado ao processo.

Através desse formalismo democrático o devido processo legal é garantido às partes e, então, se concretiza a busca por um processo célere e eficaz. Como já mencionado, através das regras de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito o Código de Processo Civil oportuniza que inúmeros vícios/nulidades possam ser sanados.

Todo processo deve ser realizado segundo regras seguras e é natural que se questione a eficácia de determinados atos processuais. Porém, o sistema processual deve ser racional e flexível e nenhum ato processual se anula quando seu fim tenha sido alcançado e sua eventual irregularidade formal não tenha causado prejuízo às partes. (DINAMARCO; LOPES, 2017)

O objetivo final da parte ao buscar a prestação jurisdicional é o julgamento do mérito, resolvendo o litígio instalado. No entanto, é necessário que sejam atendidos os pressupostos processuais e as condições da ação, antes que seja enfrentado o mérito da demanda, e é preciso que o magistrado verifique se a relação está constituída validamente, inclusive a legitimidade de parte e o interesse de agir. Nessa fase saneadora do processo a relação jurídica processual pode ser extinta prematuramente sem julgamento do mérito da causa. (THEODORO JR., 2016)

Contudo, sendo o principal objetivo da função processual a composição da lide, não pode o magistrado dar enaltecimento às questões meramente formais, colocando-as em um patamar superior ao do mérito. É nesse sentido a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito, garantindo que o juiz sempre conceda a parte oportunidade para, se possível, corrigir determinado vício.

Importante salientar mais uma vez os dizeres do doutrinador Humberto Theodoro Júnior (2016, p. 1.043):

Dessa forma, não pode o juiz, na sistemática do Código, desde logo extinguir o processo, sem apreciação do mérito, simplesmente

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porque encontrou um defeito nas questões preliminares de formação da relação processual. Agir dessa maneira, frente a um vício sanável, importaria subverter a missão do processo e a função jurisdicional.

O princípio da primazia de decisão de mérito vem contribuir para que os magistrados abandonem o extremo formalismo para com o processo e, possibilitem às partes um provimento que esteja de acordo com a lesão ou ameaça de lesão, constituindo uma solução justa para o litígio.

Segundo Theodoro Jr. (2016), o juiz moderno não só deve se empenhar na busca da verdade em torno do quadro fático sobre o qual se instaura o conflito entre as partes, como tem de reprimir manobras protelatórias da parte, indeferir e evitar diligências inúteis, assim como impedir as chamadas “etapas mortas” do procedimento.

Salutar é o entendimento de Ferreira (2017):

O poder do juiz deve ser disciplinado e o formalismo processual deve ser uma forma de conceder às pessoas a segurança jurídica, ou seja, garante-se liberdade contra o arbítrio dos órgãos que exercem o poder do Estado. Além disso, o formalismo processual também controla eventuais excessos que uma parte pode cometer em face da outra, prejudicando seus direitos. Quando analisamos o mérito em relação aos formalismos processuais, o que se busca é fazer com que a pretensão da parte seja acolhida, desta forma, é preciso muitas vezes passar por cima dos excessos de formalidades existentes no processo, como forma de garantir às pessoas um acesso à justiça pleno, célere e os direitos fundamentais sejam reconhecidos e se façam presentes ao longo de todo processo.

Sinala-se, portanto, que o processo é um mecanismo eficiente de produção de resultados, mas para que essa eficiência garanta uma prestação jurisdicional justa e adequada, ele deve moldar-se pelos padrões formais, porém sem exageros, cabendo ao magistrado guiar os ditames processuais e primar pela decisão de mérito sobre eventuais vícios processuais que, ainda que tenham provocado desrespeito à forma, não foram capazes de gerar prejuízos ao processo e às partes, convalidando-se os atos pretensamente nulos.

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2 O PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO E A JURISPRUDÊNCIA DEFENSIVA DOS TRIBUNAIS SUPERIORES

A primazia de mérito é garantia da tutela jurisdicional efetiva e garante às partes o acesso à justiça e a resolução do mérito da demanda. Dessa forma, é de suma importância que se entenda a aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito em outras instâncias, além do primeiro grau.

Neste segundo capítulo, será feita uma abordagem do princípio estudado na fase recursal, indicando e analisando regras e teorias relacionadas à sua aplicação em graus superiores de jurisdição.

Ganha destaque neste estudo a jurisprudência defensiva dos Tribunais Superiores, que vem burocratizando o processo civil a ponto de dificultar o acesso às instâncias superiores. Além disso, será feita uma análise de casos jurisprudenciais, destacando-se o princípio da primazia da decisão de mérito e sua aplicação concreta.

2.1 A primazia do mérito na fase recursal

O princípio da primazia da decisão de mérito também é amplamente aceito em outras instâncias além do primeiro grau, ou seja, nos Tribunais, onde as regras de aplicação do aludido princípio se fazem presentes para que se chegue ao mérito do recurso.

Por meio do Código de Processo Civil foram consagrados inúmeros dispositivos que tratam sobre o saneamento dos vícios antes que seja declarada a inadmissibilidade do recurso.

Por exemplo, o artigo 932, parágrafo único do CPC leciona que: (BRASIL, 2018)

Art. 932. Incumbe ao relator:

Parágrafo único. Antes de considerar inadmissível o recurso, o relator concederá o prazo de 05 (cinco) dias ao recorrente para que seja sanado vício ou complementada a documentação exigível;

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Esse dispositivo consagra a possibilidade de correção dos vícios processuais recursais através do julgamento do mérito da apelação, como por exemplo, o reconhecimento da tempestividade de um recurso somente se for verificada a ocorrência, durante a fluência de prazo, de um feriado local. Para tanto o relator então notifica o recorrente para que produza prova em cinco dias.

Além desse dispositivo, outros compõem a fase recursal e têm o objetivo de estimular a primazia do mérito recursal. O artigo 932 do CPC encontra-se no título Ordem dos Processos dos Tribunais, devendo ser utilizado em todos os recursos, inclusive no Especial e Extraordinário. A correção dos vícios processuais recursais também deve ser oportunizada aos vícios anteriores à entrada em vigor do Código de Processo Civil de 2015, desde que o recurso seja apreciado após o início de sua vigência, como consagra o Enunciado nº 574 do FPPC. (ARAÚJO, 2016)

Regra equivalente à do artigo supracitado é aplicada nos casos de não comprovação do preparo, ou preparo insuficiente na interposição do recurso. No artigo 1.007, parágrafos 2º, 4º e 7º do CPC encontra-se a seguinte redação: (BRASIL, 2018)

Art. 1.007. No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção.

§ 2º A insuficiência no valor do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, implicará deserção se o recorrente, intimado na pessoa de seu advogado, não vier a supri-lo no prazo de 5 (cinco) dias. § 4º O recorrente que não comprovar, no ato de interposição do recurso, o recolhimento do preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, será intimado, na pessoa de seu advogado, para realizar o recolhimento em dobro, sob pena de deserção.

§ 7º O equívoco no preenchimento da guia de custas não implicará a aplicação da pena de deserção, cabendo ao relator, na hipótese de dúvida quanto ao recolhimento, intimar o recorrente para sanar o vício no prazo de 5 (cinco) dias.

Cabe salientar que a regra desse dispositivo não se aplica a falta de preparo, e sim a não comprovação do mesmo, pois há um conjunto específico de regras sobre esse requisito. Esse é o entendimento de Didier e Cunha (2016, p.55):

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Há semelhança entre os regramentos, sobretudo por conta do prazo de cinco dias, concedido ao recorrente, em ambos. Mas, no caso de falta de preparo, por exemplo, o recorrente é intimado para fazê-lo em dobro (art. 1.007, § 4º, CPC) – há, aqui, uma sanção pelo descumprimento do requisito de admissibilidade do recurso, inexistente na disciplina do parágrafo único do art. 932.

O Código de Processo Civil atual trouxe algumas inovações em relação ao Recurso Especial e Recurso Extraordinário, conforme dispõe o artigo 1.029, §3º, o qual preceitua que “o Supremo Tribunal Federal ou o Superior Tribunal de Justiça poderá desconsiderar vício formal de recurso tempestivo ou determinar sua correção, desde que não o repute grave”. (BRASIL, 2018)

O artigo supracitado indica que somente poderá ser desconsiderado vício de recurso interposto tempestivamente, pois no caso de o recurso ser intempestivo já terá o acórdão recorrido transitado em julgado, implicando a análise do mérito do recurso em violação à garantia constitucional da coisa julgada. Sendo tempestivo o recurso excepcional, o STF e o STJ deverão, e não simplesmente poderão, como literalmente elenca o texto normativo, pois é dever do órgão jurisdicional desconsiderar vícios menos graves ou determinar sua correção. Dever este imposto por princípios fundamentais do ordenamento processual, como por exemplo, o princípio da primazia da decisão de mérito, garantindo um processo célere e eficaz. (CÂMARA, 2015)

O Tribunal ao colaborar com as partes e explicitar as deficiências em suas postulações tem um posicionamento ativo na busca por uma decisão de mérito. De nada adianta, a tramitação de uma lide durante anos para que a resolução de determinado litígio seja extinta por meras irregularidades formais, o que prejudica, inclusive, a duração razoável do processo.

Outra regra de aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito se encontra nos dispositivos acerca da conversão de Recurso Especial em Extraordinário e vice-versa. Em relação a esse tema, Alexandre Freitas Câmara (2015, p. 15) leciona:

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Dispõe o art. 1.032 do CPC de 2015 que, no caso de o Relator do recurso especial entender que este versa sobre questão constitucional, não deverá declará-lo inadmissível, mas conceder prazo de quinze dias para que o recorrente demonstre a existência de repercussão geral e se manifeste sobre a questão constitucional, a fim de, em seguida, remeter os autos ao Supremo Tribunal Federal. De sua vez, se o STF reputar reflexa a ofensa à Constituição da República alegada em recurso extraordinário, por pressupor a revisão da interpretação da lei federal ou de tratado, deverá remetê-lo ao STJ para julgamento como recurso especial (art. 1.033).

E ainda, segundo Marcelo Mazzola (2018), há outros exemplos da primazia de mérito nas leis extravagantes, como o artigo 2º, § 8º, da Lei 6.830/80 que permite a emenda ou a substituição da certidão de dívida ativa até a decisão de primeira instância, garantindo-se ao executado novo prazo para embargos. Por fim, o entendimento é de que a fungibilidade das tutelas provisórias (artigos 297 e 305, parágrafo único, CPC), das ações possessórias (artigo 554, CPC) e dos próprios recursos (artigos 1.024, § 3º, 1.032 e 1.033, CPC) também são evidências da primazia de mérito, pois evitam extinções precoces e buscam otimizar a prestação jurisdicional.

O Código de Processo Civil, através do consagrado princípio da primazia da decisão de mérito, inovou com a chamada “Teoria da Causa Madura”, que está diretamente ligada às decisões de mérito. Através dessa teoria há a possibilidade de julgamento do mérito diretamente pelos Tribunais. (ARAÚJO, 2016).

O artigo 1.013, parágrafo 3º e seus incisos, do Código de Processo Civil ampliaram essa Teoria e prescrevem que (BRASIL, 2018):

Art. 1.013. A apelação devolverá ao tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 3º Se o processo estiver em condições de imediato julgamento, o tribunal deve decidir desde logo o mérito quando:

I - reformar sentença fundada no art. 485;

II - decretar a nulidade da sentença por não ser ela congruente com os limites do pedido ou da causa de pedir;

III - constatar a omissão no exame de um dos pedidos, hipótese em que poderá julgá-lo;

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Esse julgamento de mérito diretamente pelos Tribunais pressupõe que o processo esteja em condições de julgamento imediato, ou seja, que as provas tenham sido habilmente produzidas e o réu citado. É necessário que o recorrente “em suas razões recursais, requeira expressamente que o Tribunal dê provimento à apelação e, desde logo, aprecie o mérito da demanda”, conforme ensina Didier e Cunha (2016, p. 195). Assim, caso o recorrente, após o provimento do recurso, requeira que os autos sejam remetidos à primeira instância, o Tribunal não pode, sob o embasamento do parágrafo 3º do artigo 1.013 do CPC, resolver o mérito em questão, sob pena de pronunciar decisão extra petita. (DIDIER, CUNHA, 2016).

Segundo Didier e Cunha (2016, p.195), “há três pressupostos para a aplicação da regra do § 3º do art. 1.013 do CPC: a) requerimento do apelante; b) provimento da apelação; c) o processo estiver em condições de imediato julgamento”.

Conforme ensina Araújo (2016) esses dispositivos permitem que a apelação tenha dois capítulos: um recursal e outro de resolução do mérito da demanda. Consequentemente, aumentam a importância e a eficácia das decisões de 2º grau. No entanto, através dessa decisão de mérito, questiona-se se há ou não há violação do duplo grau de jurisdição. Segundo os doutrinadores Fredie Didier Jr. e Humberto Theodoro Jr., não há de se falar em violação desde que o processo esteja em condições de imediato julgamento.

Nesse sentido é o entendimento de Anwar Mohamad Ali (2018), o qual leciona:

Ora, o duplo grau de jurisdição não indica que a matéria de mérito deve ser, necessariamente, analisada em mais de uma instância. Ao prolatar uma sentença terminativa o juiz exerce a sua competência jurisdicional, ou seja, ele julga a causa, ainda que para extingui-la sem análise do mérito.

No tribunal, ao se afastar uma sentença terminativa, o prosseguimento com a análise do mérito da causa não decorre de uma suposta competência originária que lhe foi atribuída pelo Código de Processo Civil (LGL\2015\1656), mas sim do próprio recurso interposto e, ao menos nesta parte, provido.

O julgamento direto do mérito, portanto, não decorre de uma ação ajuizada diretamente em segunda instância, mas sim do provimento de um recurso interposto contra uma sentença de primeiro grau.

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Em suma, essa nova maneira de compreender a processualística, através da “Teoria da Causa Madura”, se conecta diretamente com o modelo cooperativo de processo permitindo que vícios sejam corrigidos ou regularizados valorizando-se a primazia de mérito e a efetivação dos direitos fundamentais. Com efeito, o rigor processual e o culto aos procedimentos não podem transformar o processo em um protagonista de si mesmo, desvalorizando os anseios e os legítimos direitos da sociedade. (MAZZOLA, 2018)

A primazia do mérito na fase recursal tem se mostrado uma excelente solução para que se obtenha decisão de mérito justa e efetiva dentro dos Tribunais, em prazo razoável e atendendo a todos os requisitos processuais necessários para a resolução da lide.

2.2 A Jurisprudência Defensiva

É de amplo conhecimento que o processo civil brasileiro está abarrotado de processos e não consegue suportar a crescente proposição de muitos outros, sendo assim também no tocante aos recursos nos Tribunais, por sua vez regidos pelo formalismo e burocracia exacerbados. Sobretudo em relação ao juízo de admissibilidade dos recursos, acabam adotando a chamada jurisprudência defensiva, ou seja, criando entraves e pretextos excessivamente formais para impedir o conhecimento de determinados recursos.

Na fase recursal podemos encontrar o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito, sendo que o primeiro juízo antecede o mérito recursal, pois deve ser analisado se o recurso cumpre com todos os requisitos de admissibilidade necessários para que o seu mérito seja julgado.

O juízo de admissibilidade é realizado pelo Tribunal, devendo o recurso cumprir uma série de requisitos até que se chegue à análise do mérito. Segundo a classificação mais usual pela doutrina, os requisitos são divididos em intrínsecos e extrínsecos.

Os requisitos intrínsecos estão ligados à existência do direito de recorrer, sendo eles: cabimento (previsão legal/adequação), legitimidade (artigo 996 do CPC),

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interesse (necessidade/utilidade) e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do direito de recorrer (renúncia, aquiescência, desistência, etc.)

Já os requisitos extrínsecos, estão ligados ao mero exercício regular do direito de recorrer, são eles: tempestividade (interposição dentro do prazo fixado em lei), preparo (adiantamento das despesas relativas ao processamento do recurso, artigo 1.007 do CPC) e regularidade formal (motivação adequada).

O mérito do recurso é a pretensão recursal, que pode ser de invalidação, reforma, integração ou esclarecimento (esse último exclusivo dos embargos de declaração). A causa de pedir recursal e o respectivo pedido recursal compõem o mérito do recurso. (DIDIER, CUNHA, 2016, p.134).

Após uma breve análise dos juízos de admissibilidade e de mérito, pode-se concluir que toda postulação depende de um duplo exame do magistrado. Assim, o papel do magistrado é de suma importância para a efetividade processual e cabe também aos Tribunais garantir a atividade satisfativa do direito processual.

Em se tratando do Superior Tribunal de Justiça, por exemplo, guardião da legislação infraconstitucional, desde muito tempo, enfrenta um grande dilema: de um lado, vê-se abarrotado de recursos e outras demandas de sua competência; por outro lado a busca do cidadão pela prestação jurisdicional célere e eficaz, capaz de alcançar suas expectativas em cada caso concreto. (VAUGHN, 2016)

O Código de Processo Civil, através de vários diplomas legais que consagram o princípio da primazia da decisão de mérito, buscou combater a jurisprudência defensiva, permitindo a correção de vícios considerados sanáveis. Porém, os Tribunais Superiores continuam agindo através do formalismo exacerbado e criando entraves para que os recursos não sejam admitidos.

É de conhecimento geral que a demanda judicial está em crescente aumento não só pelo amplo acesso à justiça oportunizado aos cidadãos, mas também, devido ao grande número de litígios da sociedade moderna e, deste modo, para talvez atenuar essa situação, os Tribunais têm adotado a jurisprudência defensiva. Essa

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“sede” de julgamentos acaba ignorando a legislação vigente e adotando um rigor formal em busca dessa celeridade processual.

Segundo Gustavo Fávero Vaughn, 2016, a jurisprudência defensiva surgiu com o intuito de alongar o curso dos processos e dificultar a prestação jurisdicional e, também, segundo ele, é conceituada da seguinte forma:

A jurisprudência defensiva consiste na prática do não conhecimento de recursos em razão de apego formal e rigidez excessiva em relação aos pressupostos de admissibilidade recursal, impondo a supervalorização dos requisitos formais para admissão dos recursos.

O grande problema da jurisprudência defensiva pelos Tribunais é o rigorismo e a formalidade em excesso, o que acaba violando o princípio constitucional de acesso à justiça, além de obstar o litigante de ver o mérito recursal apreciado.

Em um esclarecedor comentário, Ferreira, 2017, coloca muito bem a realidade da primazia do mérito versus a jurisprudência defensiva, dizendo:

Desde as cadeiras da faculdade é preciso demonstrar os dois lados da moeda, ou seja, a luta dos advogados em defenderem as pretensões de seus clientes e a intenção dos Tribunais Superiores em julgarem o maior número possível de processos. Porém, em ambos os casos não se pode esquecer do mérito, pois o legislador em meio a diversos dispositivos tentou ao máximo refletir que busca pelo atendimento dos pedidos levados à juízo, além disso, garantindo a todos os litigantes o devido processo legal.

Combater a jurisprudência defensiva não é uma tarefa fácil, mas não é impossível e isso está nítido ao longo do diploma processual civil, portanto, compreende-se que a proteção é para todos, mas os advogados e a sociedade receberam uma maior atenção, ficando claro que a atuação das cortes superiores em barrar recursos é algo que desagrada a grande maioria e atende apenas ao rendimento de seu próprio serviço.

O renomado jurista José Carlos Barbosa Moreira, apud Vaughn (2016) assevera que:

A essa luz, o que se espera da lei e de seus aplicadores é um tratamento cuidadoso e equilibrado da matéria, que não imponha sacrifício excessivo a um dos valores em jogo, em homenagem ao outro. Para usar palavras mais claras: negar conhecimento a recurso é atitude correta - e altamente recomendável - toda vez que esteja clara a ausência de qualquer dos requisitos de admissibilidade. Não

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devem os tribunais, contudo, exagerar na dose; por exemplo, arvorando em motivos de não conhecimento circunstâncias de que o texto legal não cogita, nem mesmo implicitamente, agravando sem razão consistente exigências por ele feitas, ou apressando-se a interpretar em desfavor do recorrente dúvidas suscetíveis de suprimento. Cumpre ter em mente que da opção entre conhecer ou não conhecer de um recurso podem advir consequências da maior importância prática.

Dessa forma, é notório que os Tribunais devem fazer um filtro recursal para que a máquina judiciária não seja movimentada sem motivo, mas essa escolha não pode prejudicar aqueles recursos legítimos, pois não deve haver qualquer pretexto que dificulte o acesso ao Poder Judiciário.

2.3 Primazia do julgamento de mérito a qualquer custo?

Quando se fala em primar o mérito do litigio para que o conflito seja solucionado, através de regras que consagram o princípio da primazia da decisão de mérito, tem-se que pensar nas consequências de uma má apreciação do direito postulado pelas partes.

Deve-se privilegiar o papel da jurisdição no campo da realização do direito material, por ser por meio dele que se compõe o litígio e se concretiza a paz social sob comando da ordem jurídica. Nesse sentido, o processo deve viabilizar a decisão sobre o mérito das causas, evitando o plano das formalidades procedimentais. (DIDIER, CUNHA, 2016)

No entanto, deve ser feito um juízo crítico no que concerne ao papel dos magistrados e dos advogados. Estes devem conhecer o direito material, para um melhor julgamento e também, melhor defesa de mérito para os jurisdicionados.

De fato, não basta perseguir a solução do mérito a qualquer custo, mas é indispensável que ela seja o quanto antes alcançada, visando a garantia de pleno acesso à justiça, consoante preceitua o artigo 5º, XXXV da CF e conforme notavelmente leciona Theodoro Jr. (2016, p. 56):

Além da fuga ao tecnicismo exagerado, bem como do empenho em reformas tendentes a eliminar entraves burocráticos dos procedimentos legais, a efetividade da prestação jurisdicional, dentro da duração razoável do processo e da observância das regras

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tendentes à celeridade procedimental, passa por programas da modernização da Justiça, de feitio bem mais simples: (i) modernização do gerenciamento dos serviços judiciários, para cumprir-se o mandamento constitucional que impõe à Administração Pública o dever eficiência (CF, art. 37); e (ii) efetiva sujeição ao princípio da legalidade, fazendo que os trâmites e prazos das leis processuais sejam realmente aplicados e respeitados, não só pelas partes, mas, sobretudo, pelos órgãos judiciais (CF, arts. 5º, LXXVIII, e 37, caput). Na maioria das vezes, para se realizar a contento o respeito à garantia de duração razoável do processo, bastará que se cumpra o procedimento legal.

A ressalva que se faz pela doutrina traduz na confrontação entre a tão esperada celeridade e a garantia de um processo justo e paritário. Portanto, deve haver um equilíbrio entre celeridade e segurança processual, para que o direito material ocorra dentro dos ditames legais. A respeito desse tema José Roberto dos Santos Badaque (apud PACANARO, 2017), ensina:

Processo efetivo é aquele que, observado equilíbrio entre os valores segurança e celeridade, proporciona às partes o resultado desejado pelo direito material. Pretende-se aprimorar o instrumento estatal destinado a fornecer a tutela jurisdicional. Mas constitui perigosa ilusão pensar que simplesmente conferir-lhe celeridade é suficiente para alcançar a tão almejada efetividade. Não se nega a necessidade de reduzir a demora, mas não se pode fazê-lo em detrimento do mínimo de segurança, valor também essencial ao processo justo.

Muito se fala na busca do julgamento de mérito para solucionar o conflito, e que cabe tanto às partes, quanto ao magistrado, em uma comunidade de trabalho, alcançar esse fim. Porém, a busca pelo julgamento célere e eficaz não pode ser almejada a qualquer custo, apreciando o pedido das partes sem qualquer cuidado, pois o que se busca é a resolução de um litígio.

Não há uma lei específica em relação do tempo qualificado como razoável para a conclusão de um processo. Porém não deve ser tolerada a procrastinação injustificável, resultado da ineficiência do Poder Judiciário, portanto, a marcha processual deve dar-se sem delongas inexplicáveis e intoleráveis. (THEODORO JR., 2016)

Os direitos fundamentais a um processo justo e, ao mesmo tempo célere, são garantias constitucionais, devendo ser levados em conta, com equilíbrio pelo

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magistrado que atua na causa. Por isso, para que um processo discorra dentro dos limites legais, primando pelo mérito processual, deve ser pautado sobre o princípio da duração razoável do processo, instituído no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal que dispõe, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. (BRASIL, 2018)

Nesse sentido é o entendimento de Humberto Theodoro Jr. (2016, p.77), quando leciona:

O novo CPC, por seu turno, prevê que essa garantia de duração razoável do processo aplica-se ao tempo de obtenção da solução integral do mérito, que compreende não apenas o prazo para pronunciamento da sentença, mas também para a ultimação da atividade satisfativa. É que condenação sem execução não dispensa à parte a tutela jurisdicional a que tem direito. A função jurisdicional compreende, pois, tanto a certificação do direito da parte, como sua efetiva realização. Tudo isso deve ocorrer dentro de um prazo que seja razoável, segundo as necessidades do caso concreto.

Dessa forma, quando se fala em primazia do mérito, deve ser observada a complexidade da causa, o comportamento das partes e autoridades judiciárias, além do respeito aos prazos processuais necessários para a aplicação concreta do direito. A mudança do sistema judiciário em geral é gradual, pois há muito o que se aprimorar por parte dos magistrados. Diante dessa premissa, cabe salientar as palavras de Armando Wesley Paccanaro (2017):

No entanto, singela e tímida mudança é sentida. Apurou-se que, em certa medida, há a tentativa de se proceder ao abandono do formalismo exacerbado em prol da instrumentalidade das formas, da fungibilidade de meios, do devido processo legal, do duplo grau de jurisdição e, em última análise, do acesso à ordem jurídica justa. A profusão de tais ideias, somadas às alterações legislativas operadas, bem como acrescidas da mudança de mentalidade dos operadores do direito, acaba por reforçar a esperança e a crença de que é possível e viável contar com o Poder Judiciário cada vez menos formalista e excludente.

Portanto, o que se espera de um processo justo e célere, é um equilíbrio entre o julgamento de mérito adequado ao caso concreto e o tempo em que se chega ao mérito processual. Pois, um processo depende de uma correta aplicação e

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elucidação, mas não podendo limitar-se pelas formalidades impostas pelos operadores de direito. Muitas dessas formalidades são meras procrastinações e podem ser sanadas visando à aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito.

2.4 Casuísticas dos Tribunais

Com base em tudo que foi estudado no presente trabalho, é salutar que sejam analisadas algumas ementas relacionadas ao princípio da primazia da decisão de mérito, as quais demonstrarão no caso concreto o sistema processual civil atual e suas implicações nas decisões de mérito.

As ementas colacionadas a seguir tratam de casos apreciados pelo Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul:

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL. AÇÃO

DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. CADASTRO

RESTRITIVO DE CRÉDITO. ORDEM DE CANCELAMENTO EMANADA EM OUTRA AÇÃO QUE TRAMITOU ENTRE AS PARTES. COISA JULGADA. INOCORRÊNCIA. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. Uma ação é idêntica à outra quando tem as mesmas partes e idêntica causa de pedir e pedido. Ausente identidade quanto ao pedido, não há falar em coisa julgada a autorizar a extinção do feito sem resolução do mérito. Intelecção do art. 337, §§ 1º e 3º, do CPC/2015. EXAME DO MÉRITO. APRECIAÇÃO IMEDIATA PELO TRIBUNAL "AD QUEM". VIABILIDADE. CAUSA MADURA. PRINCÍPIO DA PRIMAZIA DA DECISÃO DE MÉRITO. ART. 6º DO NCPC. DOUTRINA. PROVA DOCUMENTAL SUFICIENTE AO DESATE DA LIDE. ART. 1.013, § 3º, DO CPC/2015. A prova documental aportada aos autos na fase postulatória, no caso concreto, autoriza o imediato exame do mérito da pretensão indenizatória. SENTENÇA EXARADA EM DEMANDA ANTERIOR QUE DETERMINOU O CANCELAMENTO DE INSCRIÇÃO EM CADASTRO RESTRITIVO DE CRÉDITO. SEGUNDA AÇÃO. PEDIDO EXCLUSIVAMENTE DE REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS. Transitou em julgado Acórdão que, em demanda anterior, determinou o cancelamento de registro desabonatório à autora por falta de notificação prévia à inclusão em cadastro restritivo de crédito. É ilícita a inscrição do nome do consumidor em órgão de proteção ao crédito - a dar azo à reparação por danos morais in re ipsa -, ausente a notificação prevista no art. 43, § 2º, do Código de Defesa do Consumidor. APELO PROVIDO

PARA DESCONSTITUIR A SENTENÇA TERMINATIVA

IMPUGNADA, E, COM ESTEIO NO ART. 1.013, § 3º, INC. I, DO CPC/2015, JULGAR PROCEDENTE O PEDIDO. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2016)

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No caso supracitado, primeiramente, foram reconhecidos os pressupostos de admissibilidade do recurso de apelação, no qual a apelante postula reforma da sentença de primeiro grau, a qual extinguiu o feito com base no artigo 267, V do CPC e posteriormente o reconhecimento da indenização por danos morais em face da apelada. Os desembargadores reconheceram o direito da apelante, visto a inocorrência de coisa julgada, além disso, foi viável o pronto exame do mérito, com base na autorização do artigo 1.013, § 3º, I do CPC, pois a prova documental autorizava o imediato desate da lide, por se tratar de uma causa madura. Citou-se também o princípio da primazia da decisão de mérito como garantidor da parte à solução integral do mérito.

A ementa seguinte trata de um caso indicando que o Tribunal pode valer-se do princípio como garantidor da tutela jurisdicional, tornando o direito buscado pela apelante viável e solucionando o mérito da demanda.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO FISCAL. SOCIEDADE LIMITADA. ILEGITIMIDADE ATIVA DO SÓCIO-PROPRIETÁRIO. VÍCIO SANÁVEL. AUSÊNCIA DE PREJUÍZO. VEDAÇÃO DE DECISÃO-SURPRESA. PRIMAZIA DO MÉRITO. ECONOMIA PROCESSUAL. - É certo que "ninguém poderá... Ver íntegra da ementa pleitear direito alheio em nome próprio, salvo quando autorizado pelo ordenamento jurídico" (art. 18, caput, do CPC/2015), de sorte que o sócio-proprietário da sociedade limitada não possui, formalmente, legitimidade para defender, em nome próprio, o patrimônio da empresa, embora não remanesça dúvida da confusão e inter-relação entre a sua pessoa e a pessoa jurídica que representa; o que é aferível pela circunstância de que os embargos foram recebidos e processados, inclusive com a realização de audiência, sem que a ausência do referido pressuposto processual fosse notada. - O processo é instrumento e não fim em si mesmo. O desatendimento à forma processual não acarreta necessariamente a invalidação do ato quando não prejudicar a parte (pas de nullité sans grief - art. 282, §1º, do CPC/15). Não é por outra razão que, de acordo com o art. 139, IX, do novo diploma processual, incumbe ao juiz "determinar o suprimento de pressupostos processuais e o saneamento de outros vícios... processuais", bem como, antes de proferir decisão sem resolução de mérito, "conceder à parte oportunidade para, se possível, corrigir o vício" (art. 317). Por seu turno, o art. 352 dispõe que "verificando a existência de irregularidades ou vícios sanáveis, o juiz determinará sua correção em prazo nunca superior a trinta dias". Todas essas disposições, aliadas a tantas outras, consagram o que a doutrina identifica no art. 4º do Novo CPC como "princípio da primazia do mérito". - Provimento do apelo para desconstituir a sentença e determinar a retificação do polo ativo, com a juntada da respectiva procuração, convalidando-se os atos

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processuais praticados. APELO PROVIDO. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2017).

Os vícios meramente procedimentais não devem acarretar a nulidade dos atos firmados. Para tanto, neste anterior caso, o juiz de segundo grau, através do aludido princípio da primazia da decisão de mérito, desconstitui a sentença e determinou a correção do vício e a convalidação dos atos processuais firmados.

O próximo julgado trata de um recurso de apelação da sentença que julgou procedente o pedido e declarou o direito público subjetivo à remissão referente aos exercícios reclamados e, por conseguinte, julgou extinta a execução fiscal. Foi apontada a exceção de pré-executividade, porém os Desembargadores afastaram essa premissa, visto que as provas existentes nos autos foram suficientes ao julgamento. Foram apontados os demais fatos e o Tribunal decidiu por desconstituir a sentença de primeiro grau.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO TRIBUTÁRIO. EXECUÇÃO FISCAL. IPTU. EMBARGOS À EXECUÇÃO. EXCEÇÃO DE PRÉ-EXECUTIVIDADE. ISENÇÃO. REMISSÃO. NÃO ATENDIMENTO DOS REQUISITOS LEGAIS. 1. Consabidamente, todas as decisões exaradas pelo Poder Judiciário devem estar devidamente fundamentadas, com base no art. 93, inciso IX, da Constituição Federal. Inteligência do art. 489 do Código de Processo Civil. A sentença contém fundamentação suficiente, o que não pode ser confundido com fundamentação equivocada, que é exatamente o objetivo nuclear da pretensão recursal. Afastada a alegação de nulidade da sentença por ausência de fundamentação. 2. Embora o procedimento realizado pelo juízo de origem não guarde a melhor técnica (atribuição de efeitos de exceção de pré-executividade aos embargos à execução), é preciso ter-se em mente que a efetividade da tutela jurisdicional está relacionada com a obtenção de resultados na ótica de um processo justo, entre os quais está a primazia da decisão de mérito, que está identificada como norma fundamental do processo civil atual. De acordo com essa linha de raciocínio, conquanto a exceção de pré-executividade seja medida criada na doutrina e desenvolvida pela jurisprudência, que obsta a dilação probatória, sendo a prova existente nos autos suficiente ao... julgamento, inclusive para fins de análise de isenção/remissão, é caso de afastar as arguições preliminares do ente público municipal, consistentes na impossibilidade de utilização da exceção de pré-executividade para postular benefícios tributários e por ausência de formalização de penhora. 3. A remissão é uma das causas de extinção do crédito tributário, na forma do art. 156, inciso IV, do Código Tributário Nacional, enquanto que a isenção é uma das causas de exclusão do crédito tributário, conforme o art. 175, inciso I, do referido Diploma. Quanto à isenção, à luz do art. 18, incisos X e XI, do Código Tributário Municipal, não há prova cabal de que a renda familiar do casal não ultrapasse dois salários mínimos e a

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embargante não conta com mais de 65 anos, visto que nasceu em 21/12/1954. No que refere à remissão por notória pobreza contribuinte , com base no Decreto Municipal n. 9.621/2016 referido no art. 212, § 2°, do Código Tributário Municipal, não há nos autos prova suficiente para afastar a motivação do indeferimento realizado pelo fisco. Nesse sentido, não tendo a embargante se desincumbido do ônus que lhe competia, na forma do art. 373, inciso I, do Código de Processo Civil, impõe-se a reforma da sentença, a qual analisou equivocadamente a prova e os... requisitos legais para a concessão dos benefícios. DERAM PROVIMENTO À APELAÇÃO. UNÂNIME. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2018).

A ementa destacada expõe de forma bem clara o que se pretende com o princípio em questão, uma tutela jurisdicional efetiva e justa, além de que o magistrado também concluiu que a primazia do mérito se identifica como norma fundamental do processo civil atual. Conforme fundamentado no primeiro capítulo, esse princípio deve ser visto como norma fundamental, a fim de que as garantias constitucionais prevaleçam sobre o processo, garantindo a tutela efetiva.

O seguinte caso trata de recurso de apelação da sentença que indeferiu a petição inicial que, segundo o magistrado deveria ser emendada para esclarecer um valor incontroverso, porém a Parte Autora não o fez. Os Desembargadores não aplicaram a primazia de mérito ao caso, pois, segundo eles, o processo não se encontrava em condições de imediato julgamento. Portanto, neste caso o apelo acabou prejudicado, mas a sentença desconstituída.

Ementa: APELAÇÃO CÍVEL. NEGÓCIOS JURÍDICOS BANCÁRIOS. AÇÃO REVISIONAL. ALTERAÇÃO DA CAUSA DE PEDIR APÓS A CITAÇÃO. NECESSIDADE DE DELIMITAÇÃO DO OBJETO DA AÇÃO. O autor buscou alteração do pedido até o saneamento do processo, porém não foi oportunizado ao réu manifestar-se expressamente acerca de conmanifestar-sentir, ou não, a alteração pretendida, nos termos do art. 329, inc. II, do CPC. Necessidade de reabertura da instrução para delimitação do objeto da ação para, então, ser proferida sentença. Inaplicabilidade do princípio da primazia da decisão de mérito. Embora o atual

regramento processual traga em seu bojo

como princípio estruturante e cogente

a primazia da decisão de mérito (art. 4º, CPC), impondo, sempre que possível, o enfrentamento do mérito, inclusive em grau recursal (art. 1013, caput e §3º, CPC/15), no caso concreto, o mesmo resulta inaplicável, ante a necessidade de consentimento do réu. SENTENÇA DESCONSTITUÍDA. APELO PREJUDICADO. (grifo nosso) (RIO GRANDE DO SUL, 2018).

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