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Quando se fala em primar o mérito do litigio para que o conflito seja solucionado, através de regras que consagram o princípio da primazia da decisão de mérito, tem-se que pensar nas consequências de uma má apreciação do direito postulado pelas partes.

Deve-se privilegiar o papel da jurisdição no campo da realização do direito material, por ser por meio dele que se compõe o litígio e se concretiza a paz social sob comando da ordem jurídica. Nesse sentido, o processo deve viabilizar a decisão sobre o mérito das causas, evitando o plano das formalidades procedimentais. (DIDIER, CUNHA, 2016)

No entanto, deve ser feito um juízo crítico no que concerne ao papel dos magistrados e dos advogados. Estes devem conhecer o direito material, para um melhor julgamento e também, melhor defesa de mérito para os jurisdicionados.

De fato, não basta perseguir a solução do mérito a qualquer custo, mas é indispensável que ela seja o quanto antes alcançada, visando a garantia de pleno acesso à justiça, consoante preceitua o artigo 5º, XXXV da CF e conforme notavelmente leciona Theodoro Jr. (2016, p. 56):

Além da fuga ao tecnicismo exagerado, bem como do empenho em reformas tendentes a eliminar entraves burocráticos dos procedimentos legais, a efetividade da prestação jurisdicional, dentro da duração razoável do processo e da observância das regras

tendentes à celeridade procedimental, passa por programas da modernização da Justiça, de feitio bem mais simples: (i) modernização do gerenciamento dos serviços judiciários, para cumprir-se o mandamento constitucional que impõe à Administração Pública o dever eficiência (CF, art. 37); e (ii) efetiva sujeição ao princípio da legalidade, fazendo que os trâmites e prazos das leis processuais sejam realmente aplicados e respeitados, não só pelas partes, mas, sobretudo, pelos órgãos judiciais (CF, arts. 5º, LXXVIII, e 37, caput). Na maioria das vezes, para se realizar a contento o respeito à garantia de duração razoável do processo, bastará que se cumpra o procedimento legal.

A ressalva que se faz pela doutrina traduz na confrontação entre a tão esperada celeridade e a garantia de um processo justo e paritário. Portanto, deve haver um equilíbrio entre celeridade e segurança processual, para que o direito material ocorra dentro dos ditames legais. A respeito desse tema José Roberto dos Santos Badaque (apud PACANARO, 2017), ensina:

Processo efetivo é aquele que, observado equilíbrio entre os valores segurança e celeridade, proporciona às partes o resultado desejado pelo direito material. Pretende-se aprimorar o instrumento estatal destinado a fornecer a tutela jurisdicional. Mas constitui perigosa ilusão pensar que simplesmente conferir-lhe celeridade é suficiente para alcançar a tão almejada efetividade. Não se nega a necessidade de reduzir a demora, mas não se pode fazê-lo em detrimento do mínimo de segurança, valor também essencial ao processo justo.

Muito se fala na busca do julgamento de mérito para solucionar o conflito, e que cabe tanto às partes, quanto ao magistrado, em uma comunidade de trabalho, alcançar esse fim. Porém, a busca pelo julgamento célere e eficaz não pode ser almejada a qualquer custo, apreciando o pedido das partes sem qualquer cuidado, pois o que se busca é a resolução de um litígio.

Não há uma lei específica em relação do tempo qualificado como razoável para a conclusão de um processo. Porém não deve ser tolerada a procrastinação injustificável, resultado da ineficiência do Poder Judiciário, portanto, a marcha processual deve dar-se sem delongas inexplicáveis e intoleráveis. (THEODORO JR., 2016)

Os direitos fundamentais a um processo justo e, ao mesmo tempo célere, são garantias constitucionais, devendo ser levados em conta, com equilíbrio pelo

magistrado que atua na causa. Por isso, para que um processo discorra dentro dos limites legais, primando pelo mérito processual, deve ser pautado sobre o princípio da duração razoável do processo, instituído no artigo 5º, LXXVIII, da Constituição Federal que dispõe, “a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação”. (BRASIL, 2018)

Nesse sentido é o entendimento de Humberto Theodoro Jr. (2016, p.77), quando leciona:

O novo CPC, por seu turno, prevê que essa garantia de duração razoável do processo aplica-se ao tempo de obtenção da solução integral do mérito, que compreende não apenas o prazo para pronunciamento da sentença, mas também para a ultimação da atividade satisfativa. É que condenação sem execução não dispensa à parte a tutela jurisdicional a que tem direito. A função jurisdicional compreende, pois, tanto a certificação do direito da parte, como sua efetiva realização. Tudo isso deve ocorrer dentro de um prazo que seja razoável, segundo as necessidades do caso concreto.

Dessa forma, quando se fala em primazia do mérito, deve ser observada a complexidade da causa, o comportamento das partes e autoridades judiciárias, além do respeito aos prazos processuais necessários para a aplicação concreta do direito. A mudança do sistema judiciário em geral é gradual, pois há muito o que se aprimorar por parte dos magistrados. Diante dessa premissa, cabe salientar as palavras de Armando Wesley Paccanaro (2017):

No entanto, singela e tímida mudança é sentida. Apurou-se que, em certa medida, há a tentativa de se proceder ao abandono do formalismo exacerbado em prol da instrumentalidade das formas, da fungibilidade de meios, do devido processo legal, do duplo grau de jurisdição e, em última análise, do acesso à ordem jurídica justa. A profusão de tais ideias, somadas às alterações legislativas operadas, bem como acrescidas da mudança de mentalidade dos operadores do direito, acaba por reforçar a esperança e a crença de que é possível e viável contar com o Poder Judiciário cada vez menos formalista e excludente.

Portanto, o que se espera de um processo justo e célere, é um equilíbrio entre o julgamento de mérito adequado ao caso concreto e o tempo em que se chega ao mérito processual. Pois, um processo depende de uma correta aplicação e

elucidação, mas não podendo limitar-se pelas formalidades impostas pelos operadores de direito. Muitas dessas formalidades são meras procrastinações e podem ser sanadas visando à aplicação do princípio da primazia da decisão de mérito.

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