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Os risos na espiral: percursos literários hilstianos

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Academic year: 2021

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(1)UNI VERSI D ADE  F EDER AL  DE  PER N AMBU CO  CENT RO   DE  ART ES  E  CO MUNI CAÇ ÃO  PRO G RAM A  DE  PÓ S­ G RADUAÇÃO   E M  LET RAS  E  LI NG UÍ ST I CA . J o e l ma   Rod ri g ue s   d a  Si l va . O S  RISO S  N A  ES P IR AL :  Pe rcursos literá rios  hilstianos . RECI F E  2009.

(2) Joelma R odrigues  da Silva . O S  RISO S  N A  ES P IR AL :  PERCURSO S  LI T ERÁRI O S  HI LST I AN O S . T e se   a pre se nta da   a o  curso  de  Pós­ G ra dua çã o  e m  Le tra s  da  UF PE,  como  pa rte   dos  re quisitos  pa ra  obte nçã o  do  gra u  de  doutora   e m  Le tra s.  Áre a   de  Conce ntra ção:  T e oria  Literá ria.  O rie nta dor:  Prof.   Dr.   Louriva l  Hola nda . . Re cife  2009.

(3) Silva, Joelma Rodrigues da  Os  risos  na  espiral:  percursos  literários  hilstianos / Joelma Rodrigues da Silva. ­ Recife : O  Autor, 2009.  218 folhas  Tese  (doutorado)  ­  Universidade  Federal  de  Pernambuco. CAC. Teoria da Literatura, 2009.  Inclui bibliografia.  1.  Literatura  brasileira.  2.  Poesia  brasileira.  3.  Riso. l. Hilst, Hilda­ Crítica e interpretação. II.TÍtulo.  869.0(81)         CDU(2.ed.)  B869  CDD(20.ed.) . UFPE  CAC2009­18.

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(6) À  mi nha   i nt ui ç ã o ..

(7) AG R AD EC IM ENT O S . Agra de ço  a   toda s  à s  a miga s,  a migos,   cole ga s,  profe ssora s  e   profe ssore s,   funcionária s  e   funcioná rios  que ,   dire ta   ou  indire ta me nte ,   e stive ra m  pre se nte s  e   torna ra m  e ste  e studo  possí vel.  De   modo  e spe cial  sou  agra de cida   à   Hilda   Hilst  por  tudo  o  que   a pre ndi  e   de sa pre ndi  –  e nsina me ntos  ta ntos  que  só  o  fim  de  um  ciclo  pode  re spe ita r.  À  Glí cia ,   Sofia ,  Rosâ ngela ,   Joélia ,   Rita ,  I ná cia  e   “Cria nça s”:  um  corte jo  fe minino­ í mpa r  que   me   e nsina   a  a ma r.  À  CAPES,   por  te r  a cre ditado  e   fina ncia do  minha   pe squisa  –  de sde   o  me stra do:  com  a   bolsa   de   estudos  a pre ndi  a   disciplinar­  me   e   a cre dita r  no  tra balho.  À  ba nca   e xa mina dora ,   pela  le itura  e   te mpo  de dica dos.  Às  profe ssora s  Erme linda   Fe rre ira ,   Virgí nia   Le al  e   Luzilá  G onçalve s:  pelo  ca rinho,   compe tê ncia   e   compa nhe irismo.  À  Ana   Ce cí lia ,  pelo  cuidado,   disponibilida de  e   a bstra ct.  Ao . prof. . Lourival . Hola nda ,  pelas  ma nhã s  e   ta rde s . a gra dá ve is  e m  se u  universo  particular  de  le tra s  e   silê ncios.  Ao  Re cife :  minha   cida de ­a brigo.  Ao  ma r:  me u  doce   a migo!.

(8) RESU MO . Este   tra balho  te m  como  obje tivo  re fle tir  e   discutir  sobre   a  pre se nça  do  Riso,   e nqua nto  ca tegoria   te órico­ lite rária ,   na   obra  da   e scritora   pa ulista   Hilda  Hilst.   T oma da   na   simbologia   de   uma  e spiral  que   e stá   infinita me nte   e m  movime nto,   a   ca te goria  multifa ce ta da   do  Riso  tra nsforma ­ se   no  plural  provoca nte   dos  risos  que   pa sse ia m,   re pre se nta tivame nte ,   por  trê s  te xtos  de  Hilda   Hilst:  O  Caderno  Rosa  de  Lori  Lamby  (1 9 9 0 ) ,  Contos . d’escárnio/textos  grotescos  ( 1 99 0 )  e  Bufólicas  ( 1 9 9 2 ) .  Atra vé s  de   uma   e sca la   a sce nde nte   que   vai  do  riso  ra cional  e  ingênuo  dos  se te ce ntista s,   pa ssa   pe lo  riso  á rido  e   cá ustico  dos  roma nos,   a té  che ga r  a o  riso­ á pice   e   burle sco  que   gargalha   a o  modo  de  Ra be la is,   procura ­ se   de monstra r,  ne ste   e studo,  que  os  risos  compõe m  uma   pa rte   funda me nta l  na  litera tura   hilstia na . . PALAVR AS­ CHAVE:  Risos,   Lite ra tura ,   Filosofia ,   Pra z e r,   Corpo,  Liberda de ..

(9) AB ST RACT . T he   purpose   of  the   pre se nt  disserta tion  is  to  re fle ct  upon,  a nd  discuss,   the   pre se nce   of  La ughte r  a s  a   the ore tical  a nd  lite ra ry  ca te gory  in  the   work  of  the  Bra zilia n  write r,   Hilda   Hilst.  Unde rstood  within  the  symbolism  of  a   constantly  moving  spiral,  the   multi­ fa cete d  ca te gory  of  La ughte r  tra nsforms  itse lf  into  the  provoca tive   varie ty  of  la ughte rs  which  symbolically  pa rade   three  of  Hilst’s  te xts:  O  Caderno  Rosa  de  Lori  Lamby  (1 9 9 0 ),  Contos . d’escárnio  /textos  grotescos  ( 1 9 90 )   a nd  Bufólicas  ( 1 9 9 2 ) .  T hrough  a n  a sce nding  scale ,   which  ra nge s  from  the   ra tional  a nd  na ï ve   la ughte r  of  the   1 8 th  ce ntury  a nd  the  arid  a nd  ca ustic  la ughte r  of  the   Roma ns,   to  the   clima ctic  a nd  burle sque  Ra be la isia n  la ughter,   we   se e k  to  de monstra te   in  this  study  tha t  the   La ughter,   in  its  ma ny  ma nife stations,   pla ys  a   funda me nta l  role  in  Hilst’s lite rary  work. . KEYW O RDS:  La ughter,   Lite ra ture ,   Philosophy,   Ple a sure ,   Body,  F re e dom.

(10) RESUMEN . Este   tra ba jo  tie ne   como  obje tivo  re fle xionar  y  de ba tir  la  pre se ncia   de   la   risa  mie ntra s  una   ca te goría   te órica ­lite ra ria ,   e l  tra ba jo  del  e scritora . bra sile ña . Hilda   Hilst.   T e nie ndo  el . simbolismo  de   una   e spiral  que   e s  infinita me nte   e n  movimie nto,  la  ca te goría   de   múltiple s  fa ce ta s  de   la   risa   se   convie rte   e n  plural,  de   provoca r  la   risa  a hora ,   re pre se nta do  por  tre s  te xtos  de  Hilda  Hilst: . O  caderno  rosa  de . Lori  Lamby . (1 9 9 0) , . Contos . d’escárnio/textos  grotescos  ( 1 9 9 0)  e  Bufólicas  ( 1 9 9 2 ) .   Utiliza ndo  una   e scala  que  va   ha sta   la   risa  de  inge nuo  del  siglo  XVI I I ,  a  tra vé s  de   la   risa   e n  se co  y  cá ustico  de   los  roma nos,   ha sta   el  vé rtice   y  la  risa ­alto  el  risible  del  modo  de   Rabelais,   que   e n  e ste  e studio  de mue stra n  que   compone n  la   risa   pa rte  funda me nta l  e n  la  lite ratura  hilstia na . . . . PALABR AS­ CLAV E:  Risa ,   Litera tura,   Filosofí a ,  pla ce r,  cue rpo,  liberta d..

(11) SUMÁRIO . 1 .  INT RO DUÇÃO . p. 1 0 . 2 .  CAP ÍT UL O   1 : O   riso  de   Lori . p. 1 5 . 2 . 1  –  A lite ra tura  libe rtina . p. 2 7 . 2 . 2  –  Riso  e  é tica   dos pra zere s . p. 4 1 . 2 . 2 . 1  –  Cade rno  rosa :  muda nça   de   tom . p. 5 3 . 2 . 3  –  Riso  e  inge nuida de . p. 5 7 . 3 .  CAP ÍT UL O   2 : O s  contos  do  riso . p. 7 6 . 3 . 1  –  A  rusticida de   roma na . p. 8 3 . 3 . 2  –  O  riso  e   a   sá tira . p. 1 0 6 . 3 . 3  –  O  riso  e   o grote sco . p. 1 1 5 . 3 . 3 . 1  –  Repre se nta çã o e   disfa rce . p. 1 1 9 . 3 . 3 . 2  –  Crí tica   à   arte . p. 1 2 5 . 3 . 3 . 3  –  Orgia smo . p. 1 2 9 . 4 .  CAP ÍT UL O   3 :  Rindo  da s F a da s . p. 1 3 5 . 4 . 1  –  A  história   do  conto  de  fa da s . p. 1 4 6 . 4 . 2  –  O  riso  pa rodí stico  de  Bufólicas . p. 1 5 8 . 4 . 2 . 1  –  O  reizinho  ga y . p. 1 6 6 . 4 . 2 . 2  –  A  ra inha   care ca . p. 1 7 2 . 4 . 2 . 3  –  Drida ,   a   ma ga   pe rversa . p. 1 7 6 . 4 . 2 . 4  –  A  chapé u . p. 1 8 4 . 4 . 2 . 5  –  O  a nã o  triste . p. 1 8 9 . 4 . 2 . 6  –  A  ca ntora  grita nte . p. 1 9 2 . 4 . 2 . 7  –  Filó,   a   fa dinha  lé sbica . p. 1 9 6 . 4 . 3  –  Última s  conside ra çõe s . p. 2 0 2 . 5 .  CO NCL USÃO . p. 2 0 5 . 6 .  REF ERÊNCI AS  B IBL IO G R ÁF IC AS . p. 2 1 0 . 7 .  ANEXO S . p. 2 1 9.

(12) 10 . 1 .  INT RO DUÇÃO . “A  e spira l  nã o  te m  come ço  ne m  fim”,   diz  O sma n  Lins  no  livro . Avalovara.  Sí mbolo  cósmico  do  movime nto,   a   e spiral  é   a   ima ge m  do  Riso  na   obra   de   Hilda   Hilst;  ou  me lhor,   dos  risos  que   circula m  toda   a   órbita   de   sua   e scritura ,  se m  pa ra r,   se m  ce ssa r,  ine xtinguí vel.   Da   ficçã o  a o  tea tro,   pa ssa ndo  pela   “alta   dicçã o”  de  sua   poe sia ,  há   risos.   Como  uma   gra nde   corre nte   e m  me io  à   á gua s  la rga s  e  profunda s,  os  risos  pa sseiam  pe los  te xtos  hilstianos  numa  e sca la   contí nua   e   ince ssa nte ,   ciclicame nte ,   e m  ritmos  re pe tidos  e  fugidios,   ma s  ta mbé m  pe rma ne nte s.  O s  risos  e m  Hilda   Hilst  nã o  tê m  te rmo,   ma s  ca minhos;  e stã o  e m  todos  os  luga re s  e   de   toda s  as  forma s:  a le gre ,   sa rdônico,  ra ncoroso,   sa tí rico,   morda z ,   irônico,   triste ,   burle sco,   bucólico,  ingênuo,   derrisório.   Aqui  ou  alé m,   compõe m  um  rico  universo  que  ta lve z  só  consiga mos  a lcança r  por  e ta pa s  –  e   me smo  a ssim,  corre ndo  o  risco  de   ficar  só  no  ra stro de le s.  Ne sse   se ntido,  pe nso  os  risos  hilstianos  como  e le me ntos  e m  movime nto  que   pa rte m  de   um  ponto  –  a   própria   Lite ra tura ,   num  consta nte  . ca minhar . me ta lingüí stico . – . pa ra  . se  . de sloca re m . continua me nte   pela   história  lite rária   do  todo  e  de  si  me smos;  como  numa   e spira l,   os  qua dra nte s  permite m  que   e sse s  risos  se  e ncontre m  e   se   ve ja m,   se ndo  se mpre   outros  e  ma is  risos.  De   forma   fe cunda ,   porque   a   “e spiral  é   um  sí mbolo  de  fe cundida de ”,   os  risos  se   re pe te m  no  ciclo  natural  da   vida   da s.

(13) 11 . obra s  de   Hilda  Hilst,   sendo  e te rnos  e m  sua   finitude ;  e ,   e mbora  orbita nte s,   por  oca siã o  ainda   de   uma   Crí tica  Lite rá ria   silenciosa ,  a pa re ce m  inte rmite nte s:  ainda  nã o  se   torna ra m  ma té ria  de  a nálise  a bra nge nte   como  o  sã o  e rotismo,   pornografia ,   obsce nida de ,   a mor,  morte ,   de us.  De ssa   forma ,   pre te ndo  torna r  e sta   tese   um  la mpe jo  sobre   os  risos  hilstia nos  –  pois  se ria  infrutí fe ro  de   minha   pa rte  que re r  limita r  os  risos  na   obra   de   Hilda   Hilst  a pe na s  e m  trê s  ca pí tulos;  um  e xe rcí cio  que   te nta rá   a ponta r  para  a lguns  ca minhos.   Dentre   a s  possibilida de s,   ima ginei  que  se   e u  conse guisse   tra zer  à  tona  uma  e sca la  de   risos  e m  Hilda   Hilst,   a  fim  de   de monstra r  uma   rota   de  sua s  inte nsida de s,   pode ria   tra ça r  um  qua dro  figura tivo  a   partir  da  T e oria   do  Riso.   De ntro  de ssa   pe rspe ctiva,   o  e studo  de   G eorge s  Minois  no  livro  História  do  riso  e  do  escárnio  ( 2 0 03 )  tornou­ se  ba silar  pa ra   e ste   tra balho:  e m  prime iro  lugar  porque   o  a utor  pa sse ia   pela   história   do  riso  no  ocidente   de   forma   ba sta nte  a bra nge nte :  nã o  só  por  coloca r­ se   como  uma   te oria   que   a tra ve ssa  o  ca mpo  da   Lite ra tura ,   Filosofia ,  História   e   Sociologia ,   ma s  ta mbé m  por  circular  e ntre   outra s  ta nta s  te oria s  do  Riso  como  e le me ntos  de   re fle xã o  –  dife re nte me nte   de   outros  e studos,   ta mbé m  importa nte s,   ma s  com  pe rcursos  ma is  limita dos:  é   o  ca so  da  pe squisa   re aliza da  pela  historia dora   Ve re na   Alberti  no  livro  O  riso . e  o  risível  ( 2 0 0 2 ) ,  que   se   de té m  sobre   o  Riso  numa   pe rspe ctiva  filosófica ;  e   do  e studo  clá ssico  de   Mikhail  Ba khtin,  A  cultura . popular  na  Idade  M édia  e  no  Renascimento  ( 1 9 9 9 ) ,   que   localiz a   o.

(14) 12 . Riso  a   partir  da   contribuição  do  e scritor  fra ncê s  F rançois  Ra bela is  sobre   a   cultura   ca rna vale sca   cômica  da   I da de   Mé dia ;  e m  se gundo  lugar  porque   o  Riso  de ixa   de   se r  ma té ria   e spe cula tiva   e  ta xonômica  –  como  fa ze m  Vla dimir  Propp  e   He nri  Be rgson  nos  livros  Comicidade  e  riso  ( 19 9 2 )  e  O  riso:  ensaio  sobre  a . significação  da  comicidade  ( 2 0 0 1 ) ,  re spe ctiva me nte  ­  pa ra   tornar­  se   uma   te oria   histórico­ cultural  e   lite rá ria   tã o  importa nte   qua nto  ca te goria s  do  porte   dos  Mistérios,   Me la ncolia ,   Sá tira ,   I ronia ,  Angústia,   e ntre   outra s.   Assim,   a   pa rtir  da   teoria   do  Riso  de  G e orge s  Minois,   tra çarei  uma   re fle xã o  e sca la r  do  Riso  a tra vé s  do  e studo  de   trê s  obra s  de  Hilda   Hilst:  O  Caderno rosa  de Lori  Lamby  e  Cadernos  d’escárnio/textos  grotescos,  a mbos  publicados  e m  1 9 9 0 ;  e  o livro  de  poe sia s intitula do  Bufólicas,  e dita do e m  1 9 9 2 .  No  prime iro  capí tulo  tenta rei  analisa r  o  Riso  ingê nuo  e  ra cional,   ca racte rí stico  de   obra s  como  T eresa F ilósofa,  com  a utoria  a nônima   do  sé culo  XVI I I ,   cuja   incursã o  do  riso  sob  uma  pe rspe ctiva  filosófica  e   libertina   compõe   o  qua dro  do  riso  e m  O . caderno  rosa  de  Lori  Lamby.  Simbolica me nte ,   o  riso  ingê nuo  de  Lori  é  um  riso  imbe rbe   e  iniciá tico  da   e spiral  que ,   se gundo  Je a n  Che va lier  e   Alain  G he e rbra nt  no livro  Dicionário de símbolos  ( 2 0 0 8,  p. 3 9 7 ) ,   “e voca   a   e voluçã o  de   uma   força ,   de   um  e sta do”:  isto  é ,   não  te m  a   inte nsida de   cá ustica  da   segunda   e scalada   do  riso  e   sua  sombra   burle sca   sobre   o  riso  comba tido  pelos  me die vais  e  constituí do  e m  Ra be lais.   É  um  riso  pe nsa do,  ra cionaliza do  que.

(15) 13 . a inda   nã o  absorveu  o  sa rca smo  dos  risos  que   se   movime nta m  nos  qua drante s  subse que nte s.  No  se gundo  ca pí tulo  te mos  e m  Contos  d’escárnio/textos . grotescos  o  Riso  rústico,   á rido  e   único  dos  roma nos,   que  ultra pa ssa   os  alinha me ntos  do  riso  gre go  –  e ste ,   de sde   é poca s  be m  a rca ica s,   distingue­ se   e m  “ge lân”,   ou  “riso  simple s  e  sube nte ndido”;  e   “ka ta gelâ n”,   “riso  a gre ssivo  e   zombe te iro”.   A  pa rtir  do  sé culo  V  a . C.   e   o  “os  progre ssos  do  intele ctualismo”  na  G ré cia ,   há  “uma   de sconfia nça  cla ra   e m  re la ção  a o  riso  de se nfrea do”,   se ndo  ne ce ssá rio  civilizá ­ lo:  o  riso  duro  e   a gre ssivo  de   Home ro  dá   luga r  a o  riso  vela do,  culto  e   urba no  de   Sócra te s  ( e mbora   a   bufona ria   continue  a   ser  pa rte   inte grante   da s  fe sta s  re ligiosa s  grega s) .   O   riso  de   De mócrito  é   cé tico,   de   Dióge ne s  cí nico  e   de   Lucia no  de  Sa mósa ta   é   ilimita do;  Platã o,   por  sua   ve z ,  nã o  a ceita   que   a firme m  ha ve r  riso  entre   os  de use s;  e   Aristótele s  cria   a   fra se   clá ssica   sobre   a   qual  toda s  a s  te oria s  do  riso  se  de bruça m:  “o  home m  é   o  único  a nima l  que   ri”  ( MI NO I S,   2 0 0 3,   p. 4 9­  7 6 ) .   Re pre se ntando  o . riso  rústico  e   único  dos  roma nos, . simboliza ria   o  riso  que   e stá   no  me io  da   e sca lada   e spiral;  que   olha  o  mundo  numa   prospe ctiva   e m  que   o  riso  a pa re ce   como  motiva dor  dos  e spa smos  e   da s  ga rgalha s  bufônica s  dos  gra nde s  brinca nte s  me die va is.   Nos  contos  d’escárnio/textos  grotescos  te nta rei  re fle tir  sobre   a quilo  que   considero  uma   re visita ção  a o  riso  cá ustico  dos  roma nos  a tra vé s  do  diálogo  com  o  te xto  clá ssico  Satiricon,  de  Pe trônio  –  e scritor la tino  do  sé culo  I  d. C..

(16) 14 . Já   no  te rceiro  ca pí tulo  o  obje tivo  é   che ga r  à  rota   ma is  a lta   da  e spiral:  o  riso­ á pice   e m  Hilda   Hilst.   Com  a   obra   poé tica  Bufólicas,  procura rei  tra zer  à   tona   a s  e sca la s  ma is  risí veis  dos  te xtos  hilstia nos,   onde   o  corpo  grote sco  vira   o  gra nde   palco  de  ma mule ngos  e   títe re s  que   parodiam  com  os  contos  clá ssicos  infantis.   Aporte   do  riso  ra belaisiano,   o  riso  pa roxí stico  de   Ra belais  é   e scolhido  sob  uma   pe rspe ctiva   sincrônica ,   que   pa ssí vel  da   ma ior  intensida de   do  riso,   costura   a   linha  ma is  a sce nde nte   da   e spiral  hilstia na .   Um  riso­ á pice   que   pare ce   e sta r  ca da   ve z  ma is  próximo  da s  a ve ntura s  da   pra ça   pública   e   “tira da s  dia bólica s”  do  palco  da  corte :  bufã o,   brinca   de   dize r  ve rdades  e nsurde ce dora s.  Por  fim,   a o  tra ta r  o  riso  sob  uma   lógica   própria ,   a sce nde nte   e  pa ra doxa l  (e   nã o  dia crônica ,   porta nto)   te nta rei  se guir  a  inquie ta ção  de   Pe tra rca   que   conce be   a   história   “como  um  proce sso  cí clico  no  qua l  re apa re ce m  a lte rna da me nte ,   reite rando­ se ,   perí odos  de  a ba time nto  e   de ca dê ncia ,   e   pe rí odos  de   e sple ndor”  ( AG UI AR  e  SI LVA,   2 0 0 7 ,   p. 4 0 7) ;  te ndo  por  re fe rê ncia  o  núcleo  da   e spiral,   que  é   se u  ponto  de   partida   e   orige m  –  a   Litera tura  ­ ,   te nta rei  fa zer  com  que   os  risos  da nce m  sobre   os  traça dos  singulare s  dos  te xtos  hilstia nos  e   nos  conduza m  a o  unive rso  se m  fim  de   sua s  te nta tiva s..

(17) 15 . 2 .   CAPÍ T ULO  1  –  O   RISO   DE  L O RI . O  gra nde   de sa fio  de ste   prime iro  capí tulo  é   fala r  do  riso  de  uma   cria nça .   Pa re ce   qua se   irônico  dizer  isso,   ma s  nã o  é .   Va mos  a os  fa tos:  a os  oito  a nos  de   ida de ,   a  pe que na   Lori  ­  cujo  pai  é  um  e scritor  que   não  consegue   ve nde r,   e,   por  isso,   é   induzido  por  se u  e ditor  ( de   nome  La la u)   a  e scre ve r  pornogra fia   infa ntil  –  come ça   a  re la ta r  num  ca de rno  ( que   cha ma   de   “ca de rno  rosa ”)   a s  vivê ncia s  se xua is  de   uma   me nina :  “e u  tenho  oito  a nos.   Eu  vou  conta r  tudo  do  je ito  que  e u  sei”  ( HI LST ,  2 0 05 ,   p.1 3 ) ,  cuja s  ilustra çõe s  e sta mpa da s  logo  na  prime ira  pá gina   d O  Caderno  rosa  de  Lori  Lamby  ( 2 00 5 ) ,  da  e dição  Globo  ( ve r  a ne xo  1 ) ,   mostra m  o  re tra to  de   uma   me nininha  nua   e   de   bra ços  a be rtos:  é  a   introduçã o  para   muita s  “historinha s”  de   pra zer.  A  prime ira   de sta s  “historinha s”  conta   da   che ga da   de   um  “home m  que   nã o  é   tã o  moço”  e   do  ritual  de   pra zer  e ntre   e ste   e  a  me nina   ( que  narra  e m  prime ira   pe ssoa   tudo  que   a conte ce  à  pe rsonage m) .   T udo  é   e scrito  num  diário  que   Lori  cha ma   de  Ca de rno  Rosa :  O   home m  que   não  é   tã o  moço  pediu  pa ra   eu  tira r  a  ca lcinha .  Eu  tire i.  Aí  e le   pediu  pa ra  e u  abrir  a s  pe rninha s  e   fica r  de ita da   e   eu  fiquei.   E ntão  e le  come çou  a   pa ssa r  a   mã o  na   minha   coxa  que   é   muito  fofinha  e   gorda ,  e   pediu  que   e u  abrisse   a s  minha s  pe rninha s.   Eu  gosto  muito  quando  pa ssa m  a   mã o  na  minha  coxinha .   Da í  o  home m  disse   pa ra  e u  fica r  be m  quietinha ,  que  e le  ia  da r  um  be ijo  na   minha   coisinha .  E le   come çou  a   me   la mbe r  como  o  me u  ga to  se  la mbe ,   be m  de vaga rinho,   e   ape rta va   gosto  o  meu  bumbum.   Eu  fique i  be m  quie tinha   porque   é   uma  de lícia   e  eu  que ria   que  e le   fica sse  la mbendo  o  te mpo  inte iro,  ma s  e le  tirou  aque la   coisona   de le,   o.

(18) 16 . piupiu,   e  o  piupiu  e ra   um  piupiu  bem  gra nde ,   do  ta manho  de   uma   e spiga  de   milho,   mais  ou  me nos  ( H ILS T ,   2 00 5,  p. 14 ) . . A . since rida de  . de  . Lori . che ga  . a . se r . constra nge dora ; . cotidiana me nte   e la   a nota   e m  se u  ca de rno  rosa   ( um  diá rio)   a s  nova s  coisa s  que   a pre ndeu.  Hilda   Hilst  usa   e ste   re ce nte   gê ne ro  lite rário,   porta nto,   para  da r  ve ra cida de   a os  fa tos  na rrados;  como  justifica   Ma urice   Bla nchot  no  Livro  por  vir  ( 2 00 5 ) ,  porque   um  diá rio  de ve  fala r  da s  coisa s  ma is  since ra s  de   algué m,   se ndo  um  dos  únicos  lugare s  onde  de sma sca ra mo­ nos  por  nós  me smos  e   nos  deixa mos  a conte ce r  se m  a s  tra pa ça s  que  infligimos  a o  cotidiano:  O s  pensa mentos  ma is  re motos,   ma is  a be rra nte s,   são  ma ntidos  no  círculo  da   vida   cotidia na   e   nã o  de ve m  fa lta r  com  a   ve rdade.   D isso  de corre   que   a  since rida de   repre se nta ,  pa ra   o  diá rio,  a   e xigê ncia  que   e le   de ve   a tingir,   ma s  nã o  de ve  ultrapa ssa r  ( BLAN C H O T ,  ibid. ,  p.2 70 ) . . O   diá rio  fa z  pa rte   do  “gê nero  confe ssional”  e   surge   por  volta  de   1 8 00   como  fruto  de ssa  e vidê ncia  do  eu,  própria  do  Roma ntismo,  e   que   se  e xa ce rba rá   no  sé culo  XX  com  a   pre missa   de   que  priva cida de   e   intimida de   gera m  importâ ncia   e  valor.  She ila   Dia s  Ma ciel  no  artigo  A literatura e os gêneros confessionais  mostra   que  Apesa r  de   o  início  da   e scrita   confessiona l  e sta r  a tado  ao  sé culo  XV III  e   sua   afirmaçã o  te r  sido  possíve l  apenas  no  sé culo  se guinte ,   seu  apogeu  dá ­  se   no  início  do  sé culo  XX .   D urante   o  século  XX   toda  a   ga ma  de   lite ra tura  íntima   e ,  sobre tudo,   de  diá rios  íntimos,   tornou­ se  produto  de   consumo  e  passou  a  se r  dige rida   por  uma   grande   ma ssa  de   le itore s  inte re ssados  no  se cre to.   E ste s  le itore s,  com  a petite  de  voye ur  a cre dita m  e ntra r  na   intimidade   e   deva ssa r  se gredos  inviolá ve is  do  autor..

(19) 17 . O s  diá rios  conte mpla m  a s  na rra tiva s  própria s  à   mode rnida de ,  e   se   se dime nta m  como  gê ne ro  lite rá rio  na  cha ma da   pós­  mode rnida de  porque  procura m  da r  conta   de sse  eu  no  me io  da  ma ssa ,   da   cida de   impe ssoa l  e  te cnológica ,   de sse s  suje itos  a bstra í dos  e m  se us  cotidianos  pe lo  tra balho.   Como  le gí tima  re pre se nta nte   da   litera tura   pós­ mode rnista ,   pode mos  re monta r  a  tra je tória   lite rá ria   de   Hilda   Hilst  à   cha ma da   “ge ra çã o  de   4 5 ”,   que ,  se gundo  Alfre do  Bosi  na  História  concisa  da  Literatura  Brasileira  ( 2 0 0 1 ),   foi  ma rca da   pela   pre se nça   de  a lguns  poe ta s  a madure cidos  durante  a   II  G ue rra  Mundia l  e nte nde ra m  isola r  os  cuida dos  mé tricos  e   a  dicção  nobre   da   sua   própria   poe sia   e le vando­ os  a  crité rio  bastante   pa ra   se   contra pore m  à  lite ra tura   de  2 2 :  a ssim  na sce u  a   ge ra ção  de   45   ( BO S I,  20 01 ,  p. 46 4 ) . . “Cuida do”,   “Dicçã o”  e   “Crité rio”,   trê s  substa ntivos  importa nte s  na   litera tura   hilstiana :  ta nto  e m  poe sia   (porçã o  ma is  re speitada  pe la   crí tica   lite rá ria ) ,   qua nto  e m  prosa   ( me smo  na s  obra s  le ga da s  a o  obsce no) ,   há  um  sé rio  compromisso  com  a   lingua ge m.  Na s . obra s . e m . e studo . ne ste  . tra balho . a cadê mico . ­ . re pre se nta nte s  da   cha ma da   te tra logia   obsce na   de   Hilda   Hilst  ( na  prosa : . O . Caderno . Rosa . de . Lori . Lamby, . 1 9 9 0 ; . Contos . d´ escárnio/textos  grotescos,  1 9 90 ;  Cartas  de  um  sedutor,  1 9 9 1 ;  na  poe sia :  Bufólicas,  1 9 9 2 )  ­  o  de sa fio  da   linguage m  é   o  me smo:  muda   a   dime nsã o.   O   tra to  com  a s  pa la vra s  e   a s  re miniscência s  com  outros  te xtos  próprios  –  como  é   o  ca so  da   se gunda   pa rte   da  última   ficçã o  e scrita   por  Hilda   Hilst,   intitula da  Estar  Sendo.  T er . Sido  ( 1 9 9 7 ) ,   onde   apa re ce m  me mória s  dos  pe rsona ge ns  de   outros.

(20) 18 . livros  da   poe ta ,   “de   modo  que  ficçã o  se   torna ,   a o  me smo  te mpo,   a  e vidência   da   unida de   do  conjunto  da   obra   de   Hilda”  ( PÉCO RA,  2 0 0 6 ,   p.0 9 )  ­ ,   nã o  pre scinde m  do  cuida do  com  a   lingua ge m  e   se u  e mba te   com  os  te ma s  ma is  ca ros  à s  gra nde s  na rra tiva s,   tais  como  Morte ,   Amor,   Loucura ,   De us;  a o  invé s  disso,   Hilda   Hilst  re toma  e ssa s  que stõe s  e   a s  trata   com  humor,   de boche  e   riso  tí picos  da s  cha ma da s  ficçõe s  pós­ mode rna s.  Hilda   Hilst  nã o  só  concretiza   o  a nse io  pela   re construção  da  pa la vra   e  se us  signos  (da í   a  re ferê ncia  de   A.   Bosi  a   um  “ne o­  simbolismo”  à   ge ra çã o  de   4 5)   na   dé ca da   de   1 95 0   ( ne ste  se ntido  a nse ios  pós­ mode rnista s) ,   como  se   a bre   a os  novos  anseios  lite rá rios  na sce nte s  e   pouco  a   pouco  ge ra dos  na   Amé rica   La tina  e m  obra s  como  Rayuela  ( 1 9 6 3) ,   de  Julio  Cortá z a r,  e  Avalovara  ( 1 9 7 3 ),   de   O sma n  Lins,  e   que   se  conve ncionou  cha ma r  pós­  mode rnida de  ­  no  ca mpo  da   litera tura ,   qua ndo  fala mos  de   pós­  mode rnismo  re fe rimo­ nos  tanto  ao  pe ríodo  que   suce de  a o  Mode rnismo  ( movime nto  lite rário) ,  qua nto  à quele  que  rompe   com  a lguns  pa ra digma s  próprios  da   Mode rnida de;  na  ve rda de ,   e sse s  conce itos  a caba m  torna ndo­ se   sinônimos:  “pós­ mode rnismo  se  e nte nde  . ba sica me nte  . como . o . e stilo . e sté tico . que  . ve m­ se . de se nvolve ndo  na   se gunda   me ta de   do  sé culo  a tual  [sé culo  XX],  a inda   que ,   por  ve ze s,  o  termo  a pa re ça   como  sinônimo  de   pós­  mode rnida de”  ( PRO ENÇA  F I LHO ,   1 9 95 ,   p. 1 2 ).  Assim,   se gundo  Linda   Hutche on  no  livro  Poética  do  pós­ . modernismo  ( 1 9 8 8 ),   e m  prime iro  lugar,   nã o  pode mos  de ixa r  de   lado.

(21) 19 . a   re fe rência   do  “mode rnismo”  qua ndo  que re mos  tra ta r  do  “pós­  mode rnismo”: . “o . pós­ mode rnismo . indica  . sua  . contra ditória . de pe ndência   e m  re la çã o  a o  mode rnismo,   que   o  pre ce de u  historica me nte   e ,   lite ralme nte ,   o  possibilitou”  ( HUT CHEO N,   ibid.,  p. 4 3 ) ;  e m  se gundo  luga r,  ele   nã o  pode   se r  de scrito  como  fe nôme no  interna cional,   já   que   “é   ba sica me nte   e urope u  e   ( norte  –  e   sul  ­ )  a me rica no”  (op.   cit. ,  p. 2 0 ).  Domí cio  Proe nça   Filho  e m  Pós­ M odernismo  e  Literatura  ( 1 9 9 5 ) . fa z . uma  . sí nte se  . da s . ca ra cterí stica s . comume nte s . ide ntifica da s  nos  te xtos  conside rados  pós­ mode rnos:  ludismo  e xa rce ba do,   utiliz a çã o  consta nte   da   inte rte xtua lida de ,  mistura  e stilí stica,   pre se nça   ma rca nte   da   me ta lingua ge m,   uso  a le górico  “de  tipo  hipe r­ re al  e   me toní mico”,   e scrita   de   um  te xto  ca da   ve z  ma is  fra gme ntá rio,  a uto­ consciente   e   a uto­ re fle xivo.   De   modo  ge ral,   o  te xto  considera do pós­ mode rno  te nta   se r  historica mente   conscie nte,   híbrido  e  a brange nte .   A  curiosidade   histórica   e   socia l  a pa re nte mente   ine sgotá ve l  e   uma   postura   provisória  e   pa ra doxa l  (um  pouco  irônica ,   e mbora   com  e nvolvime nto)   substitue m  a   postura  profética   e  pre scritiva   dos  gra nde s  me stre s  do  mode rnismo  ( H U T C H E O N ,   ibid. ,  p. 52 ) . . A  ficçã o  pós­ mode rnista   movime nta ­ se   pa ra   de sloca r  e  pe rturba r  se us  novos  leitore s,   “força ndo­ os  a  e xa mina r  seus  próprios  va lore s  e   cre nça s,   e m  ve z   de   sa tisfa zê ­los  ou  mostra r­  lhe s  compla cê ncia”  ( op. cit.,   p. 6 9 ) .   Da í   a   importâ ncia   do  gê ne ro  confe ssional  para   e ste   tipo  de   litera tura,   que ,   pelo  e xa me   da s  e xpe riê ncia s  pe ssoais,   fome nta da s  e   forta le cida s  pela   ve ra cida de.

(22) 20 . distinta   da s  me mória s,   biogra fia s  e  re la tos  diários,   consubsta ncia­  se   na   pre ocupa çã o  com  o  eu  –  agora   nã o  ma is  totaliza nte  e  fe cha do  na s  narra tiva s  e m  que   pa re cia m  de sve nda dos:  pre ço  de  um . longo . proce sso . de . individua çã o,  . de smistifica ção, . e stra nha me nto  e   diversida de .  De ssa   ma ne ira ,   quando  Hilda   Hilst  lança   mã o  do  diá rio  como  tra nsporte   do  riso  de   Lori,   ela   nã o  só  se   cone cta   a o  código lite rá rio  de   sua   é poca   (proce sso  a uto­re fle xivo  dos  suje itos  pós­ mode rnos),  como  re sga ta ,   na s  memórias  de   T e re sa   F ilósofa   ( obra   e m  diá logo  com  O  Caderno  Rosa  de  Lori  Lamby ),   a   funçã o  pre cí pua   do  gê nero  confe ssional,  ou  se ja ,   a   de   “e xtra va sa me nto  do  e u”.  Como  be m  de finiu  Ma ssa ud  Moisé s  ( 19 9 9 ,   p.5 0 ),   “o  diá rio  constitui  o  re gistro  dia­ a ­ dia  de  uma   vida ,  quer  dos  e ve ntos,   quer  da s  sua s  ma rca s  na  se nsibilida de ”,  que  Lori  ma rca   de   a ve ntura s  quimé rica s  na   me nina  re sga ta da   dos  e scritos  do  pai  e   re vivida   na   pue ril  obsce nida de   da  re ce nte  e scritora ;  se u  obje tivo,   como  ve re mos,   se rá   cumprido:  dar  continuida de  a o  proce sso  e xiste ncia lme nte   liberta dor  da  pala vra  a tra vé s  do  riso.  O   riso  é   o  me io,   o  tra nsporte   que  nã o  só  a lime nta ,   como  modifica   os  ra biscos  re je itados  pelo  pa i  de   Lori,   numa   é tica   própria  dos  pra ze re s.  Ética  que  nã o  se   pre ocupa   com  o  plágio,   ma s  com  o  proce sso  de   a prendiz a ge m  que   é   se dutor  como  a   voz  da   le ndá ria  Lorelei  ( fala rei  a diante ) .   O   riso  desfa z  a   a pa rente   narra tiva   de  pornogra fia  infa ntil,   fa zendo  o leitor  pe rce ber  que   o le do  e nga no  do  iní cio  da   ficçã o,   onde   tudo  pare ce   se r  uma   “de sla va da”  pe dofilia,.

(23) 21 . na   ve rda de,   é   riso,   é   e scá rnio  a o  uso  dos  pra ze re s,   é   re cria ção  lite rá ria ,  é  libe rda de   para   pe nsa r. . O  caderno  rosa  de  Lori  Lamby  é  uma   re toma da   do  riso  ingênuo  ca ra cte rí stico  do  sé culo  XVI I I   que   re pre se nta ,   ante s  de  qua lque r  coisa ,  uma   gra ve   que bra  na  disposiçã o  pa ra  rir.  Deixa ndo  de   lado  os  vinhos  e   a s  ba ca nte s  da   Antiguida de ,   o riso  se te ce ntista  a bra ça   o  a r  ma joritaria me nte   sombrio  da   I da de  Mé dia ,   onde   é   ma is  a conselhá vel  chorar  que   rir  ( e mbora   disso  se   e scape   na s  fe sta s  do  ca rna val).   A  trinda de   sa nta   e   todo­pode rosa   a firma da   pe la   I gre ja ,  se m  qua lque r  a spe cto  cômico,   “puro  e spí rito,   se m  corpo  e   se m  se xo,   o  trio  divino,   imutá ve l,   e stá   ete rna me nte   a bsorvido  e m  sua  a utoconte mpla çã o”  ( MI NO I S,   2 0 03 ,   p.1 1 1 ) .  O   conte xto  sócio­ cultura l  de sse  riso,  e ntreta nto,  pa sseia   por  ca mpos  mina dos:  se   a   I da de   Mé dia   é   o  pe ríodo  de   domina çã o  re ligiosa ,   é  ta mbé m  de   conte sta çã o  da   a ristocra cia   (que   nã o  que ria  ma is  pe rde r  sua s  te rra s  pa ra   a   I greja ) ,   de   a lguns  re pre se nta nte s  do  cle ro  (com  a   Re forma   Prote sta nte   e ncabe ça da   por  Ma rtin  Lute ro) ,   da  Re ale z a  ( que   queria   fortale cer  o  Esta do  Na ciona l  Absolutista) ,   da   ide ologia   a ntropocentrista   ( com  o  Huma nismo  e  Re na scime nto)  e   do  povo  ( que   podia   rir) .  O   riso  nã o  é ,   e m  mome nto  a lgum  de   sua   história ,  um  obje to  ine rte   e   uniforme .  Se mpre   a ssombra do  pe la s ga rga lha da s  de   Ra belais,   no  sé culo  XVI ,  volta   e   me ia   que r  e sca pa r  dos  rigore s  de   se u  te mpo.   T a nto,   que  ge ra   alguma s  contrové rsia s:  G e orge s  Minois  e m  sua   T e oria   do  Riso,   a   partir  do  livro  História  do  riso  e  do  escárnio  ( 20 0 3 ) ,.

(24) 22 . que stiona ,   por  e xe mplo,   a   una nimidade   do  riso  ra belaisiano  como  fruto  da  cultura   popula r  me die val:  R iso,   ao  contrá rio  do  que   afirma   Mikha ïl  Ba khtine ,  não  é   ve rdade ira me nte   popula r:  R abe la is  se rve ­ se  do  popula r  pa ra   dive rtir  uma   e lite  cultivada   e  a burgue sada,   que   e ntra   e m  sua   ficçã o  pa ra  de sca rre ga r  as  te nsõe s  pe lo  riso  ( MIN O IS ,   ibid. ,  p. 45 5 ) . . Ba khtin . n A . cultura . popular . na . Idade . M édia . e . no . Renascimento  ( 1 9 9 9) ,   por  sua   ve z,  re ba te   ca tegorica me nte   e sta  a firma tiva :  “Ra belais  nã o  e ra   a pre cia do  a pe na s  pelos  huma nista s,  na   corte   e   nos  e stra tos  ma is  a ltos  da   burgue sia   urba na ,   ma s  ta mbé m  e ntre   a s  gra nde s  ma ssa s  popula re s”  ( BAKHT I N,   1 9 9 9 ,  p. 5 1 ) ; . a ma do,  . re speita do . e . compre e ndido . por . se us . conte mporâ ne os,   ra tifica   Ba khtin:  E le s  se ntia m  de   ma ne ira   a guda   a   re la ção  da s  ima gens  de  R abe la is  com  a s  forma s  dos  e spe tá culos  popula re s,   o  ca rá te r  fe stivo  espe cífico  de ssa s  ima gens,   profunda mente   impre gnadas  pe lo  a mbie nte  do  ca rna va l  (op.  cit. ,  p.5 3 ) . . Burle sco  e   bufônico  no  sé culo  XVI ,   o  riso  come ça   a   a rre fe ce r­  se   no  sé culo  se guinte ;  alvo  de   proibiçõe s  e   e squadrinha me ntos,  torna ­ se   me nos  a le gre   e   ma is  inconve niente :  rela ciona ndo­ se ,   cada  ve z  ma is,   à   ba gunça ,   confusão,   de sorde m,   ca os.  F oi  pre ciso,  porta nto,   polir  a s  rela çõe s,   torná­la s  ma is  a propria da s  à   nova  socie da de   que   se   a pre se nta   ao  mundo:  clá ssica ,   mode rna ,  ra cional,   cie ntí fica .  O   riso  rústico  –  coisa   pa ra  bá rba ros  e   todo  tipo  de   ge nte  oriunda   de   uma   I da de   sombria  –  pre cisou  ser  substituído,   ou.

(25) 23 . me lhor,   de struí do;  de   outra  forma ,   o  riso  de ve ria   se r  re sulta do  da  inteligê ncia   e   pe rspicá cia   huma na s;  rir­ se­ á   com  os  olhos,   boca,  na riz  ou  fa ce :  nã o  ma is  com  o  corpo  todo.   O   ca rna va l,   sí mbolo  do  riso  popula r,   se rá   dividido  e m  dois  tipos:  o  carna val  a ristocrá tico  ( fe sta   priva da   sob  a  forma   de   baile   de   má sca ra s)   e   o  ca rna val  urba no  ( fra gme nta do  e ntre   uma   e lite   urba na   e   o  povo  com  se us  ta mborins)   ( MI NO I S,   ibid. ,   p. 9 2) .   O   riso  seisce ntista,   de ssa   forma ,  pe rse guirá   a   me ta   que   será   a mpla me nte   de fe ndida   no  sé culo  se guinte :  o  riso  ra cionaliza do  dos libe rtinos.  O   riso  ra cional,   e mine nte me nte   iluminista ,   dos  livre s­  pe nsa dore s  como  Volta ire ,   Diderot,   Hobbe s,   te rá   dua s  fre nte s  de  comba te :  1 )  de struir:  a o  te nta r  dizima r  qua lque r  ve stí gio  do  riso  ca rna vale sco  ( já   e m  de ca dê ncia   no  sé culo  XVI I ) ,   substituindo­lhe  pe lo  cá lido  e   mode ra do  riso  e stra té gico  e   intelige nte ,   va za nte   nos  sa lõe s  de   fe sta s  e   e spa ços  de   convivê ncia   socia l;  2 )  e   zomba r:  z omba m­ se   dos  ma nua is  e   pre ce itos  e cle siá sticos,   à   moda   de   um  Voltaire   pa ra   que m  “z omba r  do  mundo  é   a   única   ma ne ira   de  supe rar  o  a bsurdo”  ( op.   cit. ,   p. 4 3 0) ;  como  ta mbé m,   do  ve stuá rio,  da   lingua ge m,   dos  pre ce itos,   do  a nacronismo,   e   “te m  a   pa rte   ma is  fá cil  contra   a s  igre ja s  do  sé culo  XVI I I ,   que   de cidira m,   com  a  Contra ­ Reforma ,   re je ita r  o  riso”  ( op.  cit. ,   p. 44 8 ) ;  e m  suma ,   o  riso  sa tiriza   por  sua  inte le ctualidade .  O   riso  ra cionaliza do  e   ingê nuo,   tí pico  dos  roma nce s  libertinos  –  re visita do  a qui  por  Hilda   Hilst  –  e stá   pre se nte   e m  muitos  re ca ntos  de  O  Caderno  Rosa  de  Lori  Lamby.  Ama dure cido  pouco  a.

(26) 24 . pouco  com  a   pe rsona ge m  que   ( re ) e scre ve   o  roma nce   re je ita do  pelo  pa i,   o  riso  ingê nuo  vai  derrubando  ba rreira s  contra   pré­ conceitos  e  de te rmina çõe s  dos  a dultos.   F ala ndo  por  diminutivos  e   simbologia s  –  com  a   linguage m  ca ra cte rí stica   da  criança   ( “pe rninha s”,   “fofinha ”,  “coxinha ”,   “quie tinha ”,   “coisinha ”)  –  Lori,   uma   me nina   de   oito  a nos,  va i  de sconstruindo  os  e stigma s  e   proibiçõe s  e nvolve ndo  o  corpo  e  se u  mundo  de   pra zere s.   Exe mplo:  o  órgã o  se xua l  ma sculino,  gra nde  e   e re to,   tra nsforma ­ se   numa   e spiga  de   milho:  E u  fique i  be m  quie tinha   porque   é   uma  de lícia   e   e u  que ria   que   e le   ficasse   la mbendo  o  te mpo  inte iro,  ma s  e le  tirou  aque la   coisona   de le ,   o  piupiu,   e   o  piupiu  e ra   um  piupiu  be m  gra nde ,  do  ta manho  de  uma   e spiga   de   milho,   ma is  ou  me nos  ( H ILS T ,   2 0 05 ,  p. 14 ) . . Lori,   que   ri  inoce nte me nte   da   ba nda lheira   se m  ta ma nho,   é ,  a nte s  de   tudo,   a   e xpre ssã o  da  e ngenhosida de  de  Hilda   Hilst  que  trouxe   pa ra   o  palco  do  riso  uma   pe rsona ge m  libe rtina   e m  ple no  sé culo  XX:  prime iro,   por  ser  uma   cria nça  –  ta lve z  a   única  possibilida de   de   inocê ncia   e m  nossos  dia s;  segundo,   por  tra ze r  uma   te má tica   tã o  ca ra   a os  nossos  te mpos:  o  pra ze r,   figurado  sob  a   ousa dia   da   a utora   que   nos riscos  do  ca minho,   pe rgunta ,  a final,   “o  que   pode rá  ha ver  de   ma is  fuga z  que   o  insta nte   do  pra ze r”?  ( PAES,  1 9 9 0 ,   p.1 4 ) .   Ao  le itor,   a   e xigência   de   uma   compre e nsã o  que  se  me scla   e m  dua s  via s:  o  e nte ndime nto  da   importâ ncia   e   da   funçã o  do  riso  na  na rra tiva   hilstiana .  Pa ra   fala r  do  riso  de   Lori,   e ntre ta nto,   conside ro  importa nte  re toma r  a   litera tura   libe rtina   do  sé culo  XVI I I   como  pa rte  funda me nta l  do  diálogo  e ntre   e sta   obra   conte mporâ ne a   e   o  te xto.

(27) 25 . clá ssico  de  T eresa  F ilósofa,  de vido:  a o  tom  a utobiográ fico  da  na rra tiva ,   a   disposiçã o  pa ra   o  pra ze r,   o  te or  filosófico  da s  re fle xõe s,  . a s . pe rsona ge ns­ na rradora s . se re m . ninfe ta s,  . a . disponibilida de  pa ra   a pre nder.   No  ca so  e spe cí fico  de  Teresa . F ilósofa  ­  cuja   a utoria   se cre ta   é   a tribuí da   a o  ma rquê s  d´ Arge ns,   o  se nhor  Je a n  Ba ptiste  de   Boye r  ( 1 70 4 ­ 1 7 71 )  ­ ,   te xto  clá ssico  do  sé culo  XVI I I ,   a s  a proxima çõe s  com  o  Caderno  Rosa 1 ,  ma is  que  outros  da   me sma   ge ra çã o,   dã o­ se   sob  a lguns  pa ta ma re s:  o  uso  dos  pra z e re s ,  a   filosofia   e   o riso ingênuo.  De ssa   ma ne ira ,   o  roma nce   libe rtino  ( e  T eresa  F ilósofa,  e m  pa rticula r)   se rve   a qui  como  inspira çã o  à quilo  que   W olfgang  I ser  cha mou  n O  ato  da  Leitura  ( 19 9 9 )   de   “re pertório”  e   “e stra té gia s”  do  te xto,   cujo  fim  é   de spe rta r  a   criativida de   e   disponibilida de   do  le itor  e m  inte rpre tar  e  re criar  o  te xto  que  leu:  Atra vé s  de   seu  repe rtório  e   de   sua s  estra tégia s,   o  te xto  lite rá rio  propicia  uma  seqüê ncia   de   “situa çõe s”,  ou,   la nça ndo  mã o  de   nossa   te rminologia ,   uma  se qüência   de   e sque ma s  que   possue m  o  ca ráte r  de  a spe ctos  daque le   fa to  que   no  texto  não  ma is  se  ve rba liza .   ( .. . )   se us  sina is  ficciona is,   e stabiliz a dos  pe lo  conse nso,   indica m  que   o  que   é   dito  de ve   se r  e nca ra do  como  se   de signa sse   a lgo  ( IS E R ,   ibid. ,  p. 65 ­ 66 ) . . Ne ste   ca so,   a o  re alizarmos  a   le itura   do  Caderno  Rosa ,   ve mos  que   há   uma   “se qüê ncia   de   e sque ma s”  que   nos  le va m  a   busca r  os  “sinais  ficcionais”,   os  ra stros  que   Hilda   Hilst  de ixa   pelo  ca minho.  Re conhe ce ndo  o  e xcurso  de   outros,  optei  pela   totalida de  que   “se  concre tiz a   na   me dida   e m  que   o  le itor  ocupa   a   posiçã o  pre via me nte . 1 . Passarei a chamar O Caderno Rosa de Lori Lamby, aqui em análise, de O Caderno Rosa..

(28) 26 . e sboça da ,  cria   re pre se nta çõe s  e   constitui  o  se ntido  do  te xto”  ( op.  cit. ,  p. 6 6) ,   e   que ,   na s  pa la vra s  de  Alcir  Pé cora ,   re pre se nta  O . Caderno Rosa de Lori Lamby  porque re sga ta  o  ponto  de   vista   da   pe rsona ge m  inocente   que,  paula tina mente ,   va i  sendo  inicia da   nos  pra ze re s  do  e spírito  e   da  ca rne .  ( . . . )  à   ma ne ira   dos  e scritos  libe rtinos,   Lori  é  inicia da   pe los  pa is,  ( ... )   ingê nua,   é  ta mbé m  na tura lmente  disposta  pa ra  a  ba nda lhe ira  ( 2 0 05 ,  p.0 9 ) . . Entre ta nto,  é   importa nte   re ssalta r  que   o  “e rotismo  de   Hilda  Hilst,   e mbora   filia ndo­ se   a o  e rotismo  libe rtino  é   difere nte   do  dos  gra nde s  livros  e róticos”  ( MUZ ART ,   1 9 9 4 ,   p. 36 5 ) ,   porque   alé m  de  re sga tar  lite raria me nte   a   tra diçã o  libertina   do  sé culo  XVI I I ,  tra nspõe   a   proposta   da   pe rsona ge m  inocente   (há   pouco  re ferida  por  Alcir  Pé cora )   para   che gar  a o  riso  ingênuo  ( que   ta mbé m  e ncontra mos  no  roma nce   libe rtino).   Lori,   a pe sa r  de   se r  uma  pe rsonage m  libe rtina ,   ultra pa ssa   e ssa   dime nsã o.   Ela   nã o  e sta gna  o  próprio  proce sso  que ,   de line a do  no  riso,   a rma ­ se   da   a çã o  ingênua   sobre   o  mundo,   à   ma ne ira   de   Te re sa :  ma s  com  uma  solução  be m  difere nte  de sta .  Sua   figura çã o  simboliz a ,  me smo,   a  originalida de   do  pe nsa me nto  libe rtino  de   Hilda   Hilst,   pois,   “a o  me smo  te mpo  e m  que   se   liga   e streitame nte   à   tra diçã o  e rótica ,   dela  difere ncia­ se ;  ( . .. ) ,   fa zendo  rir,   le va   a   pe nsa r”  ( MUZ ART ,   1 99 4 ,  p. 3 6 6 ) ..

(29) 27 . 2 . 1  –  A  LI T ERAT URA  LI BERT I NA . O s  prime iros  libertinos  surge m  no  sé culo  XVI  ­  sé culo  que  a briga   Ra belais  e   Are tino  ­  e   tê m  por  obje tivo  promove r  uma  “de sorde m  re ligiosa”  junto  à   nova   fa se   sociocultural  que   surgia   no  ve lho  mundo.   De pois  de   sé culos  de   e xclusiva   domina çã o  ide ológica ,   e spiritual  e   filosófica  da  I gre ja   Ca tólica ,   e ra   pre ciso  re spirar  novos  are s,   te cer  nova s  linha s.   A  ida de   mode rna ,   e m  sua  a ssimila çã o  a ntropológica ,   te m  e sse   obje tivo,   ou  se ja ,   conquistar  novos  mundos  e   civiliz á ­lo.  De   a cordo  com  o  sociólogo  Norbert  Elia s  e m  O  processo . civilizador  ( 1 9 9 4 ,  p. 1 9 7) ,   o  proce sso  de  civiliza çã o  é ,  a cima   de  tudo,   o  inte rcurso  do  controle   social,   a utocontrole  me nta l,  monopoliza çã o  da   força   fí sica  –  por  isso  o  e nqua dra me nto  da s  puniçõe s  dos  crime s  e   a tos  de   violência   com  norma s  sociais  ca da  ve z  ma is  rí gida s  e   se u  a fa sta me nto  do  e spe tá culo  e m  pra ça  pública .  É  ta mbé m  e sta bilida de   dos  órgã os  centrais  da   socie dade :  F ouca ult,   na  M icrofísica  do  poder  ( 197 9 ) ,  nos  le mbra ,   por  e xe mplo,  que   o  pode r  do  siste ma   hospitala r,   impla nta do  na   Europa   no  final  do  sé culo  XVI I I ,   é   de te rmina nte   na   construçã o  dos  controle s  sa nitá rio  e   me nta l;  e  da   e xistência   social  como  e xpre ssã o  de  controle :  com  o  aume nto  da  divisã o  de  funçõe s,  ma iore s  são  os  e spa ços  socia is  por  onde   se   este nde   re de ,  integra ndo­ se   e m  unida de s  funciona is  ou  instituciona is  –  ma is  a mea ça da   se   torna  a   e xistê ncia  socia l  do  indivíduo  que   dá   e xpre ssão  a   impulsos  e  e moçõe s  e spontâneos,   e   ma ior  a   vanta ge m  socia l.

Referências

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