A
PRÉ.HISTÓRT¡ NO CONCEITO DE INCONSCIENTEOSMYR GABBY JR
IJniversidade de São
Paub
U n iv er sidad e E st adua I d e C-amp i nas
1
Refe¡ido no texto daqui por diantc conro "Relatório". 2l.'rcud, S., Report on rny Studies in Paris arld Berlin, p. 11. 3Referido no texto daqui por diante como "Observações",
Cødernos de Histôria e FíIoxtfia da Ciênciø 7 (1984), pp. 43-65. 1. Introduçõo
O
objetivó
do
preænte estudoé exibir o
solo teórico
em que nasceuo
conceito deinconiciente
na obra freudiana. Não setrata
de examinar opróprio
conceito, mas simdel
c
pu3
no
Breuer), que se articula nosso trabalho de pesquisa.
2. Relação Hist eria-Hipno se
No
..RãlatOrio sobre meus Estudos em Parise Berlim"
0956 0886)
)r,
Freud apre'casos.
ogramas
não
se aplicam aos mesmos objetos nemreconem
aoss
para realizar
suas investigações.A
neuropatologia alemã visa técnicas anatômicas-
as doenças orgánicas.A
francesa pretende,ponto de
vista
vai
levá-lo
a
defender
a
teseda
histeria traumática
masculina (ver ;'Observaçõessobte
um
Caso Gravede
Hemianestesiaem um
Homem Histérico"
(1886) )3. Talfato
implica mostrar três coisas:a) a pr:esença
tlo
estígmøhistérico
-
ou
seja" que os sintomas somáticr,s exibidos pelo paciente não se conformam a sintomas de origem orgânica;b)
que ahistória do
pacientepermite
detectar indícios de que, na origern dos seus sin-tomas,hâum
traumn;44
Osm¡,¡' Gabby Jr.c)
que ahistória familiar do
paciente apresenta evid€ncias suficientes parainferir
que ele apresenta uma preclisposiçõo heredittinø à histeriaa.São esses
três
conceitos-
estigmahistérico,
trauma e predisposição hereditária-que determinam
o primeiro
momento de nossa reconstrução. Para estudar a paisagem conceitual que eles formam, vamos recorrer ao verbete"Histeria"
(1888).Ele
estáarticulado em
torno
de
uma única tese: a histeria é uma doença nervosacujo único
fundamento
resideem
modificações fìsiológicasque "poderiam
ser ex' pressaspor uma fórmula
que
levasseem
conta
as condiçõesde
excitabilidade nas diferentes partesdo
sistemaneryoso"s, O
essencial desta tese resideno
fato
de que aexpressão "modificações fisiológicas" não denota mudanças de caráter anatômico, mas desequilíbrios nas condições
de excitabilidade entre
as diferentes partesdo
sistema neryosou.Entretanto,
afórmula
ainda não existe;porém, a crença na suaposibilidade
funcio-na como dispositivo heurístico, ou seja, dirige a atenção do pesquisador Para a procura de invariantes funcionais. Estes, na medida em queforem
descobertos, permitirão sis-tematizar o campo dos fenômenos neuróticos.O distúrbio funcional
éatribuído
à disposição hereditária, isto é, à hereditariedade quecria
esta predisposição a apresentar "perturbações na atividade nervosa"?. Todosos outros
fatores são considerados, neste momento, contingentes. Por conseguinte, o trauma aparece como um simples coadjuvante num elencomuito
numeroso.Por
outro
lado, não é menos verdade que ele possui uma certa especificidade.Afinal
de contas,
o ttauma
aponta para umateoria
sintomática da histeria, para a relação en'tre
histeria
e hipnose.No
casoda
lústeria traumática, umtipo
particular
de histeria conceituadapor
Charcot, constata-se que a parte docorpo
afetada pelo trauma torna-seo
lugar de um sintoma histérico seo
traumafor
sufìcientemente intenso para des-pertar a predisposição hereditária que estava latente até o momento.Como se relaciona a concepção de Charcot da histeria traumática
com
a crença de que háum
distúrbio
funcional? Através da suposição de que as representações ligadas ao trauma trabalham com um acréscimo de excitação sobre o sistema nervoso. Ora,su-por
este acréscimo,produzido
pelas representações,implica
crer qu€, neste caso, há uma ampliação da influência dos processos físicos. Para entendermos a articulaçãoen-tre
trauma
e
predisposição hereditária, vamos estudaro instrumento
de investigaçãoutilizado
no estudo de histeria, ou seja, a hipnose.Na segunda resenha que Freud faz de
um
texto
de Forel (1889), encontramos uma apreciação sobre as diversas teorias existentes sobre a hipnose. Contudo, nosso interes-se está voltado para a tese que se insinua notexto
apartir
da oposição que ele estabele-ce entre a concepção de Charcot e a de Bernheim, a saber, de que a hipnose é um fe-nômeno simultaneamente somático e psíquico.4Freuc1,
S., Observation of a Severe Case of Henrianaesthesia in a Hysterical Male, p. 25-31. sl,¡eud, S., Hysteria, p,
4l
ólbid, p.
+t.
7tuíd, p.50.A
Prë-Histôríado
C,onceito deIncortsciente
45A
concepçãode
hipnosecomo
isposiçãoespecial
do
sistema
os estímulospr
tizador8.EJses estímulos
só
à existenciada
ol
conse-guinte,
non
paraa
produçãodo
fenômenohipnótico.
Portanto,apenas
iam
serhipnotizados,
sendo secundária ainfluência
espe-clficad
bre esse processo. E secundária porque elas são equivalentes a uma outra classe de estímulos tais como fixação da atividade sensorial, golpes, aplica-ção de metais, etc. Portanto, o fenômenohipnótico
fica restrito exclusivamente àesfe-ia
fisiológica, somática. Se uma representaçã'oproduz
algumefeito
sobreo
indivíduo
hipnotizado
isso se deve somente aofato
de que havia uma predisposição latente no sistema neryoso.Iogo,
na conceþção de Charcot, a relação trauma-predisposiçâo his-térica resolve-se na crença de que apenaso
segundofator
é fundamental, sendo o pri-meiro mero precipitador.Bernheim sustenta
um ponto
de vista completamente contrário. Para ele, a hipnose resultade
sugestões dadas ao paciente pelohipnotizador.
O campo dos hipnotizáveisé
ampliadoe
passa a englobartoda
e qualquer pessoa que possa ser sugestionada. E a explicação desloca-sedo
campo da fisiologia parao
da psicologia, uma vez que"to-dos os fenômenos da hipnose são efeitos psíquicos, efeitos de representações que são provocadas no sujeito hipnotizado com ou sem
intenção"e'
Se fôssemos transpot esses ensinamentos para o estudo da
histeria
e procurássemos explicar arelação
predisposiçâ'o histérica-trauma teríamos que afirmar que a histeria éum
fenômeno psicológico provocadopor
representações-
onde essa possibilidade seconcretiza devido a uma condição especial dada pela disposição histérica, deixando em aberto a questão sobre a sua natureza.
A
teoria insinuada pelotexto
apresenta-se como umtertium
entre a de Charcot e ade Bernheim. Ela pretende entender a hipnose
como
resultado de auto-sugestão. Não se deve\er
al,
contudo, uma
aproximaçãocom
Bernheim,pois
acreditarna
auto'
sugestão significa
suprimir o
conceito de sugestãot0.
Este enunciado, aparentemente,contraditório,
deve serinterpretado
a
partir
do
"Prefácio
à Tradução deSugestion,
de Bernheim" (1888 (1888-91) ).
Segundo a concepção de Bernheim, acreditar que a hipnose se deva a uma sugestão é supor que nesse processo haja a
introdução
de uma representação consciente no cé'rebro da
pessoahipnotizada
atravésde uma influência
externa.O
paciente aceita arepresentação
como
se ela tivesse surgido esporìtaneamente em sua mente. Poroutro
lado,
a teoria de Charcot acredita numa predisposiçãodo
sistema neryoso, ou seja, na existência de deslocamentos produzidospor
estímulos externos sem a participação da consciência nesse processo.Entretanto,
o
texto
exibe
resultados experimentaisque
infirmam
ambas as teo-riasl I.
Por
exemplo,há
rnodificaçõesno sujeito
que se processam à revelia da cons'8
lrreud, S., Review of August ForcI's Hypttotism, p.97 ,
ett i.l, p. 97.
rolbid, p. 99. r 1Ì,Teu.l,
46
Osmyr GabbYJr
ciência (aumento
da
excitabilidade
neuro-musculardurante
o
estágiode
letargia),como
tambémocorrem
modificações produzidaspor
sugestões durante a hipnose de sujeitos normais.A
teoria
propostapor
Freud consiste em pensar que na hipnose atuaum único
fator'-
a auto-sugestão-
que se resume em processos psíquicos que se inse-rem entreum estímulo
externo e a condição nervosa produzida pela própria atividade do sujeito, sendo que esses processos não estão sob odomínio
completo da consciência,A
tìm
de precisar o quefoi
afirmado, vamostraduzir
nos termos dessa nova teoria os conceitos de sugestão (Bernheim) e de condições de excitabilidade (Charcot).No
en-tanto,
paraque
isso ocorra, é necessário que haja uma modificação nesses conceitos,o
que se efètuacom
a subordinação deles ao conceito de auto-sugestão. Por exemplo, é possível pensar que a sugestão atue como um estímulo para a auto-sugestão; todavia,ela terá aqui
comoum novo traço
semântico, a característica deter o
seu campo de atuaçãolimitado
pelas condições de excitabilidadedo
sistema neryoso. Ora, esseúlti
mo
conceito também se alterou, pois ele apresenta agora uma relação com o conceitode
sugestão quenão existia na
concepçãode
Charcot,o
qual excluía
da hipnose o papelda
representação em regintede
igttakladecom
a disposição especial do sistema fìelvoso.A
conseqüência da construção do conceito de auto-sugestão está na possibilidade de se aprender a hipnose como fenômeno simultaneamente somático e psíquico. Somáti-co, na medida em que depende, de maneira relevante, das condições de excitabilidadedo
sistema nervoso; psicológico,porque
essas condições são determinadas, em certo grau,pela
sugestão, entendidaaqui
comoum
elemento representativoirredutível
ounão
equivalertte a qualquer estímulo deoutra
ordem. O que nos leva a entender este conceitocomo
sendoum
conceitomisto, fisiológicopsicológico,
pois as condições de sua aplicaçâo dependemtanto
de variáveis somáticas(a
existência de uma disposição especial do sistema nervoso) como de variáveis psíquicas(o
aspecto representacional da sugestão).Freud
acredita,no referido
texto,
que são as auto-suges das paralisias histéricase
que sepode
caracterizara
histe auto-sugestões12.
Para precisartais
enunciadose
resolvertrauma-predisposição
histérica, voltemos
ao
verbete
"Histeria" a {ìm de
estudar asformas que ele propõe para a terapia.dessa neurose,
O
verbcte distingue três tarefas possíveis na terapia da histeria: tratamento da dis-posição histérica, da histeria aguda e dos sintomas histéricos.A
primeira tarefa envolve medidasde
caráter puramenteprofilático:
nâo se podeextinguir
a disposição para ahisteria, pois ela é hereditâria. Tampouco há esperanças
no
caso da histeria aguda. As maiores possibilidades de sucesso residem na terceiraforma
de tratamento, desde que seja satisfeitoum
dos seguintes requisitos: os sintomas presentesou
são oproduto
deuma
excitação especialou o
resíduo
de uma histeria agudajá
passada.Em
qualquer um desses casos, é possível removêlos quando se consegue extinguir a excitaçâ'o espe-cial através da hipnose.Aqui
se abrem duas possibilidades parao
terapeuta: ele pode,t 2 Ibid, p.
''
A hé-Histôria do
Ønceito
de Inconsciettte'
47rnediante a hipnose, sugerir que a excitação não existe mais ou pode recorrer ao méto-do de Breuer e procurar a causa excitante. Ambos os procedimentos só são
"inteligí-veis
se procurarmos as causasda histeria
navida
repreæntativanão
consciente"l 3.O
quejustifica o
uso
dahipnoæ
como sugestão? Uma certa combinaçÍio entre asconcepções de Charcot e as de Bernheim, conforme atesta o próprio verbete
"Histeria":
"o
tratamento psíquico
direto
dos
sintomas histéricos serámelhor
considerado umdia, quando
o
entendimentoda
sugestãotiver
penetrado mais nos círculos médicos (Bernheim-Nancy)"l a .O ponto
de partida dessa terapia está na crença de que há uma relação significativaentre
excitação especial, trauma e sintoma histérico.No texto "Relatório",
afirma-se que Charcot "através da realização de um estudocientífico
do hipnotismo(...)
chegou auma
espéciede teoria da
sintomatologiahistérica"rs,
cuja comprovação empírica encontramos notexto
"Observação", conformejá
foi
estudado,O trauma está ligado à gênese do sintoma histérico, mas, como bem ensina o verbete
"Histeria", "a
etiologiado
status hystericus deve ser procurada exclusivamente na he-reditariedade, todos os outros fatores desempenham o papel de causas incidentais, cuja importância é geralmente exagerada naprática"l
6. Contudo, o mesmo verbete assinala que"muitos
sintomas histéricos, resistentes atodo
tratamento, desaparecem esponta-neamente sob a influência de alguma excitaçãomoral ou
deum
susto ou de uma ex-pectativa(..,)
ou, finalmente, quando há uma irrupção de excitação no sistema nervoso apósum
ataque de convulsões"r 7.É
evidente que os fatores apontados, com exceçÍio doúltimo,
são de natureza mista: em parte fisiológicos, em parte psíquicos.A
inclusãodo
psicológico marcauma
certa tensão conceitualcom
a
teoria
de
Charcot, que setorna
mais pronunciada no verbete"Hipnose" (1891),
onde encontramos a afirmação de que"quando
os sintomas são de origem completamente psíquica, a hipnose preen-che todas as exigências de um tratamento causal"l E.Outra
forma
de pensar-se que a representação atua no fenômeno histérico,indepen-dcntemente
da
escolade
Nancy,
é
encontradano
texto "Charcot" (1893).
Nele, descreve-secomo
esse célebre neuropatologista francêsproduziu
de maneiraartificial
paralisias
em
sujeitos histéricos, mediante a apresentação de estímulos em estado de hipnose.E,
apartir
desse experimento, conclui-se que Charcot provou que "essas para-lisias eram o resultado de representações que dominaram o cérebro do paciente em mo-mentos de disposiçãoespecial"re. No
entanto, essa afirmação deve ser pesada contra as considera@es seguintes,| 3l,reud, S., Hystcria, p. 56.
' a
rtrid , p. 56 -5 7.
| 5ltreurl, S., Report on nry Studies in Paris and Berlin, p'
ll
I ól,reud, S., Hysteria, p. 50'
I ?rbid, p. 56.
1 EFreutl,
S., Hypnosis, P. 113. I 9ltreud, S., Charcot, p. 22.
Ì
trauma-pred isposição histérica?
É
natentaiiva
de responder à questão acima que poderemos precisar o solo teórico3. Relaçdo Trm nw- h' ed i spt t s iç
A
relaçãotrauma-predisposiç
pode
serestudada
pos-sibilidade que se abria parao
tratamento dahiste
ver-bete"Histeria"
comono
"Hi
assinaladas asvanta
nto'
O
uso desse método terapêutico, criadopor
Breuer, está fundamentado em certos pressupostos sobreo
aparelho psíquico, as representações, os estados afetivos e sobre48
Osmyr GabbYJr.
--'
2oFreud, S,, I{ystcrìa, p.57 2l f t id, p. 56. 22f.reud, S., Hypnosìs.A
Pré-Históriado
C-onceito deInconsciente
49a
própria
histeria. Para ¡econstituí-los, vamos recorrer a uma coletánea de três textos conhecidacomo
"Esboços para a 'Comunicação Preliminar' de 1893" (194G41 (1892) ), procurando salientarinicialmente
apenasos
aspectosque
se relacionam diretamente com a concepção de Breuer.O
manuscrito(A),
"Carta
a JosefBreuer",
é uma proposta, por parte de Freud, decomo
deveria ser apresentadaa
"ComunicaçãoPreliminar".
Segrlndo ele, ela devería constar deuma
exposição dogmática das teorias que ambos haviamconstituído
paraexplicar
o
fenômeno da histeria: os sintomas histé¡icos originam-se de uma tentativa por parte do organismo de uma soma de excitação que nãofoi
liberada2 3.Essa compreensâo das manifestações histéricas está apoiada em
dois
"teoremas"e uma
"teoria"
sobre a orgatização da memória.A
nzão
datentativa
de reação estáno
"teorema"da
constância: há uma tendênciano
organismo para manter constante asoma de excitação. A, razão da persistência da excitação, isto é, o que dá especificidade histérica ao fenômeno, está
no
"teorema"
da dissociação da consciência: os conteúdos dos dois estados de consciência (consciência normal e consciência hipnóide) não estão associados entre si.A
teoria sobrea
organização da memóriaexplicita
a natureza das representações que formam o estado de consciência hipnóide, Portanto, torna-se neces-sário inventariar doistipos
de fatores: os que vão explicar o aumento da excitação e os que vão dar conta da ausência de sua liberação.O
aparelho conceitual, assimconstituído,
não pode seratribuído
com precisão nem a Freud nem a Breuer.No
entanto, é possivel, em vários casos,partindo
do contextoteórico
em que eles se situam, determinar que, para os mesmos termos, há interpreta-ções distintas. Por exemplo,o
"teorema"
da dissociação afìrma apenas afalta
de co-municaçãoentre dois
estadosda
mente; nadaafirma
sobre a sua gênese.Contudo,
asua "demonstração", em cada
um
dos contextos teóricos,permitirá
aprender urnsen-tido
diferente para essa ausência de comunicabilidade.O
manuscrito(B),
denominado"lII",
descreve a terapia da histeria como a remoçãodo
resultado de uma representação que nâ'ofoi
ab-reagida,ou
seja, como uma conse-qüênciado fato
de
nãoter
ocorrido
uma descarga da soma de excitação vinculada auma representação24.
Quando
um
eventoocorre
no
estadohipnótico,
a sua representação não éab-rea-gida
porquenão
existemvínculos
associativoscom
as representações da consciêncianormal,
o
que
impedeque
ela seja eliminada associativamente.No
entanto, essa re-presentação deve descarregar a sua soma de excitação(
de acordo como
teorema da constância).A
conseqüênciaé uma
descarga inadequadada
excitaçãoproduzindo
o sintoma. Pelo teorema da dissociação, a representaçãodo
evento,por
não seracessí-vel
à
consciência normal, não pode ser recordada. Torna-se necessáric;, na concepção de Breuer,hipnotizar
o
paciente para que ele possater
acesso à representação ecorri-gi-la.
Isto
é
obtido
levandoseo
paciente a revivero
traumano
estado de hipnose, eentão, como
indicaremos mais adiante, obrigando-o a ab-reagir a essa impressão psí-quica.23Freud,
S., Sketches for the Prclirninary C.ommunication of 1g93, p. 14g. 2arbid, p. l5o.
l
50
OsmyrGabbl,Jr
Naturalmente,
tal
repetição só pode ser simbólica,ou
seja, apenas afala
pode tor-nar presente o que está ausente. Portanto, afala
aparece na histeriatanto
no nível da gênesede
certos sintomas(foi
precisamentepor
que algo escapou aocircuito
da falaque
seformou o
sintoma) como
da
terapia(o repetir
so
seto¡na
possível devido àexistência
da
fala
da histérica).Entretanto,
a concepção de Breuer não consegue dar conta desta dupla presença da fala.O último
tnanuscrito da sér'ie,o
ma¡ruscrito(C), "Sobre
a teoria dos AtaquesHis-téricos",
desenvolve em maioles detalhes alguns dos conceitos que apareceram nos dois primeirostextos.
Ele afirma queo
ataquehistérico
origina-se de um trauma psíquico,isto
é, ele é a repetição alucinadado
evento ligado ao trauma. Trauma éaqui
defini-docomo "qualquer
impressão psíquica que o sistema nervoso tem difìculdades parae-liminar
através do pensamento associativo ou de uma reação motora adequada"2 s.A
definição
acima já. permite suspeitar que uma das característicasdo
conceito d€ representação, enquantofator
presentena
produção de sintomas histéricos, é de ser uma impressão psíquica sujeita a certas condições,ou
seja, passível de ser um trauma psíquico.Tal
conceito na sua acepção mais ampla nãoinclui
somente o aspecto repre-sentativo(é
a representação de um evento), mas, também, o afetivo ( é a soma de exci-tação produzida pelo evento ou, pelo menos, associada à ocorrência do evento). Em su-ma,o
couceito de representação não se esgota na idéia de algo estarno
lugar de umaoutla
coisa; ele também édotado
de uma certa coloraçâ'o, de um certovalor
afetivo que lhe é intrínseco.Fodemos
aprofundar
o
conhecimento sobre as representações recorrendo à teoria sobre a organização da memória. Ela estabelece que:a) a representação
tem
como refèrente o evento que causou o aparecimento do ataque histérico;b) a representação está contida no segundo estado de consciência.
A
naturezado
eventovaria.
A
novidadeem
relação a Charcot está em ampliar anoção de trauma para englobaroutros tipos de eventos. Como, por exemplo, uma série de acontecimentos que acabam por
constituir
umahistóriainfeliz;
ou, o que écaracte-rístico
da concepção de Breuer, acontecimentos que ocorreramno
segundo estado de consciência. Quandoisto
sedá,
o
sistema nervosonão tem
condições deeliminar
aimpressão psíquica e ela passa a ser um trauma. o que indica que, para Breuer, a repre-sentaçao do evento estava desde o
início
no estado hipnóide.A
conecçãoentle
trauma e sintoma nem sempre émuito
clara; existem casos onde há entre eles uma "relaçãosimbólica"26. No
texto
"Sobre o Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos: ComunicaçãoPreliminar"
são mencionados, atítulo
de exposi-ção,um
caso onde uma neuralgia decone de umador
mental, eoutro
em que a ánsia de vomitar deriva de um sentimento de desgosto moral, Ora, em tais ocorrências tem-se25lbi,l, p. 154.
t6Br"r"r,
J.
&
Freud, S., On the Physicaì lVlechatrismof
Hysterical Phenotnena: Perliminary Communication, P. 5.t
A
Pré-Historiado
hnceito
dehtconsciente 5l
a
nítida
impressão de que a linguagem está presenle na formação de certos sintomas; de que para a histérica a alteração de sentido da expressão"dor
mental"
é contemporâ-nea da origem de uma neuralgia, um fenômeno de origem somática2 7.Podemos perceber,
a
partir
das considerações feitas, que começa a ser resolvida aquestão sobre a relação entre trauma e predisposição histérica. O sintoma é produzido
porque
a impressão psíquica é recebídanum
estado de consciência alterado,isto
é, aeficâcia do trauma é possibilitada pela presença de um certo estado anterior à sua
ocor-rência. Contudo, não
há aqui
uma
tensãoconceitual
insuportável paraa teoria
de Breuer?Ele
é
obrigado
a
acreditar
simultaneam€nteque a histeria tem
um
fundamento somático (responsávelpelo
estigrnahistérico)
e que certos sintomas resultam de liga-ções entre representaliga-ções e certos estados de consciéncia de origem igualmente obscura. Mas o mais grave está na rejeição de qualquer ligação entre os dois estados deconsciên-cia, ou
seja, a suposição de queo
estadohipnóide
éformado por
representações quenão
apresentam nenhuma conexâocom
a consciência normal, Pois, ao mantê-la, está abandonando, certamente semo
saber,a
possibilidadede poder explicar porque
alinguagem está presente na produção e na dissoluçâo dos sintomas histéricos de origem psíquica. Será exatamente
aí
que surgirá a descoberta freudiana.Ao
supor que essasmesmas representações
já
foram conscientes, Freudinicia o
movimento de abandono da tese da descontinuidade entrenormal
e patológico e abre caminho para poder dar conta do papel da linguagem nas neuroses.4. Relação Normo l-Pato logico
A
teoria freudiana sobre a histeria está ligada à idéia de que a incomunicabilidade entre os estados de consciência decone deum
processo de defesa. Contudo, ela não surgiu acabada,pronta; ao
contrário, resulta
de um longo
desenvolvimento, cujas etapasiniciais
podem ser recuperadas apartir
de uma série detextos
escritosentre
1891 eI 893.
Vamos
iniciar pelo
examede
"Um
Casode
Curapelo Hipnotismo"
(1892-93), onde Freud pretendejustificar
autilização
da sugestão hipnótica como procedimento terapêutico. Nessetexto,
é possível reconstruir em embrião três concepções que serão posteriormente desenvolvidas e explicitadas. Consiste em sugerir que:a) a diferença entre o patológico e o normal não é qualitativa (neste sentido, criarn um espaço
teórico
para o abandono da tese da descontinuidade);b)
no
patológico estão isolados elementos que na normalidade se encontram agregadose não são, portanto, visíveis (em outras palavras, o patológico apresenta-se como um campo privilegiado para entender o normal);
c)
certos quadros patológicos podem ser descritos apartir
de uma certa oposiçâo entre representações(logo,
é a oposição que serve para determinar, embora, a especifíci-dade de cada caso ainda deva ser procurada emoutro
lugar)2 E.27tbid, p.5. 28Freucl,
ì
52
Ovnyr
GabbY Jr'Antes de examinar essas concep@es, é preciso estudar o conceito de representação contrastante penosa, uma vez que a sua compreensão é indispensável para apreendê-las'
Scgundo
Freud,
certos
gruposde
replesentações ligam-sea um
estadoafetivo
de.*i.ctutiva:
sãoou
intençOes ("representações deque
virei a
fazeristo ou aquilo")
ou
expectativas propriamenteditas
("representaçõesde que
isto ou
aquilo ocorrerácomigo"). O
estadoafetivo,
assimcriado, é,
por
suavez, função de
duas variáveis:"o
g*u
de importância que o,resultado tem patamim"
e"o
gtau de incerteza inerenteà
eipectativa
ão
resultado"2e.
Essa incerteza subjetivaé
representada,no
aparelhopsfquico,
por
uln
grupo
de
lepresentaçõesonde
algumas delas são representações contr astantes Pen osas.A
concepção da existência de uma diferença nâo qualitativa entre o normal e opa-tológico
apaleÇe em embrião como conseqüência da conceituação que se faz da norma-lidade e dã neurose.A
menteno¡mal
é aquela onde a uuto-cot'tsciência seachafortale-oìda.
A
esserespeito
utiliza a
expressão"...
dem kràftigen
Selbstbewusstsein der Gesundheit"3o. Neste estado, as representações contrastantes penosas estão suprimidasou
inibidas;ou
seja, estão afastadas de associaçãocom o
grupo de representações queconstitui
o
ego.Portanto,
a pessoa normal é aquela que realiza uma supressão ou inibi-ção eficazdJtais
representações; casoisto
nãoocotra,
a auto-consciência estarádebi-íitrd^
.
esse grupo de representações será efetivo, Em suma, a diferença entre normali-dade e neu.oseé
pensada em termos daforça
da auto-consciência-
se ela éalta
ou baixa, respectivamente.O
presènkjogo
entre as representaçõesjá havia sido sugerido no verbete"Histeria",
ondeie
encontraa
afirmaçãode
que
"
...
aolado dos
sintomas físicos da histeria, observa-seum
certo número de perturbações psíquicas(...).
Estas são constituídas por mudançasna
passageme na
associaçãode
representações,inibições da
atividade davontadè,
anrpliação e supressão de sentimentos, etc., que podem ser revuttidas como mudanças nadiitribuiçdo
normnl no
sistemanervog
de quantidades eslaveisde
exci'çãourt.
Aqui,
a novidade está emtornar o
estadoefetivo
(o
grau de excitaçâo repre-sentadospor
representações dotipo
expectativa ou intenção) dependente de umoutro
tipo
de representação: a representação contlastaute que, por sua vez, é função do grau de auto-consciência da pessoa.Portanto,
ohistérico
é aquele que nãotem
umaapro-priada
consciênciade si e
a
terapianão pode
ser pensadacomo
algoque
amplia oiampo
de sua consciência (sua enfermidade resulta presisamente dofato
de ele nâ'o tersuprimido ou inibido
certas tepresentações), mas, sim,como aquilo
que realiza o que deveria ter sidofeito
pela auto-consciência caso ela se encontrasse fortalecida'Para que a terapia possa ser pensada como ampliaçÍio da consciência (fortalecimento
da
auto-consciência nãoimplica
ampliação,pois a primeira
supõe ausência de cons-ciência das representações contrastantes penosas), é preciso que a oposição entrenor-mal
e patológico dê lugar à continuidade, isto é, quetanto
o neurótico como o normal tenham algum grau de consciência dessas representações.2erbid, p. 121.
30Aqui, o tradutor inglôs preferiu "rvith the powcrful self-confidence of l-realtli", p.
l2l
3l Freud, S., Hysteria. p. 49.A hé-Histôria do
C,onceito deInconsciente
53A
segundaconcepSo
mencionada acimaé
um
corolário da primeira. O fato
das representações contrastantes predominarem na neuros€, de serem a sua marca registra-da, toma.as visíveis,o
que nõo ocofre na normalidade onde,por
estarem suprimidas, ou inibidas, não são perceptíveis.A
descrição das diversas neuroses, ægundoa
terceira concepção, pode serfeita
apartir
do
tipo
de ligação que se estabelece entre as representações penosas e as inten-çñes e expectativas. Por exemplo, a fobia dos neurastênicos resulta de uma expectativa apartir
de uma associaçâ'o entre representações penosas e certas sensações. Se no lugarda
neurastenia estiver presenteum
estado nervoso simples,um
estado de excitação, o sujeito terá tendência a ser pessimista.Entretanto,
os casos mais into¡essantes são aqueles onde se trata de intenções e não de expectativas. Neles, se as representações contrastantes se ligam a uma intenção emum hnico
ato de consciência, ocorre uma subtração do poder dessa íntenção, levando a uma "fraqueza da vontade", característica da neurætenia3 2.Na histeria, como há uma dissociação da consciência, a auto-consciêncía está enfra-quecida e,
portanto,
nã'o só as repreæntações contrastantes estão afastadas das repre-sentações conscientes como afortian
das intenções. Contudo, elas continuam aexis-tir
apartir
de sua objetivaçâ'o no corpo do paciente. Como consequência, o sujeito de-seja algo queo
seupróprio
corpo impede; há, por assim dizer, uma "pewersão davon'
tade",
originária da emergência de uma"contra-vontade",
responsável pela atitude de estranheza queo
histéricotem
em relação aos seus próprios sintomas, como se fôssem emanados dã uma outra vontade que não a sua3 3.É
indispenúvel levar em conta que não é ofato
da representação contrastantees-tar fora
do ego o que dá especificidade ao fenômeno histérico; o mesmo ocorre na nor-malidade. Na verdade, trata-se da existência simultânea de uma auto-consciência enfra-quecida e certas condições que possibilitam a objetivação da representagÍio contrastan-te no corpo da histérica.Esse mecanismo de formação de sintomas histéricos é apresentado a
partir
do estu'do
deumcaso:
certa mãeincapaz de amamentaro filho,
apesar de todos os esforços paraatingir
esseobjetivo.
A
situação de incapacidade ocorreu duas vezes e, em ambos os casos,o
tratamento consistiuem
zugestãohipnótica, ou
seja, em fornecer, noesta-do
de hipnose, sugestõesque
eliminavam certas representações penosas davida
psí-quica
da paciente: as representações contrastantes penosas.Portanto,
nâ'o houve alar-gamentodo
campoda
consciência.Contudo,
a
corroboração paraa
presente teorianão
decorre apenas desse caso; ela também provém de outros, ondefoi
possível "es-tabelecerdiretamente
o
funcionamento
de um
mecanismopsíquico
semelhante de sintomas histéricos, através da investigação sob hipnosedo paciente"to. S.m
dúvida,o
texto
se refere aqui ao método de Breuer.A
paciente é descritacor,o
"histérica de ocasião",o
que significa que "se deixa em aberto a questã'o se devemos pressupor ou não a presenèa nafamília
dela de uma disposiçãohereditária
pa:m aneurose"35. Essa 32Freud, S., A Case of Successfull Treatment by Hypnotism' p' 12233Ibid, p. 122-3. 3albid, p. 123. 3stbio,p.
ll?-8.
T
54
Osmyr GabbyJr
observação
é
necessária parua constituição
da tese da continuidade. Se a disposição fosse hereditária, haveria aí uma diferença quetornaria
impossível falar-se deum
co-tínuo.
Contudo,como
a tese de continuidade ná'o está ainda plenamente constituída,o texto
oscila quando afìrma que a gravidez da pacientefoi
a causafortuita
queprodu-ziu
sintomas devjclo a uma disposição que estava latente na paciente. Ora, o que a gra-videz fezfoi
produzir um
estado de excitação que exauriuo
sistema newoso.No
en-tanto,
somos avisados de que a exaustãofoi
apenas parcial; ela atingiu somente o ego normal (as representações conscientes), o quetornou
possível opredominio
das repre-sentações penosas, que se objetivaram atravésdo corpo,
devido àfalta
de inibição ou supressão.Voltando
ao verbete"Histeria",
podemos entender as últimas observações como indicando que as representações contrastantes penosas passaram a trabalhar comum
excesso de excitação apóso
estado de exaustão.o
que mantém aberta a possibili-dade de seafirmar
a tese da continuidade: basta supor que há uma tendência no orga-nismo para manter a soma de excitação constante e que aquilo que particulariza ahis-teria
é a dissociação da consciência. Ambas suposições tomaram possíveldotar
as re-presentações contrastantesde
quantidades de excitação suficientes para que elas fos-sem objetivadasno corpo.
[-ogo, a especificidade do fenômeno histérico estaria na dis-sociaçao da consciência, que enfraqueceria a auto-consciência e dotaria as representa-cões contrastantes de excitação suficiente para que deixasem de ser inibidas ou supri-midas e encontrassemum
lugarno
corpo. Para poderafirmar
a tese da continuidade, seria necessário suporque
a
dissociaçãoda
consciência fossefunção
defatores
ex-clusivamente quantitativos. Porém, ainda estamos longe de uma soluçâo como a suge-rida acima, emborajá
haja indícios da sua presença.Encont¡amos
no
texto
duæposibilidades
parao
desenvolvimento de representa-ções contrastantes penosas:a) o conteúdo delas seria adequado à disposiçâo afetiva da neurose;
b) o solo da neu¡ose seria
propício
ao florescimento dessas representações3ó.A
segunda possibilidade pode conduzir à concepção de Breuer,tal
como elafoi
exa-minadano
capítulo anterior.
A
emergência dos estados hipnóidestornaria propício
o desenvolvimento dessas representações, pois impediria a sua inibição ou supressão pela consciência uo¡mal. Aliás, qualquer representação que surge neste estado adquire oes-tatuto
de setornar
traumática.No
entanto,o
texto
se dirige preferencialmente para aprimeira posibilidade
quando afìrma:"Não
é por acaso que odelírio
histérico de frei-ras durante as epidemias da Idade Média tomaram a forma de blasfêmias violentas e de um linguajar erótico desenfreado,,." e, mais adiante, "talvez a condição histéricaposa
serprotluzida
apartir
de uma supresão trabalhosa"3?(o texto
tem
aqui, como refe-rência, palavras obcenas, representações ligadas a comportamentos anti-sociais).o
que pode explicar porque não se recorre à concepção de Breuer; ou seja, a posibilidacle (b)implica
a existência prévia da duplicidade dos estados de consciência. Por outro lado, a possibilidade(a)
admite qr¡e essa duplicidade só seconstituia posteriori,o
que abre36rbia,p,
t2t-2.
31
tbid,., p. 126.
A
Pré-Históriado
Conceito deInconsciente
55caminho para nâ-o se aceitar a tese da descontinuidade;
indício
substanciado pelatenta-tiva
dotexto
de nãolimitar
tal mecanismo à histeria, mas estendê-lo também à cropo-lalia.Dessa forma, o
tipo
de terapiautilizado
nos permite afirmar que inexiste por partedo
paciente qualquer tentativa desuprimir ou impedir
certas representações contras-tantes: elas permanecem objetivadasno
seu corpo.No
momento em que são negadaspor
uma afirmaçãodo
terapeuta, que antescolocou o
paciente sob estadohipnótico,
desaparecem como se voltassem para
o
seu"reino
de sombras" (Schatten-Reich),parautilizar
uma expressÍio de Freud3 E.No caso preænte, há a incapacidade de amamentar que se objetiva no corpo através de uma representaçâ'o contrastante penosa, referente à incerteza subjetiva ligada à in-tenção de amamentar. Portanto, há
um conflito
entre a intenção de amamentar(cons-ciente)
e a representação contrastante penosa (nâ'oconsciente):
ele é não consciente e nâ'o dá nenhuma especifìcidade à histeria, Aliás, esseconflito
também é encontrado entre os normais.Entretanto,
aqui, certa disposição, cuja natureza otexto
não conse-gue elucidar satisfatoriamenle, faz com que a representação contrastante penosatraba-lhe
com
um
acréscimode
excitação. Como conseqüência, ela não permaneceno
seureino de
sombras (metáfora que talvez sugirao
carâter sistemático dessasrepresenta-Ses);
ela objetiva-seno
corpo da histérica, ou seja, ela se expressa, mas de uma forma que escapa à compreenção de todos, inclusive da própria paciente. Apenas o médico sa-be que,por
trásdo
sintoma somático, está uma representação:o sintoma é uma repre-sentaçã'oque
só se deixa desvendar pelo médico. As ordens dadas sob hipnoæ visama
suprimi-la; elas executamo
trabalho que deveriater
sidofeito
pelo próprio
sujeito caso não existisse a disposição. O paralelo traçado com a coprolafia visatão
somentemostrar
queé no
campo da sexuaüdade que as representações cont¡astantes penosas florescemcom
mais
vigor.
Entretanto, Freud
ainda nâ'o pensaa
consciência comodiferente
do
ego; para ele,o
não-consciente éo
reino das sombras,pronto
a emergirtão
logo haja
um
enfraquecimentoda
consciência.De
qualquer maneita, tais repre-sentações também nâ'o se esgotamno
seu aspecto de estarno
lugar de alguma coisa; elas possuem uma certa coloração, são representações afetivas.Se
a linguagem está presentena
remoçãode
sintomas(a
cura
é feita
através de sugestões dadaspelo médico), não
sevê
claramente como também participa dafo¡-mação
de
sintomas. Paraisto,
seria precisomostrar que ela
organiza as representa-ções contrastantes.5. Re laç õo L in gtag em- R ep re se n taçõ es
A
fim
de
estudara
relação linguagem-representaçãoe
explicar a dupla
presença da linguagem, vamosrecorrer ao
texto
"Alguns
Pontos parao
Estudo Cùmparativo das ParalisiasMotoras
Orgânicas e Histéricas"(1893
(1888-1893)). Nele aparecemsuges-tões
interessantesque
servirão,pelo
menos, para encaminharuma
respostaa
essas questões.Aqui,
como
já
afirmamos
antes,Freud
procura diferencia¡
os
sintomas.L
r
56
Osmyr Gabby Jr,orgánicos
dos
de
origem
histérica,no
tocante
às paralisias.Antes de
examinar seu temacentral,
o
tipo
de lesãoque
se encontra numa paralisia histérica, é necessáriopercorrer
algumas das consideraçõesfeitas
sobreo
fenômenohistérico
eo
aparelhomental. Vamos
iniciar
pela
crençade que toda
impresslo psíquica, constituída
apartir
de
um
evento, é dotada deum
certovalor afetivo,
de uma carga afetiva, Umavez formada
a
impressão,o
ego procura
liberar
essevalor afetivo
atravésde
uma reaçãomotora ou
de uma atividade asociativa. Se ele nõo pode ounlo
qtter selibertar
desse acréscimo, a impressão
pasa
a
constituir um
trauma e
setorna
causade
um certotipo
de sintoma histérico que adquire caráter de permanência3 e.O texto
também supõeque
hajauma afinidade
associativa entre a concepçÍio do órgãoou
função
e o
trauma. Por
concepçãodo
órgã'o ou função deve-se entender a"teoria"
que a
linguagemnatural
fornece sobreum
órgãoou
funçãodo
corpo. Porexemplo,
a
concepçãode
braço
dadapela
linguagemnatural
nâ'o coincidecom
afornecida pela ciência da
anatomia.A
afinidade associativa estabelecidana
histeria é dotada de grandevalor afetivo
(não houve liberação do valor afetivo vinculado à im-pressão psíquica)e
ê, não consciente;ou
seja,a
vinculação estabelecidanão
éaces-sível às
associações formadas pelas representações conscientes.O
texto
considera que, entre essas representações, háum conjunto
que defìne parao
sujeito o seu saberprático
sobre opróprio
corpo4o. Vemos,portanto,
queo texto
está insinuando a te-se de que a paralisia histérica decorre da perda decontato
entre representações sobreo
corpo
(conscientes e dadas pela linguagem) e aquela que sevinculou
deforma
nâ'ocolrsciente com o trauma psíquico.
Ora, Freud
já
possuia uma concepção sobreo
aparelho dafala.
Ele a desenvolvera nolexto
"Sobre
aAfasia"
(1891). Nesta obra, são criticadas as concepções sobre a afa-sia baseadas na idéia de localização.No
seu lugar, Freud propõe uma teoria"estrutu-ralista", isto
é, a de que os centros da fala reagem comoum
todo a lesões parciais, asquais provocam perturbações funcionais. Contudo,
tal
crença nãosigrifica
que elees-teja endossando uma concepção puramente
funcional
da afasia. Segundoele,
é preci-so determinar, em cada caso,o
que está ligado a uma lesão eo
que está ligado a uma perturbação funcional.As representações não estão contidas uma a uma em células isoladas do cortex.
Sus-tentar
semelhante afirmação seria,no fundo,
apoiar a tese psicologista segundo a qual dofato
de podermos individualizar uma representação se segue que podemos também encontrar e isolar o seu correlato fisiológico. Para Freud, "perceber é associarimediata-mente"4l .
As funções da fala encontram-se estruturadas de acordo com uma certa hie-rarquia, detal
forma que o aprendido inicialmente permaneça mais tempo do queaqui
lo
quefoi
aprendido posteriormente.É
preciso diferenciar, para poder aprender devi-damente a função da fala, os aspectos psicológicos dos aspectos anatômicos.39 Freud,
S.,
Somepoints
for a
Comparative Studyof
Organic and Hysterical MotorParalyses, p.171-2.
ao Itid,, p. l70. 41 f,reud,
sentido
funcional),
mas apartir
de uma dimensão que poderíamos chamar de semân-tica.retiradas da vida social. Por exemplo,
".
.
conta-se umahistória
cômr.la deum
indi-víduo
leal que nâ'o lavava as mãos porque elastinham
sido tocadas pelo seu soberano",A
razão de seu comportamento estáno fato
de que a"
('
.
' )
relação que se estabe'A hé-Hístôrio do
C.onceito deInconsciente
-
5742 F¡eud,
S.,
Some pointsfo¡
a
Comparative Studyof
Organic and Hysterical MotorParalyses, p, 169. a3 tbid., p. 170
Ì
58
Osmyr Gabby Jr,leceu
entre
estamão
e
a concepção de soberano pareceutão importante
para a vida psíquicado
indivíduo que ele
se recusavaa deixar
a mão entrar em qualquer outra relação". Mecanismo semelhante também ocorreria quando"(.
..)
quebramos o copono
qual
brindamosà
saúdede
recém-casados"44, Nesses casos, te¡r¡seque
"a
cotade afeto que atribuímos à primeira
associação deum
objeto, cria
uma repugnáncia a deixá-la entrar numa nova associação comoutro
objeto
e, consequentemente, torna a representação desse objeto inacessível à associação'ot.Podemos perceber
que
o
mecanismo responsável pela perda da funçã'o de nomear encontra suas analogias navida cotidiana.
Tambémnela, a
existência de certossen-tidos
apreendidos pela comunidade lingüísticapermite
a ocorrência de certosdesloca-mentos
semânticos,isto é,
o
estabelecimentode
novas associaçõesentre
objetos.Quando
o
súdito
não
lava maisa mão porque
elafoi
tocadapelo
soberano, estão pressupostas,pelo
menos
em um certo nível,
determinadas significaçõesque
são trocadasentre os
súditos e entre os súditos eo
soberano.Em
outras palavras,o
nãolavar a
mão("a
repugnância a deixá-la entrar numa nova associaçãocom
outro
obje-to")
é
atravessadopor um
conjunto de
práticassociohistóricas.
Seo
súdito
é ridi-cularizado, é por levar um pouco longe demais sua lealdade ao rei.Na histeria, devido à
existênciade dois
estados, perde'sea
relaçãoentre
o
subs't¡ato
material
e
a
concepção:o
histérico
nâ'o percebeque a
paralisiado
membro afetadotomou
o lugar da palavra na relaçãocom
a concepçãodo
membro. Portanto,diferentemente
da
normalidade,
há
perda
da
capacidadede
comunicar-secom
ooutro (a
relação estabelecidanão é partilhada
pela comunidadede
falantes),o
que acarreta, como conseqüência, a impossibilidade de compreender a si mesmo; o sintoma é tãoininteligível
para ooutro
como o é para opróprio
histérico. Aliás, é precisamentepor
não
serentendido pelo
outro
que
algo setoma
incompreensível parao
sujeito,Contudo,
o
texto nÍio
consegue relacionaro
papel que elejá
confere à linguagem com uma tese positiva da continuidade entre normal e neurótico.Ao
contrário, parece recuar,quando afuma:
"M.
Charcotfoi
o
primeiro a nos
ensinarque
para explicara
neurose histérica, devemos aplicar a psicologia"a6. Enunciado que, para serenten-dido,
exige
o
examedo
texto "Charcot" (1893),
onde
é novamente enfatizada atese
de
que
a
especificidade dahisteria
estána
divisãodos
estadosde
consciência. Contudo, devemos estar atentos parao
fato
de que a concepção de Charcot,tal
como ela apareceu nostextos
examinados até este ponto, nâ'o é psicológica e sim fisiológica;ou
seja,a
questão está em compreender emque sentido
está sendo usadoo
termo 'psicológico'.A
particularidadedo texto "Charcot"
estáem
pensara
teseda
divisãoda
cons'ciência
como
o
melhor
caminho
paraa
compreensãodo
fenômenohistérico.
Para chegar a essa conclusão, que poderia ser atingidapor
um "observador bastanteimpar-cial"47,
Freud
parte de uma
obsewação. Pode-seconstatar que há
uma diferençaaa lbid,, p. l?0, as lbid., p.
l7Gl.
aó bia., p.l7t.
47 l.-reud, S., Charcot, p. 20.A
hé-História do
C,onceito deIncvnsciente
59de comportamento entre as pessoas histéricas e normais, interessante para a elucidação
do que
ocorre com
as primeiras.As
pessoasnormais
são capazesde relatar qual
aimpressão
pslquica que
as levou a expressarum
estadoafetivo
penoso,fato
que nãoocorre
com as histéricas. Estas comportam-se como se não conhecessem os processos pslquicos responsáveis pelas suas manifestações. Portanto, nâ'o setrata
aPenas de um desconhecimentode
certos processos psíquicos, masda
perda simultânea da capaci-dadede
comunicar
o
seurezultado.
Todo
eventopsíquico que
ocorreno
interior
do
meu corpo é privado;contudo,
mesmo nâ'o conhecendo o processo psíquico que o gerou, possotomar
o
seu resultadopúblico
quando,por
exemplo, ofereço aooutro
um relato.
É
evidenteque
esterelato
pode
despertaruma
série de representações subjetivasno
ouvinte, mas sempre estará presenteaí
o
seu sentido: ele sempre é inter-zubjetivo.O texto
explica
esa
dupla
perdaa
partir da
crença de que na histeria existe um estado especial da mente,na
qual
as impressões psíquicasnão
estão associadas coma
consciêncianormal.
Explicaçâo
que,
devidamentequalificada,
tomaria
possível entendercomo uma
recordaçâ'opode
expressar seu estadoafetivo
atravésdo
corpo, semque
o
ego saiba sobrea
sua existênciaou
seja capaz deintervir
para impedi-la.Tal tipo
de
explicação, aindaque
de
acordocom
o
texto,
não deve ser consideradomuito
estranho:a
distinção
entre
estadosde
consciência também está presente na diferença psicológica que se estabelece entre sonho evigília. Além
disso, ela também permiteinterpretar
a tese da posse pelo demônio na Idade Média como um fenômeno histérico de dissociação da consciência.Portanto, foram
colocadasjuntas
a linguagemdos
sonhose a
das possuídas. Em amboso
casos, trata-se de discursosque
escapamao entendimento dos "normais";
estes partilham um mesmo universo discursivo.Segundo Freud, a presente concepção da
histeria
deriva de Charcot, e, em especial,do
estudofeito
sobre as paralisias histéricas de origem traumática. Ele mostrou que"
. .
.
e$sas paralisias eramo
resultado de representações que dominavamo
cérebrodo
paciente em momentos de disposição especial"aE.Contudo,
"(.
.
.)
a abordagem exclusivamente nosográficaadotada
pela
Escola
de
Salpêtrièrenão
era
adequada para um objeto puramente 'psicológico' "4 e . Pois ela selimitou
a:a)
reconhecer a existência de fenômenoshistéricos;b)
descrevê-los;c)
demonstrar que eles eram regulares e uniformess 0.As
limitações
apontadaslevaram Charcot
a tratar a
histeria como
um
membroda "família
neuropática", como
uma degeneração, cujaforma
etiológica estavaresu-mida na
hereditariedade; ondetodos
os outros fatores seriam "meros agentesprovo-cadores",
causas ocasionais,deixando,
assim,de criar um
espaço pbraa
aquisiçãode
doenças nervosas. Curiosamente,o
texto
recorreà
escola deNancy,
ou
seja, a Bemheim que"(.
.
.
)
construiu a teoriado hipnotismo
sobreum
fundamentopsico
aE rbid.,p.22. ae rbid.,p.22. so lbid., p. 2o-l
Ï
60
Osmyr GabbyJr
lógico
mais abrangentee lez
da
sugestãoo
ponto
central
paraa
hipnose"sl.
Além clisso, Charcot þavia negadoà
hipnose qualquervalor
enquanto método terapêutico. Podemos desfazera
aparente ambiguidade dostextos
ante à teoria de Charcot seIevarmos em conta que a colìcepção freudiana
utiliza
as observações feitas pelo mestrefra¡cês,
mas nãono
contexto
emque foram
obtidas, Elas são interpretadas apartir
de uma nova concepção que visa, antes de mais nada, dar conta dessa descoberta fun-damental
do
campo terapêutico: a presença da linguagem na remoção e na produçâodos
sintomashistéricos.
O tipo
de
explicaçã'odado
pela escolade
Salpêtrière não satisfazporque,
ao redtlzir todos os
fatores
causaisà
hereditariedade,rompe
comqualqueipossibilidade
de se pensar, na cura, a presença da palavra,e,porconseqüên-partir
de
um
conjunto
de
obsewações realizadaspelo
mestre francês. Os resultadosòbtidos
por
Breuer, indicavam adificuldade em que
seincorreria
se se fosse aderir auma
concepção puramerrte fisiológica da histeria. Contudo, a alternativa dada pela escolade Nancy
era insatisfatóriapor
nalorepor
adequadamente,como
veremos' o universal(a
sugestãono
lugar da
predisposiçãohistérica).
Como objetivo
de tornartais
questões mais especÍfìcase
estudara
relação teoria-universal, vamos recorrel aotexto "Sobre o
Mecanismo Psíquico dos Fenômenos Histéricos:Uma
Conferência" ( l 8e3).6. Relaçao Teo ria- Un iversal
No início
dessa conferência,há uma
sériede
elogiosao
investigador francês pelas suas descobertasno
campo
dahisteria
e
em
especial afirma-se Qu€,",
entfe
os numeÌosos trabalhosde
Charcot, nenhum,no
meumodo
de ver,tem
um valOr maisalto do
que
aquele que nos ensina a entender as paralisias traumáticas que aparecemna histeria; e,
desde que é precisamente deste trabalho que o nosso surge como umacontinuação,
espeloque
vocêsme
permitam
expor
esse assuntoem
detalhes mais uma vez"52,O "nosso"
que
aparece na citação acima se ¡efere ao trabalhoconjunto
de Freude
Breuet, publicado
na
"ComunicaçãoPreliminar".
O
objetivo ali
é demonstrar que existe identidade de mecanismo entre a histeria traumática de Charcot e o mecanismo descobertopor
Breuer
na
histeria não traumática,
a paftir do
casode Anna
O. A
função de identidade
ploposta
é a depoder
generulizar parao
segundotipo
demeca-sr
Ibid,, p.22-3.A hë-Histöria do
Cnnceito deInconsciente
6l
nismo a concepção contida
no
primeiro, ou seja, o papel que o trauma desempenha na produção de sintomasContudo,
comojá
háuma
trauma, emesmo na
interpretaç
dahister
teconsta-tável quando se
segue
monstraç
elotexto.
Inicialmente, ele afirma:
"consideremoso
CaSode uma
Pessoa sujeita aum
trauma, semter
estado previamente doentee,
talvez, semtef
mesmo qualquer tara hereditá-ria" s 3 . Umleitor
que estivesse acompanhando os comentários feitos pelos textos sobre aconcepção
servaf que, se não há predisposição hereditária, nãopode
haver
de uma
pessoa setornar
histérica.Entretanto,
otexto
ignora
s descrever as condições que devem ser satisfeitasciente desta espécie em profunda hipnose e lhe dá um leve golpe sobre o braço. O bra' ço cai; está paralisado e exibe precisamente os mesmos sintomas que ocorrem
n^
paÍa'lisia traumática
espontánea.O
golpe também pode sersubstituído
pol
uma sugestãoverbal direta: 'Veja!
Seu braço está paralisado!' Neste caso, também a paralisia exibeas mesmas características" s 5.
A
longa resposta dada revela que:a)
a hipnose só pode se¡ realizada sobre pacientesquejá
são histéricos;b)
umáinjúria
física(o
leve golpe sobreo
braço) apresenta os mesmos efeitos que uma sugestão verbal na produção de um sintoma;plausível supor
que uma
representação dessa espéciefoi
responúvel pelo desenvolvi'mento da
paralisia tambémno
casoda
paralisiatraumática
espontánea.E,
de fato,
muitos
pacientesrelatam
queno
momentodo
trauma realmente Sent'ram queo
seu braço esìava sendo esmagado. Seisto
é assim, o trauma poderia realmente ser comple' s3 lbid., p. 28.salbid., p. 28.
s s lbid, p. 28.
62
Osmyr GabbyJr.
"tamente equivalente à sugestão verbal. Mas, para completar a analogia, é necesário um
terceiro
fator.
Paraque a
representação"
'seu braço está paralisado' fosse capaz deproduzir
uma paralisia no paciente,foi
necessário que ele estivesse num estado especial de consciência durante o trauma;(...)
e Charcot está inclinado a considerar como equi-valentes aquele estadoafetivo e
o
estadoartificialmente induzido
pela hipnose"sT.O
trecho acima parte da pressuposição de que éposível
considerar como equivalen-teso
trauma e a sugestão verbal. Ajustifìcativa
dessa equivalência decorre da constata-çâ'o de que pacientes, vítimas de paralisias espontâneas, no momento em quevivencia-ram
o
trauma, tiveram a representação de que'o
braço estava sendo esmagado'. Ora, se isto é verdade, o que é efetivo não é o evento traumático, mas, sim, a sua representa-ção.O texto
deveriaconcluir
que há neuroses representativas e não neuroses traumáti-cas. O mecanismo seriao
seguinte: toda vez que h.íum
trauma, entendido no sentido de urn impactofísico,
a representação ligada ao mesmo produzum
sintoma.O texto
não está longe disto quando afirma, mais à frente, a¡ús representar o modelo de Breuer da histeria não traumática, que:
"ninguém
duvida atualmente que, mesmo no caso deum
grande trauma mecânico na histeria traumática,o
que produz o resultado não é ofator
mecânico, maso
estadoafetivo
de medo,o
traumapsíquim"s
E.Portanto,
não setrata
de uma descrição da teoria de Charcot, mas de uma interpretação feita apartir
de certas obsewações realizadas pela escola de Salpêtrière. Além disso, otexto
quando se refere aoterceiro fator,
a equivalência entre estado afetivo e hipnose, está implicita-mente supondo que a hipnose é uma histeriaartificial.
Contudo, o que Freud e Breuer pretendem desenvolver, apartir
da presente descrição da histeria de Charcot, é a tese oposta,tal
como
se encontra na "ComunicaçãoPreliminar",
onde se afuma:"a
base ea
condição indispensável dahisteria é
a
existênciade
estadoshipnóides", ou
seja, a histeria é uma forma de hipnoses e.Em
resumo, quando Freud destaca a sugestão verbal(o
mesmo ocorrecom
a con-cepção de Nancy, excetuando-seo
fato
de que, nela, a sugestão é consciente) e privile-gia a representaçãodo
eventotraumático
emdetrimento do próprio
evento, é impor-tante termos em mente que:a)
essa representaçãoé
condicionada pelo conhecimentolingüístico
queo
sujeito apresenta(conforme
foi
dificilmenle
enfat:zadona
nossa análisedo
texto
"Alguns
Pontos");b)
a linguagem é condição necessária mas não suficiente para a produção de sinto-masde
base representativa(além
de
ser entendidano
seu sentido de universa-lidade);c)
no
lugar da predisposição hereditária vai aparecer o estado hipnóide. Portanlo, aquestão a ser resolvida
éade
se saber se o estado hipnóide passano exame que asugestão fracassou,
isto
é, se ele pode ser entendido como fenômeno universal. Para elucidá-la, vamos estudar a dissociação da consciência, procurando ressal-tar os aspectos em que Freud difere de Breuer.sTrbid, p. 28-9.
56rbid, p, 31.
seBr"o"r,