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PRODUÇÃO DO ESPAÇO E O PMCMV: ANÁLISE COMPARATIVA DA INSERÇÃO URBANA DOS EMPREENDIMENTOS FAIXA 1 E FAIXA 2 PRODUZIDOS EM SÃO JOÃO DEL REI, MG

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PRODUÇÃO DO ESPAÇO E O PMCMV: ANÁLISE COMPARATIVA

DA INSERÇÃO URBANA DOS EMPREENDIMENTOS FAIXA 1 E

FAIXA 2 PRODUZIDOS EM SÃO JOÃO DEL REI, MG

ANA LUIZA AURELIANO SILVA1

DANIELA ABRITTA COTA2

Resumo:O presente artigo apresenta uma análise da inserção urbana dos empreendimentos Faixa 1 e Faixa 2 produzidos pelo Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV) em São João del Rei, MG, avaliando as condições de urbanidade dos conjuntos (tais como infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, acesso aos equipamentos e serviços urbanos e sociais) e possíveis impactos socioespaciais. Busca-se verificar as diferenças da produção do espaço para as duas faixas de renda, e refletir sobre os resultados do PMCMV quanto ao processo de segregação e o reforço da desigualdade socioespacial para além da metrópole, dando ênfase ao caso de São João del Rei, cidade intermediária.

Palavras-chave:Programa Minha Casa, Minha Vida; São João Del Rei, MG; produção do espaço; desigualdade socioespacial

Abstract: This article presents an analysis of the urban insertion of the level 1 and level 2 residences produced by the Minha Casa Minha Vida program (PMCMV) in São João del-Rei, MG, evaluating the urban conditions of the housing developments (such as infrastructure, environmental sanitation, mobility and public transportation, access to facilities, and urban and social services) and possible socio-spatial impacts. It seeks to verify the differences of space production for the two income levels and to reflect on the results of the PMCMV regarding the segregation process and the reinforcement of socio-spatial inequality beyond the metropolis, with emphasis on the case of São João del Rei, the intermediate city.

Key-words: Minha Casa, Minha Vida program (My House, My Life); São João Del Rei, MG; production of space; socio-spatial inequality

INTRODUÇÃO

Lançado em 2009 pelo governo federal, o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV) apresenta como meta principal criar mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais pelas famílias de baixa renda, cumprindo assim, dois outros objetivos: aumentar o acesso à casa própria, reduzindo o déficit habitacional no país; e aumentar o investimento na construção civil e a geração de emprego. Somadas as suas duas primeiras fases, foram mais de 3,4 milhões de Unidades Habitacionais (UHs) contratadas em todo país, contemplando famílias com renda de 0 a R$5.000,00 reais mensais em suas 3 faixas de atuação: faixa 1 até R$ 1.600,00; faixa 2 de R$1.600,00 a R$3.275,00 e faixa 3 de R$3.275,00 a R$5.000,00 (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2014). A expressividade dos números é

1 - Mestrandado Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del

Rei. E-mail de contato: alaurelianosilva@gmail.com

2Docente do programa de pós-graduação em Geografia da Universidade Federal de São João del Rei.

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comprovada quando comparamos a produção habitacional do Programa com a do Banco Nacional de Habitação (BNH): em 5 (cinco) anos de atuação, o PMCMV já havia contratado o equivalente à 80% das unidades financiadas pelo BNH em seus 22 (vinte e dois) anos de existência (AMORE, 2015,p.12).

Atuando como a principal ferramenta de combate ao déficit habitacional no Brasil, o PMCMV tem envolvido grande volume de subsídios públicos e colocou como prioridade pública o tema da habitação; entretanto, vem desencadeando impactos territoriais significativos nas cidades brasileiras, reafirmando a localização periférica dos conjuntos e o modelo de urbanização excludente e predatório (cf. FERREIRA, 2012; CARDOSO, 2013; ROLNIK, 2015; AMORE; SHIMBO; RUFINO, 2015, dentre outros). Assim, moldados pelas construtoras, os conjuntos de habitação produzidos pelo Programa vêm provocando consequências perversas na produção do espaço urbano. Para além dessa crítica e sob outra perspectiva este trabalho busca analisar comparativamente o espaço produzido pelos empreendimentos do PMCMV direcionados para cada faixa de renda, em São João del Rei (SJDR), MG, com destaque para a avaliação da inserção urbana de tais produtos imobiliários. Serão analisados os empreendimentos do PMCMV efetivados com recursos do FAR (Fundo de Arrendamento Residencial) e voltados a famílias com renda até R$ 1.600,00 – Faixa 1; e os empreendimentos apresentados diretamente por empresas da construção civil e aprovados pela CAIXA (envolvendo recursos do FGTS) e voltados a famílias com renda acima de R$1.600,00 até R$ à 3.275,00 – Faixa 2. Para tais empreendimentos, após identificados e espacializados, busca-se analisar suas condições de urbanidade (tais como infraestrutura, saneamento ambiental, mobilidade e transporte coletivo, acesso aos equipamentos e serviços urbanos e sociais), atentando para possíveis diferenças (qualitativas) que possam ocorrer entre os empreendimentos voltados a diferentes faixas de renda.

Ao dar ênfase ao caso de SJDR, cidade intermediária (COTA, DIÓRIO, 2014), busca-se refletir sobre os resultados do PMCMV quanto ao processo de segregação e o reforço da desigualdade socioespacial para além da metrópole, e com a especificidade de focar também na produção da Faixa 2 – faixa de renda que não vem sendo objeto de estudo na bibliografia recente. Ao tratarmos da inserção urbana dos empreendimentos produzidos pelo PMCMV neste município evidenciamos a falta de

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articulação entre a política de habitação e a política de ordenamento territorial, o que nos leva a questionar: será que ao promover o direito à moradia por meio da propriedade privada o Estado não tem contribuído para o retrocesso na garantia o direito à cidade, fortalecendo, no território, uma dinâmica de injustiça e desigualdade? Quais são as diferenças entre a produção do espaço para a Faixa 1 e para a Faixa 2 com relação à essas questões e quais são as especificidades observadas em SJDR? Acredita-se que este trabalho reúne dados que mostram o funcionamento do programa em uma cidade interiorana, algo que pode contribuir para o aperfeiçoamento tanto da política de habitação quanto uma melhor articulação entre esta e o planejamento territorial.

APONTAMENTOS CRÍTICOS SOBRE A INSERÇÃO URBANA DOS EMPREENDIMENTOS DO PMCMV E O REFORÇO À SEGREGAÇÃO:

A segregação residencial da cidade capitalista, segundo Corrêa (2013, p.42) emerge a partir da localização diferenciada no espaço urbano das diferentes classes sociais. No caso dos segmentos de baixa renda da população, alvo de programas de habitação social, a segregação vem historicamente sendo reforçada, uma vez que a localização residencial desta classe se dá predominantemente nas periferias, em áreas com baixos índices de bem-estar urbano.

Pode-se afirmar que o PMCMV se insere em um contexto de reprodução capitalista do espaço imerso em um modelo que, ao contrário de promover o acesso à moradia como direito, passa a produzir habitação provendo o consumo e transformando o acesso à moradia adequada em acesso à propriedade privada, que reverbera em um “status” de estabilidade econômica. Entretanto, este falso status pode forçar a segregação para os segmentos sociais de menor renda. Segundo Corrêa (2013, p. 43):

“A segregação residencial das classes subalternas resulta também de uma política de classe, gerada por aqueles que detêm o poder, controlando meios de produção. É possível distinguir a segregação imposta, envolvendo aqueles que residem onde lhes é imposto, sem alternativas de escolha locacional e de tipo de habitação, e a segregação induzida, que envolve aqueles que ainda têm algumas escolhas possíveis, situadas, no entanto, dentro de limites estabelecidos pelo preço da terra e dos imóveis. Ressalta-se, contudo, que o limite entre segregação imposta e induzida é tênue, como que uma se dissolve na outra.” (CORRÊA, 2013, p. 43)

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Pode-se dizer que a junção entre capital e Estado como forma de viabilizar o PMCMV intensifica ainda mais esse processo, podendo promover a segregação

imposta para a Faixa 1 e a segregação induzida para a Faixa 2, algo que buscamos

verificar para o caso de São João Del Rei, MG.

Na lógica de implantação do Programa é conferida certa autonomia às empresas construtoras e incorporadoras – a quem cabe a escolha dos terrenos onde serão implantados os empreendimentos – algo que vem contribuindo para a produção do espaço desigual, já que o Estado não interfere nestas escolhas e sua ação acaba viabilizando os interesses capitalistas. Assim, a produção do espaço urbano oriunda do PMCMV é apontada por Mariana Fix (2011), como uma urbanização “sem cidade”, entregue à ação do capital:

“O Minha Casa Minha Vida alçou a habitação à “problema nacional” de primeira ordem, mas o definiu segundo critérios do capital, ou da fração do capital representada pelo circuito imobiliário, e do poder, mais especificamente, da política eleitoral. O programa (...). Responde, a um só tempo, a problemas de acumulação, por meio da injeção de recursos no circuito imobiliário (construção de edificações e construção pesada, indústria de materiais e componentes, mercado de terras) e legitimação, ao responder à pressão das lutas sociais do ponto de vista da demanda por habitação e por emprego”. (FIX, 2011, p. 141)

Pode-se dizer que o PMCMV também reforça a parceria entre Estado e mercado (no caso específico do capital imobiliário) (COTA, 2013), o que agrava a segregação do espaço urbano e leva a um distanciamento da justiça social:

“(...). Aqui, a dinâmica de provisão e de produção da habitação permeia a estreita, por vezes, promíscua, relação entre Estado e agentes promotores imobiliários. Por isso, as análises sobre a produção da cidade brasileira passam necessariamente pelas diferentes modulações do binômio Estado-mercado, desde os grandes projetos urbanos, (...) até a produção da habitação de interesse social.” (SHIMBO, 2010. P.48)

Outra consequência acarretada pelo Programa é que, ao estimular a construção privada de moradias intensifica-se a valorização imobiliária, dificultando ainda mais o acesso à terra por parte significativa da população, algo que contribui para o processo de segregação desses empreendimentos destinados aos segmentos da população de menor renda (FERREIRA, 2012).

A produção em massa de empreendimentos do PMCMV e a ampliação de acesso ao crédito imobiliário pelo chamado “segmento econômico” configura esse

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cenário de segregação socioespacial e fragmentação do espaço urbano não somente nas grandes metrópoles, mas também nas médias e pequenas cidades. Para Ferreira (2012, p. 34) nessas cidades o cenário é “ainda mais pessimista”, pois as mesmas, apesar de não possuírem os problemas que são comuns às metrópoles, arcam com os percalços de receberem as mesmas condições de implantação do Programa e reproduzirem em menor escala os mesmos problemas, principalmente por omissão ou mesmo incentivo do poder público, quando poderiam “reverter sua lógica de urbanização para um novo padrão, mais sustentável”.

Isso é observado para o caso de SJDR, objeto de análise neste trabalho. Neste município, o PMCMV vem sendo executado de forma desarticulada, sem diálogo ou qualquer interação que não a burocrática entre os setores envolvidos (COTA, SILVA, 2015). A falta de planejamento urbano – a exemplo da não instituição de ZEIS e de outros instrumentos atuantes sobre a organização da ocupação no município – aliada à expectativa e lucro das empresas vem contribuindo para o espraiamento da ocupação, uma vez que antigas áreas rurais vêm sendo incorporadas à mancha urbana, nas “bordas” da cidade, pelos empreendimentos do PMCMV – especialmente destinados à Faixa 1 –, acirrando a segregação e a fragmentação urbanas (COTA, DIÓRIO, 2013). Aparentemente a implantação do programa na cidade explicita certa omissão do poder público quanto aos critérios urbanísticos e questões de urbanidade que deveriam ser observados, delegando às construtoras o poder de intervenção no modo de vida de centenas de famílias, pouco contribuindo para garantir o “direito à cidade”.

O PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA: AVALIANDO A INSERÇÃO URBANA NO CASO DE SÃO JOÃO DEL REI, MG

São João del Rei se localiza a cerca de 180 Km da capital mineira Belo Horizonte, e possui uma população aproximada de 89.000 habitantes (IBGE, 2014). Infere-se do Plano Local de Habitação de Interesse Social (PLHIS) elaborado no ano de 2010 que o déficit habitacional da cidade gira em torno de 5.000 moradias (cf. PLHIS, 2010). Desse número, 3.310 seriam produzidas pelo PMCMV. Atualmente são três os empreendimentos contratados para a Faixa 1 do Programa, somando um total de 940 UHs: Residencial Risoleta Neves I (440 UHs), Risoleta Neves II (200 UHs) e Parque das Cachoeiras (300 UHs). Para a Faixa 2, de acordo com a CAIXA, existe

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um total de 336 unidades, se somarmos os dois empreendimentos aprovados, apresentados por construtoras – desse número apenas 168 foram concluídas: 144 UHs no Residencial Imperial e 24 UHs no Residencial Village Paraíso da Serra. No mapa abaixo é possível se observar a espacialização desses empreendimentos na cidade (FIG. 1).

FIGURA 1: Empreendimentos do PMCMV em São João del Rei e delimitação dos Bairros da cidade de acordo com o Plano Diretor do município. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2015.

Empreendimentos destinados à Faixa 1:

TABELA 1: Relação de saneamento básico e mobilidade para os empreendimentos da Faixa 1. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2017.

No mapa a seguir (FIG. 2) são apresentadas as distâncias desses empreendimentos à região central onde está presente a maior diversidade de comércios e serviços. Destaca-se aqui a distância aproximada dos conjuntos ao

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centro, medidas através do Google Earth, e superiores a 1 km – o que dificulta, a locomoção a pé nesse trajeto. Não somente a distância, mas também as condições topográficas dificultam o percurso à pé - os três empreendimentos estão localizados em regiões bastante acidentadas.

FIGURA 2: Distância dos empreendimentos destinados à faixa 1 até a região central. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2015.

Ambos os empreendimentos são distantes dos equipamentos escolares mais próximos, também ultrapassando a marca de 1 Km. Ao consultarmos as escolas e creches mais próximas, pudemos constatar um expressivo aumento na demanda nestes equipamentos. Enquanto a Creche Risoleta Neves, mantida pela associação do bairro conta com uma lista de espera 3 vezes maior que o número de vagas e já se preocupa com um crescimento nesse número após a ocupação do Residencial Parque das Cachoeiras, a E.M. Dr. Kleber Vasquez Filgueira garante que após a entrega dos empreendimentos Risoleta I e II houve uma aumento de 20% no número de alunos e novas turmas tiveram de ser abertas especialmente na Educação Infantil. Já os equipamentos de lazer encontrados na cidade são, em sua maioria, praças que possuem somente bancos e vegetação. Poucas delas possuem equipamentos de esporte e lazer. Não existem equipamentos de lazer próximos à nenhum dos três empreendimentos da faixa 1.

Os empreendimentos da faixa1 se encontram distantes das Unidades Básicas de Saúde (UBS) mais próximas e ainda mais distantes dos hospitais públicos da

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cidade. Em consulta as duas UBS mais próximas dos empreendimentos pôde-se confirmar que a demanda das mesmas aumentou muito depois que os empreendimentos Risoleta I e II foram ocupados. Além disso, ambas afirmaram que não é possível o atendimento da Equipe de Saúde da Família (ESF) nos residenciais, pois a localização distante não se enquadra na área de atuação das equipes. O atendimento nas Unidades aos moradores dos Residenciais é realizado; porém, não há cadastro ou acompanhamento das famílias por parte das equipes como ocorrem com as demais famílias do bairro. Nas proximidades dos empreendimentos está sendo construída uma nova UBS para aliviar a demanda das outras Unidades.

Empreendimentos destinados à Faixa 2:

TABELA 1: Relação de saneamento básico e mobilidade para os empreendimentos da Faixa 2. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2017.

Residencial Imperial:

O mapa da figura a seguir (FIG.3) apresenta a distância do Residencial Imperial à região central mais próxima. Infere-se do mesmo, que essa distância é grande, porém inferior que a distância percorrida pelos moradores dos empreendimentos da Faixa 1 até o mesmo ponto. A Escola mais próxima fica a uma distância de 1,1 Km. Há também uma diversidade maior de equipamentos escolares próximos entre si se comparado ao que ocorre com a faixa 1, o que proporciona um equilíbrio maior em relação à distribuição da nova demanda entre as escolas. Em se tratando de equipamentos de lazer, percorrida a mesma distância têm-se uma praça, apesar de observarmos maior diversidade deste equipamento em comparação com o levantamento referente aos empreendimentos da faixa 1.

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FIGURA 3: Distância do Residencial Imperial até a região central. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2015.

Quanto aos equipamentos de saúde há, a uma distância de 1 Km, somente uma UBS. Os responsáveis pela UBS não consideram que houve um aumento na demanda e a ESF não opera no empreendimento, pois a sua área de atuação não abrange o mesmo. Outros equipamentos de saúde como os hospitais públicos se encontram bem mais próximos se comparadas às distâncias relacionadas aos empreendimentos da faixa 1.

Residencial Village Paraíso da Serra:

Foi considerado para a análise do Residencial Village um subcentro em formação no bairro da Colônia, que ainda não possui a diversidade de comércios e serviços encontrados na área central da cidade. A distância percorrida a pé do Residencial Village até o subcentro é de cerca de 1,4 Km (FIG. 4).

O Residencial Village é o único dos empreendimentos analisados que possui dentro do raio de 1 Km equipamentos escolares que atendem juntas da pré-escola ao ensino fundamental. No entanto, o bairro não é contemplado com escolas públicas que ofereçam o ensino médio. A aproximadamente 450 m do residencial existe uma praça que não possui equipamentos de lazer.

A região próxima ao Residencial é desprovida de equipamentos de saúde. No entanto, o bairro Colônia conta com dois equipamentos de saúde sendo um deles uma UBS e o outro um posto de saúde.

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FIGURA 4: Distância do Residencial Village até a região centra mais próxima. Elaboração: Ana Luiza Aureliano Silva, 2015

APONTAMENTOS FINAIS: ANÁLISE COMPARTIVA

O PMCMV vem modificando o espaço urbano de São João del Rei especialmente por trabalhar na lógica de acesso à habitação por meio da propriedade privada. Isso vem promovendo uma valorização fundiária e dificultando o acesso à terra urbanizada e bem localizada. A prática do programa, especialmente para a faixa 1, permitiu observar que, também neste município, vem sendo reproduzidas paisagens fragmentadas que intensificam a segregação socioespacial e que são igualmente monótonas, e destituídas de identidade compondo um aglomerado de unidades habitacionais carentes de qualidade arquitetônica e urbanística. Pôde-se constatar que os empreendimentos da faixa 2 em SJDR possuem melhor inserção na malha urbana e que, embora estejam implantados também em bairros periféricos, se localizam em bairros com status de classe média, enquanto os empreendimentos da faixa 1 promoveram extensão do tecido urbano, ocupando antigos territórios rurais e possuem situação urbanística pior que os da faixa 2.

Se compararmos os empreendimentos apresentados aqui e destinados às duas faixas de renda percebe-se que a distância percorrida até o centro/subcentro é maior nos empreendimentos da faixa 1, enquanto a distância dos mesmos aos equipamentos públicos – de educação, saúde e lazer – é semelhante. Entretanto, o atendimento pelas unidades não é garantido e depende da demanda existente como ocorre no caso das escolas, creche e UBS para os empreendimentos da faixa 1. Verificou-se ainda que o Residencial Village Paraiso da Serra tem melhor localização

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com relação aos equipamentos de saúde e educação, muito embora o Bairro onde está inserido seja o que possui menos diversidade quanto à esses equipamentos. Observa-se, assim, que os empreendimentos da faixa 1 apresentam situação menos privilegiada do ponto de vista de sua localização na cidade. Deve-se ressaltar que o acesso por parte dos moradores dos empreendimentos da faixa 2 a algum tipo de veículo particular em alternativa ao transporte público confere mais “liberdade” aos mesmos ainda que estivessem pior localizados em comparação aos empreendimentos da Faixa 1.

Todos os empreendimentos Faixa 1 estão na região oeste da cidade, apresentando em seu entorno periferias urbanas habitadas por segmentos de baixa renda, que já possuem seus problemas específicos. O PMCMV – faixa 1 acabou fortalecendo os agrupamentos por extratos socioeconômicos, reforçando o caráter de “cidade desigual e descontínua”, onde as partes não se reconhecem ou se dialogam e o todo é consequentemente fragmentado (SPOSITO, 2013). Essa lógica de expansão responde, em grande parte, aos interesses dos agentes – público e privado – que atuam na produção do espaço urbano, mas não às demandas do morador desses conjuntos.

Conclui-se, portanto que, o PMCMV vem garantindo o “direito de morar” para parte significativa da população na mesma medida em que garante a reprodução do capital. Entretanto, ao analisar a produção do espaço resultante da ação da iniciativa privada – com o apoio do Estado – o Programa vem contribuindo para a permanência e reprodução da segregação socioespacial – também em SJDR. Segundo Alvarez (2013, p.115) “O urbanismo se converte, assim, em estratégia para garantir o processo de reprodução, num movimento que vai da expropriação à revalorização imobiliária, sendo, portanto, um dos fundamentos da segregação” (ALVAREZ, 2013; P.115). Assim, ao funcionar segundo a lógica onde o “direito à cidade” é diretamente proporcional ao valor que se pode pagar para morar, o PMCMV contribui para que esse direito continue sendo uma “utopia” (CARLOS, 2013).

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1]ALVAREZ, I. P. A segregação como conteúdo da produção do espaço. IN: VASCONCELOS, Pedro de Almeida; CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI; Silvana Maria (orgs). A CIDADE CONTEMPORÂNEA: segregação espacial. São Paulo: Contexto, 2013. [2]AMORE, C. S. Minha Casa Minha Vida para iniciantes. IN: AMORE, C. S.; RUFINO, M. B.

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C; SHIMBO, L. Z. (Orgs.). MINHA CASA... E A CIDADE?Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em seis estados brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015., p. 11 - 28. [3]CARDOSO, Adauto Lúcio (org.). O PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA E SEUS EFEITOS TERRITORIAIS. Rio e Janeiro: Letra Capital, 2013.

[4]CARLOS, Ana Fani A. A prática espacial urbana como segregação e o “direito à cidade” como horizonte utópico. IN: VASCONCELOS, Pedro de Almeida; CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI; SILVANA, Maria (orgs). A CIDADE CONTEMPORÂNEA: segregação espacial. São Paulo: Contexto, 2013.

[5]CORRÊA, Roberto Lobato. Segregação Residencial: classes sociais e espaço urbano. IN: VASCONCELOS, Pedro de Almeida; CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI; Silvana Maria (orgs). A CIDADE CONTEMPORÂNEA: segregação espacial. São Paulo: Contexto, 2013. P.39-59.

[6]COTA, Daniela Abritta. A parceria público-privada na política urbana brasileira recente: reflexões a partir da análise das operações urbanas em belo horizonte. rio de janeiro: letra capital, 2013.

[7]COTA, Daniela Abritta.; SILVA, Ana Luiza Aureliano. ANÁLISE DO PROGRAMA “MINHA CASA, MINHA VIDA” EM SÃO JOÃO DEL REI: ASPECTOS URBANÍSTICOS E ARQUITETÔNICOS.São João del Rei, MG - Brasil. Relatório Final de Pesquisa, 2015. Relatório Técnico-Científico não publicado. Arquivo pessoal as autoras.

[8]COTA, Daniela Abritta; DIÓRIO, Ana Carolina Dias. A produção (formal) do espaço urbano e arquitetônico de interesse social: reflexões a partir de quatro empreendimentos em São João Del Rei, MG – Brasil. In: 14º Encuentro de Geógrafos de America Latina (EGAL), 2013, Lima, Peru. ANAIS DO 14º EGAL, 2013.

[9]FERREIRA, J. S. W. (Coord.). PRODUZIR CASAS OU CONSTRUIR CIDADES?Desafios para um novo Brasil Urbano. São Paulo, FUPAM, 2012.

[10]FIX, Mariana. Financeirização e transformações recentes no circuito imobiliário no Brasil. Tese (Doutorado em Desenvolvimento Econômico) – Instituto de Economia, Universidade

Estadual de Campinas, 2011. Disponível em:

http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000815022&fd=y Acesso em: Setembro de 2015

[11]MINISTÉRIO DAS CIDADES. CURSO IV: PROJETOS NO ÂMBITO DO PROGRAMA MINHA CASA, MINHA VIDA – PMCMV. Programa nacional de capacitação das cidades – Programa de formação em gestão de projetos urbanos. Brasília: Ministério das Cidades, 2014. Arquivo digital do curso.

[12]ROLNIK, R. (Coord.) Proposta: Ferramentas para avaliação da inserção urbana dos empreendimentos do PMCMV. CHAMADA MCTI/CNPQ/MCIDADES Nº 11/2012. São Paulo – SP. 2014

[13]ROLNIK, R. (Coord.). Inserção urbana no PMCMV e a efetivação do direito à moradia adequada: uma avaliação de sete empreendimentos no estado de São Paulo. IN: AMORE, C. S.; RUFINO, M. B. C; SHIMBO, L. Z. (Orgs.). MINHA CASA... E A CIDADE?Avaliação do Programa Minha Casa Minha Vida em seis estados brasileiros. Rio de Janeiro: Letra Capital, 2015., p. 391 - 416.

[14]SÃO JOÃO DEL REI, Prefeitura Municipal de (2010). PLANO LOCAL DE HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL (PLHIS). 2010. Arquivo digital.

[15]SHIMBO, L. HABITAÇÃO SOCIAL, HABITAÇÃO DE MERCADO: a confluência entre Estado, empresas construtoras e capital financeiro. Tese (Doutorado em Arquitetura e Urbanismo). 2010. São Carlos: Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo/USP, 2010.

[16]SPOSITO, M. E. B. Segregação socioespacial e centralidade urbana. IN: VASCONCELOS, Pedro de Almeida; CORRÊA, Roberto Lobato; PINTAUDI; Silvana Maria (orgs). A CIDADE CONTEMPORÂNEA: segregação espacial. São Paulo: Contexto, 2013. P.61-93.

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