Inseminação e Fecundação Artificial
Introdução
Para podermos compreender a análise feita pela Igreja a respeito da inseminação e fecundação artificial e a respeito da manipulação genética, faz-‐se necessário o esclarecimento sobre: • Homem • Matrimônio • Embrião Humano
O Homem
Definição (1)Imagem viva de Deus -‐ Aquele que governa o Universo (2)
Querido pelo seu Criador como rei e senhor -‐ semelhante ao Soberano do Universo (3)
Chamado a participação especial do amor e poder de Deus Criador, mediante uma cooperação livre e responsável na transmissão do dom da vida humana. "Sede fecundos, multiplicai-‐vos..."Gn 1, 28
Direitos do homem
A paz reduz-‐se ao respeito dos direitos invioláveis do homem (4)
Todo o programa seja social, econômico, político ou cultural, mesmo que de ideologias opostas quanto à concepção do mundo, deve sempre, em primeiro lugar, colocar o homem, com seus direitos objetivos e invioláveis (5). A Organização das Nações Unidas, tem o objetivo de definir e estabelecer tais direitos.
Entre estes direitos insere-‐se, e justamente, o direito à liberdade religiosa ao lado do direito da liberdade de consciências, por isso faz-‐se necessário afirmar que o homem é livre para aderir e professar a alguma crença. Crer, por sua própria natureza, é um ato voluntário do ser humano remido pelo Cristo Salvador e chamado por ele à adoção filial (6).
O Concílio Vaticano II considerou necessário elaborar uma declaração sobre este tema. Este documento intitula-‐se "Dignitatis humanae", onde a liberdade do ato de fé é defendida.
Concluimos então que:
• Os direitos do homem são invioláveis.
• É chamado a participar do poder de Deus Criador.
• Qualquer programa deve considerar como seu primeiro fim os direitos do homem.
• homem é livre para aderir a crença que desejar.
Logo, se com liberdade aderimos a fé católica, devemos estar atentos e formarmo-‐nos, dentro de nossa fé, a respeito dos acontecimentos existentes no mundo de hoje.
O
Matrimônio
"Deus os abençoou e lhes disse: Sede fecundos, multiplicai-‐vos, enchei a terra e submetei-‐a" (Gn 1, 28)
O próprio Deus é o autor do matrimônio (7) O casamento não é uma instituição simplesmente humana. Nele, Deus "convida" homem e mulher a tornarem-‐se "uma só carne", para, assim, participarem de forma especial do seu amor e do seu poder de Criador, mediante a cooperação livre e responsável deles na transmissão do dom da vida humana. A tarefa fundamental da família é realizar, através da história, a benção originária do Criador, transmitindo a imagem divina pela geração de pessoa a pessoa (dom). Trata-‐se pois de uma certa participação da pessoa humana no domínio de Deus que manifesta também a específica responsabilidade que lhe está confiada no referene à vida propriamente humana.
A pessoa humana deve ser acolhida no gesto de união e de amor dos seus pais; a geração de um filho deverá ser o fruto da doação recíproca que se realiza no ato conjugal, com o qual os esposos cooperam como servos e não como donos, na obra do Amor Criador. A origem de uma pessoa humana é, na realidade, o resultado de uma doação. (8)
Considerações
É importante conscientizarmo-‐nos que a fecundidade do amor conjugal não se restringe somente à procriação dos filhos, alarga-‐se e enriquece-‐se com todos os frutos da vida moral, espiritual e sobrenatural que o pai e a mãe são chamados a doar aos filhos e, através dos filhos, à Igreja e ao mundo.
Não se deve esquecer que o filho não é algo devido, mas um DOM. O dom mais precioso do matrimônio. O filho não pode ser considerado como objeto de propriedade, a que conduziria o reconhecimento de um pretenso "direito ao filho."
O Embrião Humano
"Antes mesmo de te modelar no ventre materno, eu te conheci; antes que saísses do seio, eu te consagrei." Jr 1, 5
A existência de cada indivíduo, desde as suas origens, obedece ao desígnio de Deus, está no plano de Deus.
Até a época recente estava em vigor a teoria do filósofo grego Aristóteles (322 a.C.); a infusão do princípio vital humano (ou alma humana) ocorreria 40 dias após a fecundação do óvulo no caso de menino e 80 dias no caso de menina.
Atualmente esta teoria está ultrapassada, pois, após experiências científicas, não resta dúvida de que, por ocasião da fecundação do óvulo, se dá a implantação da alma humana pois o zigoto, ainda que constituído por uma única célula,
produz imediatamente proteínas e enzimas humanas, não de outra espécie; é um organismo vivo pertencente à espécie humana. A experiência
científica não permite dizer que um ser irracional se torna racional por evolução.
O embrião é uma pessoa humana. O que caracteriza um ser humano é a unidade entre o seu corpo e aquilo que o anima, a sua alma. O ser humano, enquanto tal, existe a partir do momento em que sua alma une-‐se a seu corpo. A concepção marca este momento, pois, antes de sua fecundação, havia apenas uma potência passiva de vida com o espermatozóide e o organismo, diferente do anterior. E, mais do que um simples organismo, já está programado pela carga genética a ter determinadas características que o diferenciarão dos demais indivíduos. Não é
mais uma potência de vida, mas é um ser humano em ato. Não há saltos de qualidade entre um embrião e uma pessoa com trinta anos. Isto não quer
dizer que o corpo de um homem que atinge 30 anos é igual ao seu corpo quando era embrião, mas sim, que foi sempre o mesmo qualitativamente. A diferença está apenas no tempo de desenvolvimento. Da mesma forma, uma criança não é menos humana do que um adulto, apenas está num estágio diferente de crescimento.
Outro ponto fundamental é que o ser humano é racional. Dado que os embriões não têm cérebro, alguns ousam afirmar que estes não são humanos. A resposta para tal problema é simples: apesar de necessária, esta faculdade não precisa estar atuante. A razão, característica própria da alma humana, muitas vezes torna-‐se impedida de manifestar-‐se no sujeito por diversos fatores: falta de um sistema nervoso, mutações congênitas, acidentes automobilísticos, etc. Mas estes sujeitos, que não manifestam esta particularidade, não são excluídos de serem seres humanos, pois possuem o princípio vital único, que é alma espiritual. Um indivíduo não é pessoa porque se manifesta como pessoa (consciência, comunicação, indivisibilidade, sentimentos, etc), mas se manifesta assim porque é pessoa. Prova disso são os deficientes mentais e pacientes em coma, que apesar de não poderem se manifestar como pessoas, continuam sendo considerados humanos.
Dom Geraldo Majela Agnelo, arcebispo de Salvador e presidente da CNBB, no documento "Em defesa da vida humana" de 18/08/2004 afirma:
"um embrião não é um grumo de células, mas um indivíduo da espécie humana, e não é necessário partilhar uma visão cristã para compreender iso... Existindo uma sequência do DNA típica e exclusivamente humana, cada ser que a possui pertence à humanidade e é um ser humano. E se é um ser humano, é uma pessoa, possui subjetividade jurídica. E se de pessoa se trata, devem ser-‐lhe reconhecidos os direitos fundamentais das outras pessoas, e entre estes, o direito à vida e à integridade física."
Inseminação e Fecundação Artificial
Há dois métodos de fecundação artificial:
Fecundação artificial heteróloga
: esta é a técnica realizada utilizando oóvulo ou o espermatozoide de apenas um membro do casal. O outro é obtido de um doador.
A posição da Igreja católica é extremamente definida a este respeito. Ela afirma que tal técnica provoca uma dissociação do parentesco pela intervenção de uma pessao estranha ao casal, o que lesa o direito da criança de nascer d eum
pai e uma mãe conhecidos dela e ligados entre si pelo casamento. Além
disso tal técnica também trai "o direito exclusivo de se tornar pai e mãe
somente um por meio do outro."
Fecundação artificial homóloga
: o óvulo e o espermatozóides utilizados nafecundação são os do próprio casal, porém a fecundação é feita sob a intervenção médica.
A posição da Igreja também é bem definida a este respeito. A Igreja coloca tal técnica como moralmente inaceitável pois dissocia o ato sexual do ato
procriador. O catecismo da Igreja escreve: "O ato fundante da existência dos
filhos já não é um ato pelo qual duas pessoas se doam uma à outra, mas um ato que "remete a ida e a identidade do embrião para o poder dos médicos e biólogos, e instaura um domínio da técnica sobre a origem e a destinção da
pessoa humana. Tal relação de dominação é por si contrária à dignidade e à
igualdade que devem ser comuns aos pais e aos filhos. A procriação é moralmente privada de suas perfeição própria quando não é querida como o fruto do ato conjugal, isto é, do gesto específico da união dos esposos... Somente o respeito ao vínculo que existe entre os significados do ato conjugal e o respeito pela unidade do ser humano permite uma procriação de acordo com a dignidade da pessoa."(9)
Há ainda outras razões para a Igreja considerar moralmente inaceitável tais atos:
Produção "excedente" de embriões: No documento de 15 de outubro de 2000
do Pontifício Conselho para a família é abordado ainda uma séria questão que envolve ambos os tipos de fecundação: "frequentemente se produzem embriões
mulher, e estes embriões, geralmente chamados "excedentes", são depois destruídos ou utilizados para pesquisas. Com esta maneira de proceder, a vida e amorte acabam submetidas às decisões do homem que, dessa forma, vem a se constituir doador arbitrário de vida ou de morte."
Seleção de "embriões": Derivado da questão acima temos que ao se produzir
embriões "excedentes" o homem torna-‐se o doador da vida pois há um número limite de embriões a serem "implantados" no ventre materno (4 a 6). Ao fecundar, então, óvulos excedentes, são criados embriões que por serem considerados "menos potentes" são descartados ou conservados para novas tentativas de inseminação ou até mesmo para doar a "candidatas estéries."
Outra possibilidade de inseminação que a Igreja analisa é o empréstimo de útero, considerando tal ato moralmente inaceitável pelas mesmas razões acima citadas.
A recomendação da Igreja para os esposos que, depois de terem esgotado os recursos legítimos da medicina, sofrerem de infertilidade, é de unir-‐se à Cruz do Senhor, fonte de toda fecundidade espiritual. Podem também mostrar sua generosidade adotando crianças desamparadas ou prestando relevantes serviços em favor do próximo. (10) (11)
A Igreja porém afirma que "As pesquisas que visam diminuir a esterilidade humana devem ser estimuladas, sob a condição de serem postas " a serviço da pessoa humana, de seus direitos inalienáveis, de seu bem verdadeiro e integral, de acordo com o projeto e a vontade de Deus." (12)
Artigo escrito por Luciana Graff durante o curso de Teologia Moral
(1) Encíclica Evangelium Vitae = "Imagem viva de Deus, o homem foi querido pelo seu Criador como rei e senhor. "Deus fez o homem, escreve S. Gregório de Nissa, de forma tal que pudesse desempenhar a sua função de rei da terra. (...) O homem foi criado à imagem d'Aquele que governa o universo. Tudo indica que, desde o princípio, a sua natureza está marcada pela realeza. (...) Assim a natureza humana, criada para ser senhora das outras criaturas, à semelhança do Soberano do universo, foi estabelecida como sua imagem viva, participante da dignidade do divino Arquétipo."
Documento "Os filhos, primavera da família e da sociedade" do Pontifício Conselho para a família de 15 de outubro de 2000 = "Com a criação do homem e da mulher à sua imagem e semelhança, Deus coroa e leva à perfeição a obra de suas mãos: Ele chama-‐os a uma participação especial do seu amor e do seu poder de Criador e de Pai, mediante uma cooperação livre e responsável deles na transmissão do dom da vida humana."
(2) Gn 1, 27 (3) Gn 1, 28 (4) Cf Redemptor Hominis (5) Cf Redemptor Hominis
(6) Cf Dignitatis humanae -‐ Concílio Vaticano II. "Um dos principais pontos da fé católica, consignado na palavra de Deus e constantemente lembrado pelos padres da Igreja é que o ser humano tem o dever de responder a Deus na liberdade, acreditando. Ninguém deve ser levado a crer contra a vontade. Crer, por sua própria natureza, é um ato voluntário do ser humano remido pelo Cristo Salvador e chamado por ele à adoção filial. Ninguém pode aderir a Deus senão quando, atraído por ele, crê, isto é, acolhe-‐o num ato livre e razoável. Por si mesma a fé exclui, em matéria religiosa, todo gênero de coação por parte dos seres humanos. Por isso a liberdade religiosa cria um ambiente extremamente favorável para que os seres humanos sejam convidados a abraçar livremente a fé cristã e a confessá-‐la em toda sua vida."
(7) CCE
(8) Cf "Donum Vitae (9) CCE 2377
(10) CCE 2379
(11) "Que me darás?" Pergunta Abrão a Deus. "Continuo sem filho..."(Gn 15, 2) "Faz-‐me ter filhos também, ou eu morro", disse Raquel a seu marido Jacó (Gn 30,1)