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As Famílias Não Clínicas do Médio Alto Uruguai: Estrutura e Funcionamento

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Academic year: 2021

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XI Salão de Iniciação Científica

PUCRS

As Famílias Não Clínicas do Médio Alto Uruguai: Estrutura e

Funcionamento

Geliandra Rizzotto Martinelli1, Jane Marise Conterno Aquino1 (orientador)

1

Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões, URIFW

Resumo

A pesquisa intitulada “As Famílias Não Clínicas do Médio Alto Uruguai: Estrutura e Funcionamento”, descreve a constituição e o funcionamento em termos de coesão adaptabilidade e comunicação, das famílias não clínicas que habitam a região do Médio Alto Uruguai. Na realização da pesquisa foram entrevistadas 1.406 famílias (749 do meio urbano e 657 do meio rural). Utilizou-se os seguintes instrumentos: ficha de dados sócio-demográficos, Genograma (proposto por McGoldrick), Questionário para Avaliação da Estrutura e Funcionamento Familiar - FACES III de David Olson e parte da escala ENRICH que avalia a comunicação do casal. Os resultados da pesquisa apontam que em termos de coesão, o nível encontrado é o da família conectada e em termos de adaptabilidade, o estilo mais encontrado é o caótico. Quanto à comunicação do casal, os resultados encontrados assinalam uma boa comunicação. Não foram encontradas diferenças significativas em termos de coesão, adaptabilidade e comunicação, entre as famílias da zona urbana e as famílias da zona rural. A correlação entre coesão e comunicação, utilizando o coeficiente “Pearson”, mostra-se relativamente fraca e entre adaptabilidade e comunicação não há correlação.

Palavras chaves: famílias não clínicas – constituição – funcionamento. Introdução

A presente pesquisa teve como objetivo descrever o funcionamento das famílias não clínicas do Médio Alto Uruguai, em termos de coesão, adaptabilidade e comunicação.

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A família, como núcleo constituído e constituinte do ser humano, é um objeto de estudo de diversas ciências, como, por exemplo, a psicologia. O interesse da psicologia no estudo sobre família decorre da crença de que a constituição do sujeito resulta das influências ambientais entre as quais se destaca a família. Os primeiros anos de vida do sujeito são fundamentais na determinação de suas futuras relações com o outro, consigo mesmo e com o mundo, assim, considerando-se que estes primeiros anos são vividos, na maior parte do tempo, no seio família, este espaço de constituição passa a ser importante objeto de estudo daqueles que se interessam pela compreensão e tratamento do ser humano.

Hoje se apresentam novas e diferentes configurações familiares. A diversidade de estrutura e de modelos familiares é evidente, quer numa perspectiva transcultural quer numa mera analise de todos os modelos predominantes no nosso contexto (GIMENO, 2001).

A teoria sistêmica define família como um sistema, ou seja, “[...] uma unidade formada por membros que interagem entre si, havendo entre estes determinados vínculos e mantendo-se certas transações.” (GIMENO, 2001, p. 41)

Segundo Magagnin, Körbes & Bones (2002), a família enfrenta situações, ao longo do ciclo vital, denominadas crises evolutivas que requerem uma constante adaptação.

A capacidade de coesão e de adaptabilidade da família são dois parâmetros básicos do funcionamento familiar que foram apontados por Olson e cols. (1985), por Falceto (1997) e por Magagnin, Körbes, Dib, Daudt, Oliveira e Jacques (2000), e que são aceitos por quase todas as escolas de psicoterapia familiar, tanto em nosso meio como internacionalmente (MAGAGNIN, KÖRBES & BONES, 2002).

Por coesão entende-se como o vinculo emocional que os membros têm entre si, ou seja, grau em que os membros da família são separados ou conectados em relação ao grupo familiar.

Adaptabilidade familiar refere-se à flexibilidade do sistema para promover mudança e se organizar, ou seja, é a capacidade de um sistema familiar mudar sua estrutura de poder os papeis interacionais e as regras da relação em resposta ao estresse situacional ou desenvolvimental.

A comunicação acredita-se que é uma das dimensões fundamentais de qualquer sistema, sendo relevante para o sistema familiar (GIMENO, 2001, p. 203).

Neste estudo buscou-se pesquisar famílias não clínicas, ou seja, famílias em que nenhum membro tem ou teve diagnostico, nem tratamento devido a dificuldades psicológicas que interfiram no seu rendimento ou bem-estar social e pessoal.

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Este estudo reforça a idéia de muitos autores e pesquisadores sobre a família os quais acreditam que a estrutura e o funcionamento familiar tem um papel importante na vida do sujeito, pois é base das relações. Osório (1996) citado por Pratta e Santos (2007) afirma que a família exerce um papel importante na vida dos indivíduos, sendo um modelo ou um padrão cultural que se apresenta de formas diferenciadas nas várias sociedades existentes e que sofre transformações no decorrer do processo histórico-social. Assim, a estruturação da família está intimamente vinculada com o momento histórico que atravessa a sociedade da qual ela faz parte, uma vez que os diferentes tipos de composições familiares são determinados por um conjunto significativo de variáveis ambientais, sociais, econômicas, culturais, políticas, religiosas e históricas.

Metodologia

Neste estudo foram entrevistadas 1.406 famílias (749 do meio urbano e 657 do meio rural), utilizando-se os seguintes instrumentos: genograma (desenho da composição familiar), ficha de dados sócio-demografico e as escalas: ENRICH (avalia o nível de comunicação do casal) e FACES III (avalia os níveis de coesão e adaptabilidade).

Sendo que o número de sujeitos a serem entrevistados era bastante grande, optou-se por treinar pesquisadores (psicólogos, assistentes sociais, enfermeiros, estudantes de psicologia e serviço social) para que realizassem a coleta de dados nos municípios em que residiam. Este treinamento foi coordenado pela pesquisadora responsável e pela bolsista de pesquisa. Tendo por objetivo garantir que todos os pesquisadores utilizassem a mesma metodologia na abordagem e entrevista dos sujeitos.

Para a coleta de dados todas as famílias foram convidadas a participar da pesquisa a partir da apresentação do pesquisador em suas residências. A indicação destas famílias respeitando-se os critérios de seleção do estudo foi feita pelos alunos do curso de psicologia e serviço social, psicólogos, enfermeiros e assistentes sociais dos municípios em questão. Após os membros da família concordarem em participar e ter conhecimento do estudo assinaram o documento através do qual afirmam concordar com o uso em pesquisa, dos dados colhidos (consentimento informativo). Inicialmente a entrevista acontecia com um ou mais membros da família, a fim de esboçar o genograma e preencher a ficha de dados sócio-demográficos. Logo após o casal era convidado a responder a escala ENRICH e dois ou mais membros da família maiores de 16 anos eram convidados a preencher o FACES III.

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A análise dos resultados deu-se a partir da coleta de dados. Concluída a coleta, que perdurou por um ano e meio os dados foram sumarizados e mapeados, sendo colocados em planilha específica do Excel e analisados a partir de estatística descritiva, ou seja, realizou-se a organização e a descrição dos dados mediante a construção e observação de tabelas e gráficos.

A análise dos resultados da constituição familiar baseou-se na descrição do genograma, através do qual pode-se conhecer o tipo de casamento, tempo de união, divórcio e recasamento, números de filhos, idades dos membros da família, entre outros dados. A ficha de dados sócio-demográficos nos deu informações a respeito do local de moradia, escolaridade, profissão, renda per capita, origem e religião dos entrevistados.

As escalas ENRICH e FACES III nos permitem avaliar os níveis de coesão, adaptabilidade e comunicação familiar.

Resultados e Discussão

O objetivo deste estudo foi ampliar o conhecimento e a compreensão sobre a estrutura e funcionamento das famílias não clínicas na região do Médio Alto Uruguai, em termos de coesão, adaptabilidade e comunicação familiar.

A partir dos resultados encontrados observou-se que as famílias não clínicas do Médio Alto Uruguai estão constituídas assim: renda per capita baixa, chegando a ser inferior a 1 salário até 2 salários mínimos; em relação a profissão se destaca a agricultura, seguida de empresários, funcionários públicos, professores, motoristas, etc. Em relação a escolaridade, o nível mais encontrado é o fundamental incompleto, sendo que as mulheres possuem níveis de escolaridade superiores ao dos homens no que se refere a ensino superior; a religião predominante é a católica, seguida da evangélica; em relação à origem, a italiana predomina, seguida da brasileira e da alemã. O tipo de união mais frequente é a formal, casamento civil e religioso, prevalecendo à união há mais de 10 anos, sendo na grande maioria dos casos a família nuclear quem habita na casa, constituída de 3 a 4 pessoas, com filhos da relação atual; em relação às idades dos pais o que predomina são idade acima de 20 anos.

Nesta amostra não são comuns filhos gêmeos, filhos adotivos, separações, recasamentos, filhos depois dos recasamentos e famílias sanfona.

O funcionamento na maioria das famílias investigadas nesta amostra apresenta em termos de coesão, o nível conectada, ou seja, famílias com um funcionamento positivo e saudável em relação ao grau de proximidade e envolvimento entre os membros da família.

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Consideram-se saudáveis os níveis intermediários (conectada e separada) onde não se encontra um desligamento acentuado dos membros da família a ponto de não haver compromisso mútuo ou apego entre estes que acabam por desenvolver projetos de vida totalmente independentes; nem, o excesso de coesão da família emaranhada que impede a individuação e o desenvolvimento de uma identidade pessoal de seus membros que ficam superidentificados com a família (GIMENO, 2001).

Em relação à adaptabilidade o nível mais encontrado na amostra foi o caótico, ou seja, existindo muita flexibilidade nas regras, poderes e fronteiras que organizam a convivência familiar saudável, deste modo, essa excessiva flexibilidade acaba por não respeitar as mudanças do ciclo vital de cada individuo.

A comunicação (em termos de expressão de sentimentos, empatia e satisfação na forma de se comunicar) encontrada é positiva, muito boa, sendo o nível de satisfação o que mais aparece nesta amostra, no entanto observaram-se algumas dificuldades dos casais em se colocar no lugar do outro. Segundo Falcone (2001) citado por Balen e Trautmann (2008) a empatia é uma habilidade da comunicação, que inclui componentes cognitivos (interpretar e compreender os sentimentos do outro), afetivos (experenciar a emoção do outro) e comportamentais (expressar compreensão e sentimentos relacionados à demanda do outro). Sendo que esta ocorre quando se consegue entender e comunicar ao outro seus sentimentos. A comunicação é um meio que se tem para conhecer as pessoas, dando a possibilidade para entender, compreender e se colocar no lugar do outro.

As correlações entre as variáveis coesão e adaptabilidade apontaram uma correlação linear relativamente fraca (coeficiente de Person -0,3), ou seja, existe uma ligação mesmo que fracamente entre elas. E entre as variáveis adaptabilidade e comunicação, não apontou nem uma correlação linear entre elas (coeficiente de Person 0,06), nada podendo se concluir (CRESPO, 1997, p. 152).

Não foram encontrados nesta amostra diferenças em relação ao nível de coesão, adaptabilidade e comunicação entre as famílias da zona urbana e rural, se pensam que estas semelhanças possam ser decorrentes da mínima diferença entre as oportunidades de acesso, hábitos e cultura destas regiões.

Conclusão

A família é um processo contínuo que sofre mudanças no seu funcionamento em cada etapa do ciclo vital. Assim, o equilíbrio familiar é representado pela estrutura e

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funcionamento familiar, pois a passagem da família pelas fases do ciclo vital representa um continue permanente de mudanças, deste modo à base familiar precisa estar solida para que as mudanças necessárias e a adaptação não sejam motivos de crises familiares. A busca de um entendimento da estrutura e funcionamento familiar das famílias da região do Médio Alto Uruguai representa uma procura das áreas sociais e humanas da região em descobrir as particularidades destes sujeitos presentes em um modelo de sistema familiar. A descoberta de um sistema familiar com um bom vínculo emocional e um contato positivo entre os membros não nos espantou. A comunicação satisfatória para os membros apesar de existir algumas dificuldades no que se refere a se colocar no lugar do outro, demonstra que o dialogo existe de que em alguns momentos satisfaz as necessidades dos membros. O que nos surpreendeu foi a excessiva flexibilidade das famílias em adaptar-se as transformações, relacionadas a organização, poder e fronteiras.

A partir dos resultados obtidos e respondendo a um dos objetivos se pensa em propor intervenções a fim de trabalhar a adaptabilidade das famílias e a comunicação empática, já que estas foram às dificuldades apresentadas pelas famílias na região do Médio Alto Uruguai. Segundo Gimeno (2001) a modificação do estilo de comunicação incide na estrutura familiar, sendo o estilo de comunicação uma área relevante de intervenção familiar. Entende-se dessa forma que para um sistema familiar apresentar boa comunicação este deve inclui empatia, compreensão mutua e a expressão de afetos. Assim, os meios e o estilo de comunicação familiar facilitarão ou não a negociação, a aproximação e o sentimento de pertença entre os membros da família.

Em relação à possibilidade de se trabalhar a adaptabilidade familiar se pensa na flexibilidade do sistema para promover mudança e se organizar, a fim do grupo familiar se adaptar as transformações, tanto àquelas próprias do ciclo vital, quanto àquelas resultantes das revoluções culturais, econômicas e sociais.

Na possibilidade de seguir a pesquisa dando continuidade aos trabalhos, observou-se na analise realizada que seria interessante investigar as modificações na coesão e na adaptabilidade ao longo do ciclo vital e relacionar a origem da família com os níveis de coesão e adaptabilidade.

Referências

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MAGAGNIN, Cirilio; KÖRBES, Jussara Maria; BONES, Veridiana de Ramos. Família com adultos jovens, adolescentes e crianças: um estudo sobre funcionamento e satisfação familiar. Aletheia, Canoas, n.15,p.15-25, jun. 2002.

PRATTA, Elisângela Maria Machado; SANTOS, Manoel Antonio dos. Família e adolescência: a influência do

contexto familiar no desenvolvimento psicológico de seus membros. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722007000200005&lang=pt>. Acesso em: 20 maio 2009.

CRESPO, Antônio Artnot. Estatísticas Fácil. Ed 15º. São Paulo: Saraiva, 1997.

BALEN, Vanessa; TRAUTMANN, Kamila Quadros. A Família Não Clinica do Médio Alto Uruguai: Estrutura e Funcionamento. Frederico Westphalen, 2008. Tese ( A Relação Entre os Anos de Casamento e a Comunicação Conjugal)- Departamento de Ciências Humanas, Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.

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