OFERTA CURRICULAR – 2016/2
Professora Responsável: Fabiana de Amorim Marcello (famarcello@gmail.com)
1.
DISCIPLINA:(X) Seminário Avançado:
Título: ‘Da morte do sujeito à invenção de si’: Foucault e a problemática da escrita Nº Créditos: 3
2.
VAGAS DESTINADAS A:(X) Alunos Regulares do PPGEDU e de outros PPGs/UFRGS: Nº vagas: 20 (X) Alunos PEC: Nº vagas: 10
( ) Disciplina restrita somente a orientandos
3.
HORÁRIO DA DISCIPLINA:Dia da semana: Quarta-feira Horário: 17h30-20h
Periodicidade: Semanal (X) Quinzenal ( ) Data de início das aulas: 17 de agosto
4. SÚMULA/EMENTA: Súmula/ementa:
Longe de se apresentar como uma discussão tangencial ou marginal, o tema da escrita atravessou os trabalhos de Foucault das mais diferentes formas e partindo de distintos marcadores teórico-metodológicos. Assim, neste Seminário propõe-se o estudo de dois momentos da obra do filósofo em que esse tema se fez marcante: por meio dos textos sobre literatura (final da déc. de 60 e início da déc. de 70) e daqueles relacionados com a escrita de si (déc. de 80). Mais do que isso, o Seminário busca articular dois pressupostos: 1) o de que o conceito de escrita de si (situado no rol de práticas por meio das quais o sujeito exerce força sobre si mesmo, opera sobre si mesmo em direção a uma estética da existência), pode ser hoje atualizado e repensado frente às urgências que o presente nos impõe – tal como, aliás, outros autores do campo educacional têm realizado (AQUINO, 2011; Ó e AQUINO, 2014); 2) o de que a discussão foucaultiana sobre a linguagem literária, mesmo tendo sido pouco sistematizada pelo autor, se mostra extremamente válida e promissora no que concerne a este trabalho.
Neste sentido, a relação entre os trabalhos foucaultianos sobre a literatura e aqueles que se dirigem para a estética da existência (notadamente, para a escrita de si) nos lança a um empreendimento desafiador, que implica percorrer a linha que marca o apagamento do sujeito proposto pelos primeiros e a criação de si operada pelos segundos. Se entendemos que a escrita de si se efetiva como uma operação de si por si mesmo, na busca de o sujeito “desprender-se” de si (ou seja, ser diferente do que é), entende-se que assumir a linguagem como distante da égide da razão e de uma função representativa, se faz essencial – daí, portanto, a relação entre estes dois grupos de discussões foucaultianas. Assim compreendida, a escrita (de si) não supõe a confirmação de um sujeito a sua palavra, mas, antes, aquilo que a todo o tempo afasta o sujeito do que ele é, justamente, em direção à constituição permanente, paulatina e imprevisível de si mesmo.
Objetivos:
- Relacionar as discussões foucaultianas sobre os temas da escrita (de si) e da literatura – sem, com isso, sugerir um exercício de equivalência ou imediata complementariedade entre tais discussões, mas sim de pensamento e de uma (possível) articulação conceitual.
- Discutir os textos foucaultianos voltados ao tema da literatura, considerando o lugar do sujeito na dinâmica com a/da linguagem, com o imperativo da representação e com o limite/finitude (morte do sujeito).
- Discutir os textos foucaultianos voltados ao tema das práticas de si (com atenção especial à escrita de si), considerando o lugar do sujeito na dinâmica com o outro, com a verdade e com a produção de si mesmo.
Programa (conteúdo): Escrita e literatura em Foucault. Escrita de si e estética da existência. A relação (e distinção) entre conhecimento, saber e verdade na/da linguagem. Produção/Apagamento do sujeito.
Método de trabalho (principais atividades):
Leitura e discussão de textos teóricos foucaultianos (e de seus comentadores) sobre os temas da
literatura, da escrita (de si) e, em ambos, o lugar do sujeito e da linguagem. Leitura e discussão de um
conjunto de textos acadêmicos e literários, selecionados com foco nas possibilidades que apontam para pensar o sujeito e o “si mesmo” hoje, na medida em que articulados às discussões centrais do Seminário.
Procedimentos e/ou critérios de avaliação:
Leitura dos textos teóricos. Participação em aula, de modo a evidenciar compreensão sobre os textos, bem como das relações mais amplas que eles estabelecem entre si. Assiduidade e pontualidade. Elaboração de prova escrita, ao final do Seminário.
Bibliografia:
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. Manjar Foucault ou o relato das relações possíveis com um pensamento. In: BARBALHO, José Ivamilson S. (Org.). Michel Foucault: história, ética, subjetivação. Maceió: EDUFAL, 2015, p. 17-44.
AQUINO, Julio Groppa. A escrita como modo de vida: conexões e desdobramentos educacionais.
Educação e Pesquisa (USP), v. 37, p. 641-656, 2011. Texto disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ep/v37n3/a13v37n3.pdf
ALMEIDA, Leonardo. O conceito foucaultiano de literatura. Filosofia (Unisinos), n.9, vol, 3, p. 269-280,
set/dez. 2008. Texto disponível em:
http://revistas.unisinos.br/index.php/filosofia/article/view/5364/2622 BLANCHOT, Maurice. O espaço literário. Editora Rocco, Rio de Janeiro, 2011a.
BLANCHOT, Maurice. A linguagem da ficção. In: _____. A parte do fogo. Editora Rocco: Rio de Janeiro: 2011b, p. 82-93.
BLANCHOT, Maurice. A literatura e o direito à morte. In: _____. A parte do fogo. Editora Rocco: Rio de Janeiro: 2011c, p. 309-351.
BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita. A palavra plural. São Paulo: Escuta, 2010a. BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita. A experiência limite. São Paulo: Escuta, 2007. BLANCHOT, Maurice. A conversa infinita. A ausência de livro. São Paulo: Escuta, 2010b. BLANCHOT, Maurice. O livro por vir. São Paulo: Martins Fontes, 2005.
CANDIOTTO, Cesar. Subjetividade e verdade no último Foucault. Trans/Form/Ação. 2008, vol.31, n.1, pp. 87-103. Texto disponível em: www.scielo.br/pdf/trans/v31n1/v31n1a05.pdf
CASTELO BRANCO, Guilherme. Michel Foucault: a literatura, a arte de viver. In: HADDOCK-LOBO, Rafael (Org.). Os filósofos e a arte. Rio de Janeiro: Rocco, 2010, p. 315-332.
FISCHER, Rosa Maria Bueno. Escrita acadêmica: arte de assinar o que se lê. In: COSTA, Marisa Vorraber; BUJES, Maria Isabel Edelweiss (Orgs.) Caminhos investigativos III: riscos e possibilidades de pesquisar nas fronteiras. Rio de Janeiro: DP&A, 2005. p. 117-140.
FOUCAULT, Michel. O belo perigo. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016.
FOUCAULT, Michel. A grande estrangeira. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2016. FOUCAULT, Michel. A coragem da verdade. São Paulo: Martins Fontes, 2011. FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
FOUCAULT, Michel. A escrita de si. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004a, p. 144-162.
FOUCAULT, Michel. O cuidado com a verdade. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004b, p. 240-251.
FOUCAULT, Michel. O uso dos prazeres e as técnicas de si. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004c, p. 192-217.
FOUCAULT, Michel. A ética do cuidado de si como prática da liberdade. _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004d, p. 264-288.
FOUCAULT, Michel. Verdade, poder e si mesmo. In: _____. Ditos e Escritos V. Ética, sexualidade e política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004e, p. 294-300.
FOUCAULT, Michel. Prefácio à transgressão. In: ______. Ditos & Escritos III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2001a, p. 28-46.
FOUCAULT, Michel. A linguagem ao infinito. In: ______. Ditos & Escritos III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2001b, p. 47-59.
FOUCAULT, Michel. O Mallarmé de J.-P. Richard. In: ______. Ditos & Escritos III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2001c, p. 183-193.
FOUCAULT, Michel. O pensamento do exterior. In: ______. Ditos & Escritos III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2001d, p. 219-242.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor? In: ______. Ditos & Escritos III. Estética: literatura e pintura, música e cinema. Rio de Janeiro: Forense, 2001e, p. 264-299.
FOUCAULT, Michel. Linguagem e literatura. In: MACHADO, Roberto. Foucault, a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000, p. 137-174.
FOUCAULT, Michel. O “não” do pai. In: _____. Ditos & Escritos I. Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999a, p. 169-183.
FOUCAULT, Michel. A loucura, a ausência da obra. In: _____. Ditos & Escritos I. Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999b, p. 190-198. FOUCAULT, Michel. Loucura, literatura, sociedade. In: _____. Ditos & Escritos I. Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999c, p. 210-134. FOUCAULT, Michel. A loucura e a sociedade. In: _____. Ditos & Escritos I. Problematização do sujeito: psicologia, psiquiatria e psicanálise. Rio de Janeiro, Forense Universitária, 1999d, p. 235-242.
FOUCAULT, Michel. A história da loucura na idade clássica. São Paulo: Editora Perspectiva, 1997. FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Loyola, 1996.
GROS, Frédéric. Da morte do sujeito à invenção de si (experiências de pensamento e exercícios espirituais estoicos a partir de Michel Foucault). In: NOVAES, Adauto (Org.). Mutações: a experiência do pensamento. São Paulo: Edições Sesc, 2010a, p. 177-194.
GROS, Frédéric. Situação do curso. In: FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2010b.
HADOT, Pierre. Exercícios espirituais. In: _____. Exercícios espirituais e filosofia antiga. São Paulo: É Realizações, 2014a, p. 19-87.
HADOT, Pierre. Um diálogo interrompido com Michel Foucault. Convergências e divergências. In: _____. Exercícios espirituais e filosofia antiga. São Paulo: É Realizações, 2014b, p. 275-281.
HADOT, Pierre. Reflexões sobre a noção de “cultura de si”. In: _____. Exercícios espirituais e filosofia
antiga. São Paulo: É Realizações, 2014c, p. 291-300.
KLINGER, Diana. A escrita de si como performance. Revista Brasileira de Literatura Comparada
[ABRALIC], v. 12, p. 11-30, 2008. Texto disponível em:
www.abralic.org.br/downloads/revistas/1415542249.pdf
LINDON, Mathieu. Rue de Vaugirard. O que amar quer dizer. São Paulo: Cosac Naify, 2014, p. 63-156. LAGASNERIE, Geoffroy de. A última lição de Michel Foucault. São Paulo: Três Estrelas, 2013.
LEVY, Tatiana Salem. A experiência do Fora: Blanchot, Foucault e Deleuze. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 2003.
MACHADO, Roberto. Foucault, a filosofia e a literatura. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
MARCELLO, Fabiana de Amorim e FISCHER, Rosa Maria Bueno. Cuidar de si, dizer a verdade: arte, pensamento e ética do sujeito. Pro-Posições (UNICAMP), 2014, vol. 25, n. 2, p. 157-175. Texto disponível em: www.scielo.br/pdf/pp/v25n2/09.pdf
Ó, Jorge Ramos do e AQUINO, Julio Groppa. Em direção a uma nova ética do existir: Foucault e a experiência da escrita. Educação e Filosofia (UFU. Impresso), v. 28, p. 199-231, 2014. Texto disponível em: www.seer.ufu.br/index.php/EducacaoFilosofia/article/download/15010/15253
ORTEGA, Francisco. Amizade e estética da existência em Foucault. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
OUTRA TRAVESSIA. O fora em Blanchot. Revista de Literatura (UFSC), n. 18, 2014. Disponível em:
https://periodicos.ufsc.br/index.php/Outra/issue/viewIssue/N°18-%20o%20fora%20em%20Blanchot/Revista%20Outra%20Travessia%2018.pdf
RABINOW, Paul e DREYFUS, Hubert. A genealogia do indivíduo moderno como sujeito. In: _____.
Michel Foucault: uma trajetória filosófica, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1995, p. 185-201.
RIBEIRO, Cintya Regina. “Pensamento do fora”, conhecimento e pensamento em educação: conversações com Michel Foucault. Educação e Pesquisa (USP), 2011, vol. 37, n. 3, p. 613-628. Texto disponível: http://www.scielo.br/pdf/ep/v37n3/a11v37n3.pdf
SVENBRO, Jesper. A Grécia arcaica e clássica, a invenção da leitura silenciosa. In: CAVALLO, Guglielmo e CHARTIER, Roger (Orgs.). História da leitura no mundo ocidental (vol. 1). São Paulo: Ática, 1998, p. 41-69.