A
minha
mulher
meteu
os
miúdos
no
IRS dela.
E
agora?
Nas situações
de guarda
conjunta,
as
despesas
dos dependentes
só
podem constar duma
única
declaração
DANIELA TELES FERNANDES daniela.fernandes@ionline.pt
Muitos contribuintes continuam ater
dificuldades naaltura de preencher a
declaração de IRS. Paraos pais
divorcia-dos ou separadivorcia-dos, as dúvidas são ainda maiores. Saber qual dos progenitores tem odireito adeduzir asdespesas com
aeducação esaúde dos filhos quando o casal decide pôr termo à relação não é
tarefa fácil.
O código doIRS pode mostrar-se
pou-cojusto paraospais divorciados que par-tilham acustódia dos filhos. A actual lei
prevê que osencargos com os dependen-tesapenas sejam imputados auma
úni-ca declaração deIRS,
independentemen-te deter sido opai ouamãe o
responsá-vel pelas despesas.
O i consultou a opinião da Sérvulo &
Associados, que acredita ainda "existi-remalgumas arestas por limar" naactual lei. "As despesas de saúde edeeducação
dos filhos dependentes poderão ser
dedu-zidas àcolecta dos progenitores desde
que oNIFdecada um dos dependentes seja devidamente identificado na factu-ra/recibo correspondente, assim como nadeclaração derendimentos do
proge-nitor que os tiver a cargo."
Marco Martins édivorciado e,por par-tilhar acustódia do filho com aex-mulher,
afirma que aactual lei acaba por
pena-lizar sempre um dos pais. "Eu, por aca-so, mantenho uma boa relação com a
mãe do meu filho e,apesar de
partilhar-mos os encargos com ele, acordámos em
alternar anualmente entre nós quem
deduz asdespesas da criança." Todavia, alerta, omesmo pode não acontecer nos casos em queospais não têm uma
rela-ção saudável.
"Nas situações em que pais nãosedão bem, acredito que seja bem mais
com-plicado, pois a lei não protege quem
efec-tivamente paga ocolégio dos filhos e
quem assume as despesas de saúde."
DEDUÇÃO SIMULTÂNEA A Lei do
Orçamen-to de Estado para 2012
já
contempla apossibilidade de dedução simultânea. Nas situações de divórcio, separação de
pessoas ebens ou anulação de
casamen-to em que as responsabilidades
paren-tais sejam partilhadas, os progenitores poderão beneficiar da dedução à
colec-ta descolec-tas despesas. Neste caso, a
dedu-ção individual será limitada a50%.
Paraos pais divorciados ou separados
que não partilhem aguarda dos filhos, asregras mantêm-se: quem tem a
cus-tódia das crianças poderá deduzir à
colecta as despesas de saúde ede
edu-cação dos filhos dependentes, desde que
o
NIF
(número de identificação fiscal)de cada umdeles sejadevidamente
iden-tificado na factura/recibo correspon-dente, assim como na declaração de rendimentos do progenitor que os tiver
a cargo. Nocaso doprogenitor que não tem acustódia dos filhos, apenas
pode-rábeneficiar da dedução àcolecta das
importâncias respeitantes a pensões de alimentos decretadas por sentença judi-cial ou resultantes de acordo
homolo-gado nos termos civis. No entanto, oOE
para 2012 prevê o corte no
limite
de dedução. Até 2011era possível deduzir20% dos montantes pagos em pensão de alimentos até um limite mensal de 2,5 lAS
-
Indexante dos Apoios Sociais (1048,5 euros). No próximo ano, a dedu-ção com este encargo será limitada aum lAS, ou seja, o pai ou mãe
respon-sável pelo pagamento dapensão só
pode-rá deduzir 20% das importâncias pagas
em pensão de alimentos com um
limi-te de 419,22 euros por mês.
FILHOS MAIORES Atingir amaioridade
nem sempre é sinónimo de
indepen-dência financeira. Apesar de o
paga-mento deuma pensão de alimentos não
ser obrigatória por parte de um dos ex-cônjuges, muitas vezes as despesas com a saúde eeducação dos filhos continuam
a ser asseguradas por ambos. Contudo,
só beneficia da dedução desses
encar-gos quem continua apartilhar o domi-cílio fiscal com os filhos. Oartigo 13.° do Código do IRS prevê que os filhos maiores só podem integrar oagregado
familiar monoparental ou biparental
desde que tenham menos de 25 anos,
aufiram rendimentos inferiores ao
salá-rio mínimo nacional etenham frequen-tado nesse ano o
II.
5ano, o 12.9ano ouoensino superior.
mais justiça? Manuel Faustino,
ex-direc-tor dos Serviços de IRS, falou ao i,
con-siderando prematuro afirmar que a
per-missão de dedução simultânea traz mais equidade fiscal quando questionado sobre
amatéria.
"Emitir umjuízo devalor sobre se a
medida veio trazer mais justiça fiscal é
prematuro. Aliás, não deixa de ser
curio-soque a insistência na consagração de
uma solução deste tipo só tenha
subi-do de tom quando a dedução por
pen-sões dealimentos começou asofrer
cor-tes drásticos", defende. "Devendo os
documentos comprovativos serem
emi-tidos em nome dos menores enão pro-var-se quem efectivamente suportou o
respectivo encargo, nada parece impe-dir que deles se faça uma 'repartição' salomónica por forma amaximizar, no global, adedução."
Alguns pais com guarda conjunta são confrontados
com problemas na hora
de entregar asdespesas
com os filhos no IRS
Impostos
Citações
"No IRS,
pode
hoje dizer-se
que
a
família constituída
com
base
no
casamento
é
nitidamente
prejudicada
pelo
sistema
do
englobamento
obrigatório"
>"Não
sou
um
adepto
das
alterações
introduzidas
no
Código
do
IRS
em
matéria
de
permissão
de
dedução
simultânea
de
50%
de encargos
com
dependentes
por
•parte
de
pais
divorciados"
"Na
questão da
pensão de
alimentos,
ao
.induzirem
a
passagem
do
seu
abatimento
ao
IRS
para dedução
à
'colecta,
ficou-se
sem
noção
exacta
do que
se
deduz ou
não"
'
Manuel
FaustinoJURISTA, EX-DIRECTOR DESERVIÇOS
DOIRS
Governo
impõe
limites no
total
de montantes
dedutíveis
à colecta
em
sede
de
IRS
A
possibilidade
de
dedução
dos encargos
com
habitação
permanente
vai
ser
eliminada
a
partir
deste ano
e
faseadamente
até
2016
A Lei n.964-B/2011 do Orçamento do Estado para 2012 prevê um conjunto
de alterações referentes à matéria
colec-tável em sede de IRS que contemplam
aredução dos limites das deduções das despesas eoagravamento da carga
fis-cal. O i procurou sintetizar as
princi-pais alterações, que prevêem o ema-grecimento do reembolso do IRS refe-rente aos rendimentos obtidos em 2012.
Para quem auferir rendimentos
supe-riores a7410euros einferiores a18375
euros, passa ahaver um limite de
dedu-ção de 1250 euros na soma das
despe-sas de saúde, educação, habitação,
pen-são dealimentos eencargos com lares. Jáos rendimentos superiores a66045
euros perdem o direito àdedução das despesas (ver tabela).
Excepcionalmente, em 2012 e2013,
os sujeitos passivos com rendimentos
sujeitos aIRS superiores a 153300euros
passam aser taxados a 49% e não a
46,5%, como acontecia em 2011. As despesas de saúde são, este ano, apenas dedutíveis em 10% e não em 30%, com o limite de 838,44 euros, o
equivalente a duas vezes olAS (Inde-xante dos Apoios Sociais).
As famílias com três ou mais
depen-dentes poderão beneficiar deuma majo-ração do limite de dedução de 125,77 euros por cada dependente.
Relativamente aos encargos com
imó-veis (juros eamortização dehabitação permanente e asrendas pagas
referen-tes acontratos celebrados ao abrigo do
Regime de Arrendamento Urbano ou do Novo Regime deArrendamento Urba-no), passam a ser dedutíveis em ape-nas 15%, em vez dos 30% possíveis até
2011,mantendo-se olimite de 591 euros.
A majoração de 10% para os encargos com imóveis que apresentem o
certi-ficado deeficiência energética Aou A+
deixa de existir. Contudo, até 2016, a
permissão de dedução dos montantes
gastos com habitação própria é elimi-nada de forma faseada.
Outra novidade é o subsídio de refei-ção. Este passará aser tributável na parte em que exceda em 20% o limite
legal (anteriormente 50%).
Sendo olimite legal osubsídio de ali-mentação atribuído àfunção pública
-4,27 euros
-,
neste momento, aparte deste que exceda em 20% aquele mon-tante (superior a 5,124 euros) passa aser tributada emsede de IRS. Em 2011
estavam isentos de impostos os subsí-dios até 6,41 euros.
Também nos subsídios atribuídos por vales, o limite não sujeito aIRS desce
de 7,63 euros para 6,83 euros, ou seja,
os montantes que excedam 6,83 euros passam aintegrar a matéria colectável
do trabalhador.
No que diz respeito às taxas libera-tórias, os rendimentos de capitais
pas-sam asofrer um agravamento de21,5%
para 25%, neles se incluindo osjuros
de depósitos, rendimentos de títulos
dedívidas, dividendos emais-valias bol-sistas.