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EDUCAÇÃO FÍSICA NO NÍVEL MÉDIO: RAZÕES QUE JUSTIFICAM O PRAZER DA PRÁTICA Flavia Gonzaga Lopes Vieira Pontifícia Universidade Católica do Paraná

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Academic year: 2021

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Flavia Gonzaga Lopes Vieira Pontifícia Universidade Católica do Paraná Resumo

A Educação Física escolar sofreu muitas influências da situação social e política em que o Brasil se encontrava. Uma das Tendências que mais influenciou esta prática foi a Tecnicista ou Esportivista da década de 70, contemporânea à Ditadura Militar. A presente pesquisa teve como objetivo analisar o gosto dos alunos pelas aulas de Educação Física e, identificar os principais motivos que fazem com que essa disciplina seja tão prestigiada pelo corpo discente das escolas. Para o desenvolvimento da presente pesquisa utilizou-se uma metodologia de abordagem qualitativa. A amostra constitui-se de 34 alunas do 2º ano do ensino médio de uma escola da rede pública da cidade de Curitiba. Para a realização da coleta de dados, utilizou-se um questionário com uma pergunta fechada e uma pergunta aberta que foram entregues as alunas e recolhidos logo após, pela pesquisadora. Com base nas respostas obtidas, observou-se que os principais motivos que levam as alunas a gostarem das aulas de Educação Física, é que esta disciplina é vista como uma oportunidade de descontração e relaxamento em oposição as aulas que ocorrem em sala de aula e, exigem dos alunos a presença integral. A Educação Física é vista também como uma disciplina que relaxa a mente e prepara para as aulas que virão a seguir na busca do rendimento nas aulas dita teóricas, satisfatório. Outro fator que influencia o gosto pelas aulas, é a oportunidade de praticar alguma modalidade desportiva. Esta prática ainda está muito presente no discurso dos professores da área, que a utilizam como único meio para que os alunos tenham conhecimento do seu próprio corpo com suas capacidades e limitações.

Palavras-chave: Educação Física escolar; Esporte; Educação Física e descontração.

Introdução

Muitas foram às concepções que nortearam a prática da Educação Física até os dias atuais. Concepções tais como a Esportivista da década de 70, ainda se fazem presente nas aulas. Neste período a sociedade vivia num regime ditatorial, e o esporte foi uma maneira encontrada para que a população brasileira voltasse suas atenções para o esporte, e também para mostrar ao mundo, que tudo estava bem no Brsail. Assim o esporte passou a fazer parte da Educação Física escolar. Nesse período o esporte era a finalidade e não mais o aluno. O professor era o

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professor/técnico e o aluno era o aluno/atleta. A concepção esportivista visava a performance, levando esses conceitos para dentro das escolas e, conseqüentemente as aulas ficaram desvinculadas de um referencial que as sustentasse, passando a ser uma atividade exclusivamente prática, onde o aluno não era incentivado a pensar mas apenas a agir, executar movimentos. Era o movimento pelo movimento (COLETIVO DE AUTORES, 1992; MEDINA, 2004).

Esta concepção apresentou-se bastante clara no Decreto 69.450/71 nos artigos, parágrafos e alíneas que o situam, caracterizam e estabelecem objetivos para a Educação Física de uma época, e que pela força que teve no período, constitui parâmetros reprodutivos até hoje. De acordo com Barbosa (2001), este decreto foi o principal responsável pela caracterização da Educação Física escolar como uma atividade voltada à prática desportiva.

Com o passar dos anos, a Educação Física caracterizada como uma atividade exclusivamente prática, referenciada na afirmação de Medina (2004), que diz que estamos diante de uma Educação Física quase acéfala, desvinculada de um referencial que lhe dê suporte como atividade essencialmente, mas não exclusivamente prática.

Em decorrência desses fatos, nota-se que a Educação Física escolar ainda está sendo entendida como uma disciplina que proporciona um momento de relaxamento e distração aos alunos, e vê a atividade desportiva como a única forma de manifestação corporal. Portanto, julgou-se necessário identificar as razões que fazem com que a Educação Física seja uma aula tão aguardada pelos alunos.

Metodologia

A presente pesquisa teve caráter descritivo, com uma abordagem qualitativa. A amostra foi composta por 34 alunas que estão cursando o 2º ano do Ensino Médio de uma escola da Rede Pública da cidade de Curitiba. Para a coleta de dados utilizou-se um questionário com uma pergunta fechada e uma pergunta aberta, que constitui justificativa da pergunta fechada, com o intuito de analisar quais as razões que levam as alunas a gostarem das aulas de Educação Física e de ser ela, uma aula muito esperada. Para a análise dos dados, foram criadas categorias como uma forma de codificação, que permitiram reunir componentes similares (LAKATO e MARCONI, 1985; LÜDKE e ANDRÉ, 1986).

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Análise e Discussão dos Resultados

Para a análise dos resultados, utilizou-se de gráfico para representar as respostas da pergunta fechada. Para as respostas da pergunta aberta, criaram-se

• Você gosta das aulas de Educação Física? 23 9 1 0 5 10 15 20 25

Muito Razoavelmente Pouco

Gráfico nº 1. Gosto pelas aulas de Educação Física.

Como observamos no gráfico, 23 alunas responderam que gostam muito das aulas de Educação Física, 9 responderam razoavelmente e apenas uma respondeu que gosta pouco.

Quando perguntado sobre as razões que levaram as alunas a gostar das aulas de Educação Física, pode-se considerar como os principais motivos a distração, a diversão e o relaxamento, agrupada na discussão; e a prática desportiva como sendo o outro motivo.

Compreende-se o significado destas respostas a partir do que os autores têm afirmado nas suas pesquisas, como, por exemplo, a Educação Física ser vista como uma aula que tem um caráter compensatório, é o equilíbrio entre as disciplinas consideradas teóricas, que são realizadas normalmente em sala de aula e a disciplina prática, que se desenvolve num ambiente completamente diferente daquele reservado a cada aluno e que pouco permite as manifestações corporais. Medina (2004, p.71), afirma a respeito da Educação Física que “mais do que nunca, tem-se reforçado a idéia de ser ela uma disciplina exclusivamente prática, sem maiores necessidades de reflexão”, ou seja, o aluno sai da sala de aula, local de aprendizado, e vai para a quadra, ou pátio, a fim de relaxar, descontrair, e se divertir, para depois retornar com a mente limpa e pronta para receber mais informações.

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A Educação Física não tem uma identidade criada pela sociedade, apenas é compreendida como uma área que proporciona bem estar aos alunos.

Confirmando o que os autores e a literatura têm apontado, observa-se nas respostas apresentadas pelas alunas, que os motivos citados acima em alguns momentos são os mesmos ou parecidos, como nos exemplos a seguir:

“Eu acho que relaxa, esquece um pouco das tensões da sala de aula”. “É um momento de descontração no período das aulas e ainda podemos praticar esportes”.

“Porque é a aula que podemos nos descontrair e aprender a conviver com aquelas pessoas que muitas vezes nem notamos em sala de aula”. O esporte foi outro motivo apontado pelas alunas como um fator importante para gostar das aulas. Nesta questão existem duas vertentes que podem e devem ser consideradas. A primeira diz respeito à questão da Hegemonia Esportiva da década de 70. A segunda diz respeito ao esporte como um fenômeno social.

Na década de 70, o esporte era o objetivo central das aulas de Educação Física, e se fortaleceu ainda mais com os programas do MEC, como os Jogos Escolares. De acordo com Coletivo de Autores (1992, p.54), “a influência do esporte no sistema escolar é de tal magnitude que temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola”. O professor de Educação Física era contratado pelas escolas, pelo seu desempenho nas atividades desportivas. O professor deixava de ser o professor da aula e passava a ser o técnico. Muitos atletas ingressaram no curso superior e tornaram-se professores, mas por suas experiências como atleta, a maneira de desenvolver as aulas de Educação Física continuou sendo esportiva. Por isso a Hegemonia Esportiva perdura até os dias de hoje e faz com que os alunos acreditem que este é o único conteúdo a ser desenvolvido nestas aulas.

Outro fator que influencia a escolha dos alunos pelo esporte, é o esporte como um fenômeno social. O esporte e os jogos fazem parte da cultura universal. A mídia apresenta essa prática de uma maneira muito forte na sociedade, principalmente com a ascensão do Brasil em algumas modalidades esportivas e o Futebol, motivo de orgulho nacional. Segundo Betti (1991), o esporte deve ser introduzido na escola justamente pelo fato de que muitas pessoas já praticam ou já

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praticaram alguma atividade esportiva. Os depoimentos das alunas expressam estes significados:

“Pq eu gosto de praticar esportes e fazer atividades físicas”. “Adoro esportes e acho muito importante para nossa saúde”. “Gosto muito de praticar esportes”.

“Porque eu gosto muito de esporte”.

Nesses discursos, podemos perceber que além do esporte, alguns conceitos de qualidade de vida, utilizando como um dos princípios a atividade física, estão sendo trabalhados nas aulas, mesmo que vinculado ao esporte. Isto se deve às novas características da sociedade moderna, como o surgimento de doenças que foram crescendo na medida em que crescia o sedentarismo, doenças estas que poderiam ser evitadas ou amenizadas com o hábito da prática de uma atividade física.

Somente na década de 90 que começaram a surgir discussões sobre a inclusão de conteúdos relacionados à saúde na escola. Segundo Simons-Morton in Glaner (2002, p.25), “a Educação Física é um importante veículo para encorajar a atividade física em crianças”, e ainda segundo Malina in Glaner (2002, p.25), “hábitos de atividade física desenvolvidos durante a infância são assumidos e continuados durante a adolescência e a vida adulta”.

Apenas uma aluna respondeu que gosta pouco das aulas de Educação Física dizendo que:

“Eu só gosto de step e dos exercícios de alongamento e os localizados, não gosto de esportes”.

No discurso desta aluna, observamos que o tempo dedicado a atividades que saem do contexto esportivo, parecem ser bem reduzidos, enquanto que para as atividades esportivas, é dedicado o maior tempo das aulas. Ao rejeitar a Educação Física, mas afirmar o prazer em fazer step, alongamentos e ginástica localizada, a aluna afirma que a Educação Física é esporte: step, alongamento e ginástica localizada, não.

O esporte organizou-se nas escolas e pouco a pouco perdeu sua característica de cultura corporal para constituir o único conteúdo ou corpo de

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conhecimentos explorados nas aulas de Educação Física, não privilegiando aqueles alunos menos aptos às atividades desportivas, mas que possuem outras habilidades (BETTI, 1991).

Segundo Barbosa (2001, p.17),

“Em nossa sociedade, existem representações sociais acerca da Educação Física Escolar, que a identificam como uma disciplina responsável pela prática de treinamento desportivo e pela prática recreativa”.

Conclusão

Ao identificar os principais motivos que fazem com que a Educação Física seja uma disciplina adorada pelos alunos, concluiu-se que o momento desta aula é o momento em que os alunos têm para relaxar e se distrair, e também praticar uma atividade esportiva.

Para a maioria das alunas, estas aulas possuem uma função compensatória. Ela se destina a relaxar e distrair aqueles que saem do ambiente de sala de aula, ou então, prepara a cabeça e o corpo para as aulas que virão a seguir. Apesar dessa visão da Educação Física escolar, concluiu-se que a sua prática ainda está vinculada as quatro modalidades clássicas (Vôlei, Basquete, Futebol e Handebol), cuja importância surgiu na década de 70, época da Hegemonia Esportiva, e que 30 anos depois, ainda se faz presente nas aulas de modo quase exclusivo.

Contudo, as alunas já demonstram algum conhecimento a respeito da atividade física como sendo um fator importante para a promoção e manutenção da saúde.

Mesmo ao demonstrarem conhecimento sobre as novas tendências da Educação Física, como por exemplo, a importância da saúde e da qualidade de vida, fica claro que o entendimento da Educação Física ainda tem o seu valor como uma atividade de relaxamento, desconsiderando assim seu caráter educacional. Nota-se que as alunas não possuem conhecimento algum sobre a função da Educação Física dentro da escola. Sendo assim, a valorização da mente sobre o corpo é praticamente inevitável, já que o entendimento é de que a Educação Física está presente na escola simplesmente para distrair e relaxar.

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Referências

BARBOSA, L. C. de A. Educação Física Escolar: As Representações Sociais. Rio de Janeiro: Shape, 2001.

BETTI, M. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.

COLETIVO de AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992.

GLANER, M. F. Crescimento Físico e Aptidão Física Relacionada à Saúde em Adolescentes Rurais e Urbanos. Tese de Doutorado apresentado ao Programa de Pós Graduação da Universidade Federal de Santa Maria. Santa Maria, 2002.

LAKATOS, E. M. e MARCONI, M. de A. Fundamentos de Metodologia Científica. São Paulo: Atlas, 1985.

LÜDKE, M. e ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária, 1986.

MEDINA, J. P. S. A Educação Física Cuida do Corpo...e Mente. 19ª ed. São Paulo: Papirus, 2004.

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