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Acervo epigráfico paulistano: etapas e procedimentos de construção

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Academic year: 2021

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construção

São Paulo city epigraphic archive: construction steps and procedures

Gouveia, Anna Paula Silva; Profa. Dra.; UNICAMP - Instituto de Artes anna.gouveia@pq.cnpq.br

Farias, Priscila Lena; Profa. Dra.; Centro Universitário Senac - Programa de Estudos Pós-graduados em Design ; USP - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Departamento de Projeto priscila.farias@pq.cnpq.br

Gatto, Patrícia Souza; Prfa. Ms; Centro Universitário Senac - Bacharelado em Fotografia pgatto@sp.senac.br

Resumo

Este artigo descreve métodos e procedimentos utilizados na construção do ‘Acervo epigráfico paulistano’. O acervo consiste em um conjunto de representações de epígrafes arquitetônicas — gravações contendo o nome dos responsáveis pelo projeto e construção de edifícios do centro histórico da cidade de São Paulo. O estudo destas inscrições proporciona, por um lado, uma melhor compreensão da forma tipográfica e das técnicas de gravação, bem como de sua relação com a linguagem arquitetônica. Por outro, contribui para a construção da história da cidade, a partir dos dados sobre a atuação de arquitetos, engenheiros e construtores, alguns deles desconhecidos ou pouco estudados.

Palavras Chave: epígrafes arquitetônicas, acervo epigráfico, memória gráfica Abstract

This paper describes methods and procedures applied to the setting of ‘São Paulo city epigraphic archive’. This archive consists in representations of architectonic epigraphs —engravings containing the names of those responsible for the design and construction of São Paulo city historic buildings. The study of architectonic epigraphs provides, on one hand, a better comprehension of typographic form and engraving techniques, and of its relation to architectonic language. On the other hand, it contributes to the setting of a history of the city, departing from data about the engagement of architects, engineers and constructors, some of them unknown or seldom studied.

Keywords: architectonic epigraphs, epigraphic archive, graphic memory

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1 - Apresentação

O acervo epigráfico1 paulistano é um conjunto de representações e reproduções de inscrições (letras gravadas) encontradas nas fachadas dos edifícios de uma área determinada do centro histórico da cidade de São Paulo, coletadas ou produzidas pela equipe responsável pelo projeto de pesquisa ‘Paisagens tipográficas - A organização de um acervo das epigrafes arquitetônicas paulistanas’2. Entende-se como ‘epígrafes arquitetônicas’ inscrições contendo o nome dos arquitetos, engenheiros ou construtores responsáveis, gravadas na fachada de um edifício. O acervo é constituído por dois tipos de arquivos, um físico e outro digital. O primeiro inclui decalques, moldes em silicone e réplicas em resina das inscrições. O arquivo digital se constitui em um banco de dados, contendo fotos, desenhos vetoriais e mapas, além de fichas e planilhas que organizam as informações.

Para a construção do acervo foram estudados conceitos e métodos da arquivística, e através da análise, identificação e categorização do material epigráfico, foi possível estruturar um sistema que servisse tanto ao arquivo físico quanto ao digital. A elaboração do acervo digital objetiva a ‘preservação digital’, descrita por Santos (2007, p.21) como “ações destinadas a manter a integridade e a acessibilidade dos objetos digitais ao longo do tempo. Devem alcançar todas as características essenciais do objeto digital: físicas, lógicas e conceituais.”

Entre os objetivos principais na construção deste acervo destacam-se: 1- a formulação e aplicação de procedimentos para levantamento e análise da epigrafia contemporânea (entendida como campo de estudos das inscrições públicas em centros urbanos contemporâneos), levando em conta, além da informação histórica contida nos dados, também a técnica de gravação da inscrição e suas características formais; 2- a identificação, seleção e catalogação de exemplos relevantes de epigrafia arquitetônica na paisagem urbana da cidade de São Paulo; e 3 - a compreensão da paisagem urbana da cidade de São Paulo, em especial de seu centro histórico, sob um novo enfoque, entendendo as epígrafes arquitetônicas enquanto marcos e referências visuais da cidade e de sua história.

Os limites temporais da pesquisa foram estabelecidos levando-se em conta o processo de ocupação do centro da cidade de São Paulo. Raros edifícios do período colonial (1554-1821) e imperial (1822-1889) sobreviveram. A área da pesquisa, tal como a conhecemos hoje, foi configurada, principalmente, a partir do final século XIX e até a metade da década de 1970. Os limites físicos determinados pelos temporais compreendem o centro velho expandido, que consiste do triângulo histórico (Largo de São Bento, Largo de São Francisco e Pátio do Colégio) com a incorporação da Catedral da Sé. Compreende também parte do centro novo, para além do vale do Anhangabaú, delimitada pelas avenidas São João, Ipiranga e São Luis. Esta área contêm cerca de 670 edifícios. Deste total, cerca de 300 edifícios, construídos em sua grande maioria na primeira metade do século XX, foram catalogados e ganharam números de identificação (pontos), considerando para isto sua relevância arquitetônica e tipográfica. Mas destes 300 edifícios, apenas 118 apresentam epígrafes em suas fachadas.

O trabalho de elaboração deste um acervo se baseia na premissa de que a expressão estética de uma época contém matrizes culturais comuns tanto no que se refere aos desenhos de letras quanto à linguagem arquitetônica e à estrutura da paisagem urbana. Isso se torna mais evidente quando o elemento tipográfico é apropriado como elemento paisagístico e, portanto, integrado à própria linguagem da cidade.

O estudo das epígrafes arquitetônicas proporciona, por um lado, uma melhor compreensão da forma tipográfica e das técnicas de gravação, bem como de sua relação com a linguagem

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arquitetônica. Por outro, contribui para a construção de uma história da cidade, a partir dos dados sobre a atuação de arquitetos, engenheiros e construtores, alguns deles totalmente desconhecidos ou pouco estudados.

Acreditamos assim, que importância do acervo epigráfico reside principalmente na preservação do patrimônio histórico, cultural e artístico dos grandes centros, preocupação, bastante contemporânea, e de âmbito mundial. Estima-se que os resultados, além do impacto acadêmico, possam contribuir com os setores da sociedade envolvidos na valorização e recuperação deste patrimônio em nosso país.

2 - Descrevendo as epígrafes arquitetônicas

As epígrafes arquitetônicas funcionam como assinaturas, registros públicos e perenes de autoria da obra ou daqueles que de alguma forma contribuíram para a história da construção do centro da cidade de São Paulo ao encomendar ou realizar tais obras, e geralmente estão localizadas próximas da entrada principal do edifício. No contexto dos estudos sobre tipografia na paisagem urbana, ou ‘paisagens tipográficas’, conduzidos pela equipe responsável por este projeto, as epígrafes arquitetônicas são uma sub-categoria de tipografia arquitetônica3. Dentro da área delimitada para o projeto, foram encontradas 132 epígrafes, pois alguns dos 118 edifícios tem mais que uma inscrição.

Tais inscrições possuem um grande valor para a história da cidade por conterem informações, normalmente ignoradas por historiadores, específicas sobre o período em que a região passou a se transformar em uma metrópole, o que acontece principalmente nas primeiras cinco décadas do século XX. Embora muitos dos edifícios que apresentam epígrafes tenham sido tombados como patrimônio histórico, os arquivos públicos raramente registraram a presença destas inscrições, e, portanto, não incorporaram as informações nelas contidas. Isto pode ter ocorrido talvez pelo tamanho reduzido destas discretas inscrições, que, colocadas abaixo da linha de visão do pedestre, permanecem, muitas vezes, imperceptíveis.

A análise das epígrafes arquitetônicas paulistanas contempla observações sobre a forma (posicionamento, alinhamento, tipo de letra) e o conteúdo de seus textos. As duas principais variáveis formais das epígrafes que podem ser relacionadas a outros elementos arquitetônicos são o posicionamento e o estilo das letras. Na cidade de São Paulo, estas inscrições são encontradas do lado esquerdo ou direito da entrada principal (ou em ambos, quando há duas epígrafes). Elas estão geralmente posicionadas abaixo da linha de visão do observador, entre 50 cm e 100 cm do piso. Nem sempre a relação entre o estilo da letra e o estilo arquitetônico é de similaridade. Poucas epígrafes parecem ter sido desenhadas especificamente para este ou aquele edifício, exibindo caracteres coerentes com a linguagem arquitetônica.

Quanto à composição dos textos, letras maiúsculas são a norma, com ou sem serifa, com eventual adoção de versaletes. Muitas epígrafes apresentam caracteres sem serifa geométricos, geralmente aquelas em edifícios art-déco construídos entre o final dos anos 1930 e início dos anos 1940. Apenas uma apresenta caracteres caligráficos. Alinhamentos centralizados ou justificados são os mais frequentemente encontrados. A altura média dos caracteres é de 5 cm, e a média do tamanho das inscrições é de 30 x 50 cm.

O conteúdo das epígrafes é transcrito segundo o sistema Leiden, criado em 1931 (Woodhead, 1981). O uso deste sistema permite que o registro seja feito de forma mais padronizada e, consequentemente, torna mais fácil a identificação e a consulta das informações contidas na inscrição pelos pesquisadores. Este sistema é composto por códigos que indicam

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mudança de linha, de frase, de parágrafo, letras desgastadas, mas ainda legíveis, letras restauradas, omitidas no momento da inscrição, entre outros. Sendo assim, utilizando-se o sistema Leiden, a epígrafe da Figura 1 poderia ser transcrita: ARCHITECTO | ALVARO BOTELHO | CONSTRUCTORES | SOCIEDADE CONSTRUCTORA E DE IMMOVEIS.

Figura 1. Foto da epígrafe do Edifício do Antigo Banco de São Paulo, Rua 15 de Novembro, 347.

A análise das informações verbais contidas nas epígrafes sugere hipóteses interessantes e originais sobre os principais agentes e tendências na ocupação do centro histórico de São Paulo e na construção dos edifícios. Ela também mostra como tais agentes e seus contratantes escolheram se apresentar às gerações futuras. Algumas destas hipóteses são discutidas em outros artigos publicados pela equipe como Farias et al. (2007, 2008a e 2008b), Gouveia et. al. (2004, 2006, 2007, 2009c e 2009d) e Pereira (2005).

3 - Os itens do acervo 3.1 - Fichas e planilhas

O projeto ‘Paisagens tipográficas - A organização de um acervo das epigrafes arquitetônicas paulistanas’ utilizou, como ponto de partida para a coleta de dados, duas das quatro fichas4 inicialmente concebidas para o levantamento de campo de exemplares de tipografia arquitetônica:

Ficha A: dados sobre a identidade do edifício ( nome, localização, uso atual, referências, nome do arquiteto ou construtora, data de construção, informações sobre tombamento).

Ficha C: dados sobre epígrafes arquitetônicas (letra, gravação e caracterização da rocha). Além das fichas, o sistema de catalogação é composto também por uma planilha confeccionada com o software Excel, e uma tabela confeccionada com o software Word. A primeira, devido a limitações do software, não contém fotos ou desenhos, mas possibilita a contabilidade das ações e resultados de forma rápida e precisa, além da geração de planilhas secundárias conforme a necessidade, por exemplo, pode-se gerar uma planilha somente com os dados epigráficos. A segunda é uma tabela com linhas fixas, mas que permite a inserção de fotos, e é muito útil nas visitas em campo. Ela se restringe, contudo, aos edifícios que apresentam epígrafes, seguindo uma divisão de colunas análoga à da planilha anterior: numeração de ponto,

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tomo, data de construção, nome e imagem do edifício, imagem da epígrafe e transcrição do texto da epígrafe. Os dados destas duas planilhas estão sendo transportados para fichas geradas pelo software Access. Isto facilitará o gerenciamento e controle de dados, permitindo também a relação destes diretamente com vários tipos imagens (fotos, mapas e ilustrações vetoriais). 3.2 - Arquivo digital

O arquivo digital é estruturado em pastas numeradas por ’pontos’. Cada edifício, ou seja, cada ‘ponto’, possui uma pasta contendo outras subpastas destinadas às fotografias em alta e baixa resolução das epígrafes, fachadas e portadas (figura 2). Há também pastas específicas para as fichas, decalques digitalizados e para os desenhos vetoriais. Por uma questão de segurança, os arquivos são armazenados em HD externo, exclusivo para esta finalidade.

Figura 2. Imagem de tela mostrando pastas do arquivo digital.

Figura 3. Imagem de tela mostrando o conteúdo das pastas.

Na figura 3, a coluna à direita mostra como os arquivos, neste caso fotos, são codificados. Este sistema foi pensado para codificação de todo e qualquer arquivo digital. Ele permite que se possa saber de que se trata o arquivo, sua autoria e quantos análogos existem. Por exemplo, no caso acima no destaque em vermelho, podemos ler:

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A decodificação nos informa que se trata de arquivo referente ao ponto 001 (prédio Martinelli), de uma foto em alta resolução de epígrafe, realizada por JG (João Bacellar) em formato ‘jpg’. Pode-se verificar também que existem cerca de quatro fotos semelhantes.

Cada participante do projeto recebe um código de acordo com suas iniciais nominativas, por exemplo: Acácia Corrêa - AC; Anna Gouveia - AG; André Tavares - AT ; Haroldo Gallo – HG; etc. Cada categoria tipográfica é também codificada, por exemplo: Epígrafes - ep ; Detalhe da Epígrafe - dep ; Fachada superior - fs; Fachada térreo - ft; Portada – p; etc.

3.3 - Mapas

Desde o início desta pesquisa, os mapas se mostraram instrumentos extremamente úteis. Na medida em que o número de edifícios tabulados crescia rapidamente as listas, fichas e planilhas tornaram-se pouco eficientes para os levantamentos. Um mapa mostrando a localização de todos os edifícios listados pelo grupo foi elaborado. Os edifícios foram representados por círculos contendo seus respectivos números de identificação originais (pontos). A área de pesquisa foi dividida em quatro quadrantes, utilizando o Vale do Anhangabaú como referência para o eixo vertical norte-sul e o Viaduto do Chá como eixo horizontal leste-oeste (figura 4).

Figura 4. Mapa da área dividida em 4 quadrantes, com ‘pontos’ indicando a localização das epígrafes arquitetônicas.

Numa segunda fase, se fez um mapa de rotas (figura 5) pensando-se no melhor percurso para se passar por todos os edifícios do quadrante em cerca de 2 a 3 horas (média de tempo das visitas). Nesta seqüência, os edifícios foram enumerados por novos dígitos, os ‘tomos epigráficos’. Assim, cada edifício poderia ser localizado por dois números: o de ponto, que se refere à posição do edifício em relação a todos os 300 prédios tabulados (com ou sem epígrafe), e o de tomo, que se refere à classificação deste em relação aos edifícios que apresentam epígrafes.

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Figura 5. Mapa da área com as 4 rotas que otimizam a visita aos edifícios.

Um último mapa foi então elaborado nas duas versões, pontos e tomos (figuras 6 e 7). Seu desenho foi baseado num mapa realizado pela empresa TerraFoto, com determinação de lotes. A partir deste novo mapa base, outros foram gerados para vários tipos de apresentação. Por exemplo, mapas parciais relativos a cada quadrante para facilitar a execução do levantamento de campo (outros exemplos em Farias et al. 2008a).

Figura 6. Mapa do quadrante ‘República’ com a seleção de epígrafes a serem registradas num dos levantamentos de campo.

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Figura 7. Mapa de lotes com a localização de todas as epígrafes arquitetônicas e divisão em quadrantes. No sistema de mapeamento a nomenclatura para cada quadrante baseava-se em 3 classificações: numérica, algarismos de 1 a 4 e em sentido horário referente ao mapa geral;

geográfica: São Bento, Sé, República e Paissandú; e por fim, para estímulo sensorial, cores para

cada quadrante. Isso resultou em: quadrante-1 São Bento (lilás), quadrante-2 Sé (ciano), quadrante-3 República (vermelho), quadrante-4 Paissandú (amarelo). Na versão final (Figura 7), os números 1, 2, 3 e 4 dos quadrantes foram substituídos respectivamente pelas letras A, B, C e D afim de facilitar a guarda dos decalques no arquivo físico.

3.4 - Registros fotográficos

Todos os registros fotográficos do acervo são digitais. Toda e qualquer fotografia é armazenada seguindo o sistema descrito no item 3.2, que permite sua identificação de conteúdo e autoria sem ter que se abrir o arquivo (figura 8). Para as fotos em alta resolução, atualmente se utiliza câmera Digital Nikon D80 de 10.2 MP, com lente Zoom Grande Angular-Telefoto 18-135 mm,f/3.5-5.6G ED-IF AF-S DX Zoom-Nikkor. Em casos onde a distância para a captura da imagem são mais severos, também é utilizada uma lente super Grande Angular AF 12-24 mm f/4G ED-IF AF-S DX Zoom-Nikkor.

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Figura 8. Foto em alta resolução da epígrafe arquitetônica do edifício Justiça Federal por Luiz Gustavo Gonçalves, catalogada como ‘009.fotoa epLGG.jpg’

3.5 - Decalques

Os decalques são obtidos através de uma técnica denominada frottage. São realizados registrando-se diretamente o relevo das inscrições sobre papel, com grafite, lápis de cera, crayon ou bastão litográfico. Os papéis jornal e sulfite se mostraram mais eficientes e a maior parte dos decalques está em papel jornal A2.

Dependendo da rocha em que se encontra a inscrição, é necessário o uso de um determinado material para melhor ressaltar os detalhes da epígrafe. Geralmente inscrições em superfícies polidas dão melhores resultados com o uso de bastão litográfico (figura 9) ou grafite integral (figura 10). Em superfícies rugosas, o giz de cera mostrou-se mais adequado. Alguns detalhes de inscrições, nas quais o sulco já perdeu sua profundidade (figura 10), podem ser revelados com decalques pontuais, utilizando-se grafite sobre papel sulfite (figura 12).

Após a fatura, o decalque recebe um spray fixador, para que possam ser guardados em plásticos. A organização dos decalques é feita em ordem numérica e com base nos quadrantes definidos no mapa. Por exemplo, na etiqueta ‘Prédio Martinelli 001/001a', o primeiro número é o “ponto” (número original), enquanto o segundo é o de “n˚ de tomo epigráfico” em itálico.

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Figura 9. Decalque por Jamille Almeida em 29 de março de 2009. Superfície polida. Material: giz litográfico.

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Figura 11. Decalque por Anna Gouveia.bEpígrafe do edifício na Rua 11 de agosto, 68. Giz de cera. Superfície coberta por várias mãos de tinta.

Figura 12. Decalque por Anna Gouveia em grafite sobre sulfite. Detalhe da epígrafe figura 11.

3.6 - Ilustrações vetoriais

O desenvolvimento de ilustrações vetoriais das inscrições começa com a digitalização dos decalques pelo processo de escaneamento (para decalques pequenos, reproduzindo detalhes) ou fotografia (para decalques maiores). Os decalques são fotografados em estúdio com um tripé de coluna e dois refletores (figura 13). Marcas de registro são feitas para garantir que os papéis fiquem sempre no mesmo local. Isto evita distorções de perspectiva, simulando a operação de um scanner, mas com muito mais rapidez.

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Figura 13. Registro fotográfico de decalques na unidade Lapa - Scipião do Senac São Paulo.

A vetorização das inscrições é realizada com softwares apropriados para cada fase. Para o tratamento das imagens, fotografias ou decalques digitalizados, pode-se aumentar o contraste, ou modificar a cor para facilitar a visualização dos caracteres. Em alguns casos, para preparar adequadamente a imagem, é preciso também corrigir algumas distorções de perspectiva. Nesta fase é utilizado o Adobe Photoshop.

Para a realização das ilustrações vetoriais é utilizado o Adobe Illustrator, que permite a obtenção de curvas de Bezier com relativa facilidade e precisão. Este software possibilita a definição de contornos fieis à inscrição original, mesmo quando estes contornos são irregulares. Uma grade é criada a partir da identificação de linhas gerais de construção das letras (linha de base, linha das capitulares, altura-x, linha das descendentes), e a definição de contornos é feita com a ferramenta pen e outras ferramentas de desenho (figuras 14 a 17).

 

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Figura 15. Imagem de tela com linhas guias sobre decalque.

 

 

Figura 16. Imagem de tela com de linhas gerais de construção das letras.

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Figura 17. Imagem de tela com ilustração vetorial finalizada. Figuras 14 a 17. Etapas de ilustração vetorial por Reinaldo Higa.

Em alguns casos, na vetorização de caracteres serifados ou muito pequenos, há necessidade de se interpretar a letra, criando contornos a partir de hipóteses sobre a localização dos pontos de tangência, comparando-os com a epígrafe original.

Uma vez desenvolvida a ilustração vetorial, é possível obter versões em positivo, negativo ou outline. Com isso, ampliam-se as possibilidades de descrição e comparação dos caracteres (Gouveia et al, 2009b).

3.7 - Moldes em borracha de silicone

A modelagem utiliza como material o silicone, resultando em uma cópia negativa da epígrafe. O processo se inicia com a limpeza da superfície. Em seguida, a área adjacente é coberta com papel, formando uma moldura ao redor da epígrafe, sobre a qual se aplica um líquido desmoldante. O silicone é preparado e aplicado com a ajuda de espátulas. Para obter um bom resultado são necessárias várias camadas (figuras 18 e 19).

Cerca de 30 minutos após a última aplicação, é possível retirar o molde (figura 20). A secagem total demora 24 horas. Após este período, os moldes são protegidos com papel e guardados em pastas devidamente identificadas.

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Figura 18. Aplicação de desmoldante sobre a superfície.

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Figura 20. Retirada de um molde.

3.8 - Réplicas em resina

A produção das réplicas é uma tentativa de reproduzir, da maneira mais fiel possível, a forma física das epígrafes arquitetônicas. Elas são produzidas com resina acrílica, a partir dos moldes de silicone.

A confecção das réplicas (figuras 21 a 23) se inicia com a fixação do molde de silicone em uma placa base de MDF com fita adesiva. À sua volta, são parafusadas as paredes laterais da estrutura, também de MDF, formando uma caixa. Os lados internos das paredes são revestidos com filme de PVC transparente, para vedação. Em seguida, o desmoldante PVA é aplicado em toda a superfície interna da caixa e no molde, para garantir que a réplica se solte com mais facilidade na desmontagem. A resina líquida é misturada a um catalisador e pigmento branco, e despejada na caixa. Após 48 horas, a caixa pode ser desmontada, e a réplica retirada recebe acabamento de corte e polimento.

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Figura 21. Preparação da caixa com molde de silicone pelos bolsistas Fernanda Indicatti e Rafael Ferreira.

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Figura 22. Acabamento da réplica.

Figura 23. Réplica em resina finalizada.

4 - Conclusão

Das 132 epígrafes inicialmente catalogadas, duas desapareceram, tendo sido retiradas ou cobertas com novo reboco da fachada. A epígrafe que acreditamos ter sido rebocada pertence a um edifício cuja fachada foi alterada em decorrência da lei Cidade Limpa. A epígrafe que acreditamos ter sido retirada era confeccionada em placa de metal, e pode ter sido roubada ou simplesmente retirada devido à reforma na fachada. Sendo assim, consideramos que o registro fotográfico, ainda que não contenha fotografias em alta resolução destas duas epígrafes, está completo.

Os decalques das 130 epígrafes arquitetônicas ainda existentes também foram concluídos, com exceção de uma inscrição de difícil acesso, localizada a cerca de 3 metros de altura. Todos os decalques foram fotografados. Atualmente temos cerca de 90 ilustrações vetoriais e até a conclusão do projeto, no final de 2010, esperamos contar com ao menos 100.

Os moldes e réplicas dependem de material de consumo de alto custo, e apresentaram dificuldades técnicas em sua execução, como a demora na secagem e complexidade na realização

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de formas. Devido a estas dificuldades, foi necessário selecionar um número menor de epígrafes a serem modeladas e replicadas. Acreditamos que a quantidade de 15 peças, cuidadosamente escolhidas, será suficiente para representar, no acervo, a diversidade de modelos encontrados no centro da cidade de São Paulo.

A equipe de pesquisa pretende colocar à disposição pública na internet a versão digital do acervo epigráfico paulistano, e também realizar uma exposição de seu acervo físico.

Agradecimentos

A todos os pesquisadores - professores e bolsistas de iniciação científica - que participaram e participam da equipe de pesquisa. Ao CNPq, CAPES e FAPESP pelo apoio financeiro concedido aos pesquisadores ligados a este projeto.

Notas

1. A epigrafia insere-se na arqueologia, e mais precisamente na paleografia. Estuda as inscrições antigas, geralmente em lugares públicos, em material resistente (pedra, metal, argila, cera, etc.), incluindo sua decifração, datação e interpretação..

2. Projeto desenvolvido por pesquisadores ligados aos Grupos de Pesquisa “Tipografia Arquitetônica” (UNICAMP) e “Tipografia e Linguagem Gráfica” (SENAC-SP) com apoio do Edital MCT/ CNPq 1412008 – Universal Processo 74099/2008-3 com vigência até dezembro de 2010. Outros projetos foram realizados pelos pesquisadores, que desde 2004 investigam a tipografia arquitetônica de vários centros urbanos e algumas das publicações podem ser encontradas nas referências deste artigo.

3. As categorias de tipografia urbana concebidas para investigação são: 1. Tipografia arquitetônica; 2. Tipografia honorífica; 3. Tipografia memorial; 4. Tipografia de registro; 5. Tipografia artística; 6. Tipografia normativa; 7. Tipografia comercial; 8. Tipografia acidental. (GOUVEIA et al ,2009a).

4. As fichas B e D servem respectivamente para levantamento dos dados sobre a inserção do nome do edifício na portada da edificação (letra, composição e materiais); e sobre os demais elementos tipográficos do edifício (números, caixas de depósito e de correios), denominados ‘objetos e apliques’, com especificações sobre o tipo de inserção, letra, composição e materiais. Referências

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Referências

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