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Uma gota no oceano: análise crítica da produção intelectual e política acerca da diversidade sexual no âmbito do Serviço Social brasileiro (1993-2013)

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL (Mestrado). DANIELLA ELANA DOS SANTOS CRUZ. UMA GOTA NO OCEANO: Análise crítica da produção intelectual e política acerca da Diversidade Sexual no âmbito do Serviço Social brasileiro (19932013). NATAL (RN) 2015.

(2) DANIELLA ELANA DOS SANTOS CRUZ. UMA GOTA NO OCEANO: Análise crítica da produção intelectual e política acerca da Diversidade Sexual no âmbito do Serviço Social brasileiro (1993-2013). Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos. Natal (RN), agosto de 2015..

(3) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro Ciências Sociais Aplicadas - CCSA Cruz, Daniella Elana dos Santos. Uma gota no oceano: análise crítica da produção intelectual e política acerca da diversidade sexual no âmbito do Serviço Social brasileiro (1993-2013) / Daniella Elana dos Santos Cruz. Natal, 2018. 99f.: il. Dissertação (Mestrado em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Ciências Sociais Aplicadas, Programa de Pós-Graduação em Serviço Social. Natal, 2018. Orientadora: Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos.. 1. Serviço Social - Dissertação. 2. Diversidade sexual Dissertação. 3. Produção intelectual - Análise - Dissertação. I. Santos, Silvana Mara de Morais dos. II. Título. RN/UF/CCSA CDU 364:613.885 Elaborado por Shirley de Carvalho Guedes - CRB-15/404.

(4) DANIELLA ELANA DOS SANTOS CRUZ. UMA GOTA NO OCEANO: Análise crítica da produção intelectual e política acerca da Diversidade Sexual no âmbito do Serviço Social brasileiro (1993-2013). Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Serviço Social.. Aprovada em 31/08/2015.. BANCA EXAMINADORA. _____________________________________________________________ Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos Universidade Federal do Rio Grande do Norte Orientadora. _____________________________________________________________ Profa. Dra. Rita de Lourdes de Lima Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinadora Interna. _____________________________________________________________ Profa. Dra. Sâmya Rodrigues Ramos Universidade do Estado do Rio Grande do Norte Examinadora Externa. _____________________________________________________________ Profa. Dra. Miriam Oliveira Inacio Universidade Federal do Rio Grande do Norte Examinadora Suplente.

(5) Aos/às que resistem em tempos que pessoas são mortas por VIVER!.

(6) AGRADECIMENTOS. Estamos prestes a concluir o curso de mestrado em Serviço Social e um sentimento imensurável já tomou espaço em meu ser a algum tempo. Perceber que mais do que nunca, o trajeto casa-UFRN-casa se tornará mais esporádico é extremamente nostálgico. Um lugar que faz parte de mim! Esta é a minha definição daquela que, aproximadamente, por seis1 anos foi a minha segunda casa. Mas para assim constituí-la, eu tive o apoio de pessoas muito especiais. Por isso, é chegada a hora de agradecer! Aos meus pais, Daniel e Ana, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com dignidade; que iluminaram os caminhos obscuros com afeto e dedicação para que eu os trilhassem sem medo e cheia de esperança; que se doaram inteiros e renunciaram aos seus sonhos, para que, muitas vezes, pudessem realizar os meus. A vocês, pais por natureza, por opção e amor, não bastaria dizer que não tenho palavras para agradecer tudo isso. Entretanto, é o que me acontece agora, quando procuro arduamente uma forma verbal de exprimir uma emoção ímpar. Uma emoção que jamais será traduzida por palavras2. AMO VOCÊS! À minha irmã, Heloísa, pelo apoio e incentivo fraternal oferecido desde que eu era “pequenininha”, quando, em um momento difícil, deixou de ser a única e passou a dividir os nossos pais comigo... “A minha herança pra você, é uma flor com um sino, uma canção, um sonho, nem uma arma ou uma pedra eu deixarei [...] E hoje nos lembramos sem nenhuma tristeza dos foras que a vida nos deu; Ela com certeza estava juntando Você e Eu3”. Muito obrigada. A Dunguinha, o quinto elemento da família, sempre disposto a me alegrar com toda a sua agitação “poodleana”. A Anderson (Anso), por seu companheirismo, por seu dedicado amor, que nas angústias oriundas do processo final, soube me acalmar. Agradeço pelo. 1. Foram quatro anos de graduação em Serviço Social e mais dois de mestrado. Artista desconhecido, adaptada. 3 Minha herança: uma flor. Música de Vanessa da Mata. 2.

(7) incentivo nas horas de desânimo, pelo consolo nos momentos de tristeza e pela presença nas alegrias. À Profa. Dra. Silvana Mara, responsável por me orientar durante os últimos seis anos, por seu compromisso ético com a nossa formação e por sua amizade. À Profa. Dra. Sâmya Ramos, por sua disponibilidade em participar das bancas de avaliação deste trabalho. À Profa. Dra. Rita de Lourdes, portadora da notícia da aprovação, por sua contribuição em minha formação, por sua amizade e por estar participando pela segunda vez da avaliação deste trabalho. “Obrigada”. À Profa. Dra. Miriam Inácio pela orientação e discussões durante o estágio docência, na disciplina Seminário Temático sobre Gênero, e por ter aceitado participar da banca de avaliação deste trabalho. Às demais docentes, à Lucinha e às bolsistas do Programa de PósGraduação em Serviço Social (PPGSS), pelas orientações e pelo apoio sempre que precisei. Às integrantes do Grupo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED), pelo rompimento da estrutura da sala de aula, pela troca de saberes, pelo afeto. Aos/Às. companheiros/as. da. turma. 2013,. pelos. bons. momentos. compartilhados. Às companheiras de luta da gestão 2014-2017 CRESS/RN “Se o presente é de luta, o futuro nos pertence”, pelo compromisso ético-político profissional e pela compreensão das ausências motivadas pelo processo final do mestrado. Ao Conselho Federal de Serviço Social e à Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social pelo fornecimento de material para a realização da pesquisa. À Marta Simone, pelas reflexões, gargalhadas e angústias compartilhadas..

(8) À Ellen Galvão, Kamila Protásio, Robério Queiroz, Francisco Máximo e André Guimarães, colegas de trabalho, pelo apoio. Ao amigo João Marculino, por sua arte que muito contribuiu para a beleza do trabalho. Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) pela concessão do auxílio econômico necessário para a minha permanência no curso. Por fim, são muitos e, dada a emoção que por hora sinto, chego à conclusão que acabarei esquecendo alguém; em suma, a todos e à todas que contribuíram direta e indiretamente neste processo, muito obrigada!.

(9) Por um mundo onde sejamos socialmente iguais, Humanamente diferentes e Totalmente livres. (Rosa Luxemburgo).

(10) RESUMO. A Dissertação tem como objeto a análise da produção intelectual e política no âmbito do Serviço Social brasileiro sobre a questão da diversidade sexual. A temática é fundamental para o Serviço Social, especialmente, após a década de 1990, momento de elaboração de uma concepção ética a partir dos fundamentos ontológicos-históricos da profissão. A realização do referido estudo implicou a necessidade de apropriação do objeto analisado além da aparência, elencando suas características centrais, possibilidades e desafios. Para isso, utilizamos como estratégias de investigação a análise bibliográfica e documental. Foram analisadas as tendências teórico-políticas da produção intelectual, a partir dos anais dos encontros nacionais mais expressivos da categoria (CBAS e ENPESS), dos documentos do CFESS e periódicos relacionados à temática. O recorte temporal analisado para fins da pesquisa compreendeu um intervalo de vinte anos (19932013), sendo priorizados os anos de 1993, 2003 e 2013, ou, quando não coincidiam, o período que mais se aproximava, e artigos cujos títulos apresentavam um ou mais dos seguintes termos: “Orientação Sexual”, “Diversidade Sexual”, “LGBT”, “Lésbica”, “Gay”, “Bissexual”, “Travesti”, “Transexual”, “Transgênero” e “Homossexual”. A partir do estudo, considerando 30 artigos, foram identificadas duas tendências: (1) possui como característica principal o entendimento de que os direitos e as políticas públicas conquistadas nos embates entre os movimentos sociais LGBT e o Estado são necessários enquanto mediações para a construção de uma sociabilidade em que a diversidade sexual seja vivida livremente; e (2) diversa, mas o que a unifica, ou ainda, o que vai torná-la identificável é o seu horizonte de lutas: o vislumbre do MPC como o único possível. Os resultados desta pesquisa indicam, ainda, que reconhecer a produção intelectual acerca da diversidade sexual enquanto uma gota no oceano, ou seja, que é pouco expressiva, pode causar a impressão de que ela não é necessária; porém, o nosso trabalho vem mostrar justamente o contrário. Um dos desafios é justamente o aprimoramento da discussão entre os sujeitos envolvidos/as cotidianamente na formação e no exercício profissionais.. Palavras-chaves: Diversidade Sexual. Serviço Social. Produção intelectual e política..

(11) ABSTRACT. This work aims to analyze the intellectual and political production in the Brazilian Social Work on the sexual diversity issue. This subject is fundamental to the social work, especially after the 1990s, when was developed a conception of ethics from the historical-ontological background in the profession. The accomplishment of this study implied the necessity of appropriation of the object analyzed besides the appearance, listing its central characteristics, possibilities and challenges. For this, we use bibliographic and documentary analysis as research strategies. The theoretical and political tendencies of intellectual production were analyzed from the annals of the most significant national meetings of the category (CBAS and ENPESS), CFESS documents and periodicals related to the theme. The analyzed time frame for the purposes of this research covered a period of twenty years (1993 2013), where the years of 1993, 2003 and 2013 were priorized, or, when they did not coincide, the period that comes closest and articles whose titles presented one or more of the following terms: "Sexual Orientation", "Sexual Diversity", "LGBT", "Lesbian", "Gay", "Bisexual", "Transvestite", "Transgender", "Transsexual" and "Homosexual. From the study, considering 30 articles, two main ideas were identified: 1) one that has as main characteristic the understanding that the rights and the public policies conquered in the clashes between the LGBT social movements and the State are necessary as mediations for the construction of a sociability in which the sexual diversity can be lived freely; and (2) another one that is diverse but is identified by its horizon of struggle: the seeing of the capitalist mode of production as the only one possible. The results of this research also indicate that recognizing the intellectual production of sexual diversity while a drop in the ocean, ie, that is not expressive, may give the impression that it is not necessary; However, our work shows just the opposite. One of the challenges is exactly the improvement of the discussion between the subjects involved daily in the. professional practice and. formation.. Keywords: Sexual Diversity. Social Work. Intellectual and political production..

(12) LISTAS DE ILUSTRAÇÕES. Ilustração 1: Mapa de homocídios 2014 – adaptado ........................................... 41. Ilustração 2: Peça publicitária – Campanha “O amor fala todas as línguas Assistente Social na luta contra o preconceito: campanha pela livre orientação e expressão sexual” ............................................................................................. 61.

(13) LISTA DE TABELAS. Tabela 1 – CBAS (A partir da década de 1990) .................................................. 56 Tabela 2 – CBAS e a incorporação da temática em números ............................. 57. Tabela 3 – ENPESS e a incorporação da temática em números ........................ 69. Tabela 4 – Produção intelectual CBAS 1993-2013, referente à temática ........... 70. Tabela 5 – ENPESS e a incorporação da temática em números ........................ 75. Tabela 6 – Produção intelectual ENPESS 1993-2013, referente à temática ....... 77. Tabela 7 – Artigos relacionados à temática em periódicos .............................. 80. Tabela 8 – Artigos relacionados à temática - Periódicos 1993-2013 ................... 81.

(14) LISTA DE GRÁFICOS. Gráfico 1: Produção intelectual em números – CBAS e ENPESS ...................... 71 Gráfico 2: Representação das tendências em números (CBAS) ......................... 73. Gráfico 3: Representação das tendências em números (ENPESS) .................... 75.

(15) LISTA DE SIGLAS. ABEPSS – Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social BA – Bahia BM – Banco Mundial BSH – Brasil Sem Homofobia CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CBAS – Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais CEP – Código de Ética Profissional CFAS – Conselho Federal de Assistentes Sociais CFESS – Conselho Federal de Serviço Social CICIS – Comissão de Comunicação e Informação em Saúde CIRH – Comissão de Recursos Humanos CISMU – Comissão de Saúde da Mulher CISPLGBT – Comissão de Saúde da População LGBT CISPN – Comissão de Saúde da População Negra CIST – Comissão de Saúde do Trabalhador CNCD/LGBT – Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de LGBT CNDI – Conselho Nacional dos Direitos do Idoso Conselhão – Fórum dos Conselhos Federais de Profissões Regulamentadas COFIN – Comissão de Orçamento e Financiamento.

(16) CONANDA – Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente CNS – Conselho Nacional de Saúde CISM – Comissão de Saúde Mental CONEP – Comissão Nacional de Ética na Pesquisa CRAS – Conselho Regional de Assistentes Sociais CRESS – Conselho Regional de Serviço Social CRTS – Câmara de Regulação do Trabalho em Saúde DEAE – Departamento de Assistência ao Estudante DH – Direitos Humanos ENESSO – Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social ENPESS – Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social FBO – Fórum Brasil do Orçamento FNDCA – Fórum Nacional dos direitos da criança e do adolescente FENTAS – Fórum das Entidades Nacionais dos Trabalhadores da Área de Saúde FNTSUAS – Fórum Nacional dos Trabalhadores do Sistema Único de Assistência Social FNRU – Fórum Nacional de Reforma Urbana FPM – Fórum Permanente Mercosul COLACATS – Comitê Latino-Americano e Caribenho de Organizações Profissionais de Serviço Social FHC – Fernando Henrique Cardoso FMI – Fundo Monetário Internacional GEPTED – Grupo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Ética e Direitos GGB – Grupo Gay da Bahia.

(17) GTP – Grupo Temático de Pesquisa LGBT – Lésbica, Gay, Bissexual, Travesti e Transexual MEC – Ministério da Educação MG – Minas Gerais MPC – Modo de Produção Capitalista MR – Movimento de Reconceituação OI – Organização Internacional ONG – Organização Não Governamental PDC – Projeto de Decreto Legislativo PEPSS – Projeto Ético-Político de Serviço Social PFL – Partido da Frente Liberal PL – Partido Liberal PLC – Projeto de Lei da Câmara PNDH-3 – Plano Nacional de Direitos Humanos 3 PROAE – Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis PT – Partido dos Trabalhadores PV – Partido Verde RJ – Rio de Janeiro SP – São Paulo STF – Supremo Tribunal Federal TCC – Trabalho de Conclusão de Curso TO – Tocantins UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

(18) SUMÁRIO. 1. INTRODUÇÃO .................................................................................................. 17 2. ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO QUESTÃO DE OPRESSÃO E DE DIREITOS HUMANOS .......................................................................................... 24 2.1 O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE .......... 27 2.2 A QUESTÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL E OPRESSÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA ........................................................................................................ 33. 3. O SERVIÇO SOCIAL E A INCORPORAÇÃO DA TEMÁTICA DA ORIENTAÇÃO E EXPRESSÃO SEXUAL ............................................................ 44 3.1 O PROCESSO DE RUPTURA FRENTE AO SERVIÇO SOCIAL TRADICIONAL ....................................................................................................... 46. 3.2 O PAPEL DO CONSELHO FEDERAL DO SERVIÇO SOCIAL E A INCORPORAÇÃO MAIS VISÍVEL DA TEMÁTICA ................................................ 53. 4. AS TENDÊNCIAS TEÓRICO-POLÍTICAS NA QUESTÃO DA ORIENTAÇÃO E EXPRESSÃO SEXUAL: Análise da produção no âmbito do Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais e do Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social e nos periódicos da área ................................................................ 63. 4.1 OS EVENTOS E OS PERIÓDICOS EM NÚMEROS ...................................... 67 4.1.1 A Diversidade Sexual no Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS) ................................................................................................................... 67. 4.1.2 A Diversidade Sexual no Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS) ................................................................................................... 73. 4.1.3 A Diversidade Sexual nos Periódicos ........................................................... 80. 4.2 AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS E COMO ELAS SE EXPRESSAM ............... 82 4.2.1 Tendência 1 .................................................................................................. 83. 4.2.2 Tendência 2 .................................................................................................. 85. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 89 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 92.

(19) 17. 1 INTRODUÇÃO. Talvez nossa reflexão deva começar por aí: pelo fato de que nossa sobrevivência está ameaçada. [...] Temos a chave do futuro da humanidade, mas para poder usá-la temos que compreender o presente. [...] Não podemos nos permitir desviar os olhos.”4. Perceber o mundo em suas contradições durante a adolescência, nos fez refletir sobre o preconceito vivido por pessoas que ousam transgredir os muros da heterossexualidade. O que para muitos/as parecia comum, para nós, era algo estarrecedor. Não se trata necessariamente de se identificar com relações que rompem com a heterossexualidade para viver diretamente momentos de lesbofobia, homofobia, bifobia e transfobia5. A ausência de liberdade de orientação e de expressão sexual em tempos de desafeto e de intolerância fez com que percebêssemos uma luta a ser travada e ela insistia em nos convocar. Foi assim o nosso primeiro „insight‟ com uma realidade que se tornou fonte de inquietações. Imaginamos, equivocadamente, e por algum tempo, que em algumas esferas desta sociedade atos discriminatórios não ocorressem, como por exemplo, em. uma. universidade. pública.. Pensávamos. encontrar. um. espaço. de. aprofundamento teórico e crítico de conhecimentos em que a diversidade humana era entendida e, sobretudo, respeitada. Na verdade, no ano de 2008, ingressamos no curso de graduação em Serviço Social da Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN e nos deparamos com um ambiente acadêmico, hegemonicamente6, defensor de um conhecimento. mercadológico,. patriarcal,. heterossexista.. Contudo,. no. desenvolvimento dos estudos e reflexões, fomos apreendendo a universidade como. 4. Êxodos - Sebastião Salgado. Os termos utilizados designam o sentimento de ódio, de aversão ou de discriminação de um indivíduo contra lésbicas, homossexuais, bissexuais e transgêneros, respectivamente. 6 Por hegemonia entendemos a dominação ideológica, cultural e/ou econômica por intermédio de um processo permanente de lutas e disputas de ideias capazes de fazer vingar um projeto defendido. Deste modo, hegemonia não está necessariamente atrelada ao significado de maioria haja vista que é possível algo ser hegemônico e não ter o consentimento da maioria. Para aprofundar o conceito, cf. Gramsci (1999). 5.

(20) 18. um espaço contraditório em que diferentes projetos societários se expressam e disputam sua direção social. Um ano após o ingresso na UFRN, tivemos a oportunidade de participar como bolsista de iniciação científica de projeto de pesquisa7 no qual nos dedicamos às temáticas relacionadas à Ética, aos Direitos Humanos e ao Serviço Social, integrados ao Grupo de Estudos e Pesquisas Trabalho, Ética e Direitos (GEPTED), onde pudemos dialogar com autores clássicos da tradição marxista e com autores contemporâneos do Serviço Social e áreas afins. Tais estudos tinham o objetivo de apreender os fundamentos teórico-metodológicos capazes de explicar a dinâmica da sociedade capitalista bem como as dimensões da política, da ética e do direito, além do entendimento sobre o Serviço Social e o que fundamenta comportamentos, políticas, direitos e ações sobre a diversidade na sociabilidade do capital. Além da participação em eventos temáticos, especialmente as disciplinas “Ética Profissional e Serviço Social” (5º período do curso, semestre letivo 2010.2) e “Seminário de Estágio 1 e 2” (6º e 7º período respectivamente durante o ano de 2011) foram cruciais para nos aproximar da discussão sobre a orientação e expressão sexual em seus avanços, perspectivas e contradições. No ano de 2011, realizamos o Estágio Curricular Obrigatório 8 no Departamento de Assistência ao Estudante (DEAE)9 vinculado à Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis (PROAE) da UFRN. Como critério obrigatório no cumprimento do estágio, identificamos determinada lacuna no trabalho do DEAE e elaboramos um projeto de intervenção10; Intitulado “OFICINAS TEMÁTICAS SOBRE DIVERSIDADE: Os reflexos da sociedade na atuação profissional do Departamento de Assistência ao Estudante – limites e possibilidades” objetivávamos analisar e discutir juntamente à equipe do DEAE e aos/às residentes os temas referentes à diversidade humana, assim como os desafios e as possibilidades postas para o combate ao racismo, à 7. Intitulado “Ética, Direitos Humanos e Projeto Ético-Político do Serviço Social”, a nossa inserção no projeto teve a orientação da Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos e durou o período de 2010-2012. 8 Estágio curricular obrigatório realizado, durante o ano letivo de 2011, no Departamento de Assistência ao Estudante/PROAE/UFRN, tendo como supervisora de campo a Ms. Viviane Alline Gregório Azevedo e como supervisora acadêmica a Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos. 9 Com a mudança de nomenclatura no ano de 2012, o Departamento de Assistência ao Estudante (DEAE) passou a ser chamado de Coordenadoria de Apoio Pedagógico e Ações de Permanência (CAPAP). 10 O projeto foi elaborado e executado em parceria com a companheira de estágio, Renata Ricardo Silva..

(21) 19. homofobia, lesbofobia, bifobia, transfobia e à violência de gênero, presentes na sociabilidade capitalista. Consideramos que o tema proposto naquele momento era ainda incipientemente discutido na universidade, o que não significava que a invisibilização do mesmo esteja desconectada do restante da sociedade; isto se dá por vários motivos, dentre eles a naturalização das relações sociais e a reprodução de formas históricas de opressão. Concluindo o primeiro ciclo da nossa vida acadêmica, apresentamos no período letivo 2012.1 o Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) 11 intitulado “Diversidade Sexual na UFRN como questão de direitos humanos: sujeitos coletivos e estratégias em defesa da liberdade de orientação e expressão sexual”. Resultado de reflexões de todo o acúmulo de experiências citados anteriormente, o nosso trabalho final do curso de graduação analisou as contribuições da universidade na defesa da liberdade de orientação e de expressão sexual como direito humano, ao mapear os sujeitos coletivos da UFRN que atuam na defesa da liberdade de orientação e expressão sexual e analisar as iniciativas coletivas de grupos atuantes na universidade e suas estratégias na propagação da temática no universo acadêmico. Em nosso percurso de iniciação nas atividades como pesquisadora constatamos que a universidade é uma instituição dinâmica, multifacetada e atrelada às determinações econômicas e socioculturais de cada tempo histórico. Os sujeitos analisados em nossa monografia assinalavam perspectivas teórico-metodológicas diversas na abordagem da temática e necessitavam de socialização mais ampla de suas ações e estudos para oxigenar o debate no universo acadêmico e na sociedade, tendo o papel principal de serem responsáveis pela ruptura do silêncio institucional frente às situações de opressão vivenciadas. Concluímos que a UFRN, enquanto. instituição, responde,. fragilmente, às expressões de. homofobia,. lesbofobia, bifobia e transfobia, prevalecendo, ainda, a responsabilização dos indivíduos oprimidos de buscarem iniciativas de resistência e de luta. Ao finalizar a graduação, sentimos que era vital dar o passo seguinte. O futuro que há muito já se delineava, estava cada vez mais próximo. Mas como. 11. O Trabalho de Conclusão de Curso foi orientado pela Profa. Dra. Silvana Mara de Morais dos Santos..

(22) 20. seguir? O que investigar? Uma coisa era certa, a fonte da temática inicial ainda era muito forte. A partir da experiência vivenciada no curso de graduação, associada a nossa inserção no mercado de trabalho como assistente social, chegamos ao início da nossa próxima fase, que se anunciou ainda durante as orientações do TCC, onde pudemos refletir sobre a necessidade de apreender como estava sendo discutida a diversidade sexual no âmbito da categoria profissional. Na continuidade das reflexões delimitamos para o projeto do mestrado investigar a produção intelectual e política no âmbito do Serviço Social sobre a questão da orientação e expressão sexual, no período de 1993 – o qual é considerado marco histórico, uma vez que neste ano passou a vigorar o Código de Ética Profissional de 1993, caracterizado pela reafirmação da liberdade como valor ético central – a 2013, perfazendo, portanto, duas décadas. A realização do referido estudo implica a necessidade de aproximação com uma teoria social12 capaz de partir da aparência, alcançando a essência do objeto estudado, com suas implicações, possibilidades e limitações, com vistas ao fortalecimento das respostas profissionais comprometidas com a articulação teóricometodológica, ético-política e técnico-operativa indicadas pelo Projeto Ético-Político do Serviço Social (PEPSS). Do/a profissional de Serviço Social, com a flexibilização do mundo do trabalho, se exige a capacidade de analisar os processos sociais, “tanto em suas dimensões macroscópicas quanto em suas manifestações quotidianas; um profissional criativo e inventivo, capaz de entender o „tempo presente, os homens presentes, a vida presente‟” (IAMAMOTO, 2009, 49). Assim sendo, o exercício profissional do/a assistente social deve estar de acordo ao que propõe o PEPSS, considerando as contribuições que os/as assistentes sociais podem dar à defesa, no cotidiano profissional, da eliminação de 12. As críticas dos/as autores/as pós-modernos não nos convenceram de que o marxismo é incapaz de contemplar questões sexuais, gênero e LGBT. Segundo Simionato (2009, p. 08), “os teóricos pós‐modernos passaram a defender a tese de que as grandes narrativas, especialmente o marxismo, estariam ancoradas numa visão dogmática e economicista, excluindo de suas análises as dimensões subjetivas dos processos sociais. Cabe lembrar, contudo, que no debate marxista a compreensão da objetividade histórica não se reduz a esfera da produção, na medida em que essa também abarca a reprodução das relações sociais entre os homens. Tais relações, se abordadas de um ponto de vista histórico‐ontológico, não deixam de incluir os processos singulares dos indivíduos sociais, embora nunca desvinculados da historicidade que os fundamenta.”.

(23) 21. todas as formas de preconceito e de discriminação por questões de classe social, gênero, etnia, religião, nacionalidade, orientação sexual, idade e condição física, incentivando o respeito à diversidade, à discussão das diferenças e a garantia do pluralismo (BARROCO, 2006), significando, dentre outras coisas, o rompimento com a lógica da negação dos direitos e para, além disso, reconhecer a liberdade como valor ético central. Como nas demais esferas da vida social, no campo afetivo-sexual os preconceitos são acentuados seguindo a moral dominante que visa estabelecer o controle social sobre os indivíduos, seus afetos e o modo de viver a sexualidade. É neste sentido que o desrespeito à diversidade sexual se impõe e se transforma em forma de opressão. E os processos de construção de sujeitos compulsoriamente heterossexuais. se. fazem. acompanhar. pela. rejeição. de. qualquer. outra. orientação/expressão que defira do “padrão”, se expressando por meio de atitudes, enunciações e comportamentos homofóbicos, lesbofóbicos, bifóbicos e transfóbicos. Segundo, Mesquita et. al. (2001, p. 01) “as questões que provocam preconceito precisam ser problematizadas e desmistificadas, porque o preconceito, enquanto algo que dizima o humano, destitui os indivíduos sociais de sua autonomia e de sua liberdade”, daí a importância de discutir a liberdade de orientação e expressão sexual no âmbito da categoria profissional sendo imprescindíveis estudos mais aprofundados e abrangentes que possam contribuir criticamente na construção de articulações políticas, criando estratégias para o enfrentamento de formas consolidadas de opressão e para ensejar ampliação das alianças com outros sujeitos coletivos – sobretudo com aqueles dispostos a construir uma sociabilidade mais livre e, ainda, comprometidos com o avanço da democracia e da consolidação dos direitos humanos em uma perspectiva emancipatória. Podemos afirmar, a partir de nossos estudos, que a defesa crítica da livre orientação e expressão sexual no Brasil ainda é incipiente. O investimento na realização de pesquisas na perspectiva da livre orientação e expressão sexual se faz necessária para a contribuição na elaboração de ações capazes de dar respostas à determinada população que tem sua liberdade e seus direitos cerceados cotidianamente. Embora a Constituição de 1988 aponte como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil, em seu artigo 3º, a promoção do bem de todos/as, “sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e qualquer outra forma de.

(24) 22. discriminação” (BRASIL, 1988, grifo nosso), o país ocupa o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, concentrando 4/5 do total de execuções no âmbito mundial. Segundo os dados do Grupo Gay da Bahia (GGB)13, nos Estados Unidos, com aproximadamente 100 milhões a mais de habitantes que em nosso país, o risco de um homossexual ser assassinado é 1280 vezes menor14. O Brasil é o retrato de um Estado que funciona precariamente, com suas políticas públicas operando minimamente, sujeitando os indivíduos à negação e/ou violação dos direitos humanos resultando na prevalência de situações de impotência, impunidade, insegurança e medo. Dentre tantos outros exemplos de organizações, o Estado, os meios de comunicação e a igreja são, historicamente, instrumentos de perpetuação de ideais reprodutores de preconceitos. Tais grupos, ao disseminar suas ideologias predominantemente conservadoras, têm ampliado sua influência, difundindo um modo de pensar desfavorável ao respeito à diversidade humana. Reconhecer a população homoafetiva enquanto sujeito de direitos é uma luta que demanda, como tantas outras, mediações capazes, de contribuir na reflexão sobre como se dão as relações sociais, vale ressaltar, de natureza contraditória, possibilitando a crítica à alienação gerada pela sociedade do capital. Foi neste sentido que o Serviço Social contemporâneo incorporou a defesa intransigente da igualdade, da liberdade, dos direitos, da recusa do arbítrio e do autoritarismo; e empenhou-se na eliminação de todas as formas de preconceito e violência expressas na reprodução da homofobia/lesbofobia/transfobia, do racismo, do machismo e do sexismo (MESQUITA; MATOS, 2011, p. 140). Tal conquista, se deve, especialmente, à resistência hegemônica da categoria em se manter na defesa do PEPSS, propiciando respostas positivas às demandas. 13. profissionais. dos. mais. variados. espaços. sócio-ocupacionais,. É importante ressaltar que os dados não revelam a real dimensão do problema aqui discutido, haja vista que, a maioria das vezes, as vítimas da violência passam rapidamente a ser identificados como os/as causadores/as da violência e daí segue-se um quadro de impunidade, que alimenta a sub-notificação dos casos de violência homo/lesbi/bi/transfóbica. 14 Os referidos dados podem ser encontrados no site www.ggb.org.br, acesso em 15 de junho de 2014..

(25) 23. considerando a agenda política dos movimentos sociais e o fato de que os/as nossos/as usuários/as vivenciam as mais diversas formas de relação afetivo-sexual. É com o intuito de dar visibilidade à discussão realizada pelos/as assistentes sociais que decidimos estudar como e por quê a profissão entende a necessidade de problematizar a liberdade de orientação e expressão sexual. Trata-se, portanto, de inserir a luta pela diversidade sexual no universo profissional, no campo temático sobre a política em defesa dos direitos humanos e da ética, no movimento críticodialético desta sociabilidade, que possui como base fundante a exploração do homem pelo homem, apreendendo suas contradições e seus limites. Neste sentido, para fins de atingir o objetivo geral da pesquisa15, optamos como percurso metodológico a abordagem quanti-qualitativa. Para isso, mapeamos, caracterizamos e analisamos a produção intelectual e política no âmbito do Serviço Social brasileiro sobre a questão da orientação e expressão sexual (1993-2013), identificando suas tendências por meio da bibliografia produzida a partir de anais de 3 edições tanto do Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais (CBAS), quanto do Encontro Nacional de Pesquisadores em Serviço Social (ENPESS), documentos produzidos pelo Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) e de periódicos da área, escolhidos a partir de critérios apresentados a seguir. Conforme previsto no projeto da pesquisa, a amostra foi escolhida a partir dos títulos dos artigos que continham os termos: “Orientação Sexual”, “Diversidade Sexual”,. “LGBT”,. “Lésbica”,. “Gay”,. “Bissexual”,. “Travesti”,. “Transexual”,. “Transgênero” e “Homossexual”; pelos periódicos de maior destaque no QualisPeriódicos, que é um sistema utilizado para classificar a produção científica dos programas de pós-graduação. O recorte temporal, foi considerado um intervalo de vinte anos (1993-2013), sendo priorizados os anos de 1993 - início da vigência do Código de Ética de 1993, 2003 - 10 anos após, e 2013 - 20 anos após e fim do período escolhido, ou, quando não coincidiam, o evento em que o período mais se aproximava. Sobre a delimitação da análise sobre as entidades político-representativas da categoria, chegamos à conclusão que a instituição escolhida seria o Conselho Federal de Serviço Social (CFESS), por ser ele o órgão normativo de grau superior. 15. Nossa pesquisa se vincula à área de concentração: Sociabilidade, Serviço Social e Política Social e à linha de pesquisa: Ética, gênero, cultura e diversidade do PPGSS/UFRN..

(26) 24. da profissão, competindo-o, conforme o artigo 8º da lei que regulamenta a profissão de assistente social,. I - orientar, disciplinar, normatizar, fiscalizar e defender o exercício da profissão de Assistente Social, em conjunto com o CRESS; II - assessorar os CRESS sempre que se fizer necessário; III - aprovar os Regimentos Internos dos CRESS no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS; IV - aprovar o Código de Ética Profissional dos Assistentes Sociais juntamente com os CRESS, no fórum máximo de deliberação do conjunto CFESS/CRESS; V - funcionar como Tribunal Superior de Ética Profissional; VI - julgar, em última instância, os recursos contra as sanções impostas pelos CRESS; VII - estabelecer os sistemas de registro dos profissionais habilitados; VIII - prestar assessoria técnico-consultiva aos organismos públicos ou privados, em matéria de Serviço Social (BRASIL. Lei Nº 8.662/1993). Por fim, apresentamos a estrutura do trabalho, fruto dos eixos norteadores da pesquisa. O primeiro capítulo consiste na apresentação da dissertação. No segundo, analisamos a orientação sexual como questão de opressão e de direitos humanos. Nele discutimos como a sociedade do capital se fortalece sobre o solo do conservadorismo. que. se. expressa. no. individualismo,. no. preconceito,. na. competitividade e nas relações efêmeras. No terceiro capítulo, situamos historicamente o Serviço Social e a incorporação da temática da orientação e expressão sexual. Aqui tratamos o processo de ruptura frente ao Serviço Social tradicional relacionado ao movimento sócio histórico brasileiro e o papel do CFESS com a questão da reformulação do código de 1993, bem como, a incorporação da temática da orientação e expressão sexual no âmbito da profissão. O capítulo quarto contém as tendências teórico-políticas na apreensão da questão da orientação e expressão sexual presentes no debate teórico-político do Serviço Social. Apresentamos a análise realizada a partir das tendências identificadas nos artigos publicados nos anais dos CBAS e ENPESS e em periódicos da área durante o intervalo de vinte anos (1993-2013). Neste sentido, foram analisados 15 artigos publicados nos anais de três edições do CBAS, 12 artigos publicados nos anais de duas edições do ENPESS e 04 artigos publicados em periódicos da área, o que totalizou 31 artigos..

(27) 25. O nosso desejo é que com esta dissertação possamos contribuir na reflexão crítica sobre a necessidade histórica quanto à incorporação da diversidade sexual no Serviço Social, evidenciando possibilidades de combate ao preconceito, à discriminação e à violação de direitos no cotidiano profissional..

(28) 26. 2 ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO QUESTÃO DE OPRESSÃO E DE DIREITOS HUMANOS. * Intervenção artística “Basta de Homofobia” por Viviany Bebelone, durante a 19ª Parada Gay de São Paulo/SP, 2015..

(29) 27. 2 ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO QUESTÃO DE OPRESSÃO E DE DIREITOS HUMANOS Desconfiai do mais trivial, na aparência singelo. E examinai, sobretudo, o que parece habitual. Suplicamos expressamente: não aceiteis o que é de hábito como coisa natural, pois em tempo de desordem sangrenta, de confusão organizada, de arbitrariedade consciente, de humanidade desumanizada, nada deve parecer natural nada deve parecer impossível de mudar 16.. O debate sustentado em torno da orientação sexual 17 como questão de opressão e de Direitos Humanos (DH) se faz necessário pelo fato de ser uma questão real aprofundada e invisibilizada na sociedade do capital, visto que nesta sociabilidade são (re)produzidos dispositivos e modos de socialização que determinam a existência de formas de opressão. Desse modo, desenvolveremos o item dividindo-o em dois momentos: (1) O papel dos direitos humanos na contemporaneidade e (2) Orientação sexual como questão de opressão na sociedade capitalista.. 2.1 O PAPEL DOS DIREITOS HUMANOS NA CONTEMPORANEIDADE. Para iniciarmos a discussão, é fundamental apontar sobre qual direito estamos nos referindo; Deste modo, entendemos que o direito. surgido porque existe a sociedade de classes é, por sua essência, necessariamente um direito de classe: um sistema para ordenar a sociedade segundo os interesses e o poder da classe dominante. (LUCÁKS, 1981, p. 208 apud TONET, 2002, p. 5). Sendo um sistema que organiza interesses e poder da classe dominante em detrimento dos interesses da maioria da população, o direito desempenha uma função ideológica, gerando consequências econômicas, políticas e culturais catastróficas. Consideramos também, a dimensão contraditória do direito enquanto mediação capaz de possibilitar resistência às mais variadas formas de opressões.. 16. Nada é impossível de mudar - Bertolt Brecht. Sabemos que a existência de relações não heterossexuais não é recente. Civilizações que antecederam a era moderna vivenciaram homossexualidades. Entretanto, para fins de recorte temporal, iremos nos deter à história da orientação sexual na sociedade capitalista. 17.

(30) 28. Nenhum dos chamados direitos do homem vai, portanto, além do homem egoísta, além do homem tal como ele é membro da sociedade civil, a saber: [um] indivíduo remetido a si, ao seu interesse privado e ao seu arbítrio privado, e isolado da comunidade. Neles, muito longe de um homem ser apreendido como ser genérico [é] antes a própria vida genérica, a sociedade, [que] aparecem como um quadro exterior aos indivíduos, como limitação da sua autonomia original. O único vínculo que os mantém juntos é a necessidade da natureza, a precisão [Bedürfns] e o interesse privado, a conservação da sua propriedade e da sua pessoa egoísta (MARX, 2009, p. 65-66).. Para exemplificarmos, mesmo durante um longo período de crise econômica, o sistema capitalista, apoiado no direito burguês, continua a reproduzir a sua lógica desigual de constituição de uma minoria de privilegiados. As contínuas medidas de cortes em investimentos sociais, reduções de salários, demissões, expressas nos chamados pacotes de austeridade, tem tido efeito decisivo na concentração de renda na sociedade. Na luta pelo rompimento com tal lógica, as instituições defensoras de direitos, as políticas sociais e as lutas se constituem como mediações contemporâneas que podem avançar e contribuir para o processo de resistência à lógica instituída, a depender da direção social que assumam. É importante perceber que, na pluralidade das direções sociais dos movimentos sociais, concordamos com Silva ao acreditar na existência de dois horizontes de luta. O primeiro conformado ao plano das reformas no sistema capitalista, “os limites situam-se em termos da ocorrência de lutas de natureza específica e às vezes fragmentária, com pouca ou quase nenhuma consciência de classe e sem articulação com lutas de caráter radicalmente emancipatório” (2011, p. 55), deste modo, continuando o raciocínio da autora, estas reivindicações passam a ser absorvidas pela ordem vigente se efetivando o processo de coisificação das relações e, assim, a ampliação da dominação e da alienação. E segundo relacionado à teleologia das políticas de identidade que necessitam contemplar a transformação das relações do mundo do trabalho e da cultura – abarcando os valores, a moral, a ética, a moralidade, o imaginário, comportamentos, sentimentos, a afetividade, os desejos e etc. – neste projeto libertário está “implícita a idéia de solidariedade ampliada, expressa na sua própria práxis em um companheirismo verdadeiro, vivo e substantivo” (IBIDEM, p. 60)..

(31) 29. Sabe-se que a Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, elaborada após a II Guerra Mundial, teve como uma de suas finalidades evitar que se repetissem atrocidades a exemplo do nazismo. Contudo, mesmo que a partir deste marco muito já se tenha avançado em termos político-jurídicos internacionais, a história da intolerância continua a ser escrita, em todo o mundo (BARROCO, 2006, grifo nosso). Na produção e reprodução social em que os indivíduos se reproduzem enquanto seres singulares, os interesses da classe hegemônica são disseminados com o caráter de “ideal” para todos/as e é na busca por este ideal que a classe trabalhadora nega suas reais necessidades em prol de atender às normas e valores, por vezes, internalizados sem se questionar como surgem e por qual motivo, reproduzindo a lógica instituída, seja com pragmatismo, juízos provisórios, que se manifestam particularmente como preconceitos, agudizando ainda mais o processo de alienação. O ethos burguês, próprio da sociabilidade do capital, fortalece o processo do individualismo, ou seja, sob a premissa de que a liberdade de cada pessoa acaba quando começa a do/a outro/a, os sujeitos sociais tendem a satisfazer imediatamente suas necessidades, de forma isolada e competitiva, destituindo-se dos processos sociais, não reconhecendo o/a outro/a ou mesmo as lutas coletivas como possibilidades históricas de ganhos/conquistas da humanidade. Assim, sob a lógica do capital, inicia-se uma busca desenfreada pelo consumo, a fim de satisfazer necessidades particulares via mercado e/ou via mercadorias, em detrimento do atendimento real das necessidades humanas. Este ethos, inspirado nos fundamentos liberais, favorece formas de particularismos, inclusive no âmbito das reivindicações por direitos, bem como o desenvolvimento das ações moralizantes gerando o aumento da violência, da criminalização dos movimentos sociais, do conservadorismo, adotando, em geral, medidas repressivas com o objetivo de manutenção da ordem estabelecida.. O indivíduo nasce em uma sociedade que já conta com um sistema normativo e com costumes instituídos; através das instituições básicas responsáveis por sua socialização primária, como a família e a escola, ele aprende a assimilar uma série de comportamentos e valores que passam a fazer parte de seu referencial moral e de seu ethos ou caráter: uma espécie de código moral que orienta suas.

(32) 30. escolhas e influencia seus julgamentos de valor (BARROCO, 2010, p. 62).. Estamos falando de uma sociedade fundada pela propriedade privada, na qual parcela mínima da população detém o poder econômico, político e cultural sobre toda a produção, enquanto a maioria apenas possui a força de trabalho. A moral aspira se objetivar de maneira alienada, reproduzindo julgamentos de valor baseados em juízos provisórios, respondendo às necessidades mais imediatas e superficiais da singularidade individual, abrindo caminho para o moralismo e para a adesão acrítica do ethos dominante (Idem, 2009, p. 173). Além disso, determinadas conjunturas agravam mais ainda a mentalidade competitiva da sociedade capitalista, como é o caso da crise estrutural do capital que tem seu inicio durante a década de 1970, inaugurando-se um longo período de recessão associado às baixas taxas de crescimento com altas taxas de inflação (ANDERSON, 1995) e o esgotamento do modelo produtivo fordista-taylorista18. Em resposta a esta crise, o modelo econômico vigente deu início a uma investida do capital e do Estado contra o trabalho e os direitos conquistados, o que se confirmou no desenvolvimento de um novo padrão de acumulação e no desenvolvimento do projeto conhecido como neoliberal. Ou seja, tem-se a. Retirada do Estado como agente econômico, dissolução do coletivo e do público em nome da liberdade econômica e do individualismo, corte dos benefícios sociais, degradação dos serviços públicos, desregulamentação do mercado de trabalho, desaparição de direitos históricos dos trabalhadores; estes são os componentes regressivos das posições neoliberais no campo social, que alguns se atrevem propugnar como traços da pós-modernidade (MONTES, 1996, p. 36 apud BEHRING, 2008, p. 58).. Enquanto surgia a necessidade de aumentar os investimentos na ciência e na tecnologia, os/as trabalhadores eram mais uma vez atacados pela lógica da reestruturação, da ampliação dos lucros, da desresponsabilização estatal ao mesmo 18. No início do século XX duas formas de organização de produção industrial provocaram mudanças significativas no ambiente fabril: o taylorismo e o fordismo. Esses dois sistemas visavam à racionalização extrema da produção e, consequentemente, à maximização da produção e do lucro. Seu fracasso seu deu, dentre outros fatores, pela incapacidade de responder à contração do consumo, produto do desemprego estrutural que então se iniciava..

(33) 31. tempo em que um conjunto de questões socioculturais foram aguçadas, dentre as quais estão as questões sobre as relações de gênero, de orientação sexual e étnicoracial, que ganharam a cena pública19. Para validar esta política, foi – e ainda é – fundante a atuação de Organizações Internacionais (OIs), tais como Banco Mundial (BM) e o Fundo Monetário Internacional (FMI), com o propósito de legitimação da ordem estabelecida.. De forma perigosa para o futuro da humanidade, o sistema do capital é incapaz de operar de outro modo que não seja por meio da imposição – quando necessário, por meios mais violentos, incluindo guerras mundiais potencialmente catastróficas – de formas e modalidades antagônicas de mediação (por meio da estrutura hierarquicamente discriminatória e da força exercida pelo Estado capitalista) (MÉSZÁROS, 2009, p. 124).. Neste sentido, as OIs condicionaram os países periféricos a adotarem, ou ainda, promoverem políticas que induziram às reformas referentes ao ideário neoliberal e passaram a elaborar, divulgar e monitorar, ao longo das décadas de 1980 e 1990 o projeto de reestruturação estatal naqueles países, impondo regras antecipadamente acordadas pelos interesses do grande capital, ou ainda, dos capitalistas dos países centrais. Na realidade brasileira, com as mudanças sofridas no mundo da acumulação, coube ao Estado realizar adaptações na Seguridade Social segundo as indicações determinadas, chamando atenção para a importância que passa a ser dada aos serviços prestados pelo setor privado; este processo acarretará a expropriação de direitos do/a trabalhador/a, conquistados por meio de lutas entre as classes de interesses antagônicos. Segundo Sader (2000 Apud SANTOS, 2009, p. 23) “do lado econômico, é uma época de desregulamentação e, do lado político e social, é uma época de regressão da civilização”. O primeiro alvo do neoliberalismo foi a intervenção do Estado na economia: o Estado foi atacado e apresentado como uma instituição que deveria ser reformada rapidamente e, desse modo, registrou-se pela primeira vez na história do capitalismo, o termo reforma perdendo o seu sentido tradicional, de conjunto de 19. Posteriormente, aprofundaremos como essas questões ganham visibilidade..

(34) 32. mudanças para ampliar direitos, passando a estar atrelado à supressão ou à redução de direitos e garantias sociais, o que Behring (2008) e Ademir Silva (2004) consideram como contrarreformas. Marcado também pelo avanço científico e tecnológico, o período foi caracterizado por uma intensa disputa entre capitalistas, pela busca desenfreada da modernização do aparato produtivo, tornando o mercado cada vez mais competitivo, almejando maiores lucros. Entretanto, com a inserção de novas e melhores máquinas no processo produtivo, houve o aumento do capital constante, mas também a diminuição do capital variável – força de trabalho humana – gerando o aumento do desemprego, em detrimento do crescimento da capacidade produtiva, diminuindo o poder de consumo, agravando as desigualdades sociais. Assim, o padrão flexível de produção e de acumulação apresenta grandes mudanças sociais, culturais. e. econômicas na. sociedade, marcadas pela. competitividade, adaptação, flexibilidade e subcontratação de trabalhadores/as como características principais, o que se vincula fielmente aos interesses do grande capital. Para atender a este novo mercado, são exigidos trabalhadores/as cuja formação propicie adesão passiva à ideologia20 dominante, com poder técnico de resolver situações inesperadas e que seja polivalente podendo exercer várias funções ao mesmo tempo, o que desta forma vai possibilitá-lo transitar mais facilmente no mercado de trabalho, considerando que a estabilidade como conquista histórica do trabalho deixa de existir e como resultado dessas exigências, se acirrando a competitividade e o egoísmo.. A relação entre individualidade e sociabilidade capitalista, se apresenta com mais força e poder destrutivo à vida cotidiana, nas relações de trabalho, nas relações afetivo-sexuais, de amizade, no âmbito do lazer, enfim, todas as dimensões da vida social de alguma maneira sofrem com os processos intensos de mercantilização e de alienação (SANTOS, 2009, p. 69).. 20. Por ideologia compreendemos “um conjunto de idéias e de valores que desempenha funções na luta de classes.” (BARROCO, 2010, p. 162).

(35) 33. Com o advento da redução do papel do Estado na economia e no âmbito social, as políticas sociais que, na realidade brasileira, nunca tinham sido prioridade, deixam progressivamente de ser responsabilidade do Estado. Ou seja, assume visibilidade o denominado terceiro setor21 tornando o acesso e suas características mediados por meio do mercado, com ações focalizadas, voltadas para o combate a pobreza em detrimento das políticas sociais de caráter universal. O resultado deste processo no Brasil foi uma série de mudanças, dentre elas, a privatização dos serviços até então prestados pelo Estado e a liberação para o mercado atuar na área social, tais como no âmbito da educação e da política de seguridade social, notadamente com a expansão precarizada da política de assistência, com o sucateamento e o desfinanciamento público da saúde e a mercantilização da previdência social. Todo esse processo se apresentou como a face mais trágica do neoliberalismo: a desregulamentação dos direitos sociais adquiridos por meio das lutas de interesses antagônicos entre a classe trabalhadora e os segmentos dominantes no processo de redemocratização do país. A partir das mudanças ideológicas ocorridas do neoliberalismo, que produziu – e produz – “comportamentos coisificados, expressos na valorização da posse material e espiritual, [...] no individualismo” (BARROCO, 2010, p. 157, grifo da autora) a sociedade sofreu rebatimentos, sobretudo o aguçamento de vivências de inversão de valores que impõem aos indivíduos um único modo de vida diretamente ligado a um modelo de homem branco, ocidental, cristão e heterossexual. Nesse sentido, as políticas sociais tendem a privilegiar este tipo de sujeito, banindo a diversidade humana.. 2.2 A QUESTÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL E OPRESSÃO NA SOCIEDADE CAPITALISTA Dentre tantos outros exemplos de organizações fortalecedoras do status quo, o Estado, os meios de comunicação e a Igreja são, historicamente, instrumentos de perpetuação de seus ideais. Tais instituições, ao disseminar suas. 21. O terceiro setor se caracteriza como uma “denominação ideológica”, sendo representado por ONGs, atividades filantrópicas, instituições de caridade e ações solidárias que fazem parte da sociedade civil. Cf. Silva (1997).

(36) 34. ideologias predominantemente conservadoras, têm contribuído para ampliar um conjunto de problemas reais vividos por grupos socialmente oprimidos. O papel desempenhado pela igreja, fundamentado na concepção ocidental judaico-cristã22, demonstra o poder da mesma sobre impor o “certo” e o “errado” nos valores e no comportamento de indivíduos. Para esta instituição, a vivência fora de um padrão heterossexual impõe a determinados grupos a concepção de transgressores e pecadores, enclausurando-os a um processo de barbarização da vida humana. Para termos ideia de como, nos dias de hoje, se propaga a intolerância à diversidade, apresentamos um trecho da entrevista do líder da denominação evangélica “Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo”, pastor Silas Malafaia, publicada no site da revista Istoé23, em 23 de janeiro de 2013:. Isto é: O sr. já presenciou um beijo de duas pessoas do mesmo sexo? Silas Malafaia: Sim, em shopping. Senti repulsa. Deus fez macho e fêmea. Não conheço ordem cromossômica, hormônios ou sexo de homossexual. É um comportamento que não aceito e é um direito meu. E não aceitar não significa que quero destruir aquela pessoa. Na igreja, homossexualismo é pecado, como adultério e prostituição. Uma pesquisa americana mostra que 46% dos gays foram abusados ou violentados quando eram crianças ou adolescentes. Então, como é que o cara nasce gay? Não estou aqui para proibir ninguém de ser gay. Não quero é que o meu direito de me manifestar sobre o homossexualismo24 seja impedido. E o ativismo gay não suporta o contraditório.. Com seguidores que ultrapassam as fronteiras do país, não temos dúvidas do poder de persuasão que um líder religioso detém sobre os/as “fiéis”. Ao afirmar 22. Esta concepção é fundamentada em uma sociedade patriarcal, aonde a mulher deve subserviência ao homem, sendo restrita ao âmbito do privado, da casa, da “familia”. 23 Disponível em http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/270456_JA+RECEBI+R+2+MILHOES+ DE+UM+FIEL+ Acesso em 15 de julho de 2015 às 16h10. 24 “A medicina e a psicanálise durante muito tempo, consideraram a homossexualidade como doença, tanto que era tratada por „homossexualismo‟ em que o sufixo „ismo‟ conferia a idéia de doença, sendo, dessa forma, tratado como tal. Em 1975, foi inserido na Classificação Internacional das Doenças – CID, como sendo um transtorno sexual. Em 1985, a Organização Mundial de Saúde – OMS, publicou Circular, informando que o „homossexualismo‟ deixava de ser uma doença, passando a ser considerado um desajustamento comportamental. Mas foi em 1995, que o “homossexualismo” deixou de ser considerado um distúrbio psicossocial e conseqüentemente deixou de constar no CID, sendo substituído o sufixo „ismo‟ pelo sufixo „dade‟, que passou a significar „modo de ser‟” (MADRID; MOREIRA FILHO. 2008, p. 03).

(37) 35. em entrevista que “sente repulsa” ao presenciar um beijo entre pessoas do mesmo sexo, há um evidente incentivo à intolerância de práticas sexuais para além da heterossexualidade. É preciso compreender que vivemos tempos ameaçadores da laicidade do Estado, enquanto “uma conquista moderna que não pode advogar e defender valores religiosos, mas deve defender os direitos de todos os cidadãos, inclusive dos homossexuais, sejam estes ateus ou religiosos” (LIMA, 2011, p, 177). Atualmente, constituem-se no âmbito federal, estadual e municipal bancadas parlamentares fundamentalistas que passaram a compor, inclusive, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal no ano de 2013. Apesar de a Constituição Federal de 1988 preconizar a laicidade ao Estado brasileiro, projetos polêmicos na pauta da comissão costumam surgir, como o que pretende autorizar o tratamento psicológico da homossexualidade (PDC 234/11), ficando conhecido popularmente como “projeto da cura gay”. Movimentos sociais, que atuam em defesa dos direitos humanos, após inúmeras manifestações, conseguiram dar visibilidade ao retrocesso que estava prestes a acontecer, tensionando e impedindo a votação do referido projeto. Assim como nos demais campos da vida social, no campo afetivo-sexual os preconceitos são determinados pela classe hegemônica através de mediações na busca descomedida pela coesão dos seus interesses. Desse modo, a homo-lesbobi-transfobia se impõe e os processos de construção de sujeitos compulsoriamente heterossexuais. se. fazem. acompanhar. pela. rejeição. de. qualquer. outra. orientação/expressão afetivo-sexual que difere do “padrão”, se expressando por meio de atitudes, enunciações e comportamentos. As opressões são aqui entendidas conforme o proposto pelo legado marxista, como a “contradição fundamental entre os „direitos do homem‟ e a realidade da sociedade capitalista, onde se crê que esses direitos estejam implementados” (MÉSZÁROS, 2008, p. 158). Conforme relatório25 apresentado pela Organização Não Governamental (ONG) britânica Oxfam, em janeiro de 2015, a riqueza acumulada do 1% mais rico da população mundial saiu de 44% em 2009, para 48% em 2014, e ultrapassará os 25. Disponível em http://www.cartacapital.com.br/economia/oxfam-em-2016-1-mais-ricosterao-mais-dinheiro-que-resto-do-mundo-8807.html/ib-wealth-having-all-wanting-more190115-en.pdf-4813.html Acesso em 12 de julho de 2015 às 10h..

(38) 36. 50% em 2016. Foi registrado, também, que a desigualdade está em livre processo de crescimento no mundo. Atualmente são os 80 países mais ricos que têm tanta riqueza quanto os 50% mais pobres da humanidade. Cinco anos atrás, seria necessário reunir os 388 mais ricos do mundo para alcançar esse poder. Trata-se de uma sociabilidade que alia exploração com opressão como forma de reproduzir-se cotidianamente e, assim, impossibilita que a liberdade seja vivenciada enquanto valor ético central, bem como, a igualdade real entre os indivíduos. Nesse contexto, a negação da diversidade humana se apresenta como elemento fundado na desigualdade social e na exploração do trabalho que destituem os sujeitos de suas potencialidades e complexidades (SANTOS, 2005). Segundo afirma Heller (1992, p. 48), “crer em preconceitos é, cômodo porque nos protege de conflitos, porque confirma nossas ações anteriores”, com isso os agressores se prevalecem e reproduzem a homofobia independente da função exercida na sociedade. A discussão que por hora apresentamos não é recente. As opressões provocadas e por vezes aprofundadas pelo Modo de Produção Capitalista (MPC) contra a população LGBT26 ganharam visibilidade a partir da década de 1960, em nível mundial, e de 1970, no Brasil.. Na trajetória histórica das lutas sociais, a reivindicação pela objetivação dos DH se faz necessária mediante a situação de exploração e de opressão vivenciam em larga medida, pelas classes e segmentos explorados e oprimidos. Podemos, inclusive, afirmar que, na maioria dos países, como é o caso do Brasil, são os segmentos identificados com valores e práticas de esquerda que assumiram, nos espaços coletivos de organização, a reivindicação pela realização dos DH como expressão de suas lutas (SANTOS, 2005, p. 102).. As. tensões. políticas. enfrentadas. pelos. movimentos. sociais. foram. substanciais para o surgimento, por meio de organização política, de uma agenda política em torno da defesa de direitos e do questionamento aos valores culturais conservadores em favor da política de identidade (Idem, 2003), com destaque para o. 26. Acrônimo de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais..

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