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2. ORIENTAÇÃO SEXUAL COMO QUESTÃO DE OPRESSÃO E DE

2.2 A QUESTÃO DA ORIENTAÇÃO SEXUAL E OPRESSÃO NA SOCIEDADE

Dentre tantos outros exemplos de organizações fortalecedoras do status

quo, o Estado, os meios de comunicação e a Igreja são, historicamente,

instrumentos de perpetuação de seus ideais. Tais instituições, ao disseminar suas

21 O terceiro setor se caracteriza como uma “denominação ideológica”, sendo representado por ONGs, atividades filantrópicas, instituições de caridade e ações solidárias que fazem parte da sociedade civil. Cf. Silva (1997)

ideologias predominantemente conservadoras, têm contribuído para ampliar um conjunto de problemas reais vividos por grupos socialmente oprimidos.

O papel desempenhado pela igreja, fundamentado na concepção ocidental judaico-cristã22, demonstra o poder da mesma sobre impor o “certo” e o “errado” nos valores e no comportamento de indivíduos. Para esta instituição, a vivência fora de um padrão heterossexual impõe a determinados grupos a concepção de transgressores e pecadores, enclausurando-os a um processo de barbarização da vida humana.

Para termos ideia de como, nos dias de hoje, se propaga a intolerância à diversidade, apresentamos um trecho da entrevista do líder da denominação evangélica “Igreja Assembléia de Deus Vitória em Cristo”, pastor Silas Malafaia, publicada no site da revista Istoé23, em 23 de janeiro de 2013:

Isto é: O sr. já presenciou um beijo de duas pessoas do mesmo sexo?

Silas Malafaia: Sim, em shopping. Senti repulsa. Deus fez macho e fêmea. Não conheço ordem cromossômica, hormônios ou sexo de homossexual. É um comportamento que não aceito e é um direito meu. E não aceitar não significa que quero destruir aquela pessoa. Na igreja, homossexualismo é pecado, como adultério e prostituição. Uma pesquisa americana mostra que 46% dos gays foram abusados ou violentados quando eram crianças ou adolescentes. Então, como é que o cara nasce gay? Não estou aqui para proibir ninguém de ser gay. Não quero é que o meu direito de me manifestar sobre o homossexualismo24 seja impedido. E o ativismo gay não suporta o contraditório.

Com seguidores que ultrapassam as fronteiras do país, não temos dúvidas do poder de persuasão que um líder religioso detém sobre os/as “fiéis”. Ao afirmar

22

Esta concepção é fundamentada em uma sociedade patriarcal, aonde a mulher deve subserviência ao homem, sendo restrita ao âmbito do privado, da casa, da “familia”.

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Disponível em

http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/detalhe/270456_JA+RECEBI+R+2+MILHOES+ DE+UM+FIEL+ Acesso em 15 de julho de 2015 às 16h10.

24 “A medicina e a psicanálise durante muito tempo, consideraram a homossexualidade

como doença, tanto que era tratada por „homossexualismo‟ em que o sufixo „ismo‟ conferia a idéia de doença, sendo, dessa forma, tratado como tal. Em 1975, foi inserido na Classificação Internacional das Doenças – CID, como sendo um transtorno sexual. Em 1985, a Organização Mundial de Saúde – OMS, publicou Circular, informando que o „homossexualismo‟ deixava de ser uma doença, passando a ser considerado um desajustamento comportamental. Mas foi em 1995, que o “homossexualismo” deixou de ser considerado um distúrbio psicossocial e conseqüentemente deixou de constar no CID, sendo substituído o sufixo „ismo‟ pelo sufixo „dade‟, que passou a significar „modo de ser‟” (MADRID; MOREIRA FILHO. 2008, p. 03)

em entrevista que “sente repulsa” ao presenciar um beijo entre pessoas do mesmo sexo, há um evidente incentivo à intolerância de práticas sexuais para além da heterossexualidade.

É preciso compreender que vivemos tempos ameaçadores da laicidade do Estado, enquanto “uma conquista moderna que não pode advogar e defender valores religiosos, mas deve defender os direitos de todos os cidadãos, inclusive dos homossexuais, sejam estes ateus ou religiosos” (LIMA, 2011, p, 177).

Atualmente, constituem-se no âmbito federal, estadual e municipal bancadas parlamentares fundamentalistas que passaram a compor, inclusive, a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal no ano de 2013. Apesar de a Constituição Federal de 1988 preconizar a laicidade ao Estado brasileiro, projetos polêmicos na pauta da comissão costumam surgir, como o que pretende autorizar o tratamento psicológico da homossexualidade (PDC 234/11), ficando conhecido popularmente como “projeto da cura gay”. Movimentos sociais, que atuam em defesa dos direitos humanos, após inúmeras manifestações, conseguiram dar visibilidade ao retrocesso que estava prestes a acontecer, tensionando e impedindo a votação do referido projeto.

Assim como nos demais campos da vida social, no campo afetivo-sexual os preconceitos são determinados pela classe hegemônica através de mediações na busca descomedida pela coesão dos seus interesses. Desse modo, a homo-lesbo- bi-transfobia se impõe e os processos de construção de sujeitos compulsoriamente heterossexuais se fazem acompanhar pela rejeição de qualquer outra orientação/expressão afetivo-sexual que difere do “padrão”, se expressando por meio de atitudes, enunciações e comportamentos.

As opressões são aqui entendidas conforme o proposto pelo legado marxista, como a “contradição fundamental entre os „direitos do homem‟ e a realidade da sociedade capitalista, onde se crê que esses direitos estejam implementados” (MÉSZÁROS, 2008, p. 158).

Conforme relatório25 apresentado pela Organização Não Governamental (ONG) britânica Oxfam, em janeiro de 2015, a riqueza acumulada do 1% mais rico da população mundial saiu de 44% em 2009, para 48% em 2014, e ultrapassará os

25 Disponível em http://www.cartacapital.com.br/economia/oxfam-em-2016-1-mais-ricos-

terao-mais-dinheiro-que-resto-do-mundo-8807.html/ib-wealth-having-all-wanting-more- 190115-en.pdf-4813.html Acesso em 12 de julho de 2015 às 10h.

50% em 2016. Foi registrado, também, que a desigualdade está em livre processo de crescimento no mundo. Atualmente são os 80 países mais ricos que têm tanta riqueza quanto os 50% mais pobres da humanidade. Cinco anos atrás, seria necessário reunir os 388 mais ricos do mundo para alcançar esse poder.

Trata-se de uma sociabilidade que alia exploração com opressão como forma de reproduzir-se cotidianamente e, assim, impossibilita que a liberdade seja vivenciada enquanto valor ético central, bem como, a igualdade real entre os indivíduos. Nesse contexto, a negação da diversidade humana se apresenta como elemento fundado na desigualdade social e na exploração do trabalho que destituem os sujeitos de suas potencialidades e complexidades (SANTOS, 2005).

Segundo afirma Heller (1992, p. 48), “crer em preconceitos é, cômodo porque nos protege de conflitos, porque confirma nossas ações anteriores”, com isso os agressores se prevalecem e reproduzem a homofobia independente da função exercida na sociedade.

A discussão que por hora apresentamos não é recente. As opressões provocadas e por vezes aprofundadas pelo Modo de Produção Capitalista (MPC) contra a população LGBT26 ganharam visibilidade a partir da década de 1960, em nível mundial, e de 1970, no Brasil.

Na trajetória histórica das lutas sociais, a reivindicação pela objetivação dos DH se faz necessária mediante a situação de exploração e de opressão vivenciam em larga medida, pelas classes e segmentos explorados e oprimidos. Podemos, inclusive, afirmar que, na maioria dos países, como é o caso do Brasil, são os segmentos identificados com valores e práticas de esquerda que assumiram, nos espaços coletivos de organização, a reivindicação pela realização dos DH como expressão de suas lutas (SANTOS, 2005, p. 102).

As tensões políticas enfrentadas pelos movimentos sociais foram substanciais para o surgimento, por meio de organização política, de uma agenda política em torno da defesa de direitos e do questionamento aos valores culturais conservadores em favor da política de identidade (Idem, 2003), com destaque para o

espaço conquistado no âmbito da esquerda democrática27 tornando a práxis política uma mediação necessária.

A cargo desses sujeitos, ficou a responsabilidade de expor ao mundo que, apesar desse modelo econômico se apresentar como um projeto societário voltado para o reconhecimento dos indivíduos, ele, além de não absorver um conjunto de reivindicações de segmentos particulares que ficam destituídos do acesso ao direito, se coloca longe de cumprir a promessa de liberdade e de igualdade, mesmo numa perspectiva formal, para todos os indivíduos sociais (IBIDEM), desse modo, tal luta torna-se um desafio e uma necessidade histórica.

Neste sentido, é possível depreendermos que ao problematizar a diversidade sexual, estamos entrando no campo das questões de ordem ética e política, espaço da luta pelo reconhecimento do direito à diversidade, ou seja, uma das dimensões dos DH.

No Brasil, o moralismo e o fundamentalismo religioso têm fortalecido a violência contra a população LGBT. Embora se tenha algumas conquistas, estas ainda não foram suficientes para eliminar a angústia vivenciada por essa população quando falamos do acesso à saúde, previdência, educação, mercado de trabalho, legitimação de direitos, reconhecimento social, eliminação de discriminação, violências e violações.

Os dados da homofobia, da lesbofobia e da transfobia no Brasil revelam que a discussão, e o possível rompimento com a discriminação, ainda tem um longo percurso a seguir.

O que o movimento LGBT reivindica atualmente é o direito de os homossexuais serem reconhecidos com todos os direitos que têm acompanhados aqueles que têm a orientação sexual heterossexual. (LIMA, 2011, p, 178)

27 Santos (2003, S/P) discute a existência de duas tendências de esquerda: A primeira

denominada “tradicional”, “considera desnecessário e sem relevância social definir estratégias voltadas ao enfrentamento dos problemas apresentados no campo da diversidade, que ficam subordinados, de forma mecânica, à superação da ordem do capital”; enquanto que, a segunda tendência, denominada “democrática”, reconhece a “relevância social e política de estabelecer, em seu ideário e no seu campo de atuação, estratégias de enfrentamento das questões que denotam a opressão em suas particularidades, seja em relação ao gênero, à raça, à orientação sexual, dentre outras”. O grande limite desta tendência é considerar que, para o fim das desigualdades, apenas as conquistas político- jurídicas garantidas pelo Estado são suficientes.

Conforme Santos (2005), esta reivindicação do movimento LGBT constitui- se num equívoco teórico político, se levarmos em consideração que os sujeitos heterossexuais estão inseridos e determinados pela lógica da sociabilidade do capital. Ou seja, vivenciam formas de exploração e de opressão. Não se trata, portanto, de igualar direitos entre homossexuais e heterossexuais. Apesar disso, é esta a noção predominante nas lutas pela diversidade sexual na realidade brasileira.

A luta por direitos deve se caracterizar como mediação, na construção de uma sociabilidade livre de um conjunto de opressões que cerceiam a liberdade, reforça o conservadorismo e impede profundamente a emancipação humana.

O Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 122/200628, que define e pune os crimes de ódio e intolerância resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, origem, gênero, sexo, orientação sexual, identidade de gênero ou condição de pessoa idosa ou com deficiência, proposto inicialmente pela ex- deputada Iara Bernardi (PT-SP), atualmente encontra-se arquivado.

No ano de 2004, durante o governo de Luís Inácio Lula da Silva29, foi lançado o Programa Brasil Sem Homofobia (BSH)30 a partir de uma série de

28 Histórico da legislação brasileira sobre a punição à discriminação e preconceito contra indivíduos homoafetivos:

PL 05/2003, da ex-Deputada Iara Bernardi (PT/SP): “Altera os arts. 1º e 20 da Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, e o § 3º do art. 140 do Código Penal, para incluir a punição por discriminação ou preconceito de gênero e orientação sexual”;

PL 381/2003, do ex-Deputado Maurício Rabelo (PL/TO): “Altera a redação do art. 1º e do art. 20 da Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, que „Define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor‟”, incluindo a punição por discriminação ou preconceito de “cultura”;

PL 3143/2004, da ex-Deputada Laura Carneiro (PFL/RJ): “Altera a Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989, que define os crimes resultantes de preconceitos de raça ou de cor”, incluindo a punição por discriminação ou preconceito por “sexo ou orientação sexual”;

PL 3770/2004, do Deputado Eduardo Valverde (PV/BA): “Dispõe sobre a promoção e reconhecimento da liberdade de orientação, prática, manifestação, identidade, preferência sexual e dá outras providências”;

PL 4243/2004, do ex-Deputado Edson Duarte (PV/BA): “Estabelece o crime de preconceito por orientação sexual, alterando a Lei nº 7.716, de 5 de Janeiro de 1989” (FONTE: www.plc122.com.br)

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Líder sindicalista oriundo da classe trabalhadora alimentou na sociedade, durante o período em que se postulava à Presidência, a esperança de que os trabalhadores seriam ouvidos; no entanto, Lula se elegeu Presidente do Brasil (2003-2006/2007-2010) pelo Partido dos Trabalhadores (PT), com amplo apoio dos movimentos sociais, também realizando articulações políticas com segmentos conservadores da política brasileira. Em seu primeiro ano de governo foi implementado o primeiro ataque aos trabalhadores na Previdência Social. Seguindo as orientações do Banco Mundial/FMI, Lula aprovou uma contrarreforma que atacou aposentadorias e transferiu dinheiro público para o mercado, privatizando a Previdência. Deste modo, o caráter de subordinação às organizações

discussões entre o governo federal e os movimentos sociais com o intuito de promover a cidadania e os direitos humanos de LGBT a partir da equiparação de direitos e do combate à violência e à discriminação homofóbicas, lesbofóbicas e transfóbicas.

A partir das discussões apresentadas no BSH, surgiu a I Conferência Nacional LGBT (2008) resultando no Plano Nacional de Promoção da Cidadania e Direitos Humanos de LGBT31, que trouxe “as diretrizes e ações para a elaboração de Políticas Públicas voltadas para esse segmento, mobilizando o Poder Público e a Sociedade Civil Organizada na consolidação de um pacto democrático” (BRASIL, 2009, p. 09); e a publicação do decreto que cria o Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH-3)32, em 2009.

As críticas que envolvem a (não) efetivação destas conquistas giram em torno de dois eixos: (1) Determinados grupos do movimento LGBT têm sido tolerantes com a “omissão do Estado, na medida em que canaliza as energias para executar ações que são de competência deste Estado e para pressionar o aumento de verbas às ONGs, compactuando com esta transferência de responsabilidades” (FROEMMING, et. al. 2010, p. 170); (2) Como nas demais políticas públicas, os rebatimentos do Estado neoliberal não é diferente: o pífio financiamento de ações de combate à homofobia, lesbofobia, bifobia e transfobia pouco tem contribuído para atingir seu objetivo, mesmo com todos os seus limites.

Na contemporaneidade, é fundamental questionar qual é o horizonte de lutas desses movimentos e se as teorias defendidas por eles correspondem às mesmas das classes dominantes33, que além de serem individualistas, reforçam o processo de alienação e o pragmatismo nos indivíduos. Sendo a resposta positiva, significa internacionais do capital segue pelos dois mandatos, resultando em um verdadeiro antagonismo referente às lutas de classes. Cf. Behring, 2008.

30 Programa de Enfrentamento à Violência e à Discriminação contra a população LGBT e de

Promoção da Cidadania de Homossexuais “Brasil sem Homofobia”, implementado no ano de 2004.

31

O Plano tem como objetivo orientar a construção de políticas públicas de inclusão social e de combate às desigualdades para a população LGBT, primando pela intersetorialidade e transversalidade na proposição e implementação dessas políticas. (BRASIL, 2010)

32 O PNDH que antecedeu ao de número 3, lançado no ano de 2003, foi o primeiro

documento oficial a constar ações específicas de proteção a população LGBT no Brasil.

33 Uma das teorias defendidas pela classe dominante é a de que é possível reduzir

desigualdades sociais aprofundadas por ela própria. Esta teoria é facilmente desconstruída quando apreendemos que um dos seus principais fundamentos é a defesa intransigente da propriedade privada.

afirmar que questionar a sociedade fragmentando o problema, negando a totalidade da vida social, resulta em uma atitude defensiva, fortalecendo uma força supletiva do capital, despolitizando ainda mais os sujeitos.

O reconhecimento da população LGBT enquanto sujeito de direitos é uma luta que demanda, como tantas outras, mediações capazes, senão de “mudar o mundo”, mas de incitar a reflexão sobre como se dão as relações sociais, possibilitando a crítica à alienação gerada pela sociedade do capital, identificando

As razões sócio-históricas que fazem com que o capitalismo apesar de se apresentar, desde suas origens, como um projeto societário voltado para o reconhecimento dos indivíduos, na condição de sujeito de direitos, além de não absorver um conjunto de reivindicações de segmentos particulares que ficam destituídos do acesso a direito, não cumpre sua promessa de igualdade e liberdade, mesmo numa perspectiva formal, para todos os indivíduos sociais (SANTOS, 2003, p. 89).

O reconhecimento da família diferente da heterossexual pelo Supremo Tribunal Federal (STF) – que confere aos casais homossexuais o direito à união estável e ao casamento –, a conquista de direitos previdenciários, o reconhecimento jurídico, custeio de operações para mudança de sexo e o uso do nome social são mais exemplos de conquistas.

Um grande desafio a ser enfrentado pela população LGBT é a efetivação desses direitos nesta sociedade. A pesquisa realizada no ano de 2014, sobre a realidade de famílias homoafetivas com filhos/as adotivos/as na cidade do Natal/RN34, revelou que dentre os/as adotantes destacam-se pessoas com alto poder aquisitivo, estando representados/as por empresários/as, médico, advogado e pensionista da estatal Petrobras.

O número de pares e/ou sujeitos que adotam ainda se restringe aqueles/as cujo padrão de vida difere da maioria da população brasileira, nos levando a compreender que quanto mais vulneráveis socialmente, menos terão garantidos seus direitos. Ou ainda, quanto mais atrelados/as estiverem às expectativas socialmente construídas de pessoas "bem sucedidas", menor é o impacto do preconceito, desse modo, o recorte de classe se faz presente.

34FAMÍLIAS (IN)VISÍVEIS?:A realidade de famílias homoafetivas com filhos/as adotivos/as

na cidade do Natal/RN. Marta Simone Vital Barreto. Dissertação de Mestrado. Programa de Pós-Graduação em Serviço Social da universidade Federal do Rio Grande do Norte. 2014.

Este é o retrato de um Estado que funciona precariamente, com suas políticas públicas operando minimamente, sujeitando indivíduos a viverem e expressarem livremente sua sexualidade dentro dos limites de uma sociedade preconceituosa, abrindo espaço para sentimentos de impotência, impunidade, insegurança e medo.

O Relatório Anual de Assassinato de Homossexuais de 2014 divulgado pelo Grupo Gay da Bahia35 (GGB), aponta que foram documentadas 326 mortes, incluindo 09 suicídios; O que gera um aumento de 167% nos últimos sete anos (122 em 2007). Segundo o documento, os gays lideram os "homocídios" 163 casos, seguidos de 134 travestis, 14 lésbicas, 3 bissexuais, 7 amantes de travestis (T- lovers) e 5 héteros (por terem sido confundidos com gays ou por estarem em circunstâncias ou espaços homoeróticos). Na imagem abaixo, podemos identificar as mortes ocorridas por estados:

Ilustração 1: Mapa de homocídios 2014 – adaptado. Fonte: GGB

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O Grupo Gay da Bahia há mais três décadas coleta e denuncia informações sobre homofobia no Brasil quanto à insegurança sofrida pela comunidade LGBT: a cada 27 horas um homossexual brasileiro foi barbaramente assassinado em 2014, vítima da homofobia. FONTE: <http://www.ggb.org.br/>

Confirmando o primeiro lugar no ranking mundial de assassinatos homofóbicos, o Brasil concentrou 50% do total de execuções no âmbito mundial. Conforme já assinalamos, os Estados Unidos, com aproximadamente 100 milhões a mais de habitantes que em nosso país, o risco de um homossexual ser assassinado é 1280 vezes menor (GGB, 2014).

Segundo o responsável pelo relatório36, o Prof. Luiz Mott, antropólogo da Universidade Federal da Bahia e fundador do GGB,

99% destes homocídios contra gays têm como motivo seja a homofobia individual, quando o assassino tem mal resolvida sua própria sexualidade; seja a homofobia cultural, que expulsa as travestis para as margens da sociedade onde a violência é mais endêmica; seja a homofobia institucional, quando o Governo não garante a segurança dos espaços freqüentados pela comunidade LGBT ou como fez a Presidente Dilma, ao vetar o kit anti-homofobia, que deveria ter capacitado mais de 6 milhões de jovens no respeito aos direitos humanos dos homossexuais e mais recentemente, ao ter pressionado os senadores para que não aprovassem o PLC 122 que equiparava a homofobia ao crime do racismo.(GGB, 2014, p. 03)

Tais dados confirmam ainda mais a aspiração que a classe burguesa tem em universalizar sua ideologia, produzindo preconceitos em maior medida que todas as classes sociais conhecidas até hoje (HELLER, 1992).

Ainda, segundo o presidente do Grupo Gay da Bahia, Luiz Mott,

Lastimavelmente, a violência anti-homossexual cresce incontrolavelmente no Brasil. Nos 8 anos do governo FHC, foram documentados 1023 crimes homofóbicos, uma média de 127 por ano; no Governo Lula, subiram para 1306, com média de 163 assassinatos por ano; em apenas 4 anos, no Governo Dilma, tais crimes já atingiram a cifra de 1243, com média de 310 assassinados anuais – quase o dobro dos governos anteriores. Daí a urgência da Presidenta cumprir sua promessa de campanha de criminalizar a homofobia! (GGB, 2014, p. 02)

Diante desse alarmante quadro de violências, embora seja um movimento heterogêneo, formado por pessoas com interesses diversos, os movimentos sociais têm se configurado sujeitos políticos de suma importância.

36 A subnotificação destes crimes é inegável, advertindo que tais números representam apenas a ponta de um iceberg de violência e sangue, já que o banco de dados do GGB é