E
COMUNICAO
SOCIAL
Manuel Jos
Lopes
da
SilvaI.
Introduo
At no domnio restrito da Teoria Poltica encontramos a
polise-mia caracterstica do conceito de
representao.
Defacto,
consoanteas
perspectivas
deabordagem,
assim eleadquire
contornos noplano
existencial ou no
plano
simblico,
remetendo sucessivamente de umpara o outro.
Na
perspectiva jurdica,
arepresentao
poltica
entendida como extenso ouanalogia
darepresentao
em Direito.Na
perspectiva
antropolgica adquire
importncia
osimbolismo,
cuja
aquisio
prpria
da actividade intelectual na sua dimensoabstractiva.
Na sistmica h a chamada de
ateno
para aequivalncia
entre valor e finalidade(definindo
umquadro
Teleolgico)
e a suarelao
com o exerccio do Poder Poltico.Finalmente,
aperspectiva
critica,
incidindo nos aspectos maisalarmantes da nossa sociedade
pos-industrial
outardo-capitalista,
levanta a
questo
dalegitimidade
nos actuais sistemaspolticos.
Considera-se finalmente a
hiptese
de que o actualcomporta
mento dos sistemas de
comunicao
social contribuigrandemente
II.
Perspectiva
JurdicaO actual modelo Democrtico
adoptado pela
generalidade
dospases
do mundoocidental,
e mais recentementepela Europa
oriental,
baseia-senalguns Princpios
fundamentais presentes em todos os casos.Em
primeiro lugar,
aLegitimidade
do Poder assenta nosufrgio
universal,
ouseja
nadelegao
dopoder
do povo em representantespolticos
livremente eleitos.H o
respeito pelas
Liberdades Pblicas institudas nos vriosinstrumentos
legais
que constituem oQuadro
Jurdico doregime,
eafirma-se o
respeito pelos
Direitos do Homem contidos em Declaraes
Internacionais ou outras de carcter mais restricto.No domnio das
Instituies
encontramos as trs estruturas fun damentais doEstado,
o SistemaExecutivo,
o SistemaLegislativo
e oSistema Judicial.
Os tericos do modelo
afirmaram,
quando
comeou a seraplica
do no
Sec.XVII,
que teria de haver umarigorosa independncia
entreeles com vista a evitarque um
adquirisse
reflexoshegemnicos.
A
representao
poltica
neste modelo essencialmente transitria,
o povo recuperaperiodicamente
o seupoder
e exerce-o nosmomentos das
eleies.
Entre dois desses momentos cada cidado avalia a
legitimidade
do comportamento dos detentores do Poder e o resultado dessa avalia
o
reflecte-se directamente no sentido do voto.Sabemos que a ideia do exerccio directo do Poder Poltico
pelo
Povo
surgiu
naantiga
Grcia,
com as assembleias dos cidados reunidas no monte
Pnyx.
As sociedades actuais muito mais
complexas
em nmero de elementos e nas suas
relaes
levam a que o povo escolha quem o represente, isto
,
quem exera os seuspoderes
nas AssembleiasPoliticas,
no mesmo sentido com quedelegamos
no nossoadvogado
a defesados nossos interesses
particulares.
A
representao
politica
modernapode
ser entendida em doissentidos diferentes e
complementares.
Segundo
Rousseau,
cadacidado,
ao votar exerce umafraco
real do
poder politico
que continua verdadeiramente nas suas mos.Os representantes esto sempre vinculados ao
cumprimento
das pro messaseletorais,
existindo o que sedesigna
porrepresentao
fraccionada.
Mas durante a
revoluo
de 89surgiu
um outro conceito, o deRepresentao
Nacional, onde se considera que osdeputados,
uma vezeleitos,
j
no representam cada cidado mas aNao
toda inteirasendo abolida a
representao
dos indivduos.Curiosamente, surge neste domnio, o
problema
fundamental doEstado e que o de tentar harmonizar o exerccio da tutela, de ndole
integradora
e unitiva, com orespeito pela dignidade
das pessoas, dendole assessora e
distintiva,
tal como sublinha uma reflexo sistmi ca sobre aconstituio
do Estado.III.
Perspectiva Antropolgica
A reflexo neste domnio identifica trs nveis de
representao
distintos: oinstitucional,
o existencial e o simblico.No
primeiro
sentido a sociedade surgerepresentada
pelas
Instituies
no seio dopoder,
o caso dos Parlamentos, dasAssociaes
Civicas ou outras.
O sentido existencial refere-se ao
poder
enquanto
representante
da
prpria
sociedade,
face a outras sociedades ou Estados.Finalmente a
representao
assume ainda um terceirosignifica
do,
como valorsimblico,
remetendo para umquadro
de refernciaconformador da sociedade.
Um
exemplo
de simbolismo democrtico adescrio
de Governo feita por
Lincoln,
"do povo,pelo
povo, para opovo."
O simbolo
"povo"
nesta frmulasignifica
sucessivamente a Sociedadepoltica
articulada,
o seurepresentante
e a comunidadeafectada
pelos
actos dorepresentante.
O contedo terico desta frmula extremamente denso, e
contm entre
mltiplos
aspectos
o daopo
intelectual realizada naRenascena,
do imanentepelo
transcendente.Esta
opo
intelectual que tem sidoobjecto
de reflexes muitodiversas,
comorientaes
intelectuais
tambmdistintas,
torna-sepatente
quando
comparamos a frmula de Lincoln com a de Tomas deAquino:"Omnis
potestas
a Deo perpopulum".
Precisamente porque o homem
desenvolve
a sua actividade intelectual na
comunicao
com os outros homens,pelo
uso de
linguagens
que so sistemas desmbolos,
que Plato afirma quea
A sociedade um "cosmion" ordenado, no um microcosmos mas um macro-antropos.
A sociedade remete assim para uma Verdade expressa em Ideo
logias,
e por isso opoder
Poltico insistentemente as invoca. IV.Perspetiva
sistmicas
Instituies
competeconfigurarem,
distriburem e atribuirem(autoritariamente)
os Valores. Do ponto de vista sistmicoimportam
sobretudo de entre estas, as
Comunicaes
(com
as suas redessocie-tais),
porque so elas que veiculam aIdeologia,
um dos elementosjustificativos
do Poder.A
Ideologia
baseia-se numa DoutrinaPoltica,
em Frmulas e emMiranda
(aquilo
que sev).
As Frmulas so os
Artigos
daConstituio,
os Miranda ascerimnias e as
legendas
da vidapblica,
mas a Doutrina Polticavaria de
regimen
pararegimen.
Nos Estados Unidos a Doutrina Poltica o
Individualismo,
comoj Tocqueville
constatara no seu estudo clssico. NaEuropa
acultura mais influenciada
pelas orientaes
de raizclssica,
onde asolidariedade to
apreciada
como a cidadania.Os
polticos
tm de ter sempre presentes estes pontos fundamen tais ao exercer o Poder porque, comosabemos,
um dos seus domniosde
aco
privilegiados
o dacriao
deApoios
ao Sistema Poltico.E de entre estes, os
Apoios
Difusos baseiam-se no sentimento delegitimidade,
nanoo
de Interesse Geral e no sentido de ComunidadePoltica.
Retendo por agora o sentimento de
Legitimidade,
verifica-se que le criadoquando
o Poder invoca e cumpre aIdeiologia
de que sereclama,
quando
as Estruturas Polticas efectivamente resolvem osproblemas,
quando
asqualidades
pessoais
dosDirigentes
seprojectam
numa elevadaqualidade
doRegimen.
V.
Prespectiva
CrticaA crena redutora na racionalidade
prpria
dos mecanismos doMercado leva a que os
problemas
da sociedade no possam ser equacionados e resolvidos numa
perspectiva global. Segundo
os filsofosdesta
orientao
intelectual,
por issoque toda a desordem econmica
implica
necessariamente uma crise deintegrao
social.A
relao
entre aeconomia,
opoder
poltico
e alegitimao
sofreu
importantes alteraes
nasprimeiras
formas decapitalismo
mas, medida que o Estado intervm com cada vez mais
preponde
rncia na ordem social e nas actividades
econmicas,
arelao
tende a agravar-se.Os fenmenos de "crise"
perdem
o seu carcter"espontneo",
eadquirem
um carcter "sistmico" na forma maisavanada
ou maistardia do
capitalismo (sptkapitalismus).
A
configurao
excessiva do Estadocontemporneo
paralela
aosurgimento
daburocratizao
da sociedade, cada vez mais acentuada com ageneralizao
dasdesignadas
tecnologias
dainformao.
Habermas estrutura as "krisistendenzsen" em quatro reas. Na
primeira
rea, a "crise econmica" uma crise sistmica,originada
nosistema econmico que se torna
patente
com a deficiente actividade corrente do Estado.Como as crises
peristem,
conclui-se que ainterveno
do Estadono
permite
estabilizar o sistema.A "crise de
racionalidade",
originada
no sistemapolitico--administrativo causando a eroso da racionalidade administrativa,
que se revela
incapaz
de assegurar oequilbrio
entre as receitas e asdespesas,
dada aincapacidade
de extrair dos interessesprivados,
osimpostos
que seriam necessriosestabilizao.
Esta tendncia para o abaixamento da actividade
reguladora
doEstado,
em beneficio dosoperadores
econmicos doMercado,
um
dos
aspectos
maisinquietantes
desta crise.A "crise da
motivao"
uma crise deidentidade,
e deve-seperda
deconfiana
das massas. Estasdespolitizam-se, desgastando-se
os
princpios
departicipao
euniversalidade
queexistiam anterior mente.
Finalmente, a "crise de
legitimidade"
produz-se
com aperda
dopotencial
justificativo disponvel.
Sem apoio ou aquiescncia dasmassas, que
j
no acreditam em que opoder
esta ser exercido para o Interesse Pblico ou para Bem da
Sociedade,
cai-senuma Adminis
trao
racionai queignora
osprincpios
fundamentais
da democracia,como por
exemplo
acriao
de consensos acerca desolues
politicas
emregime
de livre discusso.Qualquer
observador
atento docomportamento
habitualdos
Comunicadores dos vrios Media que o relacione com as vicissitudes
papel
por elesdesempenhado
hoje
em dia nos domnios damotivao
e da
legitimao
polticas.
A
partir
de Maio de 68 os protestos de estudantes e trabalhadorestraduzem um mal estar da sociedade que resulta manifestamente desta crise.
Tratando-se-se duma crise sistmica e no s de
conjuntura,
tem--se verificado ser muito difcil resolver os
problemas
dentro do mesmoquadro socio-politico-econmico.
Mas a proposta do
"agir
comunicacional" topouco oferece
garantias
para uma sada segura daperigosa situao
actual.VI.
Legitimidade
eComunicao
SocialTemos proposto um
quadro Teleolgico
para a
Comunicao
Social de ndole sistmica.
Ao nvel da Misso
(o
maiselevado)
os sistemas da CS tm porfim promover a
integrao
Social epermitir
aassero pessoal.
Aonvel da
Finalidade,devem
transmitir aherana
cultural e facilitar amundana
social.Finalmente ao nivel das
Politicas,
devem articular aInformao,
com o Divertimento e a Cultura.Os dois
primeiros
nveis so da natureza constitutiva eevolutiva,
e tendo sido estabelecidos atravs dos estudos de Lasswell
e
Mac--Quail
da rea dacomunicao,
reconhecemoshoje
neles uma valida de universal para todos ossistemas,
e sobretudo para os de nveis decomplexidade superiores
aobiolgico.
E portanto
legitimamente exigvel
aos sistemas decomunicao
Social que nunca percam de vista este
quadro
dereferncia,
sob penade passarem a actuar contra a Sociedade se tal no fizerem.
As
aplicaes prticas
destequadro
teleolgico
podem
divergir
umas das outras, consoante o
tipo
deregime poltico
que governa asociedade,
mas s ao nvelinferior,
o nvelOperativo
ou das Polticas.E
assim,
numasituao poltica
de ndoleLiberal,
afirma-se queos
principais
propsitos
a este nvel soInformar,
Entreter eVender,
masprincipalmente
descobrir a Verdade efiscalizar o Governo.
Se houver uma
evoluo
do Estado Liberal parao
tipo
de EstadoSocial de
Direito,
ento aprincipal
preocupao
a de elevar oconflito
socio-politico
ao nvel dadiscusso,
mantendo-seos
propsi
tos de
Informar,
Entreter e Vender.Os
servios
Pblicos emqualquer
dosregimes
baseiam-se emformas de financiamento diferentes da
publicidade
e tm sempre umestatuto
exigente
que osobriga
a oferecerprogramaes
no massifi-cantes nemalienantes,
que apostem napromoo
intelectual dos utentes.Assistimos,
porm,
hoje
emdia,
naEuropa,
a um desvio bastantenegativo
dealgumas
destasconsignas.
Considerando o domnio da
Informao, podemos
constatar queos comunicadores abandonam insensivelmente o estatuto de
"watchdogs
ofdemocracy"
para se assumirem como verdadeiros"promotores
depresidentes",
evoluo
queexige
aapresentao
deargumentos
legitimadores
da novaatitude,
para que a sociedade aaceite.
Na verdade assistimos a um notrio envolvimento de interesses
dos Polticos e dos Comunicadores que acaba por ser
suspeito
uma vez que estes ltimos exibem fortssimasdependncias
do Poder Econmico.Como o campo da Poltica dominado por propostas
legitimado-ras dopoder vigente
feitaspelos partidos
desse campo, edeslegitima-doras
pelos
adversrios,
fundamental aprtica
daIndependncia
dosComunicadores face aos Poderes.
Mas o
prprio
modo como as diferentespropostas
so apresentadas,
ainda que comindependncia
face s partesinteressadas,
pode
acabar por
deslegitimar
todo oregimen-
nele includos ospartidos
doGoverno,
os daOposio
e as restantesInstituies.
afinal esta a
hiptese
que seriamente deve ser considerada portodos os Comunicadores que estimem a Democracia.. Os
constrangi
mentos causados