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Perceção da qualidade de vida da pessoa idosa institucionalizada no concelho de Vila Real

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Perceção da Qualidade de Vida da Pessoa Idosa Institucionalizada

no Concelho de Vila Real

Dissertação de Mestrado em Enfermagem Comunitária

Helena Maria Santos Pereira

Orientadores

Professor Doutor Vítor Manuel Costa Pereira Rodrigues Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

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Perceção da Qualidade de Vida da Pessoa Idosa Institucionalizada

no Concelho de Vila Real

Dissertação de Mestrado em Enfermagem Comunitária

Helena Maria Santos Pereira

Orientadores

Professor Doutor Vítor Manuel Costa Pereira Rodrigues Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro

Composição do Júri: ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ ___________________________________________________________________________ Vila Real, 2012

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Este trabalho foi expressamente elaborado como dissertação original para efeito de obtenção do grau de Mestre em Enfermagem Comunitária, sendo apresentada na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.

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“Sou uma coisa que pensa, isto é que duvida, que afirma, que ignora muitas, que ama, que odeia, quer e não quer, que também imagina e que sente”.

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Aos meus Pais À Filipa

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O meu reconhecimento aos orientadores, Professor Doutor Vítor Manuel Costa Pereira Rodrigues e Professora Doutora Maria João Filomena dos Santos Pinto Monteiro, que se disponibilizaram na orientação desta dissertação e se mostraram sempre disponíveis para fazer face às minhas dúvidas e ansiedades.

A todos os idosos institucionalizados que, incondicionalmente, colaboraram no estudo, nomeadamente aquando da recolha de dados.

Aos responsáveis dos Lares de Idosos do concelho de Vila Real, que de bom grado, se disponibilizaram para participar nesta investigação e a todos os funcionários que prestaram uma preciosa ajuda.

À minha família, especialmente à minha filha, Filipa, que como sempre estiveram ao meu lado em todos os momentos.

À minha colega, Emília, pela preciosa ajuda.

A todos aqueles, que apesar de não mencionados, contribuíram direta ou indiretamente para que este trabalho se tornasse realidade.

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Nas últimas décadas, o aumento da longevidade ficou a dever-se essencialmente aos progressos das ciências da saúde e à melhoria das condições sociais, deixando prever um cenário demográfico que requer respostas integradas capazes de incorporar as especificidades do envelhecimento e de garantir a sua expressão mais sublime – envelhecer com qualidade e dignidade. Apesar da forte matriz individual que caracteriza o envelhecimento, torna-se premente conhecer a realidade do problema no que concerne à qualidade de vida percebida pelo idoso. No contexto deste estudo, a compreensão do conceito de qualidade de vida do idoso institucionalizado configura-se como uma experiência fenomenológica importante para uma participação mais pró-ativa na prestação de cuidados de enfermagem a este grupo populacional. O presente estudo, de carácter empírico não experimental, inscrito num paradigma quantitativo, pretende conhecer a perceção sobre a qualidade de vida dos idosos institucionalizados no concelho de Vila Real. Fazem parte da amostra 126 idosos, com uma média de idades de 81 anos, sendo a maioria (63,5%) viúva. Relativamente à escolaridade dos idosos, 47,5% não frequentou o ensino formal ou não completou o 1º ciclo do ensino básico. No que concerne à institucionalização, 58,7% mencionou que foi por iniciativa própria, enquanto 32,5% referiu terem sido os filhos a indicar ser mais conveniente a sua ida para um lar. Referiram como motivos mais preponderantes para a institucionalização o facto de se sentirem sós (45,2%), seguido da pouca disponibilidade de familiares para atender as suas necessidades (30,2%). O tempo de permanência na instituição é em média de 4,8 anos. A participação em atividades de lazer organizadas pelo lar, foi referida “às vezes” por 54,8% dos inquiridos. Relativamente ao nível de dependência para a realização de Atividades Básicas de Vida Diária, 29,4% dos idosos são completamente independentes em todas as atividades, e 54% apresenta uma “dependência leve”. No que diz respeito à perceção da Qualidade de Vida, os dados permitem constatar que a Qualidade de Vida Global e o domínio psicológico apresentam uma média mais elevada (60,0) e o domínio ambiental apresenta a média mais baixa (55,8). Os resultados deste estudo permitem dizer que os idosos deveriam ser motivados para a procura de interesses próprios e promotores do seu envolvimento pessoal e, por outro lado, as instituições deveriam fomentar a adesão dos idosos em atividades diferentes das habituais.

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In the last decades, the increase of longevity has been due, essentially, to the progress in medicine and to the improvement of the social conditions, thus anticipating a demographic scenario that requires integrated answers capable of incorporating the specificities of ageing and assuring its most sublime expression – grow old with quality and dignity. Although ageing is strongly individualistic, it is necessary to know the reality of the problem regarding the quality of life perceived by the elder. In the context of this study, understanding the elder´s concept of quality of life is seen as an important phenomenological experience in a more proactive participation in providing nursing care to this group. It is intended with this study, empirical non experimental, to have the perception of life quality of the institutionalized elder in the municipality of Vila Real. 126 elder compose the sample, with an average of 81 years old, being the majority (63.5%) widowed. As for schooling, 47.5% of the elder did not attend or complete elementary school. Regarding institutionalization, 58.7% of the elder mentioned it was his/her own initiative, while 32.5% referred it was his/her children to indicate the convenience of an old people’s home. 45.2% of the elder referred as the most decisive reasons for institutionalization the fact of feeling lonely, followed by 30,2% who referred little availability of relatives to suit their needs. The time spent in the institution is in average 4.8 years. The participation in leisure activities organized by the old people’s home was referred “sometimes” by 54.8% of the interviewed. As for the level of dependence for doing Everyday Basic Activities, 29.4% of the elders are totally independent in all activities and 54% present a “slight dependence”. Concerning the perception of Life Quality, the data allow verifying that the Global Life Quality and the psychological field present a higher average, both with 60.0 and the environmental field presents the lowest average (55.8). The results of this study allow us to conclude that the elder should be motivated to search for their own interests and promote their own personal involvement and, on the other hand, the institutions should foment the attendance of the elders in activities different from the usual.

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xv PENSAMENTO ... v DEDICATÓRIA ... vii AGRADECIMENTOS ... ix RESUMO ... xi ABSTRACT ... xiii

ÍNDICE DE TABELAS ... xvii

ÍNDICE DE FIGURAS... xix

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ... xxi

INTRODUÇÃO ... 1

PARTE I.ENQUADRAMENTO TEÓRICO 1.OENVELHECIMENTO ... 7

1.1. Teorias do envelhecimento ... 12

1.1.1.As teorias do envelhecimento biológico ... 13

1.1.2. As teorias do envelhecimento psicossocial... 17

1.2. Aspetos demográficos do envelhecimento ... 19

1.2.1. Envelhecimento demográfico na União Europeia ... 20

1.2.2. Envelhecimento demográfico em Portugal ... 24

1.2.3. Envelhecimento demográfico no concelho de Vila Real ... 32

2.AINSTITUCIONALIZAÇÃO DA PESSOA IDOSA ... 37

3.APESSOA IDOSA E QUALIDADE DE VIDA ... 45

PARTE II.ENQUADRAMENTO METODOLÓGICO 1. JUSTIFICAÇÃO DO ESTUDO E OBJETIVOS ... 59

2.DESENHO DO ESTUDO ... 63

3.POPULAÇÃO/AMOSTRA ... 64

4.VARIÁVEIS DO ESTUDO E OPERACIONALIZAÇÃO ... 65

5.INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS ... 67

5.1. Pré-teste ... 70

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6.ANÁLISE E TRATAMENTO DE DADOS ... 71

PARTE III.APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 1.APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS ... 73

1.1. Análise descritiva ... 73

1.1.1. Caracterização sociodemográfica ... 73

1.1.2. Caracterização das variáveis relacionadas com o nível de dependência para as ABVD ... 76

1.1.3. Caracterização das variáveis relacionadas com a qualidade de vida ... 77

1.2. Análise inferencial ... 83

1.2.1. Relação com as variáveis sociodemográficas ... 83

1.2.2. Relação com o nível de dependência para as ABVD ... 87

2.DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ... 88

2.1. Quanto aos dados sociodemográficos ... 88

2.2. Quanto aos dados relacionados com o nível de dependência para as ABVD ... 91

2.3. Quanto aos dados relacionados com a qualidade de vida ... 91

PARTE IV.CONCLUSÕES E SUGESTÕES 1. CONCLUSÕES E SUGESTÕES ... 95

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 99

Apêndice A - Operacionalização das variáveis ... 111

Apêndice B - Instrumento de recolha de dados ... 113

Apêndice C - Autorização para utilização da escala para avaliação da QV, WHOQOL-Bref, validada para a população portuguesa ... 119

Apêndice D - Pedido de autorização aos responsáveis dos lares de idosos, para aplicação do instrumento de recolha de dados ... 129

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Tabela 1. Teorias do envelhecimento ... 14

Tabela 2. Indicadores demográficos na UE (%) ... 22

Tabela 3. Indicadores demográficos de Portugal, 2000-2010 ... 25

Tabela 4. Projeções de Portugal de 2025 e 2050, por idades de população residente e índices demográficos ... 32

Tabela 5. Indicadores demográficos do concelho de Vila Real... 35

Tabela 6. Estudos sobre QV e pessoa idosa ... 55

Tabela 7. Índices de envelhecimento e dependência em Portugal, zona norte e concelho de Vila Real, 2001 e 2011 ... 60

Tabela 8. Caracterização sociodemográfica ... 75

Tabela 9. Caracterização dos idosos institucionalizados quanto ao nível de dependência (Índice de Barthel) ... 76

Tabela 10. Caracterização dos idosos institucionalizados por ABVD …. ... 77

Tabela 11. Classificação dos idosos institucionalizados quanto à avaliação da sua QV ... 78

Tabela 12. Classificação dos idosos institucionalizados quanto à satisfação com a sua saúde ... 78

Tabela 13. Média e desvio padrão dos idosos nos domínios avaliados e QV global ... 79

Tabela 14. Coeficiente de correlação entre os diferentes domínios da QV e o domínio global ... 79

Tabela 15. Distribuição das respostas dos idosos institucionalizados quanto à perceção da QV - Domínio Físico (D1) ... 80

Tabela 16. Distribuição das respostas dos idosos institucionalizados quanto à perceção da QV - Domínio Psicológico (D2) ... 81

Tabela 17. Distribuição das respostas dos idosos institucionalizados quanto à perceção da QV - Domínio Social (D3) ... 81

Tabela 18. Distribuição das respostas dos idosos institucionalizados quanto à perceção da QV - Domínio Ambiental (D4) ... 82

Tabela 19. Perceção da QV e o sexo ... 83

Tabela 20. Correlação entre a QV e a idade ... 84

Tabela 21. Perceção da QV e o estado civil ... 84

Tabela 22. Perceção da QV e o nível de escolaridade ... 85

Tabela 23. Correlação entre a QV e o tempo de permanência no lar ... 86

Tabela 24. Perceção da QV e o rendimento mensal ... 87

Tabela 25. Correlação entre a QV e o nível de dependência para as ABVD ... 87

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Figura 1. Índice de envelhecimento, UE (15), 2010 ... 22

Figura 2. Pirâmide etária da população, UE-25, 2000-2050 ... 23

Figura 3. Variação da população residente por NUTS II, 2001-2011 ... 24

Figura 4. Estrutura da população residente em Portugal por grupos etários (1981, 1991, 2001, 2011 ... 26

Figura 5. Estrutura da população residente por grupos etários por NUTS II, em 2011 ... 27

Figura 6. População residente e população com 65 ou mais anos, por NUTS II, em 2011... 28

Figura 7. População idosa que vive sozinha ou exclusivamente com pessoas com 65 ou mais anos, por NUTS II, em 2011 ... 28

Figura 8. Variação da população com 65 ou mais anos que vive sozinha, por NUTS II, 2001-2011 ... 29

Figura 9. Variação da população com 65 ou mais anos que vive exclusivamente com pessoas com 65 ou mais anos, por NUTS II, 2001-2011 ... 29

Figura 10. Índice de envelhecimento por NUTS II, em 2011 ... 30

Figura 11. Pirâmides etárias, Portugal 1960, 2004, 2050... 31

Figura 12. Variação da população residente por freguesia, 2001-2011 ... 34

Figura 13. Pirâmide etária da população residente em Vila Real, 2010 ... 36

Figura 14. Variação da população residente por município, 2001-2011 (Douro) ... 36

Figura 15. Evolução das respostas sociais para as pessoas idosas, Continente 1998-2010 ... 42

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ABVD - Atividades Básicas da Vida Diária ACES - Agrupamentos de Centros de Saúde ADI - Apoio Domiciliário Integrado

ADN - Ácido Desoxirribonucleico art.º - artigo

ASI - Acolhimento Social de Idosos

ATEI - Acolhimento Temporário de Emergência para Idosos AVD - Actividades de Vida Diária

CC - Centro de Convívio

CCE - Comissão das Comunidades Europeias CD - Centro de Dia

cit. - citado

CN - Centro de Noite cols. - colaboradores

DGS - Direção-Geral da Saúde

DGSSFC - Direção Geral da Segurança Social, da Família e da Criança EEPSS - Equipa de Estudos e Políticas de Segurança Social

Hab. - Habitantes

INE - Instituto Nacional de Estatística

IPSS - Instituições Particulares de Solidariedade Social Km2 - quilómetro quadrado

MTSS - Ministério do Trabalho e Solidariedade Social NIDI - Netherlands Interdisciplinary Demographic Institute nº - número

NUTS - Nomenclaturas de Unidades Territoriais para Fins Estatísticos OMS - Organização Mundial de Saúde

ONU - Organização das Nações Unidas p. - página

QV - Qualidade de Vida

RNCCI - Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados RUTIS - Rede de Universidades de Terceira Idade

SAD - Serviço de Apoio Domiciliário UCC - Unidade de Cuidados na Comunidade UE - União Europeia

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I

NTRODUÇÃO

O progressivo envelhecimento da população, tanto na dimensão individual como coletiva, é uma realidade que começou a acentuar-se, sobretudo a partir da segunda metade do século XX. Na Europa, como em Portugal, resultado da diminuição da mortalidade e da natalidade, aliado ao aumento da esperança de vida à nascença e à queda do índice de fecundidade, as sociedades começaram a deparar-se com um fenómeno de duplo envelhecimento (na “base” e no “topo” da pirâmide etária), ou seja, diminuição da população jovem e simultaneamente aumento da população idosa.

O envelhecimento demográfico é um fenómeno à escala mundial, apesar de se desenvolver a ritmos diferentes nos diversos continentes. Segundo Rosa (2012), as regiões mais desenvolvidas, onde naturalmente se enquadra a Europa, são as que apresentam a população mais envelhecida. Em Portugal, estas alterações profundas na população ocorreram fundamentalmente nas décadas mais recentes, e aconteceram a “um ritmo marcadamente acelerado…, condicionado pela rapidez com que baixaram os níveis de mortalidade e de fecundidade” (Rosa, 2012, p.27). Nos anos oitenta, Portugal tinha a população menos envelhecida que a média europeia (27), e atualmente é considerado um dos países mais envelhecidos do mundo.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas (ONU), em meados do século XX, a idade média da população no mundo e na Europa passou, respetivamente, de 24 anos e 30 anos, para 27 anos e 38 anos, em 2000, sendo que se estima que em 2010 seja de 29 anos e de 40 anos, e em 2050 poderá atingir os 38 anos no mundo e os 47 na Europa. Em Portugal, a evolução deu-se a um ritmo mais acelerado que na Europa, passando a idade média da população de 26 anos, em 1950, para 38 anos, em 2000, e para 41 anos, em 2010, prevendo-se que em 2050 a idade média da população possa chegar aos 50 anos (Rosa, 2012).

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Atualmente, a taxa da população com 65 ou mais anos é de 19,1%, o que corresponde a 1.949.557 pessoas (Instituto Nacional de Estatística [INE], 2012). Segundo os censos 2011, continua bem vincado o fenómeno do duplo envelhecimento da população, caracterizado pelo aumento da população idosa e pela redução da população jovem. Entre 1960 e a atualidade, o número de jovens diminui um milhão, representando 29% da população, hoje representa 15%, no mesmo período o número de idosos aumentou 1,3 milhões, representando 8% da população, e atualmente já representa 19% (Rosa, 2012). Relativamente aos idosos com 80 anos ou mais, estes têm vindo a reforçar o peso estatístico, dado que entre 1970 e os dias de hoje, o número quase quadriplicou, estando atualmente muito perto do meio milhão.

O envelhecimento demográfico não deixou intacto o grupo da população ativa (15-64 anos), que concentra atualmente a maioria da população (66%). Também este grupo está a envelhecer, porque as idades mais jovens dentro deste grupo etário estão progressivamente a perder importância. No início da década de 60, as pessoas em idade ativa mais jovens, entre 15 e 24 anos, representavam 26% da população em idade ativa, e hoje representam 16%. A relação de dependência estatística entre as idades ativas e não ativas evolui no sentido de diminuir o peso estatístico dos jovens e aumentar o peso estatístico dos idosos (Rosa, 2012).

O aumento da esperança média de vida, resultado dos significativos progressos científicos especialmente na área da saúde, implicou alterações profundas na estrutura da mortalidade (Rosa, 2012). A taxa de mortalidade infantil1 é o indicador mais utilizado por especialistas e por inúmeras organizações internacionais, para ilustrar as condições de saúde dos países e consequentes níveis de desenvolvimento social. Em Portugal, no início dos anos 60, morriam cerca de 80 crianças por cada 1000 nascidas, atualmente, esse valor desceu para menos de três, sendo considerado um dos mais baixos do mundo.

Outro dos fatores presente no envelhecimento demográfico é a diminuição do índice de fecundidade, que segundo a mesma autora é o principal responsável pelo início de todo este processo. Neste momento, a renovação das gerações não está assegurada. Para essa renovação acontecer cada mulher teria de ter em média, 2,1 filhos, sendo que esse valor se situa, atualmente nos 1,4 filhos por mulher, tendo atingido, na década de 60, um dos valores de fecundidade mais elevados entre os países da Europa (superior a 3 filhos). Esta diminuição do índice de fecundidade foi também acompanhada pelo aumento da idade média das mulheres

1 Número de óbitos de crianças com menos de 1 ano de idade observado durante um determinado período de tempo, normalmente 1 ano civil, referido ao número de nados vivos do mesmo período (normalmente expressa em número de óbitos de crianças com menos de 1 ano por 1000 [103] nados vivos), (INE, 2008).

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aquando do nascimento do primeiro filho, aumentando mais de cinco anos nas últimas décadas, sendo atualmente de 29 anos (Rosa, 2012).

Como acabamos de constatar, os comportamentos demográficos, especificamente a mortalidade e a fecundidade, modificaram substancialmente o perfil da sociedade, havendo já quem a caracterize como a sociedade ”4-2-1” (quatro avós, dois pais e um filho), contrariando a sociedade passada, apelidada de”1-2-4” (Rosa, 2012).

Vários autores referem-se ao envelhecimento como um processo natural, caracterizado por um conjunto complexo de fatores fisiológicos, psicológicos e sociais específicos de cada indivíduo, sendo influenciado por fatores genéticos, hereditários, do meio ambiente e do estilo de vida, que interagindo entre si influenciam a forma como se envelhece (Finkel et al., 2003; Mazzeo et al., 1998). Como resultado, existe uma variação individual na função, saúde e qualidade de vida (QV) da população idosa. Pereira e cols. (2006) referem que a forma como cada pessoa vivencia o seu processo de envelhecimento depende muito dos contextos sociais, políticos e culturais em que a pessoa está inserida.

Na perspetiva de Squire (2005), trata-se de “um processo que afecta toda a gente e, apesar do envelhecimento por si só não poder ser adiado ou prevenido, a doença, a incapacidade e a dependência não deverão ser vistas como resultados inevitáveis do processo de envelhecimento” (p.56). A genética não é a única responsável pelo processo de envelhecimento, ou seja, o estilo de vida adotado e o ambiente onde as pessoas vivem, são não só determinantes para a prevenção de determinadas incapacidades como potenciadoras de um maior bem-estar e QV.

Freedman e Martin (2000), fazem referência a que nas últimas décadas se verificou uma rápida transição dos perfis de saúde na população, que resulta do predomínio de doenças crónicas, evidenciando-se este fenómeno nos indivíduos idosos. A doença crónica surge, exponencialmente, como uma das problemáticas atuais, nomeadamente ao nível dos sistemas de saúde e de proteção social, que acompanha frequentemente o aumento da esperança de vida (Sousa, Mendes & Relvas, 2007).

Cabete (2005), refere que as condições crónicas apesar de ter impactos distintos, todas interferem de algum modo na homeostasia do indivíduo e, concomitantemente, na sua QV. As doenças crónicas abalam o indivíduo no seu ”todo”, podendo alterar significativamente o seu projeto de vida, uma vez que pode comprometer a dimensão física, emocional, psicológica,

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familiar, social e até profissional (Góngora, 1996). Desta forma, é imprescindível o desenvolvimento de políticas de saúde e sociais, que promovam estratégias e intervenções que visem a vertente emocional e social e coloquem o enfoque na satisfação das necessidades crescentes, acionando a descentralização da doença do indivíduo (Gonçalves, 2008).

Tendo em conta o envelhecimento da população, e atendendo ao contexto da sociedade atual com as consequentes mudanças nas dinâmicas familiares, as famílias deixaram de ter capacidade para cuidar dos seus idosos. Os lares para idosos surgem como uma das respostas sociais possíveis para colmatar esta situação, dado que disponibilizam aos idosos não só alojamento mas também diferentes tipos de serviços, que vão desde o fornecimento de refeições até à organização de atividades de ocupação dos tempos livres. O ambiente institucional deverá constituir um estímulo, de forma a proporcionar um conjunto de experiências que permitam ao idoso manter-se ativo, objetivando que o processo de envelhecimento possa ser, de alguma forma, retardado, tendo como finalidade uma melhoria da QV.

Desta forma, torna-se urgente repensar estratégias, no sentido de proporcionar um “envelhecimento bem-sucedido”, que pode ser entendido como a combinação da baixa probabilidade de adoecer. Nesta perspetiva, na década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) introduziu o conceito de envelhecimento ativo, dizendo que este dever ser considerado um processo contínuo, que se inicia muito cedo e vai acompanhando a pessoa ao longo da vida, compreendendo principalmente a otimização das condições de saúde, participação e segurança. A QV da população idosa envolve uma combinação de múltiplos fatores, desde os aspetos biológico-funcionais até aos socioculturais (OMS, 2001).

A relevância da avaliação da QV, perante um cenário demográfico caracterizado pelo envelhecimento da população, coloca como pertinente o conhecimento sobre a realidade da população idosa portuguesa, as suas vulnerabilidades, bem como as respostas sociais que a sociedade disponibiliza, no sentido da prestação de melhores cuidados de saúde, aos diferentes níveis de intervenção. A reforma dos cuidados de saúde primários, com a criação dos Agrupamentos de Centros de Saúde (ACeS) do Serviço Nacional de Saúde (Decreto-Lei nº 28/2008, de 22 de fevereiro), estabelece o seu regime de organização e funcionamento, criando diferentes unidades funcionais, entre as quais a Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC). Esta unidade funcional garante a continuidade e qualidade dos cuidados prestados, pois:

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…presta cuidados de saúde e apoio psicológico e social de âmbito domiciliário e comunitário, especialmente às pessoas, famílias e grupos mais vulneráveis, em situação de maior risco ou dependência física e funcional ou doença que requeira acompanhamento próximo, e actua ainda na educação para a saúde, na integração em redes de apoio à família e na implementação de unidades móveis de intervenção. (Despacho nº 10143/2009 de 16 de abril, artº 3, alínea 2, p.15438)

Pelo exposto, esta unidade funcional visa assegurar respostas integradas, articuladas, diferenciadas de grande proximidade às necessidades em cuidados de saúde e sociais da população. Tendo em conta as competências dos enfermeiros especialistas em enfermagem comunitária emanadas pela ordem dos enfermeiros e pela sensibilidade destes profissionais na prestação de cuidados a grupos vulneráveis em contexto comunitário, os idosos são um grupo major como foco de atenção dos seus cuidados. Neste sentido, a intervenção comunitária em contextos particulares, mais explicitamente em grupos institucionalizados, deve contribuir para a prossecução da melhoria da QV e segurança dos cuidados visando a obtenção de ganhos em saúde.

A complexidade do conceito de QV impõe que seja feita uma interpretação de âmbito multidisciplinar e multidimensional. Para alguns autores (Neri, 2004; Ramos, 2001; Squire, 2005), a QV, para além de estar intimamente ligada à saúde, abarca outros aspetos da vida da pessoa, como por exemplo, as relações familiares, o trabalho, a situação económica, a educação, a autoestima, a confiança e o reconhecimento dos seus pares. Apesar das diversas definições encontradas sobre esta temática, parece que é na multidimensionalidade do conceito que envolve as componentes objetivas (funcionalidade, competência cognitiva e interação com o meio) e as subjetivas (sentimentos de satisfação e perceção sobre a sua saúde), que se situa o ponto de concordância.

Neste enquadramento surgiu a formulação da questão central deste estudo, orientada para um conhecimento mais aprofundado sobre a perceção da QV pelo idoso institucionalizado e caracterização das diferentes dimensões deste constructo e, deste modo, tornar-se uma referência importante para a prestação de cuidados de saúde. A investigação tem como objetivos: i) Caracterizar a população idosa institucionalizada em função de variáveis sociodemográficas, nível de dependência para as atividades básicas da vida diária (ABVD) e QV, no domínio físico, psicológico, social e ambiental; ii) Analisar a relação entre a perceção da QV e as variáveis sociodemográficas e o nível de dependência para as ABVD da população idosa institucionalizada.

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Estruturalmente, o trabalho divide-se em quatro partes. A primeira, é constituída pela revisão teórica sobre as teorias do envelhecimento bem como a contextualização do fenómeno demográfico na Europa, em Portugal e particularmente no concelho de Vila Real. A QV, especialmente a QV em idosos institucionalizados, é abordada no sentido de melhor se perceber quais as dimensões que mais peso têm na perceção que cada um faz sobre a sua QV. Na segunda parte, é feito o enquadramento metodológico do estudo, com referência à justificação e objetivos, desenho do estudo, população/amostra, variáveis e sua operacionalização, instrumento de recolha de dados, pré-teste, procedimentos na recolha de dados e análise estatística. A terceira parte do trabalho, compreende a apresentação e discussão dos resultados da investigação e, por fim, na quarta parte, apresentam-se as principais conclusões.

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P

ARTE

I

E

NQUADRAMENTO

T

EÓRICO

1. O ENVELHECIMENTO

Desde o início da humanidade que o envelhecimento tem merecido a atenção e preocupação do homem, tendo sido no século XX que se deram os grandes avanços na ciência do envelhecimento. Foram os médicos Elie Metchnikoff, em 1903, e Nascher, em 1909, os pioneiros no estudo da Gerontologia e da Geriatria, especificamente no domínio das pesquisas sociais e biológicas sobre o envelhecimento, com o objetivo de tratar as doenças dos idosos e da própria velhice.

Independentemente do estabelecimento de um limite temporal para designarmos uma pessoa de velha ou idosa, interessa-nos entender todo o processo a que chamamos de envelhecimento. Há, no entanto, necessidade de definições para a comunicação ser eficaz. Por isso, a OMS classifica como idosos as pessoas com mais de 65 anos de idade, em países desenvolvidos, e com mais de 60 anos de idade, em países em desenvolvimento (Imaginário, 2004). Neste trabalho, referimo-nos a uma pessoa idosa para designar indivíduos com idade igual ou superior a 65 anos, altura em que começam a acentuar-se as alterações físicas, psicológicas e sociais mais significativas (Cabete, 2005), e também por ser a idade utilizada em todos os estudos publicados pelo INE.

Segundo, Berger (1995a), envelhecer “…é um processo multidimensional que comporta mecanismos de reparação e de destruição desencadeados ou interrompidos em momentos e a ritmos diferentes para cada ser humano” (p.145), é pois um fenómeno normal inerente à vida mas na qual se observa uma evolução mais rápida e mais significativa nas últimas etapas da vida das pessoas.

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A arte de envelhecer, segundo Cícero (como cit. em Moniz, 2003), seria encontrar o prazer que todas as idades proporcionam. Se por um lado, o envelhecimento provoca alterações quer ao nível das estruturas quer ao nível das funções do organismo, por outro, essas modificações não se verificam de igual modo, podendo acontecer que “uma mesma função pode envelhecer a ritmos diferentes em pessoas diferentes” (Moniz, 2003, p.48). Os fatores genéticos e hereditários, o meio ambiente e os estilos de vida também influenciam o envelhecimento.

Para Roach (2003), existem quatro características básicas no processo de envelhecimento: 1) é

universal, pois todas as pessoas envelhecem, a não ser quando a morte ocorre na idade jovem; 2) é progressivo, apesar de nem todas as pessoas mostrarem sinais de envelhecimento

compatíveis com a idade cronológica; 3) é intrínseco à natureza, pois parece originar-se de dentro do corpo; 4) é afetado por fatores extrínsecos (ambiente, padrão de vida e mecanismos de enfrentamento), originados fora do corpo, e que afetam o processo de envelhecimento

Consequentemente, o envelhecimento não decorre de um modo linear em todas as pessoas, sendo um processo no qual intervêm vários fatores. Aliás, Carvalho Filho, Papaléo Netto e Garcia (2006), afirmam que:

…entre todas as definições existentes cremos que a que mais satisfaz é aquela que conceitua o envelhecimento como um processo dinâmico e progressivo, no qual há modificações morfológicas, fisiológicas, bioquímicas e psicológicas, que determinam perda progressiva da capacidade de adaptação do indivíduo ao meio ambiente, ocasionando maior vulnerabilidade e maior incidência de processos patológicos, que terminam por levá-lo à morte. (p.3)

Tendo em conta o aumento exponencial da população idosa na Europa e nos países industrializados em geral, tornou-se fundamental conhecer os determinantes das condições de vida e de saúde dos idosos e as múltiplas facetas que envolvem o processo de envelhecimento. Para além dos aspetos biofisiológicos, tornava-se crucial conhecer também os aspetos psicológicos, sociais, ambientais, culturais e económicos que pesavam sobre a vida dos idosos.

Segundo Sousa, Figueiredo e Cerqueira (2006), podemos falar de envelhecimento normal (ou primário) e patológico (ou secundário). O “normal”, acontece inevitavelmente com o passar do tempo, indicia um processo de diminuição orgânica e funcional. O “patológico”, diz respeito aos fatores que interferem no processo de envelhecimento normal suscetíveis de o acelerar. Paúl (1997), na sua revisão sobre esta temática, descreve mais uma divisão, o

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envelhecimento terciário, relativo a um período, mais ou menos longo, próximo da morte, marcado por uma deterioração dos sistemas para níveis anteriores de desempenho.

De facto, o envelhecimento nem sempre foi encarado da mesma forma ao longo dos séculos. O seu conceito tem sofrido grandes alterações na forma de ser percebido e sentido, variando de acordo com diferentes culturas e evolução das comunidades. Em 1999, num estudo realizado por Almeida, sobre crenças acerca do envelhecimento humano, a maioria dos inquiridos entendeu-o como um fenómeno estritamente biológico, enquanto fase de ciclo de vida, fase de mudança em que a pessoa vai ter transformações específicas da própria idade relativamente aos papéis que desempenha. Segundo Spirduso (2005), o envelhecimento é usado para se referir a “um processo ou conjunto de processos que ocorrem em organismos vivos e que com o passar do tempo leva a uma perda de adaptabilidade, deficiência funcional e finalmente à morte” (p.6). Por outro lado, Papaléo Netto (2006) refere que, na perspetiva dos biogerontologistas, o envelhecimento é “a fase de todo um continuum que é a vida, começando esta com a concepção e terminando com a morte” (p.9).

Deste modo, o envelhecimento é uma extensão lógica dos processos fisiológicos do crescimento e desenvolvimento, não é um problema, mas uma parte integrante do ciclo de vida. Por isso mesmo, é desejável que, chegando a uma idade avançada, seja dada às pessoas uma oportunidade de viver de forma saudável e autónoma o maior tempo possível. Na realidade, o envelhecimento é um fenómeno perfeitamente natural. Fernández-Ballesteros (2000), introduz o conceito de idade funcional. Esta autora afirma que as funções de natureza física, a perceção e a memória diminuem de eficácia com o passar dos anos; pelo contrário, a maior parte das variáveis relacionadas com a personalidade, estabilizam; e, por fim, afirma que há outras funções que, na ausência de doença, evidenciam um crescimento ao longo da vida (a experiência e conhecimentos adquiridos). Ainda segundo a mesma autora, a idade funcional constitui um conjunto de indicadores que permitem criar condições para um envelhecimento satisfatório.

Por se tratar de um processo de cariz individual, os seus efeitos jamais podem ser homogéneos. Uns tendem a resistir ao envelhecimento, outros declinam ao sofrerem de um processo patológico. No entanto, atendendo à melhoria das condições de vida, à descoberta de tratamentos farmacológicos e ao aumento do nível educacional, verificou-se uma verdadeira explosão do número de pessoas idosas com melhor desempenho, melhor saúde e mais felizes. Para Sousa e cols. (2006), o envelhecimento “….afecta de modo desigual as funções dos

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tecidos” (p.20), facto que justifica a impressão de que o envelhecimento produz efeitos diferentes de uma pessoa para a outra.

Eliopoulos (2005), refere que são vários os fatores que influenciam o processo de envelhecimento: ”a hereditariedade, a nutrição, o estado de saúde, as experiências de vida, o ambiente, a actividade e o stress produzem efeitos exclusivos em cada indivíduo” (p.26).

Segundo alguns autores, há competências que se perdem mais facilmente com a idade. Competências como “a capacidade de interpretar informação não verbal, a capacidade de dar respostas rápidas perante situações novas, a aquisição de novos conceitos e a aplicação dos conceitos existentes, os raciocínios abstractos, a competência psicomotora e as actividades perceptivas” (p.23) são, segundo Sousa e cols. (2006), referindo-se a estudos feitos por Salthouse (1991), as competências mais afetadas pela idade. Consideram, os mesmos autores, que as capacidades menos afetadas pela idade são “a dimensão prática de resolução de problemas, a capacidade de interpretar informação verbal, a execução de tarefas familiares e o uso do conhecimento acumulado” (p.23).

O processo de envelhecimento é diferente de pessoa para pessoa, depende da idade biológica, da idade funcional, da psicológica, da social, trata-se de um processo diferencial, que revela simultaneamente dados objetivos e subjetivos que constituem o quadro que a pessoa faz do seu próprio envelhecimento.

As modificações ocorridas na estrutura etária, as diferentes, e por vezes contraditórias, visões sobre o início do processo de envelhecimento aliado à inexistência de marcadores biofisiológicos eficazes e confiáveis do processo, levaram a várias discussões e à dificuldade de se definir a idade biológica. Neri (2000), refere que a determinação da idade biológica varia de acordo com o género, a classe social, a saúde, a educação, os fatores de personalidade, a história passada e o contexto socioeconómico. Para muitos autores, a idade biológica tem uma estreita relação com a idade funcional, definindo-a como sendo o grau de conservação do nível de capacidade adaptativa em comparação com a idade cronológica.

Paúl (1997), fez referência a três tipos de idades, todas elas podendo ser maiores ou menores do que a idade cronológica dos indivíduos: 1) Idade biológica, medida pelas capacidades funcionais ou vitais e pelo limite de vida dos sistemas orgânicos, que vão perdendo a sua capacidade adaptativa e de autorregulação; 2) Idade psicológica, refere-se às capacidades comportamentais do indivíduo em se adaptar ao meio. A idade psicológica é influenciada

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pelos fatores biológicos e sociais, mas envolve capacidades como a memória, a aprendizagem, as habilidades, a inteligência, os sentimentos, as motivações e as emoções, para exercer controlo comportamental; 3) Idade social, que se refere aos papéis e hábitos que o indivíduo assume na sociedade e na medida em que mostra os comportamentos esperados pela sua cultura, num processo dinâmico de envelhecimento.

Qualquer que seja o limite cronológico para definir as pessoas idosas, é sempre arbitrário e dificilmente traduz a dimensão biológica, física e psicológica da evolução do ser humano. Berger (1995a) e Ermida (1999), consideram que há um efeito específico do envelhecimento cronológico independente das mudanças biológicas, ligado a fatores externos (estilo de vida, atividade e ambiente) e a fatores internos (carga genética e estado de saúde), que contribuem para que alterações causadas pelo envelhecimento se desenvolvam a um ritmo diferente para cada pessoa. Pelo exposto, é difícil definir grupos etários tendo por base a idade cronológica. Eliopoulos (2005), considera quatro categorias de idades nas pessoas com mais de 65 anos: 1)

Idoso jovem, 65 a 74 anos; 2) Idoso, 75 a 84 anos; 3) Idoso idoso, 85 a 100 anos; 4) Idoso de elite, acima de 100 anos.

Mais uma vez se reforça a ideia que não existe uma idade mágica a partir da qual começa a velhice, podemos ter idosos com 75 e mais anos perfeitamente ativos e saudáveis. O envelhecimento saudável pressupõe não só uma boa condição física e mental, como também a inclusão social que permite ao idoso desempenhar os papéis que o indivíduo exercia ou gostaria de exercer dentro da sociedade. O importante não é só o número de anos que as pessoas vivem, mas a maneira como elas vivem os seus últimos anos, que determina a QV, não só para eles, mas para a população no geral.

Paúl (1996), corroborando Wong (1989), define envelhecimento bem-sucedido como “correspondendo a um relativamente elevado nível de saúde física, bem-estar psicológico e competência na adaptação” (p.20). Garcia (1994), refere que “o processo de envelhecimento se reveste de características diferentes de homem para homem, podendo-se assim dizer que enquanto há pessoas que envelhecem bem, outras envelhecem mal” (p.8). Não podemos esquecer que cada idoso possui a sua história de vida, e o desafio para se conseguir alcançar o envelhecimento bem-sucedido passa pelo compromisso na realização de atividades, sejam elas individuais ou em grupo, por uma adaptação eficaz aos processos de mudança a que estão sujeitos, para que os anos vividos sejam plenos de qualidade, de significado e de dignidade.

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1.1. Teorias do envelhecimento

Etimologicamente, o termo envelhecimento deriva de velho, procedente do latim veclus,

vetulusm, que por sua vez define a pessoa de muita idade. São muitas as teorias que

pretendem explicar o processo de envelhecimento, no entanto, parece existir um consenso sobre o envelhecimento enquanto fenómeno multidimensional. A multidimensionalidade impede precisamente a existência de um único fator que cause ou previna o envelhecimento. Por este motivo, é limitada a possibilidade de intervir num ponto do sistema, de modo a alterar o curso das mudanças ao longo do tempo (Jeckel-Neto & Cunha, 2006). Nesse contexto, uma única teoria, só por si, não explica a complexidade deste processo, na medida em que todas apresentam pontos de convergência, tornando-se difícil qualquer sistematização.

Em 2006, Jeckel-Neto e Cunha fazem uma reflexão histórica e uma análise sobre os diversos modos de classificar e organizar as diferentes teorias. Já Harte Turturro, em 1983, o tinha feito, adotando uma escala crescente de abrangência: teoria da base celular, teoria baseada em órgãos e sistemas, teoria populacional e teoria interpretativa. Hayflick (1985), optou por uma escala mais restrita: teoria fundamentada em órgãos, de base fisiológica e de base genética. Em 1990, Finch divide as teorias em evolutivas, com ênfase no papel da senescência através dos grupos filogenéticos, e não evolutivas, centralizadas nos mecanismos celulares, fisiológicos e ambientais.

Uma das intenções de agrupar as diferentes teorias do envelhecimento, e talvez a mais difundida, foi proposta por Arking (1998), que dividiu as teorias em estocásticas e não estocásticas ou sistémicas. Nas primeiras, os processos que determinam o envelhecimento ocorrem acidentalmente e de um modo aleatório, baseado na ideia de que os danos moleculares que ocorrem ao acaso provocariam a deterioração encontrada no envelhecimento. No caso das teorias não estocásticas ou sistémicas, considera que estão enraizadas numa abordagem de base genética, admitindo em diferentes graus a modulação ambiental. Assim, integrou a teoria metabólica, da taxa de vida, do dano mitocondrial, da genética, da apoptose, da fagocitose, neuroendócrina e, por último, a teoria imunológica como fazendo parte integrante das teorias sistémicas. Nas teorias estocásticas, o mesmo autor incluía: teoria do uso e desgaste, proteínas alteradas, mutações somáticas, erro catastrófico, desdiferenciação, dano oxidativo e radicais livres e acumulação de detritos.

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Numa perspetiva histórica, Oliveira (2005), baseando-se em Schroots (1996), distingue três períodos na construção das teorias do envelhecimento:

A. Período clássico (dos anos 40 a 70 do século passado), onde se incluem: i) Teoria das

tarefas de desenvolvimento (Havighurst, 1953): ii) Teoria psicossocial do desenvolvimento; iii) Teoria da personalidade (Erikson, 1950, 1982); iv) Teoria da reprodução (Birren, 1961); v) Teoria do desinvestimento (Cumming & Henry, 1961);

vi) Teoria da personalidade, da idade e do envelhecimento (Neugarten, 1968, 1996); vii) Teoria cognitiva da personalidade e do envelhecimento (Thomae, 1970).

B. Período moderno (dos anos 70 a 90), que compreende: i) Teoria do desenvolvimento e

do envelhecimento (Baltes, 1987; Baltes & Baltes, 1990); ii) Teoria dos recursos reduzidos de processamento (Salthouse, 1988); iii) Teoria da personalidade e do envelhecimento segundo os modelos de estádios (Erikson, 1982, 1986; Levinson, 1978); iv) Teorias da personalidade e do envelhecimento segundo os traços (Costa & McCrae, 1988, 1992).

C. Período recente (iniciado nos anos 80), que compreende: i) Teoria da

gerotranscendência (Tornstam, 1996); ii) Teoria da gerodinâmica ou teoria da bifurcação (Schroots, 1996).

No âmbito desta investigação, iremos, de forma sucinta, abordar as teorias do envelhecimento biológico e do envelhecimento psicossocial.

1.1.1. As teorias do envelhecimento biológico

A análise fisiológica da senescência seguiu, por parte dos investigadores, um duplo caminho, conforme se trate da esfera pessoal ou do ciclo de cada espécie. O grande objetivo das teorias biológicas é explicar que o processo de envelhecimento biológico é diferente de um ser humano para outro e de uma espécie para outra. Rossell, Herrera e Rico (2004), entendem que a entrada na velhice é um fenómeno singular de cada indivíduo, sem uma necessária relação com a idade, sendo que cada um pode envelhecer à custa de fatores endógenos próprios, isto quando falamos da abordagem pessoal; na abordagem do envelhecimento na espécie, os mesmos autores defendem que cada espécie concede aos seus indivíduos um máximo de longevidade, que é herdada de geração em geração.

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Segundo Rossel e cols. (2004), e atendendo aos avanços da genética e da biologia molecular, surgiram inúmeras teorias biológicas explicativas do envelhecimento, podendo ser classificadas em três tipos: envelhecimento primário ou programado, envelhecimento secundário e envelhecimento terciário. Cada uma destas teorias engloba subteorias, que passamos a descrever na Tabela 1.

Tabela 1.

Teorias do envelhecimento

1. Envelhecimento primário (teorias que salientam as causas genéticas). 1.1. Limitação da capacidade multiplicativa celular (Hayflyck). 1.2. Envelhecimento endógeno das células:

● Teoria dos radicais livres (Hatman). ● Teorias dos erros (Orgel & Holliday).

1.3. Mutação no ADN de restauração de falhas (Ravin). 1.4. Rutura irreparável de ADN

1.5. Acumulação de defeitos.

2. Envelhecimento secundário (assentam em causas patológicas, degenerativas). 2.1. Teoria do desgaste ou estocástica.

2.2. Acumulação de moléculas tóxicas no sangue. 2.3. Teoria da privação celular.

2.4. Teoria dos enlaces cruzados (Bjorksten).

3. Envelhecimento terciário (fundamentadas na decadência de algum sistema). 3.1. Declínio da função imunológica (Walford).

3.2. Transformação do sistema endócrino: ● Deterioração glandular da tiróide. ● Decadência das glândulas sexuais. ● Disfunção da hipófise (Dilman).

3.3. Disfunção do sistema cardiovascular. 3.4. Desorganização do sistema nervoso. 4. Teoria Multifatorial.

Fonte: Rossel et al., 2004.

As teorias de envelhecimento primário focam-se na velhice programada pelo genoma: cada espécie animal recebe uma codificação dos seus antepassados que a leva forçosamente a envelhecer, ou seja, defendem a existência de um plano genético que determina o aparecimento e desenvolvimento da velhice, o qual condiciona um tempo máximo de vida. As teorias de envelhecimento secundário atribuem o envelhecimento a causas patológicas e degenerativas. Nas teorias de envelhecimento terciário, o declínio de alguns dos mecanismos fisiológicos de controlo, como o sistema imunitário, neuroendócrino, cardiovascular, nervosos e excretor, são apontados como os responsáveis pelo envelhecimento.

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As várias definições de envelhecimento biológico, apesar de divergirem na orientação teórica subjacente, partilham a ideia da progressiva disfuncionalidade originada pela idade, com o consequente aumento da suscetibilidade e incidência de doenças. Segundo Mazo, Lopes e Benedetti (2001), de entre os autores defensores das teorias biológicas destacam-se Hayflick (1996), Mailoux-Poirier (1995) e Salgado (1979), no entanto, toma-se por referência Hayflick (1997), uma vez que ele abrange a quase totalidade das teorias apresentadas pelos outros autores.

A) Teorias genéticas (Não estocásticas)

Os biogerontologistas salientam a participação importante dos genes no processo de envelhecimento.

Teoria da velocidade da vida - Esta teoria teve destaque durante mais de 50 anos como sendo

uma das principais teorias do envelhecimento. Foi proposta em 1928 por Raymond Pearl, biólogo americano e um dos fundadores da biogerontologia, que advoga que a longevidade é inversamente proporcional à taxa metabólica. Ou seja, as características genéticas de cada espécie de mamíferos determinam a sua taxa metabólica e, deste modo, a sua maior ou menor longevidade comparativamente às outras espécies. Apesar de se comprovar em algumas espécies, facilmente se encontravam exceções a esta teoria (Vaanholt, 2007).

Teoria de envelhecimento celular - O alemão August Weissmann, em 1981, especulou sobre a

existência de um potencial limitado das células somáticas nos animais superiores, no entanto, só mais tarde Hayflick e Morhead constataram que os fibroblastos humanos normais têm uma capacidade finita de duplicação celular e demonstraram que a morte da cultura de células humanas normais não se deve a algumas causas triviais mas é antes uma consequência das características genéticas das próprias células. Alguns investigadores, dada a consistência dos resultados obtidos em culturas de células, concluíram que a longevidade é determinada geneticamente (Mota, Figueiredo & Duarte, 2004).

Teoria neuroendócrina - Segundo esta teoria, a incapacidade fisiológica do organismo

associada à idade pode ser explicada com base na alteração hormonal resultante do declínio de diversas hormonas do eixo hipotálamo-pituitária-adrenal que controla o sistema reprodutor, o metabolismo, entre outros, pelo que a sua deficiência tem como resultado a deterioração da função tecidular. No entanto, considera-se que as alterações neuro-endócrinas

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podem até nem ser a causa, mas sim uma manifestação do processo de envelhecimento primário que, pelas modificações hormonais que provoca, acelera o processo de envelhecimento (Mota et al., 2004).

Teoria imunológica - Alterações na capacidade de resposta imunológica têm como

consequência uma menor resistência à infeção e à doença, é o que esta teoria defende para explicar o processo de envelhecimento. No entanto, a alteração da resposta imunológica poderá ser o processo da ação de inúmeros fatores estocásticos que interferem com os mecanismos de defesa e não a causa do envelhecimento (Rollo, 2002).

B) Teorias estocásticas

As teorias estocásticas referem que a perda de funcionalidade é causada pela acumulação aleatória de lesões em moléculas vitais, causadas pela ação ambiental. Destacamos de seguida algumas dessas teorias:

Teoria do erro-catástrofe - Esta teoria, desenvolvida em 1963 por Orgel, postula que os erros

na síntese de uma proteína podem ser utilizados na síntese de outras proteínas, levando à possível acumulação de proporções de proteínas aberrantes potencialmente letais. Quando as proteínas afetadas são as que estão envolvidas na síntese de ADN, aumenta a possibilidade de mutações somáticas, originando patologias e disfunção celular. No entanto, estudos realizados apontam para uma baixa influência da ocorrência de erros na tradução das proteínas no fenómeno do envelhecimento e que aumentos consideráveis de erros não precipitam obrigatoriamente erros-catástrofe.

Teoria da reparação do ADN - Em 1974, Hart e Setlow desenvolveram a teoria da reparação

do ADN. Para estes autores, é a velocidade de reparação do ADN que determina o tempo de vida dos indivíduos da mesma espécie e entre indivíduos de espécies diferentes. No entanto, estudos posteriores consideram que explicar o fenómeno do envelhecimento com base neste mecanismo deverá ser considerado com algumas reservas, dado que a provável diminuição da capacidade de reparação do ADN com a idade tanto pode ser uma causa como uma consequência do envelhecimento.

Teoria da glicosilação - As reações de glicosilação são atualmente consideradas como um dos

principais mecanismos responsáveis pelo fenómeno de envelhecimento tecidular (Mota et al., 2004). Esta teoria sugere que a modificação das proteínas pela glicose e a associação de

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reações de Maillard levam à formação de ligações cruzadas graduais no colagénio que são características nos indivíduos idosos. O nível elevado de glicemia e de glicose tecidular conduzem à deterioração estrutural e funcional dos tecidos.

Teoria do stresse oxidativo - Foi Harman, em 1966, quem propôs pela primeira vez o

envolvimento dos radicais livres no fenómeno de envelhecimento e na doença, considerando-o cconsiderando-omconsiderando-o considerando-o resultadconsiderando-o da acumulaçãconsiderando-o de lesões mconsiderando-oleculares prconsiderando-ovconsiderando-ocadas pelas reações dconsiderando-os radicais livres nos componentes celulares ao longo da vida, que conduzem à perda de funcionalidade e à doença com o aumento da idade, conduzindo à morte (Olshansky & Rattan, 2005).

Tal como nas teorias genéticas, também nas teorias estocásticas, a divisão das teorias, bem como a sua visão isolada, condiciona o conhecimento do processo de envelhecimento. Assim, o mesmo fator estocástico pode induzir alterações em diferentes mecanismos subjacentes ao fenómeno de envelhecimento. Os mecanismos biológicos atuam de uma forma coordenada e equilibrada, visto que quando existem alterações num sistema, consequentemente outros ficam alterados. É necessário estar consciente desta interrelação entre os fatores que influenciam o envelhecimento ou, pelo contrário, são consequência dele. Desta forma, a divisão das teorias biológicas deve ser entendida no contexto das variáveis a estudar e não como uma explicação isolada do processo de envelhecimento

1.1.2. As teorias do envelhecimento psicossocial

As teorias do envelhecimento psicossocial, ao enfatizarem os aspetos psíquicos e sociais e os fatores culturais, ajudam a compreender o processo de envelhecimento de uma forma global.

Teoria da atividade - Defende que os idosos se devem manter ativos, pois isso afastá-los-á do

isolamento, e a atividade permite-lhes manter a autoestima, conservar a saúde e, desta forma, obter uma maior satisfação com a vida. Na ocorrência de perdas associadas ao envelhecimento, elas devem ser substituídas por novos e diferentes papéis, interesses ou pessoas. Mailloux-Poirier (1995), especifica que “a velhice bem-sucedida pressupõe a descoberta de novos papéis ou uma nova organização dos já desempenhados” (p.104). Muitos idosos acreditam nestes princípios, recusando-se a aceitar estereótipos que agem de acordo com a velhice, mantendo uma vida ativa e produtiva.

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Teoria do desprendimento ou exoneração - Diz que o envelhecimento é acompanhado de uma

separação recíproca entre o indivíduo e a sociedade. Desta forma, o indivíduo põe fim, de forma gradual, ao seu empenhamento e participação, libertando-se dos papéis sociais, para poder refletir e pensar nele. Esta teoria, ao entender o afastamento do meio físico e social durante o envelhecimento como uma etapa normal do desenvolvimento humano, não enquadra o comportamento de muitos idosos que permanecem como elementos ativos e produtivos da sociedade. Deste modo, é legítimo pensar que o afastamento das pessoas da participação na vida social não tem tanto a ver com o processo de envelhecimento mas sim com a precaridade e exiguidade de propostas sociais dignificantes.

Teoria da continuidade - Sustenta que o envelhecimento é entendido como parte integrante do

ciclo de vida e não período final, separado de outras fases. O idoso mantém os seus hábitos de vida, as preferências, experiências e compromissos adquiridos e elaborados durante a sua vida. Dada a individualidade de cada pessoa, a adaptação às situações é variável. Segundo Birchfield (1999), “cada pessoa adapta-se nos anos tardios da vida, em grande parte, da mesma forma como se adaptava ao período anterior” (p.639). O sucesso do envelhecimento depende da capacidade de cada um para manter e continuar padrões de comportamento anteriores.

Teoria da subcultura - Refere que os idosos, sendo um grupo, possuem as suas normas,

regras, atitudes, comportamentos e crenças, que os diferenciam dos outros grupos, transformando-os numa subcultura. Zimerman (2000), refere que “o envelhecimento social da população traz uma modificação no status do idoso e no relacionamento dele com outras pessoas” (p.24). As características deste grupo de pessoas (idosos) acabam por os separar dos outros grupos etários, colocando-os à margem e podendo traduzir-se em sofrimento e até em alguma estigmatização.

Teoria da Integridade pessoal ou do desespero – Segundo Erikson (1995b) este estádio é o

último do desenvolvimento humano e culmina com a “ integridade do eu”, onde o indivíduo consolida e conserva a sua identidade num processo de amadurecimento. Este culminar pode ter duas vertentes antagónicas, a primeira, e desejável, em que o indivíduo aceita e ama a vida e todos os que fazem parte dela tal como são, aceitando a morte como um facto inevitável. Nesta fase, o indivíduo revela ponderação e sabedoria. A segunda, em que o indivíduo sente que não consegue atingir os seus objetivos pessoais e/ou sociais, tem medo da perceção da sua finitude, podendo tornar-se amargo, crítico e, por vezes, agressivo.

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Para Dias (1999), alguns dos distúrbios psicológicos no idoso, atribuídos à idade avançada, podem estar associados a dificuldades e limitações decorrentes da própria longevidade, tais como a viuvez, as dificuldades financeiras, a perda de parentes e amigos, as disputas familiares, entre outras. Deste modo, podemos afirmar que os problemas psicológicos ligados ao envelhecimento podem não ser só provocados pela diminuição das funções cognitivas, mas também devido às perdas dos papéis sociais, crises, múltiplas patologias, situação socioeconómica, desenraizamento e múltiplas situações geradoras de stresse.

Para finalizar, podemos dizer que o envelhecimento é um processo diferencial, onde a vida e a adaptação são realidades inseparáveis. Para de Zimerman (2000), o envelhecimento pode resultar:

…em dificuldade de o idoso se adaptar a novos papéis, à falta de motivação e dificuldade de planear o futuro, à necessidade de trabalhar as perdas orgânicas, afectivas e sociais, à dificuldade de se adaptar às mudanças rápidas que têm reflexos dramáticos nos idosos, às alterações psíquicas que exigem tratamento, à depressão, à hipocondria, à somatização, à paranóia, aos suicídios, à baixa imagem e auto-estima. (p.25)

Desta forma, o envelhecimento ativo desenvolve atitudes, tais como o espírito de iniciativa, a criatividade, a descoberta de novos interesses e aptidões, reforça a autoestima, evita o isolamento e fomenta novas fontes de interesse e alegria de viver.

Depois da exposição de algumas teorias, torna-se evidente que estudar, conhecer e explicar o fenómeno do envelhecimento não é tarefa fácil.

1.2. Aspetos demográficos do envelhecimento

A população mundial está a envelhecer, especialmente a da Europa. Em 1999, a OMS era da opinião que um dos maiores desafios que o mundo teria que enfrentar no século XXI, era o crescimento rápido e global da população idosa. As previsões da OMS não deixam margem para dúvida, em 2025 existirão 1,2 biliões de pessoas com mais de 60 anos, sendo o grupo de idosos com mais de 80 anos, o grupo com o maior crescimento. Esta é uma realidade demográfica à qual os países ainda se estão a adaptar, dado tratar-se de uma realidade relativamente recente (OMS, 2001).

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O envelhecimento pode ser analisado sob dois prismas: o individual e o demográfico. Enquanto o envelhecimento individual se baseia na maior longevidade dos indivíduos, o demográfico caracteriza-se pelo aumento da proporção das pessoas idosas2 na população total, alcançado em detrimento da população jovem e/ou da população em idade ativa (Carrilho & Patrício, 2005), com inversão das pirâmides etárias, resultado da mudança das estruturas etárias e sociais das populações.

Neste capítulo, e no sentido de um maior aprofundamento sobre esta realidade, iremos abordar os aspetos demográficos do envelhecimento na União Europeia (UE), em Portugal, e no concelho de Vila Real, pelo enquadramento geográfico que o estudo assume.

1.2.1. Envelhecimento demográfico na União Europeia

O envelhecimento da população, apesar de constituir um fenómeno em expansão em todos os países do mundo, especialmente nas regiões mais desenvolvidas, está a tornar-se preocupante na UE. Os números são reveladores, segundo dados da ONU, em 1999, “os indivíduos com menos de 15 anos (jovens) e com mais de 65 anos (idosos) representavam, … 31% e 7% da população total mundial. No mesmo contexto, a UE, apresentava 17% de jovens e 16% de idosos, revelando-se … um espaço particularmente envelhecido a nível mundial” (Rosa, 2000, p.436).

O envelhecimento demográfico ficou a dever-se a uma queda acentuada da taxa de fertilidade nos últimos 15 anos, a um rejuvenescimento curto e moderado, e aos processos migratórios iniciados na década de 90. Em 1993, segundo Giraldes (1996), “a percentagem de população com mais de 65 anos na população total era, na união europeia, de 14,5% com valor máximo na Suécia (17,6%) e o mínimo na Irlanda (11,4%)” (p.11). Os valores provisórios do Eurostat (2012), apontam para a existência de 86.522.856 pessoas com 65 ou mais anos, em 2009 (17,3% do total da população). A média de idade da população da UE a 1 de janeiro de 2010, era de 40,9 anos comparativamente aos 35,2 anos verificados na década de 60.

Pelos dados existentes, podemos constatar que na UE e na globalidade dos países, para os quais existiam dados, entre as décadas de 60 e 80 a idade média da população manteve-se praticamente inalterada, tendo-se verificado a partir daí um crescimento. Projeções

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demográficas do Eurostat (2012), prevêem que em 2060, na UE, a idade média da população estabilize nos 47,6 anos. Em 2010, a idade média da população europeia praticamente não diferia da de Portugal, com 40,9 e 40,7, respetivamente.

Entre os Estados Membros da UE, em 1960, a Suécia era o país com a média de idade mais elevada (36 anos), em meados da década de 90 passou a ser a Itália (38,5 anos em 1995), e uma década mais tarde, em 2005, era a Alemanha que liderava com a população cuja média de idades era de 41,8 anos, subindo para 44,2 em 2010.

Sem dúvida que um dos grandes êxitos da última metade do século foi o aumento da esperança média de vida. Segundo a Comissão das Comunidades Europeias (CCE, 1999), entre1960 e 1995, na UE, esse aumento traduziu-se em 8 anos para os homens e em 7 anos para as mulheres. Ainda, segundo o mesmo organismo, entre 2005 e 2010, assiste-se a um crescimento de 17,1% de pessoas muito idosas (acima dos 80 anos), e a uma projeção de 57,1% entre 2010 e 2030, que serão perto de 34,7 milhões contra os cerca de 18,8 milhões que atualmente existem (CCE, 2005). Em 2004, a esperança de vida à nascença, na Europa, era de 78,4 anos, passando para 79,4 anos em 2008, sendo mais elevada no sexo feminino que no sexo masculino com 82,4 e 76,4, respetivamente.

A proporção de pessoas “muito idosas”, com 80 ou mais anos está a aumentar, sendo na UE de 4,7%. Países como a Alemanha e a Itália apresentam uma população muito envelhecida, com uma proporção de pessoas com mais de 80 anos superior a 5% (Eurostat, 2012).

Em 2004, o valor mais elevado do índice de envelhecimento, entre os países da UE (15), verificava-se na Itália com 29,1%, sendo que o valor mais baixo era o da Irlanda com 16,1%, apresentando Portugal um valor intermédio de 25,1%. Como podemos observar pela Figura 1, em 2010, o país com o maior índice de envelhecimento passou a ser a Alemanha (31,3%) e continua a ser a Irlanda quem possui o índice mais baixo (17,1%), sendo que Portugal se situa nos 27%. Destaca-se, ainda, o facto de a Itália ultrapassar a barreira dos 30% (30,8%).

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Na Europa, entre 2004 e 2009, verificou-se um aumento progressivo do índice de dependência de idosos, do índice de dependência total e do índice de envelhecimento, de acordo com a Tabela 2. No mesmo período, o índice de dependência dos jovens desceu de 24,2 para 23,3%. A taxa de fecundidade está abaixo do valor de reposição da população, com um valor de 1,59 em 2009. Este facto ficou a dever-se a um conjunto de determinantes, como a participação da mulher no emprego, o aumento do nível de instrução e o aumento da idade média da mulher para o nascimento do primeiro filho. Na década de 60, a idade média para o nascimento do primeiro filho na UE, era de 23,5 anos, passando a ser em 2009 de 29,8 anos (Pordata, 2012).

Tabela 2.

Indicadores demográficos na UE (%)

(┴ - quebra de série; Pro - valor provisório) Fonte: Pordata, 2012.

Todas estas alterações, como sejam o decréscimo da natalidade3, a diminuição abrupta da fecundidade associado ao aumento constante e regular da esperança de vida, perspetivam

3 Na UE, a taxa bruta de natalidade passou de 16,4‰ em 1970 para 10,7‰ em 2009.

0 5 10 15 20 25 30 35 2004 2005 2006 2007 2008 2009

Índice de dependência de idosos 24,5 24,8 25,1 ┴ 25,3 ┴ 25,5 Pro 25,8 Índice de dependência de jovens 24,2 23,9 23,6 ┴ 23,4 ┴ 23,3 Pro 23,3 Índice de dependência total 48,7 48,7 48,7 ┴ 48,7 ┴ 48,8 Pro 49,1 Índice de envelhecimento 101,4 104,0 106,2 ┴ 108,0 ┴109,4 Pro 110,6 Índice sintético de fecundidade 1,50 1,51 1,54 1,56 1,60 1,59

Figura 1. Índice de envelhecimento, UE (15), 2010

Imagem

Figura 1. Índice de envelhecimento, UE (15), 2010  (Pordata, 2012)
Figura 2. Pirâmide etária da população, UE-25, 2000-2050   (Netherlands Interdisciplinary Demographic Institute [NIDI], 2006)
Figura 3. Variação da população residente por NUTS II, 2001-2011  (INE, 2011a)
Figura 4. Estrutura da população residente em Portugal por grupos etários (1981, 1991, 2001, 2011)  (INE, 2011a)
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Referências

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