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(1)1. UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO ESCOLADE CIÊNCIAS MÉDICAS E DA SAÚDE. PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA DA SAÚDE.. ANA LUIZA TAVARES. A PERCEPÇÃO DO AMBIENTE FAMILIAR E A QUALIDADE DE VIDA DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA.. SÃO BERNARDO DO CAMPO. 2018.

(2) 2. ANA LUIZA TAVARES. PERCEPÇÃO DO AMBIENTE FAMILIAR E A QUALIDADE DE VIDA DE ADOLESCENTES EM CUMPRIMENTO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA. Dissertação apresentada no curso de Pósgraduação à Universidade Metodista de São Paulo - UMESP, como requisição parcial a obtenção do título de Mestre em Psicologia da Saúde. Área de concentração: Processos Psicossociais e promoção de saúde.. Orientação: Prof.º Dr. Manuel Morgado Rezende.. São Bernardo do Campo. 2018.

(3) 3. Dedico o presente trabalho aos meus três grandes amores, aos meus orientadores e colaboradores. A todos, meu carinho, admiração e gratidão.. Obrigada pelo voto de confiança..

(4) 4. AGRADECIMENTOS. Esse é o momento de reconhecer o apoio e afeto de diversas pessoas que auxiliaram na concretização desse trabalho. Ao meu orientador Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende que me prestou importante referencias por meio de diálogos estimulantes indicando possibilidades de caminhos e auxiliando na construção desse trabalho compreendendo a importância do mesmo para minha pessoa. À professora Dra. Maria Geralda Viana Heleno a qual guardo extremo carinho não só pela estimulação a ampliar minha capacidade profissional pelo presente trabalho, mas também por contribuir para minha formação e aprimoramento pessoal com suas aulas, diálogos e grandes contribuições para esse trabalho. À professora Dra. Hilda Rosa Capelão Avoglia, pelos preciosos apontamentos feitos durante a banca de qualificação possibilitando ampliações pertinentes ao tema. A todo o corpo docente do Mestrado em Psicologia da Saúde por também ampliar minhas capacidades profissionais e ofertar outros pontos de vista para a compreensão do que é e do que pode ser a Psicologia da Saúde. Aos colegas e amigos do Mestrado, pessoas distintas, mas com objetivos e intenções iguais perante a transformação e entendimento da necessidade de se levar saúde a diferentes realidades. A Sra. Elisangela Aparecida de Castro Souza, Assistente da Coordenação do Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde da Metodista, por desde o início de minha empreitada na Pós prestou todo o auxílio e suporte de forma atenciosa que me permitiu também chegar à concretização desse trabalho. A Mariana Bonifácio, colega de graduação e atuação junto a área social com quem pude compartilhar perspectivas de trabalho e grande colaboradora na elaboração desse trabalho. Aos adolescentes participantes e ao CREAS de Mauá pela colaboração, sem os quais não seria possível a coleta de dados e por consequência o presente trabalho. A Camila Cristina Lopes da Silva não só pelo raciocínio lógico, o carinho, o amor, pela companhia em pausas para respirar e aproveitar momentos bons que me fizeram voltar renovada a produção desse trabalho, mas também pela paciência e compreensão da importância dessa como conquista e realização. A minha mãe Valentina Aparecida Silvestre Tavares e minha tia Marcia Regina Silvestre Montilha por sempre me estimularem a continuar e terem enorme paciência em todos os momentos de dificuldades, minhas fontes de força, suporte e amor Aos que participaram de forma direta ou indireta dessa minha jornada, minha gratidão e alegria ao compartilhar a finalização desse trabalho com todos. Muito obrigada..

(5) 5. RESUMO. Dos estudos sobre adolescentes em conflito com a lei poucos focam sobre as vivências desses e de suas famílias sobre a percepção do lugar que ocupam e quais as reflexões sobre a situação de estar em conflito com a lei. Para pensar intervenções junto ao adolescente em conflito com a lei, faz-se necessário compreender qual a percepção desses sobre sua condição de existir e quais são as influências negativas e positivas para o momento que se vive. A presente pesquisa teve por proposta identificar a percepção de adolescentes em cumprimento de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto (MSEMA), tanto do ambiente e as relações familiares, quanto da qualidade de vida no período de cumprimento da MSEMA. O grupo estudado foi composto por 22 adolescentes com 18 anos de idade completos. Foram utilizados os instrumentos: Escala do Ambiente Familiar (FES), WHOQOL-100 e questionário sociodemográfico. Os participantes apresentaram como perfil a abaixa escolaridade ou desacordo com a escolaridade adequada para a idade: uso de substâncias como álcool, tabaco e maconha: baixa renda socioeconômica: e convivência com apenas um dos genitores. Sobre a percepção do ambiente familiar, os dados coletados com o FES apresentam a percepção de uma forte coesão e suporte dentro do grupo familiar, pouca flexibilidade para lidar com as interferências externas ao grupo familiar e dificuldade em relação à adaptação e suporte ao desenvolvimento individual dentro da família, e também a percepção de pouca qualidade em relação a atividades de lazer e acesso a questões de cultura e política pelo grupo familiar. Sobre percepção de qualidade de vida, os dados do WHOQOL-100 apresentam a percepção de qualidade de vida nas questões de relacionamentos interpessoais, potencialidades e ou capacidades individuais. No que se refere à percepção de qualidade de vida obtida pelo ambiente as pontuações são baixas, indicando baixa qualidade de vida em relação ao suporte que advém do meio social. Compreende-se a necessidade de ampliação do trabalho com um maior número de participantes e inserir a participação das famílias possibilitando assim aprofundar a análise sobre a percepção dos adolescentes e suas famílias no que diz respeito às suas relações e relações com o meio e principalmente com as políticas públicas que devem se envolver nos trabalhos socioeducativos proporcionando a promoção social e de saúde desses adolescentes com uma nova perspectiva de ser cidadão e não mais ser em conflito com a lei.. Palavras-chave: Adolescente em conflito com a lei. Família. Medida socioeducativa em meio aberto. Qualidade de vida..

(6) 6. ABSTRACT. Data on the growth of adolescents in conflict with the law show that although they describe characteristics of a profile of these adolescents, few studies focus on the experiences of these adolescents and their families on the perception of the place they occupy and which reflections on the situation of being in conflict with the law. To think about interventions, it is necessary to understand the perception of these adolescents about their condition of existence and what negative and positive influences for the moment in which they live. The present research had as proposal to study the perception of adolescents in compliance with MSEMA, based on how they perceive the environment and family relations and the perception of quality of life in the MSEMA compliance period, among the quality of life issues, especially those related to the link with the social environment. The study group consisted of 22 adolescents with 18 years of age. The instruments were: Family Environment Scale (FES), WHOQOL-100 and sociodemographic questionnaire. The sample presented as a result factors such as low educational level or disagreement with age-appropriate schooling, use of substances such as alcohol, cigarettes and marijuana, have low socioeconomic income that ends up being related to low scores in the FES subscales as Guidance for Culture and Recreation and Recreational Activities and also with the low appreciation of the Environment Domain in the WHOQOL-100, the sample also presents low score in the FES in the sub-scale of Organization, Assertiveness and Control indicating family formation with hierarchy and roles not clearly defined, inflexibility and mismatch to deal with internal changes and external interferences in the family group. It is understood the need to expand the work with a larger number of participants and to insert the participation of the families, thus enabling a deeper analysis of the adolescents 'and their families' perceptions regarding their relationships and relationships with the environment and especially with the public policies that must be involved in the socio-educational work providing the social and health promotion of these adolescents with a new perspective of being a citizen and no longer be in conflict with the law.. Keywords: Open socio-educational measure, Adolescents in conflict with the law, Family, Quality of life..

(7) 7. LISTA DE FIGURAS. FIGURA 1 EVOLUÇÃO DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO NO BRASIL. ........ .18 FIGURA 2 GRÁFICO COM O COMPARATIVO ENTRE 2013 E 2014 QUANTO AO LÓCUS INSTITUCIONAL DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO. ....................................... 31 FIGURA 3 DIMENSÕES DO QUESTIONÁRIO FES ........................................................... 39 FIGURA 4 DESCRIÇÃO DE FORMAÇÃO FAMILIAR DE CONVÍVIO. .......................... 47 FIGURA 5 DISTRIBUIÇÃO DA AMOSTRA POR RENDA FAMILIAR..............................49.

(8) 8. LISTA DE TABELAS. TABELA 1 DOMÍNIOS E FACETAS DP WHOQOL-100 .................................................... 40 TABELA 2 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE EXPRESSIVIDADE ............................. 53 TABELA 3 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE CONFLITO .......................................... 54 TABELA 4 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE INDEPENDÊNCIA .............................. 55 TABELA 5 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE ASSERTIVIDADE ............................... 56 TABELA 6. PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE ORIENTAÇÃO INTELECTUAL /. CULTURAL ............................................................................................................................. 57 TABELA 7 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE ATIVIDADES RECREATIVAS ......... 58 TABELA 8 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE ORIENTAÇÃO MORAL E RELIGIOSA .................................................................................................................................................. 59 TABELA 9 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE ORGANIZAÇÃO ................................. 60 TABELA 10 PONTUAÇÃO NA SUBESCALA DE CONTROLE ....................................... 61 TABELA 11 MEDIDAS DESCRITIVAS DAS FACETAS E DOMÍNIOS DO WHOQOL-100 .................................................................................................................................................. 64 ..

(9) 9. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 10 1.1 Adolescentes em conflito com a lei..................................................................................16 1.2 A família com filhos adolescentes em conflito com a lei................................................25 1.3 O adolescente em cumprimento de MSE em Meio Aberto e os espaços sociais..........28 1.3.1 O CREAS como ambiente protetivo................................................................................29 1.3.2 A escola como ambiente protetivo...................................................................................31 2 OBJETIVOS ........................................................................................................................ 34 3 MÉTODO ............................................................................................................................. 36 3.1 Local de coleta de dados...................................................................................................36 3.2 Instrumentos......................................................................................................................37 3.2.1 Escala de Ambiente Familiar (Family Environment Scale – FES)..................................37 3.2.2 WHOQOL-100.................................................................................................................40 3.2.3 Questionário Sociodemográfico.......................................................................................41 4 PROCEDIMENTO.............................................................................................................. 42 5 ANÁLISE DE DADOS.........................................................................................................43 6 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................................ 44 7 RESULTADOS DEMOGRÁFICOS DA AMOSTRA......................................................45 7.1 Análise e discussão dos dados da escala do ambiente familiar......................................52 7.2 Dimensão das relações afetivas.........................................................................................52 7.3 Dimensão do crescimento pessoal.....................................................................................55 7.4 Dimensão da manutenção do sistema familiar................................................................60 7.5 Análise e discussão de percepção de qualidade de vida...................................................64 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 71 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 77 APÊNDICE A TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO................84 APÊNDICE B TERMO DE ASSENTIMENTO...................................................................85 APÊNDICE C QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO.............................................86 ANEXO A TERMO DE CONSENTIMENTO CREA..........................................................87.

(10) 10. 1 INTRODUÇÃO. O presente trabalho foi motivado por inquietações e reflexões vividas durante os três anos em que atuei como técnica executora de medidas socioeducativas em meio aberto no grande ABC. Na rotina do trabalho com adolescentes e jovens em conflito com a lei é notável a situação de vulnerabilidade e risco e é possível identificar o lugar à margem ao qual lhes é possível existir na sociedade. O lugar indicado para o atendimento dos adolescentes com determinação de cumprimento de Medida Socioeducativa em Meio Aberto é no âmbito social. O equipamento público que executa os atendimentos é o mesmo que atua junto a vítimas de violências diversas, o Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS). A referência do lugar de atendimento remete ao entendimento de que existe o reconhecimento: esse adolescente, em algum momento de seu desenvolvimento, passou por algum tipo de violência, e essa se relaciona com o comportamento e ato de estar em conflito com a lei, e cabe então ao Estado o papel de atuar com uma proposta de ressocialização junto a esse adolescente e as suas relações com o meio (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006). Na socioeducação, há intenção de inibir a reincidência criminal desses adolescentes e jovens, além de intervir na mudança do lugar social a eles determinado. Porém, a tarefa é árdua e as instituições frágeis, não há reconhecimento das dificuldades e vulnerabilidade dos serviços de execução de medida que possuem a conflituosa tarefa de instigar reflexões, estimular autonomia e limitar comportamentos delituosos. Em último levantamento realizado em 2014, constatou-se a idade dos adolescentes em cumprimento de medida socioeducativa tanto em privação de liberdade, semiliberdade e meio aberto no Brasil, está concentrada na faixa etária entre 16 e 17 anos, com 56% (13.867), seguida pela faixa etária 18 a 21 anos, com 24%, entre 14 a 15 anos com 18% e 12 a 13 anos, com 2%. A maioria desses adolescentes se considera preto ou pardo, estão em atraso ou desacordo entre série escolar e idade, no mesmo levantamento 67.356 adolescentes encontravam-se em cumprimento de MSE em meio aberto, sendo 58.525 do sexo masculino e 8.831 do sexo feminino. Dos adolescentes em cumprimento de medidas em meio aberto, 90% são do sexo masculino, em conflito com a escolarização e com vínculos familiares e sociais fragilizados (BRASIL, 2017). Silva e Gueresi (2003), em seu estudo com 9.555 adolescentes em cumprimento de medida socioeducativas de internação e internação provisória do Brasil, apresentam dados sobre adolescentes infratores. Eles são provenientes dos territórios mais carentes, são em sua maioria.

(11) 11. meninos, negros, não-concluintes do ensino fundamental e fora do sistema educacional e sem vínculo empregatício, outros estudos indicam o mesmo perfil assim como as mesmas violações de direitos e exposições a violências vivenciadas por esses adolescentes, vínculos familiares fragilizados, situação de abandono escolar, desemprego, baixo nível socioeconômico e exposição precoce ao tráfico e/ou uso de drogas. Diversos trabalhos apresentam os mesmos indicadores, sinalizando os fatores de risco na adolescência que corroboram com a percepção de que vulnerabilidade e risco social são situações presentes na história de vida de adolescentes em conflito com a lei (VOLPI, 2001; SANTO-SÉ, 2003; SANTOS E OLIVEIRA, 2005; GALLO E WILLIANS, 2005; ZAMORA, 2005; ZANE, 2010). A situação de vinculação escolar é outra situação de fragilidade. Segundo Silva, Cianflone e Bazon (2015), adolescentes em conflito com a lei possuem indicadores problemáticos de vinculação escolar, institucional e interpessoal dentro de instituições de ensino, apresentando, então, maior probabilidade de abandono dos estudos. A realidade de desigualdades e exclusão social gera aumento de tensão nas relações, desorganizando e gerando o desrespeito e humilhação às pessoas que vivenciam essa realidade. Para Levisky (2000), ao intensificarem-se as frustrações como consequência surgem as respostas por meio de descargas agressivas a serviço da violência tanto moral como física. A ausência de um sistema social que seja efetivo e abarque as angústias dos indivíduos e lhes seja continente é tão responsável pela violência quanto o indivíduo que a pratica, o autor coloca as ações de transgressão dos adolescentes sob essa ótica de resposta às violências vividas, dessa forma, o adolescente em conflito com a lei passa a interagir com o meio social através da agressão às leis. Em 1990, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), atendendo à necessidade de implantar ações diferenciadas para os adolescentes em conflito com a lei, apresenta a Doutrina de Proteção Integral como uma forma de assegurar os direitos de crianças e adolescentes em conflito com a lei. Aos adolescentes e jovens responsáveis por atos infracionais estão destinadas medidas de caráter socioeducativo e também protetivas, sem deixar de responsabilizar os adolescentes pelo ato infracional (BRASIL, 1998). O ECA passa a ser o instrumento e Lei a serviço da garantia de direitos de crianças e adolescentes e as atenções de políticas públicas voltam-se para a quebra do ciclo de reincidência com a intenção de reinserção e ações de socioeducação para os adolescentes em conflito com a lei. O ECA se torna um equipamento para profissionais que trabalham com crianças e adolescentes, um norteador para intervir e a garantir os direitos junto às ações de socioeducação..

(12) 12. No ano de 2006, o Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente – CONANDA – aprovou e publicou a resolução nº 119 que estabeleceu o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE. Junto à resolução vem a aprovação da Lei Federal 12.594/2012, autorizando o SINASE em forma de Lei a normatizar e aplicar princípios e diretrizes das medidas socioeducativas no Brasil. Sendo assim, essas normas determinadas pelo SINASE tornam-se uma política pública com características específicas e tem como objetivo a socioeducação a partir da articulação de Secretarias, nas três esferas do governo(Federal, Estadual e Municipal).Concomitante à aprovação da Lei, ainda em 2012, o SINASE, em seu levantamento, indica a existência de 20.532 adolescentes em privação de liberdade e 88.022 em cumprimento de medida socioeducativa em meio aberto (Liberdade Assistida e Prestação de Serviço à Comunidade).O mesmo levantamento demonstra que o perfil dos adolescentes em conflito com a lei permanece o mesmo do estudo realizado em 2003 por Silva e Gueresi. Os dados mostram que cada vez mais adolescentes provenientes das camadas mais pobres passam a ter envolvimento com atos infracionais. Em 2008, o levantamento do número de adolescentes em cumprimento de MSE revelou um número de 16.868. Em 2009, passou a ser 16.940, ou seja, um aumento de 0,4%. Em 2010 ocorre uma mudança para 17.703 adolescentes (4,5%) e em 2011 com 19.595 adolescentes ocorreu um aumento significativo de 10,5%. Em2012, ocorre um aumento menor, sendo então 20.532 adolescentes, apenas 4,7%. Em 2013, ocorre o segundo aumento significativo, 23.066 adolescentes, 12%, creditam-se esses aumentos ao crescimento dos atendimentos em semiliberdade no país. Porém, em 2014 decresceu de 2.272 para 2.173 o número de adolescentes, enquanto a internação teve crescimento de 15.221 (em 2013) para 16.902, totalizando assim em 2014 24.628 adolescentes um aumento de 6% (BRASIL, 2017). Os números de jovens sem conflito com a lei permanecem crescendo, logo há necessidade de instaurar nas políticas públicas programas que trabalhem tanto a quebra do ciclo de reincidência como a prevenção de atos infracionais. O SINASE, com a Lei 12.594/2012, determina a criação de Planos Decenais que vislumbrem ações a serem concretizadas ou melhoradas no âmbito das medidas socioeducativas. Intenta-se, assim, responsabilizar todos os envolvidos passíveis de influenciar positivamente na prevista socioeducação de adolescentes e jovens em medida socioeducativa - o Sistema de Justiça; os governos estaduais e municipais; as políticas setoriais da educação, saúde, assistência social, segurança pública, trabalho, cultura, esporte e lazer; assim como os profissionais que atendem aos adolescentes e suas famílias – isto é, executar aquilo que já garantia o Estatuto da Criança e Adolescente desde 1990: a garantia.

(13) 13. de direitos para crianças e adolescentes, e a penalização para aqueles adolescentes infratores, contudo reconhecendo que esse adolescente e suas ações infratoras são resultado da inação dos atores (BRASIL, 2006)Todas essas mudanças afirmam então a necessidade de se compreender a história de vida desse adolescente e então trabalhar para o estabelecimento de relações que, até o momento da determinação de cumprimento de medida socioeducativa pelo ato infracional, mantinham-se distantes ou inexistentes na realidade do adolescente, o trabalho de fortalecimento de vínculos e socioeducação deve então ocorrer conforme previsto por lei e diretrizes já existentes. A legislação, por meio da Lei n°8.069/90, determina duas possibilidades de cumprimento de medida socioeducativa ao adolescente em conflito com a lei, sendo: a) aquelas em privação de liberdade – Internação e Semiliberdade: e b) aquelas que determinam o cumprimento em liberdade - Advertência, reparação do dano, Prestação de serviço à Comunidade e Liberdade Assistida. A finalidade da execução da medida assume dupla característica: a de punir e educar. A finalidade é que ela seja pedagógica-educativa com a intenção de inibir a reincidência do comportamento do adolescente, de forma a prevenir e reordenar valores de vida. A determinação da medida para o adolescente não parte do ato ou artigo criminal, o foco é considerar a pessoa que cometeu o ato, no caso, o adolescente em sua condição especial de pessoa em desenvolvimento. A medida é, em si, uma punição que deve ser executada de forma pedagógica, buscando prevenção da reincidência, mas também o ajustar da conduta social do adolescente para a convivência em sociedade presente e futura (LIBERATI & FERREIRA, 2006). As medidas em meio aberto têm a intenção de trabalhar com o adolescente a socioeducação junto ao meio social e familiar. Justifica-se, portanto, que o presente trabalho tenha se preocupado em apreender a percepção dos adolescentes em cumprimento da medida em meio aberto de Liberdade Assistida pelas características do acompanhamento realizado durante a medida e pela demanda de que qualquer intervenção junto aos adolescentes deve passar pela compreensão de suas histórias de vida e vivências de desenvolvimento, para que então a intervenção pautada em características pedagógicas possa ter intenção socioeducativa. As medidas em meio aberto não retiram o adolescente do convívio social e tem como pretensão a reorganização da conduta, elaboração e planejamento de um projeto de vida que possibilite a quebra com a prática de ato infracional. A finalidade da medida em meio aberto de Liberdade Assistida tem como ponto principal a participação e colaboração do adolescente, e, para tanto, ele necessita ser considerado no processo de elaboração de objetivos e proposta.

(14) 14. de socioeducação. Esse adolescente precisa ser acolhido e considerado em sua vivência, sua história de vida (TEIXEIRA, 2006). A medida de Liberdade Assistida tem como características: ser aplicada a adolescente autor de ato infracional apurado legalmente pela Vara da Infância e Juventude: ser cumprida em meio aberto favorecendo o contato desse adolescente com os recursos de sua comunidade e família: ser executada por equipamento público (Poder Público) do Município ao qual o adolescente pertence: possuir tempo de cumprimento mínimo de seis meses e máximo de doze meses podendo ser revogada, prorrogada ou substituída: ser acompanhada e avaliada periodicamente por técnico do equipamento público responsável pela execução do Serviço de Medidas Socioeducativas em Meio Aberto do Município: e ser uma medida que aplica restrição de direitos do adolescente (BRASIL, 2006). As regras da medida compreendem: a proteção do adolescente que cometeu ato infracional: sendo esse adolescente sujeito de direitos é também devedor de suas obrigações para com a medida: atendimento do Serviço de Execução de MSE do Município centrado no adolescente e não no ato infracional: aplicar sanção, mas de forma a direcionar a ação socioeducativa: o adolescente deve, na intenção de sujeito de direitos e de obrigações, permanecer envolvido e participativo na execução da medida determinada: permanecer próximo de sua família e comunidade e esses atores devem estar também envolvidos e serem participativos no processo de execução da medida: as potencialidades do adolescente devem ser consideradas no planejamento e execução da socioeducação: privilegiar a inserção do adolescente no social, educacional e no mercado de trabalho (LIBERATI &FERREIRA, 2006). O conceito da medida de Liberdade Assistida determina que esse adolescente durante o acompanhamento trace objetivos pedagógicos a serem cumpridos para então ser entendido como sujeito que cumpriu a determinação judicial. Esses objetivos devem ser orientados e executados por programas de assistência social: técnicos de equipamentos específicos envolvidos na garantia de direitos de crianças e adolescentes. A medida se resume ao objetivo de permitir a ao adolescente e a sua família a reorganização de vida no meio social, familiar e educacional. É pertinente, pois, que o presente projeto se proponha a estudar: qual a qualidade das relações percebida pelos adolescentes? Como esses adolescentes percebem suas relações familiares e sociais? Como se percebem em termos de qualidade de vida durante o cumprimento da medida socioeducativa em meio aberto?.

(15) 15. Vizzotto (2003) explicita que, na questão da psicologia na comunidade, as relações emocionais envolvidas devem ser levadas em consideração. Conhecer e buscar compreender as relações que se estabelecem no cumprimento da medida socioeducativa é algo a ser investigado nesses adolescentes. Para além de um enquadre em situações de risco e ou simples constatação de uma situação de vulnerabilidade, o estar em conflito com a lei é o explicitar da condição na qual esses adolescentes encontraram para expressar, existirem na sociedade (JACOBINA & COSTA, 2011). O SINASE (BRASIL, 2006) propõe uma equipe multidisciplinar para trabalhar a execução efetiva das medidas em meio aberto. O trabalho então pressupõe um aprofundamento no entendimento do adolescente em conflito com a lei, mas, sobretudo uma visão humanizada de não-culpabilização do adolescente e sua família. Sendo assim, a intervenção junto aos adolescentes que cometem o ato infracional é pela responsabilização pelo ato cometido, mas também pelo entendimento de que esse adolescente é um ser de direitos (BRASIL, 1998). O profissional de psicologia inserido nessa formação de equipe multidisciplinar tem como intenção usar conhecimentos específicos, bem como contextualizar a importância do social e dos recursos comunitários para a promoção de mudança nas construções psicossocial desses adolescentes assim como considerar os aspectos sociais, relações e formação de afetos deles durante seu desenvolvimento até o presente momento de conflito com a lei (COSTA A. C., 2004; GALLO,2008; DIAS, 2012; FREIRE & ALBERTO, 2013). Ser psicólogo é também ser investigador de fenômenos aos quais se busca a mudança, extrair os problemas da própria prática e da realidade a qual se pertence e vive, isso é se tornar um investigador (BLEGER, 1984). Com a família e a comunidade fazendo parte e sendo foco nas intervenções, os profissionais de psicologia, antes limitados a replicar o modelo de clínica ambulatorial nos serviços executores das políticas públicas, foram, então, chamados à atuação junto ao coletivo e a pensar nesse indivíduo como atuante e reflexo do meio, de uma comunidade e sociedade no qual seus direitos não foram garantidos e que ele expressa sintomas pelo seu desenvolvimento nesse meio (MACEDO, PESSOA, ALBERTO, 2015). A qualidade das relações estabelecidas pelos adolescentes em conflito com a lei, seja a qualidade de relação interpessoal ou consigo, devem ser consideradas na construção da proposta socioeducativa a ser trabalhada pela rede envolvida (Judiciário, Órgãos Públicos, família, comunidade) entendendo que o fortalecimento das relações é parte da socioeducação, e as relações ocorrem no âmbito social ao qual o adolescente pertence (COSTA, 2006)..

(16) 16. Enquanto psicóloga que atuou como executora de medidas socioeducativas, a questão desse projeto de pesquisa parte dos problemas encontrados na prática, da necessidade de melhor compreender as relações que esses adolescentes e jovens estabelecem para cumprir ou não a medida determinada, assim como compreender a relação que a comunidade estabelece com eles. E assim, contribuir com a elaboração de ações mais efetivas que exerçam a garantia de direitos e a socioeducação de fato. Buscar a compreensão das relações estabelecidas por esses adolescentes com suas famílias, comunidade e serviços ofertados e como a qualidade dessas colaboram na construção de novos caminhos ou na permanência e repetição dos atos infracionais, esse é, então, o objetivo do presente trabalho.. 1.1 Adolescente em conflito com a lei. O adolescente que comete um ato infracional é caracterizado perante a lei como adolescente em conflito com a lei. Essa nomenclatura é baseada na compreensão de que esse indivíduo está em fase de desenvolvimento e por isso é passível de intervenção, assim como o conflito é algo que pode ser superado por intervenções socioeducativas, conforme preconiza o Estatuto da Criança e do Adolescente - ECA (BRASIL, 1998) e o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo – SINASE (BRASIL, 2006). A compreensão da legislação frente ao adolescente em conflito com a lei passou por transformações até atingir o ponto em que se encontra, criando o espaço para se pensar nesse adolescente considerando que intervenções se fazem necessárias para a superação da situação de conflito entre esses adolescentes e a lei. Em 1830, sob a regência do Império, foi instaurado o Código Criminal do Império. Nele, existia a sugestão de que os menores de 14 anos envolvidos em crimes ou em situação de abandono deveriam, assim, ser internados em instituições. No Código fazia-se a distinção de atos de crime nos quais os entendidos “menores” poderiam ou não ser julgados enquanto criminosos, e o período de permanência não excederia então a idade dos 17 anos desses adolescentes. Nesse período, a inimputabilidade terminava aos 14 anos no Brasil. Em 1917, surge, no país, a primeira proposta de lei a não mais considerar como criminosos adolescentes de 12 a 17 anos (LARANJEIRA, 2007).No ano de 1927 entra em vigor o Código de Menores que propunha uma organização de intervenção de cunho educativo, preventivo e de recuperação.

(17) 17. dos adolescentes considerados autores de crimes. No citado Código estava previsto que: menores de 14 anos não seriam então submetidos a processos de sentença, dos 14 até os 18 seriam então submetidos a processo especial para correção de conduta (OLIVEIRA & ASSIS, 1999). Como consequência dessas modificações no Código, ao diferenciar a infância e adolescência surge, pois, a responsabilização às instituições para dar conta dessa recuperação prevista em lei aos adolescentes, mas cita-se a permanência da internação para que isso ocorra. Em 1941, é criado o Serviço de Assistência ao Menor (SAM) para abarcar a necessidade de internação dos citados “menores”. O SAM surge, mas decai pela ineficácia de executar a proposta recuperação, por perpetuar a violência e ofertar condições precárias aos adolescentes em regime de internação. Durante o período de governo de Vargas, a "política do menor", atuando em conjunto com o terceiro setor e as entidades religiosas, mantinha o caráter repressivo de intervenção. O mesmo modelo de atuação se perpetuou durante o período da ditadura militar, foi nesse período, também, que se criou a proposta da Fundação Nacional de Bem-Estar do Menor e o controle social era um meio de atuação (MACEDO, PESSOA, ALBERTO, 2015) Então, em 1964, surge como alternativa à ineficácia do SAM, a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor (FUNABEM), implantada por lei e transferindo aos estados a responsabilidade de executar os serviços e política de funcionamento estabelecidos pela esfera Federal (GOMIDE, 1999). A proposta da FUNABEM abarcava, teoricamente, um plano de reintegrar o adolescente à sua família e à comunidade. Existia a intenção de atuação por meio da compreensão desse adolescente em agir de forma a prevenir novos cometimentos de atos como a reincidência dos que já estavam sob a tutela do estado. AFUNABEM era tida como de reprodução do modelo penitenciário, no intuito de manter segura a sociedade, as construções tinham ênfase na segurança, não dos internos (FALEIROS, 2011). Em 1979, o Código de Menores é reformulado, inserindo a nomenclatura “situação irregular”, propondo então a compreensão dos diversos fatores possivelmente envolvidos no cometimento de ato infracional por adolescentes e também inserindo aqueles em situação de abandono familiar (PEREIRA, 1999). As mudanças nos anos 70 e 80 foram impulsionadas pelos movimentos sociais ativos na defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Nesse ativismo, foram sendo construídas as propostas de mudança que culminaram com a legitimidade constitucional por meio do Estatuto da Criança e da Adolescência em 1990.A alteração do termo “menores” para o reconhecimento.

(18) 18. da situação de desenvolvimento de crianças e adolescentes levou a legislação a reconhecê-los como sujeitos de direitos no âmbito da educação, saúde, lazer, social, convivência familiar, entre outros (COSTA, 2004). O ECA afirma, assim, a responsabilidade de atuação conjunta de: família, sociedade e estado para ofertar possibilidades a essas crianças e adolescentes. Justamente por ser nessas três esferas que mais se configuram situações de negligência e violência para com crianças e adolescentes (SANTOS, 2007; ZANE, 2010). O quadro que segue apresenta a evolução das normas e os princípios norteadores do atendimento socioeducativo:. FIGURA 1 EVOLUÇÃO DO ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO NO BRASIL.

(19) 19.

(20) 20. FONTE: SINASE 2014.. A sociedade brasileira tardou para evoluir da compreensão de situação irregular, para considerar crianças e adolescentes como pessoas de direitos e em peculiar condição de desenvolvimento, conforme hoje é previsto. Atualmente, a compreensão dos adolescentes em conflito com a lei, considera o jovem até 18 anos como inimputável, considerando que ainda se encontra em desenvolvimento. Preveem-se, aos casos de ato infracional, as Medidas Socioeducativas (MSE) para serem adotadas levando em consideração o ato cometido, mas também o adolescente (BRASIL, 1998; BRASIL, 2006). Nessa compreensão é anulada a culpabilidade criminal, mas não se permite a impunidade do ato, na realidade os objetivos das MSE, que atuam de maneira punitiva na intenção de inibir o novo cometimento de ato infracional, mas também de maneira educativa, para reeducar o comportamento desses adolescentes (PEREIRA, 1999)..

(21) 21. A sociedade participa de um processo de marginalização desses jovens, uma vez que cristalizam a rotulação ao reforçar a associação entre pobreza e predisposição infracional. Desse modo, a sociedade, ao não perceber o adolescente em conflito com a lei como também uma pessoa de direitos violados, limita suas perspectivas de vida, atribuindo-lhes somente a possibilidade de permanecer reconhecido como infrator (SANTOS, 2007). O ECA reforça o direito perante a constituição desse adolescente, mesmo em conflito com a lei, sendo assim, atribui a responsabilização do ato não só ao adolescente, mas também a família, Estado e sociedade perante a proposta de ressocialização e socioeducação. Pensar a ressocialização de adolescentes em conflito com a lei é entender a possibilidade de intervir em sua trajetória de vida, mas para tanto se faz necessário pensar em intervenções considerando as vulnerabilidades vivenciadas em seu desenvolvimento (BRASIL, 2006). Na atualidade, como pontua Levisky (2000), as violências no entorno dos adolescentes são explicitadas pela mídia diariamente. Dessa forma, a sociedade mostra-se cada vez menos capaz de ser continente aos adolescentes, não considera as vulnerabilidades, injustiças, desigualdades e crueldades vivenciadas e limita a oferta de oportunidades de construção de novos caminhos para os adolescentes em conflito com a lei. O levantamento do perfil de adolescentes que se encontram em situação de conflito com a lei apresenta indicadores de que esse adolescente, em algum momento do seu desenvolvimento e/ou até o momento do cometimento do ato, estaria em condições de vulnerabilidade e/ou risco social, suas famílias são pertencentes às camadas mais pobres da sociedade, abuso de álcool e drogas, baixa escolaridade ou não estão incluídos no sistema educacional, e em sua maioria são negros (SILVA E GUERESI, 2003; ASSIS E CONSTANTINO, 2005; AREDES E MORAES, 2007; MARTINS, 2008; ZANE, 2010). Contudo é importante evitar generalizações, não permitindo que o equívoco da afirmação do senso comum propagado pelos meios de comunicação de que todo adolescente negro e pobre está em conflito com a lei. A respeito disso, cita-se o levantamento realizado em 2011 pela Secretária de Direitos Humanos no qual se apresentam os dados de que em 2010 a população de adolescentes (12 a 18 anos) no Brasil correspondia a cerca de 20 milhões, desses adolescentes aproximadamente 69.650 cumpriam alguma medida em meio aberto, ou seja, 0,34% da população adolescente do Brasil, em 2010 do total da população de adolescentes, apenas 0,43% estavam em cumprimento de alguma medida socioeducativa (SDH, 2011). Cabe, neste momento, a apresentação de dados importante para evitar a rotulação dos adolescentes que pertencem às classes econômicas mais pobres do Brasil. Os 0,43% de.

(22) 22. adolescentes em cumprimento de alguma MSE não se compara ao número mostrado pela UNICEF (2011) que afirma que no ano de 2011 os adolescentes correspondiam a 11% da população brasileira e desses 38% viviam em condições de miséria. Portanto, entende-se que os adolescentes em cumprimento de alguma MSE correspondem a uma parcela pequena dos adolescentes em situação de miséria, que me sua maioria também são negros/pardos e não estão inseridos nas unidades educacionais que vivem em situação de pobreza, vulnerabilidade e/ou risco social. Não se pode manter a generalização do senso comum de que todo adolescente que é negro ou pardo, fora do sistema educacional em situação de pobreza, risco e ou vulnerabilidade social está em conflito com lei. Esse perfil, contudo, pertence a um grupo de pessoas que tem como marca histórica a exclusão social no Brasil e a exclusão social entra como uma vulnerabilidade que interfere na ressocialização e socioeducação de adolescentes em conflito com a lei, o adolescente em situação de vulnerabilidade ou risco social, excluído socialmente torna-se acessível ao tráfico. Pelos dados apresentados no levantamento do SINASE no ano de 2014, dos atos infracionais cometidos por adolescente foram: 44% (11.632) roubo, em primeiro lugar, e com 24% (6.350), o tráfico de drogas, em segundo lugar. O ato infracional de homicídio foi registrado em 9% (2.481). Outro dado significativo desse levantamento é o aumento do número de adolescentes do sexo feminino em atendimento socioeducativo, ocorreu um acréscimo de 5%. Em 2013, eram de 985 meninas em cumprimento de MSE, em 2014 esse número foi para1.181. Esses dados apresentam indicativos de o envolvimento com atos infracionais apresenta-se em uma aproximação de igualdade entre os gêneros e o crescimento de atos infracionais de tráfico de drogas indica a maior participação dos adolescentes na manutenção das atividades de venda e distribuição de drogas, participação secundária, mas que mantém o funcionamento do tráfico de drogas. Esses dados levantam a possibilidade de interpretação de que aqueles que gerenciam o tráfico de drogas no Brasil possuem maior capacidade de inclusão para esses adolescentes do que o Estado com as instituições de inclusão social e escolas. Há fragilidade nos vínculos entre as instituições de ensino e adolescentes em conflito com a lei, indicadores problemáticos que colaboram para o abandono e baixa escolaridade (PASSAMANI & ROSA, 2009: ALVES, 2010: SILVA et al, 2015: FRANCISCO & MURGO, 2017). Dados de 2014 revelam que os serviços da Rede Socioassistencial, composto por unidades e equipamentos públicos como escolas, unidades de saúde, esporte, lazer e.

(23) 23. profissionalização, ainda apresentam conflito acolhimento desses adolescentes, dificultando ou a sua inserção ou em manter o seu acompanhamento (BRASIL, 2017). Volpi (1997), em seu estudo, buscou identificar fatores de risco para a conduta infracional de adolescente em regime de privação de liberdade em todo Brasil. Os dados mostram que os adolescentes advêm de famílias de baixa renda com menor acesso a serviços de saúde, educação, lazer e cultura e, também, na qual as possibilidades de consumo são menores, o que as limita na forma a serem consideradas na sociedade, se não tem dinheiro para o consumo não são relevantes para a sociedade. Os adolescentes encontravam-se fora da escola ou, quando incluídos, apresentam reprovações indicando a baixa escolarização. Possuíam, também, histórico de uso de drogas e outras substâncias ilícitas, antecedentes ao cometimento de atos inflacionais, além de exposição à violação de direitos como trabalho infantil, à violência física e à violência da exclusão social. Nas vivências dos adolescentes em conflito com a lei, estão presentes fatores de riscos e a marginalização e rotulação acaba por fragilizar ainda mais os vínculos reforçando que as relações estabelecidas por esses adolescentes se dão pela da propagação da violência (LEVINSKY, 2000). O uso de substâncias e o cometimento de ato infracional encontram correlação em levantamentos junto a adolescentes em cumprimento de MSE. O uso é tido como precedente ao cometimento do ato e a percepção dos pais desses adolescentes é também de correlação entre delinquência e uso de drogas (ZANE, 2010). Outros diversos estudos também identificam a mesma correlação entre vulnerabilidade e situação de risco na qual se desenvolvem esses adolescentes com o uso de drogas e cometimento de ato infracional (GOMIDE, 1999; LEVISKY, 2000; FEIJÓ & ASSIS, 2004;GALLO E WILLIANS, 2005;COSTA & ASSIS, 2006; AREDES & MORAES, 2007,SANTOS, 2007; MARTINS, 2008; NUNES, ANDRADE & MORAIS, 2013). Entra a associação de uso de drogas e cometimento de atos infracionais por adolescentes, é importante sinalizar aqui sobre o uso de drogas por adolescentes que não estão em conflito com a lei. Em estudo realizado em escolas particulares do municipio de São Paulo, 2423 estudantes do ensino médio apresentaram como resposta a afirmativa ao uso de substâncias, as mais comuns são: álcool, tabaco e maconha, Mais especificamente 84,95% da amostra apresentou resposta de que já havia experimentado álcool ao menos uma vez na vida, 37,35% afirmavam já ter feito uso de tabaco ao menos uma vez na vida e 9,8% afirmavam uso de maconha ao menos uma vez na vida. Ainda nessa pesquisa os participantes também afirmavam.

(24) 24. uso frequente de álcool (40,06%), tabaco (10,4%) e maconha (2,0%) (BENINCASA, 2010). Ou seja, é importante pensar que o uso de substâncias como álcool, tabaco e maconha está presente na população adolescente em geral e não somente e específicamente os adolescentes em conflito com a lei é fazem uso dessas substâncias. A presença do uso e o também abuso devem ser entendidos como vulnerabilidades e riscos dentro da vivências dos adolescentes e não como comportamentos de rotulação. A constância de situações de vulnerabilidade e risco social, exposição a violências de todos os tipos aparecem atreladas quando esses adolescentes são olhados a luz de suas histórias, indicando que as coalizões de situações desfavoráveis ao desenvolvimento favorecem comportamentos que se relacionam no conflito desses adolescentes com a lei. A delinquência, a violência que nela está contida, pode ser resultante de uma construção social que surge da própria violência vivenciada na família e na sociedade. As dificuldades e a falta de perspectiva entram como elemento importante para a construção da identidade na adolescência. A frustração e o lidar com o contraditório apresentam-se como insuportáveis. A baixa perspectiva para a vida adulta acarreta então o prolongamento da condição de estar adolescente como uma defesa as desesperanças de tornar-se adulto na sociedade. A adolescência tende a reter-se pelas gratificações imediatas, não-duradoras e no nãocontrole dos desejos agressivos. Há também a influência caótica de modelos e do funcionamento presente na sociedade. Conforme afirma Levisky (2000), os adolescentes que estão em processo de construção de uma identidade adulta acabam por reproduzir aquilo que é exaltado como exemplos na sociedade, ou modelos, imitando e construindo conluios como afirmação ou com comportamentos de contestação a esse sistema presente no funcionamento da sociedade. Para Santos (2007), o fato de pertencerem às classes sociais nas quais os direitos são negligenciados, conviverem com desigualdades extremas, a infância e adolescência passam a existir em uma pluralidade na perspectiva brasileira, pluralidade essa entendida dentro da vulnerabilidade e risco que deve ser relevada na compreensão da situação de conflito com a lei dos adolescentes em cumprimento de MSE. Dyrell (2003) afirma que em contextos sociais desumanos, os adolescentes neles inseridos passam então a desenvolver-se em suas potencialidades de acordo com os recursos que dispõem dessa forma se constroem. Gênero, raça, classe social, escolaridade acabam por serem fatores que interferem no processo de crescimento, nas relações com o cotidiano, com os grupos sociais e também com a sociedade. Para o autor, a compreensão de adolescência precisa.

(25) 25. ser pautada também nos diferentes fatores que a constroem ou influenciam na construção, considerando então a interação da pessoa adolescente e suas experiências de crescimento em conjunto com o contexto social e familiar no qual vive. Situações como danos neurológicos, hiperatividade, precariedade de controle frente a frustrações, incapacidade de planejamento e fixar metas, rebaixamento intelectual, dificuldades escolares agravadas, entre outras, segundo pesquisas, estariam também nos perfis encontrados de adolescentes em conflito com a lei (GALLO E WILLIANS, 2005). O que os estudos indicam são fatores de risco aos quais esses adolescentes foram expostos durante a infância e que permanecem no desenvolvimento durante a adolescência: dificuldade de aprendizagem, baixa escolaridade, convivência com violência nas relações familiares, a violência do meio social, o consumo de drogas, o envolvimento de familiares em atos infracionais, a pobreza (FEIJÓ & ASSIS, 2004; GALLO & WILLIANS, 2005; MARTINS, 2008;PACHECO & HUTZ, 2009; PASSAMANI & ROSA, 2009; BERLIN, APPLEYERD & DODGE, 2011; MURRAY, ANSELMI, FLEITLICH-BILYK & BORDIN, 2013). Os levantamentos sociodemográficos são significativos para a compreensão de quais variáveis podem estar associadas aos comportamentos dos adolescentes em conflito com a lei. É relevante entender o contexto no qual estão esses adolescentes para então se pensar intervenções (LARANJEIRA, 2007; ZANE, 2010). Porém, é também importante considerar as condições de desigualdade social que recai sobre a adolescência no Brasil. Perante tais dados, que identificam esses adolescentes, permanece a sombra de quais seriam os dados relevantes a intervenções, ou que efetivariam as intervenções. Todavia, mantém-se a afirmação de que a história de vida desses adolescentes deve ser levada em conta para a construção de intervenções. Para tanto, considerar as percepções desses adolescentes de perfis tão traçados, quais suas concepções sobre o que consideram como qualidade de vida e de relações, seria uma possibilidade de fortalecer aspectos saudáveis e ainda em desenvolvimento, questões passíveis de intervenção.. 1.2. A família com filhos adolescentes em conflito com a lei. As interações e representações de família são importantes para a compreensão dos adolescentes em conflito com a lei. Aquilo que circula entre os indivíduos de uma família é.

(26) 26. tanto indicador de doença como de saúde, os comportamentos, desenvolvimento de papéis, qualidade dos afetos e qualidade do ambiente familiar podem estar relacionados tanto com o adoecimento, como com as potencialidades e capacidades de lidar com problemas. Santos (2007) afirma que a família não é apenas um conjunto de indivíduos aparentados, mas representam um sistema, portanto o contexto é necessário de ser compreendido, a sustentação para a construção de uma identidade parte das interações e da dinâmica relacional, que também é reguladora da sobrevivência e continuidade da família. A família de adolescentes em conflito com a lei tem sido foco de pesquisas tanto nacionais como internacionais, ressaltando essa ambiguidade de ambiente de risco ou seu caráter protetivo. Assim como pode atuar como ambiente protetivo dando suporte ao desenvolvimento e crescimento saudável para lidar com as variadas situações adversas, a família também pode apresentar-se como fator de risco e facilitador no desenvolvimento de comportamentos tidos como antissociais. (FEIJÓ E ASSIS, 2004; GALLO E WILLIANS, 2005; SANTOS & OLIVEIRA, 2005; COSTA & ASSIS, 2006; SANTOS, 2007; ZANE, 2010; NUNESet al 2013). Costa e Assis (2006) apontam que as famílias de adolescentes em conflito com a lei tendem a possuir maiores fatores de risco e fragilidade extremada. Tais fatores são indicativos de que a família deve ser também considerada nas propostas de intervenção. A família pode atuar como promotora de adoecimento ou promotora de saúde. Sendo assim, o fator qualidade das relações familiares deve ser considerado também, podendo estar associado como fator de risco ou fator de proteção. Os processos de identificação do adolescente partem de movimentos psíquicos existentes nas relações pais e filhos, família e sociedade. Existe a incorporação de por parte dos adolescentes dos valores advindos dessas relações, que são desenvolvidos e transformados numa busca por sua própria identidade. Esses movimentos de busca pela identidade acabam por ocorrer dentro daquilo que é imposto socialmente pela cultura vigente em determinado momento, que serão facilitadores ou irão dificultar a expressão, serão auxiliares em comportamentos de construir ou destruir dentro das relações e na interação com meio social (LEVISKY, 2000). Quando questionados, a família é apontada pelos adolescentes como responsável por garantir seus direitos e bem-estar, logo depois eles consideram como responsáveis e escola, instituições religiosas, a comunidade, o governo, polícia e categorias políticas. As relações familiares são consideradas fontes de alegria, mas em situações de conflito são consideradas.

(27) 27. motivo de infelicidade (SILVA & GUERESI, 2003). A exposição de crianças e adolescentes a violência, pobreza e criminalidade evidenciam a necessidade de suporte não só de forma direta a esses indivíduos, mas também a suas famílias e/ou tutores. Estudos apontam que em ambientes familiares no qual ocorrem situações de violência, uso de drogas, familiares com antecedentes criminais, fatores econômicos, adoecimentos e a exclusão social podem estar associados a comportamentos transgressores dos adolescentes como o ato infracional (SILVA E GUERESII, 2003: FEIJÓ E ASSIS, 2004: COSTA E ASSIS, 2006,) Costa (2011), após estudo com adolescentes de três escolas em Lisboa com características socioeconômicas distintas, concluiu que o comportamento dos pais influência no comportamento dos adolescentes, assim como o nível socioeconômico também influência no estilo parental. No estudo, destaca-se que famílias inseridas em nível socioeconômico e contexto social favorável tendem a apresentar questões educacionais e socialização dos filhos de forma também favorável, o que esse estudo aponta é que as relações familiares podem ser influenciadas pela qualidade de vida que as famílias têm à disposição através do meio social e que o nível socioeconômico pode ofertar de acesso. Estudo com 30 adolescentes em cumprimento de MSE e suas famílias identificou que os laços entre mães e filhos eram citados como positivos, com carinho, afeto e como fonte de suporte. Modelos parentais que transmitiam limites, regras e orientações eram descritas na relação entre mães e filhos. Porém, existia também a presença de violências verbais e físicas como modelo de comportamento parental (ZANE, 2010). A percepção de afetividade dentro do ambiente familiar então também seria um indicativo a acrescentar na percepção de qualidade de vida dos indivíduos. Relações entre pais e filhos que apresentem características positivas surgem como influências também positivas na percepção de qualidade de vida, aceitação pelo grupo de pares e afetividade, desempenho escolar e prática de atividades físicas (ROCHA, 2012). A qualidade dos vínculos entre os adolescentes e seus familiares torna-se relevante assim como: o ambiente familiar no qual se desenvolve o adolescente, o nível socioeconômico, os comportamentos e hábitos desenvolvidos dentro desse grupo familiar. Segundo Rocha (2012), a qualidade dos vínculos familiares estaria presente como reflexo então da percepção de qualidade de vida dos adolescentes e seus familiares. Os trabalhos dos equipamentos de execução de MSE em meio aberto devem considerar as famílias e os vínculos estabelecidos. Contudo constata-se que existe uma deficiência na Rede.

(28) 28. de Serviços Socioassistenciais que devem prestar os serviços e acompanhamentos às famílias nas áreas de saúde, assistência social, habitação e inserção no mercado de trabalho e profissionalização. A medida socioeducativa em meio aberto em seu cumprimento estabelece objetivos pedagógicos voltados para o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários. Dessa maneira o envolvimento da família junto à construção e desenvolvimento de projetos socioeducativos se faz necessário, mas também se faz necessário o suporte por parte dos equipamentos públicos a essas famílias para que ocorra a participação (LIBERATI & FERREIRA, 2006). A construção da socioeducação deve considerar a família do adolescente para que essa também seja mobilizada para repensar a forma como estabelece suas relações. Como elas exercem influência no grupo familiar e social, a percepção de qualidade dessas relações e a potencialidade para mudanças.. 1.3 O adolescente em cumprimento de MSE em Meio Aberto e os espaços sociais. Os adolescentes em cumprimento de medidas socioeducativas têm como traço a vivência de não serem inseridos na participação social de forma plena, acabam por estar fora de espaços de convivência. Com a determinação do cumprimento da medida em meio aberto o adolescente passa a ser acompanhado e atendido na compreensão psicossocial para que então possa refletir sobre seu ato infracional e também se responsabilizar por ele. Esse processo objetiva a superação e rompimento do comportamento infracional. O acompanhamento dos adolescentes dentro de cumprimento em meio aberto tem a intenção de inserção nos espaços de educação, cultura, lazer e comunitários, espaços esses aos quais os adolescentes encontravam-se a margem e/ou não inserido (ZANE, 2010) O adolescente que cumpre a media em meio aberto o faz em seu munícipio de origem, pois é lá que as redes de atendimento deverão servir suporte à ação socioeducativa, utilizando então as estruturas locais, com maior proximidade aos hábitos e recursos familiares ao adolescente. Dessa maneira exige-se um compromisso do Municipio em atuar em rede com seus equipamentos públicos junto a execução da medida, mas também atuar na quebra dos paradigmas e da marginalização desses adolescentes. O fato do adolescente cometer o ato infracional evidencia o fracasso de instituições sociais como família, escola,.

(29) 29. comunidade e programas de atendimento e proteção a infância e adolescência, portanto, é na integração dessas instituições com qualidade de serviços que se intervem junto aos adolescentes (LIBERATI & FERREIRA, 2006). A medida em meio aberto então tem como proposta uma atuação sócio-assistencial junto a adolescentes em conflito com a lei, ou seja, atuar de forma interligar ações socioeducativas junto aos ambientes, pessoas e equipamentos públicos nos quais esse adolescente deva participar. A afirmação da Medida Socioeducativa aos adolescentes é da necessidade de educação e inserção social a eles, entendendo a fase de desenvolvimento e a privação social como pontos de intervenção (ALVES, 2010). Os equipamentos de saúde, da assistência e unidades escolares dentro do município tornam-se protagonistas na atuação junto ao adolescente no projeto socioeducativo da mediada de Liberdade Assistida, pois esses espaços são entendidos como “ambientes protetivos”, pois atuam pela Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente (BRASIL, 2006).. 1.3.1. O CREAS como ambiente protetivo. O programa de execução de medidas em meio aberto, caracterizado pelo serviço do CREAS, não deve ter a intenção de concentrar todas as ações de socioeducação junto ao adolescente, mas sim atuar como referência, viabilizador à inserção do adolescente nos diferentes equipamentos educacionais, como saúde, escola, lazer, esportes e profissionalização. É, então, função do equipamento e sua equipe desenvolver junto ao adolescente a inserção social, viabilizar os espaços de convivência aos quais antes o mesmo não transitava ou fazia o trânsito à margem. O papel do programa é despertar no adolescente e na comunidade o que por direito como cidadão que o adolescente é (TEIXEIRA, 2006). O ECA determina a garantia aos adolescentes em conflito com a lei, inserção escolar em qualquer período do ano letivo, a inclusão para tratamento e acompanhamento em equipamentos de saúde, a integração em cursos profissionalizantes, de esporte e lazer. Entendendo a situação de fragilidade dos vínculos sociais e muitas vezes familiares, fica como função dos equipamentos da Assistência Social, por intermédio do Centro de Referência Especializado da Assistência Social (CREAS), por meio da equipe executora.

(30) 30. das medidas, intermediar o acesso dos adolescentes aos espaços necessários para a efetivação da socioeducação. Assim, como mediador, o CREAS entra como espaço protetivo inicial para a construção junto ao adolescente do planejamento socioeducativo. A equipe executora das MSE em meio aberto, atua no acolhimento inicial dos adolescentes e suas famílias após determinação da media pelo Judiciário. Por vezes, são compreendidas pelos adolescentes como uma extensão fiscalizadora da Lei. Não cabe à equipe fiscalizar o cumprimento por parte do adolescente, mas sim perceber esse adolescente além do ato infracional, trabalhar para o fortalecimento de vínculos, inserção social. Ou seja, é papel da equipe auxiliar esse adolescente e sua família a desenvolver dentro das suas relações sociais novas possibilidades de ser (BRASIL, 2006). Estudos que consideraram a percepção dos técnicos responsáveis pela execução das MSE em meio aberto evidenciaram que existem diversos percalços para a atuação do profissional junto execução das MSE. Tais como: o número insuficiente de profissional que compõe a equipe e acarreta a sobrecarga de atendimentos; a falta de profissionalização ou continuidade da formação dos profissionais para atuação; a falta de estrutura para o desenvolvimento do trabalho junto aos adolescentes; os preconceito e estigma sociais para com o adolescente que por vezes parte dos próprios técnicos, assim como daqueles que compõem a comunidade na qual o adolescente está inserido; a dificuldade na garantia de acesso a escolarização, serviços de saúde e profissionalização. Ou seja, apesar da preconização por leis aquilo que é estabelecido ainda não encontra vias de ser concretizado na prática (SOUZA, 2012; DIAS, 2012) Na pesquisa de Dias (2012) junto aos profissionais executores de MSE, as questões de formação e continuidade de formação foram tidas como problemáticas na execução do trabalho, compreender como executar e desenvolver a socioeducação junto aos adolescentes e suas famílias é o princípio do trabalho e justamente é esse que se encontra deficitário na percepção dos próprios profissionais. Como esse profissional pode implicar e estabelecer uma relação, de qualidade junto ao adolescente que apresenta a mesma demanda? Questões como a adesão dos adolescentes aos encaminhamentos e adesão dos equipamentos de saúde, educação, esporte, lazer e profissionalização aos adolescentes são descritas pelos técnicos de execução como inviabilizadores da concretização das propostas socioeducativas (BRASIL, 2017)..

(31) 31. A potencialidade da socioeducação encontra-se limitada então pela dificuldade em se estabelecer relações de qualidade entre os adolescentes e os serviços. Atualmente, cabe ao equipamento CREAS executar o acompanhamento de adolescentes em conflito com a lei fazendo então a mediação para a inserção do adolescente em demais espaços protetivos, contudo o equipamento ainda é visto como centralizador e os demais espaços como coadjuvantes e não atores ativos no processo de socioeducação. O gráfico que segue explicita essa situação junto a execução de medidas socioeducativas em meio aberto.. FIGURA 2 GRÁFICO COM O COMPARATIVO ENTRE 2013 E 2014 QUANTO AO LÓCUS INSTITUCIONAL DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO. FONTE: SINASE 2014.. 1.3.2 A escola como ambiente protetivo. A escola desde a inserção inicial é tida como um ambiente protetivo e de aquisição de conhecimentos para a socialização. No cumprimento da Liberdade Assistida assim como as demais medidas em meio aberto, a inserção do adolescente no ambiente escolar é obrigatória, parte do projeto socioeducativo. É obrigação da unidade escolar efetuar a matrícula e é determinado ao adolescente a frequência escolar (BRASIL, 1998). Educar os adolescentes em conflito com a lei para convivência social é um dos norteadores das medidas socioeducativas, torná-los aptos para o exercício da cidadania, na qual lhes cabe a inserção social através da escolarização por direito (COSTA, 2004). As dificuldades de aprendizagem, a baixa escolaridade e o abandono escolar são tidos como fatores de risco na trajetória de vida desses adolescentes (SENTO-SE, 2003: FEIJÓ & ASSIS, 2004; GALLO & WILLIANS, 2005; JOSÉ, 2009; ALVES, 2010; ZANE,.

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