BIOGRAFANDO NELSE SILVA: ENTRE A EDUCAÇÃO E SUA POÉTICA CÉLIA DE JESUS SILVA MAGALHÃES
Universidade Regional do Cariri – URCA. E-mail: celiamagalhaesmv@yahoo.com.br
VERANDIR DE ARAÚJO SOBRAL
E.E.F.Sebastião Pedro de Araújo. E-mail: vd.sobral@bol.com.br
MARIA AUXILIADORA SILVA VIEIRA
CEMEC- Centro de Formação Odilon Nunes Introdução
O presente trabalho traz o perfil biográfico da professora Maria Nelse Silva, que se destacou na educação missãovelhense e da região do Cariri cearense, nas décadas de 1950 a 1980. Podemos citar o Educandário Nossa Senhora de Fátima, Grupo Escolar Pedro Rocha, Ginásio Paroquial, Escola Normal Paroquial (Missão Velha) e a Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte.
Foi fundadora, diretora e professora do Educandário Nossa Senhora Instituição que por 20 anos (até 1972), funcionou como referência educacional (da Educação infantil ao “exame de Admis-são”). Fazemos uma ligação entre sua dedicação à educação e a po-ética na sua obra “Revoada de pássaros”, de modo a dinamizar vida e obra da biografada.
Na década de 1960, o Ginásio Paroquial e a Escola Normal Paroquial, instaladas em um mesmo prédio, em Missão Velha, onde funcionou o Juvenato São José “Colégio Marista,” passam a ser o lo-cal de trabalho para o exercício de docência da professora Nelse Silva. O seu fundador Monsenhor Antonio Feitosa, foi um grande benfeitor da educação, juntamente com outros educadores. Foi pro-fessora atuante no Grupo Escolar Pedro Rocha, antes de ingressar no Ginásio Paroquial.1
1 O Grupo Escolar Pedro Rocha foi fundado no ano de 1940 e o Ginásio Paroquial e a
A importância desse trabalho explica-se pelo fato de ainda existir uma lacuna com relação ao estudo da história de professores e/ ou professoras (biografias), que tiveram suas vidas dedicadas à educação, como uma missão principal de suas existências.
Até a década de 1960, só era ofertado nos Grupos Escolares Municipais e do Estado até o Ensino Primário, partindo da neces-sidade de continuidade de estudos dos jovens, Monsenhor Antonio Feitosa (pároco local nos anos de 1960), cria o Ginásio Paroquial e a Escola Normal, com as séries terminais do ginasial e o curso Normal para a formação de professores primários. É nesse contexto que a professora biografada entra em cena na referida cidade e des-taca-se por muito tempo como a melhor professora de português do lugar e da região do Cariri cearense, pois foi docente também no Grupo Rural Modelo, anexo à Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, onde estudou.
Nelse Silva e o seu legado à educação
Biografar educadoras como a professora Nelse Silva, que vi-veu numa época em que ensinar conteúdos escolares, ia muito além dessa transmissão conteudística do conhecimento, nos faz mergu-lhar num mar de boas lembranças, pois o ensinar confundia-se com educar e “preparar para a vida”, mesmo em tempos em que o país vivia momentos de crises políticas, na década de 1960.
A professora biografada nasceu na cidade de Barbalha-Ce, no ano de 1919, concluiu o Curso Normal em 1938 na Escola Normal Rural de Juazeiro do Norte, foi colega de sala da professora e artis-ta plástica Assunção Gonçalves. Nelse foi a oradora de sua turma na Escola Normal Rural, por se destacar como uma das melhores. Em 1963, concluiu o Ensino Superior (Licenciatura em Português), na Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza-CE. Filha de Jo-aquim Pedro da Silva (agricultor) e de Hermínia Silva Lima (profes-sora), a primogênita do casal, de um total de oito irmãos.
O seu livro “Revoada de pássaros”, traz uma seleção de poe-mas, que retratam um pouco de sua vida, demonstrando o domínio que tinha ao escrever. O que diria a professora Nelse sobre a vida?
A primavera passa rápida/ com luzes e cores./ Vão em-bora os belos sonhos,/ os dias róseos, risonhos/ da linda quadra primaveril. Vem depois o cálido verão/ com seus arroubos e ardores./ Segue-se, após, o outono, sem mais a beleza das flores. Enfim chegam as tardes tristonhas, sem calor, sempre vazias, do inverno de noites frias,/ deixando na alma humana/ uma vontade tamanha/ de a primave-ra voltar/ e nunca mais se acabar./ Porém o tempo im-placável/ traz o inverno inexorável/ branqueando a copa da árvore/ Outrora verde, florida/ de nossa vida (SILVA, 1999,p.107).
A autora interpreta a vida, comparando com as estações do ano, colocando a primavera como a estação mais linda, assim como a juventude. Na obra da autora ela traz um poema dedicado a Mis-são Velha, enaltecendo a terra, ao mesmo em que apresenta um apelo aos missãovelhenses:
Missão Velha é conhecida/ Como a porta de entrada/ Do Vale do Cariri/ É a cidade querida/ Dos que nasceram aqui. Foi também porta de entrada/ Da evangelização/ Dos que tinham sua morada/ Como os índios Cariris/ Nesta vasta região./ Foi aqui iniciada/ Logo a primeira missão/ Pelos padres Capuchinhos/ Vindos lá de Pernambuco/ O Estado nosso vizinho.[...] É preciso que os filhos/Deste extenso rin-cão/ Arranquem os velhos trilhos/ E façam de Missão Ve-lha/ Uma grande e nova missão (IDEM, 1999,p.45).
Assim, entre a poética e sua atuação como professora, a bio-grafada deixou um enorme legado à educação de Missão Velha. Mui-tos profissionais, pesquisadores, mestres, doutores e autoridades espalhados pelo Brasil e por outros países, passaram pelas mãos dessa exímia professora de português.
Vamos ter em Lobato (2011), Almeida (2010), Vicentini; Lu-gli (2009), Mignot (2003), Machado (2006), dentre outros pesqui-sadores, estudos sobre biografias e autobiografias de educadoras, em que ressaltam-se o valor deste campo de pesquisa para a confi-guração de uma história da educação, que traga como principal re-ferência seus próprios sujeitos, os representantes legítimos de todo processo de criação e mudança no ensino e educação do país.
Destacamos aqui o papel da mulher na região do Cariri cea-rense com uma participação extraordinária na esfera educacional, em todos os níveis de escolaridade, a partir da criação das Escolas Normais e das Universidades. Mesmo num período de muita turbu-lência, devido o controle e perseguição política na Ditadura Militar, (1964-1983), a mulher conseguiu realizar um importante trabalho, aceitando por vezes, imposições e um comportamento de silêncio, a educação tradicional, que por muitos anos predominou na educa-ção brasileira.
Na certeza de que, este estudo abre possibilidades para ou-tras pesquisas, colocando em evidência a história de vida de profes-soras, já que há vários anos, (antes mesmo de a biografada falecer, em 2011), fazíamos um trabalho de coleta de material como: do-cumentos, fotos e informações de professoras para esta finalidade, sentimos realizado um sonho de pesquisadoras e da própria comu-nidade educacional do lugar.
Referências bibliográficas
ALMEIDA, Gildênia Moura de Araújo. Mulher e Educação. In: VASCON-CELOS, José Gerardo; SANTANA José Rogério; et. al. (Org.). História da Educação: nas trilhas da pesquisa. Fortaleza: Edições UFC, 2010. GATTI, Bernadete Angelina. A Construção da pesquisa em Educa-ção no Brasil. Brasília: Liber Livro Editora, 2007.
MACHADO, Charlinton José dos Santos. Mulher e Educação: histó-ria, práticas e representações: João Pessoa, 2006.
MAGALHÃES, Célia de Jesus Silva. Fatos e Curiosidades: Missão Velha. Fortaleza: UFC, 2001.
MIGNOT, Ana Chrystina Venâncio. Em busca do tempo vivido: au-tobiografias de professores. In: MIGNOT, Ana Chrystina Venâncio & CUNHA, Maria Tereza Santos (Org.). Práticas de Memória docen-te. São Paulo: Cortez, 2003.
SILVA, Maria Nelse. Revoada de pássaros. Fortaleza, ABC FORTA-LEZA, 1999.
THOMPSON, Paul. A voz do passado: História Oral. Tradução Ló-lion Lourenço de Oliveira. Rio de Janeiro: Paz e Teraa, 1998. Pesquisa documental e fotos: Acervo da autora e acervo da família de Nelse Silva.