• Nenhum resultado encontrado

Condição de saúde oral em crianças com microcefalia por infecção pelo Zika vírus: estudo transversal observacional

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Condição de saúde oral em crianças com microcefalia por infecção pelo Zika vírus: estudo transversal observacional"

Copied!
15
0
0

Texto

(1)

JANAINA GOMES DE PAIVA AMORIM

CONDIÇÃO DE SAÚDE ORAL EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR

INFECÇÃO PELO ZIKA VÍRUS: ESTUDO TRANSVERSAL OBSERVACIONAL

SANTA CRUZ/RN

2018

(2)

JANAINA

GOMES

DE

PAIVA

AMORIM

CONDIÇÃO DE SAÚDE ORAL EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR

INFECÇÃO PELO ZIKA VÍRUS: ESTUDO TRANSVERSAL OBSERVACIONAL

Artigo

apresentado

ao

Programa

de

Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Faculdade

de Ciências da Saúde do Trairi da Universidade

Federal do Rio Grande do Norte, como requisito

para a obtenção do título de Mestre em Saúde

Coletiva.

Orientador: Prof. Dr. Klayton Galante Souza

Santa Cruz/RN

2018

(3)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN

Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial da Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi -

FACISA

Amorim, Janaina Gomes de Paiva.

Condição de saúde oral em crianças com microcefalia por infecção pelo Zika vírus: estudo transversal observacional / Janaina Gomes de

Paiva Amorim. - 2018. 16f.: il.

Artigo (Mestrado em Saúde Coletiva) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Faculdade de Ciências da Saúde do Trairi, Programa

de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Santa Cruz, RN, 2018. Orientador: Klayton Galante Souza.

1. Microcefalia - Artigo. 2. Odontologia - Artigo. 3. Vigilância em Saúde - Artigo. 4. Síndrome congênita do Zika - Artigo. I. Souza,

Klayton Galante. II. Título.

RN/UF/FACISA CDU 159.946 Elaborado por José Gláucio Brito Tavares de Oliveira - CRB-15/321

(4)

Int. J. Environ. Res. Public Health 2018, 15, x FOR PEER REVIEW

Artigo

CONDIÇÃO DE SAÚDE ORAL EM CRIANÇAS COM MICROCEFALIA POR

INFECÇÃO PELO ZIKA VÍRUS: ESTUDO TRANSVERSAL OBSERVACIONAL

Janaina Gomes de Paiva Amorim1*, Isabelita Duarte Azevedo2 Denise Hélen Imaculada Pereira de Oliveira3,

Klayton Galante Sousa4

1. Master student of the Graduate Course in Colective Health at Trairi College of Health Sciences, Federal

University of Rio Grande do Norte, 59200-000 Santa Cruz RN, Brazil, janainamorim@hotmail.com

2. Dentistry Department, Federal University of Rio Grande do Norte, 59057-000 Natal RN, Brazil, isabelitaduarte@hotmail.com

3. Dentistry Department, Federal University of Ceará, 62010-560 Sobral CE, Brazil, denisehelen2011@hotmail.com

4 Trairi College of Health Sciences, Federal University of Rio Grande do Norte, 59200-000 Santa Cruz RN, Brazil, ftklayton@hotmail.com

* Correspondence: janainamorim@hotmail.com; Tel.: +55 084 999300348

Received: date; Accepted: date; Published: date

Resumo: Microcefalia é definida como anomalia de desenvolvimento caracterizada pela diminuição

do perímetro cefálico, com alterações anátomo-funcionais, de etiologia complexa e multifatorial. Evidências científicas apontam a possível associação entre o surto de microcefalia em recém-nascidos com a infecção pelo Zika vírus (ZIKV). Metodologia: o presente estudo é de caráter transversal, observacional, com o objetivo de avaliar estruturas orais em crianças com diagnóstico de microcefalia por infecção congênita pelo ZIKV. Foram realizados exames clínicos odontológicos em dois grupos, um composto por oito crianças com microcefalia pela infecção pelo ZIKV e outro com vinte e quatro crianças que não apresentam infecções congênitas, todas residentes na V Região de Saúde do Rio Grande do Norte. Os dados clínicos e sócio econômicos foram anotados em fichas padronizadas e tratados por testes estatísticos não paramétricos a partir da Odds ratio na análise bivariada no Teste Exato de Fisher. Resultados: As crianças do grupo 1 apresentaram menor perímetro cefálico, maior frequência de respiração tipo mista, bruxismo e tiveram experiências odontológicas anteriores quando comparadas ao grupo 2. Conclusão: Os achados apresentam características odontológicas e sócio econômicas que reforçam a necessidade de planejar e promover ações de saúde na rede de atenção à criança microcéfala por infecção pelo ZIKV.

(5)

1. Introdução

O vírus Zika (ZIKV) é um arbovírus do gênero Flavivirus e da família Flaviviridae. Foi descrito a primeira vez em 1947, após ter sido isolado em um macaco Rhesus numa floresta na Uganda [1,2]. Posteriormente uma endemia do ZIKV ocorreu na África e na Ásia, sendo notificados alguns registros. Em 2006 um novo surto surgiu, ocasionando a notificação de vários casos na Indonésia, Micronésia e Polinésia. Da Polinésia, o ZIKV seguiu para a costa sul do Pacífico e para a América Central [3].

Em 2015, no Brasil, vários casos de recém-nascidos com o quadro de microcefalia foram notificados. Investigações associaram uma estreita relação entre mulheres gestantes que desenvolveram a doença pelo ZIKV e o nascimento de seus bebês com microcefalia. Esta evidência vem sendo apontada pela identificação de imunoglobulinas do ZIKV encontradas no líquido cefalorraquidiano de bebês [4].

Nesse período, os casos de microcefalia aumentaram dez vezes no Brasil, [5]. Vinte e dois estados confirmaram outros casos de infecção pelo ZIKV em 2016 [6].

O Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (CIEVS) da Secretaria de Estado da Saúde Pública (SESAP) do Estado do Rio Grande do Norte (RN) divulgou boletim (até a semana 13/2018) com as informações atualizadas sobre a situação epidemiológica da microcefalia e outras malformações. No RN, foram notificados 522 casos suspeitos de microcefalia relacionados às infecções congênitas. [7].

Estudar os danos causados em crianças pela infecção congênita pelo ZIKV em crianças é uma preocupação internacional. Identificar possíveis alterações na cavidade oral destes indivíduos configura-se como uma área de interesse para a família, profissionais da Odontologia e para a ciência de forma geral. Entender em qual contexto social ela vive, suas relações familiares e as implicações que a microcefalia traz à sua vida são interesses da ciência.

As crianças com microcefalia necessitam de cuidados contínuos e a sua gravidade é variável. Há crianças que são dependentes para comer, se mover e fazer suas necessidades fisiológicas. As complicações aumentam quando existem outras síndromes associadas além da microcefalia [8].

O objetivo deste trabalho é investigar a cavidade oral de crianças com microcefalia por ZIKV.

2. Materiais e método

Trata-se de estudo transversal, observacional, que por meio de um instrumento estruturado analisou a condição de saúde bucal e os achados intra orais das crianças com microcefalia por ZIKV. O período de recrutamento ocorreu a partir da aprovação do Projeto de Pesquisa pelo CEP-FACISA/UFRN, através do Parecer nº 2.171.728.

A pesquisa foi realizada no território da V Região de Saúde do RN em crianças residentes nos municípios de Japi, Santa Cruz, Santa Maria, Tangará, São José do Campestre, Lajes Pintadas, Bom Jesus, Jaçanã e Boa Saúde.

Os participantes foram divididos em dois grupos, compreendendo o grupo de oito crianças com microcefalia por ZIKV (grupo 1) e o grupo de crianças sem microcefalia por ZIKV (grupo 2), composto por vinte e quatro crianças.

A amostragem da pesquisa foi do tipo conveniência, limitando o número de participantes do grupo 1, o esforço para minimizar o viés de seleção de participantes foi a busca ativa dos casos confirmados em todos serviços públicos de saúde e serviços de referência do território da pesquisa.

(6)

Nesta região de saúde residiam dez crianças com microcefalia, segundo dados do sistema de informação da Secretaria Estadual de Saúde. No início do Projeto de Pesquisa (setembro/2017), uma criança veio à óbito e outra mudou-se para outra região do estado, sendo excluídas da amostra do grupo 1.

A amostra do grupo 2 também foi do tipo conveniência, composta por crianças sem diagnóstico de microcefalia e que as mães não tiveram nenhuma infecção do grupo TORCHS (toxoplasmose, rubéola, citomegalovírus, herpes simples e sífilis) assim como pelo ZIKV, durante a gestação. Os indivíduos deveriam residir na zona urbana do município de Santa Cruz. Para identificá-los, dados sobre data de nascimento, endereço, sexo, raça e contato telefônico da genitora foram coletados nos prontuários do setor Arquivo do Hospital Universitário Ana Bezerra (HUAB).

Do total de oito crianças do grupo 1, três nasceram em setembro/2015, uma nasceu em outubro/2015, três crianças nasceram em dezembro/2015 e uma nasceu em janeiro de 2016.

Foram analisados 220 prontuários de mulheres sem infecção pelo ZIKV ou qualquer outra infecção, que tiveram nascimento de seus filhos entre os meses setembro, outubro e dezembro de 2015 e janeiro de 2016, no intuito de identificar os possíveis participantes para o pareamento com os indivíduos do grupo 1.

Do número total dos prontuários, foram selecionados vinte e quatro que contemplavam os critérios de inclusão para a pesquisa (figura 1).

Fig. 1 – Fluxograma dos participantes da pesquisa

Grupo 1 Grupo 2

RN (n = 150 casos confirmados) Prontuários avaliados de referência da 5 ª Região de Saúde do RN(n = 220)

Excluídos (n = 2)

* Óbitos (n = 1)

* Mudança de endereço (n = 1)

Excluídos (n = 196)

* Dados cadastrais incorretos (n = 25) * Não residente em Santa Cruz, RN (n = 88) * Não pareado pelo sexo/idade(n = 33) * Criança enferma (n = 17) * Mudança de endereço (n = 33) Amostra (n = 8) Amostra (n = 24) Meninos (n=4) Meninas (n=4) Meninos (n=12) Meninas (n=12)

(7)

Fonte: dados da pesquisa

Foram excluídas da amostra total, crianças que apresentaram doenças neurológicas e que os pais não consentiram a participação no projeto de pesquisa.

Após a randomização, contatos telefônicos foram realizados com os responsáveis pelas crianças dos dois grupos para o agendamento da visita domiciliar e convite para participar da pesquisa a partir da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Os exames clínicos foram realizados no Ambulatório de Odontologia do HUAB.

Foi realizado o pareamento dos grupos (sendo uma criança do grupo 1 para três crianças do grupo 2) de acordo com os critérios sexo e mês e ano de nascimento.

O exame odontológico e aplicação do questionário foi realizado no Ambulatório de Odontologia do HUAB, respeitando os princípios do exame clínico e da ética. O examinador utilizou equipamento de proteção individual e jaleco. Para o exame odontológico, foram utilizados espelhos bucais planos e sonda periodontal preconizada pela OMS.

As variáveis investigadas no estudo foram divididas em quatro categorias a saber: variáveis de nascimento da criança (naturalidade, data de nascimento, sexo, nacionalidade, cidade, raça; dados clínicos como idade gestacional, peso ao nascimento, perímetro cefálico ao nascimento, índice de Apgar), variáveis de saúde da mãe (questões relacionados ao estado de saúde materno-infantil pré, peri e pós natal e fatores ambientais), variáveis odontológicas (avaliação clínica da cavidade oral da criança; como as experiências odontológicas do binômio mãe-criança) e variáveis sócio econômicas (inquérito sócio demográfico e econômico da família).

Na análise dos dados foi utilizado o programa estatístico SPSS versão 20.0 para Windows. Foram realizadas análises bivariadas disponibilizadas pelo programa a partir do teste Exato de Fisher, utilizando nível de significância 5% e poder de confiabilidade 95%.

3. Resultados

Os resultados do estudo são descritos a partir da Tabela 1, onde nota-se a distribuição da população para crianças e mães.

Características das crianças (n = 32)

Sexo Masculino = 50%

Feminino = 50%

Idade (meses) Média = 39,0 ± 2,8

Peso (kg) Masculino = 3,227 ± 0,456

Feminino = 2,823 ± 0,760

Score Z -0,3365 ± 1,655

1´ Apgar 8,6 ± 0,9

5´ Apgar 9,2 ± 0,6

(8)

Não = 12,50% Grupo 2 Sim = 100,00% Não = 0,00% Aleitamento materno Grupo 1 Sim = 87,50% Não = 12,50% Grupo 2 Sim = 100,00% Não = 0,00%

Está em tratamento médico

Grupo 1 Sim = 87,50%

Não = 12,50%

Grupo 2 Sim = 16,67%

Não = 83,33%

Está usando algum medicamento?

Grupo 1 Sim = 50,00% Não = 50,00% Grupo 2 Sim = 20,83% Não = 79,17% Alergia Grupo 1 Sim = 37,50% Não = 62,50% Grupo 2 Sim = 12,50% Não = 87,50% Hospitalização Grupo 1 Sim = 25,00% Não = 75,00% Grupo 2 Sim = 0,00% Não = 100,00% Cirurgia Grupo 1 Sim = 25,00% Não = 75,00% Grupo 2 Sim = 4,17% Não = 95,83%

A criança já foi ao dentista antes

Grupo 1 Sim = 87,50%

Não = 12,50%

Grupo 2 Sim = 16,67%

Não = 83,33% Características das mães

(n = 32) Problema na gestação Grupo 1 Sim = 25,00% Não = 75,00% Grupo 2 Sim = 29,17% Não = 70,83%

Medo de ir ao dentista Grupo 1

Sim = 25,00% Não = 75,00%

(9)

Não = 58,33%

Cuida bem dos dentes

Grupo 1 Sim = 50,00%

Não = 50,00%

Grupo 2 Sim = 62,50%

Não = 37,50%

Renda Familiar

Grupo 1 Até 1 salário mínimo = 62,50% Acima de 1 salário mínimo = 37,50%

Grupo 2 Até 1 salário mínimo = 87,50% Acima de 1 salário mínimo = 12,50%

Acesso à informação digital

Grupo 1 Sim = 62,50% Não = 37,50% Grupo 2 Sim = 70,83% Não = 29,17% Saneamento básico Grupo 1 Sim = 25,00% Não = 75,00% Grupo 2 Sim = 66,67% Não = 33,33% Coleta de lixo Grupo 1 Sim = 100,00% Não = 0,00% Grupo 2 Sim = 91,67% Não = 8,33% Escolaridade Grupo 1

Ensino Fundamental Incompleto = 25,00% Ensino Fundamental Completo = 25,00%

Ensino Médio Incompleto = 12,50% Ensino Médio Completo = 25,00% Ensino Superior Incompleto = 0,00%

Ensino Superior Completo = 0,00% Pós-graduação = 12,50%

Grupo 2

Ensino Fundamental Incompleto = 25,00% Ensino Fundamental Completo = 0,00%

Ensino Médio Incompleto = 29,17% Ensino Médio Completo = 37,50% Ensino Superior Incompleto = 4,17%

Ensino Superior Completo = 4,17% Pós-graduação = 0,00%

A tabela 2 apresenta a correlação da infecção pelo ZIKV com variáveis de nascimento. Nota-se que o p-valor foi significativo para a variável perímetro cefálico. Portanto, crianças do grupo 1 apresentam menor perímetro cefálico quando comparadas ao grupo 2.

(10)

Tabela 2: Teste Exato de Fischer para variáveis do nascimento correlacionadas com a infecção por ZIKV

Variável

Teste Exato de Fisher

(p-valor)

Raça

Branca

0,703

Parda

Perímetro cefálico

< 32

0,002*

≥ 32

Tipo de Parto

Cesárea

0,101

Natural

Problemas na gravidez

Sim

1,000

Não

Problemas no nascimento

Sim

0,085

Não

Legenda: * Variável com correlação significante (p-valor < 0,05). Fonte dados da pesquisa

A tabela 3 reúne as prevalências e diferenças entre os dois grupos para as variáveis odontológicas correlacionadas com infecção pelo ZIKV.

O p-valor foi estatisticamente significativo para as variáveis: a criança já foi ao dentista, bruxismo e tipo de respiração. Portanto, crianças do grupo 1 apresentam tipo de respiração mista, desenvolveram mais bruxismo e já foram à consulta odontológica anterior a entrevista quando comparadas às crianças do grupo 2.

Tabela 3. Prevalência para variáveis odontológicas correlacionadas com a infecção por ZIKV: diferenças entre grupos Variável Grupo 1 n = 8 Grupo 2 n = 24 Teste Exato de Fisher (p-valor)

Criança já foi ao dentista

Sim 87,5% 16,66% 0,001 * Não 12,5% 79,16% Sucção da chupeta Sim 37,5% 37,5% 1,000 Não 62,5% 62.5% Sucção do dedo Sim 12,5% 8,33% 1,000 Não 87,5% 91,67% Bruxismo Sim 50% 0 0,002 * Não 50% 100% Achados intra-orais patológicos Sim 25% 16,66% 0,010 Não 75% 79,16% Microdente Sim 12,5% 4,16% 0,444

(11)

Não 87,5% 95,8% Hipoplasia Sim 12,5% 0 0,250 Não 87,5% 100% Tipo de respiração Mista 87,5% 20,83% 0,002 * Nasal 12,5% 79,17%

Legenda: * Diferença estatisticamente significativa (p-valor < 0,05) Fonte: dados da pesquisa

4. Discussão

Uma grande dificuldade no tratamento odontológico em pacientes com necessidades de cuidados especiais é o manejo do comportamento infantil durante o atendimento [9]. Tal situação implica que o cirurgião-dentista tenha preparo e destreza para conduzir o atendimento.

Um estudo quantitativo do tipo caso-controle foi realizado para comparar a saúde bucal de crianças com Paralisia Cerebral (PC) com a dos controles saudáveis em Dubai. O estudo consistiu em uma amostra de indivíduos na faixa etária de 4 a 18 anos [10]. Entre os resultados do estudo, os autores identificaram que crianças com PC apresentaram menor índice de necessidade de tratamento odontológico que as crianças do grupo controle. Tal achado diverge com os resultados do nosso estudo, quando crianças microcéfalas apresentaram pelo menos um achado intraoral patológico, enquanto que as crianças do grupo 2, aproximadamente 50% apresentaram pelo menos um achado intra oral patológico.

No nosso estudo, os achados intraorais patológicos encontrados nos dois grupos foram palato ogival, língua saburrosa, lesão cariosa, úlcera aftosa, edema no palato mole, mancha branca ativa, bruxismo, manchamento por sulfato ferroso e microdente.

Estes resultados indicam a maior necessidade de serviços odontológicos para este grupo de pacientes e a expansão do acesso aos serviços de saúde na rede de assistência primária e especializada.

Estudos que analisam alterações no sistema estomatognático ainda são incipientes, não havendo, na literatura odontológica, descrição de um protocolo que orienta o atendimento clínico ou estudos científicos que descrevam as alterações orofaciais e dentárias nessas crianças [11].

Crianças microcéfalas apresentam alteração do tônus muscular (hipotonia ou hipertonia), interferindo a sucção e deglutição, disfagia, respiração bucal, atraso na erupção da dentição decídua, alteração na sequência de erupção dentária e hipoplasia de esmalte [11].

Um estudo realizado em 2.500 estudantes com idades entre 12 e 15 anos, do distrito de Kollam, buscou conhecer a epidemiologia dos defeitos do esmalte, avaliando e monitorando os fatores ambientais ou sistêmicos para detectar possíveis fatores etiológicos responsáveis pela ocorrência dos defeitos do esmalte [12].

Os defeitos de desenvolvimento do esmalte são conceituados como a alteração do esmalte que pode afetar uma área pequena ou ampla de uma superfície ou todas as superfícies. Podem ser de natureza quantitativa, manifestando-se como uma deficiência em espessura ou de natureza qualitativa como opacidades de esmalte [12].

(12)

Os fatores nutricionais e as doenças sistêmicas foram os fatores de risco mais predominantes para o desenvolvimento dos defeitos de esmalte, sendo um problema clínico importante, uma vez que podem apresentar problemas estéticos, sensibilidade e atuar como fator predisponente para o desenvolvimento da doença cárie [12].

A cárie, sendo uma doença de caráter multifatorial, envolve fatores etiológicos, determinantes e modificadores [13]. O ambiente familiar possui grande influência na saúde da criança. A limpeza da cavidade bucal é um método eficaz no controle e na progressão da cárie [14] e a educação dos responsáveis é fundamental para assegurar a realização da higiene bucal [15].

O fator pré-natal mais prevalente associado a defeitos do esmalte foi doença sistêmica durante a gravidez (17,4%), seguido de mães que consumiram medicação durante a sua gravidez (10,1%) e mães grávidas com idade entre 15 anos e 20 anos (1,5%) [16].

Não houve diferença para as variáveis achados intra orais e condições dentária entre os grupos no nosso estudo. Assim, não é possível afirmar que as crianças microcéfalas apresentaram dentes com defeito de esmalte como a hipoplasia ou outras alterações quando comparadas às crianças do grupo 2. Apenas uma criança do grupo 1 apresentou hipoplasia de esmalte nos elementos dentários 51 e 61.

Inúmeros recém-nascidos com microcefalia passaram a desenvolver a "Síndrome Congênita do Zika" (SCZ), caracterizada pelo atraso grave no desenvolvimento, deficiência intelectual e visual e anormalidades musculoesqueléticas e epilepsia, após a epidemia em 2015 [17].

Crianças portadoras desta síndrome são vulneráveis a diversas condições de saúde como doenças respiratórias, desnutrição e úlceras de pressão, apresentando saúde precária [17], exclusão escolar [18] e exclusão social [19,20].

Faz-se necessário o esforço de promoção da saúde junto aos pais, melhorando seus conhecimentos e habilidades, minimizando desigualdades e incluindo crianças com microcefalia na sociedade [17].

Famílias que possuem criança com SCZ tem maior probabilidade de serem mais pobres, com dificuldades financeiras, podendo chegar a perder a renda porque ou a mãe ou pai acabam se afastando do trabalho para cuidar da criança [21]. Além disso, podem apresentar quadros de depressão [22]. Vinte e seis famílias (81,25% da amostra) do nosso estudo recebem apenas um salário mínimo por mês. As famílias passam a ter despesas com medicamentos, consultas médicas especializadas, alimentos nutritivos e transporte quando em seu núcleo familiar há indivíduo com algum tipo de deficiência.

O impacto do SCZ afeta toda a família. A chegada de uma criança com deficiência a uma família pode muitas vezes contribuir para o abandono do lar pelo pai e pelo descontentamento dos outros irmãos, já que menos atenção pode ser dedicada a eles [23]. Deve-se ainda considerar o abandono escolar dos pais com a chegada de uma criança com SCZ no núcleo familiar. Onze mães informaram que o chefe da família concluiu apenas o ensino médio (34,38%) enquanto apenas uma concluiu o ensino superior (3,12%).

Medidas para o combate ao mosquito vetor da Zika são realizadas, periodicamente, nos municípios brasileiros. Tais ações são apoiadas pelo MS e executadas pelas secretarias municipais de saúde. Muitas vezes, estes esforços são insuficientes para a eliminação do vetor. Os gestores investem de forma deficiente em problemas macros como infraestrutura pública, acesso à água encanada de boa qualidade e saneamento básico [23]. No nosso estudo, 43,75% da amostra não

(13)

possui saneamento básico em sua residência, refletindo um cenário propício à proliferação do mosquito.

Quanto à variável acesso à informação digital, os dois grupos não apresentaram diferença estatisticamente significante. Assim, ter acesso ou não à internet, ou seja, à informação digital não contribuiu para obtenção de medidas profiláticas contra a proliferação do mosquito e infecção pelo ZIKV.

Promover a saúde das crianças com SCZ é fundamental. Aos pais devem ser dirigidas orientações como abordar melhor os problemas de saúde existentes em seus filhos, evitar a ocorrência de problemas no futuro e maximizar o desenvolvimento do seu filho, através da estimulação precoce, por exemplo [17].

Parcerias entre profissionais pediátricos e profissionais de saúde pública são essenciais para garantir cuidados apropriados para aqueles que são afetados pela SCZ [24]. Atendimento e acompanhamento integrado e multiprofissional são importantes para garantir saúde na infância e no crescimento e desenvolvimento na fase adulta.

Crianças com microcefalia necessitam de cuidados de saúde ao longo da vida. É fundamental que o cirurgião-dentista esteja atento às necessidades educativas e preventivas desses pacientes, proporcionando às mães e cuidadores uma adequada orientação odontológica desde o primeiro mês de vida [11].

Há impactos sociais maiores que a epidemia da SCZ pode promover. Entre elas estão a preocupação das mulheres grávidas, a preocupação dos profissionais de saúde em lidar com uma nova condição, as consequências e os impactos econômicos para o sistema de saúde brasileiro [25].

Não há protocolos de atenção odontológica que avaliem as características dentárias dos pacientes acometidos com microcefalia. Os pacientes acometidos podem apresentar alterações craniofaciais típicas, como maloclusão, problemas periodontais, obstrução das vias aéreas, problemas de fonação e processos inflamatórios [26]. Por isso, fazem necessários mais estudos que abordem este tema.

No nosso estudo, o bruxismo foi uma condição presente em crianças do grupo 1. Metade das crianças com microcefalia apresenta bruxismo. Tal condição é uma atividade parafuncional na qual estão presentes o apertar ou ranger dos dentes em ações não funcionais do sistema estomatognático [27].

O cirurgião-dentista necessita conhecer o bebê com microcefalia, realizar consultas preventivas, instruir hábitos de higiene oral com envolvimento familiar para propor a melhor intervenção odontológica [28].

CONCLUSÃO

Crianças com microcefalia por ZIKV apresentam menor perímetro cefálico e desenvolvem mais bruxismo e respiração mista que crianças sem microcefalia. Estas condições trazem prejuízos à saúde bucal e a qualidade de vida.

Faz-se necessário que os profissionais da odontologia estejam preparados para o atendimento, tratamento e acompanhamento destes indivíduos na rede de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), em consonância com a equipe multiprofissional e especializada.

(14)

Mais estudos necessitam ser desenvolvidos com este grupo de indivíduos para a melhor compreensão dos agravos à saúde bucal e saúde geral.

Contribuições dos Autores: Conceituações, Janaina Amorim; Análise formal, Isabelita Duarte e Denise Oliveira; Metodologia, Janaina Amorim; Supervisão, Klayton Sousa; Redação - rascunho original, Janaina Amorim e Klayton Sousa; Redação - revisão e edição, Isabelita Duarte, Denise Oliveira e Klayton Sousa.

Financiamento: Esta pesquisa não recebeu financiamento externo.

Conflitos de Interesse: Os autores declaram não haver conflitos de interesse.

Referências

1. Zare Mehrjardi M, Keshavarz E, Poretti A, Hazin AN. Neuroimaging findings of Zika virus infection: a review article. Jpn J Radiol. 2016;34(12):765-70.

2. Hayes EB. Zika virus outside Africa. Emerg Infect Dis. 2009;15(9):1347-50.

3. Cauchemez S, Besnard M, Bompard P, Dub T, Guillemette-Artur P, Eyrolle-Guignot D, et al. Association between Zika virus and microcephaly in French Polynesia, 2013-15: a retrospective study. Lancet. 2016. 4. Adibi JJ, Júnior ETAM, Cartus A, Beigi RH. Teratogenic eff ects of the Zika virus and the role of the placenta. The Lancet. 2016, 387:4.

5. Paixão ES, Barreto F, Teixeira MaG, Costa MaC, Rodrigues LC. History, Epidemiology, and Clinical Manifestations of Zika: A Systematic Review. Am J Public Health. 2016;106(4):606-12.

6. Zanluca C, Melo VC, Mosimann AL, Santos GI, Santos CN, Luz K. First report of autochthonous transmission of Zika virus in Brazil. Mem Inst Oswaldo Cruz. 2015;110(4):569-72.

7. Norte SdSdRGd. Monitoramento dos casos de microcefalia e/ou alteração do sistema nervoso central no Rio Grande Do Norte até a semana 13/2018. 2018. p. 6.

8. Leite CN, Varellis MLZ. Microcefalia e a Odontologia Brasileira. Journal Health NPEPS. 2016;1(2):8 9. American Academy Of Pediatric Dentistry. Clinical guideline on behavior management [internet]. 2003 [acessed on 16 april 2018]. Disponível em: http://www.aapd.org/media/policies_guidelines/g_fluori detherapy.pdf

10. Halabi MA. A report on the oral health status of children with cerebral palsy in Dubai, United Arab Emirates. Spec Care Dentist. 2017;37(6):322.

11. Cavalcanti AL. Challenges of Dental Care for Children with Microcephaly Carrying Zika Congenital Syndrome. Contemp Clin Dent. 2017;8(3):345-6.

12. Ravindran R, Saji AM. Prevalence of the developmental defects of the enamel in children aged 12-15 years in Kollam district. J Int Soc Prev Community Dent. 2016;6(1):28-33.

12. Wright JT. Normal formation and development defects of the human dentition. Pediatr Clin North Am. 2000;47(5):975-1000.

13. Selwitz R, Ismail A, Pitts N. Dental caries. Lancet. 2007; 369(9555): 51-9.

14. Nyvad B, Fejerskov, Ole; Kidd, Edwina. Cárie dentária: A doença e seu tratamento clínico. 2. ed. São Paulo: Santos, 2011. cap. 15.

15. Nowak AJ. Patientes with special health care needs in pediatric dental practices. Pediatr Dent. 2002; 24(3): p.227-228.

(15)

16. Moore CA, Staples JE, Dobyns WB, Pessoa A, Ventura CV, Fonseca EB, et al. Characterizing the Pattern of Anomalies in Congenital Zika Syndrome for Pediatric Clinicians. JAMA Pediatr. 2017;171(3):288-95.

17. Kuper H, Smythe T, Duttine A. Reflections on Health Promotion and Disability in Low and Middle-Income Countries: Case Study of Parent-Support Programmes for Children with Congenital Zika Syndrome. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(3).

18. Kuper H, Monteath-van Dok A, Wing K, Danquah L, Evans J, Zuurmond M, et al. The impact of disability on the lives of children; cross-sectional data including 8,900 children with disabilities and children without disabilities across 30 countries. PLoS One. 2014;9(9)

19. Officer A.; Posarac A. World Report on Disability; World Health Organ: Geneva, Switzerland, 2011. 20. Banks LM; Polack S. The Economic Costs of Exclusion and Gains of Inclusion of People with Disabilities; London School of Hygiene and Tropical Medicine: London, UK, 2013.

21 Nam S.-J.; Park E.-Y. Relationship between caregiving burden and depression in caregivers of individuals with intellectual disabilities in Korea. J. Ment. Health 2017, 26, 50–56.

22 Human Rights Watch. Neglected and Unprotected: The Impact of the Zika Outbreak on Women and Girls

in Northeastern Brazil. Available online:

https://www.hrw.org/report/2017/07/12/neglected-and-unprotected/impact-zika-outbreak-women-and-girls-no rtheastern-brazil (accessed on 11 April 2018).

23. UNDP. A Socio-Economic Impact Assessment of the Zika Virus in Latin America and the Caribbean: With a Focus on Brazil, Colombia and Suriname. Available online: http://www.undp.org/content/undp/en/ home/librarypage/hiv-aids/a-socio-economic-impact-assessment-of-the-zika-virus-in-latin-am.html (accessed on 11 April 2018).

24 Broussard CS, Shapiro-Mendoza CK, Peacock G, Rasmussen SA, Mai CT, Petersen EE, et al. Public Health Approach to Addressing the Needs of Children Affected by Congenital Zika Syndrome. Pediatrics. 2018;141(Suppl 2):S146-S53.

25 Lowe R, Barcellos C, Brasil P, Cruz OG, Honório NA, Kuper H, et al. The Zika Virus Epidemic in Brazil: From Discovery to Future Implications. Int J Environ Res Public Health. 2018;15(1).

26 Pereira SMdS, Borba ASM, Rosa JdFL, Carvalho CN, Filho EMM, Ferreira MC, et al. Zika Vírus e o Futuro da Odontologia no Atendimento a Pacientes com Microcefalia. Jornal de Investigação Biomédica. 2017;9(1):58-66.

27 Pizzol KEDC, Carvalho JCQ, Konishi F, Marcomini EMS, Giusti JSM. Bruxismo na infância: fatores etiológicos e possíveis tratamentos. Rev Odontol UNESP. 2006; 35(2): 157-163.

28 Delgado GKGC, Albuquerque ME, Mendes PA. Abordagem odontológica em um bebê portador de microcefalia: relato de caso. Revista da ACBO. 2017;26(2):92-8.

© 2018 by the authors. Submitted for possible open access publication under the terms and conditions of the Creative Commons Attribution (CC BY) license (http://creativecommons.org/licenses/by/4.0/).

Referências

Documentos relacionados

No ano de 2015 foi observada uma relação temporal entre o aumento de notificações de microcefalia e o surto de infecção pelo Zika Vírus (ZIKV) tornando-se um

b) A definição de problema de saúde é construída de maneira mais ampla que as doenças, por meio de uma sistematização de causas e conseqüências das situações que interferem

MODULAÇÃO DA RESPOSTA EMOCIONAL EVOCADA PELA VISUALIZAÇÃO DE ALIMENTOS ULTRAPROCESSADOS DOCES E SALGADOS ATRAVÉS DAS CORES DO SEMÁFORO NUTRICIONAL: IMPLICAÇÕES

Essa solução eletrônica patenteada faz com que os transformadores para halógenas percebam a lâmpada como uma lâmpada halógena comum e funcione corretamente e, ao mesmo

A semelhança obtida entre resultados experimen- tais e simulados, tanto para o padrão do escoamento no interior da armadilha quanto para a deposição de sedimentos, per- mitiu avaliar

O artigo teve como objetivo compreender as experiências vivenciadas por pais e/ou cuidadores de crianças com microcefalia por Zika vírus no processo de diagnóstico

Também foi observada uma diferença estatisticamente significante (p&lt;0,05) entre os grupos I e II quanto à frequência diária de ingestão de sacarose, incluindo as

Entre os meses de fevereiro e junho de 2017 também foi realizado um estudo observacional transversal, onde 59 crianças com microcefalia foram inicialmente classificadas de