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Vinismo

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JOÍO CARDOSO D'ALBUQUERQUE

v i n i ^ M O

DISSERTAÇÃO INAUGURAL APRESENTADA Á Eseela Meilee-Oífwglia I JULHO DE 1900 P O E T O TYPOGRAPHIA U N I V E R S A L A VAPOR 54 — Travessa de Cedofeita — 66 1 9 0 0

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D i r e c t o r I n t e r i n o S e c r e t a r i o l i i t e r l n o CORPO DOCENTE PROFESSORES PROPRIETÁRIOS l .8 Cadeira—Anatomia descriptiva o a r^f- " ' i ; ' '• V •■ J °â o p« e i r a Dias Lebre.

II Cade r a ­ P h y s i o l o p a Antonio Placido da Costa.

3.a Cadeira—Historia natural dos

medicamentos e materia medi­

í i ? . j ' ' " ' i ' i ' i " : Illydio Ayres Pereira do Valle. 4.8 Cadeira—Pathologia externa e

s a raTp e U t ÍM A^"aa •• • A l«onio J. de Moraes Caldas. 5.d Cadeira—Medicina operatória. Vaeo

6.a Cadeira—Partos, doenças das

mulheres de parto e dos re­

cem­nascidos Cândido A. Correia de Pinho. 7a Cadeira—Pathologia interna e

therapeutica interna. Antonio d'OIiveira Monteiro. 8 Cadc;ra­C mica medica . . . . Antonio d'Azevedo Maia, ,»•. £ ^ePa­ Çh n'c a .c'r" g . c a . . Roberto B. do Rosário Frias. JO." Cadeira—Anatomia pathologi­

11.­ S d e i r a ­ M e d i c i n a ' legai,' hyl A U g U S t° " " d'A l m C Í d a B r a n d a 0­

giene privada e publica e to­

xicologia v

12.a Cadeira—Pathologia geral, se­

Pharm»HÍ9 g ! a ' h Í S t°r i a m e d Î C a ' " Maximiano A. d'OIiveira Lemos,

t­narmacia N u n 0 D i a s Salgueiro.

PROFESSORES JUBILADOS

Secção medica i Jo s é d'Andrade Gramacho.

' | Dr. José Carlos Lopes. Secção cirúrgica f Pedro Augusto Dias.

" | Agostinho Antonio do Souto

PROFESSORES SUBSTITUTOS

Secção medica. ... '•.;... ,í Jo a o *"" ^a Silva Martins Junior.

" ' I Alberto Pereira Pinto d'Aguiar. Secção cirúrgica . . I 01emente J. dos Santos P. Junior.

j Carlos Alberto de Lima.

D E M O N S T R A D O R DE ANATOMIA Secção cirúrgica Lu;z d c F r e;t a s V i c g a s_

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A Escola não responde pelas doutrinas expendidas na dissertação e enun-ciadas nas proposições. {Regiílammto da Escola de 23 d'abril de 1840, art.» 155.°)

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h Meus Paes

A Meus Irmãos

Crêde sempre na muita amisade do vosso

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Á Ex.™ SNR/

£/. (Therega de ^esus da §iha

e a o seta. ixnaão

O C Ó N E G O

jfoão ^Baptista da §ilva

-Se alguma coisa sou a vós o devo.

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AO MEU PRESIDENTE

O 111.»0 e Ex.™ Snr.

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^

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j \ LGUEM affirma que Hyppocrates taes virtudes I l attribue ao vinho, que chegou a considerar util ao homem o abusar d'elle uma vez por niez. Mesmo quando não plenamente justificada, aquella asserção demonstra quanto o vinho foi admirado na antiguidade, quer pelos poetas, que lhe dedica-ram estrophes inspiradas, como pelas entidades my-thologicas, que abundantemente o fizeram correr nos seus sumptuosos banquetes. Christo redimindo a Humanidade, n'elle quiz identificar o seu sangue. Problema difficil a resolver, se foi o athenien-se Orestes, filho de Deucalion, athenien-se Noé, o Egypcio Osiris, o rei Géryon, Baccho, Saturno ou qualquer outra mythologica divindade, quem primeiro se lembrou de fabricar o vinho, mas de positivo nos

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lega a historia, que na antiga Grécia e Roma não foi o vinho olhado como liquido inoffensive

Ás mulheres e crianças romanas era interdi-cto o seu uso e aos homens só depois do casamen-to era permittido o bebel-o, ficando com o direicasamen-to de matar as suas mulheres, se ousassem tocal-o fora dos sacrifícios.

Dracon e Solon criam leis em que a pena de morte é imposta aos ébrios.

Pittacus, de Mytilène, manda castigar, dupla-mente, os crimes commettidos debaixo da influen-cia do vinho.

Os Athenienses tinham os seus ophthalmos en-carregados de reprimir as desordens dos convivas. Mahomet prohibe aos seus sectários o uso do vinho.

Carlos Magno nas suas capitulares, cria me-didas repressivas para a embriaguez.

Francisco I manda publicar um edito, pelo qual todo o individuo que pela primeira vez fosse encontrado ébrio, era preso e posto a pão e agua; pela segunda, chicoteado na praça publica; á ter-ceira eram-lhe cortadas as orelhas.

O papa Innocencio III impõe penas severas aos padres que se embriagam, e despede-os dos seus cargos.

Bis resumidamente a maneira como os anti-gos puniam os abusos commettidos com o vinho, único liquido alcoólico então conhecido. Hoje, no nosso paiz, em que a sua cultura é livre e a sua

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venda franca, toda a gente o bebe e por tal fornia se acha com elle identificado, que arrojo será o in-cluil-o no numero dos tóxicos.

Applicação de leis eguaes ás de Lycurgo, que manda arrancar as vinhas, para obstar á embria-guez; ás de Carlos IX e Henrique III, que impe-dem a cultura da vinha, para favorecer a do bené-fico pão; e ainda ás do nosso immortal estadista Marquez de Pombal, fazendo inutilisar parte dos enormes vinhedos existentes no seu tempo, toruar-se-hia necessária no nosso decadente paiz, onde o povo, seduzido por falsos lucros, parece estar em-penhado em tudo sacrificar á cultura do vinho.

A producção augmenta dia a dia, a despeito do grande numero de doenças que accommettem a vinha, que todos procuram encarniçadamente com-bater, servindo-se de principios tóxicos, que mais tarde vão apparecer no vinho e repercutir os seus perniciosos effeitos nos seus consumidores.

Os campos do nosso Minho, outrora tão bel-los, aonde, ainda ha pouco tempo, tanto se dispu-tava o sacrificio das suas formosas arvores, para dar passagem ás artérias da civilisação e progres-so, são hoje assolados a golpes de machado, que não sabem poupar essas seculares amigas a cuja sombra gerações inteiras descançaram.

As montanhas do Douro estão sendo repovoa-das pelas castas mais impróprias, para produzir os seus antigos famigerados vinhos.

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para se enlaçar no baixo arjão, no formoso carva-lho e alto chonpo, ou estender-se por essas negras e alinhadas construcções de ferro e arame, que rou-bam a luz á verde relva, precioso alimento dos aui-maes mais directamente úteis ao homem.

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I

NEXPLICÁVEIS são para nós os favores de que o

vinho tem gosado. Desnecessário ao homem, sendo-lhe mais prejudicial do que util, a sociedade admittiu-o, a medicina preconisou-o e a Religião Catholica respeitou-o, como o verdadeiro sangue de Christo, seu creador.

Não podemos ver no vinho, mais que uma complicada theriaga, com os seus nove alcooes, qua-torze ethers, vinte e cinco ácidos, aldehydes, maté-rias gordas, gomnosas, corantes, albuminóides; e quem sabe quantos mais componentes estão ainda reservados á chimica descobrir-lhe, que não podem convir a todos os temperamentos nem a todas as idades.

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para fazer uso do vinho, desde a mais tenra infân-cia, só se pode explicar por uma espécie d'iu'flueu-cia hereditaria, que para, elle o impelle, á seme:

ihauça do que se observa com a descendência dos intoxicados pelo absiutho e outras, bebidas espiri-tuosas. Mal este que os seus procreadores augmen-tam com a falsa ideia de fortifical-os e que tantas vezes é a causa d'essas frequentes enterites que os victimam.

Mas ponhamos de parte as fataes leis da he-reditariedade, e, sem nós embrenharmos no mundo da chimica, faliemos um pouco de vinhos: Divi-dil-os-hemos, como Monin, em espirituosos,

astrin-gentes, ácidos e espumosos. Vinhos de todas estas

clas-ses se encontram no nosso paiz, preparados por processos mais ou menos rudimentares, talvez mais prejudiciaes ao organismo pelo seu alto grau de pureza do que se houvessem soffrido as modernas manipulações, que os cenologistas aconselham e ardentemente preconisam.

N a classe dos espirituosos podemos incluir os nossos vinhos que têm por typo o Madeira e Por-to, de riqueza alcoólica entre 15o a 18o, que é d'uso

elevar a 25" ou 30o, por meio de uma vinificação

feita com aguardente importada de paizes, onde o vinho não abunda. Estes vinhos irritam o estômago e acceleram a circulação, sendo portanto irritantes e estimulantes.

N a classe dos astringentes incluiremos gran-de numero dos vinhos tintos gran-de mesa, tendo por

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typo o Coll ares e o Bucellas, com uma força alcoó­ lica de io° e tima acidez media de 4,37. A astrin­ geucia d'estes vinhos poderá ser supportada por alguns estômagos, mas muitos d'ella se .resentem. Perdem terreno dia a dia sendo substituídos por vinhos brancos ou menos carregados em tannine Na classe dos ácidos, conglobaremos a maio­ ria dos nossos vinhos verdes, com uma força al­

coólica de 90 e uma media de acidez de 7,10. As

pyrosis e as gastralgias são apanágio dos seus con­ sumidores.

Temos finalmente a classe dos espumosos, tendo por typo os preparados pela Real Compa­ nhia Vinicola do Norte de Portugal. D'estes vi­ nhos não se faz largo uso; ha talvez apenas a at­ tender á sua acção immediata e essa é bem ex­ pressa pelas seguintes palavras de Théophile Gau­ tier: plus de gaieté que d'ivresse.

Convém accentuar que os vinhos brancos têm propriedades différentes das dos vinhos tintos: os vinhos brancos, sendo mais pobres em tannine, são mais facilmente absorvidos pela corrente circulató­ ria. Os seus effeitos manifestam­se de uma maneira brutal sobre o cérebro e sobre a medulla, chegando entre outras desordens graves a produzir a paraly­ sia dos membros inferiores. Quer Rabuteau que tal acção seja devida ao ether acético, em que al­ guns d'estes vinhos abundam.

Esboçadas ficam, muito ao de leve, as proprie­ dades de cada typo dos nossos vinhos, em tudo

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idênticas ás dos vinhos estrangeiros, que só d'elles différera em ser fabricados por processos mais per-feitos. Actualmente a medicina tende a reprimir o seu uso, acha-o contra-iudicado no rheumatismo articular agudo, em todos os casos em que o estô-mago é facilmente irritável, (chlorose, anemia, cer-tas convalescenças, esgotamento nervoso, gastrite chronica) e nas lesões renaes. Em todos os dyspe-pticos que apresentam excitação gástrica e nos que têm fermentações anormaes, o vinho augmenta a acidez do conteúdo gástrico e provoca eructações acidas. Na diabetes e na gotta, o vinho é contra-indicado. Finalmente, n'um paiz de artríticos, como o nosso, louvável seria que ninguém d'elle usasse.

Ainda comtudo, ha quem só queira vêr no vi-nho propriedades tónicas e assevere que o seu uso é necessário ao homem, cohibindo-se sempre de lhe attribuir qualquer lesão que nos seus consumi-dores se encontre. K quando forçados a attribuir essa lesão ao vinho, falam de falsificações, mesmo que o doente assevere ter poucas vezes deixado de o beber da sua propria lavra.

Árduo trabalho seria para o pouco tempo de que dispomos, entrar em considerações sobre tão importante ponto, como é o das falsificações dos vinhos: Tão antigas quasi como o próprio vinho, eram conhecidas da velha Athenas e hoje algumas d'ellas são admittidas, como necessárias, para a con-servação dos vinhos e precisas para os livrar de princípios que os tornam desagradáveis aos

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pala-25

dares apurados. Quem 1er alguma coisa acerca dos novos processos de preparação dos vinhos, chegará naturalmente á conclusão formulada pelo Dr. De-goire: Le vin est bon quand il s'y mêle ten peu de raisin.

K-

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Tiff-Y vinho.

Os symptomas d'esté envenenamento nada têm de semelhante aos da embriaguez aguda, nem a manifestação ou a repetição d'esta é causa neces-sária para que se venha a cahir n'aquella. O ho-mem apparentemente mais sóbrio pode ser um in-toxicado pelo vinho.

O vinho actua d'uma maneira insidiosa sobre os bebedores, dando-lhes a melhor das apparencias, animando-lhes a physionomia, mas raras vezes dei-xa de lhes roubar a viveza dos olhos, que pouco e pouco vae tornando fixos e menos expressivos. A menor das emoções, o mais leve esforço do pensa-mento, faz affluir ao rosto, habitualmente rubro,

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grandes quantidades de sangue, que gradualmente vae dilatando os vasos da face e lhe dá um aspe-cta especial; apparecem trémulos de vários grupos musculares, que entram em vibração logo que o bebedor tente falar ou seja abalado por alguma emoção. Mais tarde, a sua expressão é triste, o te-gumento externo descora-se, secca-se, toma uma côr terrosa amarellada, indicio de soffrimento de órgãos esplanchnicos.

O primeiro apparelho atacado é o gastro-in-testinal. O bebedor de vinho perde o appetite; a bocca torna-se-lhe pastosa, a lingua branca e sa-burrosa; sente pyrosis e uma sensação de calor ar-dente, na garganta; depois, manifesta-se a dyspe-psia, tendo por caracter constante a pituite, que apparece a incommodar o doente nas primeiras horas do dia. Esta pituite pode ser mais ou menos abundante, um verdadeiro vomito acompanhado de nauseas, sensações angustiosas na região epi-'gastrica, vertigens, etc., ou traduzir-se apenas por

uma impressão que parecendo partir da garganta, obriga o doente, com mais ou menos esforço, a um cuspinhar constante. Umas vezes, o liquido expel-lido é branco (pituite branca), outras vezes, o é tur-vo, espesso e corado de verde, pela bilis fortemente amarga (pituite verde).

U m allivio immediate pode succéder á inges-tão de algum alimento, mas é constante e certo, depois da depleção do estômago. N'este estado as digestões são difficeis, o doente experimenta uma

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sensação de peso a seguir ás refeições, tem azia, py-rosis, mais raramente eructações. O intestino con-tinua a funccionar regularmente, circumstancia que, juncta á natureza do vomito, ao estado da mucosa do estômago, que se encontra infiltrada e espessa, qxiando se faz a autopsia, nos leva a admittir que a dyspepsia do bebedor de vinho é o effeito, não d'uma perturbação funccional do systema nervoso, como se observa nos herpeticos, mas antes, d'uma lesão material do estômago, d'uma verdadeira gas-trite.

Constantes são nos bebedores de vinho as al-terações hepáticas. Estas, traduzem-se por uma hy-pertrophia do figado, que ultrapassa alguns cen-tímetros o rebordo das falsas costellas e se torna mais consistente ; lesões que frequentes vezes se fa-zem acompanhar de meteorismo, sem ascite e d'um considerável augmente do volume do baço. Estas alterações, que nos são reveladas por variados sym-ptomas, continuam a deseuvolver-se com a persis-tência do habito ou desapparecem, sem outro trata-mento, se o vinho fôr supprimido. D'aqui se con-clue que é o vinho o agente etiológico de consis-tência hepática; notando-se, porém, que a acção no-civa é menos devida ao seu alcool, que aos varia-dos ácivaria-dos e outros princípios que contem. A es-clerose do figado é proveniente da irritação que determinam as substancias constitutivas do vinho, na sua passagem atravez das numerosas ramifi-cações da veia porta, que vão provocar a vegetação

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3?

dos elementos conjunctivos dos capillares e do te-cido intersticial que os cercam, dando origem á formação d'uni tecido fibroso muito semelhante ao tecido de cicatriz. Kste tecido, retrahindo-se, faz sa-lientar os lóbulos e dá ao figado um aspecto gra-nulado, uniforme, tanto na sua face livre, como na sua profundidade. A ascite acompanha esta affec-ção, bem como um desenvolvimento exaggerado da rede venosa subcutânea abdominal, a hypertro-phia do baço e uma cachexia especial ; mas ao lado d'esta, forma, que se localisa especialmente no es-tróina, ha outra, em que as cellulas glandulares e o estróina são simultaneamente attiugidos. Esta re-vela-se-nos por um augmente do volume do figa-do, que se torna mais consistente e granuloso, pela hypermegalia esplénica, icterícia frequente e, em alguns casos, por hemorrhagias e uma morte rá-pida, devida á insufficiencia da glândula hepática. Kstas formas, posto que distiuctas, têm sempre um cunho de identidade, que não deixa pôr em duvida a sua origem.

Affecção frequente nos bebedores de vinho, a cirrhose é fácil de diagnosticar desde o começo, pela hypermegalia hepática e esplénica, associada á gastrite, aos trémulos das mãos, ás perturbações de sensibilidade, etc., que põem fora de duvida a natureza da intoxicação, em face de que nos encon-tramos. B o vinho, além de tudo isto, a causa da diminuição do appetite e d'unia perturbação da nu-trição, que conduz a um depauperameuto do

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orga-nismo, tornando-o meio favorável para o desenvol-vimento da tuberculose, terrível doença, que tantas vezes vemos atacar os bebedores de vinho e que no dizer de Lancereaux, não tende unicamente a localisar-se-lhes nos pulmões, mas também no pe-ritoneu e nas meninges.

Nos intoxicados pelo vinho observam-se des-ordens de sensibilidade, quer subjectivas, quer obje-ctivas. As desordens subjectivas manifestam-se por sensações dolorosas, occupando as extremidades dos membros, especialmente as dos membros infe-riores. Estas dores, que se exasperam com o calor da cama, têm por sede ora os dedos, ora a planta do pé podendo estender-se ás massas musculares da barriga da perna, ás articulações e consistindo em entorpecimentos, picadas, formigueiros, sensa-ção de queimadura e verdadeiras dores capazes de provocar uma insomnia completa ao doente. Limi-tadas aos membros inferiores e symetriças, estas dores são muitas vezes uma das primeiras reacções do organismo, em presença do abuso do vinho.

Ao lado das perturbações subjectivas, de or-dinário as primeiras a manifestar-se, é preciso col-locar as perturbações objectivas, que não são me-nos características. Consistem em um symptoma commum nos bebedores de vinho ; é de começo, um leve grau de exaggero e mais tarde a ausência do. reflexo plantar ; depois sobrevem uma anesthesia, quasi sempre limitada á pelle, que se traduz pela diminuição e mesmo pela abolição da sensibilidade

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á dôr. A sensibilidade thermica é pouco ou nada modificada ; quanto ao tacto conserva quasi sempre a sua delicadeza.

A analgesia quasi constante, no começo limi-tada aos pés e ás mãos; sempre menos pronuncia-da n'estas, invade pouco e pouco os malleolos e os punhos, em seguida a parte media da perna, o an-tebraço, e finalmente o joelho e cotovelo.

Um symptoma importante para o diagnostico e quasi pathognomonico é o sonho. A sua investi-gação não é fácil, porque os doentes occultam-no com cuidado. Interrogados sobre o caracter dos seus sonhos, o bebedor de vinho hesita em responder; depois acaba por confessar que sonha com o seu trabalho, com os seus negócios, etc. B assim que geralmente principia a verdadeira confissão dos seus pesadelos, das suas quedas em precipicios, dos monstros e phantasmas, que lhe roubam o somno. Não menos frequentes vezes o sonho recahe sobre animáes, serpentes, leões, cavallos, cães, que sem-pre lhe apparecem com formas extravagantes e me-donhas. Mesmo quando é o homem que entra em acção, é sob a forma de agente de policia, saltea-dor, assassino, sempre feio de aspecto e armado até aos dentes.

Uma das perturbações mais importantes da motilidade é o tremulo. Este phenomeno manifes-ta-se de manhã ao levantar da cama; é então muito pronunciado a ponto que alguns doentes dizem não poder entregar-se a qualquer trabalho, sem

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te-rem tornado uma certa quantidade de vinho. Mais tarde o tremulo prolonga-se durante o dia e tor-na-se constante. Consiste em frequentes abalos con-vulsivos, rythmicos" e symetricos tanto mais accen-tuados quanto mais o doente se esforça por precisar os seus movimentos.

Começa a maior parte das vezes pelos mem-bros superiores, principalmente pelas mãos, raras vezes falta nos lábios e na face; os músculos zygo-matico, levantador da aza do nariz e risorio, são de preferencia atacados; apenas o doente abre a boc-ca para falar, o tremulo manifesta-se debaixo da forma de finas tremulações, que partem da aza do nariz e irradiam para os lábios. Estes abalos'são de ordinário tão característicos, que o bebedor é trahido, mesmo a distancia e basta vel-o falar ou rir, para immediatamente ter conhecimento dos seus hábitos.

Os músculos da lingua são muitas vezes a sede de trémulos análogos, d'onde nasce o embaraço, hesitação da palavra, uma espécie de gaguez inter-mittente, que pode fazer pensar em lesões mate-riaes do encephalo.

Devemos ainda assignalar entre as desordens da motilidade, os abalos espasmódicos, sobresaltos dos tendões, cuja sede é sempre ao nivel das extre-midades ; e sobretudo as caimbras das barrigas das pernas, que muitas vezes impossibilitam o doente de dormir.

Os bebedores de vinho são ainda sujeitos a

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desordens vaso-niotoras, que consistem em pertur-bações circulatórias do tegumento externo e que é descorado, ou violáceo e frio ou, ao contrario, forte-mente corado e d'uma temperatura acima da nor-mal; manifestam-se perturbações secretorias nas extremidades dos membros inferiores e na face, traduzindo-se por abundante suor, que a menor emoção faz correr. Por vezes, a par d'estas desor-dens, apparece um edema nervoso symetrico, nas extremidades dos membros inferiores acima dos malleolus, coincidindo quasi sempre com caimbras, formigueiros, ou sensações de queimadura. Este edema, bastante duro, pouco corado, é frequente-mente acompanhado d'uni desenvolvimento venoso subcutâneo. No mesmo plano convém agrupar cer-tas erupções relativamente communs nos bebedo-res de vinho, como a purpura das pernas e um ery-thema particular do dorso das mãos e dos pés.

A vista é perturbada, principalmente de ma-nhã. Os doentes vêm scintillações, moscas; são to-mados de vertigens. Mais tarde, a amblyopia é manifesta quer em um ou em ambos os olhos, que parecem velados por finas teias de aranha, que gra-dualmente se vão tornando mais cerradas, chegan-do algumas vezes o chegan-doente a perder por completo a vista.

O ouvido é menos frequentemente atacado, comtudo alguns bebedores de vinho queixam-se de zumbidos e de ruidos semelhantes aos da chuva e campainhas.

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O olfato poucas vezes é sede de manifestações apreciáveis.

O sentido genital, a principio exaltado, acaba por participar da depressão que soffrem as outras funcções.

A adipose e a esteatose dos elementos histo-lógicos, pode dizer-se constante nos intoxicados pelo vinho.

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/""S ELIRIUM tremens, loucura alcoólica, deli--*-^ rio alcoólico, delírio ethylico, são outras tan-tas designações d'um episodio agudo e accidental do alcoolismo chronico e especialmente do produ-zido pelo vinho. Não é o individuo que se embria-ga frequentes vezes, que a elle mais está sujeito mas o que, lenta e diariamente, absorve uma quan-tidade de vinho superior á tolerância do seu orga-nismo. Sulton, Dupuytren, Grisolle, attribuem-lhe uma etiologia varia, mas Rayer reconheceu a natu-reza, sempre toxica, d'esté accidente e a sua opinião prevaleceu.

Este delirio parece ser mais commum, nas es-tações quentes. Lancereaux, diz-nos ter observado no anno de 1859, sendo interno do Hotel-Dieu,

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durante o tempo de maior calor, uma espécie de epidemia de delirium tremens, que attiugiu espon-taneamente vários doentes, de que muitos succuui-biram. A causa necessária e próxima de todo o de-lirium tremens é o alcoolismo, principalmente o pro-duzido pelo vinho, mas outras causas preparam e fazem rebentar o accesso. Os hereditários e os ne-vropathas são particularmente predispostos, em vir-tude do estado do seu systema nervoso. Kntre as causas que são .provocadoras da crise citaremos os arrefecimentos, traumatismos, embaraços gástricos, algumas anginas; pyrexias, como a pneumonia, a erysipela, a febre typhoide, a escarlatina, o rheu-matismo articular agudo. Hemorrhagias graves, uma forte emoção e todo o desequilibrio operado na economia, pode desempenhar o mesmo papel. O de-lirium tremens pode manifestar-se nos individuos que desde muito tempo se acham privados do seu toxico habitual; pois tem-se observado em conde-muados, annos depois de se acharem encarcerados.

Este delirio raras vezes tem um começo subi-to; quasi sempre se prepara de longa data, prece-dido pelas perturbações psychicas noturnas do al-coolismo chronico. Alguns dias antes do accesso, o doente torna-se triste, moroso, rabugento, tem o somno entrecortado por horríveis pesadelos; agi-ta-se, cobre-se de suor, assiste a batalhas, a carnifi-cinas, a incêndios; grita, debate-se e foge.

A estas allucinações visuaes, de todas as mais frequentes,juntam-se, muitas vezes, allucinações

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au-39

ditivas e tácteis, porque o injuriam e o mordem. Pela manhã tem o semblante abatido, triste, ancio-so, o olhar espantado ; nas formas leves, a physio-nomia pode ser alegre e sorridente. Durante o dia o delirio cessa para reapparecer mais intenso na noite que se segue. A insomnia continua quasi até á convalescença; emquanto aquella se prolonga a excitação augmenta, o doente fala, agita-se conti-. nuamente, tanto de noite como de diaconti-. Só uma

in-terpellação feita em alta voz, consegue interrom-per o curso das suas ideias vagabundas. Todo o systema muscular está em movimento; os lábios, as faces, a lingua estremecem; as mãos e as pernas tremem. O appetite está abolido, a bocca amarga, a lingua pastosa A constipação é a regra Dentro em pouco rebenta o delirio que, segundo a sua in-tensidade, é de uso dividir-se em leve, agudo, sobre-agudo ou furioso. Seja qual fôr a variedade, encon-tram-se os mesmos phenomenos, porque só o grau varia O doente torna-se de uma loquacidade es-pantosa, incessante e a sua palavra é breve, abala-da, imperiosa.

Kxperimenta necessidade de caminhar, de sa-hir do leito. Se se examina quando está de pé, vê-se que todos os seus músculos estão em acção. Os membros superiores e inferiores tremem, impri-mindo ao corpo uma espécie de trepidação; os lá-bios e os músculos da face são agitados por peque-nos abalos. O olhar é brilhante, a face injectada. Os actos, as palavras, são baseados nas

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allucina-ções que constituem o fundo do delirium tremens. O doente vê ratos, gatos, auimaes imniundos, que o querem morder; levanta-se, tenta defender-se. Se assiste a um incêndio, grita fogo ; se está envolvido n'uma batalha, peleja; se ouve vozes que o inju-riam ou o ameaçam, responde e vocifera. Tem sem-pre tendência a escapar-se, a fugir ás suas aterra-doras visões; os seus actos, em summa, são lógicos, attendendo ás falsas sensações que experimenta. Sente formigueiros, queimaduras, caimbras. Fal-ta-llie o appetite, os alimentos não têm gosto, sente repugnantes cheiros, assiste ás scenas mais estra-vagantes. As suas allucinações são sempre moveis, penosas, aterradoras. Também, um dos traços mais característicos d'esté delirio, é, com a allucinação, a ausência mais ou menos absoluta do somno.

A sensibilidade do delirante alcoólico é em-botada; vê-se caminhar com um membro fractura-do, desfazer os pensos, pôr a descoberto as feridas. A sua memoria é velada, distrahida, mas não abo-lida; se se interpella energicamente, responde. Em-quanto dura o accesso, existe frequentemente uma apyrexia completa, uma constipação teimosa, uma quasi anemia.

O delirio leve, não cuidado, dura de quatro a seis dias; pode desapparecer espontaneamente ou ser seguido de um delirio agudo, que mata o doen-te; bem tratado, cede ao fim de vinte e quatro ho-ras. A insomnia, allucinações pouco intensas, uma agitação moderada, caracterisam esta forma que se

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4 i

encontra frequentemente no decurso e, sobretudo, no momento da convalescença das doenças py-reticas.

O delírio agudo dura vários dias. A agitação é mais considerável, o tremulo mais accentuado; encontra-se todo o agrupamento de symptomas que traçamos para o delirio Hgeiro.

Nas formas sobre agudas, finalmente, a agita-ção é extrema; não ha repouso algum; todos os músculos vibram. O fácies é vxiltuoso, coberto de suor, o olhar espantado. O doente tem as mais ter-ríveis allucinações ; torna-se perigoso para si e para os que o que o rodeam. A temperatura eleva-se; a sede é ardente; produzem-se convulsões epilepti-formes em alguns casos e sem unia interversão enérgica, o systema nervoso esgotado por estas des-ordens exageradas de toda a esphera da actividade — sensibilidade, movimento e intelligencia, chega a um estado de completo anniquilamento, o doente cahe em collapso e morre em algumas horas.

Nas formas leves, a cura é a regra, sempre as-signalada pela volta do somno. Nas formas agu-das e sobre aguagu-das, a vida do doente pode dizer-se que está nas mãos do medico. A menor excitação na applicação do tratamento, uma dose de medica-mento insufficiente, podem ser a causa de uma ter-minação fatal. Quando o delirhim tremens vem com-plicar uma pyrexia, a sua terminação é variável, sempre deve ser olhado como um elemento de gra-vidade para o prognostico da doença que complica.

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As lesões anatómicas observadas nos cadáve-res dos indivíduos que succumbem a um ataque de delhium tremens, reduzem-se a pouco. Alem de uma sobrecarga gordurosa dos diversos órgãos, terações hepáticas que revelam a intoxicação al-coólica chronica, no encephalo, apenas existe uma hyperemia da pia-mater, um leve grau de dilata-ção dos vasos das circuinvoluções e da substancia branca cerebral.

O delirium tremens, é geralmente fácil de re-conhecer. A face do paciente injectada, animada, a sua loquacidade, o tremulo dos seus músculos, o suor de que está coberto, o caracter terrorista das concepções delirantes, são outras tantas circumstan-cias que põem o diagnostico fora de duvida. A in-toxicação aguda pelo ópio, a morphina, a bellado-na mesmo, poder-se-hiam muitas vezes impor por um delirium tremens, se cada uma d'estas substan-cias não desse logar a um delirio especial e se a excitação que determinam, não fosse promptamente substituída por um estado comatoso ou apopletico. Quanto á forma da encephalopathia saturnina que se tem aproximado do delirium tremens, não é, como o delirio nervoso de Dupuytren, senão o de-lirio em si mesmo e por consequência nenhuma distincção se impõe. Certos delirios maniacos, a pa-ralysia geral, apresentam como o delirium ttemens, o embaraço da palavra, tremor dos lábios, inso-mnia, etc., mas sem inspirar o terror próprio do delirio dos bebedores de vinho. Algumas doenças

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graves ein que o regimen tem sido severo, como a febre typhoide, acompanliam-se muitas" vezes de plienomenos delirantes próprios, ou ligados á ina-nição; todavia, estes plienomenos não têm a mobi-lidade do delirium tremens. Além d'isso a lingua do doente é secca, vermelha e quasi sempre em descamação. A meningite aguda e a tuberculose of-ferecem perturbações pupillares, contracturas, para-lysias, que estão fora do quadro do delirium tremens. Entretanto, quando o delirio sobrevem n u m tuber-culoso alcoólico, a distincção entre as duas affecções pode ser embaraçosa.

O dclirmm tremens que se manifesta no de-curso ou no declinar das febres eruptivas, taes co-mo a escarlatina, a variola ou ainda na erysipela, a pneumonia, a dothienenteria, a febre rheumatis-mal, etc., está longe de ser reconhecido; as mais das vezes é attribuido á doença de que se trata na occasião. Comtudo não é difficil distinguil-o, se bem se conhecem os seus caracteres.

O prognostico do delirium tremens é variável, subordinado á antiguidade, ao grau de impregna-ção alcoólica do individuo e finalmente á intensi-dade das perturbações cerebraes; todavia, uma in-tervenção, rápida e bem dirigida, salva muitas vezes o doente. N o caso contrario, a morte é rápida, bas-tando algumas horas de uma excitação um pouco aguda para matar o doente. Kste delirio é sujeito a recidivas e, em taes casos, pode ser seguido de perturbações cerebraes persistentes.

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O delirium tremens pertence ao numero dos delírios tóxicos; é devido á acção especifica do al-cool sobre os elementos nervosos e a excitação que d'ahi resulta é a causa da insomnia e da morte. Por isso, para combater o delirio, convém, antes de tudo, fazer dormir o delirante, « provoquer k

som-neil, telle est l'indication principale dans cette affc-ction» (L,ancereaux). Para obter o somno é preciso

usar de todos os meios, isolar o doente, collocal-o n'uni quarto em que haja pouca luz, onde nada lhe possa excitar os sentidos. K' essencial evitar o em-prego de camisa de forças, que o obrigariam a lu-ctar contra essa prisão, o que viria augmentar-lhe o seu esgotamento e concorrer para lhe apressar a morte.

Impõe-se a escolha d'uni medicamento que tenha a propriedade de localisar a sua acção sobre os elementos nervosos e de lhes moderar a excita-bilidade. A esta categoria pertence o brometo de potássio, o ópio e o hydrato de chloral. O brome-to, não tendo a energia dos outros dois, a sua ac-ção é muito mais lenta e deverá ser posta de par-te. O ópio e a morphina podem ser vantajosamente empregados, mas em doses que cheguem a provo-car o somno. Mas para isso são necessárias doses muito elevadas, nem sempre isentas de perigo para o doente. Resta-nos o hydrato de chloral, preconi-sado por Lancereaux, a que sempre em taes casos manda recorrer, só ou associado á morphina. U m a condição, porém, é necessária para se obter um

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sultado seguro, é que a dose de chloral seja suffi-cieute para produzir o somuo, porque de outra ma-neira, este agente, longe de calmar, excita o des-graçado alcoólico e ajuda-o a mais depressa mor. rer. Também, quando temos de prescrever este medicamento, devemos principiar por uma dose de quatro a seis grammas, só ou associado a cincoenta grammas de xarope de morphina; devendo esta dose repetir-se caso o doente não tenha cahido em somno, dez minutos depois da absorpção da pri-meira, porque nada mais seguro temos para evitar a morte do pobre doente do que fazel-o cahir em somno, ainda que para isso tenhamos que prescre-ver doses exageradas de hydrato de chloral.

K' crença popular em algumas das nossas pro-vindas, que o sangue de truta, misturado ao vi-nho, cria uma repugnância invencível para este li-quido. Recentemente foi apresentado á Academia de Medicina de Paris a descoberta d'uni soro, que ministrado por via hypodermica, tem idênticas vir-tudes ás que o nosso povo imputa ao sangue do pintalgado peixe, mas extensiva a toda e qualquer bebida alcoólica.

Oxalá, que tal descoberta seja coroada de bom êxito e venha em soccorro do nosso paiz, .que já sente, a necessidade da criação de asylos próprios para bebedores, á semelhança dos que existem nos Kstados-Uuidos, Inglaterra, Allemanha, Suissa, França, etc., onde esses degenerados possam pedir allivio para o seu mal, antes que os mauicomios

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lhes abram as suas portas ou a prostituição e o cri-me venham manchar o bom nocri-me que os seus ante-passados lhes legaram.

E, para que não pareça que exorbitamos, pe-dindo taes benefícios para os amadores do vinho, citaremos a experiência de Forel, que nos diz ter encontrado, no asilo Ellikon, em 478 alcoólicos,

133 que nunca fizeram uso senão de cidra ou vi-nho e a de Martaiidan de Montyel, que affirma ter encontrado nos internados da Ville Evrard 30 por cento de bebedores de vinho.

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N

ÃO nos perinitte a nossa curta pratica hospita-lar basear .corn observações proprias, as affir-mações que fizemos; apenas um caso nitido de al-terações produzidas pelo vinho nos appareceu, du-rante o anno lectivo, n'uma das salas de Clinica Cirúrgica. Bsse, relatal-o-hemos no final da nossa dissertação, posto nos fosse dado dispor de curto praso para observal-o. Antepomos-lhe uma obser-vação de delirium tremens narrada por Lancereaux e outra de concepções delirantes de um intoxicado pelo vinho, observada por Lasègue. K, não ante-vendo senão desvantagens n'uma traducção por nós feita, vénia pedimos para apresental-as na lingua dos seus illustres auctores.

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est un buveur invétéré, qui a préparé de longue date la crise qu'il ressent aujourd'hui; sorte de pa-roxysme survenant au cours d'une intoxication lente et progressive.

Depuis dix-huit ans, cet homme boit chaque jour de 3 á 5 litres de vin environ. Aussi n'a-t-il .pas tardé á présenter les phénomènes que nous relevons á chaque instant chez nos alcooliques vul-gaires, ces candidats au délire aigu, à savoir: les cauchemars effrayants, la pituite matinale, les cramps dans les mollets, la diminution de là force musculaire et des facultés génésiques. Cinq ans après le début de ces excès, á la suite de quelques nuits agitées, il est pris d'une première attaque de delirium tremens.

Le cri de révolte du système nerveux surexcité ne suffit pas pour l'avertir, le corriger; il conserve, comme ses "malheureux semblables, la funeste ha-bitude déjà prise. Aujourd'hui, il nous est amené par sa femme dans un état des plus sérieux. Cet homme robuste d'apparence, au teint coloré, à la face souriante, béate, agitée de convulsions muscu-laires irrègulières, offre un tremblement des mus-cles des membres et d'une grande partie du corps. Il répond aux questions posées d'une façon persis-tante et avec un grand luxe de détails que confir-me sa femconfir-me. Depuis un mois, ses rêves, ses cau-chemars ont augmenté d'intensité. Dans la jour-née, une activité fébrile s'emparait de lui, il deve-nait d'une loquacité frappante. Il y a sept jours, il

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descendit à la cave étant en sueur, et fut saisi par le froid. La nuit qui suivit fut plus agitée encore que les autres. Les rêveries se trouvaient rempla-cées par des hallucinations. Il voyait .des voleurs, des cadavres, des animaux, puis tout á coup sa chambre était transformée en un étang rempli de poissons qui s'apprêtaient à le mordre. A plusieurs reprises, il tenta de s'échapper et pénétra dans la chambre de ses voisins. L'insomnie dura ainsi quatre jours pendant lesquels le malade ne prit que peu d'aliments».

«Notre premier soin est de l'isoler en le pla-çant dans une chambre obscure et de lui faire prendre 4,gr50 d'hydrate de chloral et 50 grammes de sirop de morphine pour le calmer et le faire dormir. Le soir on lui donne une nouvelle potion chloralée de façon á provoquer un sommeil calme et prolongé. C'est en effet ce qui arrive et le len-demain il se trouve mieux; le médicament est con-tinué, et quatre jours plus tard ce malade nous quitte, ne délirant plus, dormant paisiblement et sans tremblement manifeste.

* * *

«H. . . . , 32 ans, marchand de vin. Face très-injectée, léger mouvement fébrile; quatrième jour de l'invasion du délire:

«Hier soir, il était onze heures et quart, il entre un individu qui demande une chopine. Je

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veux bien.—Là dessus ils boivent, et nia femme vient se coucher. Nous n'avons pas été sitôt au lit il vient danser du monde autour de nous. Il y en avait un qui avait une casquette blanche, deux en blouse, deux dans'le fond qui dansaient; ça me fi-che un coup.—J'allume une allumette. Personne! Je me dis: j'ai le corps qui me remue. Je me re-couche. Quand j'avais soufflé la chandelle, en voilà un qui me remue devant la figure. Je rallume; personne. — Au travers du plancher nous voyons du monde; je cours, je ne vois rien, ils se sont sauvés.

«On nous éblouit d'une espèce de poudre de-vif-argent. Nous nous recouchons ; on nous en fait encore autant La femme se mit á pleurer, je retire les draps et je mets l'édredon sur une table, je voyais mon portrait dans l'édredon. Je me suis rha-billé et je suis parti par la porte de derrière.

«Je vois deux individus qui se sauvent, je crie au voleur. Ils laissent un fil électrique; je le prends, ça m'engourdit la main. Ils sautent par-dessus une maison et disparaissent.

«Il y a un petit bonhomme en drap que ma fille accroche á la cheminée. Ça fait une figure d'homme qui respirait en faisant: hum, hum. Je saute, je lui bouche la figure; mais rien.

«Je me recouche la tête sur l'oreiller. Entre le bras et la tête, il me passait du feu avec des boules qui me faissaient allonger les bras et les jambes. Ou n'en voyait rien, ça laissait des petites

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marques sur les jambes. Je l'ai montré au com-missaire. On me disait : C'est le télégraphe. J'ai été au bureau. On m'a dit: Le télégraphe ne fait pas de ces choses-là. C'est des petites boni es plus peti-tes qu'un mouchoir, qui s'étendent, qui se tournent et qui vous enveloppent tout

«C'était curieux tout de même de voir le mon-de qui regardait au travers du baldaquin du lit. Les rideaux étaient suis. Il y en avait un qui souf-flait; l'autre avait une petite baguette, il nous tou-chait, il levait la chemise de ma femme, je irai pas pu. Quand on courait après lui, il était déjà à 50 métrés; Si j'avais eu un pistolet dans ma poche, il était sûr de son affaire.

«Jamais je n'avais vu cela de ma vie. Il pas-sait des étincelles d'électricité; on ne voyait plus

rien.» • . " *

* • *

M. C, solteira, de 48 annos de idadë, bufa-rinheira, deu entrada no Hospital Geral de Santo Antonio, accommettida por uma abundante epista-xis, na tarde do dia 22 de janeiro de 1900.

Dos seus antecedentes hereditários e pessoaes nada merece mencionar-se, a não ser as suas illici-tas relações com um sapateiro, grande bebedor de de vinho, das quaes houve cinco partos prematu-ros, nado-mortos.

A doente fala com grande amor do vinho, único liquido alcoólico de que gosta e de que

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lar-a glar-astrlar-algilar-a e pyrosis, que tão cllar-arlar-amente descre-ve; as dores que nos diz sentir, nas. extremidades dos membros inferiores quando procura repousar; o suor abundante de que, ao menor esforço, se sente banhada; o tremulo dos seus lábios e mãos; a extravagância dos seus sonhos, em que predomi-nam as luctas e scenas de taberna; o amortecido dos seus olhos; a diminuição de sensibilidade nas extremidades dos membros inferiores, e finalmente a sua insistência em pedir alta, apresentando como único motivo a abstenção do vinho a que se via forçada, poz-nos sob os olhos o quadro completo da intoxicação pelo vinho tão sabiamente descripta por Lancereaux, em varias das suas obras.

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PROPOSIÇÕES

Anatomia.= O conhecimento perfeito d'uma região

anató-mica, nem sempre evita surprezas ao operador.

PhysiolOgia.= 0 vinho é um retardador da digestão.

Materia medica.=A medicação cantharidiana é inutil e

pe-rigosa.

Pathologia geral.=Pouca gente sabe alimentar-se.

Anatomia pathologica.= Uma verdade clinica vale mais que

uma affinnação microscópica.

Medicina operatória.= O melhor operador não é o que

co-nhece mais methodos.

Pathologia interna.=A suppressão brusca do alcool não tem

consequências graves.

Pathologia. externa. = Na presença d'um tumor maligno não

deve haver cirurgiões arrojados.

Partos.—A virgindade e a concepção são compatíveis. Hygiène.= A agua é a melhor das bebidas.

Visto Pode imprimir-se 2v£e>ra.ei3 C a l d a s

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E; R RATA

A pag. 47, ultima linha, onde se lê L'âgé deve lêr-se L..., «£-<£

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