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TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL. De entre as primeiras teorias do Comércio Internacional figura a:

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TEORIAS DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

De entre as primeiras teorias do Comércio Internacional figura a:

A teoria Mercantilista (economia política da construção dos estados), a qual é uma série de princípios defendidos nos séculos XVII e XVIII – 1500 a 1750 – que surgiram numa altura em que começavam as grandes descobertas no mundo, em que se verificava o crescimento da população, o aparecimento de uma nova classe de comerciantes, em simultâneo com a descoberta de metais preciosos no Novo Mundo. Esta teoria mercantilista defende os seguintes princípios:

1) os países devem acumular o máximo de reservas de prata e de ouro, as quais eram aceites como meio de pagamento e representavam a riqueza de uma nação. Por consequência, devem limitar as importações e maximizar as exportações.

2) as trocas internacionais são um jogo de soma zero. Isto significa que, se um parceiro na troca ganha, o outro perde.

3) assumindo quantidades fixas mundiais de ouro e de prata, o comércio internacional apenas serve para promover a sua redistribuição.

4) só existiam três elementos numa economia: a indústria transformadora, o elemento rural e o elemento formado pelos territórios coloniais. O sucesso de uma economia dependia dos comerciantes e o principal factor produtivo era o trabalho. O valor das mercadorias correspondia ao valor do trabalho incorporado para as produzir. Os mercantilistas acreditavam que a economia operava aquém do pleno emprego, pelo que o aumento na oferta de moeda através da política de acumulação de reservas em ouro e prata viria aumentar a produção e o emprego e não traria inflacção. Assim, um saldo positivo na balança comercial só traria benefícios através dos encaixes de moeda de ouro;

5) os países deveriam subsidiar as exportações e limitar as importações através de quotas e tarifas. No entanto, deveriam impor tarifas muito pequenas sobre a importação de matéria primas. Isto porque estas poderiam ser transformadas no país deixando um elevado valor acrescentado e revendidas sob a forma de produto final nas colónias;

6) o trabalho deveria ser mantido barato, sendo os salários fixados institucionalmente, de modo a evitar subidas de salários portadoras de quedas na produtividade.

CRÍTICAS À TEORIA MERCANTILISTA

A primeira crítica à teoria Mercantilista foi lançada por David Hume, que formulou, nos finais do século XVIII -1752, uma teoria do mecanismo do fluxo preço-divisas em moedas de ouro e prata – a qual ataca o argumento da teoria mercantilista de que uma

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nação poderia continuar indefenidamente a acumular divisas em ouro e prata sem nunca vir a perder a sua posição competitiva internacional.

David Hume aponta para as seguintes fraquezas da teoria mercantilista:

1) o mais importante não são as quantidades acumuladas de moedas em ouro e prata, mas as quantidades de bens e serviços que aquelas permitem adquirir. Os países desejam diversificar o seu consumo. No entanto, segundo a teoria mercantilista, os países exportadores acumulariam todo o ouro e toda a prata, enquanto que os países importadores acumulariam todos os bens e serviços. Logo, isto seria indesejável para os consumidores dos primeiros países que ficariam com todo o ouro mas sem bens e serviços para consumir;

2) os países exportadores ao aumentarem as suas posses de moedas de ouro e de prata → ↑ oferta de moeda → ↑ preços → ↓ exportações e ↑ importações → pelo que se anula o efeito inicial de acumulação de ouro e prata, devido ao pagamento das importações mais elevadas (em maior volume). A acumulação de ouro pelos países com uma balança de mercadorias excedentária aumenta a oferta de moeda em ouro nesses países e, logo, a inflacção. Isto teria como consequência uma perda de competitividade desses países que reduziriam assim os seus excedentes. Por outro lado, a perda de moeda em ouro pelos países deficitários (que agora pagavam mais pelos bens que importam) reduziria a oferta de moeda nesses países e, logo, os preços, aumentando a competitividade das suas exportações e permitindo-lhes reduzir o déficit. A conclusão é a de que não é possível para uma nação manter para sempre uma balança de mercadorias excedentária, como defendiam os mercantilistas. O movimento de moeda em ouro entre os países serve como um mecanismo de ajustamento automático, levando a um equilíbrio da balança de mercadorias (saldo zero). Este modelo assenta nas seguintes hipóteses:

1) tem de existir uma ligação formal directa entre a quantidade de moeda em circulação e o nível de preços, do tipo da que é fornecida pela teoria quantitativa da moeda, ou seja: MsV=PY, onde:

Ms – representa a oferta de moeda;

V – representa a velocidade de circulação da moeda; P – representa o nível geral de preços (inflacção); Y – representa o produto real (o PNB ou o PIB real).

Admitimos que o V se mantém constante ao longo do tempo, porque depende de hábitos de pagamento que estão institucionalizados e, portanto, são fixos de um período para o outro, e que Y também é fixo ao nível de pleno emprego. Assim, qualquer mudança na oferta de moeda implica uma igual mudança no nível geral de preços;

2) a procura de bens e serviços transaccionáveis (importados e exportados) é elástica em relação ao preço, como é razoável de supor se admitirmos que no longo prazo os consumidores ajustam melhor (em maior quantidade) o seu consumo a pequenas alterações do preço. Assim, uma elevação no preço tende a baixar os gastos no país importador com o bem transacionável exportado pelo país que era excedentário (ou seja, a baixar as exportações desse bem no país excedentário). Por seu lado, a baixa no preço no país importador (que era

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deficitário) tende a aumentar os gastos com esse bem no outro país (ou seja, a aumentar as exportações do país deficitário). Tudo isto de modo a garantir que o mecanismo do fluxo preço-divisas em moedas de ouro e prata, garanta o reequilíbrio da balança de mercadorias entre os dois países;

3) existe concorrência perfeita, quer nos mercados do produto, como dos factores. Assim, existe uma relação directa entre os preços e os salários. Ou seja, em equilíbrio de concorrência perfeita os salários (w) são dados pela expressão: w=p x PmgaL, onde PmgaL representa o produto marginal do

trabalho. Para além disso a concorrência perfeita admite uma perfeita flexibilidade dos salários, quer no sentido descendente, como ascendente. 4) Existe um padrão ouro. Sob um sistema deste tipo todas as moedas estão

indexadas ao ouro e, logo, entre si. O ouro pode ser comprado e vendido sem restrições e os governos não anulam os efeitos da entrada ou saída dos fluxos em ouro (moedas de ouro) através de políticas que influenciem a oferta de moeda. Isto é o suficiente para podermos estabelecer a ligação entre os movimentos de entrada e saída de divisas em ouro e a oferta de moeda de uma nação.

A segunda crítica à Teoria Mercantilista é a crítica de Adam Smith:

O comércio internacional não é um jogo de soma nula, pois todos os intervenientes podem ganhar. Se os bens forem produzidos nos países que utilizam menos quantidade de trabalho é possível aumentar o nível global do produto a distribuir pelo total dos países, aumentando assim o seu bem estar.

O modelo de Adam Smith baseia-se na teoria do valor do trabalho, ou seja, o valor de um produto mede-se pelo valor do trabalho incorporado na sua produção e que a taxa de troca doméstica (ou de transformação) dos produtos é determinada pelo valor relativo desse trabalho incorporado.

A idéia de Smith era a de que a riqueza de uma nação dependia da sua capacidade produtiva e não da posse de metais preciosos. A divisão e especialização do trabalho provocada pelo comércio internacional deverá trazer ganhos de produtividade a serem repartidos pelos parceiros intevenientes nas trocas. O interesse pessoal é o motor do crescimento e a concorrência o mecanismo regulador. Portanto, não havia necessidade do estado controlar a economia, devendo apenas servir de garante ao livre funcionamento do mercado, ou seja, daquela mão invisível que garantia o equilíbrio e a maximização do bem-estar individual e social. Smith é, pois, o defensor de uma política de laissez-faire. Aplicando estas idéias ao comércio internacional Smith concluiu que os países se devem especializar na exportação dos bens em cuja produção detivessem uma vantagem absoluta e deveriam importar os bens em que o outro país interveniente nas trocas detivesse uma vantagem absoluta.

Vamos ilustrar o modelo de Adam Smith através de um exemplo simples com dois países, Portugal (p) e Inglaterra (i), supondo que Portugal tem uma vantagem absoluta na produção de vinho (v) e a Inglaterra na produção de textêis (t). As respectivas funções de produção caracterizam-se por possuirem coeficientes fixos, nomeadamente, pLv e pLt, iLv e iLt, descritos no quadro seguinte:

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Textêis (t) Vinho (v) Inglaterra (i) iLt= 1 h/m iLv = 4h/g

Portugal (p) pLt=2 h/m pLv =3h/g

Onde:

iLt → representa as horas de trabalho (h) necessárias para produzir 1 metro de tecido

(m) em inglaterra;

iLv → representa as horas de trabalho (h) necessárias para produzir 1 garrafa de vinho

(g) em inglaterra;

pLt, → representa as horas de trabalho (h) necessárias para produzir 1 metro de tecido (t)

em portugal;

pLv → representa as horas de trabalho (h) necessárias para produzir 1 garrafa de vinho

(g) em portugal; h –horas de trabalho; m – metros de tecido; g – garrafões de vinho.

Repare-se que a Inglaterra possui uma vantagem absoluta na produção de textêis porque cada metro de tecido produzido na Inglaterra exige menos horas de trabalho (1h) do que em Portugal (2h). Do mesmo modo Portugal possui uma vantagem absoluta na produção de vinho porque cada garrafão de vinho produzido em Portugal exige menos horas de trabalho (3h) do que em Inglaterra (4h). Ou seja a Inglaterra é mais produtiva na produção de tecido do que Portugal e pelo contrário, Portugal é mais produtivo na produção de vinho do que a Inglaterra.

Se Portugal se especializar na produção de vinho e trocá-lo por tecido com a Inglaterra e esta fizer o contrário consegue-se aumentar o bem-estar de ambos os países, pelo que deixamos de estar em presença de um jogo de soma nula, para passarmos a estar perante um jogo de soma positiva. Se os termos (taxa de troca) de troca internacionais de um bem forem mais vantajosos para um país do que a taxa de transformação interna (taxa de troca doméstica) então é preferível para esse país importar desse bem. Mais concretamente:

No nosso exemplo a Inglaterra só estará disposta a importar de Portugal 1 garrafão de vinho, produzindo menos 1 garrafão de vinho, se receber em troca mais tecido do que no mercado doméstico. Ou, o que é o mesmo, só estaria disposta a produzir mais um garrafão de vinho se isso custasse menos em termos de tecido (que deixaria de produzir) no mercado doméstico do que no internacional. Aquilo que a Inglaterra recebe ou, paga, em troca, no mercado internacional depende da taxa de troca mundial (TTM) e aquilo que recebe, ou paga, em troca no mercado doméstico depende da taxa de troca doméstica, ou, taxa de transformação (TT). Estudemos essas taxas no caso presente e tiremos as devidas conclusões.

Pergunta: Onde é que custa mais à Inglaterra obter mais 1 garrafão de vinho, importando, ou produzindo? (note-se que também se poderia colocar a questão de

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saber onde é que é a Inglaterra recebe mais em troca por produzir menos um garrafão de vinho?).

Resposta:

Importando mais um garrafão de vinho tem de pagar 3 horas de trabalho a Portugal, o que em Inglaterra equivale a 3m de tecido; produzindo internamente , terá de pagar (gastar) 4 horas de trabalho, ou seja, 4 metros de tecido (em Inglaterra).

Vamos representar a Taxa de Troca Mundial de tecido por vinho (TTM t,v)

TTM t,v = 3/1 = 3 (por cada garrafão de vinho a mais importado pela Inglaterra, esta tem

de ceder três metros de tecido a Portugal)

Taxa de Transformação (troca) doméstica de tecido por vinho na Inglaterra (TTi t,v)

TTi t,v = 4/1 = 4 (por cada garrafão de vinho produzido a mais na Inglaterra, esta gasta 4

horas, pelo que terá de ceder (produzir a menos) 4 metros de tecido.

Concluindo: TTi t,v = 4 > TTM t,v = 3, pelo que custa mais à Inglaterra produzir mais

um garrafão de vinho, do que importá-lo de Portugal.

Pergunta: Onde é que custa mais a Portugal obter mais 1 metro de tecido, importando, ou produzindo? (note-se que também se poderia colocar a questão de saber onde é que é Portugal recebe mais em troca por produzir menos um metro de tecido?)?

Resposta:

Importando mais 1 m de tecido, tem de pagar à Inglaterra o equivalente a 1 hora de trabalho, ou seja, 1/3 de garrafas de vinho; produzindo internamente terá pagar (gastar) 2 horas de trabalho, ou seja, o equivalente a 2/3 de garrafas de vinho. Taxa de troca mundial de vinho por tecido TTM v,t= 1/3

(por cada metro de tecido importado por Portugal, ele tem de ceder (pagar) à Inglaterra 1/3 de garrafões de vinho)

Taxa de Transformação (troca) doméstica de vinho por tecido em Portugal (TTp v,t)

TTp v,t = 2/3 (por cada metro de tecido produzido a mais em Portugal este tem de ceder

(produzir a menos) 2/3 garrafões de vinho.

Concluindo: TTp v,t = 2/3 > TTM v,t= 1/3, pelo que custa mais a Portugal produzir

mais um metro de tecido, do que importá-lo da Inglaterra.

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David Ricardo mostrou que os benefícios para os países que entrem no comércio internacional são ainda maiores do que aqueles Adam Smith apontou. A demonstração é dada pelo modelo de Ricardo exposto a seguir.

O MODELO DE DAVID RICARDO Hipóteses do modelo de David Ricardo:

1) Existe concorrência perfeita, tanto no mercado do produto, como dos factores. Logo os preços são constantes em ambos os mercados, e são iguais ao Cmga (Rmga=p=Cmga) no ponto de maximização do lucro;

2) Os produtos são todos homogéneos;

3) existe perfeita informação sobre os produtos e mercados; 4) cada país tem uma dotação fixa de factores;

5) todos os recursos estão a ser plenamente utilizados; 6) os factores são homogéneos, i.e., substitutos perfeitos;

7) a tecnologia é uma tecnologia de coeficientes fixos dentro do mesmo país; 8) as tecnologias diferem de país para país;

9) os custos de transporte são nulos, pelo que o único elemento que distingue os produtos de um país dos de outro país, aos olhos dos consumidores, são os respectivos preços relativos;

10) Existe mobilidade perfeita dos factores de produção entre as várias indústrias de um mesmo país;

11) Existe completa imobilidade dos factores de produção entre os diferentes países;

12) Existem dois países A e B, dois bens x e y, e um único factor de produção - o trabalho, L.

MODELO DE RICARDO SEM COMÉRCIO

Vejamos, então, como funciona o Modelo de Ricardo sem comércio, ou seja, em autarcia (num país A).

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1) A fronteira das possibilidades de produção → são todas as combinações alternativas de X e Y que podem ser produzidas num país, com dotações fixas dos factores. Esta fronteira é definida a partir da tecnologia, e das dotações dos factores;

2) Representemos as dotações em trabalho do país A por LA. A tecnologia de produção é traduzida pelos coeficientes de produção aLX e aLY, que são as quantidades de trabalho necessárias para produzir uma unidade do produto X, ou Y. Ou seja: aLX = LA/X e aLY = LA/Y.

Passemos agora ao modelo:

Note-se que existe uma relação entre os coeficientes de produção e a produtividade do trabalho. Quanto maior for a produtividade, menor será o respectivo coeficiente, pois cada unidade do produto utiliza menor quantidade de trabalho.

Por exemplo, suponhamos que LA = 100; aLX = 2; e aLY =5. Então:

se Y=0 (i.e., se o país A só produzir do bem X) ⇒ LA = aLX X⇒ X=LA/aLX = 100/2

=50

se X=0 (i.e., se o país A só produzir do bem Y) ⇒ LA = aLX Y ⇒ Y=LA/aLY = 100/5

=20

Mas, o país A pode produzir uma variedade de combinações de X e Y. Cada unidade de X cedida permite produzir (aLX/aLY)=(2/5) unidades de Y. Isto porque ao produzir menos uma unidade de X libertaram-se duas unidades de trabalho; mas, para produzir mais uma unidade de Y, são necessárias 5 unidades de trabalho. Assim, com as duas unidades de trabalho libertas da produção de menos uma unidade de X conseguimos produzir + 2/5 unidades de Y.

A inclinação negativa da fronteira de possibilidades de produção pode ser deduzida do seguinte modo:

Por definição ao longo dessa fronteira todo o trabalho está a ser empregue, ou seja:

LA = aLX X + aLY Y

Como a dotação de trabalho, LA é fixa, então ∆ LA= 0, quando caminhamos ao longo da fronteira de possibilidades de produção, variando as quantidades produzidas de X e Y, temos que:

∆ LA= 0 = aLX ∆X + aLY ∆Y ➨ (∆Y/∆X) = (aLX/aLY) → inclinação da fronteira de possibilidades de produção (como se vê esta inclinação é constante, pelo que se

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conclui que no caso de uma função de produção com coeficientes fixos a fronteira de possibilidades de produção é uma recta).

O valor absoluto da inclinação da fronteira de possibilidades de produção, é chamado de taxa marginal de transformação (TMT). No caso de considerarmos a TMTY,X =

(∆Y/∆X)=(aLX/aLY) esta taxa mede o custo de oportunidade do bem X, ou seja, quantas unidades de Y vale uma unidade de X (a mais, ou a menos).

Note-se que, do mesmo modo, o custo de oportunidade do bem Y, ou seja, quantas unidades de X vale uma unidade de Y (a mais, ou a menos) seria dado por TMTX,Y =

(∆X/∆Y)=(aLY/aLX).

Em autarcia (i.e., sem comércio), os residentes do país A podem produzir qualquer combinação de X e Y sobre a fronteira de possibilidades de produção, ou dentro dela. Mas escolhem sempre produzir sobre a dita fronteira, pois caso contrário estariam a desperdiçar recursos (neste caso horas de trabalho), podendo aumentar o produto e o bem-estar.

Portanto, o modelo de Ricardo implica que a fronteira de possibilidades de produção seja uma recta. É que o custo de oportunidade do bem X (ou Y) é sempre o mesmo, independentemente do nível do produto X ou Y. Por isso se diz que o modelo de Ricardo é um modelo de custos constantes (custos de oportunidade constantes). Isto pode ser visualizado através da Fig. 2.1 do texto.

Concluindo, o modelo de Ricardo em autarcia implica que:

O conjunto de oportunidades de produção é o conjunto delimitado pela fronteira de possibilidades de produção.

O conjunto de oportunidades de consumo continua a ser o mesmo conjunto, ou seja, coincide com o conjunto delimitado pela fronteira de possibilidades de produção, porque só se consome o que se produz, uma vez que nada se troca (não há comércio).

CONSUMO EM AUTARCIA

Admitimos que o nível de satisfação ou bem-estar dos residentes do país A, depende das quantidades consumidas de ambos os bens, e que os residentes procuram maximizar a sua satisfação.

Utiliza-se a técnica gráfica das curvas de indiferença para representar as preferências dos consumidores.

A curva de indiferença mostra todas as combinações de X e Y que deixam os consumidores indiferentes, pois dão-lhes a mesma satisfação.

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1) tem inclinação negativa, como se pode ver pela Figura 2.2 do texto.

2) são convexas em relação à origem. Isto implica que a TMSY,X = (∆Y/∆X) diminui à

medida em que descemos ao longo da curva em direcção ao eixo do X (eixo horizontal).

Ou seja, o montante de Y que estamos dispostos a ceder em troca de cada unidade adicional do bem X, vai sendo cada vez menor, pois, cada vez temos menos quantidade do bem Y em relação ao bem X. Isto significa que o bem X vai tendo cada vez menos valor em termos do bem Y, ou que o bem Y vai tendo cada vez mais valor (menor quantidade que estamos dispostos a ceder) em relação ao bem X.

Por isso a curvas de indiferença vão ficando cada vez menos inclinadas em valor absoluto, à medida em que caminham de esquerda para a direita, substituindo Y por mais do bem X.

3) As curvas de indiferença não se intersectam; cada combinação de X e Y produz um único nível de satisfação.

4) Curvas de indiferença mais para cima e para a direita estão associadas a níveis de satisfação cada vez maiores, ou seja, mais é preferido a menos.

Admitimos que as curvas de indiferença utilizadas são as curvas de indiferença sociais, as quais representam as preferências de todos os consumidores em grupo (ou do consumidor médio representativo da sociedade), ou seja, da sociedade.

Isto coloca o problema da distribuição do rendimento, pois não distinguimos o caso de um país com os dois bens distribuídos por um só indivíduo, e o caso de outro país com os dois bens distribuídos uniformemente por todas as pessoas. Não há um modo de comparar a perda de utilidade por parte de um indivíduo (se o aumento da produção de ambos os bens não for para esse indivíduo mas se for todo para o outro), com o ganho de utilidade por parte do outro (se este outro beneficiar de todo o aumento na produção).

Assim, por enquanto, dizemos que mais de ambos os bens aumenta a satisfação potencial de todos os indivíduos. Se aumenta ou não a satisfação actual de cada um esses indivíduos, isso depende da distribuição do rendimento.

EQUILÍBRIO EM AUTARCIA

O país vai maximizar a sua satisfação (as possibilidades de consumo) sujeito à restrição imposta pela sua fronteira de possibilidades de produção. Isto pode ser visto na Figura 2.4 do texto.

O equilíbrio dá-se no ponto A* quando se atinge a curva de indiferença UA

1, mais

acima e à direita possível e, ainda, tangente à fronteira de possibilidades de produção.

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Este é o equilíbrio em autarcia. Naquele ponto a taxa marginal de transformação é igual à taxa marginal de substituição, pois a inclinação da fronteira de possibilidades de produção (dada pela 1ª taxa) é igual à inclinação da curva de indiferença (dada pela 2ª taxa). Essa inclinação comum no ponto de óptimo traduz o custo de oportunidade do bem X, em termos do bem Y (por exemplo, quanto temos de ceder do bem Y para produzir mais uma unidade do bem X, i.e., TMTY,X=∆Y/∆X,

ou, por outras palavras, quanto nos custa a produção de uma unidade adicional de X em termos daquilo que temos de deixar de produzir de Y (ou que exigimos a mais de Y como pagamento por menos uma unidade de X). Se deixarmos de produzir uma unidade de X (se produzirmos uma unidade a menos de X), libertamos aLX unidades de

trabalho; como, para produzir mais uma unidade de Y necessitamos de aLY unidades de

trabalho (L), apenas podemos produzir Y/X=aLX/ALY unidades adicionais de Y.

Portanto, podemos dizer que cada unidade de X a mais implica um sacrifício de aLX/aLY unidades de Y, ou seja, o custo de oportunidade de X é dado por aLX /aLY

unidades de Y. Ou então, o que é o mesmo, podemos dizer que cada unidade de X a menos permite produzir mais aLX/aLY unidades de Y.

De modo inverso poderíamos dizer que o custo de oportunidade de Y, em termos do bem X seria dado pelo número de unidades de X a menos que teríamos de deixar de produzir para podermos produzir uma unidade adicional de Y (ou que exigimos a mais de X como pagamento por menos uma unidade de Y), ou seja, TMTY,X= ∆X/∆Y=

aLY/aLX unidades de X.

No caso do exemplo apresentado (aLX=2 e aLY=5), o custo de oportunidade de X seria

dado por TMTY,X=∆Y/∆X= aLX/ALY=px/py=2/5 e o custo de oportunidade de Y é dado

por TMTX,Y=∆X/∆Y= aLY/ALX =5/2)

Como admitimos a existência de concorrência perfeita em todos os mercados o custo de oportunidade (que é o custo marginal relativo da produção de uma unidade adicional de cada bem, ou seja o rácio dos custos marginais de oportunidade) é igual ao preço relativo de cada bem. Assim, a referida inclinação comum também representa os preços relativos do bem X em autarcia, ou seja, (pX/pY)A, pois, ∆Y/∆X= aLX/ALY= aLX

w/ALY w =CmgaX/CmgaY= (pX/pY)A.(admtindo a concorrência perfeita, ou seja, wX=wY)

No nosso exemplo o preço relativo do bem X é dado por pX/pY=(2/5)/1=2/5, porque

por cada unidade adicional do bem X temos de deixar de produzir aLX/aLY = pX/pY do

bem Y. Ou então, por cada unidade a menos do bem X exigimos em troca aLX/aLY=

pX/pY =2/5 do bem Y.

Notemos que no país A admitimos que se verificam as seguintes hipóteses:

1) como só existe um factor produtivo constante, que é o trabalho LA, com salários constantes w, temos que no caso do bem X, O CT (custo total) de produção de X, é dado pela seguinte expressão:

CTALX = (LAX / XA) wX A

XA

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∆CTALX / ∆XA = ∆[(LAX/XA) ∆XA wX A ]/ ∆XA ⇒ ∆CTALX/∆XA = (LAX / XA) wXA∆X A / ∆XA = aLX wXA∆X A / ∆XA = aLX wXA =CmgaLX A

O mesmo para o bem Y, onde o custo total se pode escrever como:

CTALY = aLY YA wY A

Logo, o custo marginal será:

∆CTALY/∆YA = [(LAY/YA) ∆YA wY A ]/∆YA ⇒ ∆CTALY/∆YA = aLY wY A ∆YA/ ∆YA = aLY wY A = CmgaLYA

Ora, como existe concorrência perfeita o CmgaLX = CmgaLY, senão não estariamos a maximizar o lucro, pois poderiamos aumentar a produção cujo custo marginal fosse mais baixo, transferindo trabalho da produção cujo custo marginal fosse mais elevado.

Então, no ponto de óptimo, correspondente à maximização do lucro, temos que:

CmgaLXA = aLX wX A = LA/XA wX A = CmgaLYA = a LY wY A = LA/YA wY A ➨ aLX wX A = aALY wY A

2) Como existe concorrência perfeita em todos os mercados, o preço de cada bem tem de vir igual ao seu Cmga, (dando origem, assim, à curva da oferta em concorrência perfeita, determinada pelas igualdades, p=CmgaA

LX e p=CmgaALY). Senão

caso o preço se situasse acima do Cmga da respectiva indústria (X ou Y) apareciam lucros anormais. Isto atrairia outras firmas, até que esses lucros desaparecessem, ou seja, até que o p=cmga de novo.

Portanto: pX = aLX wX A

e pY = aLY wY A

3) dada a hipótese de concorrência perfeita no mercado de trabalho, o salário tem de ser igual em ambas as indústrias X e Y, devido à perfeita mobilidade do factor trabalho, pelo que podemos escrever o equilíbrio no modelo de Ricardo em autarcia do seguinte modo:

wA= pX/aLX = pY/aLY ➨ pX aLY = pY aLX ➨ aLX/aLY = pX/pY ➨ Ou seja, no ponto de óptimo a TMTY,X = TMSY,X.

onde:

1) a TMTY,X representa o custo de oportunidade de X em termos de Y imposto pela

tecnologia de produção; e

2) a TMSY,X, representa o custo de oportunidade de X em termos de Y imposto pelas

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Acabamos de expor o modelo de Ricardo sem comércio.

O MODELO DE RICARDO COM COMÉRCIO

Quando um país entra no comércio internacional, a fronteira de possibilidades de consumo deixa de coincidir com a fronteira de possibilidades de produção, passando a ser maior do que esta. Isto porque o comércio internacional permite consumir mais bens, justamente aqueles que não são produzidos pelo país mas pelo outro país com quem se estabelecem as trocas. São estas as principais vantagens do comércio internacional. É que aumentando o conjunto de possibilidades de consumo de um país, aumenta-se o bem-estar desse país.

Só existem vantagens no comércio internacional se as fronteiras de possibilidade de produção tiverem inclinação diferentes, reflectindo produtividades do factor trabalho diferentes.

Os equilíbrios em autarcia, nos países A e B, são descritos, respectivamente, pelas Figuras 2.4 e 2.5 do texto de base, e correspondem aos pontos A* e B*.

O equilíbrio, ou ponto de óptimo, em autarcia no país B traduz-se (tal como no caso do país A), pela seguinte condição:

CmgaXB CmgaYB 7 7 pBX = bLX wBX e p B Y = bLY w B Y

Ora, como, por hipótese, temos que:

wBX = w B Y = w B resulta que: wB = (pBX/bLX) = (pBY/bLY) ➨ (pBX/pBY) = (bLX/bLY) ➨TMSB X,Y = TMTBX,Y ou seja:

o custo oportunidade para os consumidores, de acordo com as suas preferências, tem de ser igual ao custo de oportunidade imposto pela tecnologia de produção vigente.

Para demonstrar que o comércio internacional pode aumentar o bem-estar, ou as possibilidades de consumo, dos residentes dos países A e B, é necessário mostrar, primeiro, que, a afectação de recursos correspondente aos pontos de óptimo em autarcia não maximiza o produto total dos dois países, ou, neste caso, o produto mundial. Ou seja, ambos os países podem ter um produto total maior, retirando recursos

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de uma indústria para outra e produzindo quantidades de X e Y diferentes das dadas por X* e Y*. Isto, de modo a permitir aumentar o montante total disponível de um produto, sem diminuir a produção total do outro produto. Este resultado foi demonstrado, em primeiro lugar, por Adam Smith.

ADAM SMITH E O PRINCÍPIO DA VANTAGEM ABSOLUTA.

Relembremos que Adam Smith defende que o comércio traz vantagens para ambos os países, se um dos países tiver uma vantagem absoluta na produção de um dos bens. Isto significa que ele produz esse bem com menor quantidade de trabalho do que o outro país. Assim, o país A terá uma vantagem absoluta na produção do bem X se, aLX < bLX, e o país B terá uma vantagem absoluta na produção do bem Y se, bLY < aLY (ou, o que é o mesmo, o país A terá uma desvantagem absoluta na produção do bem Y, se aLY > bLY). Este caso pode ser visto no Quadro 2.1, do livro de texto, reproduzido a seguir.

Caso Geral Exemplo Numérico

País A País B País A País B

Unidades de trabalho (horas) necessárias para produzir uma unidade de X aLX bLX 2 3 Unidades de trabalho (horas) necessárias para produzir uma unidade de Y aLY bLY 5 4

De acordo com a teoria da vantagem absoluta, cada país deve especializar-se e exportar do bem em que detém uma vantagem absoluta, e deve importar o bem no qual detém uma desvantagem absoluta.

No exemplo do Quadro 2.1 o país A deve especializar-se na produção do bem X. Vejamos o que sucede ao produto total se o país A produzir menos uma unidade de Y e se o país B produzir mais uma unidade de Y. Se, a partir do ponto de equilíbrio inicial em autarcia, A*, o país A produzir menos uma unidade de Y, liberta cinco unidade de trabalho; se, a partir do ponto B* o país B produzir mais uma unidade do bem Y, ele necessita apenas de quatro unidades de trabalho. Fica assim livre, uma unidade de trabalho, para a produção de maior quantidade de X, ou de maior quantidade de Y. A conclusão é que o que sucedeu foi um aumento do produto total. Quanto maior a vantagem absoluta de B na produção de Y, i.e., quanto menor for bLY, maior será a quantidade de trabalho libertada, a qual é igual a (aLY - bLY). O mesmo raciocínio se aplica se produzirmos menos uma unidade de X no país B, em que detém uma desvantagem absoluta, e mais uma unidade de X no país A, em que detém uma vantagem absoluta.

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Todos estes ganhos em produto correspondem a ganhos de produtividade, pois estamos a produzir mais de cada bem no país que o produz com menor quantidade de trabalho e, logo, onde o trabalho é mais produtivo. Assim, Adam Smith demonstrou que o comércio não é um jogo de soma nula. Ou seja, ambos os países podem beneficiar com a especialização e com o comércio daí resultante.

Mas, de acordo com esta teoria de Adam Smith, não pode haver comércio se um dos dois países tiver uma vantagem absoluta na produção de ambos os bens.

DAVID RICARDO E O PRINCÍPIO DA VANTAGEM COMPARATIVA

David Ricardo demonstrou que o comércio pode continuar a ser benéfico para ambos os países, mesmo se um dos países detiver uma vantagem absoluta na produção de ambos os bens X e, Y, ou seja, se o outro país detiver uma desvantagem absoluta na produção de ambos os bens. Para este economista o que interessa é o conceito de vantagem comparativa.

Dizemos que o país A tem uma vantagem comparativa na produção do bem X se (aLX/aLY) < (bLX/bLY), ou seja, se o custo de oportunidade da produção de uma unidade adicional do bem X no país A (aLX/aLY), for menor do que esse mesmo custo no país B (bLX/bLY).

Note-se que o custo de oportunidade do bem X no país A é dado por aLX/aLY porque:

aLX = (LA/XA) e aLY = (LA/YA), pelo que (aLX/aLY)= ( LA/XA) x (YA/ LA) = (YA/XA) x (LA/ LA) = (YA/XA), ou seja, o custo de oportunidade de XA.

Podemos calcular as vantagens comparativas através do exemplo do Quadro 2.2 do livro de texto (em que bLX=8 e bLY=10 ), reproduzido a seguir. O custo de oportunidade do bem X no país A é de (aLX/aLY)= 2/5 de Y( pois a produção de mais uma unidade de X equivale a -2/5 de Y). Por sua vez, o custo de oportunidade do bem X no país B é de (bLX/bLY)= 8/10=4/5 de Y (pois uma unidade a mais de X equivale a –(8/10) = - 4/5 de Y). Como 2/5<4/5, o país A tem uma vantagem comparativa na produção de X. A vantagem comparativa do país A na produção do bem X existe porque o trabalho é mais produtivo na produção do bem XA do que na produção do bem XB (i.e., aLX<bLX). Concluindo, o custo de oportunidade de XA (aLX/aLY=2/5) é menor do que XB (bLX/bLY=4/5).

Notemos que o país A também tem uma vantagem absoluta na produção do bem X, pois 2<8 (aLX<bLX ).

Quadro 2.2.

(15)

País A País B País A País B Unidades de trabalho (horas) ncessárias para produzir uma unidade de X aLX bLX 2 8 Unidades de trabalho (horas) ncessárias para produzir uma unidade de Y aLY bLY 5 10

Caso Geral Exemplo Numérico

País A País B País A País B

Custo de oportunidade Bem X aLX / aLY bLX/ bLY (2/5)Y (8/10)Y=(4/5)Y Custo de oportunidade do Bem Y aLY/ aLX bLY/ bLX (5/2)X (10/8)X=(5/4)Y

Por seu lado, o país B tem uma vantagem comparativa na produção do bem Y porque o custo de oportunidade da produção de uma unidade adicional do bem Y no país B é de (bLY/bLX)=(10/8)= (5/4) - isto é, por cada unidade adicional de Y produzida nesse país B temos de deixar de produzir 5

4 unidades de X – enquanto que, no país A, o custo de oportunidade da produção de uma unidade adicional do bem Y é de (aLY/aLX) = (5/2) = [1/(aLX/aLY)] = (repare que este custo equivale a 1/ custo oportunidade do bem X). Portanto, como 5/4< 5/2, o país B tem uma vantagem comparativa na produção do bem Y.

Notemos que o país A também detém uma vantagem absoluta na produção do bem Y, pois aLY<bLY - (5<10) - i.e., o trabalho é menos produtivo na produção de YB do que

na produção de YA.

Apesar do país A deter uma vantagem absoluta na produção de ambos os bens, o comércio internacional pode beneficiar ambos os países.

O princípio das vantagens comparativas afirma que um país beneficia em termos de bem-estar caso se especialize na produção do bem em que detém uma vantagem comparativa, devendo quando entrar no comércio internacional importar o bem em que detém uma desvantagem comparativa.

É que a especialização do país na produção do bem em que possui vantagens comparativas pode aumentar o conjunto de possibilidades de consumo para além do conjunto de possibilidades de produção. Vejamos como?

(16)

Imaginemos que, no nosso exemplo, o país A produz mais uma unidade do bem X para além do ponto de equilíbrio em autarcia, A*. Para isso será necessário deixar de produzir aLX/aLY = 2/5 de Y(custo de oportunidade do bem X no país A).

Adoptando uma política de especialização produtiva, suponhamos que o país B produz menos uma unidade do bem X do que o ponto de equilíbrio em autarcia, B*. Este país B exigirá aumentar a produção do bem Y em bLX/bLY = 4/5 (=8/10). Este é o custo de oportunidade de X no país B em autarcia.

Portanto, a quantidade total do bem X continua a ser a mesma (mais uma unidade em A, e menos uma unidade em B). No entanto a quantidade do bem Y aumentou, pois: diminuiu de 2

5 em A, mas aumentou de 4

5 em B. Logo, o aumento líquido foi de 4 5 2 5 2 5

− = . Notemos que este aumento líquido corresponde à diferença de custos de oportunidade (CO) nos dois países (COXB - COXA = (bLX/bLY) - (aLX/aLY)). Assim,

quanto maior for a vantagem comparativa, maior será o diferencial de custos de oportunidade e, maiores os ganhos da especialização produtiva.

Podemos raciocínar ao contrário (como fizemos na pág 13 atrás quando analisamos o modelo de Smith), produzindo menos uma unidade de Y no país A e mais uma unidade de Y no país B, que o sentido das vantagens comparativas permanece inalterado. Como os países se especializam de acordo com as vantagens comparativas, ou seja, de acordo com os rácios dos coeficientes de produção, as mudanças na produção no sentido inverso, não mudam o sentido de comparação entre esses rácios e, logo, não mudam as vantagens comparativas.

Portanto, ambos os países A e B em autarcia especializar-se-iam totalmente nas produções dos bens X e Y, respectivamente, indo parar aos pontos Ap e Bp da Figura 2.6, do livro de texto. Naqueles pontos maximiza-se a quantidade total produzida de X e Y, dados os recursos e as tecnologias disponíveis.

No entanto, repare-se que os países em autarcia não especializam totalmente as suas produções, senão os residentes de cada país só poderiam consumir do bem em que o país se tivesse especializado, o que contraria a hipótese de que ambos os bens X e Y são considerados bens e, logo, ambos desejados pelos habitantes dos dois países.

EQUILÍBRIO NO MODELO DE RICARDO COM COMÉRCIO INTERNACIONAL

Depois de ocorrida a especialização produtiva de acordo com as vantagens

comparativas, quais os preços relativos, ou termos de troca a que se

dará o comércio? Quantas unidades terá o país A de ceder do seu bem

exportado X, para obter uma unidade adicional do seu bem importado

(17)

Y? E, quantas unidades terá o país B que ceder do seu bem exportado Y,

para obter uma unidade extra do seu produto importado X?

Em primeiro lugar iremos ver que o rácio de preços a que se efectua o comércio mundial (pX/pY)TT, chamado de termos de troca, estará, necessariamente, entre os dois preços relativos em autarcia, nos países A e B, ou seja:

TTA < TT < TTB

(pX/pY)A < (pX/pY)TT < (pX/pY)B

Vejamos, primeiro, o caso do país A.

O país A exporta uma unidade de X se:

O que X vale em O que X vale em termos de Y na termos de Y na troca mundial troca doméstica (i.e., o que o país A i.e., o que o país A exige receber do país B exige receber internamente em termos de Y em termos de Y

por cada unidade por cada unidade de X exportada) de X produzida a menos no mercado doméstico)

7 7 (pX/pY)TT > (pX/pY)A

O país A, de acordo com a sua TMTY,X exigirá (pX/pY)A = (aLX/aLY)= ∆Y/∆X unidades

de Y por cada unidade de X a menos produzida nesse país. Isto representa o que X vale em termos de Y na troca doméstica no país A.

Para que o mesmo país A país queira exportar uma unidade de X para o país B, exigirá, em troca, pelo menos (aLX/aLY) = (pX/pY)A unidades de Y. Isto representa o que X vale em termos de Y para o país A na troca mundial.

Isto significa que o país A só entrará em comércio com o país B, partindo do ponto da sua especialização produtiva Ap, se trocar ao longo de uma recta com inclinação

(18)

(px’/pY)TT>(pX/pY)A=(aLX/aLY)= ∆Y/∆X (correspondente à sua TMTY,X interna), pois

isto traduz o facto de que o bem X vale mais em termos do bem Y na troca internacional, do que na troca em autarcia. Ou seja, o país A obtém do país B o equivalente a (pX’/pY)TT do bem Y em troca de uma unidade de X que exporta para o país B, o que é maior do que os (pX/pY)A do bem Y que o mesmo país obtinha em troca de cada unidade de X produzida a menos em autarcia.

Pelo contrário, o país A importa o bem Y do país B se o preço relativo do bem Y importado for menor do que o preço relativo desse mesmo bem Y em autarcia, ou seja, se (pY/pX)TT < (pY/pX)A.

Vejamos, agora, o caso do país B.

O país B importa uma unidade de X se:

O que X vale em O que X vale em termos de Y na termos de Y na troca mundial troca doméstica (i.e., o que o país B (i.e., o que o país B paga paga

em termos de Y em termos de Y por cada unidade por cada unidade de X importada) de X produzida a menos no mercado doméstico)

7 7 (pX/pY)TT < (pX/pY)B

O país B só importa o bem X a partir do ponto BP se aquilo que tiver de pagar em troca do bem Y no comércio internacional for menor do que o que esse país tem de pagar em troca do bem Y em autarcia.

Por cada unidade adicional de X em autarcia, o país B tem de ceder (pX/pY)B = (∆Y/∆X)Bunidades de Y. Isto representa o que X vale em termos de Y na troca doméstica no país B.

Vejamos o que X custa para o país B em termos de Y na troca mundial em regime de comércio internacional. O país B em comércio internacional terá de ceder (pX/pY)TTde Y. Ora, o país B só troca, partindo da sua especialização produtiva Bp, se

(pX/pY)TT < (pX/pY)B. Ou seja, se tiver de pagar menos pelo bem X (em termos do bem Y) ao país B do que em autarcia. Portanto, o país B só troca com outro país ao longo

(19)

de rectas com menor inclinação (em valor absoluto) ou, relativamente menos inclinadas (em valor relativo), do que a inclinação da fronteira de possibilidades de produção do país B, no ponto Bp.

Mas existe ainda mais uma condição suplementar a impor aos termos de troca internacionais, nomeadamente:

Os termos de troca, ou preços relativos, só serão de equilíbrio se forem preços de equilíbrio para os dois bens. Isto significa que a quantidade do bem X que o país A deseja exportar a determinados termos de troca, deve de ser igual à quantidade do bem X que o país B deseja importar aos mesmos termos de troca.

Quando o país A se abre ao comércio com outro país, a partir do seu ponto de especialização produtiva Ap, os residentes podem escolher consumir qualquer

quantidade de X e Y sobre as rectas de termos de troca, com inclinações (pX/pY)TT. Como com o comércio internacional os residentes do país A podem consumir maiores quantidades de ambos os bens do que em autarcia, eles vão retirar maior satisfação e passar para um ponto situado numa curva de indiferença superior, como, por exemplo, o ponto AC, sobre UA. Isto pode ser visto na Figura 2.8 do texto de base.

O mesmo acontecia ao país B, como se pode ver na Figura 2.9, do livro de texto. As áreas a tracejado são chamadas de triângulo de troca.

Para o país A a base A Ap do triângulo A AC AP representa as exportações do bem X;

a altura, A Ac, representa as importações do bem Y(note-se que o país A não produz nada do bem Y); o valor absoluto da inclinação da recta AC AP, dado por

(PX/PY)TT , representa os termos de troca.

Para o país B a situação é semelhante, como se pode ver na Figura 2.9. Ou seja: a base B BC do triângulo, B BC BP, representa as importações do bem X(o país B não

produz do bem X); a altura, B BP, representa as exportações do bem Y; o valor absoluto da inclinação da recta BC BP, dado por (PX/PY)TT , representa os termos de

troca.

De acordo com a condição que foi admitida de que cada país exporta aquilo que o outro país importa e vice-versa, A AP = B BC; A AC = B BP; e AC AP = BP BC.

Apesar do país B ter uma desvantagem absoluta, tanto na produção do bem X como na produção do bem Y(aLX=2<bLX=8; aLY=5<bLY=10), ou seja, apesar do trabalho no país B ser menos produtivo na produção de ambos os bens, este país continua a beneficiar com o comércio, pois consome mais de ambos os bens do que quando estava em autarcia.

(20)

Logo, conclui-se que os países com baixa produtividade relativa do factor trabalho não deixam de ter vantagens com o comércio, mesmo quando estão a trocar bens trabalho intensivos.

Podemos, também, concluir que os salários sobem em ambos os países com o comércio internacional. Isto porque o comércio internacional, de acordo com a Teoria de Ricardo, obriga cada país a especializar-se na produção do bem em que exibe maior produtividade relativa. Como os salários em concorrência perfeita são iguais à produtividade marginal (w=px PmgaL →w/p=PmgaL) , estes sobem, pois

os p sobem.

Note-se que com o comércio o país A só produz o bem X (que exporta), e o país B o bem Y (que exporta).

Recordemos que as condições de equilíbrio em autarcia nos dois países são dadas por: wA= (p

XA/aLX) = (pYA/aLY)

e

wB= (pXB/bLX) = (pYB/bLY)

Isto porque os trabalhadores em ambos os países têm de produzir de ambos os bens. No caso do comércio internacional as condições de equilíbrio em ambos os países passam a ser dadas por:

wA* = (pXA/aLX)→ pXA= w aLX→ pXA= CMgaAX = CMgaAY

e

wB* = (pXB/bLX)→ pXB= w bLX→ pXB= CmgaBX = CmgaBY

Isto porque no país A só se produz o bem X e no país B o bem Y.

As Figuras 2.8 e 2.9 do livro de texto revelam que PXA e PYB subiram com o

comércio internacional. Como ambos os países deixam de produzir o bem importado, cujo preço desceu em relação ao preço de autarcia (através dos termos de troca internacionais mais baixos) esta descida não faz baixar os salários. Pelo contrário como ambos os países passaram a produzir apenas o bem exportado cujo preço subiu em relação ao preço de autarcia ( através do termos de troca mundiais mais elevados), esta subida dos preços dos bens exportados faz elevar os salários em ambos os países.

Resumindo, sabemos que devido ao comércio internacional cada país só produz o bem que exporta. O país A exporta o bem X aos preços mais altos, (px/py)TT > (px/py)A e, o país B exporta o bem Y aos preços também mais altos, (pY/ px)TT>(pY/ px)B. Como ambos os preços subiram, os salários wA e wB também sobem (pois, note que em concorrência perfeita wA* = pXA/aLX e que wB* = pXB/bLX).

Apesar de termos demonstrado que se os países trocarem de acordo com as suas vantagens comparativas na produção, o comércio internacional traz ganhos de

(21)

bem-estar para todos os países intervenientes no comércio, não está implícito que todos os países beneficiem igualmente com o comércio internacional.

Os ganhos com o comércio internacional serão tanto maiores, quanto maior for a diferença entre os termos de troca internacionais e os termos de troca em autarcia. Assim, se imaginarmos o comércio entre um país grande, cujos termos de troca em autarcia são parecidos com os termos de troca internacionais, e um país pequeno, cujos termos de troca em autarcia são substancialmente diferentes dos termos de troca internacionais, verificamos que os maiores ganhos vão para o país pequeno. Analisemos então o problema da divisão dos ganhos do comércio internacional.

GANHOS COM O COMÉRCIO: TROCA E ESPECIALIZAÇÃO

Uma componente dos ganhos do comércio são os chamados ganhos da troca, os quais resultam do comércio dos bens, aos novos termos de troca ou preços relativos internacionais, permitindo a ambos os países envolvidos na troca consumir a esses novos preços relativos, mas continuar a produzir as mesmas quantidades dos bens que produziam em autarcia, i.e., sem haver especialização produtiva.

Estes ganhos da troca podem ser analisados através da Fig. 2.10 do texto base.

Como os residentes dos países A e B valorizam os bens X e Y de modo diferente, os seus preços relativos também são diferentes.

Assim, no país A, os residentes estão dispostos a produzir menos uma unidade do bem X, se receberem em troca (PX/PY)A unidades do bem Y; no país B por cada unidade de X que produzirem a mais, estão dispostos a pagar (PX/PY)B unidades do bem Y,

Como o país A possui uma vantagem comparativa na produção do bem X, então é porque:

(PX/PY)A< (PX/PY)B

Assim, a troca entre os dois países traz vantagens mútuas, pois cada país valoriza mais o bem que recebe do outro país, do que o bem que tem de dar em troca. Ou seja, aquilo que o país A está disposto a receber em troca, é menor do que aquilo que o país B está disposto a pagar.

Mais em concreto, caso os dois países continuem a produzir nos seus pontos de equilíbrio de autarcia, o país A deseja exportar uma unidade de X para o país B se receber em troca algo mais do que ele está disposto a aceitar receber em troca no mercado doméstico, ou seja, (PX/PY)A- daqui resulta que o país A ganha com a exportação de uma unidade do bem X se receber em troca (PX/PY)TT> (PX/PY)A. Por sua vez o país B aceita importar uma unidade do bem X se o que tiver que pagar por essa unidade for inferior ao que tem de pagar internamente, ou seja, (PX/PY)B-

(22)

daqui resulta que o país B ganha com a importação de uma unidade do bem X se tiver de pagar em troca (PX/PY)TT< (PX/PY)B.

.

Portanto, os termos de troca, ou preços relativos internacionais, (PX/PY)TT têm de se situar entre os dois preços de autarcia, i.e.: (PX/PY)A< (PX/PY)TT< (PX/PY)B. Ou seja, têm de ser maiores do que os do país que exporta e menores dos que os do país que importa.

Os preços relativos exactos aos quais se dá a troca são os que garantem o equilíbrio de mercado, ou seja, que a quantidade de X exportada pelo país A, seja igual à quantidade de X importada pelo país B, e o mesmo em relação ao bem Y.

Ao trocarem sobre a recta correspondente aos novos preços relativos internacionais de equilíbrio, os residentes de ambos os países conseguem aumentar a sua satisfação, pois vão parar as curvas de indiferença mais distantes da origem.

O movimento de UA0 para UA1 na Figura 2.10 do texto representa os ganhos do

comércio para o país A. Eles resultam da nova repartição entre os dois países das mesmas quantidades dos bens X e Y produzidas em autarcia, feita com base nas preferências dos respectivos residentes. Isto significa que a recta (a tracejado) que representa os novos termos de troca internacionais continua a passar pelo ponto A*, ao qual correspondem os respectivos consumos dos bens XA e YA em autarcia, ou seja, aos termos de troca domésticos. Com a rotação, devido aos novos termos de troca internacionais, os consumidores vão parar a uma curva de indiferença mais para cima e para a direita, aumentando o seu bem-estar, pois passam a consumir maiores quantidades de ambos os bens X e Y, no ponto ATT, que é o ponto de tangência entre a nova curva de indiferença U1A e a nova recta de termos

de troca internacionais. Este ganho de bem-estar é devido, únicamente, à mudança nos termos de troca, sem entrar em linha de conta com a especialização produtiva.

GANHOS DE ESPECIALIZAÇÃO

Os ganhos do comércio internacional ultrapassam os ganhos da troca descritos atrás. Existem, ainda, os chamados ganhos da especialização. É que, com a possibilidade de comércio internacional os países deixam de produzir as mesmas combinações de bens do que produziam em autarcia. Cada país especializa-se inteiramente na produção do bem em que possui uma vantagem comparativa. Assim, se o país A se especializar na produção do bem X, em que detém uma vantagem comparativa atinge um equilíbrio no ponto AC da Figura 2.11 do texto, situado sobre uma curva de indiferença UA2, que fica ainda mais afastada da origem. Notemos que o ponto AC

resulta da tangência entre a recta que passando pelo ponto de especialização produtiva AP1, possui uma inclinação que traduz os termos de troca internacionais

1 Notemos que, neste caso, já não é a recta de termos de troca internacionais que passa pelo ponto de

(23)

e, a curva de indiferença mais acima e á direita possível, U2A. O mesmo sucede com

o país B. No caso do país A, estes ganhos com a passagem de UA1 para UA2

representam os ganhos da especialização.

PROCURA E OFERTA EM CONDIÇÕES DE CUSTOS CONSTANTES Podemos apresentar os resultados do comércio internacional através das curvas da procura e da oferta, o que facilita a determinação dos termos de troca, ou seja o preço relativo internacional.

PROCURA E OFERTA EM AUTARCIA

Em autarcia é como se existissem quatro mercados, um para cada bem, como se pode ver na Figura 2.12 do livro de texto. Em cada país o preço relativo de equilíbrio em autarcia é determinado pela intersecção da curva da oferta e da procura.

A curva da procura em autarcia, com inclinação descendente, representa as preferências dos consumidores.

A curva da oferta em autarcia, representa o custo de oportunidade de produzir cada bem em cada país.

O modelo de Ricardo implica que até ao ponto correspondente ao máximo produto que o país pode produzir a curva da oferta é uma recta horizontal, pois os custos de oportunidade são constantes. Naquele ponto a curva da oferta torna-se vertical, correspondendo aos pontos das intersecções da fronteira das possibilidades de produção, com os eixos dos X e dos Y.

Nos mercados de concorrência perfeita, o preço de cada bem é igual ao seu custo de oportunidade e a curva formada pela igualdade do preço relativo de cada bem e do custo de oportunidade, é a curva de oferta da firma em concorrência perfeita. Os pontos de intersecção das curvas da procura e da oferta, correspondem aos pontos, (XA*; XB*) e (YA*; YB*) da Figura 2.12.

Ao preço relativo (PX/PY)A de autarcia, o país A em equilíbrio produz XA*,YA*; ao preço relativo (PX/PY)B o país B em equilíbrio produz XB*e YB*.

PROCURA E OFERTA COM COMÉRCIO

internacionais, mas que passa pelo ponto de especialização produtiva, Ap, e é tangente à curva de

(24)

Quando os países se abrem ao comércio, os dois mercados de autarcia para o bem X combinam-se num único mercado sucedendo o mesmo para o bem Y. Tudo isto pode ser visto através das Figuras 2.13 (a) e 2.13 (b) do livro de texto, que são derivadas da Fig. 2.12.

O painel (a) da Figura 2.12 revela que o país A deseja exportar do bem X a qualquer preço relativo maior do que (PX/PY)A. Ao preço relativo de autarcia o país A produz a quantidade XA* do bem X e consome a mesma quantidade; se com o comércio internacional o preço subir acima do preço de equilíbrio de autarcia o país A exporta a diferença entre o que produz e o que procura internamente. Assim, a distância horizontal entre a procura em autarcia e a curva da oferta em autarcia, corresponde à oferta de exportações a cada preço. A recta das exportações de X no país A, no painel (a) da Figura 2.13, mede a quantidade do bem X trocada (neste caso exportada) e não a quantidade produzida ou consumida.

O painel (c) da Figura 2.12 mostra a procura por importações do bem X pelos residentes do país B ao país A, a qual se dá a qualquer preço relativo inferior ao preço relativo do bem X em autarcia no país B, (PX/PY)B. A referida procura, a qualquer preço relativo abaixo do preço (PX/PY)B, é dada pela distância entre a curva da procura DBX e o eixo das ordenadas.

Esta procura pelas importações do bem X pelo país B transforma-se na recta das importações do bem X pelo país B no painel (a) da Fig. 2.13.

Combinando as curvas da oferta de exportações, com as curvas da procura de importações, obtemos os pontos de equilíbrio de comércio internacional, correspondentes a XTT e YTT. Nestes pontos aquilo que um país deseja exportar é exactamente igual ao que o outro país deseja importar, ao mesmo rácio de preços.

O preço de equilíbrio do comércio internacional do bem X é dado por (PX/PY)TT .

Se procedermos à mesma análise para o bem Y, encontramos o preço de equilíbrio com comércio internacional, o qual é dado por (PY/PX)TT no painel (b) da Figura 2.13 do livro de texto.

Estes resultados correspondem aos que foram extraídos dos triângulos de troca das Figs. 2.8 e 2.9.

Repare-se que se (PX/PY)TT > (PY/PX)TT, então a exportação do bem X pelo país A são maiores do que as importações do bem X pelo país B (gráfico (a) da Figura 2.13)

(25)

A FRONTEIRA DAS POSSIBILIDADES DA PRODUÇÃO MUNDIAL

Para se construir a fronteira de possibilidades da produção mundial admitamos que se todo o trabalho mundial, Lw= LA+LB, for afecto à produção do bem X consegue-se produzir (LA/aLX) + (LB/bLX) unidades de X. Caso ele seja inteiramente afecto à

produção de Y será possível produzir (LA/aLY) + (LB/bLY) unidades de Y. São estes os

pontos 1 e 3, que são pontos de intersecção das fronteiras de possibilidades de produção com o eixos dos X e dos Y e, que aparecem na Fig. 2A.1 do apêndice ao capítulo II do livro de texto base.

A recta da fronteira de possibilidades de produção mundial não é uma recta, pois apresenta uma quebra, devido ao facto dos custos de oportunidade de produzir X e Y em ambos os países serem diferentes.

Se o país A tiver uma vantagem comparativa na produção do bem X, então, admitimos que esse bem começa a ser produzido neste país. O mesmo sucede com o bem Y. Assim, se partirmos do ponto 1, onde só o país A é que produz o bem X e subirmos ao longo da fronteira de possibilidades de produção, verificamos que o país B começa a especializar-se na produção do bem Y, pois o custo oportunidade da produção de uma unidade adicional do bem Y pelo país B que é dado por (bLY/bLX) é menor do que o

mesmo custo no país A, (aLY/aLX). Mas isto até ao ponto 2. Neste ponto o país B já

esgotou toda a quantidade de trabalho disponível LB e, agora, o bem Y tem de passar a ser produzido pelo país A, a um custo de oportunidade maior, dado por aLY/aLX

Obter-se-iam os mesmos resultados se partíssemos do ponto 3, na mesma Figura, onde só o país A é que produz do bem Y, descendo ao longo da fronteira de possibilidades de produção.

CASOS PRÁTICOS

I) SERÁ QUE O MODELO DE RICARDO CONSEGUE EXPLICAR O COMÉRCIO INTERNACIONAL?

(26)

MacDougal em 1953 foi o primeiro autor a testar o modelo de Ricardo. MacDougal usou dados de 1937 sobre as exportações de 25 indústrias dos USA e do Reino Unido. O modelo de Ricardo implica sob o ponto de vista teórico que a produtividade relativa do trabalho determina os custos de oportunidade. Estes, por sua vez, determinam os preços relativos em autarcia. Finalmente, estes últimos determinam os padrões de comércio. Como não podemos observar os preços relativos em autarcia porque os países de modo geral entram no comércio internacional, os testes empíricos devem encontrar uma relação directa entre a produtividade do trabalho e os padrões do comércio, passando por cima dos preços relativos em autarcia. Portanto MacDougal admitiu a hipótese de que, quanto maior for a produtividade do trabalho nos USA em relação ao Reino-Unido, tanto maior deverá ser a quota de exportações (rácio das exportações) detida pelos USA.

Na verdade isto é confirmado na Figura 2.14, onde, também, se confirma a importância da vantagem comparativa e não da vantagem absoluta. Assim, a produtividade do trabalho é mais alta nos USA para todas as 25 indústrias do estudo. Logo, os USA detêm uma vantagem absoluta em todas as indústrias. Ora o Reino-Unido caso este facto fosse relevante não exportaria em nenhuma das 25 indústrias. Mas tal não acontece. É que o Reino-Unido detém uma vantagem comparativa naquelas indústrias em que a produtividade do trabalho mais se aproxima da dos USA e, por isso, exporta os produtos dessas indústrias. Claro que existem muitos outros factores que influenciam as quotas das exportações, tais como, os outros factores de produção, as tarifas, os custos de transporte, as economias de escala e a diferenciação do produto.Contudo tal não impede que os resultados do estudo confirmem claramente a teoria de Ricardo.

Dois assuntos que emergiram na economia do século 20, ou seja, a necessidade de integrar os países em desenvolvimento e os países de economia central no comércio internacional, ajudam a apreciar a importância das hipóteses do modelo de Ricardo. É que se torna necessário aplicar medidas de política nesses países para contrariar a baixa produtividade do trabalho causada por anos de isolamento.

I) O ELEVADO PREÇO DA AUTO-SUFICIÊNCIA

Este caso assenta num hipotético exemplo de trocas entre dois países. Ele tem dois objectivos:

1) apresentar um outro exemplo numérico do modelo de Ricardo;

2) evidenciar algumas das hipótese subtís do modelo que são relevantes para o comércio internacional.

Admitamos que o Japão e os USA iniciaram trocas comerciais de aço e trigo. No Japão são necessárias 5 unidades de trabalho para produzir 1 tonelada de aço (JLS=5) e

15 unidades de trabalho para produzir 1 tonelada de trigo (JLW=15). Por seu lado, nos

USA são necessárias 10 unidades de trabalho para produzir 1 tonelada de aço (ALS=10)

e 5 unidades de trabalho para produzir 1 tonelada de trigo (ALW=5). O Japão possui

uma dotação de 500 unidades de trabalho e os USA de 600 unidades. Esta informação aparece no Quadro 2.3. Podemos, agora, construir o Quadro 2.4, onde aparecem os respectivos custos de oportunidade. O custo de oportunidade de produzir 1 tonelada de aço no Japão é de 5/15=1/3 toneladas de trigo. Isto porque produzir mais

(27)

uma tonelada de aço exige 5 unidades de trabalho que alternativamente poderiam ter sido utilizados para produzir 1/3 de toneladas de trigo. O custo de oportunidade de produzir 1 tonelada de trigo no Japão é de 15/5=3 toneladas de aço. Também o custo de oportunidade de produzir 1 tonelada de aço nos USA é de 10/5=2 toneladas de trigo. O custo de oportunidade de produzir 1 tonelada de trigo nos USA é de 5/10=1/2 tonelada de aço.

O modelo de Ricardo sugere que o Japão se deve especializar na produção de aço e os USA na produção de trigo. Isto de modo a maximizar o produto total. O Quadro 2.5 ilustra o produto total obtido caso os dois países se especializem de acordo com as vantagens comparativas. Como o Japão só produz aço, e por cada unidade de aço ele utiliza 5 unidades de trabalho (JLS=5), ou seja, por cada unidade de trabalho produz

S=1/5 unidades de aço (S/L = 1/ JLS=1/5), então com 500 unidades de trabalho

disponíveis ele produzirá 500 x (1/5) = 100 unidades de aço ((S/L) x L = L x (1/JLS)=S).

Do mesmo modo, como os USA só produzem trigo, e por cada unidade de trigo eles utilizam 5 unidades de trabalho (ALW=5), ou seja, por cada unidade de trabalho produz

W=1/5 unidades de trigo (W/L = 1/ ALW=1/5), então com 600 unidades de trabalho

disponíveis eles produzirão 600 x (1/5) = 120 unidades de trigo ((W/L) x L = L x (1/ALW)=W). O resultado apresentado nest quadro é eficiente sob o ponto de vista

económico, no sentido de que não é possível aumentar mais o produto total, pois se se aumentasse um dos produtos teríamos que baixar o outro dados os recursos limitados disponíveis.

Mas vejamos o que aconteceria se os habitantes de ambos os países se recusassem a atingir o objectivo da eficiência económica?

Pode acontecer que os trabalhadores em cada um dos países envolvidos (os seus trabalhadores) valorizem mais a sua capacidade para escolherem em qual das duas indústrias desejam trabalhar. Os residentes do Japão podem não desejar a cultura urbana associada à produção de aço em larga escala. Também pode acontecer que os trabalhadores dos USA não desejem o ambiente rural ligado à produção agrícola em massa. Pode ser que os Japoneses não desejem estar muito dependentes dos USA em matéria alimentar, ou que os Americanos não desejem uma elevada dependência do Japão no fornecimento de aço.

Estas preocupações podem levar ambos os países a não se especializarem completamente na produção dos bens em que detém uma vantagem comparativa. Questão: coloca-se então a pergunta de saber quais os custos para um país de afectar alguns dos seus trabalhadores à produção de qualquer bem em que detenham uma desvantagem comparativa?

Resposta: suponhamos que cada país decide dedicar 20% da sua força de trabalho à produção do bem em que tem uma desvantagem comparativa. Isto significa que 400 trabalhadores no Japão produzirão aço e que 100 trabalhadores produzirão trigo; 480 trabalhadores nos USA produzirão trigo e 120 produzirão aço. Estes resultados aparecem no Quadro 2.6.

Isto significa que no Japão se deixaram de produzir (∆L x 1/JLS = ∆L x S/L =S), 100 x

1/5= 20 unidades de aço e que se produziram mais 100 x 1/15= 100/15 unidades de trigo; nos USA se produziram mais (∆L x 1/aLS = ∆L x S/L =S), 120 x 1/10= 12

unidades de aço e que se deixaram de produzir 120 x 1/5= 120/5= 24 unidades de trigo. O produto total de aço ficou assim sendo 100- 20 + 12 = 92 unidades de aço, e o produto total de trigo ficou a ser 120 + (100/15) - 24 = 1800/15 + 100/15 - 360/15 = 1540/15 = 102,66. Logo diminui o produto total de aço em 100-92 = 8 unidades, e o produto total de trigo em 120-102,66 = 17,34 unidades.

Referências

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