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ESTUDOS TÉCNICOS PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (UC) NA SERRA DE SANTO AMARO, GUARUJÁ, SP: PLANO DE CRIAÇÃO.

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RELATÓRIO TÉCNICO PARCIAL 160 885-205 Prefeitura Municipal de Guarujá 25 de setembro de 2020

ESTUDOS TÉCNICOS PARA A CRIAÇÃO DE UNIDADE DE CONSERVAÇÃO (UC) NA SERRA DE SANTO AMARO, GUARUJÁ, SP: PLANO DE CRIAÇÃO.

INTERESSADOS

Prefeitura Municipal de Guarujá

UNIDADES RESPONSÁVEIS

Centro de Tecnologia de Recursos Florestais – CT-Floresta Seção de Sustentabilidade de Recursos Florestais – SSRF

Centro de Tecnologias Geoambientais – CTGeo Laboratório de Recursos Hídricos e Avaliação Geoambiental – Labgeo Seção de Investigações, Riscos e Desastres Naturais – SIRDEN

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RESUMO

O projeto “Estudos técnicos para criação de Unidade de Conservação na Serra de Santo Amaro” refere-se à Proposta IPT no 860.600/19 e tem o objetivo de subsidiar a criação de uma Unidade de Conservação (UC) no município de Guarujá, com vistas a proteger os remanescentes florestais e demais ecossistemas naturais do município. O presente documento contempla a síntese do diagnóstico socioambiental integrado da área de estudo, a justificativa para a criação da UC e as propostas de categoria e delimitação de UCs, que foram discutidas com a equipe da prefeitura para a elaboração da proposta da APA Santo Amaro. Por fim, o presente relatório apresenta uma proposta de delimitação da APA Santo Amaro, como subsídio para a consulta pública que deve discutir os limites apresentados para a UC para a finalização do Plano de Criação da APA.

Palavras-Chave

:

Criação de unidade de conservação, Guarujá, Serra de Santo Amaro.

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Relatório Técnico n° 160 885-205 - ii

SUMÁRIO

RESUMO ... I SUMÁRIO ... II 1. INTRODUÇÃO ... 1 2. OBJETIVO ... 2 2.1. Objetivos Específicos ... 2 3. ÁREA DE ESTUDO ... 3

4. DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO ... 5

5. MAPEAMENTO DA VEGETAÇÃO NATURAL ... 7

6. SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO ... 11

6.1. ÁREA DOS MORROS – Floresta Ombrófila Densa ... 11

6.1.1. Aspectos geológicos e geomorfológicos ... 12

6.1.2. Fauna associada à Floresta Ombrófila Densa ... 14

6.2. ÁREA DE MANGUE ... 33

6.2.1. Aspectos geológico-geotécnicos do manguezal ... 34

6.2.2. Recursos hídricos ... 34

6.2.3. Fauna associada ao mangue ... 37

6.3. ÁREA DE RESTINGA ... 45

6.3.1. Aspectos geológicos-geotécnicos da restinga ... 46

6.3.2. Fauna associada à restinga ... 46

6.4. ÁREA DO ECÓTONO ENTRE MANGUE E RESTINGA ... 63

6.4.1. Aspectos geotécnicos do ecótono entre mangue e restinga ... 64

6.4.2. Fauna associada ao ecótono entre mangue e restinga ... 65

6.5. CONECTIVIDADE ENTRE OS FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO NATIVA DA ÁREA DE ESTUDO ... 66

6.6. ÁREAS DO ENTORNO DOS FRAGMENTOS DE VEGETAÇÃO NATIVA ... 71

6.7. ZONEAMENTO DA OCUPAÇÃO DO PLANO DIRETOR DO GUARUJÁ ... 76

6.8. ATRIBUTOS TURÍSTICOS ... 78

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Relatório Técnico n° 160 885-205 - iii

8. ENQUADRAMENTO EM CATEGORIA DO SNUC E DELIMITAÇÃO ... 82

8.1. DESENHO DE CATEGORIAS PROPOSTAS PELA EQUIPE TÉCNICA ... 85

8.1.1. Proposta 1: Área de Proteção Ambiental (APA) Ilha de Santo Amaro ... 85

8.1.2. Proposta 2: Sistema de Unidades de Conservação da Natureza ... 87

8.2. REUNIÕES INSTITUCIONAIS ... 89 9. CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 92 EQUIPE TÉCNICA ... 94 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA ... 95 ANEXO A ... A1 ANEXO B ... B1

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RELATÓRIO TÉCNICO N° 160 885-205

Título: Estudos técnicos para a criação de Unidade de Conservação

(UC) na Serra de Santo Amaro, Guarujá, SP: Plano de Criação.

1. INTRODUÇÃO

O projeto “Estudos técnicos para criação de Unidade de Conservação na Serra de Santo Amaro” refere-se à Proposta IPT nº 860.600/19, aprovada pela Prefeitura Municipal de Guarujá, e está sendo executado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo – IPT, conforme Contrato nº 252/2019 de 22/07/2019.

O Projeto tem o objetivo de subsidiar a criação de Unidade de Conservação (UC), incluindo a área da Serra de Santo Amaro, localizada no munícipio de Guarujá/SP, com vistas a proteger os remanescentes florestais e demais ecossistemas naturais do município.

Este documento técnico constitui o segundo Relatório Técnico Parcial, composto pelos resultados da Etapa III e parte da Etapa IV do projeto e visa apresentar: i) a síntese do diagnóstico socioambiental integrado da área de estudo, elaborado por meio de: dados secundários; levantamento de campo para mapeamento da vegetação natural da área de estudo; reuniões com a equipe da prefeitura do Guarujá e comissão técnica de acompanhamento e avaliação do projeto; e da oficina de diagnóstico rápido participativo; ii) a justificativa técnica para criação da UC; iii) a metodologia de escolha da categoria da UC e do seu limite geográfico; iv) proposta da APA Santo Amaro.

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Estava prevista a conclusão da Etapa IV, com a finalização do Plano de Criação da UC. Entretanto, para que fosse possível ampliar o debate em torno da delimitação da futura UC, optou-se por finalizar o presente documento apresentando-se a proposta da APA Santo Amaro a apresentando-ser discutida por meio de oficinas participativas e reuniões técnicas ampliadas. O objetivo do presente relatório, portanto, é ser um veículo de apresentação das informações necessárias para subsidiar essas discussões para a finalização do Plano de Criação da APA Santo Amaro.

2. OBJETIVO

O objetivo do projeto é fornecer subsídios técnicos à criação de UC no município do Guarujá, visando à proteção de extensa área de vegetação natural.

2.1.

Objetivos Específicos

 Realizar diagnóstico integrado dos meios biótico, físico e antrópico para embasar tecnicamente as opções possíveis de categoria de UC a serem consideradas na área de estudo;

 Realizar Diagnóstico Rápido Participativo para agregar a leitura comunitária sobre a condição atual dos recursos naturais da área de estudo e sobre a visão de futuro para a área, considerando o uso sustentável dos recursos naturais;

 Propiciar a criação de um ambiente participativo para elaboração de Políticas Públicas Locais, com foco ambiental, que venham evitar a degradação na área de estudo, sugerindo ações para a busca de um padrão de desenvolvimento sustentável e gestão compartilhada do território, por meio da participação da população local no processo de criação da UC; e

 Apresentar propostas de localização, dimensão, delimitação e categoria da UC com base nos resultados dos diagnósticos realizados para subsidiar a elaboração o plano de criação da UC.

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3. ÁREA DE ESTUDO

O município de Guarujá é formado pela Ilha de Santo Amaro, abrangendo uma área de 140 km² (IPT; IG, 1989). É limitado a norte pelo Canal de Bertioga, a oeste pelo Canal do Porto de Santos, ao sul e leste pelo Oceano Atlântico. Essa condição natural de ilha favorece a análise dos processos ambientais utilizando-se o próprio limite político-administrativo do município, possibilitando uma análise integrada dos fatores ambientais com os fatores socioeconômicos.

A área de estudo foi definida na Etapa I do projeto por meio da análise técnica das particularidades geográficas da região da Serra de Santo Amaro (Figura 3.1). A área de estudo do projeto contempla o município de Guarujá/SP excetuando-se a Área de Proteção Ambiental Serra do Guararu, tendo sido delimitada seguindo-se marcos geográficos e físicos. Inclui-se na área de estudo a Serra de Santo Amaro, área de interesse para a criação de uma UC Municipal (MELE; MELO; SANTOS, 2015).

A área de estudo, mostrada na Figura 3.1, foi apresentada e aprovada em reunião no Guarujá, no dia 11/10/2019, onde o Plano de Trabalho foi discutido entre a equipe do IPT e a Comissão Técnica de Acompanhamento e Avaliação.

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Figura 3.1 – Localização da área de estudo

Na Tabela 3.1 é apresentada a ficha técnica da área de estudo.

Tabela 3.1 – Ficha técnica da área de estudo Dados gerais

Área total (ha): 11377,67

Perímetro (km): 75,92

Coordenadas geográficas – SIRGAS 2000: 372660, 7349208 Marcos geográficos referenciais dos limites:

Limite Leste: APA da Serra do Guararu Limite Sul: Oceano

Limite Oeste: Limite Município de Guarujá Limite Norte: Limite Município de Guarujá

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4. DIAGNÓSTICO RÁPIDO PARTICIPATIVO

O Diagnóstico socioambiental apresentado no Relatório Técnico n° 159.752-205 foi complementado com a leitura comunitária sobre a condição atual dos recursos naturais da área de estudo e sobre a visão de futuro para a área, considerando o uso sustentável dos recursos naturais, por meio de uma oficina de diagnóstico rápido participativo, realizada de forma virtual via plataforma Microsoft Teams. O meio virtual foi escolhido para a realização da oficina participativa devido ao estado de calamidade pública decretado pelo governo do Estado de São Paulo, que impôs o isolamento social como enfrentamento ao COVID-19.

A oficina foi realizada no dia 25/06/2020 e contou com 28 participantes, entre moradores do município, representantes de instituições de universidades da Baixada Santista, membros do COMDEMA do Guarujá, representantes do poder público municipal e estadual, representantes de empresas privadas locais e representantes da sociedade civil organizada.

O levantamento de expectativas e interesses sobre o tema tratado na oficina indicou que os participantes compareceram pelos seguintes motivos:

 Entendimento do processo de criação e das características da área;  Entendimento de como a UC vai impactar suas atividades;

 Participação popular;

 Coleta de informações para a criação da UC;

 Defesa da inclusão de área importante para a conservação na UC;

 Entendimento de como a UC poderá auxiliar no gerenciamento do território.

A diversidade de motivações dos participantes da oficina demonstra a consciência local de que a criação de uma UC no município não se limita à conservação do meio ambiente, mas que se relaciona diretamente à qualidade de vida da população do Guarujá.

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separada em cinco áreas (Figura 4.1), com o objetivo de levantar as seguintes informações:

 Nome de como a área é reconhecida localmente;  Usos atuais da área;

 Uso futuro mais apropriado para a área;

 Principais ameaças ao meio ambiente na área;  Local das ameaças ao meio ambiente na área.

Figura 4.1 – Área de estudo dividida nas 5 áreas analisadas na oficina.

Os resultados da oficina, apresentados no Anexo A, foram agregados às respostas obtidas por meio de questionário digital, divulgado amplamente no site do IPT e por meio dos participantes da oficina. Ao final, foram compiladas informações de 187 questionários respondidos e o resultado possibilitou analisar a percepção dos respondentes quanto aos benefícios gerados pelo meio ambiente para o município do Guarujá. A coleta de dados via questionário serviu para aumentar a participação

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popular, porém a oficina on-line foi fundamental para a divulgação dos questionários e adesão da população a responder aos questionários. A oficina também foi uma oportunidade para a interação ativa entre os participantes e entre a equipe técnica responsável pela elaboração do plano de criação da UC. Dessa forma, foi possível aprofundar discussões e dirimir dúvidas sobre pontos específicos do trabalho e da área de estudo.

5. MAPEAMENTO DA VEGETAÇÃO NATURAL

O Diagnóstico contemplou ainda o mapeamento da vegetação nativa da área de estudo por meio de fotointerpretação de imagens de satélites e checagem da verdade terrestre por meio de trabalho de campo, realizado nos dias 17/06/2020 e 19/06/2020, e utilização de ferramenta Google Street View.

Com foco exclusivamente na vegetação natural, o município do Guarujá possui o mapeamento na escala 1:25.000 resultante do Inventário Florestal da Vegetação Nativa do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2010). No entanto, as escalas de trabalho e as classes definidas nesses mapeamentos não contemplam todas as categorias de vegetação natural existentes na área de estudo, com o detalhe de informação necessário para a tomada de decisão quanto à criação de uma unidade de conservação. Sendo assim, optou-se por realizar um novo mapeamento da vegetação natural existente nesta porção do município do Guarujá, adotando como referência os seguintes materiais e informações técnicas:

 Inventário Florestal da Vegetação Natural do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2005), escala de interpretação 1:50.000 (arquivo vetorial);

 Inventário Florestal da Vegetação Nativa do Estado de São Paulo (SÃO PAULO, 2010), escala de interpretação 1:25.000 (arquivo vetorial);

 Recobrimento aerofotogramétrico do Estado de São Paulo (EMPLASA – 2010/2011), compatível com a escala 1:10.000 (arquivo raster);

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 Levantamento aerofotogramétrico do município de Guarujá (IGC – 1962), com a escala 1:25.000;

 Levantamento aerofotogramétrico do ano de 2001 do litoral do Estado de São Paulo, contratado no âmbito do Projeto de Preservação da Mata Atlântica (PPMA), e disponibilizado na plataforma DataGeo; e

 Ortofotos produzidas a partir de levantamento aerofotogramétrico do ano de 2007 da Região Metropolitana da Baixada Santista, contratado e cedido pela Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano (CDHU), com a escala de 1:5.000, disponibilizadas na plataforma DataGeo.

O método de execução do mapeamento foi o da reclassificação e atualização das informações do Inventário Florestal da Vegetação Nativa (SÃO PAULO, 2010). Para esta reclassificação foram utilizados os dados das fotografias aéreas ortoretificadas dos anos de 2010/2011 (EMPLASA, 2011), imagens de satélites recentes (2009 a 2019) do Google Earth®, mapas bases disponibilizados pela internet (DataGeo) e fotos aéreas históricas de 1962.

O mapeamento foi realizado utilizando-se técnicas de interpretação visual, levando-se em consideração os critérios estipulados de tamanho e forma, cor e tonalidade, textura e estrutura da paisagem. A reclassificação manual em tela para identificação das diferentes classes de vegetação com fisionomia florestal que ocorrem no município foi realizada na escala 1:10.000 e a correção e edição das feições de cada classe foi efetuada na escala de 1:2.500. Isto posto, a escala final adotada no mapeamento é compatível com a escala 1:10.000 e as classes de vegetação consideradas no mapeamento estão detalhadas a seguir:

 Restinga - Formação arbórea / arbustiva-herbácea de terrenos marítimos

recentes: engloba o conjunto das comunidades vegetais, fisionomicamente

distintas, sob influência marinha e fluvio-marinha. Essas comunidades, distribuídas em mosaico, ocorrem em áreas de grande diversidade ecológica, sendo consideradas comunidades edáficas por dependerem mais da natureza do solo que do clima. Nesta classe foram consideradas as fitofisionomias

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predominantemente arbóreas da formação de restinga, como as florestas baixa e alta de restinga, bem como a floresta paludosa, sujeita a alagamentos periódico ou permanente, com predomínio de espécies como caxeta e guanandi. Também foram consideradas as comunidades vegetais, formadas predominantemente pelo estrato herbáceo-arbustivo, com predominância de arbustos de ramos retorcidos formando moitas intercaladas com espaços desnudos ou aglomerados contínuos que dificultam a passagem, que são encontradas nos ambientes de praias, dunas e cordões arenosos, e também pode ser conhecida como escrube, jundu ou nhundú;

 Mangue - Formação arbórea / arbustiva-herbácea de terrenos marinhos

lodosos: esta classe representa a fitofisionomia de ambiente salobre, situada

na desembocadura de rios e regatos de mar, onde, nos solos limosos cresce uma vegetação especializada e adaptada à salinidade das águas. Três gêneros de árvores são características de um manguezal brasileiro típico:

Rhizophora, Avicennia e Laguncularia;

 Ecótono vegetacional entre mangue e restinga: contempla as áreas de transição entre manguezal e vegetação de restinga que é controlada pela baixa frequência de inundação e pela drenagem terrestre. Essas faixas podem ser consideradas ótimos indicadores biológicos e ecológicos das variações hidrológicas do meio. São ainda essenciais para o funcionamento dos bosques de bacia e atenuadores do efeito erosivo das preamares mais extremas sobre o talude da restinga. Nesses ecótonos estão presentes espécies vegetais com baixa tolerância à salinidade, indicadoras das mudanças climáticas, no que se refere à elevação do nível médio relativo do mar, e funcionam como corredores de fluxos de energia entre os ambientes terrestre e marinho (SARUBO et al., 2015);

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 Vegetação secundária de Floresta Ombrófila Densa – estágio médio a

avançado: contempla os fragmentos florestais onde no passado houve

intervenção humana para o uso da terra, configurando em formações de vegetação secundária de Floresta Ombrófila Densa. Estes fragmentos florestais encontram-se em diferentes estágios sucessionais, representando distintos graus de conservação e com estratificação vertical variada, sendo que cada camada se apresenta com cobertura alterando de aberta a fechada, podendo o dossel apresentar ou não árvores emergentes.

De acordo com o sistema de Veloso et al. (1991), considera-se vegetação secundária aquela presente em áreas previamente ocupadas por vegetação nativa onde houve intervenção humana para o uso da terra, seja com a finalidade mineradora, agrícola ou pecuária. Normalmente, essas áreas são expostas ao corte raso e quando abandonadas, estão sujeitas aos processos de regeneração natural. O tipo de distúrbio, a área atingida, a intensidade, a frequência e a época, definem a extensão do dano e a resiliência do ecossistema que podem variar de acordo com o banco de sementes, com a disponibilidade de propágulos e de dispersores, e com as condições edáficas locais (GODOY, 2001).

A Figura 5.1 apresenta a distribuição das classes de vegetação natural observadas e mapeadas na área de estudo.

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Figura 5.1 – Mapeamento da vegetação natural na área delimitada para estudo de criação de Unidade de Conservação no município do Guarujá, SP.

6. SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO

O Diagnóstico Socioambiental integrado, apresentado no Relatório Técnico n° 159 752-205, juntamente com o Diagnóstico Rápido Participativo e o Mapeamento da Vegetação Natural, apresentados, respectivamente, nos itens 4 e 5 deste relatório, revelou características naturais e aspectos socioeconômicos relevantes para orientar a decisão sobre a delimitação e categoria da UC a ser criada. Esses aspectos foram sintetizados nos itens a seguir.

6.1.

ÁREA DOS MORROS – Floresta Ombrófila Densa

A Serra de Santo Amaro destaca-se na área da Ilha de Santo Amaro como uma feição de destaque na paisagem, com amplitude topográfica de aproximadamente 340 m. As cotas topográficas mais altas estão localizadas na Serra

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de Santo Amaro, Morro do Botelho, Morro do Pitiú, Morro do Sorocotuba, Morro do Pinto, Morro do Maluf, Morro do Monduba, Morro de Icanhema, Morro da Península, Morro da Barra e Morro do Stéfano.

Os morros e encostas do município são cobertos por vegetação secundária de Floresta Ombrófila Densa. Esses fragmentos de vegetação natural possuem uma estrutura espacial de relevante interesse ecológico, com áreas de Floresta Ombrófila Densa de tamanho considerável e com uma conectividade que favorece a sobrevivência de populações de fauna e flora nesses remanescentes (Figura 6.1.1).

Figura 6.1.1 – Vegetação secundária da Floresta Ombrófila Densa na área de estudo.

6.1.1. Aspectos geológicos e geomorfológicos

A Serra de Santo Amaro e os morros são sustentados pelas rochas cristalinas: migmatitos e granitos.

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A rede de drenagem é de média a alta densidade, com padrão dendrítico e vales fechados.

Geotecnicamente, tem-se a ocorrência de depósitos no pé da encosta, depósitos detríticos acumulados no sopé ou em saliências e reentrâncias a meia encosta, vales de cursos d’água localizados no alto da serra ou dos morros, encostas retilíneas e convexas com cobertura de solo coluvionar e laterizada em encostas e encostas com declividade superior a 60%. Esses terrenos, dependendo da sua localização e inclinação, podem ser aptos ou impróprios à ocupação, desde que avaliados por estudos específicos e/ou adotadas obras e medidas de proteção e estabilização.

Em função da altitude, esses locais são pontos possíveis para implantação de mirantes, trilhas e educação ambiental. A Figura 6.1.1.1 apresenta o relevo e a geologia da área de estudo.

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A Figura 6.1.1.2 apresenta a suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundação na área de estudo. Na Serra de Santo Amaro e demais morros a suscetibilidade alta a movimentos gravitacionais de massa apresenta uma maior abrangência em área.

Figura 6.1.1.2 – Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundação na área de estudo.

6.1.2. Fauna associada à Floresta Ombrófila Densa

O município do Guarujá está inserido no domínio bioma da Mata Atlântica, composto por um mosaico de fitofisionomias bem diversificado. Nesse mosaico de fitofisionomias, a cobertura vegetal do município está representada pela Floresta Ombrófila Densa, em suas formações primárias e pela alta biodiversidade de espécies da flora e fauna, e formações secundárias e seus estágios sucessionais,

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marcadas por algum grau de alteração. Nas encostas e sopés de morros ocorrem as formações menos alteradas, com estrutura florestal definida; nas proximidades dos assentamentos urbanos e situadas na baixada litorânea, as formações se mostram com altos graus de antropismos.

A vegetação secundária da floresta ombrófila densa consiste de uma vegetação caracterizada pela elevada densidade e heterogeneidade florística e por apresentar três ou mais estratos arbóreos, com presença de cipós, epífitas e lianas, em abundância, diferenciando das outras classes de formações, indicando um ambiente mais úmido e com árvores mais velhas.

A principal característica ecológica da Floresta Ombrófila Densa está relacionada a fatores climáticos tropicais de elevadas temperaturas, com médias de 25ºC, e de alta precipitação, bem distribuída durante o ano, de 0 a 60 dias secos, o que determina uma situação ecológica praticamente sem período biologicamente seco (INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA, 2012).

De acordo com os dados secundários obtidos em estudos realizados em áreas de morro do município de Guarujá, detalhados no Relatório Parcial 159.752-205, foram registradas 372 espécies da fauna terrestre, divididas nos grupos Répteis (n=14), anfíbios (n=9), Aves (n=311), Mamíferos de médio e grande porte (n=27), pequenos mamíferos terrestres (n=10) e pequenos mamíferos voadores (n=1) (Tabela 6.1.2.1 e Figura 6.1.2.1).

Da biota aquática, como a maioria dos estudos tiveram coleta em área estuarina, as espécies contabilizadas aqui representam as associadas a ambientes aquáticos de Floresta Ombrófila Densa, como nascentes, riachos e córregos que permeiam as áreas de morro, totalizando 30 espécies de peixes. O total aqui apresentado reflete os resultados obtidos nos estudos utilizados como referência, que será complementado com os levantamentos primários previstos para serem realizados em outubro de 2020.

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Deste total de espécies de fauna computado para a Floresta Ombrófila Densa do Guarujá, 87 espécies são endêmicas de Mata Atlântica, 29 são ameaças de extinção e seis são espécies migratórias (Tabela 6.1.2.1).

Tabela 6.1.2.1 – Atributos das espécies de fauna registradas em estudos realizados em áreas de Floresta Ombrófila Densa no município do Guarujá e da biota registrados em ambientes estuarinos associados a áreas de Floresta Ombrófila Densa.

Ambiente Grupo Total Endêmicas MA Ameaçadas Migratórias

FLOD Herpetofauna Anfíbios 9 1 0 0 Répteis 14 0 0 0 Mastofauna Médios e gdes mamíferos 27 4 5 0 Pequenos mamíferos terrestres 10 1 2 0 Pequenos mamíferos voadores 1 0 0 0 Avifauna Aves 311 53 21 6 Biota Peixes 30 28 1 0 Crustáceos 0 0 0 0

Legenda: MA: Mata Atlântica. FLOD: Floresta Ombrófila Densa.

Figura 6.1.2.1 – Número de espécies por grupo da fauna registrada na Floresta Ombrófila Densa. Para peixes, a classificação é referente a espécies associadas a áreas de Floresta Ombrófila Densa.

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A composição de espécies de fauna registrada nas áreas de Floresta Ombrófila Densa demonstra a importância desta fitofisionomia para a fauna do Guarujá, visto que as espécies estão associadas a esses ambientes por dependência de recursos alimentares, abrigo e áreas para reprodução. Destaca-se a importância da permeabilidade entre as áreas de Floresta Ombrófila Densa, para que seja mantido o fluxo gênico, evitando extinções locais. Nesse sentido, serão apresentados mapas, para os grupos de fauna terrestre, com os locais de registro de algumas das espécies mais relevantes ecologicamente, e as respectivas áreas de vida, a fim de se demonstrar as possíveis áreas ocupadas pela fauna nesta fitofisionomia. Ressalta-se que apesar de os pontos de coletas identificados nos dados secundários não englobarem todas as áreas de Floresta Ombrófila Densa nos morros da área de estudo, os levantamentos já demonstram a importância desses remanescentes para a manutenção da biodiversidade. Isso pode ser demonstrado pela ocorrência das espécies com alta relevância ecológica, endêmicas de Mata Atlântica e ameaçadas de extinção tanto na área identificada como Cabeça do Dragão, no trecho a oeste da Serra de Santo Amaro e no trecho mais a leste da Serra de Guararu.

A área de vida representa uma estimativa do espaço físico em que uma determinada espécie utiliza para realização de todas as suas atividades, como forrageamento (busca por alimento e água), busca por parceiro reprodutivo, local para reprodução e busca por abrigo. Assim, nos mapas apresentados nas próximas figuras, além dos pontos onde as espécies foram registradas (pontos dos dados secundários), foram incluídas estimativas das áreas de vida de algumas espécies da fauna terrestre. A área de vida é baseada em estudos de ecologia, podendo ter grande variação, mas é uma estimativa razoável para o suporte à tomada de decisão sobre a área a ser incluída na UC a ser criada.

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MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE

Na Figura 6.1.2.2 estão ilustrados os pontos de registros das espécies de médios e grandes mamíferos registrados na Floresta Ombrófila Densa, que constam em alguma das listas de espécies ameaçadas de extinção e outras espécies que, embora não sejam ameaçadas, são representativas para a área por serem menos comuns e possuírem recursos ambientais mais especializados: o tamanduá-mirim e em especial o bicho preguiça, que é frequentemente avistado nas áreas florestais do município, sendo, inclusive uma das espécies mais resgatadas pelas equipes da Prefeitura Municipal do Guarujá, segundo o Relatório de Atendimento de Fauna Silvestre realizado pelo GDA, de 11/04/2019, onde constam doze resgates de

Bradypus variegatus no período de maio de 2018 a março de 2019. Na Tabela

6.1.2.2 constam as espécies do mapa, com seus status de ameaça e área de vida. A

lista completa de espécies da mastofauna registradas em Guarujá consta no Anexo

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Figura 6.1.2.2 – Mapa com áreas de vida de algumas espécies de médios e grandes mamíferos nas áreas de Floresta Ombrófila Densa do município do Guarujá. Os raios representam as áreas de vida, conforme indicado por Penteado (2012), Zhang (1995), Spironello (2001), Bicca-Marques (2003), Silvius e Fragoso (2003), Cheida (2012) e Trovati e Brito (2009).

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Tabela 6.1.2.2 – Espécies de relevância ecológica da Mastofauna constantes no mapa da área de vida, registradas nas áreas de Floresta Ombrófila Densa do município do Guarujá, o status de ameaça e/ou relevância e as respectivas áreas de vida.

Táxon Nome popular

Status de ameaça

Área de vida (km²) considerada*

SP BR IUCN

Puma concolor onça parda VU VU - 114

Sapajus nigritus macaco prego - - NT 9

Alouatta guariba bugio ruivo EN VU VU 0,33

Procyon cancrivorus mão pelada - - - 6,95

Bradypus variegatus bicho preguiça - - - 0,09

Tamandua tetradactyla tamanduá mirim - - - 1,06

Dasyprocta leporina cutia QA - - 0,08

Legenda: *Foram considerados os maiores valores de área de vida obtidos nas referências. EN – Em perigo; VU – Vulnerável; QA – Quase ameaçada; NT – Quase ameaçada. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

Nos textos abaixo constam as principais características das espécies de médios e grandes mamíferos constantes no mapa apresentado, que possivelmente tem ocorrência ao longo das áreas de morros do Guarujá, pelas estimativas das suas áreas de vida e pela semelhança dos ambientes, embora os morros difiram quanto à conservação, ao entorno e respectivas pressões de acordo com a localização. A distribuição das espécies ao longo das áreas de morros poderá ser confirmada com os levantamentos primários.

Puma concolor – onça-parda

A onça-parda possui uma ampla distribuição no Brasil, se fazendo presente em todos os biomas do país (OLIVEIRA, 1994). Em geral, grandes felinos como a onça-parda tendem a ocupar grandes áreas e passam a ser extremamente vulneráveis à redução e fragmentação florestal (SUTHERLAND, 2000; PINTO et al, 2006). Atualmente, as ameaças mais significativas para a espécie são a supressão e fragmentação do habitat (MACDONALD, 2010), eliminação de indivíduos por caça (PALMEIRA et al, 2008; PAVIOLO et al.,2009) e atropelamentos (MAZZOLI, 2010). Mickalski e Peres (2005) apontaram que na Mata Atlântica, esses animais não parecem estarem presentes em fragmentos

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menores do que 300 ha. P. concolor está ameaçada de extinção no estado de São Paulo e no Brasil.

Com relação à área de vida, ela pode variar muito dependendo do sexo do animal e do local onde ele está inserido. No pantanal, por exemplo, sua área de vida variou de 32 a 155 km², enquanto que na Mata Atlântica sua área de vida foi de 114 km² (PENTEADO, 2012).

Sapajus apella – macaco prego

O macaco prego é uma espécie associada a habitats mais conservados, no entanto apresentam certa tolerância a alterações ou perturbações ambientais, persistindo com frequência em florestas secundárias (FRAGASZY et al., 1990; RYLANDS et al., 2008).

O tamanho da área de vida tem relação com a distribuição dos recursos alimentares, podendo viver em áreas relativamente pequenas - em torno de 60 ha - como em áreas grandes em torno de 350 a 900 ha (ZHANG, 1995; SPIRONELLO, 2001).

Alouatta guariba – bugio ruivo

O Bugio ruivo ocorre ao longo do leste do Brasil, na Mata Atlântica (MENDES et al., 2008). A espécie está ameaçada no estado de São Paulo, no Brasil e mundialmente (Tabela 6.1.3.2). As principais ameaças à espécie são: expansão urbana; vulnerabilidade a epidemias; desconexão e redução do habitat; e proximidade de fragmentos florestais a áreas urbanas e rurais. Além disso, o cão doméstico pode ser uma grande ameaça aos bugios (GALETTI; SAZIMA, 2006).

Com relação a sua área de vida, Bicca-Marques (2003) observou uma variação de 3,9 a 33 ha, enquanto Fortes (2008) observou um pequeno grupo habitante em dois pequenos remanescentes com apenas 1 ha de área total. O tamanho da sua área de vida varia muito dependendo do local em que é estudado e, considerando os estudos supracitados, a variação vai de 1 a 33 ha.

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Bradypus variegatus – bicho preguiça

Atualmente, esse animal é encontrado em áreas florestadas da Amazônia e da Mata Atlântica (FONSECA et al., 1996; PAGLIA et al., 2012). O bicho preguiça possui uma surpreendente capacidade de suportar grandes alterações no seu habitat, sendo comumente avistados em praças públicas no Brasil (PINHEIRO, 2008; SÃO PAULO, 2010). No Guarujá é comum ser avistado em áreas florestais e áreas adjacentes, sendo uma das espécies por vezes resgatadas pela Prefeitura de Guarujá (Figura 6.1.3.4).

Dasyprocta leporina – cutia

As cutias estão distribuídas no sul da bacia amazônica, no leste do Brasil até os estados de São Paulo e Rio de Janeiro (REIS et al., 2006). D. leporina encontra-se ameaçada de extinção no estado de São Paulo. Esses animais são considerados grandes dispersores de árvores com grandes sementes nas florestas em que habitam (HALLWACHS, 1986; PERES; BAIDER, 1997). Estudos apontam que algumas espécies de árvores parecem depender exclusivamente das cutias para a dispersão de suas sementes (HALLWACHS, 1986; PERES; BAIDER, 1997).

Sua área de vida estimada varia de 3 a 8,5 ha em estudos feitos com espécimes de floresta amazônica (SILVIUS; FRAGOSO, 2003).

Procyon cancrivorus – mão pelada

Trata-se de uma espécie principalmente solitária e noturna, sendo encontradas perto de fontes de água, como banhados, rios e manguezais (CHIEDA, 2012). Possuem relativa tolerância a perturbações antrópicas, sendo dependentes de corpos d'água e suscetíveis ao desaparecimento de corredores florestais (MICHALSKI; PERES 2005). É uma espécie que comumente habita todas as fitofisionomias (mangue, restinga e Floresta Ombrófila Densa) sendo uma espécie associada a ambientes litorâneos.

(27)

Com relação à área de vida, Bianchi (2009) relatou uma área de vida de 6,95 km² para um macho adulto enquanto que Cheida (2012) obteve área de vida média de 1,4 km² até 8 km² para indivíduos monitorados na mesma área adjacente.

Tamandua tetradactyla – tamanduá mirim

É uma espécie endêmica da América cisandina (NOWAK, 1999), ocorrendo em todos os biomas do Brasil (PAGLIA et al., 2012). Esses animais podem utilizar ambientes florestais ou savânicos como matas de galeria adjacentes, savanas e florestas tropicais (EISENBERG, 1989). As principais ameaças para a espécie são: a perda de habitat causada por incêndios e conversão de terras para agropecuária; desmatamento; atropelamentos e caça (AGUIAR; FONSECA, 2008; NOSS et al., 2008).

Com relação a sua área de vida, em uma região de cerrado no Tocantins, a área de vida da espécie foi de 106 ha (TROVATI; BRITO 2009).

As Figuras 6.1.2.3 e 6.1.2.4 mostram as espécies registradas no município do Guarujá em áreas próximas a fragmentos de Floresta Ombrófila Densa: o bicho-preguiça Bradypus variegatus e o gambá-de-orelhas pretas Didelphis aurita. O gambá-de-orelhas pretas, embora não tenha sido abordado no mapa da área de vida, sabe-se que é uma espécie comumente encontrada em áreas urbanas do Guarujá. Esta espécie possui hábitos prioritamente carnívoros e desempenha forte papel ecológico no controle de populações de presas como roedores, aves, répteis e invertebrados.

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Figura 6.1.2.3 – Resgate de bicho-preguiça próximo a área de Floresta Ombrófila Densa pela Prefeitura de Guarujá. Fonte: Prefeitura Municipal de Guarujá. 2019.

Figura 6.1.2.4 – Fêmea de gambá-de-orelhas-pretas com filhotes. Registro no Jardim Guaiuba, em rua

adjacente à área de Floresta Ombrófila Densa. Fonte: Cortesia de Rodrigo Zaubeiras. Agosto de 2020.

AVIFAUNA

No mapa da área de vida da avifauna (Figura 6.1.2.5) constam algumas das espécies ameaçadas de extinção que foram registradas nos estudos secundários nas áreas de Floresta Ombrófila Densa no município de Guarujá, e as áreas de vida de algumas dessas aves, visto que não há estudos existentes para todas as espécies registradas. Na Tabela 6.1.2.3 constam as espécies do mapa, com seus status de ameaça e área de vida. A lista completa de espécies da avifauna registradas em Guarujá consta no Anexo B.

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Figura 6.1.2.5. Mapa com áreas de vida de algumas espécies da avifauna nas áreas de Floresta Ombrófila Densa do município do Guarujá. Os raios representam as áreas de vida, conforme indicado por Barros (não publicado), Poulsen (1996), Morrison (2001) e Holbrook (2011), Karubian et al. (2011).

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Tabela 6.1.2.3 – Espécies de relevância ecológica da Avifauna registradas nas áreas de Floresta

Ombrófila Densa do município do Guarujá, o status de ameaça e/ou relevância e as respectivas áreas de vida.

Táxon Nome popular

Status de ameaça

Área de vida (km²)* SP BR IUCN

Eudocimus ruber guará 5

Ramphocelus bresilius tiê-sangue - - - 0,5

Conirostrum bicolor figuinha-do-mangue NT VU 0,07

Ramphodon navius beija-flor-rajado NT -

Amazona farinosa papagaio-moleiro CR NT -

Aramides cajaneus saracura-três-potes VU 0,137

Amadonastur lacernulatus gavião-pombo-pequeno VU VU VU 28

Ramphastos vitellinus tucano-de-bico-preto VU 10,92

Pteroglossus bailloni araçari-banana VU 10,92

Porcinas nudicollis araponga VU 90

Myrmotherula unicolor choquinha-cinzenta NT -

Legenda: Foram considerados os maiores valores de área de vida obtidos nas referências. EN – Em perigo; VU – Vulnerável; CR – Criticamente Ameaçada; NT – Quase ameaçada. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

Nos textos abaixo constam as principais características das espécies da avifauna constantes no mapa apresentado, que possivelmente tem ocorrência ao longo das áreas de morros do Guarujá, tanto pelas estimativas das áreas de vida de algumas espécies, quanto pela semelhança dos ambientes, embora os morros difiram quanto à conservação, ao entorno e respectivas pressões de acordo com a localização. A distribuição das espécies ao longo das áreas de morros poderá ser confirmada com os levantamentos primários.

Eudocimus ruber – guará

Eudocimus ruber, o guará, possui ocorrência pontual no estado, restrita à faixa

litorânea que liga os manguezais de Santos-Cubatão à região estuarina do norte da Ilha Comprida (SMA, 2010). Tem como principais ameaças a perda de habitat pelo desmatamento e ocupação urbana ilegal das áreas de estuários e manguezais.

No litoral sul e sudeste do Brasil, permaneceu por décadas sem registros, causado por expressiva redução populacional. A partir da década de 90, novos

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grupos foram observados no litoral de São Paulo, iniciando então um processo de repovoamento. Atualmente são vistos grandes bandos ao longo do estuário de Santos e áreas adjacentes. A área de vida do guará é em torno de 5 km².

Ramphocelus bresilius – tiê-sangue

Espécie endêmica de Mata Atlântica ganha destaque pela plumagem vermelha intensa dos indivíduos machos e pela ocorrência frequente em florestas litorâneas. Sua área de vida é estimada em 0,5 km² (BARROS, não publicado).

Ramphodon navius – beija-flor-rajado

O beija-flor-rajado, R. navius, é um dos maiores beija-flores do mundo e da Mata Atlântica, bioma em que a espécie é endêmica. Vive no interior sombreado de matas de encosta e pode ocorrer em jardins próximos às vegetações nativas. Gosta de flores miúdas de bromélias, podendo visitar mais de 200 flores por dia. Não foi encontrada referência para sua área de vida. O beija-flor-rajado está quase ameaçado (NT) de extinção a nível global.

Conirostrum bicolor – figuinha do mangue

Habitante de áreas alagadas como estuários, lagunas, encontra nos manguezais seu habitat preferido, no entanto, pode utilizar as áreas florestais próximas de seu hábitat. Se alimenta de frutos em áreas adjacentes ao manguezal (WIKIAVES, 2020). Não encontramos referências para essa espécie em si, porém encontramos para indivíduos do mesmo gênero, e, como eles compartilham as mesmas características morfológicas optou-se por utilizar. Sendo assim, a área de vida da C. bicolor foi estimada de 4,2 ha a 7,8 ha (POULSEN, 1996).

Amadonastur lacernulatus – gavião- pombo-pequeno

O gavião-pombo-pequeno, Amadonastur lacernulatus, espécie florestal considerada ameaçada de extinção no âmbito estadual, nacional e também internacional, deve ganhar atenção especial, pois é bastante sensível à perda de habitat florestal. Em sua maioria, as aves de rapina são tidas como predadores de topo de cadeia alimentar e são naturalmente sensíveis a mudanças e modificações

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ambientais por ação antrópica (MARTIN; FERRER 2013). Essa espécie pode manter uma área de vida que varia de 1200 a 2800 ha (MORRISON, 2001).

Pteroglossus bailloni – araçari-banana e Ramphastos vitellinus –

tucano-do-bico-preto

Com relação a suas áreas de vida, por se tratarem de animais da mesma família e com alguns hábitos em comum, eles apresentam uma área de vida semelhante, sendo ela de 1092 ha (HOLBROOK, 2011).

Aramides cajaneus – saracura-três-potes

A saracura-três-potes, Aramides cajaneus, é uma espécie com baixa capacidade de voo e geralmente procuradas por caçadores. É uma espécie de alta sensibilidade ambiental e encontra-se ameaçada no estado de São Paulo (Tabela 3). Não há estudos de área de vida direto para a espécie, porém é possível utilizar estudos de animais do mesmo gênero. Com isso sua área de vida é de 13,7 ha (KARUBIAN et al., 2011).

Porcinas nudicollis – araponga

Entre as espécies frugívoras, a importante função de dispersar sementes de plantas, não apenas ajuda na manutenção da dinâmica natural das populações vegetais, mas também favorece a regeneração das florestas (CARLO; MORALES, 2016). A araponga está ameaçada de extinção em escala global.

Myrmotherula unicolor – choquinha-cinzenta

Entre as espécies insetívoras que habitam o extrato médio das florestas (sub-bosque), destaca-se a choquinha-cinzenta, Myrmotherula unicolor. Esta espécie, que se mostrou frequente nos estudos avaliados, habita florestas de restingas ou ombrófilas de até 500 m de altitude. Está enquadrada na categoria “Quase Ameaçada” em nível global (IUCN, 2020).

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Amazona farinosa – papagaio-moleiro

Uma espécie de ave também frugívora, o papagaio-moleiro Amazona farinosa é considerada “Criticamente Ameaçada” no estado de São Paulo e também se encontra ameaçada em nível global.

HERPETOFAUNA

A complexidade estrutural da vegetação nas áreas de Floresta Ombrófila Densa e de morros propiciam diversos microhabitats para espécies de répteis e anfíbios com diferentes requerimentos ambientais, assegurando a integridade da taxocenose da herpetofauna no município, especialmente nas áreas mais conservadas.

No mapa da área de vida da herpetofauna (Figura 6.1.2.6) constam algumas espécies de répteis e anfíbios endêmicas de Mata Atlântica, espécies associadas a ambientes florestais e espécies associadas a ambientes litorâneos, que foram registradas nas áreas de Floresta Ombrófila Densa no município de Guarujá, além disso, constam algumas que foram registradas em resgates realizados pela Prefeitura de Guarujá. A área de vida dos indivíduos da herpetofauna costuma ser bem menor do que dos outros grupos, pois são animais de pouco deslocamento, com algumas exceções (por ex. Tartarugas marinhas). Na Tabela 6.1.2.4 constam as espécies do mapa, com seus status de ameaça e área de vida. A lista completa de espécies da herpetofauna registradas em Guarujá consta no Anexo B.

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Figura 6.1.2.6. Mapa com áreas de vida de algumas espécies da Herpetofauna nas áreas de Floresta Ombrófila Densa do município do Guarujá. Os raios representam as áreas de vida, conforme indicado por Luguer et al. (2009), Ringler et al. (2009), Tozetti (2006), Hederson, Nickerson e Ketcham (1976).

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Tabela 6.1.2.4 – Espécies de relevância ecológica da Herpetofauna registradas nas áreas de Floresta Ombrófila Densa do município do Guarujá, endemismo, habitat preferencial e as respectivas áreas de vida.

Táxon Nome popular

Endemismo Habitat

Área de vida (Km²)*

Ololygon littoralis pererequinha-do-litoral Mata Atlântica Florestal 0,000075

Haddadus binotatus rã-do-folhiço Mata Atlântica Florestal 0,000075

Thoropa taophora rã-do-costão Mata Atlântica Florestal 0,000075

Bothrops jararacussu jararacuçu Mata Atlântica Florestal 0,149

Bothrops jararaca jararaca Mata Atlântica Florestal 0,149

Chironius bicarinatus cobra cipó Mata Atlântica Florestal 0,000119

Legenda: (*) Foram considerados os maiores valores de área de vida obtidos nas referências.

Nos textos abaixo constam as principais características das espécies de répteis e anfíbios constantes no mapa apresentado.

Ololygon littoralis – pererequinha-do-litoral

A perereca-do-litoral, O. littoralis, é uma espécie de anfíbio cuja distribuição ocorre nas áreas costeiras da região Sudeste. A sua área de vida foi extrapolada a partir de outras espécies da família Hylidae, com o valor de 0,0075 ha (LUGUER et al., 2009; RINGLER et al., 2009).

Haddadus binotatus – rãzinha-do-folhiço

A rãzinha-do-folhiço, H. binotatus, é uma espécie associada a ambientes florestais. Como os anfíbios em geral, possui uma área de vida pequena, sendo extrapolada a partir de outras espécies da família Hylidae, com o valor de 0,0075 ha (LUGUER et al., 2009; RINGLER et al., 2009).

Thoropa miliaris – rã-do-costão

A espécie Thoropa taophora, rã-do-costão, foi registrada em dados secundários em ambientes rochosos com riacho. Essa espécie tem seu modo reprodutivo associado a ambientes rochosos e úmidos, onde realiza o depósito de ovos em rochas úmidas, cavidades nas rochas ou raízes de árvores sobre a água. Tais características demonstram um requerimento ecológico mais específico, demonstrando a importância dos ambientes rochosos das áreas de Floresta Ombrófila

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Densa do município de Guarujá para essa e outras espécies registradas no município, que também são associadas a esse tipo de ambiente, como, o sapinho-de-riacho,

Cycloramphus boraceiensis, e a rã-de-corredeira Hylodes sp. A sua área de vida foi

extrapolada a partir de outras espécies de anfíbios da família Hylidae, com o valor de 0,0075 ha (LUGUER et al., 2009; RINGLER et al., 2009).

Bothrops jararaca – jararaca e Bothrops jararacussu – jararacuçu

B. jararaca e B. jararacussu são semi-arborícolas associadas a ambientes

florestais e de hábitos noturnos, de forma que encontram nas áreas de floresta ombrófila abrigo e requerimentos ambientais necessários. No entanto, são espécies que se adaptam a condições de áreas florestais menos preservadas e por vezes acabam sendo encontradas em áreas urbanas adjacentes a áreas florestais, o que resulta em alto número de acidentes com essas serpentes. A área de vida foi estimada através de informações de outra espécie de viperíde, em 14,9 ha, podendo ser menor em estações chuvosas. (TOZETTI, 2006).

Chironius fuscus e Chironius bicarinatus – cobras-cipó

As cobras-cipó C. fuscus e C. bicarinatus são espécies arborícolas, endêmicas de Mata Atlântica e estritamente florestais, sendo, portanto, dependentes de áreas vegetadas. A área de vida dessas espécies, estimada a partir de estudo realizado para espécie do mesmo gênero, foi estimada em 0,0119 ha (HEDERSON; NICKERSON; KETCHAM, 1976).

BIOTA AQUÁTICA – Peixes e Crustáceos

No Guarujá, os riachos localizados nas áreas de Floresta Ombrófila Densa abrigam diversas espécies da biota relevantes ecologicamente. A grande variabilidade dos padrões locais de diversidade pode estar relacionada às complexidades estruturais e funcionais do sistema, influenciando a disponibilidade de micro-habitats e recursos. No levantamento de dados secundários foram registradas 30 espécies de peixes, sendo 28 endêmicas da Mata Atlântica e duas exóticas. As espécies exóticas

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registradas foram: Oreochromis niloticus (tilápia do nilo) e Cyprinus carpio (carpa). Dentre as espécies nativas apenas uma está listada como ameaçada: Anchoviella

lepidentostole (manjubinha). Não foi registrada nenhuma espécie de crustáceo para

este ambiente.

6.2.

ÁREA DE MANGUE

Compõem regiões costeiras alagadiças, que se formam no contato de ambientes terrestres e marinhos de zonas tropicais e subtropicais, em terrenos litorâneos sob a influência das marés e próximos ao desemboque de rios. Além da função de preservar a biodiversidade, o mangue desempenha outro papel fundamental na redução do processo erosivo, com as raízes da vegetação fixando o solo local e criando um filtro de retenção dos sedimentos advindos de montante.

A Figura 6.2.1 apresenta a área de mangue da área de estudo no Guarujá.

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6.2.1. Aspectos geológico-geotécnicos do manguezal

Os mangues estão em planícies rebaixadas em interação com o relevo, solo e cobertura vegetal, e influência diária das marés. Estão associados a depósitos marinhos retrabalhados por processos fluviais e aporta sedimentos finos lodosos continentais, por sedimentação causada por floculação no contato com águas salinas provenientes do mar nas marés altas.

A área do mangue, de acordo com a Carta Geotécnica do munícipio, engloba os terrenos baixos e planos, sujeitos a períodos cíclicos de inundação, conforme a variação das marés. Os terrenos são geotecnicamente impróprios à ocupação, destinados à preservação, inclusive de áreas próximas, porque, além da ocupação poder afetar o ecossistema, é fundamental para garantir sua estabilidade física evitando ou minimizando sua erosão. Caso contrário, o assoreamento dos sedimentos erodidos pode afetar o canal de Bertioga e, inclusive, o canal do porto de Santos (vide Carta Geotécnica). Além disso, cumpre o papel de filtro, retendor da poluição das águas litorâneas, causada por materiais e compostos químicos carregados pelos rios.

6.2.2. Recursos hídricos

O município está estabelecido na Ilha de Santo Amaro que possui uma “espinha dorsal” constituída por um conjunto de morros que se estendem de leste a oeste do município, do canal de Bertioga a baía de Santos. Este divisor de águas contrasta com a baixa declividade das planícies marinhas em ambos os lados do maciço das Serras de Santo Amaro e do Guararú.

Com nascentes localizadas nas Serras, os cursos d’água nas planícies marinhas apresentam baixas velocidades de escoamento, meandros e elevada sedimentação. Assim, pode-se considerar que os limites físicos da ilha impõem uma condição de rios pouco extensos que nascem na Serra ou Planície Litorânea (ou costeira) e que deságuam no oceano, em complexos estuarinos.

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Ambientes costeiros importantes, pois representam regiões de transição entre o continente e o mar, onde a natureza manifesta-se, sob influência de rios, mangues e cursos d’água, em contraste à ação das marés e de outras influências oceânicas. Caracterizados por suas funcionalidades biológicas e geoquímicas, pelos regimes hidrológicos e oceanográficos, são ambientes diversos e complexos, além de sensíveis às ações e impactos antropogênicos.

Os seguintes rios correm pelo território de Guarujá: Rio de Santo Amaro; Rio do Meio; Rio Icanhema; Rio do Peixe; Rio do Pote; Rio Acaraú; Rio Comprido e Rio dos Patos (Figura 6.2.2.1). Esses rios de água doce são de domínio do estado de São Paulo e as águas salgadas (marítimas) são de domínio da União. As águas costeiras e as salobras (rios ou braços de rios de água doce em confluência com a maré) assim como as estuarinas têm sua dominialidade em discussão.

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Os rios da Ilha de Santo Amaro interagem com a malha urbana e são elementos fundamentais do sistema de drenagem. Necessitam permanentemente de dragagem para desassoreamento do Sistema de drenagem de águas pluviais.

No município ocorrem situações de ocupações irregulares nas regiões de nascente, avanço urbano sobre áreas de mangues e ocupações com alto grau de verticalização em áreas de fragilidade ambiental (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2011). A impermeabilização do solo ocorre em grande extensão da Planície, resultante do processo de ocupação urbana. As áreas mais problemáticas estão nas regiões que sofreram um intenso processo de urbanização, em grande parte verticalizada, na qual houve o aterramento das várzeas e a canalização dos rios, intensificando o escoamento superficial.

Em períodos de alta temporada a população do município triplica e com isso os impactos gerados no ambiente, especialmente quanto à falta de infraestrutura suficiente em saneamento básico (FERREIRA, 2015).

O Relatório de Situação dos Recursos Hídricos não traz informações referentes a regiões suscetíveis à inundação na área de estudo, apesar de toda a planície do Guarujá ter sido identificada com risco à inundação na Carta de suscetibilidade a movimentos gravitacionais de massa e inundação do Município de Guarujá – SP (IPT; CPRM, 2014) e esta problemática pode ser um dos principais dilemas vivenciados pela população, como consequência da ocupação das várzeas e zonas costeiras, onde as dinâmicas naturais de escoamento e deposição são acrescidas de importante influência marinha.

Essas características dos recursos hídricos do município apontam para a necessidade de redução de ameaças à conservação do mangue, importante não só para a manutenção do equilíbrio ambiental, mas também para a mantenção da qualidade de vida da população local.

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6.2.3. Fauna associada ao mangue

O mangue consiste em ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés. É formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural da Formação Arbórea/Arbustiva-herbácea de Terrenos Marinhos Lodosos, conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (ICMBIO, 2018).

Os manguezais são vulneráveis a uma série de ameaças, destacando-se: a perda e fragmentação da cobertura vegetal; a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, decorrente da ocupação, da poluição e das mudanças na hidrodinâmica, que promovem a diminuição na oferta de recursos necessários à sobrevivência de muitas comunidades e de setores da economia como a pesca artesanal, o extrativismo e a coleta de marisco e o turismo (ICMBIO, 2018).

Os manguezais são importantes para o equilíbrio ambiental por meio das suas funções ambientais de: preservar os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade e a estabilidade geológica; facilitar o fluxo gênico de fauna e flora; proteger o solo; e assegurar o bem-estar das populações humanas.

A relevância dos manguezais para o desenvolvimento humano está evidenciada pela principal opção de se estabelecer unidades de conservação de uso sustentável para sua conservação, entendendo o ecossistema manguezal como um dos mais produtivos e ricos da Terra, sendo um espaço de relação dinâmica com o homem, nas dimensões social, cultural e econômico.

Assim, a conservação dos manguezais é de extrema importância, haja vista as ameaças que incidem sobre eles, tais como: aquicultura; agricultura; exploração de madeira; indústria pesqueira; instalações urbanas, industriais e turísticas, além das mudanças do clima (ICMBIO; 2018).

Dos dados secundários consultados de estudos de fauna realizados no Guarujá, apenas um estudo de fauna terrestre teve levantamento em área de

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mangue, no limite entre Floresta Ombrófila Densa e mangue. Sendo assim, foram considerados no cômputo os registros de espécies cujos hábitos são associados a áreas de mangue, de acordo com referências a respeito. Além disso, para os répteis obteve-se registros de estudos realizados em áreas de manguezais adjacentes e da Prefeitura de Guarujá. Esses dados vão ser ampliados com levantamentos primários previstos para outubro de 2020.

De acordo com esse cômputo, das espécies registradas no estudo supracitado que podem ocorrer no mangue, foram registradas 42 espécies da fauna terrestre, divididas nos grupos répteis (n=1), anfíbios (n=0), aves (n=39), mamíferos de médio e grande porte (n=1), pequenos mamíferos terrestres (n=2) e pequenos mamíferos voadores (n=0). Da biota aquática, como a maioria dos estudos tiveram coleta em área estuarina, as espécies contabilizadas aqui representam as espécies que são associadas a áreas de manguezais, que representa 20 espécies de peixes e 4 crustáceos. O total aqui apresentado reflete os resultados obtidos nos estudos utilizados como referência, no entanto, a partir da realização de levantamento em campo a riqueza da fauna tende a ser incrementada (Tabela 6.2.3.1 e Figura

6.2.3.2).

Deste total de espécies computado para áreas de mangue do Guarujá, 24 espécies são endêmicas de Mata Atlântica, seis são ameaçadas de extinção e cinco espécies são espécies migratórias (Tabela 6.2.3.1).

Tabela 6.2.3.1 – Atributos das espécies de fauna terrestre registradas em estudos realizados em áreas de mangue

no município do Guarujá e da biota registrados em ambientes estuarinos, mas associados à áreas de mangue.

Ambiente Grupo Mangue Total Endêmicas MA Ameaçadas Migratórias

Res tin g a Herpetofauna Anfíbios 0 0 0 0 Répteis 1 1 0 0 Mastofauna Médios e grandes mamíferos 1* 0 0 0 Pequenos mamíferos terrestres 1* 0 0 0 Pequenos mamíferos voadores 0 0 0 0 Avifauna Aves 39* 3 1 Biota Peixes 20 20 4 0 Crustáceos 4 4 0 4

Legenda: (*) Espécies que provavelmente foram registradas em borda de mangue, pois o estudo consultado foi realizado em floresta ombrófila densa e limiar do mangue. MA: Mata Atlântica. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

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Figura 6.2.3.2 – Número de espécies por grupo da Fauna associadas a áreas de mangue.

A fim de ilustrar a distribuição da fauna nas áreas de mangue de Guarujá e entorno, será apresentado um mapa (Figura 6.2.3.3) com algumas espécies de fauna terrestre de provável ocorrência (aves e mamíferos) e de ocorrência confirmada (réptil), com os locais de registro e as respectivas áreas de vida de algumas delas a fim de se demonstrar as áreas ocupadas pela fauna nesta fitofisionomia.

A área de vida representa o espaço físico em que uma determinada espécie utiliza para realização de todas as suas atividades, como forrageamento (busca por alimento e água), busca por parceiro reprodutivo e local para reprodução, além de busca por abrigo. No mapa abaixo (Figura 6.2.3.3), além dos pontos onde as espécies foram registradas é possível observar as áreas de vida de algumas espécies da fauna terrestre.

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Figura 6.2.3.3. – Mapa com a distribuição de algumas espécies da fauna terrestre em áreas de manguezal no município de Guarujá e adjacências. Os raios representam as áreas de vida, conforme indicado por Cheida (2012), Barros (não publicado), Poulsen (1996), Marques (2013).

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Na Tabela 6.2.3.2 constam as espécies apresentadas no mapa, seu status de ameaça e área de vida. E nos textos subsequentes uma breve descrição das características dessas espécies.

Tabela 6.2.3.2 – Espécies de ocorrência em área de mangue dos grupos de aves, médios e grandes

mamíferos e répteis, o status de ameaça e/ou relevância e as respectivas áreas de vida.

Grupo

Táxon Nome popular

Status de ameaça Área de vida (km²)* SP BR IUCN A ve s

Ramphocelus bresiliusMA tiê-sangue - - - 0,5

Amazona farinosa papagaio-moleiro CR - NT -

Aramides cajaneus saracura-três-potes VU - 0,137

Carinostrum bicolorMA figuinha-do-mangue VU - NT 0,07

Médi os e Gra ndes m am íf eros

Procyon cancrivorus mão-pelada - - - 6,95

Lontra longicaudis lontra

VU - NT - R épt ei s

Caiman latirostris jacaré-do-papo-amarelo

- - -

0,72

Legenda: (*) Foram considerados os maiores valores de área de vida obtidos nas referências. MA – Espécie endêmica de Mata Atlântica. EN – Em perigo; VU – Vulnerável; QA – Quase ameaçada; NT – Quase ameaçada; CR – Criticamente Ameaçada. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE

Dos médios e grandes mamíferos, o Procyon cancrivorus e a Lontra

longicaudis destacam-se como espécies que utilizam o mangue para obtenção de

seus recursos.

Lontra longicaudis – lontra

Embora os estudos consultados não tenham registrado dados de médios e grandes mamíferos no mangue, sabe-se que essas áreas são ambientes utilizados pela lontra (Lontra longicaudis), tendo registros no estuário de Santos, e sendo de provável ocorrência para os mangues de Guarujá, que em muitas porções apresentam áreas conservadas, propiciando requerimentos ambientais íntegros para a lontra e outras espécies da fauna. A lontra possui dependência de

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ambientes aquáticos e utiliza os de mangue e adjacências para obtenção de seus recursos alimentares e abrigo. Essa espécie encontra-se ameaçada de extinção a nível estadual e global.

Procyon cancrivorus – mão-pelada

Trata-se de uma espécie principalmente solitária e noturna, que é encontrada perto de fontes de água, como banhados, rios e manguezais (CHIEDA, 2012). A espécie utiliza tanto paisagens modificadas, como plantações de eucalipto, quanto vegetações naturais (OLIVEIRA, 2002). Possuem relativa tolerância a perturbações antrópicas sendo dependentes de corpos d'água e suscetíveis ao desaparecimento de corredores florestais (MICHALSKI; PERES 2005). É uma espécie que comumente habita todas as fitofisionomias (mangue, restinga e Floresta Ombrófila Densa), sendo associada à ambientes litorâneos.

Com relação à área de vida, Bianchi (2009) relatou uma área de vida de 6,95 km² para um macho adulto enquanto que Cheida (2012) obteve área de vida média de 1,4 km² até 8 km² para indivíduos monitorados na mesma área adjacente.

AVIFAUNA

Um dos grupos da fauna terrestre que mais estão associados ao mangue, obtendo recursos alimentares especialmente nos solos expostos nas marés baixas, onde é possível observar alta abundância da avifauna nessas áreas. No presente estudo destacaram-se algumas das espécies que tipicamente habitam o manguezal:

Ramphocelus bresilius – tiê-sangue

Espécie endêmica de Mata Atlântica ganha destaque pela plumagem vermelha intensa dos indivíduos machos e pela ocorrência frequente em florestas litorâneas. Sua área de vida é estimada em 0,5 km² (BARROS, não publicado).

Referências

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