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6. SÍNTESE DO DIAGNÓSTICO SOCIOAMBIENTAL INTEGRADO

6.2. ÁREA DE MANGUE

6.2.3. Fauna associada ao mangue

O mangue consiste em ecossistema litorâneo que ocorre em terrenos baixos, sujeitos à ação das marés. É formado por vasas lodosas recentes ou arenosas, às quais se associa, predominantemente, a vegetação natural da Formação Arbórea/Arbustiva-herbácea de Terrenos Marinhos Lodosos, conhecida como mangue, com influência fluviomarinha, típica de solos limosos de regiões estuarinas e com dispersão descontínua ao longo da costa brasileira, entre os Estados do Amapá e de Santa Catarina (ICMBIO, 2018).

Os manguezais são vulneráveis a uma série de ameaças, destacando-se: a perda e fragmentação da cobertura vegetal; a deterioração da qualidade dos habitats aquáticos, decorrente da ocupação, da poluição e das mudanças na hidrodinâmica, que promovem a diminuição na oferta de recursos necessários à sobrevivência de muitas comunidades e de setores da economia como a pesca artesanal, o extrativismo e a coleta de marisco e o turismo (ICMBIO, 2018).

Os manguezais são importantes para o equilíbrio ambiental por meio das suas funções ambientais de: preservar os recursos hídricos, a paisagem, a biodiversidade e a estabilidade geológica; facilitar o fluxo gênico de fauna e flora; proteger o solo; e assegurar o bem-estar das populações humanas.

A relevância dos manguezais para o desenvolvimento humano está evidenciada pela principal opção de se estabelecer unidades de conservação de uso sustentável para sua conservação, entendendo o ecossistema manguezal como um dos mais produtivos e ricos da Terra, sendo um espaço de relação dinâmica com o homem, nas dimensões social, cultural e econômico.

Assim, a conservação dos manguezais é de extrema importância, haja vista as ameaças que incidem sobre eles, tais como: aquicultura; agricultura; exploração de madeira; indústria pesqueira; instalações urbanas, industriais e turísticas, além das mudanças do clima (ICMBIO; 2018).

Dos dados secundários consultados de estudos de fauna realizados no Guarujá, apenas um estudo de fauna terrestre teve levantamento em área de

mangue, no limite entre Floresta Ombrófila Densa e mangue. Sendo assim, foram considerados no cômputo os registros de espécies cujos hábitos são associados a áreas de mangue, de acordo com referências a respeito. Além disso, para os répteis obteve-se registros de estudos realizados em áreas de manguezais adjacentes e da Prefeitura de Guarujá. Esses dados vão ser ampliados com levantamentos primários previstos para outubro de 2020.

De acordo com esse cômputo, das espécies registradas no estudo supracitado que podem ocorrer no mangue, foram registradas 42 espécies da fauna terrestre, divididas nos grupos répteis (n=1), anfíbios (n=0), aves (n=39), mamíferos de médio e grande porte (n=1), pequenos mamíferos terrestres (n=2) e pequenos mamíferos voadores (n=0). Da biota aquática, como a maioria dos estudos tiveram coleta em área estuarina, as espécies contabilizadas aqui representam as espécies que são associadas a áreas de manguezais, que representa 20 espécies de peixes e 4 crustáceos. O total aqui apresentado reflete os resultados obtidos nos estudos utilizados como referência, no entanto, a partir da realização de levantamento em campo a riqueza da fauna tende a ser incrementada (Tabela 6.2.3.1 e Figura

6.2.3.2).

Deste total de espécies computado para áreas de mangue do Guarujá, 24 espécies são endêmicas de Mata Atlântica, seis são ameaçadas de extinção e cinco espécies são espécies migratórias (Tabela 6.2.3.1).

Tabela 6.2.3.1 – Atributos das espécies de fauna terrestre registradas em estudos realizados em áreas de mangue

no município do Guarujá e da biota registrados em ambientes estuarinos, mas associados à áreas de mangue.

Ambiente Grupo Mangue Total Endêmicas MA Ameaçadas Migratórias

Res tin g a Herpetofauna Anfíbios 0 0 0 0 Répteis 1 1 0 0 Mastofauna Médios e grandes mamíferos 1* 0 0 0 Pequenos mamíferos terrestres 1* 0 0 0 Pequenos mamíferos voadores 0 0 0 0 Avifauna Aves 39* 3 1 Biota Peixes 20 20 4 0 Crustáceos 4 4 0 4

Legenda: (*) Espécies que provavelmente foram registradas em borda de mangue, pois o estudo consultado foi realizado em floresta ombrófila densa e limiar do mangue. MA: Mata Atlântica. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

Figura 6.2.3.2 – Número de espécies por grupo da Fauna associadas a áreas de mangue.

A fim de ilustrar a distribuição da fauna nas áreas de mangue de Guarujá e entorno, será apresentado um mapa (Figura 6.2.3.3) com algumas espécies de fauna terrestre de provável ocorrência (aves e mamíferos) e de ocorrência confirmada (réptil), com os locais de registro e as respectivas áreas de vida de algumas delas a fim de se demonstrar as áreas ocupadas pela fauna nesta fitofisionomia.

A área de vida representa o espaço físico em que uma determinada espécie utiliza para realização de todas as suas atividades, como forrageamento (busca por alimento e água), busca por parceiro reprodutivo e local para reprodução, além de busca por abrigo. No mapa abaixo (Figura 6.2.3.3), além dos pontos onde as espécies foram registradas é possível observar as áreas de vida de algumas espécies da fauna terrestre.

Figura 6.2.3.3. – Mapa com a distribuição de algumas espécies da fauna terrestre em áreas de manguezal no município de Guarujá e adjacências. Os raios representam as áreas de vida, conforme indicado por Cheida (2012), Barros (não publicado), Poulsen (1996), Marques (2013).

Na Tabela 6.2.3.2 constam as espécies apresentadas no mapa, seu status de ameaça e área de vida. E nos textos subsequentes uma breve descrição das características dessas espécies.

Tabela 6.2.3.2 – Espécies de ocorrência em área de mangue dos grupos de aves, médios e grandes

mamíferos e répteis, o status de ameaça e/ou relevância e as respectivas áreas de vida.

Grupo

Táxon Nome popular

Status de ameaça Área de vida (km²)* SP BR IUCN A ve s

Ramphocelus bresiliusMA tiê-sangue - - - 0,5

Amazona farinosa papagaio-moleiro CR - NT -

Aramides cajaneus saracura-três-potes VU - 0,137

Carinostrum bicolorMA figuinha-do-mangue VU - NT 0,07

Médi os e Gra ndes m am íf eros

Procyon cancrivorus mão-pelada - - - 6,95

Lontra longicaudis lontra

VU - NT - R épt ei s

Caiman latirostris jacaré-do-papo-amarelo

- - -

0,72

Legenda: (*) Foram considerados os maiores valores de área de vida obtidos nas referências. MA – Espécie endêmica de Mata Atlântica. EN – Em perigo; VU – Vulnerável; QA – Quase ameaçada; NT – Quase ameaçada; CR – Criticamente Ameaçada. SP (SÃO PAULO, 2018) – Decreto nº 63.853, de 27 de novembro de 2018; BR (BRASIL, 2014) – Portaria Nº 444/2014, do Ministério do Meio Ambiente do Brasil; IUCN (IUCN, 2020) Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas globalmente.

MAMÍFEROS DE MÉDIO E GRANDE PORTE

Dos médios e grandes mamíferos, o Procyon cancrivorus e a Lontra

longicaudis destacam-se como espécies que utilizam o mangue para obtenção de

seus recursos.

Lontra longicaudis – lontra

Embora os estudos consultados não tenham registrado dados de médios e grandes mamíferos no mangue, sabe-se que essas áreas são ambientes utilizados pela lontra (Lontra longicaudis), tendo registros no estuário de Santos, e sendo de provável ocorrência para os mangues de Guarujá, que em muitas porções apresentam áreas conservadas, propiciando requerimentos ambientais íntegros para a lontra e outras espécies da fauna. A lontra possui dependência de

ambientes aquáticos e utiliza os de mangue e adjacências para obtenção de seus recursos alimentares e abrigo. Essa espécie encontra-se ameaçada de extinção a nível estadual e global.

Procyon cancrivorus – mão-pelada

Trata-se de uma espécie principalmente solitária e noturna, que é encontrada perto de fontes de água, como banhados, rios e manguezais (CHIEDA, 2012). A espécie utiliza tanto paisagens modificadas, como plantações de eucalipto, quanto vegetações naturais (OLIVEIRA, 2002). Possuem relativa tolerância a perturbações antrópicas sendo dependentes de corpos d'água e suscetíveis ao desaparecimento de corredores florestais (MICHALSKI; PERES 2005). É uma espécie que comumente habita todas as fitofisionomias (mangue, restinga e Floresta Ombrófila Densa), sendo associada à ambientes litorâneos.

Com relação à área de vida, Bianchi (2009) relatou uma área de vida de 6,95 km² para um macho adulto enquanto que Cheida (2012) obteve área de vida média de 1,4 km² até 8 km² para indivíduos monitorados na mesma área adjacente.

AVIFAUNA

Um dos grupos da fauna terrestre que mais estão associados ao mangue, obtendo recursos alimentares especialmente nos solos expostos nas marés baixas, onde é possível observar alta abundância da avifauna nessas áreas. No presente estudo destacaram-se algumas das espécies que tipicamente habitam o manguezal:

Ramphocelus bresilius – tiê-sangue

Espécie endêmica de Mata Atlântica ganha destaque pela plumagem vermelha intensa dos indivíduos machos e pela ocorrência frequente em florestas litorâneas. Sua área de vida é estimada em 0,5 km² (BARROS, não publicado).

Amazona farinosa – papagaio-moleiro

Uma espécie de ave também frugívora, o papagaio-moleiro (Amazona

farinosa) é considerada “Criticamente Ameaçada” no estado de São Paulo e

também encontra-se ameaçada no nível global. Não foi encontrada referência para sua área de vida.

Aramides cajaneus – saracura-três-potes

A saracura-três-potes (Aramides cajaneus) é uma espécie com baixa capacidade de voo e geralmente procurada por caçadores. É uma espécie de alta sensibilidade ambiental e encontra-se ameaçada no estado de São Paulo. Não há estudos de área de vida para a espécie, porém é possível utilizar estudos de animais do mesmo gênero. Com isso sua área de vida é estimada em 13,7 ha.

Conirostrum bicolor – figuinha do mangue

Habitante de áreas alagadas como estuários, lagunas, encontra nos manguezais seu habitat preferido. Alimenta-se de frutos em áreas adjacentes ao manguezal (WIKIAVES, 2020). Não foram encontradas referências para essa espécie em si, porém foram encontradas para indivíduos do mesmo gênero, e, como eles compartilham as mesmas características morfológicas optou-se por utilizar essas áreas de vida. Sendo assim, a área de vida da C. bicolor foi estimada de 4,2 ha a 7,8 ha (POULSEN, 1996).

HERPETOFAUNA

Poucas espécies da herpetofauna são adaptadas às condições de salinidade e variações da maré que ocorrem no manguezal. No entanto, algumas espécies de anfíbios e répteis habitam ou transitam pelo mangue.

Dos répteis destacam-se: o jacaré-do-papo-amarelo (Caiman latirostris), que utiliza o mangue como abrigo, fonte de alimentação e possivelmente para reprodução. As bibliografias consultadas evidenciam a ocorrência desta espécie por extensas áreas do estuário de Santos, além disso, dados de resgate da

Prefeitura Municipal do Guarujá e mídia comprovam registro para o município de Guarujá.

Caiman latirostris – jacaré-de-papo-amarelo

O jacaré-de-papo-amarelo está distribuído em grande parte da região sudeste da América do Sul, ocupando rios, mangues e áreas alagáveis na Argentina, Bolívia, Brasil, Paraguai e Uruguai, sendo que mais de 70% da distribuição global da espécie está no território brasileiro, onde a espécie é encontrada nos biomas Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica e Pampas, desde a região costeira do Rio Grande do Norte e Pernambuco. É uma espécie com plasticidade ambiental, que se adapta a habitats alterados, e, além da perda de habitat, a caça é uma das maiores ameaças à espécie.

Em estudo realizado no estuário de Santos foi possível observar as maiores densidades em locais de estreitos meandros entre fragmentos de manguezal, onde os indivíduos foram registrados nas margens, na maioria das vezes em meio às raízes das árvores, demonstrando a importância do mangue para a espécie. Sobre a área de vida, Marques (2013), calculou a média da área de vida para os jacarés- de-papo-amarelo em área de silvicultura na bacia hidrográfica de Paranapanema (SP), e o resultado da área de vida foi 32 ± 23,8 ha (7,1 – 72,2 ha), tirando um resultado outlier, de um macho (MPC=548,5 ha).

BIOTA AQUÁTICA – PEIXES E CRUSTÁCEOS

O manguezal é considerado um dos ecossistemas mais importantes para várias espécies de crustáceos, moluscos e peixes que nele estão associadas. Além de ser um local de abrigo natural, o mangue também oferece grande variedade e disponibilidade de alimentos, atraindo várias espécies que migram regularmente ou em certas fases de sua vida (MASTALLER, s.d).

Dentre essas várias espécies associadas ao mangue existem algumas que estão listadas com algum grau de ameaça, como as espécies de peixes: Bardiella

mandim). Além dos peixes, foram registradas quatro espécies de crustáceos, algumas delas com interesse comercial, que podem representar importância social e econômica para o desenvolvimento sustentável do município de Guarujá, por exemplo: Ucides cordatus (caranguejo-uçá) e Callinectes danae (sirí-açu), nenhuma espécie de crustáceo registrada está na lista de espécies ameaçadas.