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Unida na diversidadePT
Parlamento Europeu
2019-2024Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros
2020/0112R(APP)
10.2.2021
PARECER
da Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros
dirigido à Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos
sobre a proposta de regulamento do Conselho que altera o Regulamento (CE) n.º 168/2007 que cria a Agência dos Direitos Fundamentais da União Europeia (COM(2020)0225 – 2020/0112R(APP))
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SUGESTÕES
A Comissão dos Direitos das Mulheres e da Igualdade dos Géneros insta a Comissão das Liberdades Cívicas, da Justiça e dos Assuntos Internos, competente quanto à matéria de fundo, a incorporar as seguintes sugestões no relatório que aprovar:
A. Considerando que a igualdade de género é um valor fundamental consagrado nos Tratados, e que a Agência dos Direitos Fundamentais (FRA) contribui de forma única para a promoção e a proteção dos direitos fundamentais na UE;
B. Considerando que a discriminação com base no género e na identidade de género se cruza, frequentemente, com a discriminação em razão de outros motivos, tais como raça, cor, origem étnica ou social, características genéticas, língua, religião ou crença, opinião política ou de outra índole, pertença a uma minoria nacional, propriedade, nascimento, deficiência, idade ou orientação sexual, desencadeando uma dupla e múltipla discriminação; que uma perspetiva interseccional horizontal é essencial para proteger os direitos fundamentais de todos;
C. Considerando que a FRA executa o seu mandato desenvolvendo continuamente a sua capacidade de investigação, prestando aconselhamento especializado e sensibilizando para as diferentes questões em matéria de direitos fundamentais, nomeadamente a igualdade de género;
D. Considerando que os dados repartidos por género e os dados sensíveis às questões de género, de natureza comparável, são essenciais para revelar toda a dimensão da violência baseada no género, tornar visíveis as desigualdades e criar políticas
específicas; que continuam a não existir dados repartidos por género e dados sensíveis às questões de género em diferentes domínios das políticas da UE e dos
Estados-Membros; que os inquéritos e a análise de dados da FRA têm por objetivo colmatar estas lacunas de conhecimento;
E. Considerando que a FRA está também a reforçar o seu papel nas atividades
operacionais, prestando informações, assistência e aconselhamento sobre questões de direitos fundamentais nos centros de registo de migrantes, onde as condições de vida precárias podem criar dificuldades no acesso a cuidados de saúde para as mulheres e as raparigas, em particular no que se refere à saúde e aos direitos sexuais e reprodutivos, e onde existe um risco significativo de violência sexual e baseada no género, mediante a organização de sessões de formação e a colaboração com as outras autoridades e agências competentes, como o Gabinete Europeu de Apoio em matéria de Asilo (EASO); que a FRA e o Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE) têm um excelente historial de colaboração em matéria de investigação, comunicação e criação de redes, tendo em vista o reforço da promoção dos direitos humanos e da igualdade de género;
F. Considerando que os direitos sexuais e reprodutivos são direitos humanos, cuja violação constitui uma infração aos direitos das mulheres e das raparigas em matéria de
igualdade, não discriminação, dignidade, saúde e proteção contra um tratamento desumano e degradante; que recentemente assistimos a um retrocesso evidente a nível europeu no que respeita à igualdade de género e aos direitos das mulheres, incluindo a
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saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, e a um acesso cada vez mais limitado aos cuidados de saúde; que o direito de aceder à prevenção em matéria de saúde e de beneficiar de cuidados médicos, de acordo com as legislações e práticas nacionais, é salientado na Carta dos Direitos Fundamentais da UE; que a FRA, em cooperação com o EIGE, deu um contributo precioso para a proteção destes direitos;
G. Considerando que a análise da FRA sobre as consequências da COVID-19 e das medidas destinadas a conter a epidemia para os direitos fundamentais expôs o impacto desproporcionado do vírus nas mulheres e, em particular, nas mulheres que se
encontram em situação vulnerável, como as vítimas de violência baseada no género, as mulheres que trabalham em setores essenciais, as mulheres em risco de pobreza e as mulheres vítimas de discriminação múltipla;
H. Considerando que a criação de uma formação específica do Conselho sobre a igualdade de género, tal como já solicitado pelo Parlamento, permitiria uma ampla cooperação com a FRA em questões relacionadas com a igualdade de género e contribuiria para reforçar a proteção dos direitos das mulheres e a igualdade de género na União Europeia;
1. Considera que o atual mandato da FRA é pertinente, corresponde às necessidades da UE e tem um valor acrescentado europeu significativo; aprecia a qualidade dos resultados apresentados pela FRA, a sua eficácia e o seu impacto a nível da UE, e solicita que a Agência promova a integração da perspetiva de género e a orçamentação sensível ao género no seu trabalho, em consonância com as prioridades do quadro financeiro plurianual 2021-2027;
2. Solicita ao Conselho que inclua um requisito relativo ao equilíbrio entre homens e mulheres nos organismos criados pelo Regulamento (CE) n.º 168/2007 aquando da alteração das disposições pertinentes no âmbito da atual reforma, e que exija que pelo menos um dos membros do Comité Científico tenha conhecimentos especializados relevantes em matéria de igualdade de género;
3. Solicita ao Conselho que inclua um requisito relativo à avaliação sensível às questões de género aquando da alteração das disposições pertinentes no âmbito da atual reforma; 4. Louva a cooperação da FRA com o EIGE em todos os aspetos referentes à igualdade de
género, inclusive no domínio da violência baseada no género, e apela a que esta cooperação seja reforçada, a fim de melhor combater o crescente retrocesso no que respeita à igualdade de género e aos direitos das mulheres e as políticas e/ou a
legislação suscetíveis de violar a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, bem como a discriminação interseccional, o impacto da COVID-19 nas mulheres e nas raparigas, em particular no que se refere à violência baseada no género, ao acesso à saúde e aos
direitos sexuais e reprodutivos, ao aumento da exclusão social e da ciberviolência, que é um problema grave e crescente que pode potencialmente ter repercussões importantes na sociedade e na economia europeias; observa com preocupação que a violência baseada no género aumentou significativamente durante o período de confinamento em resultado da pandemia de COVID-19, embora continue a ser insuficientemente
denunciada em todos os Estados-Membros; apela igualmente ao reforço da cooperação da FRA com o EIGE, a fim de formular pareceres com vista, nomeadamente, a dar o seu
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contributo às autoridades competentes para melhorar a segurança das mulheres e das raparigas nos centros de registo de migrantes, garantindo condições de vida dignas e o acesso a cuidados de saúde, incluindo a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, e prevenindo a violência sexual e baseada no género;
5. Insta a FRA a abordar especificamente a questão do género na proteção das vítimas da criminalidade, no quadro das competências alargadas da Agência no âmbito da
cooperação em matéria penal;
6. Exorta a FRA, em cooperação com o EIGE, a elaborar um novo estudo sobre a violência baseada no género e a violência contra as mulheres à luz da COVID-19, um novo estudo sobre a proteção da saúde e dos direitos sexuais e reprodutivos na Europa e um novo estudo centrado na análise da legislação da UE em matéria de igualdade de género e a sua aplicação, com vista a identificar as lacunas existentes;
7. Salienta que a violência baseada no género constitui um obstáculo à plena concretização da igualdade entre homens e mulheres, tratando-se de discriminação e de uma violação dos direitos humanos; recorda a ausência de dados comparáveis e atualizados,
repartidos por género, sobre a violência baseada no género em todos os Estados-Membros;
8. Lamenta que o último inquérito da FRA sobre a violência contra as mulheres – que constitui uma referência a nível da UE – remonte ao início de 2014, o que significa que os dados disponíveis não são atuais nem exatos; reitera, por conseguinte, o seu apelo à FRA para que forneça dados atualizados que reflitam a situação atual nos Estados-Membros;
9. Destaca os importantes contributos da FRA até à data no domínio dos direitos das mulheres, como, por exemplo, o seu recente relatório intitulado «Out of sight: migrant women exploited in domestic work» (Longe da vista: mulheres migrantes exploradas no trabalho doméstico), publicado em 2018, que revelou as terríveis condições de trabalho e as violações dos direitos fundamentais das mulheres em habitações privadas em toda a UE;
10. Apela a uma formação mais específica para o pessoal da FRA no domínio da igualdade de género, incluindo a violência baseada no género, em particular no que diz respeito à assistência através de visitas aos centros de registo de migrantes, que servem de base para fornecer apoio e aconselhamento assente em dados concretos sobre questões relacionadas com os direitos fundamentais às autoridades nacionais, à Comissão e a outras agências competentes que operam nestes centros de registo, de modo a que, graças a este apoio, possam ajudar as autoridades responsáveis a prestar melhor assistência às mulheres e às raparigas, por exemplo, sobre as suas necessidades em matéria de cuidados de saúde, incluindo a saúde e os direitos sexuais e reprodutivos, a identificar vítimas de violência baseada no género, bem como vítimas de tráfico de seres humanos e de exploração sexual, e a prestar-lhes a ajuda e a assistência necessárias;
11. Congratula-se com o facto de o âmbito das atividades da FRA abranger as competências da União, incluindo a cooperação policial e judiciária em matéria penal; salienta o compromisso da Comissão de melhorar e concentrar os esforços para erradicar a
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violência baseada no género, proporcionar às vítimas um forte sistema de apoio, acelerar a adesão da UE à Convenção de Istambul e aproveitar as oportunidades proporcionadas pelo Tratado sobre o Funcionamento da União Europeia para incluir a violência contra as mulheres na lista de crimes reconhecidos pela UE; regozija-se com o contributo da FRA nesse sentido;
12. Apela ao alargamento do âmbito de funções da FRA, de modo a permitir que a Agência contribua, por iniciativa própria, para os debates em curso ao abrigo do artigo 7.º do Tratado da União Europeia no seio da Comissão, do Parlamento e do Conselho; apela a que a FRA, em cooperação com um painel de peritos independentes, identifique, de forma imparcial, os principais desenvolvimentos positivos e negativos em cada
Estado-Membro e contribua para a criação de uma metodologia para o relatório anual de acompanhamento sobre os valores da União, no quadro de um mecanismo da UE para a democracia, o Estado de direito e os direitos fundamentais;
13. Reconhece a necessidade de dotar a FRA, no contexto do seu atual programa de trabalho para 2020-2022, de pessoal devidamente especializado para continuar a tratar questões temáticas relacionadas com o género, como a violência baseada no género.
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INFORMAÇÕES SOBRE A APROVAÇÃO NA COMISSÃO ENCARREGADA DE EMITIR PARECER
Data de aprovação 4.2.2021
Resultado da votação final +: –: 0:
27 6 2 Deputados presentes no momento da
votação final
Christine Anderson, Simona Baldassarre, Robert Biedroń, Vilija Blinkevičiūtė, Annika Bruna, Margarita de la Pisa Carrión, Rosa Estaràs Ferragut, Frances Fitzgerald, Cindy Franssen, Heléne Fritzon, Lívia Járóka, Arba Kokalari, Alice Kuhnke, Elżbieta Katarzyna
Łukacijewska, Karen Melchior, Andżelika Anna Możdżanowska, Maria Noichl, Sandra Pereira, Pina Picierno, Sirpa Pietikäinen, Samira Rafaela, Evelyn Regner, Diana Riba i Giner, Eugenia Rodríguez Palop, María Soraya Rodríguez Ramos, Christine Schneider, Sylwia Spurek, Jessica Stegrud, Isabella Tovaglieri, Ernest Urtasun, Elissavet Vozemberg-Vrionidi, Chrysoula Zacharopoulou, Marco Zullo Suplentes presentes no momento da
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VOTAÇÃO NOMINAL FINAL NA COMISSÃO ENCARREGADA DE EMITIR PARECER
27
+
NI Marco Zullo
PPE Rosa Estaràs Ferragut, Frances Fitzgerald, Cindy Franssen, Lívia Járóka, Arba Kokalari, Elżbieta Katarzyna Łukacijewska, Sirpa Pietikäinen, Andreas Schieder, Elissavet Vozemberg-Vrionidi
Renew Radka Maxová, Karen Melchior, Samira Rafaela, María Soraya Rodríguez Ramos, Chrysoula Zacharopoulou
S&D Robert Biedroń, Vilija Blinkevičiūtė, Heléne Fritzon, Alicia Homs Ginel, Maria Noichl, Pina Picierno, Evelyn Regner
The Left Eugenia Rodríguez Palop
Verts/ALE Alice Kuhnke, Diana Riba i Giner, Sylwia Spurek, Ernest Urtasun
6
-ECR Margarita de la Pisa Carrión, Andżelika Anna Możdżanowska
ID Christine Anderson, Simona Baldassarre, Annika Bruna, Isabella Tovaglieri
2
0
ECR Jessica Stegrud
The Left Sandra Pereira
Legenda dos símbolos utilizados: + : votos a favor
- : votos contra 0 : abstenções