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Processo nº: Autor: Ministério Público do Estado de Goiás Réu: Elvisley Lemes da Silva e outros DECISÃO

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Estado de Goiás Poder Judiciário Comarca de GOIÂNIA

Goiânia - 1ª Vara da Fazenda Pública Estadual - I

Processo nº: 7063744.16.2010.8.09.0051 Autor: Ministério Público do Estado de Goiás Réu: Elvisley Lemes da Silva e outros

DECISÃO

Trata-se o caso vertente de ação civil pública por ato de improbidade aforada pelo MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com suporte na dicção do artigo 17 da Lei nº 8.429/92, em face de MARCONI FERREIRA PERILLO JÚNIOR, JOSÉ MÁRIO SCHREINER, FAUSTO BRITO LUCIANO, OSMAR JOSÉ DE OLIVEIRA, ELIFAZ MUNIZ SINK, ELVISLSEY LEMES DA SILVA, RICARDO JANUÁRIO SILVA e REQUINTE EVENTOS PROMOCIONAIS E COMÉRCIO LTDA, todos já qualificados no seio dos atos em epígrafe.

Aduz o Autor, como ressumbra da peça matriz, ter ocorrido, no calor da disputa das eleições estaduais, no ano de 2002, vários shows musicais com cantores de música sertaneja, alguns consagrados pelo público, outros totalmente desconhecidos, por meio do denominado “Programa Agrossocial Apoio Financeiro a Eventos”, promovidos pela SEAGRO, mediante autorização do então Governador e candidato à re-eleição Marconi Ferreira Perillo Júnior, com o gasto total de R$ 6.541.743,64 (seis milhões, quinhentos e quarenta e um mil, setecentos e quarenta e três reais e sessenta e quatro centavos).

Afirma que os pedidos de shows eram feitos ao Governador, por meio de ofícios assinados pelo então Secretário de Agricultura José Mário Schreiner, ora pelo Superintendente Executivo da SEAGRO à época Fausto Brito Luciano, tendo sido todos autorizados por Marconi Perillo.

Pontifica que as mencionadas contratações encontram-se tisnadas por ilegalidades, tais como a ausência de licitação em relação à contratação de artistas não consagrados pela opinião pública, apontando, ainda, superfaturamento nos contratos firmados com a dupla Elvis e Ricardo, aliado ao fato de que a empresa Requinte Eventos Promocionais e Comércio Ltda pertencia, à época dos fatos, ao Sr. Elifaz Muniz Sink, assessor de cerimonial do Governo de Goiás.

Obtempera, ainda, que vários shows da dupla Elvis e Ricardo simplesmente não foram realizados, perfazendo um prejuízo de R$ 710.000,00 (setecentos e dez mil reais), somando-se ao fato de que os referidos shows teriam sido utilizados para

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beneficiar a candidatura de Marconi Perillo, com o uso da máquina administrativa e financeira do Estado de Goiás, ocorrendo, inclusive, pedidos de votos ao mesmo nos eventos.

Diz, também, ter o TCE-GO alertado para a inexistência de previsão orçamentária para as contratações nos termos da LOA dos anos de 2002 a 2003, tendo a conduta do então Governador Marconi Perillo vulnerado o que dispõe o artigo 16, II, da Lei Complementar nº 101/2000, o que caracteriza improbidade administrativa previsto no artigo 11, I, da Lei nº 8.429/92, também caracterizável na conduta de Fausto Brito Luciano e José Mário Schreiner.

Pondera, destarte, ter Marconi Perillo experimentado enriquecimento ilícito no valor das contratações levadas a efeito, subsumindo-se sua conduta no tipo previsto no artigo 9º, XII, da Lei 8.429/92.

Assevera ter ocorrido publicidade institucional em benefício a Marconi Perillo nos aludidos shows, com manifesta violação ao que preceitua o artigo 73, VI, “b”, da Lei nº 9.504/97, assim como diz terem os Réus Marconi Perillo, José Mário Schreiner e Fausto Brito Luciano praticado o ato de improbidade capitulado no artigo 10, IX e XII, da Lei 8.429/92.

Em relação à pessoa jurídica Requinte Eventos Promocionais e Comércio Ltda, bem como seus responsáveis Elifaz Munik Sink e Osmar José de Oliveira e, ainda, Elvisley Lemes da Silva e Ricardo Januário Silva, estes dois últimos cantores que formam a dupla sertaneja Elvis e Ricardo, sustenta que devem ser responsabilizados pelos atos de improbidade pelo fato de terem induzido e concorrido para a prática dos mesmos.

Ao final, pugna o Ministério Público pelo julgamento de procedência da pretensão deduzida, para o fim de ser declarada a nulidade dos firmados entre o Estado de Goiás, com a interveniência da SEAGRO, com os cantores de música sertaneja no ano de 2002, com a condenação dos Réus ao ressarcimento integral do dano provocado ao erário, além da incidência das demais sanções previstas na Lei nº 8.429/92.

O Réu Osmar José de Oliveira, após regular notificação, apresentou defesa preliminar (evento de nº 46), alegando ter figurado como sócio da empresa Requinte Eventos Promocionais e Comércio Ltda atendendo a pedido dos seus reais proprietários, não tendo participado de celebração de qualquer contrato com o Estado de Goiás, requerendo, ao final, a sua exclusão do processo.

Uma vez notificado, o Requerido Marconi Ferreira Perillo Júnior, hospedou em Juízo (evento de nº 47), em tempo hábil, com sua defesa prévia, alegando deter prerrogativa de foro, conforme regra prescrita no artigo 105, I, “a”, da Constituição Federal, sendo do colendo Superior Tribunal de Justiça a competência para conhecer e julgar a pretensão manifestada pelo Ministério Público, além de sustentar não incidir sobre agentes políticos os efeitos da Lei nº 8.429/92.

Diz, ainda, serem ilegais as provas produzidas pelo Ministério Público, por não ter o referido órgão legitimidade para a condução de investigações envolvendo atos ímprobos, além bater pela legalidade dos procedimentos de contratação dos artistas e não ter ordenado despesas, pugnando, em arremate, pela rejeição da petição inicial.

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Os Réus José Mário Schreiner e Fausto Brito Luciano, por sua vez, articularam, no prazo oportuno, defesa inaugural, aduzindo, em síntese, ter sido a pretensão do Ministério Público alcançada pela prescrição, com suporte no que preconiza o artigo 23 da Lei nº 8.429/92, uma vez que a ação em exame teria sido aforada quando já ultrapassado cinco anos da data que foram exonerados dos cargos comissionados ou de confiança que exerciam, defendendo, ainda, a legalidade dos procedimentos levados a efeito sem licitação, ao fundamento de que os cantores contratados eram consagrados pela crítica especializada e pela opinião pública.

Afirmando não ter ocorrido superfaturamento nas contratações, rogam, alfim, pela rejeição da inicial.

Os demais Requeridos, apesar de notificados, não apresentaram defesa preliminar.

É o breve relatório. Passo a decidir :

Deve ser analisado, primeiramente, por se tratar de questão prejudicial, a alegação de prescrição trazida à baila pelos Réus José Mário Schreiner e Fausto Brito Luciano.

Emerge dos autos, mercê dos documentos apresentados pela SEGPLAN, que o Réu José Mário Schreiner foi exonerado do cargo de Secretário de Estado em 21 de janeiro de 2005, tendo assumido o cargo de Presidente da Agência Goiana de Desenvolvimento Rural e Fundiário em 02 de fevereiro de 2005, por onde permaneceu até o ano de 2008, o que, como salta aos olhos, afasta a alegação de prescrição.

Noutro giro, o Réu Fausto Brito Luciano foi exonerado do cargo em 24 de janeiro de 2005, assumindo outro cargo na administração, em função totalmente diversa da anterior, mais de três meses depois, ou seja, em 30 de abril de 2005. Assim, em relação ao Réu Fausto não se pode falar em nomeações sucessivas, o que impediria a perfectibilização do prazo prescricional, uma vez que o mesmo deixou o cargo, em relação ao qual foi imputado a prática de improbidade, em 24 de janeiro de 2005, restando, desta forma, caracterizada a prescrição.

Contudo, a prescrição que alcança o Réu Fausto diz respeito, única e exclusivamente, às sanções políticas ou jurídicas, não atingindo a pretensão envolvendo ressarcimento ao erário, devendo a ação ter curso, neste aspecto, em relação ao mesmo.

Ademais, impende salientar que na presente fase processual prevalece o princípio do in dubio pro societate, sendo suficiente para o recebimento da inicial, com a procedimentalização da ação civil por ato de improbidade, a presença de indícios da existência da prática de atos considerados de improbidade.

Antes, porém, é necessário, deixar claro que o Governador de Estado, apesar de ser considerado agente político, não detém prerrogativa de foro, posto que, como sabido, a ação civil pública por ato de improbidade possui natureza cível, não

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obstante, em certos aspectos, a sua feição punitiva, restando claro, assim, que as referidas ações envolvendo Governador de Estado não têm como foro competente o colendo Superior Tribunal de Justiça.

A Lei de Improbidade, por outro lado, alcança os agentes políticos, os quais não se encontram infensos à punição pelos atos de improbidade praticados, como cediço.

Da mesma forma, não merece fomento jurídico a alegação de que não estaria no rol das atividades do Ministério Público a atribuição de conduzir/presidir procedimentos investigatórios preliminares, preparatórios de futura ação civil pública.

Destarte, esmaecidas as preliminares invocadas, passo à análise das questões referentes à admissibilidade do processamento da demanda.

Aflora do caderno processual, à luz das provas coligidas, ter ocorrido a celebração de contrato artístico (apresentação de show musical) com os Réus Elvisley Lemes da Silva, Ricardo Januário Silva e a empresa Requinte Eventos Promocionais e Comércio Ltda, sem a realização de licitação, o que, em tese, poderá ter o condão de caracterizar burla ao sistema de competitividade, demandando maior dilação probatória.

Ademais, ressai dos autos, mormente do relatório de inspeção do TCE, a possibilidade de que, ao final, fique reconhecida que a licitação era necessária ou indispensável no caso concreto.

É importante ressaltar, ainda, a presença no álbum processual de documentos expedidos pelo Requerido Marconi Ferreira Perillo Júnior autorizando a contratação de artistas locais, sem licitação, o que, numa primeira análise, poderá caracterizar malferimento à obrigatoriedade da licitação, aliado ao fato de que os

shows foram realizados em período eleitoral, o que pode caracterizar indevida

promoção pessoal às custas do erário, podendo, no caso em apreço, ter ocorrido superfaturamento.

Enfim, diante da presença de elementos que revelam a possibilidade da prática de atos de improbidade pelos Réus, aplicando na presente fase embrionária do processo o princípio do in dubio pro societate, entendo que a ação deve ser regularmente processada, com observância do devido processo constitucional, possibilitando às partes ampla produção probatória.

Como de elementar sabença, somente deverá ser rejeitada a petição inicial da ação de improbidade quando o julgador se convencer, de plano, da inexistência do ato de improbidade, da improcedência da ação ou da inadequação da via eleita, situações que não se verificam no caso em apreço.

Diante do exposto, recebo a inicial e, de consequência, defiro o processamento da presente ação de improbidade, determinando a citação dos Réus declinados na inicial para, no prazo legal, apresentarem, caso queiram, resposta à pretensão deduzida pelo Ministério Público.

Reconheço a prescrição em favor do Réu Fausto Brito Luciano, no que tange às sanções previstas na Lei nº 8.429/92, à exceção do pedido de ressarcimento ao erário, em relação ao qual a ação deverá ter regular processamento.

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Dê-se ciência da ação em testilha ao Estado de Goiás para que, querendo, no prazo legal, compareça nos autos do processo, ocupando o polo ativo ou passivo (parte pública móvel).

Intimem-se.

Goiânia, 24 de janeiro de 2017.

Reinaldo Alves Ferreira Juiz de Direito

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