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PERÍCIA AMBIENTAL DE UM MATADOURO DA REGIÃO NORDESTE DO ESTADO DO PARÁ

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 198 Francisca Kelly Bispo de Souza1 Leonardo José Figueira Paradela2 Jorge Valdez Pizarro3

RESUMO

A presente pesquisa teve como objetivo identificar os danos ambientais provocados por um matadouro localizado na região nordeste do estado do Pará. Através deste estudo, foi possível verificar os procedimentos tomados pelo empreendimento quanto à gestão dos efluentes, resíduos e emissões gerados pela atividade e propor algumas sugestões que possam contribuir para a gestão ambiental do mesmo. O estudo verificou a eficácia do sistema de tratamento de efluente adotado. Para tanto, foram analisados os seguintes parâmetros físico-químicos: pH, Sólidos Sedimentáveis, Óleos e Graxas, OD, DQO, DBO5, Nitrogênio Amoniacal, Nitrato e Nitrito. Os resultados mostraram que apenas os parâmetros sólidos sedimentáveis e DQO extrapolaram os limites exigidos pela Resolução CONAMA nº 357/2005, evidenciando que o sistema de tratamento de efluente necessita de controle e monitoramento. Foi constatado também que o empreendimento não adota nenhum modelo de gestão ambiental que atenda aos requisitos da legislação e que a atividade necessita de medidas que reduzam os volumes de rejeitos industriais e otimizem do uso da água.

Palavras-chave: Perícia ambiental. Danos ambientais. Matadouros.

1 INDRODUÇÃO

Dentre as atividades que provocam danos ao meio ambiente destacam-se as desenvolvidas em matadouros, pois nelas os efluentes e resíduos são frequentemente muito volumosos e representam um sério problema, por conterem alto teor de matéria orgânica (DBO). Em publicações sobre características de matadouros sul-americanos, a carga de DBO5 apresenta-se em média 6.300 ml/L, variando de 1.400 a 11.000 ml/L. Isso demonstra o potencial poluidor do efluente gerado neste tipo de indústria, comparado com a DBO5 do esgoto doméstico, que é de 300 ml/L. (FERNANDES, 2008, p.17).

No Brasil, segundo (CETESB apud FERNANDES, 2008), a estimativa de carga orgânica em águas residuárias neste tipo de indústria, incluindo corte e desossa da matéria-prima, é

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Pós Graduado em Gestão Ambiental pelo iesam (2012).

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Pós Graduado em Gestão Ambiental pelo iesam (2012).

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Doutor em Desenvolvimento Socioambiental pela UFPA. Professor de Pós-Graduação do Núcleo de Meio Ambiente da UFPA.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 199

de 5,2 a 6,7 kg DBO5/T peso vivo. O abate de bovinos é uma das atividades econômicas mais

importantes no mercado brasileiro, levando-se em conta que o Brasil é um dos maiores exportadores de carne bovina no mundo, perdendo apenas para a Índia. Portanto, este é um setor que deve cumprir todas as leis sanitárias e ambientais para que não haja recusa do produto pelos compradores. Apesar de ser uma atividade com potencial econômico de grande relevância, o processamento de abate bovino causa grandes impactos ao meio ambiente. Os danos ambientais relacionados à atividade estão ligados principalmente aos seus despejos e resíduos oriundos das diversas etapas do processamento industrial, que podem provocar a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas, além de gerar odor indesejável na decomposição da matéria orgânica.

Outro aspecto importante diz respeito aos resíduos gerados no processo produtivo do abate bovino, que independente de sua composição deve atender às normas estabelecidas pela legislação. Para os efluentes, estes devem atender ao que preconiza a Resolução CONAMA nº 357 de 17 de Março de 2005. Diante desse contexto, o objetivo deste estudo de caso é identificar os possíveis danos ambientais no matadouro e propor ações mitigadoras/corretivas constatadas na perícia ambiental do estudo de caso. O problema nasce, assim, desta perspectiva: quais são os danos ambientais provocados pelos matadouros não regularizados e localizados no Estado do Pará, especificamente, no Nordeste Paraense?

O trabalho encontra-se estruturado cinco capítulos. No primeiro apresenta-se a problemática – e o seu respectivo problema – e o objetivo geral. No segundo, trata-se do referencial teórico e das categorias que irão nortear o trabalho. No terceiro, o destaque é a metodologia – como o seu tipo de pesquisa e estratégia utilizada para o alcance do resultado. O quarto capítulo trata dos resultados e o último faz as considerações finais.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Esta parte do trabalho aborda a revisão bibliográfica necessária para a compreensão dos resultados – e da própria pesquisa. Na primeira parte faz-se uma discussão sobre o significado teórico e prático de matadouro. As partes seguintes abordam os aspectos ligados aos danos ambientais e os aspectos da legislação ligados a essa atividade. A parte final deste capítulo trata da abrangência teórica e prática da perícia ambiental.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 200 De acordo com o Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA entende-se por matadouro:

O estabelecimento dotado de instalações adequadas para a matança de quaisquer das espécies de açougue, visando o fornecimento de carne em natureza ao comércio interno, com ou sem dependências para industrialização; disporá obrigatoriamente, de instalações e aparelhagem para o aproveitamento completo e perfeito de todas as matérias-primas e preparo de subprodutos não comestíveis (BRASIL, 1952, p.4).

Segundo Shelsinger (2010, p.35), entre 1990 e 2008, “a produção de carne bovina mais que dobrou no Brasil, passando de 4,1 para mais de 9,3 milhões de toneladas, permitindo que o Brasil se tornasse o maior exportador mundial, ultrapassando a Austrália, a partir de 2004”. Este setor vem crescendo a cada ano no estado do Pará. Segundo Pereira et al (2008), “o rebanho paraense cresce 16% ao ano, atingindo vinte milhões de cabeças, o que possibilita a comercialização de aproximadamente quatro milhões de cabeça por ano, com 25% desse total abastecendo o mercado paraense”. De acordo com dados do IDESP (2010) o estado do Pará é o maior exportador de boi vivo do país, sendo responsável por 95% do valor nacional exportado em 2009, com aproximadamente quinhentas mil cabeças exportadas no referido ano. Para maior compreensão sobre o processo de abate dos bovinos, a Figura 01 apresenta, por meio do fluxograma, todas as etapas, identificadas com as respectivas entradas e saídas de materiais.

FIGURA 01: Fluxograma básico do abate de bovinos Fonte: CETESB (2006)

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 201 O ciclo de processamento de bovinos começa com a chegada de gado vivo nos currais, em que os animais ficam 24 horas em descanso e dieta hídrica para facilitar a evisceração do animal. Após chegada ao curral o gado é pesado e inspecionado para verificação de defeitos e doenças (inspeção ante-mortem). Após o período de descanso, os animais são conduzidos por uma rampa ao boxe de atordoamento e nessa rampa é feita a lavagem dos animais, por um banho de aspersão. Em seguida, os animais são conduzidos para a sala de abate em que é realizada a etapa de atordoamento/insensibilização. Posteriormente o animal é pendurado pela pata traseira, em um transportador aéreo e levado para a remoção do vômito e fezes. Em seguida ocorre a etapa da sangria, que é realizada por meio de corte dos grandes vasos do pescoço. Após a sangria acontece a etapa da esfola em que é realizada a remoção do couro, cabeça e mocotó. Na evisceração a carcaça é aberta com serra elétrica manual e as vísceras são retiradas. Após a lavagem, utilizando água quente, as carcaças são encaminhadas a câmaras frias ou a desossa.

2.2 DANOS AMBIENTAIS

O dano ambiental não possui uma definição exata na legislação atual, porém está ligado à idéia de degradação, cujo termo é esclarecido na Política Nacional de Meio Ambiente em seu Art 3º inciso II como sendo “a alteração adversa das características do meio ambiente” (BRASIL, 2010, não paginado). Os danos ambientais referentes à atividade estão relacionados principalmente aos efluentes e resíduos do processo, além da poluição atmosférica e poluição sonora provocados pelas atividades existentes.

Segundo Dornelles (2009), os efluentes de matadouros caracterizam-se principalmente por: alta carga orgânica, devido à presença de sangue, gordura, esterco, conteúdo ruminal; variação de pH em função do uso de produtos químicos de uso na limpeza; altos conteúdos de nitrogênio, fósforo e sal e ainda, flutuações de temperatura. Neste tipo de atividade, o sangue merece especial atenção em relação à quantidade gerada durante o processo. De acordo com Braile et al (1993), “o sangue é considerado um dos componentes mais problemáticos no tratamento, pois a presença deste no efluente dificulta a formação de flocos, diminuindo a eficiência no tratamento”.

Desta forma, para se obter uma melhor eficiência no processo de tratamento, os efluentes gerados devem ser separados em duas linhas: a linha “verde”, que contém os efluentes líquidos gerados em áreas sem a presença de sangue (por exemplo, recepção – lavagem de pátio, caminhões, currais, bucharia e triparia) e a linha “vermelha” com os efluentes que contêm sangue

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 202 (DORNELLES, 2009, p.31). A Tabela 01 demonstra as médias das concentrações de poluentes encontrados normalmente nos matadouros de bovinos com importante significado de dano ambiental quando os efluentes gerados não são tratados adequadamente.

Tabela 01 – Concentrações médias de poluentes em efluente de matadouros de bovinos

Parâmetro (unidade) Abate (bovino)

DBO5 (mg/l) DQO (mg/l) Sólidos suspensos (mg/l) Nitrogênio total (mg/l) Fósforo total (mg/l) Óleos e graxas (mg/l) Ph 2.000 4.000 1.600 180 27 270 7,2 Fonte: Adaptado por Dornelles, 2009

Confirma Pardi (1996) quanto aos resíduos oriundos dos matadouros, estes podem causar problemas ambientais graves, se não forem gerenciados adequadamente. A maioria é altamente putrescível, e, por exemplo, geram odores fétidos se não processados imediatamente nas graxarias anexas ou removidos adequadamente das fontes geradoras, no prazo máximo de um dia, para processamento adequado por terceiros. O manejo, armazenamento e a disposição inadequada desses resíduos, podem contaminar os solos e as águas superficiais e subterrâneas, tornando-os impróprios para qualquer uso, bem como gerar problemas de saúde publica. Em relação à poluição atmosférica, esta pode ser causada por odores desagradáveis provenientes dos resíduos gerados no processo, por exemplo, odores provenientes das graxarias (local em que se processam subprodutos não comestíveis) ou do manejo inadequado desses resíduos no solo. A poluição sonora ocorre em diversas unidades, principalmente nos currais, quando ocorre a recepção dos animais, área de abate e dos processos mecanizados.

Portanto, a atividade de matadouro provoca diversos danos ambientais que devem ser remediados e equacionados em atendimento as legislações ambientais vigentes, responsabilizando os predadores e poluidores, obrigando-os a recuperar os danos ambientais causados, impondo-lhes a respeitar o princípio do poluidor-pagador que se encontra presente no Art. 225 § 3º da Constituição Federal.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 203 Nas últimas décadas, a questão ambiental tem merecido importância e vem ganhando espaço em face das ações desmedidas do homem em busca do enriquecimento (BURATO, 2009, p.16). A Política Nacional de Meio Ambiente, Lei nº 6.938/1981, vem equacionar estas ações danosas ao meio ambiente. Tendo como principal objetivo à preservação, melhoria e recuperação da qualidade ambiental, prevendo sanções a quem comete dano ao meio ambiente, cujo controle e fiscalização ficam sob a responsabilidade do órgão ambiental local.

Importa salientar o surgimento da Lei n.º 7.347/1985, que criou a Ação Civil Pública Ambiental. Com o advento desta lei o meio ambiente se fortaleceu, uma vez que esta lei visa a efetiva responsabilização por danos ambientais. Ressalta-se ainda a relevância da Lei 9.605/1998, conhecida como a Lei de Crimes Ambientais, que passou a punir penal e administrativamente todo e qualquer responsável por atos lesivos ao meio ambiente, inclusive a pessoa jurídica.

A legislação ambiental é um forte instrumento de proteção ao meio ambiente. Neste contexto, surge uma ferramenta de relevância na avaliação dos danos ambientais, a Perícia Ambiental, que através de procedimentos investigatórios visa avaliar e quantificar os danos ambientais, levando em consideração os limites legais.

2.4. PERÍCIA AMBIENTAL

Os conflitos ambientais decorrentes da crescente concentração populacional e aliado a um modelo de desenvolvimento econômico que compromete o equilíbrio ecológico e, conseqüentemente, a qualidade de vida dos cidadãos tem gerado demandas judiciais cada vez mais complexas envolvendo questões ambientais (ARAÚJO, 2006, não paginado).Neste contexto, inclui-se a perícia ambiental, que inclui-segundo Araújo (2006), é uma especialidade de perícia relativamente nova no Brasil, mas que tem evoluído nos últimos anos devido ao aprimoramento da legislação ambiental e a própria necessidade humana de proteção e conservação do meio ambiente.

De acordo com Farias et al (2010), a perícia ambiental é uma ferramenta imprescindível na apuração e materialização dos crimes de poluição, uma vez que é essencial caracterizar os tipos de poluição e sua origem, bem como qualificar e quantificar os danos ocorridos ao meio ambiente e à saúde humana. Farias et al (2010) descreve ainda que, “atualmente, a grande demanda dessas atividades está relacionada à supressão de mata nativa, danos em áreas de preservação permanente e parcelamento do solo”.

Para Saroldi (2009), “a perícia é a atividade concernente a exame realizado por profissional especialista, legalmente habilitado, destinada a verificar ou esclarecer determinado

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 204 fato”, e ainda, por ser uma atividade complexa, esta pode ser realizada por equipe multidisciplinar, conforme previsto no Art. 431-B do Código de Processo Civil.

Segundo Araújo (2006, p.45) a perícia ambiental é:

Um meio de prova utilizado em processos judiciais, sujeito à mesma regulamentação prevista pelo Código do Processo Civil (CPC), com a mesma prática forense, mas que irá atender a demandas específicas advindas das questões ambientais, onde o principal objeto é o dano ambiental ocorrido, ou risco de sua ocorrência.

A atividade pericial em meio ambiente é regida pelo Código de Processo Civil, bem como as demais modalidades de perícias. E, em razão da especificidade das questões ambientais, esta atividade deve ser amparada na Legislação Ambiental vigente no âmbito Federal, Estadual e Municipal.

3 METODOLOGIA

Os dados utilizados nesta pesquisa são de natureza primária e secundária obtidos por pesquisa teórica-empírica descritiva. A primeira fase da pesquisa foi baseada em levantamentos bibliográficos, elaborado a partir de material publicado, constituído principalmente de livros, artigos e materiais disponibilizados na internet a partir de fontes confiáveis e citadas.

A segunda fase da pesquisa foi realizada através de perícia técnica de campo com objetivo de conhecer o processo de abate bovino, desde o recebimento dos animais, até o tratamento e destinação dos efluentes, resíduos e emissões gerados no processo. Esta parte foi amparada no alicerce teórico de pesquisa explicativa-estudo de caso.

A terceira fase da pesquisa foi a elaboração de recomendações de melhorias ao empreendimento, baseada no que foi constatado durante a etapa de campo. O ponto relevante, aqui, são as proposições indicadas para os gestores público. A abordagem da pesquisa foi qualitativa e algumas vezes se utilizou o método de observação direta sem interferência na realidade observada.

4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

Este capítulo trata dos resultados da pesquisa. A primeira parte fez uma caracterização do objeto – e de seu significado espacial. A segunda tratou das constatações percebidas na pesquisa –e relacionadas à gestão dos efluentes, resíduos e emissões. A parte final trata das recomendações de melhoria.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 205 O estudo foi desenvolvido em um Matadouro localizado na região nordeste do Pará, estando o referido empreendimento instalado na região há mais de 20 anos. Os abates são realizados de domingo a domingo, com uma média diária de 180 reses/dia, porém a licença concedida ao matadouro foi para operar com abate de 72 reses/dia. Os procedimentos são realizados na sala de abate, a qual possui em anexo outras dependências, como a sala de buxaria, triparia e limpeza dos mocotós, sala de inspeção de vísceras, câmara frigorífica para as vísceras inspecionadas, além de três câmaras frigorificas para armazenamento das carcaças até a expedição.

O empreendimento utiliza como fonte de abastecimento de água a captação subterrânea, com 08 poços do tipo tubular profundo, consumindo diariamente 214 m3 de água, A energia elétrica é usada para iluminação de toda a indústria, refrigeração das câmaras, dentre outras. O consumo mensal de energia elétrica na empresa é de aproximadamente 87.000 KW/h. A indústria possui em suas dependências instalações para recepção dos animais com corredor de acesso à sala de matança. Os procedimentos adotados no atordoamento do animal são seguidos conforme Instrução Normativa nº 17/1999 do Ministério da Agricultura (BRASIL, 1999, não paginado).

As instalações físicas da sala de abate são dotadas de piso de material resistente ao trânsito, impermeável e antiderrapante, com paredes de material lavável e sem frestas. O acesso a sala de matança é dotado de sistema de lava-pés com o intuito de evitar contaminação das carcaças. Ressalta-se, ainda, que em todas as etapas do processamento bovino estão instalados lavatórios de mãos e esterilizadores para evitar a contaminação de uma carcaça para outra, porém os esterilizadores não estavam funcionando.

Quanto aos equipamentos e objetos utilizados no manejo da carne como facas, serras elétricas, caixas, bandejas, ganchos, carretilhas, pias, mesas, entre outros, estes são de material adequado para o desenvolvimento da atividade. Nas dependências da sala de matança há área diferenciada para manuseio das carnes, e ainda, para manipulação das vísceras brancas (triparia, bucharia e patas) e vísceras vermelhas (coração, fígado, etc.). Quanto ao manejo dos produtos não comercializados, estes são enviados à graxaria, local em que se processam subprodutos condenados pela inspeção sanitária e vísceras não comestíveis, para fabricação de farinha/ração animal.

4.2 CONSTATAÇÕES PERICIAIS RELACIONADAS A GESTÃO DOS EFLUENTES, RESÍDUOS E EMISSÕES

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 206 Os efluentes são gerados nas seguintes etapas, conforme demonstrado na Figura 02. A partir do conhecimento de todas as etapas do processo produtivo do abate bovino, verificou – se que os efluentes são gerados em grande quantidade em virtude da demanda de água exigida no processo.

ENTRADA ETAPAS SAÍDA

Água para dessedentação dos animais e limpeza dos pisos

Recepção/Curral

Esterco, Urina e Efluentes da limpeza de pisos

Água para a limpeza dos animais; Esterco; Energia

Lavagem dos animais Esterco e efluente da limpeza dos animais

Ar comprimido Energia elétrica

Insensibilização Ruído, vômito, fezes

Água para esterilização

das facas Sangria Efluente da limpeza das

facas e sangue Sangue Água para o esterilizador

de facas e energia para esfolador

Couro, Cabeça, Chifres Efluentes da limpeza dos esterilizadores das facas

Água para limpeza das vísceras

Evisceração Efluente contendo conteúdo ruminal

Água e energia elétrica para a serra

Separação da carcaça Efluente da limpeza da serra, raspas de ossos e gordura

Lavagem da carcaça Água para lavagem das

carcaças

Efluente da lavagem da carcaça

Sacos plásticos Rótulos e etiquetas

Embalagem Resíduos de rótulos e embalagens plásticas

Resfriamento Energia elétrica para o

resfriamento das câmaras

Expedição Esfola (remoção do

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FIGURA 02: Fluxograma das etapas de produção Fonte: Elaborado pela Autora

Inicialmente os animais são submetidos a um banho por aspersão antes de serem abatidos para retirada das sujidades contidas no couro do animal e para promover uma boa esfola. Assim, esse efluente contendo pêlos, terra e esterco é direcionado por uma canaleta que se mistura com os efluentes da triparia, (contendo esterco e gorduras), bucharia, (composto por rúmem, esterco, gorduras e peróxido de hidrogênio, cujo é proveniente do cozimento do bucho) e efluentes do mocotó, (contendo produtos químicos), para o sistema de tratamento adotado. Tais produtos químicos mencionados são a cal (CaO) e a barrilha (Na2Co3), cuja a função é retirar os pêlos dos mocotós; e o peróxido de hidrogênio (H2O2), o qual possui a função de branqueamento do mocotó. Na sala de abate a geração de efluente inicia-se na etapa de sangria. O sangue é coletado em um reservatório de alvenaria e coagulado através de vapor e destinado inadequadamente. O sangue coagulado é disposto no solo, ou seja, este resíduo é enterrado na área do matadouro. Vale salientar que este processo ocorre em solo não impermeabilizado, possibilitando a contaminação das águas subterrâneas. Os efluentes gerados nas demais etapas do processo e da lavagem de pisos e equipamentos são direcionados para o sistema de tratamento adotado antecedidos por uma caixa de gordura e uma peneira estática. Após análise das entradas e saídas e dos aspectos e impactos ambientais referentes à atividade, foi possível verificar em qual das etapas são gerados a maior quantidade de efluente a ser tratado.

Através da medição direta de volume de água utilizado em um determinado intervalo de tempo, aqui considerado como o tempo total do abate de bovino na empresa estudada, considerando-se a equação (1), foi possível constatar em qual das etapas do processo há maior geração de efluente. A Figura 03 apresenta esta confirmação.

) ( ) ( 3 dia T m Vol Q Equação (1)

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Figura 03: Geração de efluente nas etapas do processo produtivo Fonte: Dados da Autora

A Tabela 02 apresenta a estimativa de volume de água necessária para que todo o processo produtivo ocorra, em que se destaca um consumo anual de quase 53 000 m3, o que representaria abastecer uma cidade de cerca de 265 000 habitantes durante este mesmo ano, quando considera-se uma per capita de consumo de água de 200 litros/hab.dia.

Tabela 02: Volume de água estimado para o consumo diário na indústria estudada

Vazão (m3/dia) Etapas de produção Tempo de produção Curral Lavagem dos animais

Sangria Esfola Evisceração Lavagem da carcaça

Embalagem

61,94 9,29 1,94 22,32 64,96 4,75 5,5

Fonte: Dados da Autora

Outro aspecto levado em consideração foi a quantidade de vazamentos verificados no empreendimento, comprovando que não há manutenção periódica das instalações hidráulicas, contribuindo para a geração de efluente. Os vazamentos observados somam aproximadamente 31 m3/dia, representando cerca de 15% de todo o consumo de água no processo produtivo, o que significa abastecer uma população de em média 44 000 habitantes durante um ano.

Os resíduos constituem-se dos restos de abate e os do tipo doméstico. Os compostos por resto de abate são retirados da sala de matança por meio de “chutes” e dispostos em tanques. Os chifres e os cascos são doados para a comunidade local. A cabeça, gorduras, carnes e vísceras

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 209 condenadas são encaminhadas para a graxaria instalada no empreendimento com o intuito de fabricação de farinha para ração animal e sebo para fabricação de sabão. O couro é removido da sala de abate por meio de “chute” e depositado em um tanque contendo água, para ser salgado e posteriormente submetido à venda. Já o esterco passa pela peneira estática, segue para a esterqueira (Figura 04) e é submetido à venda como adubo para pastagens e uso agrícola.

FIGURA 04: Esterqueira Fonte: Dados da Autora

Além desses resíduos, o processamento destes na graxaria acaba gerando um resíduo gorduroso e pastoso que constitui um passivo ambiental para a empresa, pois a mesma não o destina adequadamente. A Figura 05 mostra este resíduo.

FIGURA 05: Resíduo gorduroso e pastoso proveniente da graxaria Fonte: Dados da Autora

Em relação aos resíduos provenientes da administração, banheiros e refeitórios, estes estavam sendo manejados de maneira inadequada, sendo lançados na cabeceira de um córrego

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 210 existente na área do matadouro, proporcionando, desta forma, o assoreamento do mesmo (Figura 06), e ainda, a perca da biodiversidade que havia neste manancial, infringindo o Art. 54 da Lei de Crimes Ambientais.

FIGURA 06: Assoreamento do córrego Fonte: Dados da Autora

Vale destacar aqui o que está disposto no Art. 3º da Política Nacional do Meio Ambiente, Lei nº 6.938/81, em que está definido o conceito legal de degradação e poluição, e ainda na mesma lei no § 1º do artigo 14, que estabelece a responsabilidade objetiva por danos ao meio ambiente, ou seja, independente da comprovação de culpa.

Quanto às emissões, estas são provenientes da queima de lenha na caldeira. As cinzas produzidas em decorrência da queima são dispostas a céu aberto não tendo nenhum aproveitamento da mesma. Outro aspecto importante é quanto ao tratamento dessas emissões, pois a caldeira não possui nenhum tipo de tratamento dos gases gerados, e ainda, a lenha para consumo na caldeira não possui licenciamento junto ao órgão ambiental competente.

4.2.1 Sistema de tratamento adotado pelo matadouro

Os efluentes gerados no processo produtivo, higienização de pisos e equipamentos e limpeza do curral, são encaminhados para a caixa de gordura e esterqueira para separação dos sólidos. Depois de separados, os líquidos são direcionados ao tratamento secundário constituído de 05 lagoas de estabilização ligadas em série. Conforme as Figura 07 e 08.

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FIGURA 07: Lagoa de estabilização 1 Fonte: Dados da Autora

FIGURA 08: Lagoa de estabilização 2 Fonte: Dados da Autora

O lançamento dos efluentes da última lagoa ocorre sob o solo em um terreno de propriedade dos donos do matadouro.

4.2.2 Características físico-químicas dos efluentes

A metodologia adotada para qualificar o efluente final do matadouro em estudo, foi coletar na saída da primeira e última lagoa amostras de efluentes e em seguida enviar para o

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 212 laboratório da Universidade do Estado do Pará, Laboratório de Hidrocarbonetos - Labohi, para realização de análises físico-químicas nos efluentes.

Para determinação da eficiência do sistema implantado pela empresa, foram utilizados os seguintes parâmetros: pH, Sólidos Sedimentáveis, Óleos e Graxas, OD, DQO, DBO5, Nitrogênio Amoniacal, Nitrato e Nitrito Apha (1998). Os resultados dos parâmetros analisados são apresentados na Tabela 03.

Tabela 03 – Resultados dos parâmetros analisados

PARÂMETROS PRIMEIRA LAGOA ÚLTIMA LAGOA

pH 6,2 7,3 Sólidos Sedimentáveis 7 ml/L 3 ml/L Óleos e graxas 3,2 mg/L 1,17 mg/L OD 0,00 mg/L O2 4,8 mg/L O2 DQO 737,33 mg/L O2 276,5 mg/L O2 DBO5 345,95 mg/L O2 50,15 mg/L O2 Nitrogênio amoniacal 6,60 mg/L N 5,65 mg/L N Nitrato 2,81 mg/L N 0,3 mg/L N Nitrito *n.d. mg/L N *n.d. mg/L N *n.d. – Não Detectável Fonte: Dados da Autora

Conforme se observa, o parâmetro pH encontra-se dentro do que preconiza a Resolução CONAMA nº 357/2005, no seu Art. 34, que estabelece para lançamento de efluente pH entre 5,0 e 9,0. Em relação aos Sólidos Sedimentáveis, este parâmetro extrapola os padrões exigidos pela Resolução CONAMA nº 357/2005,que estabelece a quantidade de 1 ml/L em teste de cone Imhoff, para o lançamento no corpo receptor. O parâmetro Óleos e Graxas tanto na entrada do efluente no sistema como no último ponto de coleta, apresentam uma concentração inferior ao valor fixado pela Resolução CONAMA nº 357/2005, que estabelece valor de até 50 mg/L.

A análise de Oxigênio dissolvido apresentou concentração de 0,0 mg/L na primeira lagoa e 4,8 mg/L na última lagoa. A Resolução CONAMA nº357/2005 não estabelece valores para este tipo de parâmetro quando se trata de lançamento de efluente. A redução de Oxigênio Dissolvido na primeira lagoa é conseqüência da presença de organismos aeróbios que se alimentam da matéria orgânica contida nesta lagoa, consumindo com isso, o oxigênio dissolvido. Quanto à última lagoa, considerando o corpo receptor um ambiente de água doce e classe 3, observa-se que o

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efluente se enquadra conforme determina a Resolução CONAMA nº 357/2005, em que o OD ao ser lançado não pode ser inferior a 4 mg/L O2.

A Demanda Química de Oxigênio (DQO) é um paramento que indica a degradação da matéria orgânica. A Resolução CONAMA nº 357/2005 não estabelece índices para este parâmetro, mas vale ressaltar que este efluente possui elevada quantidade de matéria orgânica. Na análise entre a primeira lagoa e a última, observa-se uma redução de 62,5%, de matéria orgânica degradada, porém Von Sperling (2005) cita que a eficiência deste sistema de tratamento deve ser na ordem de 70-80% de redução de matéria orgânica.

A análise da DBO5 também não está estabelecida na Resolução CONAMA nº 357/2005 no que se refere aos padrões de lançamento de efluente. Na análise entre as lagoas, pode-se observar que houve uma redução de 85,50% de concentração de matéria orgânica, estando este parâmetro em acordo com os estudos de Von Sperling (2005), pois segundo este autor, para o sistema de tratamento alcançar uma boa eficiência, este deve está entre 70-80% de remoção da DBO5. Para Jordão e Pessoa (2005) a eficiência do sistema deve estar entre 75-85% de remoção da DBO5.

A análise de Nitrogênio Total nas lagoas apresentou valores de 6,60mg/L N e 5,65 mg/L N, respectivamente. Os valores obtidos encontram-se dentro dos parâmetros permitido pela Resolução CONAMA nº 357/2005 que estabelece 20,0 mg/L N no lançamento do efluente.Quanto ao nitrato, a Resolução CONAMA nº 357/2005 não estabelece valores para este tipo de parâmetro, porém considerando o corpo receptor um ambiente de água doce e classe 3, pode-se observar que tanto na primeira lagoa quanto na últim os parâmetros encontrados apresentam uma concentração inferior ao valor fixado pela legislação, que é de 10 mg/L. Dessa forma, constatou-se que o sistema de tratamento obteve uma eficiência de 89,32% na remoção de nitrato a ser lançado.O nitrito é também é um dos elementos indispensáveis ao crescimento de algas, causando o crescimento de microorganismos. Este parâmetro não foi encontrado em nenhuma das amostras analisadas, considerando assim que o sistema de tratamento opera com eficiência.

4.3 RECOMENDAÇÕES DE MELHORIA

Durante o estudo foi possível constatar várias não conformidades relativas às questões ambientais no empreendimento. Diante disso, recomenda-se algumas medidas as quais devem ser adotadas para que o matadouro possa adequar-se a legislação ambiental e garantir uma gestão sustentável.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 214 a) Adequação dos currais

Os currais não possuem instalações adequadas, pois os pisos apresentam imperfeições, buracos e fissuras, que dificultam a remoção dos resíduos e implicam em maior consumo de água durante a limpeza. Portanto, recomenda-se a reforma dos pisos, pois diminuirá o consumo de água e o tempo de operação, além de contribuir com a melhoria das condições sanitárias da unidade.

b) Aumento da canaleta de sangria

Recomenda-se o aumento da canaleta de sangria até a etapa de separação das carcaças, aumentando a quantidade de sangue recolhido, diminuindo assim a quantidade de efluente com sangue ser tratado, melhorando a eficiência do sistema de tratamento adotado.

c) Comercialização do sangue coletado

O sangue coletado pode ser comercializado para extração de plasma ou mesmo desidratado e transformado em farinha para os mais diversos fins na agricultura e pecuária.

d) Desassoreamento do córrego

O empreendimento deve realizar a remoção dos resíduos sólidos da cabeceira do córrego, dando sua destinação adequada, favorecendo assim a revitalização do mesmo.

e) Destinação adequada dos resíduos gordurosos gerados na graxaria

O empreendimento deve implantar um aterro industrial para tratar este resíduo, uma vez que este material oferece potencial risco ao meio ambiente.

f) Monitoramento das lagoas de estabilização

Deve ser adotado um sistema de monitoramento do efluente gerado, com o intuito de verificar se o sistema adotado esta alcançando sua eficiência, ou seja, verificar se o efluente final da

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 215 lagoa esta sendo lançado de acordo com os parâmetros exigidos no Art. 34 da Resolução CONAMA nº 357 de 17 de Março de 2005.

g) Instalações de sistemas de operações unitárias

Para um bom funcionamento do sistema, recomenda-se que seja instalado anterior às lagoas de estabilização um sistema de neutralização e equalização de efluentes, respectivamente. Deve se neutralizar o efluente por este conter considerável porcentagem de produtos químicos que são utilizados na limpeza das patas (mocotós) e higienização dos pisos e equipamentos. Quanto à equalização, o efluente necessita ser homogeneizado para atenuar os picos de carga para a estação de tratamento, com a finalidade de otimizar a operação da estação como um todo, contribuindo para que se atinja os parâmetros finais desejados para efluentes líquidos tratados.

h) Monitoramento do lençol freático

Realizar monitoramento do lençol freático, com a finalidade de averiguar contaminação ambiental, já que o solo é o receptor do efluente da última lagoa.

i) Licenciamento ambiental

O empreendimento deve solicitar outorga d’água junto a Secretaria de Estado e Meio Ambiente do Estado do Pará - SEMA, uma vez que o mesmo faz uso de água subterrânea sem autorização. Além da outorga é valido ressaltar que o empreendimento necessita entrar com pedido de ampliação na sua licença, já que a mesmo está abatendo 180 reses/dia e a licença para operar é de 72 reses/dia. Em relação ao consumo de lenha, o empreendimento deve iniciar o processo de licenciamento (CEPROF) junto ao órgão ambiental.

j) Tratamento das emissões gasosas

As emissões emanadas da caldeira devem ocorrer através da instalação de sistemas de filtros e exautores. Quanto à destinação das cinzas, essas devem ser utilizadas como fertilizantes na agricultura.

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Amazônia em Foco. Edição Especial: Empreendedorismo e Sustentabilidade, n. 1, p. 198-219, Out. 2013 | 216 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através dos levantamentos e observações periciais realizadas no empreendimento para identificar os possíveis danos ambientais, o estudo mostrou que o matadouro apresenta problemas de conformidade ambiental quanto à gestão de efluentes, resíduos e emissões. Na geração de efluente, foi verificado que não são adotadas medidas que possam minimizar a quantidade de efluente a ser tratado. Foi constatado que a geração excessiva de efluente no matadouro é proveniente principalmente das etapas de evisceração e limpeza dos currais, assim como dos vazamentos por falta de manutenção periódica das instalações hidráulicas.

As ações para minimizar os danos ambientais causados pelos efluentes gerados são eficientes, porém necessitam de controle e monitoramento, conforme evidenciado nos resultados dos parâmetros de sólidos sedimentáveis e DQO que extrapolaram os limites exigidos pela Resolução CONAMA nº 357/2005, sendo necessário uma adequação dos procedimentos no processo de produção, com o intuito de gerar uma menor carga de matéria orgânica, sólidos grosseiros, DQO e DBO5, melhorando assim a eficiência do sistema de tratamento adotado.

Em relação aos resíduos, os provenientes do processo produtivo são encaminhados para a graxaria existente no empreendimento para fabricação da farinha de ração animal. Quanto aos resíduos provenientes de áreas administrativas, banheiros e refeitórios, foi constatado que estes estavam sendo dispostos de maneira inadequada causando assoreamento de um córrego que passa nas dependências do matadouro. Quanto às emissões, essas são oriundas da caldeira existente no empreendimento e não possuem tratamento adequado. Foi possível constatar também, que as cinzas geradas no processo de queima de lenha, são lançadas a céu aberto sem nenhum aproveitamento e que a mesma esta contribuindo para o assoreamento do córrego, já que a disposição ocorre às margens do mesmo.

Desta forma, através deste levantamento pericial foi possível verificar o grau de periculosidade que este tipo de atividade pode ocasionar ao meio ambiente, e ainda, constatou-se que o empreendimento necessita de adoção de medidas estruturais no controle de poluição ambiental provocados pela atividade, para adequar-se com a legislação ambiental.

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ABSTRACT

This study aimed to identify the environmental damage caused by an slaughterhouse located in the northeastern state of Para Through this study it was possible to observe the procedures taken by the enterprise as the management of effluents, wastes and emissions generated by the activity and propose some suggestions that could contribute to environmental management of it. The study examined the effectiveness of wastewater treatment system adopted. To this end, we analyzed the following physicochemical parameters: pH, sedimentable solids, oils and greases, DO, COD, BOD5, Ammonia Nitrogen, Nitrate and Nitrite. The results showed that only the solid parameters and COD surpassed the limits required by CONAMA Resolution 357/2005, showing that the effluent treatment system must be controlled and monitored. It was noted that the project does not adopt any environmental management model that meets the requirements of environmental legislation and that the activity requires measures to reduce the volumes of industrial waste and optimizing water use.

Keywords: Environmental expertise. Environmental damage. Slaughterhouses.

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