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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.685.092 - RS (2017/0171178-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : IRIDE CORADI DE PAULA ADVOGADOS : ALBERTO ALVES - RS034193

ARTUR FERNANDO WAGNER - RS041994

RECORRIDO : VITOR HUGO MULLER

ADVOGADO : OMAR EMILIO DUPONT - RS051999 RECORRIDO : HDI SEGUROS S.A

ADVOGADOS : JOÃO FIRMINO TORELLY BASTOS - RS014805

PEDRO TORELLY BASTOS - RS028708

EDUARDO RODRIGUES SILVA - RS048314

PABLO ANNES DUARTE - RS083767

PRISCILA RIEFFEL ALVES E OUTRO(S) - RS088979

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. ERRO MATERIAL NO RESULTADO DO JULGAMENTO. CORREÇÃO. OFENSA À COISA JULGADA. NÃO CONFIGURADA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO COMPROVADA. JULGAMENTO: CPC/15.

1. Ação de indenização por danos materiais e compensação de dano moral ajuizada em 04/07/2008, da qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 20/02/2017 e atribuído ao gabinete em 01/08/2017.

2. O propósito recursal é decidir sobre: (i) a negativa de prestação jurisdicional; (ii) a violação da coisa julgada; (iii) a lei que rege o julgamento do agravo interno nos embargos de declaração opostos na origem; (iv) o valor arbitrado a título de compensação do dano moral; (v) a possibilidade de cumulação da condenação ao pagamento da cirurgia plástica corretiva com a compensação do dano estético.

3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há falar em violação do art. 1.022 do CPC/15. 4. Exige-se de toda decisão judicial, dentre outros requisitos, a coerência interna entre seus elementos estruturais: a vinculação lógica entre relatório, fundamentação e dispositivo, aos quais, nos acórdãos, deve estar também alinhado o resultado proclamado do julgamento.

5. Embora relacionado ao conteúdo decisório, mas sem com ele se confundir, configura-se o erro material quando o resultado proclamado do julgamento se encontra clara e completamente dissociado de toda a motivação e do dispositivo, revelando nítida incoerência interna no acórdão, o que, em última análise, compromete o fim último da atividade

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jurisdicional que é a entrega da decisão congruente e justa para permitir a pacificação das pessoas e a eliminação dos conflitos.

6. Hipótese em que a correção efetivada pelo Tribunal de origem está dentro dos poderes conferidos ao julgador pelo art. 463, I, do CPC/73, correspondente ao art. 494, I, do CPC/15, na medida em que não alteraram as razões ou os critérios do julgamento, tampouco afetaram a substância do julgado, aumentando ou diminuindo seus efeitos.

7. O dissídio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre situações fáticas idênticas.

8. Recurso especial conhecido em parte e, nessa extensão, desprovido.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, conhecer em parte do recurso especial e, nesta parte, negar-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro votaram com a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino.

Brasília (DF), 18 de fevereiro de 2020(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

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Superior Tribunal de Justiça

RECURSO ESPECIAL Nº 1.685.092 - RS (2017/0171178-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : IRIDE CORADI DE PAULA ADVOGADOS : ALBERTO ALVES - RS034193

ARTUR FERNANDO WAGNER - RS041994

RECORRIDO : VITOR HUGO MULLER

ADVOGADO : OMAR EMILIO DUPONT - RS051999 RECORRIDO : HDI SEGUROS S.A

ADVOGADOS : JOÃO FIRMINO TORELLY BASTOS - RS014805

PEDRO TORELLY BASTOS - RS028708

EDUARDO RODRIGUES SILVA - RS048314

PABLO ANNES DUARTE - RS083767

PRISCILA RIEFFEL ALVES E OUTRO(S) - RS088979

RELATÓRIO

O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR):

Cuida-se de recurso especial interposto por IRIDE CORADI DE PAULA,

fundado nas alíneas “a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão do

TJ/RS.

Ação: de indenização por danos materiais e compensação de dano

moral ajuizada por IRIDE CORADI DE PAULA em face de VITOR HUGO MULLER, em

virtude de acidente de trânsito, tendo havido a denunciação à lide da HDI

SEGUROS S.A.

Sentença: o Juízo de primeiro grau julgou parcialmente procedentes

os pedidos deduzidos por IRIDE CORADI DE PAULA para condenar VITOR HUGO

MULLER à indenização dos danos materiais e da cirurgia plástica corretiva, bem

como ao pagamento de R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais), a título de

compensação do dano moral, mais R$ 4.000,00 (quatro mil reais), a título de

reparação do dano estético, autorizado o abatimento de valores recebidos do

DPVAT. Além disso, julgou procedente o pedido deduzido na denunciação da lide

para condenar a seguradora a ressarcir o recorrido de todos os valores objeto da

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condenação, no limite da cobertura contratual.

Acórdão: o TJ/RS, ao julgar as apelações interpostas por VITOR

HUGO MULLER e HDI SEGUROS S.A, reformou, em parte, a sentença, nos termos

da seguinte ementa:

APELAÇÕES CÍVEIS. ACIDENTE DE TRÂNSITO. DANO MORAL, DENOMINADO IN RE IPSA. QUANTUM INDENIZATÓRIO. REDUÇÃO. CASO CONCRETO. PRECEDENTES. CONDENAÇÃO EM DANO ESTÉTICO E CIRURGIA PLÁSTICA CORRETIVA. DUPLICIDADE DE CONDENAÇÕES. BIS IN IDEM OPERADO. DESCABIMENTO. SEGURADORA. DENUNCIAÇÃO DA LIDE. CONDENAÇÃO. LIMITES DA APÓLICE.

Tendo a prova produzida confortado a tese apresentada pela parte demandante, que se desincumbiu a contento do ônus que lhe competia, resta caracterizada a culpa exclusiva do réu e o dever de indenização por parte deste.

A lesão física grave caracteriza o dano moral puro, denominado in re ipsa. No caso, em face do acidente, a demandante precisou de atendimento, ficou internada, sofreu fratura e precisou de tempo para sua integral recuperação, ficando impossibilitada de suas atividades por considerável período.

Em relação ao quantum indenizatório, merece provimento o recurso, visto que o valor fixado em sentença destoa dos parâmetros norteadores desse Colegiado, cabendo aqui redução para 20 salários mínimos, que nesta data corresponde a R$ 15.760,00(...), corrigido monetariamente pelo IGP-M a partir deste julgamento, com juros de 1% ao mês, desde a data do evento danoso (Súmula 54 do STJ).

A sentença, ao dispor que a condenação 'b', que consiste no pagamento de cirurgia corretiva plástica à autora, deva ser somada à condenação 'd', que trata de ressarcimento por danos estéticos à demandante, duplica a condenação indenizatória, pois a realização de cirurgia corretiva, em tese, afastaria o dano estético.

Verba sucumbencial da lide secundária, atenta aos vetores insculpidos no art. 20 do CPC.

A Seguradora é responsável solidária pela indenização, mas nos limites contratados na apólice.

Em havendo cláusula expressa na apólice, afastando o dano moral e estético, merece ser afastada a condenação.

À UNANIMIDADE DESPROVERAM O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, PROVERAM, EM PARTE, O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA.

Embargos de declaração d e HDI SEGUROS S.A: foram acolhidos

para sanar erro material, a fim de fazer constar no resultado do julgamento: “À

unanimidade desproveram o apelo do réu e, por maioria, desproveram o apelo da

seguradora, vencida a relatora”.

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Petição de VITOR HUGO MULLER: aponta erro material no

acórdão transitado em julgado.

Decisão: o Desembargador Relator, monocraticamente, determinou

a seguinte correção no acórdão:

Assim, sanando de forma permanente o erro material no resultado do julgamento, determino que, onde consta, na fl. 344v.:

À UNANIMIDADE DESPROVERAM O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, PROVERAM O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA.

Tenha-se como correto:

À UNANIMIDADE PROVERAM EM PARTE O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, DESPROVERAM O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA.

Por oportuno, na ementa, fl. 333, onde consta:

À UNANIMIDADE DESPROVERAM O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, PROVERAM, EM PARTE, O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA.

Tenha-se como correto:

À UNANIMIDADE, PROVERAM EM PARTE O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, DESPROVERAM O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA.

E, finalmente, na fl. 333v., segundo parágrafo, onde consta:

Acordam os Magistrados integrantes da Décima Segunda Câmara Cível - Serviço de Apoio à Jurisdição do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em desprover o apelo do réu e, por maioria, prover o apelo da seguradora, vencida a relatora.

Tenha-se como correto:

Acordam os Magistrados integrantes da Décima Segunda Câmara Cível - Serviço de Apoio à Jurisdição do Tribunal de Justiça do Estado, à unanimidade, em prover em parte o apelo do réu e, por maioria, desprover o apelo da seguradora, vencida a relatora.

Ante o exposto, CORRIJO O ERRO MATERIAL nos termos delineados. (fls. 435-438, e-STJ)

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acórdão embargado já havia transitado em julgado, inclusive com baixa dos autos e

remessa à contadoria do foro, razão pela qual haveria ofensa à coisa julgada. O

recurso foi desprovido, nos termos da seguinte ementa:

AGRAVO INTERNO. RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO. RECURSO CONTRA DECISÃO QUE CORRIGIU ERRO MATERIAL CONSTANTE NO ACÓRDÃO DE EMBARGOS DE DECLARAÇÃO OPOSTOS EM FACE DE APELAÇÃO CÍVEL. COISA JULGADA. VIOLAÇÃO INOCORRENTE.

O erro material comporta correção a qualquer tempo e grau de jurisdição. A decisão que corrige tiras de julgamento e ementa publicada em desacordo com o dispositivo do julgado não viola a coisa julgada, primeiro porque esta abrange somente o dispositivo, que não foi alterado. Segundo, porque é necessária diante da absoluta contradição e inexequibilidade do acórdão, que não pode beneficiar a parte vencida no julgamento.

Embargos de declaração de IRIDE CORADI DE PAULA: foram

rejeitados.

Recurso especial: aponta violação dos arts. 494, 502 a 508, 941,

1.022 e 1.046, todos do CPC/15, além de dissídio jurisprudencial.

Sustenta, a par da negativa de prestação jurisdicional, que houve

violação da coisa julgada formada no julgamento dos embargos de declaração nº

70068311844; que é irrisório o valor arbitrado a título de compensação do dano

moral; que é possível a cumulação dos danos estéticos com a cirurgia reparadora.

Juízo prévio de admissibilidade: o TJ/RS admitiu o recurso.

É o relatório.

RECURSO ESPECIAL Nº 1.685.092 - RS (2017/0171178-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : IRIDE CORADI DE PAULA ADVOGADOS : ALBERTO ALVES - RS034193

ARTUR FERNANDO WAGNER - RS041994

RECORRIDO : VITOR HUGO MULLER

ADVOGADO : OMAR EMILIO DUPONT - RS051999 RECORRIDO : HDI SEGUROS S.A

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EDUARDO RODRIGUES SILVA - RS048314

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PRISCILA RIEFFEL ALVES E OUTRO(S) - RS088979

EMENTA

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E COMPENSAÇÃO DE DANO MORAL. NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL. AUSÊNCIA. ERRO MATERIAL NO RESULTADO DO JULGAMENTO. CORREÇÃO. OFENSA À COISA JULGADA. NÃO CONFIGURADA. DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL. NÃO COMPROVADA. JULGAMENTO: CPC/15.

1. Ação de indenização por danos materiais e compensação de dano moral ajuizada em 04/07/2008, da qual foi extraído o presente recurso especial, interposto em 20/02/2017 e atribuído ao gabinete em 01/08/2017.

2. O propósito recursal é decidir sobre: (i) a negativa de prestação jurisdicional; (ii) a violação da coisa julgada; (iii) a lei que rege o julgamento do agravo interno nos embargos de declaração opostos na origem; (iv) o valor arbitrado a título de compensação do dano moral; (v) a possibilidade de cumulação da condenação ao pagamento da cirurgia plástica corretiva com a compensação do dano estético.

3. Devidamente analisadas e discutidas as questões de mérito, e suficientemente fundamentado o acórdão recorrido, de modo a esgotar a prestação jurisdicional, não há falar em violação do art. 1.022 do CPC/15. 4. Exige-se de toda decisão judicial, dentre outros requisitos, a coerência interna entre seus elementos estruturais: a vinculação lógica entre relatório, fundamentação e dispositivo, aos quais, nos acórdãos, deve estar também alinhado o resultado proclamado do julgamento.

5. Embora relacionado ao conteúdo decisório, mas sem com ele se confundir, configura-se o erro material quando o resultado proclamado do julgamento se encontra clara e completamente dissociado de toda a motivação e do dispositivo, revelando nítida incoerência interna no acórdão, o que, em última análise, compromete o fim último da atividade jurisdicional que é a entrega da decisão congruente e justa para permitir a pacificação das pessoas e a eliminação dos conflitos.

6. Hipótese em que a correção efetivada pelo Tribunal de origem está dentro dos poderes conferidos ao julgador pelo art. 463, I, do CPC/73, correspondente ao art. 494, I, do CPC/15, na medida em que não alteraram as razões ou os critérios do julgamento, tampouco afetaram a substância do julgado, aumentando ou diminuindo seus efeitos.

7. O dissídio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analítico entre acórdãos que versem sobre situações fáticas idênticas.

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RECURSO ESPECIAL Nº 1.685.092 - RS (2017/0171178-7)

RELATORA : MINISTRA NANCY ANDRIGHI

RECORRENTE : IRIDE CORADI DE PAULA ADVOGADOS : ALBERTO ALVES - RS034193

ARTUR FERNANDO WAGNER - RS041994

RECORRIDO : VITOR HUGO MULLER

ADVOGADO : OMAR EMILIO DUPONT - RS051999 RECORRIDO : HDI SEGUROS S.A

ADVOGADOS : JOÃO FIRMINO TORELLY BASTOS - RS014805

PEDRO TORELLY BASTOS - RS028708

EDUARDO RODRIGUES SILVA - RS048314

PABLO ANNES DUARTE - RS083767

PRISCILA RIEFFEL ALVES E OUTRO(S) - RS088979

VOTO

O EXMO. SR. MINISTRO NANCY ANDRIGHI (RELATOR):

O propósito recursal é decidir sobre: (i) a negativa de prestação

jurisdicional; (ii) a violação da coisa julgada; (iii) o valor arbitrado a título de

compensação do dano moral; (iv) a possibilidade de cumulação da condenação ao

pagamento da cirurgia plástica corretiva com a compensação do dano estético.

1. DELIMITAÇÃO DA CONTROVÉRSIA

Convém destacar, inicialmente, que o ato impugnado neste recurso

especial é o acórdão dos embargos de declaração opostos por IRIDE CORADI DE

PAULA contra o acórdão do agravo interno que, por sua vez, foi interposto contra a

decisão de fls. 435-438, e-STJ, a qual determinou a correção de erro material

relacionado ao julgamento da apelação de VITOR HUGO MULLER.

Logo, as questões relacionadas ao valor arbitrado a título de

compensação do dano moral e à possibilidade de cumulação da condenação ao

pagamento da cirurgia plástica corretiva com a compensação do dano estético

encontram-se acobertadas pelo manto da coisa julgada, a partir do trânsito em

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julgado do acórdão de embargos de declaração na apelação, tendo em vista que

não houve a respectiva impugnação tempestiva da recorrente para provocar a

oportuna manifestação do TJ/RS.

2. DA NEGATIVA DE PRESTAÇÃO JURISDICIONAL

Afirma a recorrente que há contradição e/ou obscuridade relacionada

à aplicação do CPC/73, considerando que “o recurso de agravo interno se voltou

contra a decisão monocrática prolatada em 09.06.2016, não tendo em nenhum

momento se voltado contra as decisões anteriores” (fl. 576, e-STJ).

Alega, também, a existência de obscuridade “quanto ao que seja parte

'dispositiva do julgado' e/ou 'tiras de julgamento'”, argumentando que “o que foi

alterado [no julgamento dos embargos de declaração opostos contra o acórdão

transitado em julgado] foi justamente o dispositivo do acórdão, não a 'tira de

julgamento'”, e que, em consequência, houve efeito modificativo, ao contrário do

que foi afirmado pelo Tribunal de origem (fl. 577-580, e-STJ).

Sobre essas questões, consta do acórdão de agravo interno o

seguinte:

Primeiramente, cumpre salientar que a decisão atacada, bem como o presente recurso, se submetem ao regramento do Código de Processo Civil de 1973, porquanto, atacam, em última análise, os acórdãos da apelação cível n.° 70045867462 e do embargos de declaração n.° 70068311844, ambos publicados sob sua égide, conforme orientação do Plenário do Superior Tribunal de Justiça.

Objetivamente quanto ao ponto atacado pelo agravante, o que transita em julgado é o dispositivo da sentença ou do acórdão, e este não foi alterado pela decisão agravada. Muito pelo contrário, foram corrigidas as tiras de julgamento para adequá-las ao dispositivo.

(...)

Ressalto que, do modo como redigido o resultado e tiras de julgamento, a decisão proferida se torna completamente

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Superior Tribunal de Justiça

contraditória e inexeqüível, impondo-se, portanto, a sua correção. Assim, verifica-se não haver qualquer violação à coisa julgada material, eis que sequer houve efeito modificativo da decisão. (fls. 508 e 512, e-STJ)

Da leitura do acórdão recorrido extrai-se, sem adentrar no acerto ou

desacerto do julgamento, que foram devidamente analisadas e discutidas as

questões de mérito, estando suficientemente fundamentado, de modo a esgotar a

prestação jurisdicional.

Não há, portanto, vício a ser sanado quanto a esses pontos.

No que tange à violação da coisa julgada, constata-se que a recorrente

fez mera referência genérica à existência de omissão, contradição e obscuridade

no acórdão recorrido, sem, contudo, se desincumbir do ônus de demonstrar,

efetivamente, em que consistiriam tais vícios, sobre os quais deveria ter se

pronunciado o TJ/RS, pretendendo, em verdade, a reforma do julgado.

Aplica-se, nesse ponto, a Súmula 284/STF.

Por fim, apenas a título de esclarecimento, ressalta-se que o TJ/RS

não reformou a sentença no ponto em que se determinou o abatimento do seguro

DPVAT, ficando, então, mantida nos seguintes termos:

5. DPVAT.

Sobre a matéria, existe Súmula do STJ. Assim, a SÚMULA Nº 246:

O valor do seguro obrigatório deve ser deduzido da indenização judicialmente fixada.

Logo, valores já recebidos ou que venham a sê-lo devem ser rebatidos da indenização. (fl. 316, e-STJ – grifou-se)

ANTE O EXPOSTO, JULGO PROCEDENTE EM PARTE o pedido contido na AÇÃO INDENIZATÓRIA ajuizada para condenar a parte demandada ao pagamento de:

(...)

c) indenização por danos morais à parte demandante em R$ 28.000,00 [reduzidos para 20 salários mínimos, correspondentes, à

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época, a R$ 15.760,00], corrigidos monetariamente pelo IGPM desde a data da sentença (31/05/2011) e com juros de mora de 1% ao mês, desde a data do fato (25/04/2007), autorizado o abatimento de valores recebidos do DPVAT; (fls. 319-320, e-STJ – grifou-se)

3. DA VIOLAÇÃO DA COISA JULGADA

Afirma a recorrente, ao defender a violação da coisa julgada, que o

TJ/RS alterou o dispositivo do acórdão e, portanto, o resultado do julgamento, que

havia transitado em julgado, hipótese que não se caracteriza como erro material,

cuja retificação de ofício é autorizada pelo legislador.

Com efeito, a correção de erro material não se sujeita à preclusão ou à

coisa julgada, por se tratar de matéria de ordem pública, cognoscível de ofício pelo

juiz. Nesse sentido: AgRg no AREsp 113.266/SP, Quarta Turma, julgado em

03/11/2015, DJe 6/11/2015; AgRg no REsp 1.160.801/CE, Primeira Turma, julgado

em 03/05/2011, DJe 10/05/2011; AgRg no REsp 773.273/MG, Primeira Turma,

julgado em 27/11/2007, DJ 27/02/2008.

Ademais, segundo orientação desta Turma, “o erro material, passível

de ser corrigido de ofício, e não sujeito à preclusão, é o reconhecido primu ictu

oculi, consistente em equívocos materiais sem conteúdo decisório

propriamente dito” (REsp 1.151.982/ES, minha relatoria, Terceira Turma, julgado

em 23/10/2012, DJe 31/10/2012). Ainda: “O erro material, previsto no art. 463,

inciso I, do Código de Processo Civil, é um vício de procedimento que não macula

a substância do julgado, mas pode acarretar a anulação das premissas

inexistentes ou equivocadas, notadamente quando há um descompasso

entre a vontade do julgado e o que de fato foi redigido” (REsp

1.294.294/RS, Terceira Turma, julgado em 06/05/2014, DJe 16/05/2014).

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Superior Tribunal de Justiça

consignou o Desembargador Relator, na decisão de fls. 435-438, e-STJ:

Apesar de já ter transcorrido o prazo para novos embargos de declaração, o erro material é vício corrigível de ofício, conforme previsto no art. 463 do CPC/1973 e 494 do CPC/2015, verbis:

(...)

Primeiramente, ressalto que não há erro material a ser sanado no "dispositivo" apontado pelo peticionante relativo ao voto da Dra Elaine, pois o voto da mesma não reflete a totalidade do julgamento, posto que restou vencida em parte.

No caso dos autos o acórdão de fls. 333-344 deu parcial provimento ao recurso do réu VITOR HUGO MULLER, por unanimidade, para reduzir o valor da condenação em danos morais para R$ 15.760,00, corrigidos pelo IGP-M a contar da data do julgamento e com juros de 1% ao mês a contar do evento danoso, e afastar a indenização pelos danos estéticos; e negou provimento ao recurso da ré/seguradora HDI SEGUROS S.A. por maioria.

No entanto, constou no resultado do julgamento: "À UNANIMIDADE DESPROVERAM O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, PROVERAM O APELO DA SEGURADORA, VENCIDA A RELATORA".

Opostos embargos de declaração pela seguradora, o resultado foi corrigido para constar: À UNANIMIDADE, DESPROVERAM O APELO DO RÉU E, POR MAIORIA, DESPROVERAM O APELO DA SEGURADORA VENCIDA A RELATORA (fl. 356).

Ocorre que assiste razão ao ora embargante, pois ainda permanece erro quanto ao recurso do réu VITOR HUGO MULLER que havia sido parcialmente provido, e não desprovido como constou. (grifou-se)

Verifica-se, da leitura da decisão, que a correção realizada implicou a

alteração do resultado proclamado para adequá-lo às razões de decidir e ao

dispositivo, este último registrado no voto condutor do acórdão nestes termos:

Ante o exposto, o voto é no sentido de dar parcial provimento ao apelo do réu Vitor Hugo, para o fim de reduzir a condenação em danos morais para 20 salários mínimos, que nesta data corresponde a R$ 15.760,00(...), corrigido monetariamente pelo IGP-M a contar deste julgamento, com juros de 1% ao mês, a contar da data do evento danoso e afastar a indenização pelos danos estéticos, mantida a indenização pela

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Superior Tribunal de Justiça

cirurgia plástica, conforme a sentença. (fl. 405, e-STJ)

Ora, exige-se de toda decisão judicial, dentre outros requisitos, a

coerência interna entre seus elementos estruturais: a vinculação lógica entre

relatório, fundamentação e dispositivo, aos quais, nos acórdãos, deve estar

também alinhado o resultado proclamado do julgamento.

Nessa toada, embora relacionado ao conteúdo decisório, mas sem

com ele se confundir, configura-se o erro material quando o resultado

proclamado do julgamento se encontra clara e completamente

dissociado de toda a motivação e do dispositivo, revelando nítida

incoerência interna no acórdão, o que, em última análise, compromete o fim

último da atividade jurisdicional que é a entrega da decisão congruente e justa

para permitir a pacificação das pessoas e a eliminação dos conflitos.

A correção efetivada pelo TJ/RS, portanto, está dentro dos poderes

conferidos ao julgador pelo art. 463, I, do CPC/73, correspondente ao art. 494, I, do

CPC/15, na medida em que não alteraram as razões ou os critérios do julgamento,

tampouco afetaram a substância do julgado, aumentando ou diminuindo seus

efeitos.

4. DA DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL

Para a caracterização do dissídio, não basta a transcrição de ementas e

trechos dos acórdãos paradigmas, fazendo-se necessário que se aponte e explicite

a semelhança entre os casos confrontados, o que não foi realizado pela recorrente.

Assim, a análise da existência do dissídio é inviável, porque foram

descumpridos os arts. 1.029, § 1º, do CPC/15 e 255, § 1º, do RISTJ.

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Superior Tribunal de Justiça

Forte nessas razões, CONHEÇO EM PARTE do recurso especial e,

nessa extensão NEGO-LHE PROVIMENTO.

(15)

Superior Tribunal de Justiça

CERTIDÃO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Número Registro: 2017/0171178-7 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.685.092 / RS

Números Origem: 00413786720168217000 01029681120178217000 01469317520088210019 02316181320168217000 02808673020168217000 05195408420118217000 1029681120178217000 10800146930 1469317520088210019 2316181320168217000 2808673020168217000 413786720168217000 5195408420118217000 70045867462 70068311844 70070214242 70070706734 70073388530 PAUTA: 18/02/2020 JULGADO: 18/02/2020 Relatora

Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sessão

Exmo. Sr. Ministro MOURA RIBEIRO Subprocurador-Geral da República

Exmo. Sr. Dr. ROGÉRIO DE PAIVA NAVARRO Secretário

Bel. WALFLAN TAVARES DE ARAUJO

AUTUAÇÃO

RECORRENTE : IRIDE CORADI DE PAULA

ADVOGADOS : ALBERTO ALVES - RS034193

ARTUR FERNANDO WAGNER - RS041994

RECORRIDO : VITOR HUGO MULLER

ADVOGADO : OMAR EMILIO DUPONT - RS051999

RECORRIDO : HDI SEGUROS S.A

ADVOGADOS : JOÃO FIRMINO TORELLY BASTOS - RS014805

PEDRO TORELLY BASTOS - RS028708 EDUARDO RODRIGUES SILVA - RS048314 PABLO ANNES DUARTE - RS083767

PRISCILA RIEFFEL ALVES E OUTRO(S) - RS088979

ASSUNTO: DIREITO CIVIL - Responsabilidade Civil - Indenização por Dano Moral - Acidente de Trânsito

CERTIDÃO

Certifico que a egrégia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:

A Terceira Turma, por unanimidade, conheceu em parte do recurso especial e, nesta parte, negou-lhe provimento, nos termos do voto da Sra. Ministra Relatora.

Os Srs. Ministros Ricardo Villas Bôas Cueva, Marco Aurélio Bellizze e Moura Ribeiro (Presidente) votaram com a Sra. Ministra Relatora.

Referências

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