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Caminhando com Deus sob o sol: Introdução ao Eclesiastes

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Academic year: 2021

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Caminhando com Deus sob o sol:

Introdução ao Eclesiastes

[1] Palavra do Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém: [2] Vaidade de vaidades, diz o Pregador;

vaidade de vaidades, tudo é vaidade. Eclesiastes 1.1–2.

Sermão pregado na IPB Rio Preto em 23/09/2012, às 9h.

Introdução

1 Esta é a

segunda vez que eu prego sobre o livro de Eclesiastes.

1.1 A primeira ocasião foi na Igreja Presbiteriana Central do Gama, nos anos 2004 e

2005. Muitos daqueles primeiros sermões foram filmados e gravados, mas,

infelizmente, devido a um problema em meu computador, eu perdi a maior parte

dos esboços, anotações, áudios e vídeos.

1.2 Com exceção de algumas meditações sobre os capítulos 1, 5, 8, 9 e 12, tudo o

mais se foi.

2 Sendo assim,

o que apresento nesta série é um material novo.

2.1 Desde 2005, pela graça de Deus, eu tive acesso a outros textos, traduções e

recursos de interpretação de Eclesiastes. Pela bondade de Deus, obtive algumas

compreensões novas sobre este livro.

2.2 Por isso minha leitura atual de Eclesiastes é diferente, mais consistente com a

revelação bíblica sobre

criação, queda e redenção, e mais atenta ao cordão

dourado que unifica toda a Escritura — o cordão de três cordas do reino, da

aliança e do Mediador.

3 Como disse William Golden, “criar algo simples é uma tarefa muito complexa”.

1

Sendo assim,

eu me esforcei para retirar destes sermões toda informação técnica

desnecessária.

3.1 Para as pessoas interessadas em aprofundar-se nos principais debates

teológicos, eu produzi

uma versão do sermão com notas de rodapé e

referências bibliográficas.

3.2 Para os grupos de comunhão, eu produzi

um guia de estudos com perguntas e

respostas. Tais materiais podem ser baixados ainda hoje na página de

downloads de nosso site, em www.ipbriopreto.org.br.

O livro de Eclesiastes inicia apontando para seu

autor e tema, da seguinte forma:

                                                                                                               

1

GOLDEN, William. O Tipo é Para Ser Lido. [Preleção apresentada em 1959, na Conferência Sobre Tipografia Contemporânea na Associação dos Diretores Tipográficos de Nova York]. In: BIERUT, Michael et al. (Org.). Textos Clássicos do Design Gráfico. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2010, p. 123. A empolgação com discussões teológicas e técnicas foi tão grande que a primeira versão deste sermão continha mais de sete páginas só com dados críticos e introdutórios.

(2)

I Deus fala conosco por meio do filho de Davi

[1] Palavra do Pregador, filho de Davi, rei de Jerusalém.

1 A primeira coisa que Eclesiastes nos ensina é que

Deus fala conosco por meio do

filho de Davi. Vejamos como ele faz isso. Primeiro, apresenta-se o título do livro:

“Palavra do Pregador” (v. 1).

1.1 O termo traduzido por “Pregador” é תלהק, qhlt ou Qohelet (Coélet). É difícil

sabermos ao certo o que esta palavra significa porque apenas o autor de

Eclesiastes a utiliza — ela não é encontrada em nenhum outro lugar da Bíblia.

2

1.2 Os estudiosos da língua hebraica sugerem

quatro possibilidades de

entendimento:

1.2.1 A primeira, usada em nossa e em outras Bíblias, é

“Pregador”.

1.2.2 Uma segunda possibilidade é entender Coélet como

um substantivo

ligado a

um verbo que transmite a ideia de reunir uma assembleia.

1.2.2.1 A palavra assembleia, em grego, é ἐκκλησία,

ekklesia.

1.2.2.2 Esta é,

literalmente, a palavra “igreja”.

1.2.2.3 Por isso as coisas da igreja são chamadas de

eclesiásticas e o

nome latino deste livro — assumido por nossa Bíblia em

português — é

Eclesiastes.

3

1.2.3 A terceira e quarta formas de entendimento de Coélet são sugeridas por

aqueles que dizem que tal palavra pode indicar a

pessoa que escreve,

coleciona e ensina a sabedoria. Isso se encaixa perfeitamente com o

que lemos em Eclesiastes 12.9-10. Por esta razão, Coélet é traduzido em

algumas Bíblias como “Sábio”

4

ou “Mestre”

5

e uma paráfrase

6

atual traz:

“Estas são as palavras

daquele que está em busca”.

7

2 Mais importante do que compreender o sentido exato do título, é saber que este

Pregador pertence à

linhagem real de Davi em Jerusalém (v. 1).

2.1

Quem é ele? O debate sobre esta questão é acirrado e complexo. Para

simplificar, a discussão se resume a duas proposições:

                                                                                                               

2

ARNOLD, Bill T.; BEYER, Bryan E. Descobrindo o Antigo Testamento. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, p. 326. 3

Cf. EATON, Michael A. Eclesiastes. In: CARSON, D. A. et al. (Ed.). Comentário Bíblico Vida Nova. São Paulo: 2009, p. 920; CERESKO, Anthony R. A Sabedoria no Antigo Testamento: Espiritualidade Libertadora. São Paulo: Paulus, 2004, p. 100-101. ([Coleção] Bíblia e Sociologia).

4 Na Bíblia Almeida Século 21 (A21) e Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH). 5 Na Bíblia Nova Versão Internacional (NVI).

6

Uma paráfrase não é uma tradução formal, mas uma tradução livre, uma espécie de leitura atualizada de um texto, sem muita preocupação de fidelidade ao texto original. Por isso, apesar de serem boas de ler, nem sempre as paráfrases são confiáveis.

7

PETERSON, Eugene H. A Mensagem: Bíblia em Linguagem Contemporânea. São Paulo: Vida, 2011, p. 905. Grifo nosso.

(3)

2.1.1 O

ponto de vista tradicional enxerga neste versículo o rei Salomão.

8

Um

dos problemas com esta posição é que

o nome de Salomão não

aparece em nenhuma parte do texto.

2.1.2 Daí surgiu outra perspectiva, ligando Eclesiastes 1.1 ao

rei Ezequias.

9

Outros defendem que o texto não se refere

nem a um nem a outro e

sugerem teorias diversas: A possibilidade de

diversos autores; de dois

autores diferentes; de um editor que compilou as palavras de um sábio

anônimo e de

um único autor que criou um personagem literário.

10

2.2 O fato é que, se analisarmos o livro cuidadosamente, concluiremos que

muitas

de suas palavras e experiências se aplicam ao rei Salomão, mas nem todas

elas. Outras se encaixam com o rei Ezequias, mas nem todas.

                                                                                                               

8 Até cerca de 500 anos atrás a maioria dos judeus e cristãos entendia que tais palavras apontavam claramente para a figura de Salomão: “Uma fonte rabínica declara que ele [Salomão] escreveu o Cântico dos Cânticos, com sua acentuação do amor, em sua juventude; Provérbios, com sua ênfase nos problemas práticos, em sua maturidade; e Eclesiastes, com suas reflexões melancólicas sobre a vaidade da vida, em sua velhice” ― Midrash Shir Hashirim Rabba 1,1, 10º século, apud LÍNDEZ, José Vílchez. Eclesiastes ou Qohelet. São Paulo: Paulus, 1999, p. 12. (Coleção Grande Comentário Bíblico). Grifos do autor. Esta é a posição esposada por Matthew Henry; cf. HENRY, Matthew. Comentário Bíblico. Antigo Testamento. Jó a Cantares de Salomão. Edição Completa. Rio de Janeiro: Casa Publicadora das Assembleias de Deus, 2010, p. 891-893.

Atualmente a autoria salomônica continua sendo defendida por diversos estudiosos. Cf. ARCHER JR., Gleason L. Merece Confiança o Antigo Testamento? 4ed. Reimpressão 2004. São Paulo: Vida Nova, 2003, p. 432-448; BÍBLIA DE ESTUDO MACARTHUR (BEM). Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2010, p. 834; e KIVITZ, Ed René. O Livro Mais Mal-Humorado da Bíblia: A Acidez e a Sabedoria do Eclesiastes. 1ed. 2009, 8ª reimpressão, 2012. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 19.

Stuart Olyott exemplifica a posição dos teólogos conservadores atuais que defendem a autoria salomônica: “Assim que o livro se abre, Salomão se identifica como seu autor, sem, na verdade, nomear-se. Quem mais poderia ter descrito a si mesmo como “o filho de Davi, rei em Jerusalém”? Temos diante de nós as palavras de um homem que, por causa de sua posição privilegiada, desfrutou de tudo o que a vida tem a oferecer. Mas agora ele é rei e tem a responsabilidade de governar os outros. Ele também toma para si a responsabilidade de ensiná-los e chama-se ‘Pregador’”; cf. OLYOTT, S. A Life Worth Living and a Lord Worth Loving. Darlington, England: Evangelical Press, 1983, p. 18. (Welwyn Commentary Series). E-book. In: Logos Bible Software.

9

ARCHER JR., op. cit., p. 436, cita Baba Bathra 15a, um escrito da tradição judaica: “Ezequias e sua companhia escreveram Eclesiastes”. Depois de Davi e Salomão, Ezequias é o rei mais citado no AT. Eis o que diz

Shepherd: “Nos cap. 1—2 Qohelet é pintado com evidentes características salomônicas, mas por não nomear explicitamente Qohelet como Salomão e pela introdução de dados conflitantes, como a referência a “todos os que antes de mim existiram em Jerusalém” (1.16), o autor deseja que o leitor olhe para outro rei israelita que também poderia caber no retrato. Ezequias, que na tradição bíblica e rabínica tem ligações com a sabedoria e que, nas contas do seu reinado, em 2Reis 18—20; 2Crônicas 29—32 e Isaías 36—39, faz várias declarações que parecem paralelas às feitas por Qohelet em Eclesiastes, é o provável candidato”. (SHEPHERD, Jerry E. The Identity of Qohelet. Paper Read at The Pacific Northwest Regional Meeting of the Society of Biblical Literature. Portland, Oregon: May 1998, apud SHEPHERD, Jerry E. Ecclesiastes. In: LONGMAN III, Tremper; GARLAND, David E. (Ed.). The Expositor's Bible Commentary. Proverbs — Isaiah. Revised Edition. Grand Rapids: Zondervan, 2009, p. 258; e-book Kindle, posição 6581 de 22443).

10 A posição sugerida por DILLARD, Raymond B.; LONGMAN III, Tremper. Introdução ao Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2006, p. 237-245, oferece uma solução ortodoxa, ou seja, conservadora, e ainda assim fiel às evidências textuais de Eclesiastes: Sugere-se que o livro foi provavelmente produzido por um editor que emoldurou (entre um prólogo e um epílogo escritos na terceira pessoa) os ditos de um sábio anônimo cujas experiências podem ser ligadas a grandes reis de Judá, mas que não necessariamente correspondem a um personagem identificável. Um apanhado histórico do desenvolvimento da percepção das duas vozes — e consequente autoria não salomônica de Eclesiastes — pode ser conferido em LÍNDEZ, op. cit., p. 11-14.

(4)

2.2.1 Temos de ser sinceros e admitir que

a autoria de Eclesiastes continua

cercada de mistério e sendo motivo de debate.

2.2.2 Reconheçamos que

o Espírito Santo — o supremo autor da Bíblia — não

quis mostrar claramente quem escreveu este livro.

2.2.3

Temos de respeitar o texto bíblico, ser humildes e afirmar somente o

que pode ser provado pela própria Bíblia, senão corremos o risco de

afundar na

areia movediça de hipóteses que não produzem resultados

edificantes e satisfatórios.

3 O que Deus nos diz aqui?

Quem fala conosco em Eclesiastes é “filho de Davi, rei de

Jerusalém” (v. 1). A intenção do Espírito Santo é simplesmente registrar que este

Pregador provém da linhagem davídica.

3.1 Dito de outro modo, o ensino de Eclesiastes tem ligação com

a aliança divina

firmada com Davi em 2Samuel 7.7-16.

11

3.2 É por isso que

algumas experiências e ditos de Eclesiastes relacionam-se

com Salomão; outras, com Ezequias, ou quem sabe, com outro rei de Judá.

Mas não somente eles...

3.3 Mais do que qualquer outro,

Eclesiastes está vinculado com o mais

proeminente herdeiro do trono davídico, o nosso Senhor Jesus Cristo.

3.3.1 Coélet é Pregador?

Jesus é quem cumpre o ofício de supremo Profeta,

como lemos em Deuteronômio 18.15 e Hebreus 1.1-2.

3.3.2 Coélet reúne a assembleia?

Jesus reúne e edifica a igreja (Mc 3.13-18;

Mt 16.18-19).

3.3.3 Coélet é o Sábio?

O Senhor Jesus é o “mistério de Deus [...] em quem

todos os tesouros da sabedoria e do conhecimento estão ocultos” (Cl

2.2–3).

3.3.4 Coélet é o Mestre?

Jesus é o Rabi por excelência que nos ensina todas

as coisas pertinentes para nossa salvação (Jo 3.2).

Queremos compreender o Eclesiastes? Saibamos que este livro pertence à grande

escola de sabedoria iniciada com Salomão, mantida por Ezequias e enriquecida e

iluminada pela pessoa, pelos ensinamentos e pela obra de Jesus Cristo.

Deus fala

por meio de seu Pregador que é “filho de Davi e rei de Jerusalém”. Mas não

apenas isso.

Estas primeiras palavras de Eclesiastes nos revelam ainda que...

                                                                                                               

11

As palavras “aliança” e “pacto” não constam neste livro. CF. VAN GRONINGEN, Gerard. Criação e Consumação: O Reino, a Aliança e o Mediador. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, p. 395. v 3. Uma nota introdutória da A21 explica que em Eclesiastes “o nome de aliança com Deus nunca é empregado” (p. 678). Ainda assim, aspectos importantes das alianças da criação e redenção aparecem no texto. Se nosso Senhor permitir, mostrarei e explicarei estas evidências nos próximos sermões.

(5)

II Deus nos ajuda a lidar com a vaidade da vida

[2] Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo é vaidade.

1 Em Eclesiastes

Deus nos instrui e fortalece para que lidemos com a vaidade da

vida. O v. 2 contém: “Vaidade de vaidades, diz o Pregador; vaidade de vaidades, tudo

é vaidade”.

1.1 Neste livro de Eclesiastes, a palavra “vaidade” ocorre 35 vezes na Bíblia Almeida

Revista e Atualizada (ARA),

33 vezes no singular e duas vezes em sua forma

plural. Os estudiosos falam de 37 ocorrências no original hebraico.

12

1.2 Ademais, a declaração “vaidade de vaidades” inicia e fecha o livro (1.2; 12.8),

sinalizando que

este é o seu tema ou ideia principal.

1.3 O autor de Eclesiastes

aponta diversas vezes para o livro de Gênesis. Neste v.

2 nós encontramos

o primeiro apontamento, uma vez que podemos ler da

seguinte forma:

“Abel de Abel, tudo é Abel”.

1.3.1 Saibamos que a palavra hebraica לֶבֶה, hebel, traduzida por “vaidade”, é

literalmente

o nome do filho mais novo de Adão e Eva, registrado em

Gênesis 4.2.

1.3.2 Este termo significa “fôlego”, “vapor”, “temporário”, “passageiro”,

“transitório”, “que não permanece por muito tempo” ou que “não possui

sentido”;

13

“o que não tem substância, o vazio, oco, nada”,

14

ou, como diz

outro estudioso, “descrédito, fragilidade e futilidade, ausência de

propósito claro”.

15

1.3.3 “Vaidade”, em Eclesiastes é

aquilo que escorre entre nossos dedos. A

NTLH traduz a palavra como “ilusão”; a NVI traz “inutilidade” e a paráfrase

de Peterson (A Mensagem) fala de “vazio”.

2 Eis o que temos de captar. Esta palavra do filho de Davi tem relação com Gênesis 4.

Pensemos em Abel que era íntegro, vivia pela fé, fez o bem e ainda assim morreu

absurda e tragicamente.

                                                                                                               

12 CERESKO, op. cit., p. 106 e VAN GRONINGEN, op. cit., p. 388, registram 37 ocorrências. Para Greidanus, o termo “vaidade” pode ser encontrado 38 vezes em Eclesiastes; cf. GREIDANUS, Sidney. Preaching Christ from Ecclesiastes: Foundations for Expository Sermons. Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Company, 2010, p. 31; e-book Kindle; posição 406 de 5268.

13

BARKER, Kenneth. (Org.). Bíblia de Estudo NVI (BENVI). São Paulo, Vida, 2003, nota 4.2, p. 12; BÍBLIA DE ESTUDO DE GENEBRA. 1ed. (BEG1). São Paulo; Barueri: Cultura Cristã; Sociedade Bíblica do Brasil, 1999, nota 4.2, p. 15; BÍBLIA DE ESTUDO NTLH. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2005, nota de estudo 4.2, p. 17; KIDNER, Derek. Gênesis: Introdução e Comentário. 1ed. Reimpressão 1991. São Paulo: Mundo Cristão; Vida Nova, 1979, p. 70; YOUNGBLOOD, Ronald F.; BRUCE, F. F.; HARRISON, R. K. (Ed.). Dicionário Ilustrado da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 2004, p. 3.

14

SCHÖKEL, Luís Alonso. Bíblia do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2002, nota 1.2, p. 1489. 15 EATON, op. cit., p. 922.

(6)

2.1 O assassinato do justo Abel

jamais aconteceria se não tivesse havido uma

queda — se o homem vivesse em perfeição e se universo ainda funcionasse de

acordo com a plena harmonia da criação.

2.2 Gênesis 4 registra o assassinato de Abel e o surgimento de uma civilização que

desprezou a Deus e banalizou a vida humana. Essas coisas marcam o estado

atual das coisas: imperfeição, deterioração e fragmentação. Por isso afirma o

apóstolo Paulo:

Toda “a criação está sujeita à vaidade” (Rm 8.20).

2.2.1 Você já pensou nisso? Dizer para Eva, aquela mãe de Gênesis 4, que seu

filho mais velho matou seu filho caçula... Isso é

grotesco, choca, assusta

e

machuca por dentro. Algumas coisas nos atordoam e parecem sem

sentido. Este é o tema de Eclesiastes.

2.2.2 Algumas coisas se mostram ilógicas e, portanto, incompreensíveis; não

apenas difíceis, mas virtualmente impossíveis de explicar. É assim que

enxergamos o que nos envolve;

nós enxergamos, mas não nos

conformamos; nós enxergamos, mas nem sempre compreendemos e

muito menos conseguimos explicar.

2.2.2.1 Somos tomados de assalto por indignação, perplexidade e uma

sensação de ausência de sentido.

2.2.2.2 Então

prosseguimos em nossa caminhada, apegando-nos a

uma coisa e outra, tentando encontrar segurança aqui e ali,

mas no fim das contas, tudo escorre por entre nossos dedos.

3 É sobre isso que fala o Eclesiastes —

a vida marcada por Abel, configurada por

“vaidade”. Como disse alguém que captou a ideia do texto bíblico:

Um pouquinho de fumaça, uma rajada de vento, um simples sopro — nada que se possa pegar com as mãos, a coisa mais próxima do zero. Isto é a vaidade de que trata este livro.16

Talvez por causa da seriedade de seu tema:

Coélet era (e ainda é) lido na sinagoga no terceiro dia da festa dos Tabernáculos. Confere aos festejos uma nota séria lembrando à congregação que as alegrias da vida são

passageiras.17

4 Sendo assim,

Eclesiastes é uma graciosa porta de entrada para o evangelho.

“Vaidade”, na maioria dos contextos em Eclesiastes, significa que nem uma coisa boa no mundo bom de Deus pode, em si mesma, dar-nos a chave da vida, ou fornecer o que é o

summum bonum, o fim principal de toda vida, do amor e do trabalho. Deus reservou a

resposta e a chave da vida para si mesmo e a compartilha somente com aqueles que se achegam a ele. Somente indo a ele podemos encontrar a integração e significado das coisas

[...]. Sem a perspectiva e o sentido que Deus oferece àqueles que vão a ele, um vácuo

                                                                                                               

16

KIDNER, Derek. A Mensagem de Eclesiastes. 2ed. São Paulo: ABU Editora, 1998, p. 10. (A Bíblia Fala Hoje). Grifo [em negrito nosso] nosso; grifo [em itálico] do autor.

17

HARRINGTON, Wilfrid J. Chave Para a Bíblia: A Revelação, a Promessa, a Realização. São Paulo: Paulinas, 1985, p. 327. (Biblioteca de Estudos Bíblicos). Grifo nosso.

(7)

permanece [em nosso] coração, um vácuo tão grande quanto o próprio universo. Somos

deixados nos sentindo sozinhos, descartados e com poucos ou nenhum ponto de referência neste mundo.18

4.1 Isso significa que, ainda que seja um livro altamente filosófico,

Eclesiastes não é

uma obra de Filosofia.

19

A Bíblia não se presta a este fim. Ela é a Palavra

inspirada, infalível e inerrante de Deus ― a revelação do evangelho

para

salvação de toda pessoa que crer em Cristo como seu Senhor e Salvador.

4.2 O fato é que Eclesiastes

derruba todo o ideal humanista da Filosofia.

Eclesiastes afirma que

não é possível encontrar significado ou satisfação na

razão ou sabedoria do homem à parte de Cristo.

Então Deus fala conosco por meio do “filho de Davi”, ajudando-nos a lidar com uma

vida passageira e aparentemente sem sentido.

Deus nos mostra a vida sem

glitter, o vazio por detrás das coisas e a necessidade de andarmos com ele

mesmo estando exaustos e confusos. D

ITO ISTO

,

É HORA DE CONCLUIR

.

Concluindo

1 O que temos aqui?

1.1 Eclesiastes reafirma o ensino do restante da Bíblia:

Deus fala e reina a partir de

Sião, o monte santo de Jerusalém, por meio de seu Mediador, o “filho de

Davi” descrito em Apocalipse 14.1 e 22.16.

1.2 Deus garante a palavra firmada em Isaías 33.6: “Haverá, ó Sião, estabilidade nos

teus tempos,

abundância de salvação, sabedoria e conhecimento; o temor do

S

ENHOR

será o teu tesouro”.

2

Ao desfrutar desta “sabedoria” disponível em Eclesiastes, nós somos

fortalecidos.

2.1 Você quer que seu filhinho ou filhinha aprenda a conviver com outras pessoas?

Leve-o (ou leve-a) a lugares onde há pessoas. Traga-o (ou traga-a) desde os

primeiros dias de vida à igreja.

                                                                                                               

18 KAISER, Walter. Documentos do Antigo Testamento: Sua Relevância e Confiabilidade. São Paulo: Cultura Cristã, 2007, p. 195.

19 Cf. LÍNDEZ, op. cit., p. 17: “Alguns chamaram Qohelet filósofo. Creio que em sentido rigoroso não é adequada essa qualificação. Melhor seria chamá-lo pensador”. Grifos do autor. Mesmo assim, é necessário cuidado para não atribuir peso exagerado a este ponto, uma vez que a função do escrito bíblico de sabedoria é produzir verdadeira piedade e não mero saber filosófico. Cf. OSBORNE, Grant R. A Espiral Hermenêutica: Uma Nova Abordagem à Interpretação Bíblica. São Paulo: Vida Nova, 2009, p. 310, “a sabedoria é em especial um padrão teológico de pensamento que aplica a sabedoria de Deus às questões práticas da vida” (grifo nosso). Isso resulta na definição de “uma ‘compreensão sapiencial da realidade’”, ou seja, santidade

decorrente de uma cosmovisão bíblica.

Há quem leia Eclesiastes, por exemplo, com os óculos da filosofia existencialista, sugerindo que neste livro o autor afirma que a vida não possui qualquer sentido, ou seja, tudo é absurdo. FOX, M. V. Qohelet and His Contradictions. Decatur, GA: The Almond Press, 1989, p. 13–14, sugere um paralelo entre o Pregador e o filósofo existencialista Albert Camus.

(8)

2.2 Você quer que o organismo de seu filhinho ou filhinha se torne robusto para

combater doenças? Deixe seu menino ou menina pisar no chão, sujar-se de terra,

brincar com animais e dar umas boas arranhadas nos joelhos e cotovelos.

Cicatrizes sinalizam recuperação — uma ferida foi sarada, isso é a vitória da

saúde sobre a doença, da força sobre a fraqueza.

2.3 O que eu estou dizendo aqui?

Pra sermos fortalecidos temos de sair da

redoma; temos de ser expostos ao “sol” (falarei sobre a expressão “debaixo do

sol” no próximo sermão).

2.3.1 Algumas pessoas abraçam

expectativas irreais. Simulam perfeição e

ordem absoluta e abraçam ideias simplistas e respostas fáceis para todas

as perguntas. Quando surge o desconforto, o conflito e a angústia;

quando se quebra o vidro da redoma; quando surgem a imperfeição, o

caos e as perguntas difíceis,

estas pessoas literalmente desabam.

2.3.2 Quando sorvemos as palavras de Eclesiastes,

aprendemos a encarar a

complexidade e as aparentes contradições e mistérios de um mundo

afetado pela vaidade. Eclesiastes nos fortalece para o enfrentamento do

inimigo descrito por Henley:

Fumaça espiralada que se desprende do pavio instável, em volteios, em lufadas, em devaneios circunvolutos, Irrealidade fina e vã mergulhando no vácuo.

O mesmo fim para o casebre e o palácio, para a prisão e o tribunal! A mesma chama consome igualmente Sabedoria e loucuras. Para isso mesmo é que viemos: Ó vaidade das vaidades!20

2.4 Em suma,

a maioria dos nossos questionamentos dramáticos — Por quê?! —

decorrem de nosso desconhecimento ou desconsideração de Eclesiastes.

3 É por isso — porque queremos desfrutar do governo e provisão de Deus em um

mundo imperfeito — que nós iniciamos hoje uma viagem.

Percorreremos, por cerca

de 20 semanas, as trilhas pedregosas e ao mesmo tempo transformadoras do

reino de sabedoria do Eclesiastes. Você é convidado a participar desta viagem.

                                                                                                               

20 HENLEY, W. E. Of the Nothingness of Things — Das Coisas Reduzidas a Nada —, apud EATON, Michael A. Eclesiastes. In: EATON, Michael A.; CARR, G. Lloyd. Eclesiastes e Cantares: Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1989, p. 13. (Série Cultura Bíblica)

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