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Análise da associação entre saneamento e saúde nos estados brasileiros estudo comparativo entre 2001 e 2006

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estados brasileiros – estudo comparativo

entre 2001 e 2006

Analysis of the association between sanitation and health in Brazilian states –

comparative study in from 2001 to 2006

Júlio César Teixeira

Engenheiro Civil e de Segurança no Trabalho. Doutor em Saneamento, Meio Ambiente e Recursos Hídricos. Professor Adjunto do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)

Maria Helena Rodrigues Gomes

Engenheira Civil. Doutora em Hidráulica e Saneamento pela Escola de Engenharia de São Carlos da Universidade de São Paulo (EESC/USP). Professora Adjunta do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFJF

Janaina Azevedo de Souza

Estudante de Engenharia em Engenharia Sanitária e Ambiental pela UFJF. Bolsista de Iniciação Científica da UFJF

Resumo

Em um contexto de baixo investimento em saneamento, Teixeira e Guilhermino (2006) estudaram a associação entre as condições de saneamento e os indicadores epidemiológicos nos estados brasileiros, utilizando dados secundários do banco de dados IDB (2003) do Ministério da Saúde. A partir de 2003, os investimentos em saneamento básico no Brasil aumentaram. Assim, o presente trabalho teve como objetivo testar a hipótese de que a ampliação da cobertura por serviços de saneamento básico no período entre 2001 e 2006 foi um investimento capaz de melhorar os indicadores de saúde nos estados brasileiros. Concluiu-se que houve melhoria nos indicadores de saúde, porém não-expressiva, sendo fundamental a utilização de indicadores epidemiológicos e de desenvolvimento social na decisão sobre a priorização de investimentos em saneamento no Brasil.

Palavras-chave: associação; saneamento; saúde; estados brasileiros; indicadores.

Abstract

In a context of poor investment in sanitation, Teixeira e Guilhermino (2006) studied the association between the sanitation conditions and the epidemiological indicators in the Brazilian states, based on secondary data from the database from IDB (2003) of the Ministry of Health. Since 2003, investments in basic sanitation in Brazil had an expressive increase. Thus, the present paper had as a purpose to test the hypothesis that the improvement in the coverage by basic sanitation services from 2001 to 2006 was an investment capable to improve the studied health indicators in the Brazilian states. It has been concluded that there was an improvement in the health indicators, which is still not expressive, being of the most importance the use of epidemiological and social development indicators in the priority of investments in basic sanitation in Brazil.

Keywords: association; sanitation; health; Brazilian states; indicators.

Endereço para correspondência: Júlio César Teixeira – Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – Faculdade de Engenharia da Universidade Federal de Juiz de Fora – Sala 4.103 – Bairro São Pedro – 36036-900 – Juiz de Fora (MG), Brasil – E-mail: juliotei@terra.com.br – Tel.: (32) 3232-6342/ 3229-3419

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Serviço (FGTS) e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Neste contexto, o objetivo do presente trabalho foi desen-volver um estudo entre a associação entre indicadores epidemio-lógicos (taxa de mortalidade infantil, mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em crianças menores de cinco anos de idade e mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasi-tárias para todas as idades) e cobertura por serviços de saneamento básico (água, esgotos e lixo) nos estados brasileiros, utilizando da-dos secundários do banco de dada-dos “Indicadores e Dada-dos Básicos para a Saúde 2008” (IDB, 2008) do Ministério da Saúde, visando testar a hipótese de que a ampliação da cobertura por serviços de saneamento básico nos estados brasileiros, no período entre 2001 e 2006, foi um investimento capaz de melhorar os indicadores de saúde da população brasileira.

Metodologia

Delineamento epidemiológico

O método epidemiológico empregado foi um estudo ecológico, que pode ser mais bem compreendido como o estudo epidemiológi-co que utiliza agregados populacionais epidemiológi-como unidade de análise.

Base de dados

A base de dados foi composta por dados secundários provenien-tes da publicação “Indicadores e Dados Básicos para a Saúde 2008” (IDB, 2008), editada pela Rede Interagencial de Informações para a Saúde (RIPSA).

Indicadores de saúde estudados

• Taxa de mortalidade infantil: 2006 (número de óbitos infantis menores de um ano de idade por 1.000 nascidos vivos). •

Mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em meno-res de cinco anos de idade: 2006 (%).

• Mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades: 2006 (%).

Fatores de risco estudados

Cada um dos três indicadores de saúde estudado foi analisado por meio da correlação com vários outros indicadores, divididos em cinco classes de fatores de risco, a saber:

Indicadores demográficos

• Taxa de crescimento da população de 2001 a 2007 (% de incre-mento populacional); • Grau de urbanização, 2007 (% da população urbana);

Introdução

O reconhecimento da importância do saneamento básico e de sua associação com a saúde humana remonta às mais antigas culturas. Ruínas de uma grande civilização ao Norte da Índia, com mais de 4.000 anos, indicam evidências da existência de hábitos higiênicos, incluindo a presença de banheiros e sistemas de coleta de esgotos sanitários nas edificações, além da drenagem nos arruamentos. Os egípcios dispunham de sistemas de drenagem de água e grandes aquedutos. Também destacam-se os cuidados com o destino dos de-jetos na cultura creto-micênica e as noções de engenharia sanitária dos romanos (ROSEN, 1994).

Heller (1997) realizou vasta revisão da literatura disponível sobre a relação entre saneamento básico e saúde pública e consolidou o entendimento de que os estudos já realizados permitem afirmar que há melhora dos indicadores de saúde, com a melhoria da cobertura por serviços de saneamento básico – abastecimento de água potável, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos e drenagem das águas pluviais urbanas.

No Brasil, no início da década de 1990, a Lei 8.080 (Brasil, 1990), que dispõe sobre o funcionamento dos serviços de saúde no país, reconheceu em seu artigo 3o que a saúde tem como fatores determinantes e condicionantes, entre outros, o saneamento básico. Logo, houve o reconhecimento legal da existência de uma relação de causalidade entre condições inadequadas de saneamento básico e o quadro epidemiológico existente.

Mais recentemente, a Lei 11.445 (BRASIL, 2007a), chamada Lei do Saneamento Básico, estabeleceu que os serviços públicos de sa-neamento básico serão prestados com base em 12 princípios funda-mentais, destacando-se: a universalização do acesso; a integralidade dos diversos serviços de saneamento básico; a prestação dos serviços de abastecimento de água, esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo dos resíduos sólidos realizados de formas adequadas à saú-de pública e à proteção do meio ambiente; e a disponibilidasaú-de, em todas as áreas urbanas, de serviços de drenagem e manejo das águas pluviais adequados à saúde pública e à segurança da vida e dos patri-mônios público e privado.

Teixeira e Guilhermino (2006) realizaram um estudo da asso-ciação entre saneamento e saúde nos estados brasileiros, utilizando dados secundários do banco de dados “Indicadores e Dados Básicos para a Saúde 2003” (IDB, 2003) do Ministério da Saúde, e encon-traram que a mortalidade infantil, a mortalidade proporcional por diarreia aguda em menores de cinco anos de idade e a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as ida-des estavam associadas com deficiências na cobertura por serviços de saneamento básico – água e esgotos – em 2001.

A partir de 2003, os investimentos em saneamento básico no Brasil aumentaram expressivamente com recursos do Orçamento Geral da União (OGU), do Fundo de Garantia por Tempo de

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• Taxa de fecundidade total, 2006 (número médio de nascidos vi-vos por mulher);

• Taxa padronizada de natalidade, 2006 (númerode nascidos vivos por 1.000 habitantes);

• Esperança de vida ao nascer, 2007 (número de anos de vida esperados).

Indicadores socioeconômicos

• Taxa de analfabetismo, 2007 (% na população de 15 anos ou mais de idade);

• Produto Interno Bruto (PIB) per capita, 2006 (R$/habitante); • Razão de renda, 2007 (número de vezes que a renda dos 20%

mais ricos supera a dos 20% mais pobres em um estado); • Proporção de pobres, 2007 (% da população com renda familiar

per capita de até meio salário mínimo);

• Taxa de desemprego, 2007 (% da população economicamente ativa que se encontrava sem trabalho).

Indicadores de morbidade e fatores de risco

• Proporção de nascidos vivos de baixo peso ao nascer, 2006 (% de nascidos com peso inferior a 2.500 g);

• Prevalência de déficit ponderal para a idade em crianças menores de cinco anos de idade, 2006 (%); • Prevalência de aleitamento materno exclusivo, 1999 (%).

Indicadores de recursos

• Gasto público com saúde, como proporção do PIB, 2006 (% do PIB); • Gasto público com saneamento, como proporção do PIB, 2006 (% do PIB).

Indicadores de cobertura por serviços de saúde e de

saneamento

• Número de consultas médicas do Sistema Único de Saúde (SUS) por habitante, 2007 (consultas/habitante);

• Número de internações hospitalares no SUS por habitante, 2007 (internações/100 habitantes);

• Proporção de gestantes com acompanhamento pré-natal, 2006 (% com seis e mais consultas);

• Cobertura vacinal no primeiro ano de vida, 2007 (% de menores de um ano imunizados);

• Cobertura por sistemas de abastecimento de água, 2007 (% da população urbana);

• Cobertura por sistemas de esgotamento sanitário, 2007 (% da população urbana);

• Cobertura por serviços de coleta de lixo, 2007 (% da população urbana).

Deve-se fazer a ressalva para o fato de que a metodologia utili-zada para selecionar os fatores de risco no modelo não considerou

se estas variáveis são independentes entre si. Assim, podem existir interações entre alguns fatores de risco como, por exemplo, a taxa de analfabetismo e o PIB per capita nos estados brasileiros, uma vez que a metodologia não excluiu possíveis interações.

Análise de dados

A análise epidemiológica foi desenvolvida segundo um processo evolutivo, em etapas, de tal forma a permitir a determinação progres-siva das exposições efetivamente associadas aos indicadores de saúde estudados. Tal processo envolveu, em sequência, as seguintes ativida-des: análise descritiva dos indicadores para o conjunto das unidades da federação; análise de regressão linear simples entre os indicadores epidemiológicos versus indicadores demográficos, socioeconômicos, de morbidade e fatores de risco, de recursos, de cobertura por servi-ços de saúde e de saneamento, “um a um”, de modo a avaliar as rela-ções entre os indicadores epidemiológicos – variáveis dependentes – e os demais indicadores – variáveis independentes – e pré-selecionar os indicadores a serem utilizados na regressão linear multivariada em nível de 10% de significância (p ≤ 0,10); análise de regressão linear multivariada em que se procurou identificar as variáveis indepen-dentes estatisticamente associadas a cada indicador epidemiológico estudado em nível de 5% de significância (p ≤ 0,05).

Foi utilizado o pacote estatístico SPSS 15.0 - Statistical Package for Social Sciences.

Resultados

Taxa de mortalidade infantil

No período entre os dois estudos, a taxa de mortalidade infantil no país caiu de 26,3 óbitos de crianças menores de um ano por 1.000 nascidos vivos, em 2001, para 20,7 óbitos de crianças menores de um ano por 1.000 nascidos vivos, em 2006, ou seja, uma redução de 21,3%.

Com os dados do IDB 2003, ao se processar a análise de regressão linear múltipla para a taxa de mortalidade infantil, os indicadores “es-perança de vida ao nascer” e “cobertura por sistemas de esgotamento sanitário” apresentaram coeficiente β negativo, mostrando uma re-lação inversamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros (TEIXEIRA; GUILHERMINO, 2006).

Ao se processar a análise de regressão linear múltipla para a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros, referente aos dados do IDB 2008, encontrou-se um coeficiente R2 ajustado de 0,936, sendo que as variáveis que permaneceram no modelo final (p ≤ 0,05) foram: taxa de analfabetismo, razão de renda, prevalência de déficit ponderal para a idade em crianças menores de cinco anos de idade e cobertura por coleta de lixo com coeficiente β positivo, mostrando relação dire-tamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil nos estados.

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Em outra direção, os indicadores PIB per capita, gasto público com saúde como proporção do PIB e cobertura por sistemas de esgota-mento sanitário apresentaram coeficiente β negativo, mostrando uma relação inversamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil (Tabela 1).

Surpreendeu o grande número de variáveis com valor p menor que 5% obtido quando a análise de regressão linear múltipla para a taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros foi realiza-da, como apresentado na Tabela 1. Em geral, apenas um número restrito de variáveis acaba tendo valor de p menor que 5%. Uma hipótese para que sete variáveis tenham permanecido no modelo final estatisticamente associadas à taxa de mortalidade infantil é a existência de correlação entre algumas das variáveis com valor de p menor que 5%.

Na Figura 1, observou-se que quanto maior a cobertura popula-cional por serviços adequados de esgotamento sanitário, menor é a mortalidade infantil em um estado da federação para os dados do IDB 2008. Já na Figura 2, observou-se que quanto maior o PIB per capita em um estado da federação, menor é a taxa de mortalidade infantil naquele estado. Ainda, na Figura 3, observou-se que quanto maior a taxa de analfabetismo, maior é a mortalidade infantil em um estado da federação para os dados do IDB 2008.

Mortalidade proporcional por doença diarreica

aguda em menores de cinco anos de idade

Entre os dois estudos, 2001 e 2006, observou-se uma redução de 11,4% na mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade, a saber, redução de 4,4%, em 2001, para 3,9% do total de óbitos de crianças menores de cinco anos de idade, em 2006.

Tabela 1 - Regressão linear multivariada entre a taxa de mortalidade infantil e os indicadores demográficos, socioeconômicos, de morbidade e fatores de risco, de recursos e de cobertura por serviços de saúde e de saneamento nos estados brasileiros (IDB, 2008)

R: coeficiente de correlação de Pearson; R2: coeficiente de determinação.

R2 R Variáveis que permaneceram Coef. β Valor de p Sinal

0,936 0,968 Taxa de analfabetismo + 0,971 < 0,001 +

PIB per capita - 0,001 0,035

-Razão de renda + 0,453 0,002 +

Prevalência de déficit ponderal para a idade em

crianças menores de cinco anos + 0,893 0,005 +

Gasto público com saúde como proporção do PIB - 1,760 0,002 -Cobertura por sistemas de esgotamento sanitário - 0,074 0,007 -Cobertura por serviços de coleta de lixo + 0,286 < 0,001 +

Figura 1 - Regressão linear simples entre a taxa de mortalidade infantil (TMI) e a cobertura por sistemas de esgotamento sanitário (ICE) nos estados brasileiros (IDB, 2008)

ICE

(,&(- %&',%( % -% -% -% % % % % (%) TMI (óbitos s/1.000 nv) 0 10 5 15 20 25 30 35 40 45 40,00 20,00 0 60,00 ICE (%) Gráfico TMI x ICE

80,00 100 y = -0,1204x + 26,25

R2 = 0,1602

Figura 2 - Regressão linear simples entre a taxa de mortalidade infantil (TMI) e o Produto Interno Bruto (PIB) per capita nos estados brasileiros (IDB, 2008)

-% / % / % / % / % % % % % % % % (R$/habitante) 0 0 500 1000 1500

PIB per capita(R$/hab.) Gráfico TIM x PIB per capita

2000 2500 3000 3500 4000 10 5 15 20 25 30 35 40 45 TMI (óbitos s/1.000 nv) y = -0,0008x + 3,493 R2 = 0,4589

Figura 3 - Regressão linear simples entre a taxa de mortalidade infantil (TMI) e a taxa de analfabetismo nos estados brasileiros (IDB, 2008)

TAN

& ' & ' &

TMI (óbitos s/1.000 nv)

TAN Gráfico TMI X TAN

0 5 10 15 20 25 30 % / % / % / % / 0 10 5 15 20 25 30 35 40 45 y = 1,05x + 9,2953 R2 = 0,8517

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Segundo Teixeira e Guilhermino (2006), com os dados do IDB 2003 na regressão linear múltipla para a mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade, o indicador “cobertura por sistemas de esgotamento sanitário” apresen-tou coeficiente β negativo, mostrando relação inversamente propor-cional com a mortalidade proporpropor-cional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade. Já a proporção de pobres apre-sentou um coeficiente β positivo, demonstrando uma relação direta-mente proporcional com este tipo de mortalidade.

Na análise de regressão linear múltipla com os dados do IDB 2008 (Tabela 2), encontrou-se, como variáveis estatisticamente associadas à mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em crianças menores de cinco anos, com R2 ajustado de 0,580, a proporção de pobres e gasto público com saneamento como proporção do PIB. A exemplo de 2003, a variável proporção de pobres apresentou um coeficiente β positivo, demonstrando uma relação diretamente pro-porcional com a mortalidade por doença diarreica aguda em crian-ças menores de cinco anos. O gasto público com saneamento como proporção do PIB nos estados apresentou um coeficiente β positivo também, ou seja, uma relação diretamente proporcional à mortalida-de estudada.

A Figura 4 ilustra que quanto maior o gasto público com sanea-mento em um estado brasileiro em proporção ao PIB, maior a morta-lidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade para os dados do IDB 2008.

Em uma primeira análise, o resultado apresentado na Figura 4 pode parecer equivocado. Pode, inclusive, levantar a hipótese da existência de um ponto outlier que estaria alterando o resultado, que é, em princípio, até certo ponto, contraditório. Assim, os autores processaram os dados eliminando o ponto outlier e o resultado se manteve. A partir deste procedimento metodológico, o resultado foi considerado correto e está relacionado com o critério adotado para priorização de investimentos em saneamento nos estados, como será discutido mais a frente.

Mortalidade proporcional por doenças

infecciosas e parasitárias para todas as idades

Entre 2001 e 2006, houve um decréscimo de 5,45 para 4,92% na taxa de mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades, ou seja, uma redução percentual de 9,7%. Com os dados do IDB 2003, na análise de regressão linear multivariada para mor-talidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias, observou-se que a proporção de pobres apresentou coeficiente β positivo, mostrando uma relação diretamente proporcional com a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades, enquanto a cobertura por sistemas de abastecimento de água apresentou um valor de β negativo, mostrando uma relação inversamente proporcional com a mortalidade em estudo (TEIXEIRA; GUILHERMINO, 2006).

Para os dados do IDB 2008, quando da análise de regressão line-ar multivline-ariada (Tabela 3), identificou-se um coeficiente R2 ajustado de 0,507, sendo que as variáveis que permaneceram no modelo fi-nal foram a taxa de fecundidade total (p < 0,001) e a cobertura por sistemas de abastecimento de água (p = 0,028). O indicador taxa de fecundidade total apresentou coeficiente β positivo, mostrando uma relação diretamente proporcional com a mortalidade propor-cional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades. Já

Figura 4 - Regressão linear simples entre a mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade (MDA) e gasto público com saneamento como proporção do PIB (GPSan) nos estados brasileiros (IDB, 2008)

0 0 2 4 6 8 10 12 0,5 1 1,5 2 2,5 GPSan (%PIB) Gráfico MDA x GPSan

MD

A (%óbitos < 5 anos)

y = 3,8273x + 3,1928 R2 = 0,2275

R2 R Variáveis que permaneceram Coef. β Valor de p Sinal

0,580 0,713 Proporção de pobres + 0,124 < 0,001 +

Gasto público com saneamento + 2,596 0,021 +

Tabela 2 - Regressão linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade e indicadores demográficos, socioeconômicos, de morbidade e fatores de risco, de recursos e de cobertura por serviços de saúde e de saneamento nos estados brasileiros (IDB, 2008)

R: coeficiente de correlação de Pearson; R2: coeficiente de determinação.

Tabela 3 - Regressão linear multivariada entre a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades e indicadores demográficos, socioeconômicos, de morbidade e fatores de risco, de recursos e de cobertura por serviços de saúde e de saneamento nos estados brasileiros (IDB, 2008)

R: coeficiente de correlação de Pearson; R2:coeficiente de determinação.

R2 R Variáveis que permaneceram Coef. β Valor de p Sinal

0,507 0,712 Taxa de fecundidade total + 1,310 < 0,001 +

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-o indicad-or c-obertura p-or sistemas de abasteciment-o de água apre-sentou um valor de β negativo, mostrando uma relação inversamente proporcional com o indicador em estudo.

Na Figura 5, observa-se que quanto maior a cobertura popula-cional por serviços adequados de abastecimento de água, menor é a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades nos estados da federação.

Discussão

“A mortalidade infantil, apesar de não considerar uma parte significativa de crianças passíveis de serem afetadas pelas ques-tões do saneamento – as maiores de um ano –, mostra-se como um importante indicador epidemiológico para analisar o impacto das intervenções do saneamento na saúde humana. Trata-se de um indicador universal, padronizado há muitos anos e utilizado em todo o mundo para aferir o nível de desenvolvimento da socieda-de” (COSTA et al., 2002).

Neste estudo, observou-se que a taxa de analfabetismo nos estados apresentou correlação positiva com a taxa de mortalida-de infantil nas unidamortalida-des da femortalida-deração na análise multivariada. Este achado está de acordo com o descrito por Costa et al. (2003), no qual a taxa de analfabetismo apresentou forte correlação positiva com o coeficiente de mortalidade infantil no período de 1990 a 1998 no Brasil.

O PIB per capita apresentou uma correlação inversamente pro-porcional com a mortalidade infantil na análise multivariada, indi-cando que os estados com menor renda per capita no país apresentam maiores taxas de mortalidade infantil, corroborado pelo estudo de Victora (2001).

Ainda, no presente estudo, observou-se correlação positiva entre razão de renda e taxa de mortalidade infantil. Como já havia sido registrado por Godinho e Rodrigues (2001), há uma tendência de acréscimo da taxa de mortalidade infantil nas unidades da federação em que a concentração de renda é mais acentuada.

Notou-se também uma correlação positiva entre o déficit ponde-ral para a idade em crianças menores de cinco anos com a mortalida-de infantil no país. Este resultado é consistente com as informações disponíveis para o Nordeste, onde são registradas as taxas mais ele-vadas de mortalidade infantil, da desnutrição energético proteica e da inadequação dos indicadores sociais (ASSIS et al., 2007).

Identificou-se, ainda, que o gasto público com saúde como pro-porção do PIB apresentou correlação negativa com a taxa de morta-lidade infantil, provavelmente devido ao fato de que o aumento dos gastos em saúde nos estados após a implantação do Pacto Nacional pela Redução da Mortalidade Materna, Neonatal e Infantil (BRASIL, 2004) contribuiu para o desenvolvimento de estratégias de aten-ção voltadas para a reduaten-ção da mortalidade infantil, resultando no aumento de coberturas vacinais, de assistência pré-natal e de con-sultas médicas.

O indicador “cobertura por sistemas de esgotamento sanitário” apresentou um coeficiente β negativo, mostrando uma correlação inversamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil para o estudo com os dados do IDB 2008. No estudo com dados do IDB 2003 (TEIXEIRA; GUILHERMINO, 2006), a cobertura por sistemas de esgotamento sanitário também apresentou relação inversamente proporcional com a taxa de mortalidade infantil. Esses dois resul-tados sugerem que os investimentos realizados na ampliação em sistemas de esgotamento sanitário, no período entre 2001 e 2006, não foram suficientes para eliminar a influência da baixa cobertura por sistemas de esgotamento sanitário sobre a mortalidade infantil no país.

A cobertura por serviços de coleta de lixo, na regressão linear simples, apresentou correlação negativa com a mortalidade infantil. Porém, na análise de regressão multivariada, teve o seu sinal inver-tido, ou seja, apresentou correlação positiva. Deve-se ressaltar que a unidade de análise é a unidade federativa e não indivíduos. Neste tipo de estudo – delineamento ecológico –, pode acontecer que o au-mento da cobertura por coleta de lixo acarrete o auau-mento da mortali-dade infantil, pois os dados são agregados. O fato de os dados serem agregados pode levar a resultados falsos, como este, o que é chamado de falácia ecológica.

Quanto à mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade, nos dois estudos, IDB 2003 e IDB 2008, encontrou-se uma correlação diretamente proporcional com a proporção de pobres nos estados da federação, ou seja, percen-tual da população residente em uma unidade da federação com renda familiar mensal per capita de até meio salário mínimo. Portanto, mais uma vez, reforça-se o entendimento que a mortalidade por doença diarreica aguda em menores de cinco anos de idade é uma doença típica da pobreza como já registrado por vários autores, tais como Teixeira e Heller (2005).

Encontrou-se, neste estudo, uma correlação diretamente propor-cional entre a mortalidade proporpropor-cional por doença diarreica aguda Figura 5 - Regressão linear simples entre a mortalidade proporcional

por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades (MDIP) e a cobertura por redes de abastecimento de água (ICA) nos estados brasileiros (IDB, 2008) MDIP Gráfico MDIPxICA ICA(%) 0 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 20 40 60 80 100 120 y = -0,0526x + 9,4374 R2 = 0,2761

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Referências

em menores de cinco anos de idade e o gasto público com saneamen-to nos estados como proporção do PIB. O resultado foi coerente com o critério de alocação de recursos do FGTS para financiar obras de saneamento, adotado em 2006, que priorizaram investimentos em municípios e estados de acordo com a posição de cada projeto de investimento em um ranking nacional elaborado pelo Ministério das Cidades. Este ranking se baseou em um sistema de pontuação que considerou critérios como a taxa de mortalidade infantil do local, a mortalidade por diarreia aguda em menores de cinco anos de idade, a cobertura populacional por redes de água e de esgoto, a incidência de dengue e a substituição de lixões por aterros sanitários. As obras com projetos de engenharia prontos e com licença ambiental aprovada também ganhavam mais pontos no modelo de priorização adotado em 2006 (BRASIL, 2007b).

Quanto às doenças infecciosas e parasitárias, nos dois estudos, encontrou-se uma correlação inversamente proporcional entre a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades e a cobertura por redes de abastecimento de água. Tal resultado é corroborado por Libânio, Chernicharo e Nascimento (2005), os quais identificaram que os estados brasileiros com me-lhores indicadores de saúde – menores taxas de mortalidade e mor-bidade por doenças associadas à poluição hídrica – situam-se entre aqueles que apresentam os maiores índices de cobertura por rede de abastecimento de água, ou seja, abastecimento de água superior a 60% da população residente no estado.

Em relação à correlação diretamente proporcional entre a taxa de fecundidade total – número médio de nascidos vivos por mu-lher – e a mortalidade proporcional por doenças infecciosas e pa-rasitárias para as idades observada neste estudo, tal correlação se explica pelo fato de que os estados com maiores taxas de fecundi-dade são os estados com condições mais precárias de saneamento, situados nas regiões Norte e Nordeste do país, onde as doenças infecciosas e parasitárias se constituem em causas importantes de mortes na infância.

Conclusão

Observou-se que existem diversos indicadores associados com a queda da taxa de mortalidade infantil nos estados brasileiros como, por exemplo, taxa de analfabetismo, desigualdade social caracterizada pela razão de renda, desnutrição crônica em crianças menores de cinco anos e gasto público em saúde. No entanto, uma única variável apareceu em ambos os estudos: cobertura por sistemas de esgotamento sanitário. Este resultado sugere que a baixa cobertura por esgotamento sanitário nos estados brasileiros, apenas 45,7% das residências brasileiras eram atendidas por redes de esgoto em 2008 (IBGE, 2010), continua contri-buindo para a mortalidade infantil no país.

A análise conjunta dos resultados de diferentes estudos nos di-versos estados do território nacional demonstrou que a mortalidade proporcional por doença diarreica aguda, em menores de cinco anos de idade, continua sendo uma doença associada aos estados mais pobres da federação que, por sua vez, em 2006, foram os estados que mais receberam investimentos em obras de saneamento básico no âmbito do PAC (BRASIL, 2007b).

Observou-se, ainda, com os resultados dos estudos com o IDB 2003 e com o IDB 2008, que quanto maior a mortalidade propor-cional por doenças infecciosas e parasitárias para todas as idades nos estados brasileiros, menor a cobertura por sistemas de abastecimento de água. Esta constatação sugere que a mortalidade por doenças in-fecciosas e parasitárias é resultante de inúmeras enfermidades rela-cionadas à contaminação da água para consumo humano por micro-organismos patogênicos à saúde, que podem ser reduzidas com a universalização da cobertura populacional com sistemas de abasteci-mento de água de qualidade confiável.

Por fim, concluiu-se que, no período de 2001 a 2006, houve me-lhoria nos indicadores de saúde estudados, porém não foi expressiva, sendo fundamental a perene utilização de indicadores epidemioló-gicos e de desenvolvimento social na decisão sobre a priorização de investimentos em saneamento básico no país.

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Referências

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