NOVA O C O R R Ê N C I A DE P L E U R O Z I A C E A E , Eopleurozia
paradoxa (HEPATICOPSIDA)
Denise Pinheiro da COSTA1
R E S U M O — O trabalho documenta a primeira ocorrência da família Pleuroziaceae, Eopleurozia paradoxa (Jack.) Schust., no Brasil, incluindo descrição, habitat, distribuição geográfica e comentários sobre o padrão de distribuição.
P a l a v r a s - c h a v e : Pleuroziaceae-Amazônia, Eupleorozia paradoxa-Fitogeografía, Hepaticopsida New Occurrence of Pleuroziaceae, Eopleurozia paradoxa (HEPATICOPSIDA)
ABSTRACT — The first record in Brazil of Eopleurozia paradoxa (Jack.) Schust., is reported. A description of the species with notes on the habitat and geographical distribution.
K e y - w o r d s : Pleuroziaceae-Amazonia, Eupleorozia Eupleoroza-Phytogeography, Hepaticopsida
INTRODUÇÃO
A família Pleuroziaceae (Sciffn.) K. M u l l , pertence a Subordem P l e u r o z i i n a e S c h u s t . , Ordem J u n g e r m a n n i u a l e s , Subclasse Jugermannidae, Classe Hepaticospsida. Apresenta as seguintes características: gametófítos folhosos, ramificados, ramos laterais intercalares, axiliares, ramo sexual reduzido e abreviado. Rizóídes espalhados. Diòico, faltando reprodução assexual.
Arquegônios em números reduzido, 1-3(-5-7). Cápsula esférica, parede multiestratificada.
A taxonomia de Pleuroziaceae não é muito bem conhecida e a família tem dois gêneros, Pleurozia Dum. e
Eopleurozia Schust. A maioria das
e s p é c i e s o c o r r e na região Indo-Pacífíca, que é o centro de diversidade da família. Na América do Sul ocorrem
duas espécies. P. heterophylla e E.
paradoxa (MUES et. ai, 1991). A
primeira ocorrendo na Guiana (Monte Roraima) e a segunda na G u i a n a (Monte Roraima); Venezuela (Estado Bolivar, Kukenantepui); Colômbia (Pasto, Risaralda, Macizo Tatamá, Páramo de Las Papas); Equador (Loja Z a m o r a ) ; Chile ( P r o v í n c i a de M a g a l h ã e s , Isles Rennel, Vidal Gormaz e Virtudes), HASSEL DE MENÉNDEZ & GREENE (1980) e M U E S et. al. ( 1 9 9 1 ) . A recente coleção de Eopleurozia paradoxa no Brasil (Pico de Neblina) constitui o primeiro registro do gênero e família para o Brasil (Fig. 1).
Eopleurozia paradoxa (Jack.)
Schust., Bryologist 64: 198-208-1961. I l u s t r a ç ã o : H A S S E L L DE MENÉNDEZ & GREENE, 1980.
= Physiotum paradoxum Jack.,
Hedwigia 25:84. 1986.
Jardim B o t â n i c o do Rio de J a n e i r o , R u a P a c h e c o L e ã o , 9 1 5 , 2 2 4 6 0 - 0 3 0 - Rio de J a n e i r o - R J , B r a s i l .
Local idade-tipo: Colômbia, Pasto Descrição do material brasileiro Gametófito fòlhoso por causa dos sucessivos ramos intercalares origina-dos no mesmo nível, de coloração avermelhado-violeta, ápice mais escu-recido, 3-)5-9(-12) cm de comprimento e (2-)3-5mm de largura. Caulídios cilíndricos, ramificados ou não, em seção com 14-15 células de largura, as três camadas mais externas com pare-des espessadas e porosas, de coloração amarronzada. Filídios do ramo eretos e abraçando o caulídio, envolvendo os fílídos mais jovens. Filídios rígidos, imbricados, dísticos, íncubos, auricula-dos, côncavos, convolutos, transversal-mente inseridos até patentes, a linha de i n s e r ç ã o c u r v a d a como um " U " invertido, filífios gradualmente au-mentando de tamanho da base para o á p i c e ; os filídios b a s a i s , o v a d o -suborbiculares, ligeiramente involutos, 3 mm de comprimento e 2 mm de largura, margem com 7-8 fileiras de c é l u l a s h i a l i n a s e com p a p i l a s m u c i l a g i n o s a s ; filídios superiores ovados e convolutos. aumentando em tamanho, 4,5 mm de comprimento, 3 mm de largura, margem com somente uma fileira de células hialinas, auricu-las com 1-3 papiauricu-las mucilaginosas. Células retangulares com trigônios assimétricos com conteúdo averme-lhado. Brácteas similares ao filídios, convolutas, auriculadas, as superiores cordado-ovadas, margens enroladas, porção terminal distai com 3 lobos, irregulares e agudos, margem hialina formada por 1 fileira de células com paredes uniformemente espessadas.
Perianto adulto esféril, cilíndrico, atenuado, com abertura arreondada no ápice, (2-)3-4 mm de comprimento e (1-)2-2,5 mm de largura. Anterídio, arquegônio e perianto fértil ausentes.
Habitat: Sobre rocha, arenítica e quatzítica, geralmente em regiões montanhosas com elevação superior a 3000 m . s . m . , n e b u l o s a e com preciptação alta.
Material examinado: Brasil, Amazonas, Parque Nacional do Pico da Neblina, formação rochosa do Pico da
Neblina. 66ooo'30"N, 2600 m.s.m., leg.
C. Farney, Vidal Gormaz e Virtudes.
Comentários
O espécime brasileiro foi coletado sobre superfície rochosa aremítica. A coleção está estéril, mas todos os caracteres morfológicos coincidem com os descritos por J A C K ( 1 8 8 6 ) e SCHUSTER (1961). As características morfológicas do ramo m a s c u l i n o descritas por SCHUSTER (1961) são as seguintes: delgado, pontudo, pinado, com 10-12 pares de brácteas, còncavo, oblongo-elíptico, margens involutas. Comparando a detalhada descrição de H A S S E L DE M E N É N D E Z & G R E E N E (1980) com o espécime brasileiro, nós encontramos que nosso espécime difere no t a m a n h o , concordando com JACK (1886) e SCHUSTER (1961).
Segundo MUES et. ai (1991), baseado nas características dos filídios,
Eopleurozia é o gênero mais primitivo
da família, do qual Pleurozia teria se
derivado, baseado na elaboração da quilha, nos filídios bífídos e na grande variedade de compostos com diferentes tipos de e s t r u t u r a s que têm sido detectados em Eopleurozia paradoxa e
E. simplicissima que sustenta também
a posição filogeneticamente primitiva do g ê n e r o Eopleurozia q u a n d o comparado com Pleurozia.
DISCUSSÃO
O p a d r ã o de d i s t r i b u i ç ã o de
Eopleurozia paradoxa é disjunto, j á
que ela ocorre na América do Sul em duas áreas. Na região norte, no Planal-to das Guianas (Monte Roraima e Pico da N e b l i n a ) ; Venezuela ( E s t a d o Bolivar, Kukunantepui); Colômbia (Pasto, Risaralda, Macizo de Tatáma, Parámo de Las Papas) e Equador (Loja Zamora) e no sul, na região do Chile (Isla Rennel, Vidal Gormaz e Virtudes). Disjunções similares têm sido notadas em muitas espécimes e provavelmente representam remanescentes de uma distribuição mais contínua no passado
(GRIFFIN III et al.y 1982). No caso de
Eopleurozia paradoxa, o padrão de
distribuição disjunto poderia ser expli-cado pela troca da altitude pela latitude resultando em habitats equivalentes. Na Guiana, no Brasil, na Venezuela, na Colômbia e Equador (10°N-5°S Lat.).
Eopleurozia paradoxa ocorre a mais
ou menos 3000 m.s.m. enquanto que no Chile (51 °051 °S) ela ocorre a somente 2 0 0 m.s.m. M u i t a s espécies que ocorrem em latitudes temperadas ou á r t i c a s também ocorrem em altas elevações nas montanhas tropicais e
subtropicais (MYERS & GILLER, 1990). O estudo da biogeografia de briófitas neotropicais tem sido e con-tinua sendo limitado pela falta de coleções adequadas. Algumas briófitas com aparente padrão de distribuição disjunto na realidade refletem coleções inadequadas nas regiões intermediárias.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer a Dra. Olga Yano do Instituto de Botânica de São Paulo pela revisão do manuscrito e ao Dr. Cyl Famey Catarino de Sá do Jardim Botânico do Rio de Janeiro, o coletor deste espécime.
Bibliografia citada
GRIFFIN III, D . ; G R A D S T E I N , S. R.; AGUIRRE, J. 1982. Studies on Colom-bia cryptogams XVII. On a new antipo-dal element in the Neotropical Paramos
Dendrocryphaeae lati/olia s p . nov.
(musei). Acta Boi. Neerl., 3 1 ( 3 ) : 1 7 5 -184.
HASSEL DE MENÉNDEZ, G. G.; GREENE, S. W. 1980. Patagonian bryphytes 1. The occurrence of Eopleurozia paradoxa (Jack.) Schust. in s o u t h e r n C h i l e .
Lindbergia, 6:32-36.
JACK, J. B. 1886. M o n o g r a p h i c der Lebermoosgattimg. Physiotam Hedwigia, 25:49-87.
MUES, R. R.; KLEIN, R.; GRADSTEIN, S. R. 1991. N e w reflections on the tax-onomy of Pleuroziaceae supported by flavonoid chemistry. Journ. Hattori.
Boi. Lab., 70:79-90.
MYERS, Α. Α.; GILLER, P. S. 1990. Analyti
cal Biogeography. An integrated ap proach to the study of animal and plant distribution. London. 578 p.
SCHUSTER, R. Μ. 1961. Studies in Hepaticae. m-VI. Bryologist, 64:198-208.
Aceito para publicação em 14/7/93