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Cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido no processo de registo de marca internacional

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Cópia do acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa proferido no processo de registo de marca interna- cional n." 646 243.

Acordam, em conferência, na 1.ª Secção do Tribunal da Relação de Lisboa:

Vem o presente recurso interposto da douta sentença de 15 de Maio de 1998, proferida nestes autos de fl. 44 v.° a fl. 46 v.°, que negou provimento ao recurso interposto pela ora apelante do despacho proferido pelo chefe de divisão, por delegação de poderes do Sr. Director do Serviço de Marcas do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI) de 5 de Dezembro de 1996, o qual concedeu pro- tecção em Portugal à marca internacional n.° 646 243, Artic.

A apelante alegara, em síntese, o seguinte:

Em 2 de Novembro de 1995 requereu a sociedade alemã Henkel, KGaA, o registo em Portugal da marca internacional n.° 646 243, Artic, destinada a assinalar, designadamente, produtos da classe 5.ª da Tabela Internacional, a saber: dentífricos e águas dentríticas; preparações químicas para hi- giene; desinfectantes;

Oportunamente foi próposto pelos respectivos ser- viços o registo dessa marca, «uma vez que as marcas em confronto são insusceptíveis de con- fusão fácil, dado que o grau de semelhança gráfi- co e fonético não é de molde a induzir em erro o público consumidor»;

Em 5 de Dezembro de 1996 recaiu o seguinte despa- cho sobre o referido parecer: «Concordo e defi- ro», o qual foi publicado no Boletim da Proprie- dade Industrial, n.° 12, de 31 de Março de 1997; A recorrente é titular do registo da marca nacional n.° 222762, Articulan, destinada a assinalar «pro- dutos farmacêuticos, preparações farmacêuticas,

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medicamentos para homens e animais, produtos higiénicos e desinfectantes», o qual fora concedi- do por despacho de 20 de Março de 1990; Nos termos do disposto nos artigos 189.°, n.° 1, alínea m), e 192.°, ambos do Código da Proprie- dade Industrial (CPI), o registo em causa não podia ter sido concedido;

Ambas as marcas se destinam a assinalar os mesmos produtos, ou seja, produtos farmacêuticos; Ambas as marcas têm semelhanças gráficas e fonéti-

cas de monta;

A marca registada contém-se na marca da recorrente, ressaltando em ambas o elemento «Artic», pelo que são praticamente iguais.

E termina a recorrente pedindo que o despacho que concedeu o registo da marca internacional n.° 646 243, Artic, seja declarado contrário à lei e anulado, deter- minando-se que o registo seja recusado.

Na sentença recorrida considerou-se, designadamente, o seguinte:

Não há qualquer dúvida de que a marca da recor- rente goza da prioridade de registo;

Quanto à identidade de produtos ou afinidade mani- festa, não é de aceitar a afirmação da recorrente, bastante ampla e genérica, no sentido de que assi- nalam os mesmos produtos, a saber, «produtos farmacêuticos»;

Todavia, alguma razão' lhe assiste, uma vez que, quanto aos produtos da classe 5.ª, destinados a assinalar pela marca Artic, existe uma afinidade manifesta;

A marca Artic não constitui imitação da marca Ar- ticulan, por existir suficiente diferença gráfica e fonética, de tal modo que afasta a possibilidade de fácil confusão ou de risco de associação. A apelante apresenta as seguintes conclusões:

a) A marca Articulan é prioritária relativamente à marca Artic;

b) Assinala os mesmos produtos ou produtos de afinidade manifesta relativamente aos produtos assinalados por esta última marca;

c) A marca Artic encontra-se integralmente contida na marca Arriculan;

d) Constituindo aquela expressão o núcleo da mar- ca da apelante;

e) É susceptível de, de acordo com o juízo suces- sivo do consumidor médio, induzir a ideia de se tratar da marca que já conhece e da qual apenas tem uma ideia difusa;

f) Ou de, caso seja conscientemente apreendida por este, ser pelo mesmo valorada como tratando-se de marca derivada da marca Articulan, atribuindo- -lhe, portanto, a mesma proveniência;

g) Pelo que a marca em apreço é susceptível de causar erro ou confusão fácil com a marca da apelante ou quanto à proveniência da mesma; h) Estão, assim, verificados os pressupostos do arti-

go 193.° do CPI, pressupostos esses violados pelo douto julgado recorrido.

Colhidos os vistos legais, cumpre apreciar e decidir. O Ex.mo Juiz da 1.ª Instância deu como provados os seguintes factos:

Em 2 de Novembro de 1995 a sociedade alemã Henkel, KGaA, requereu o registo em Portugal da

marca internacional n.° 646 243, Artic, destinada a assinalar, designadamente, produtos da classe 3.ª, «sabões, perfumaria, óleos essenciais, desodori- zantes, etc.», e da classe 5.ª, «dentífricos e águas dentríficas; preparações químicas para higiene; desinfectantes»;

Em 29 de Novembro de 1996 foi proposta a con- cessão do registo, em parecer emitido por técni- co do INPI, no qual consta como fundamento que «as marcas em confronto são insusceptíveis de confusão fácil, dado que o grau de semelhança gráfico e fonético não é de molde a induzir em erro o público consumidor»;

Em 5 de Dezembro de 1996 recaiu o seguinte despa- cho sobre o referido parecer assinado pelo chefe de divisão por delegação do presidente: «Concor- do e defiro»;

Naquele parecer era apreciada a oposição da aqui recorrente, Pentafarma, S. A., que opôs a sua marca de registo nacional n.° 222 762, Articulan, concedido por despacho de 20 de Março de 1990, destinada a assinalar «produtos farmacêuticos, preparações farmacêuticas, medicamentos para homens e animais, produtos higiénicos e desinfec- tantes».

Cumpre decidir de direito.

Diga-se antes de mais que é aplicável o CPI aprova- do pelo Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, pois o despacho recorrido foi proferido já após a sua entrada em vigor.

I-Nos termos da alínea m) do artigo 189.° do CPI aprovado pelo Decreto-Lei n.° 16/95, de 24 de Janeiro, será recusado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus elementos, «contenham reprodução ou imitação no todo ou em parte de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou serviço, ou produto ou serviço similar ou semelhante, que possa induzir em erro ou confusão o consumidor».

Por seu turno, esclarece o artigo 193.° do mesmo di- ploma, no qual se contém o conceito legal de imitação ou usurpação de marca, que uma marca registada deverá considerar-se imitada ou usurpada, no todo ou em parte, quando, cumulativamente:

A marca registada tiver prioridade;

Sejam ambas destinadas a assinalar produtos ou serviços idênticos ou de afinidade manifesta; Tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonéti-

ca que induza facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que compreenda um risco de as- sociação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas marcas senão depois de exame atento ou confronto.

Por outro lado, estabelece o artigo 192.° do CPI que, «quando existam motivos para recusa do registo de uma marca apenas no que respeita a alguns dos produtos ou serviços para que este foi pedido, a recusa do registo abrangerá apenas esses produtos ou serviços».

De modo semelhante se estabelecia nos artigos 93.°, n.° 12.°, e 94.° do CPI aprovado pelo Decreto n.° 30679, de 24 de Agosto de 1940.

Nos termos do n.° 12.° do artigo 93.°, seria recusado o registo das marcas que, em todos ou alguns dos seus ele- mentos, «contenham reprodução ou imitação total ou par-

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cial de marca anteriormente registada por outrem, para o mesmo produto ou produto semelhante, que possa induzir em erro ou confusão no mercado».

Por sua vez estabelecia o artigo 94.° que se considerava imitada no todo ou em parte «a marca destinada a objec- tos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo núme- ro, ou sob números diferentes mas de afinidade manifes- ta, que tenham tal semelhança gráfica, figurativa ou fonética com outra já registada que induza facilmente em erro ou confusão o consumidor, não podendo este distin- guir as duas senão depois de exame atento ou confronto». Entendia-se então que eram requisitos de imitação de uma marca por outra:

1) Que as marcas imitada e imitanda dissessem res- peito ao mesmo produto ou a produtos seme- lhantes;

2) Que as marcas se destinassem a objectos ou produtos inscritos no respectivo reportório sob o mesmo número ou sob números diferentes, mas de afinidade manifesta;

3) Que pela sua semelhança gráfica, figurativa ou fonética pudessem induzir em erro ou confusão o consumidor menos atento.

No essencial são os mesmos os requisitos a que alu- dem as disposições legais citadas, ou seja:

1) Que as marcas imitada ou imitanda digam res- peito ao mesmo produto ou serviço ou a produto ou serviço similar ou semelhante ou de afinidade manifesta;

2) Que ambas tenham tal semelhança gráfica, fi- gurativa ou fonética que possam induzir facil- mente o consumidor em erro ou confusão, ou que a marca a registar compreenda um risco de associação com a marca anteriormente regista- da, de forma que o consumidor não possa dis- tinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

E, obviamente, a marca registada só se deve considerar imitada ou usurpada para este efeito quando o seu registo for anterior ao da marca a registar.

E há ainda que ter em consideração o preceituado no n.°2 d o citado artigo 193.°, mas que não tem interesse in casu.

Podemos então considerar agora que são requisitos de imitação de uma marca por outra:

a) Que a marca registada tenha prioridade; b) Que as marcas imitada e imitanda digam respei-

to ao mesmo produto ou serviço ou a produto ou serviço similar ou semelhante ou de afinidade manifesta;

c) Que ambas tenham tal semelhança gráfica, figu- rativa ou fonética que possam induzir facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que a marca a registar compreenda um risco de associa- ção com a marca anteriormente registada, de for- ma que o consumidor não possa distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto. E há ainda que ter em consideração o preceituado no n.° 2 do citado artigo 193.° para os casos aí referidos.

II-Nenhuma questão se levanta quanto à prioridade do registo, face aos factos provados. A marca de que a recorrente é titular (Articulan) goza, pois, da prioridade de

registo, pelo que se verifica o primeiro dos requisitos referidos.

III-Vejamos agora o segundo daqueles requisitos: que as marcas imitada e imitanda digam respeito ao mesmo produto ou serviço ou a produto ou serviço similar ou semelhante ou de afinidade manifesta.

O recurso encontra-se circunscrito aos produtos da classe 5. ª

A marca da apelante assinala «produtos farmacêuticos, preparações farmacêuticas, medicamentos para homens e animais, produtos higiénicos e desinfectantes», incluídos na classe 5.ª da Tabela...

Relativamente aos produtos da classe 5.ª, única que está em causa, como dissemos, a marca da sociedade alemã (Artic) destina-se a «dentífricos e águas dentríficas; pre- parações químicas para higiene; desinfectantes».

Parece-nos que não se trata exactamente dos mesmos produtos. A própria apelante refere nas suas conclusões de recurso que se trata dos mesmos produtos ou produtos de afinidade manifesta. A verdade é que ambas as marcas se destinam a assinalar produtos para higiene e desinfectantes. A lei não define o que se deva entender por «similari- dade ou manifesta afinidade» entre produtos para os efei- tos da noção de imitação de marcas.

A jurisprudência tem suprido esta omissão apelando a vários critérios:

1.° A uma relação de afinidade económica - «na falta de um conceito legal de 'afinidade', esse critério económi- co é o que melhor se depara, assente na natureza subs- tituível dos produtos em confronto que lhes cria a oportu- nidade de procura conjunta, imprimindo-lhes, através de uma utilização para o mesmo fim, uma relação de aproxi- mação dentro do mercado em que circulam que precisa- mente os torna afins, facilitando a aquisição de um em vez de outros, já que indiferentemente possibilitam a satisfação dos mesmos consumidores» (Acórdão da Relação de Lis- boa de 19 de Julho de 1968, Boletim da Propriedade In- dustrial, n.° 4 - 69, p. 570).

2.° A destinos e aplicações idênticos - «não definindo a lei o conteúdo da afinidade, terá esta de ser apreciada, em todos os casos, tendo como base os destinos e apli- cações idênticos, isto é, a mesma utilidade e afinidade dos produtos, considerando-se afins os produtos quando estes são concorrentes no mercado, quando têm a mesma utili- dade e fins» (Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça de 12 de Março de 1991 - Boletim do Ministério da Justiça, n.° 405, p. 492). No mesmo sentido os Acórdãos do Su- premo Tribunal de Justiça de 3 de Abril de 1970 - Bo- letim do Ministério da Justiça, n.° 196, p. 265 -, e de 13 de Fevereiro de 1997 - Boletim do Ministério da Justiça, n.° 284, p. 238.

3.° Concorrência entre eles no, mercado (Acórdão da Relação de Lisboa de 26 de Maio de 1971 - Boletim do Ministério da Justiça, n.° 207, p. 225) - também deve ter- -se em consideração a circunstância de se tratar de produ- tos normalmente vendidos no mesmo estabelecimento e, por isso, o risco de confusão no espírito do consumidor sobre a sua origem.

Além disso não deve esquecer-se a circunstância de ambos os produtos corresponderem às mesmas necessi- dades da clientela.

Segundo Paul Mathély («Le nouveau régime des marques», in Annales, 111er année, XCIX, n.° 1, p. 41, cita- do por Justino da Cruz, Código da Propriedade Industrial, 2." ed. p. 209), a jurisprudência francesa tem adoptado: seja um critério restrito retirado da própria natureza dos ob-

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jectos: são considerados semelhantes os objectos que têm a mesma natureza; seja um critério mais amplo retirado do destino ou da origem dos objectos: são considerados semelhantes os produtos que correspondem às mesmas necessidades da clientela ou que podem ser atribuídos à mesma origem.

No Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora define-se afinidade de produtos como «concorrência, no mercado, de produtos com a mesma utilidade e finalidade». À ideia de afinidade está, pois, ligada a ideia de proxi- midade e de analogia.

Por conseguinte, para determinar se existe manifesta afinidade entre determinados produtos, não se deve atender propriamente à sua natureza intrínseca, mas antes aos res- pectivos destinos ou aplicações e possibilidade de confusão e de concorrência no mercado.

E será ainda de ponderar se os produtos correspondem às mesmas necessidades da clientela e se são normalmente vendidos nos mesmos estabelecimentos.

Como já se disse, não estamos em presença de produ- tos totalmente idênticos.

Mas, pelas razões referidas, parece não haver dúvidas de que estamos perante produtos afins, ou melhor dito, de produtos de afinidade manifesta.

I V - É certo que o Decreto-Lei n.° 176/80, de 30 de Maio, veio substituir o reportório e a classificação dos produtos em vigor pela classificação internacional de produtos e serviços instituída pelo Acordo de Nice, de 15 de Junho de 1957.

Assim, há produtos que no reportório anterior estavam repartidos por vários números e agora aparecem engloba- dos numa só rubrica.

O registo não se faz por classes, mas, sim, por produ- tos.

Corno já vimos, a semelhança de produtos ou serviços há-de resultar da respectiva afinidade (manifesta), sendo irrelevante o número do reportório em que estejam inscri- tos ou a classe da tabela em que se integram; a diferente inscrição ou classificação dos produtos e serviços não obsta, por si só, a que sejam considerados semelhantes (v., a este propósito, Dr. Carlos Olavo, na Colectânea de Jurisprudência, ano XII, 2, pp. 21 e segs.).

A verdade é que a inclusão dos produtos na mesma classe indicia a existência de alguma afinidade entre eles. Aqui está em causa a classe 5.ª da tabela n.° 5 anexa ao Decreto-Lei n.° 176/80, que reza assim:

Produtos farmacêuticos, veterinários e higiénicos. Produtos dietéticos para crianças e doentes. Emplastros, material para pensos.

Matérias para chumbar os dentes e para moldes dentários.

Desinfectantes.

Preparações para destruir as ervas daninhas e os animais nocivos.

Ora, como vimos, no domínio do Código anterior, considerava-se imitada no todo ou em parte «a marca destinada a objectos ou produtos inscritos no reportório sob o mesmo número».

Parece-nos, portanto, estarmos perante produtos de afi- nidade manifesta, o que, aliás, foi reconhecido na douta sentença recorrida «quanto aos produtos da classe 5.ª, des- tinados a assinalar pela marca Artic, existe uma afinidade manifesta».

Verifica-se, assim, o segundo dos requisitos referi- dos.

Vejamos o terceiro daqueles requisitos:

V - Como ensina o Prof. Ferrer Correia (Lições de Direito Comercial, vol. i, p. 323), «sendo a marca um si- nal distintivo de coisas, há-de ela ser dotada para o bom desempenho da sua função de eficácia ou capacidade dis- tintiva, isto é, há-de ser apropriada para diferenciar o produto marcado de outros idênticos ou semelhantes».

Caso contrário, a marca deixaria de desempenhar a sua finalidade distintiva para se transformar em sinal de confusão. A fls. 328 e seguintes escreve ainda o citado Professor: «O grau de semelhança que a marca não deve ter com outra registada anteriormente é definido por este elemen- to: possibilidade de confusão de uma com outra no mer- cado. Mas não pode haver confusão entre a marca adoptada para certo produto e marca adoptada para outro que daquele seja completamente distinto. Por isso, a lei res- tringe o princípio da especialidade da marca aos produtos da mesma espécie ou afins, nessa conformidade tendo substituído ao sistema do registo por classes, o sistema de registo por produtos.»

E mais adiante: «Por outro lado, a imitação de uma marca por outra existirá, obviamente, quando, postas em confronto, elas se confundem. Mas existirá ainda, convém sublinhá-lo, quando, tendo-se em vista apenas a marca a constituir, se deva concluir que ela é insusceptível de ser tomada por outra de que se tenha conhecimento. Este pro- cesso de aferição da novidade é o que melhor tutela o in- teresse que a lei visa proteger - interesse em que se não confundam através da marca mercadorias idênticas ou afins pertencentes a empresários diversos.»

Como ensinava o Prof. Pinto Coelho (Lições de Direito Comercial, vol. i, pp. 426 e 427), não são só as marcas muito parecidas que se devem ter imitadas. «Há a este respeito uma observação muito justa e acertada de Bédar- ride, citado por Pouiellet: 'A questão da imitação deve ser apreciada pela semelhança que resulta do conjunto dos elementos que constituem a marca, e não pelas disseme- Ihanças que poderiam oferecer os diversos pormenores considerados isolada e separadamente'. Este é o verdadei- ro princípio a enunciar, e é por ele que se tende a orien- tar o julgador. Sempre, portanto, que no conjunto da mar- ca se possa ver uma semelhança capaz de estabelecer confusão, deve considerar-se a marca como imitada, sem estar a atender ao facto de ser ou não necessário o con- fronto das marcas para apreender as diferenças que as separam; deve-se olhar à semelhança do conjunto, e não à natureza das dissemelhança ou ao grau das diferenças que as separam.

É preciso considerar que o público geralmente não está a pensar na imitação, na existência ou não existência da imitação. Liga um produto, que lhe agradou, a certa mar- ca, de que conserva uma ideia mais ou menos precisa. E deve evitar-se que outro comerciante adopte uma marca que ao olhar distraído do público possa apresentar-se como sendo a que ele busca.»

Nesta conformidade, a imitação de uma marca por ou- tra deve ser apreciada mais pela semelhança que resulte dos elementos que a constituem do que pelas disseme- lhanças que poderiam oferecer os diversos pormenores, considerados isolados e separadamente.

Relativamente às marcas nominativas, como é o caso, importa considerar a semelhança visual e fonética. Há que ter em conta quem lê e quem ouve.

O que é fundamental é que a marca possua a necessária eficácia distintiva. Pode haver marcas em que os vários elementos sejam diferentes e entretanto serem confundíveis.

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E pode haver duas marcas com um só elemento comum e entretanto serem confundíveis, bastando para o efeito que esse elemento seja preponderante. É muito importante a maneira como a palavra ou palavras são pronunciadas.

«Com efeito, sempre que na dicção de duas palavras a sílaba salientada seja a mesma, torna-se verosímil que entre ambas, para o auditor menos esclarecido ou menos aten- to, se estabeleça um maior ou menor grau de confusão» (Dr. Justino da Cruz em anotação ao artigo 94.° do CPI anterior).

VI - Tendo em consideração a doutrina exposta, veja- mos o caso a que o recurso se reporta.

As marcas em confronto são Articulan e Artic (escritas no mesmo tipo de letra).

Como dissemos, trata-se de duas marcas meramente nominativas e possuem em comum o vocábulo «Artic», tendo a marca da recorrente a mais a expressão «Ulan». E, como diz a recorrente, a marca Artic está integralmente contida na marca Articulan.

Os respectivos produtos são vendidos ao grande pú- blico.

Obviamente que os especialistas na matéria não con- fundem as marcas em confronto. Mas não são estes que estão em causa.

O problema coloca-se em relação ao consumidor nor- mal, isto é, medianamente diligente e medianamente in- formado. Não nos parece que deva ser tido em conside- ração o consumidor distraído ou, pelo menos, o muito distraído, pois estes dificilmente distinguem as marcas desde que entre elas exista alguma semelhança. A própria recorrente faz alusão ao consumidor «médio».

E é à semelhança do conjunto que se deve atender, como vimos.

Ou, como se escreveu no Acórdão do Supremo Tribu- nal de Justiça de 3 de Novembro de 1981 (Boletim do Ministério da Justiça. n.° 3 11, p. 401): «A imitação da marca deve ser apreciada menos pelas dissemelhanças que oferecem os diversos pormenores isoladamente do que pela semelhança que resulta do conjunto dos elementos que constituem a marca. É por intuição sintética, e não por dissecação analítica, que deve proceder-se à comparação das marcas.»

Não se pode confundir imitação com identidade. Duas marcas aparentemente muito diferentes podem induzir em erro o consumidor, confundindo-as. Daí que seja necessário averiguar se as diferenças entre elas são suficientes para afastar a hipótese de confusão nos termos referidos.

Ambas têm em comum as duas primeiras sílabas «Ar / Tic», tendo a mais a marca da recorrente a sílaba «ulan». Esta diferença seria bastante sensível se a marca prio- ritária fosse Artic. pois, então, o consumidor aperceber-se- -ia com bastante facilidade que se tratava de marcas dife- rentes, sendo «Articulan» um vocábulo de mais difícil e prolongada dicção.

Assim a questão parece-nos ser diferente.

Como bem refere a apelante, a confusão do consumi- dor médio pode reportar-se ao sinal ou à fonte produtiva. No primeiro caso, o consumidor que já conhece Arti- culan, ao deparar-se com a marca Artic, pode inconscien- temente pensar tratar-se do primeiro sinal ou, de uma for- ma consciente, verificar que o mesmo não lhe parece exactamente igual mas, ainda assim, pensar que o fixou incorrectamente. No segundo caso pode mesmo pensar que se trata de uma nova marca proveniente da primeira, ou seja, com a mesma origem, à semelhança do que acon-

tece hoje com muitas marcas que usam quer a denomi- nação de origem, quer uma forma abreviada.

É claro que se postas em confronto são facilmente apreendidas as diferenças entre elas. A verdade é que o público geralmente não está a pensar na imitação, na existência ou não existência da imitação. Liga um produ- to, que lhe agradou, a certa marca, de que conserva uma ideia mais ou menos precisa. E, conhecendo a marca da recorrente, facilmente é levado a pensar que se trata da mesma marca ou, pelo menos, de marcas da mesma pro- veniência.

Existe, pois, um risco de associação entre as marcas em confronto.

E, na verdade, o que interessa é que a marca possua a necessária eficácia distintiva. Com efeito, importa defen- der a livre concorrência no mercado.

Parece-nos, assim, que o consumidor «médio» (e é a este que se deve atender) pode ser induzido facilmente em erro ou confusão no mercado com o registo da marca oponente.

VII- Parece-nos poderem ser extraídas as seguintes conclusões:

1.ª São requisitos de imitação de uma marca por outra:

a) Que a marca registada tenha prioridade; b) Que as marcas imitada ou imitanda digam respeito ao mesmo produto ou serviço ou a produto ou serviço similar ou seme- lhanie ou de afinidade manifesta: c) Que ambas tenham tal semelhança gráfi-

ca, figurativa ou fonética que possam in- duzir facilmente o consumidor em erro ou confusão, ou que a marca a registar com- preenda um risco de associação com a marca anteriormente registada, de forma que o consumidor não possa distinguir as duas senão depois de exame atento ou confronto.

E há ainda que ter em consideração o preceituado no n.° 2 do citado artigo 193.° para os casos aí referidos;

2.ª Para se determinar se existe afinidade entre de- terminados produtos, não se deve atender propria- mente à sua natureza intrínseca, mas antes aos respectivos destinos ou aplicações e possibilidade de confusão e de concorrência no mercado. E será ainda de ponderar se os produtos correspondem às mesmas necessidades da clientela e se são normalmente vendidos nos mesmos estabeleci- mentos;

3." A imitação de uma marca por outra deve ser apreciada mais pela semelhança que resulte dos elementos que a constituem do que pelas disse- melhanças que poderiam oferecer os diversos pormenores, considerados isolados e separada- mente;

4." As marcas Articulan e Artic (ambas nominativas) são confundíveis, assim se verificando o terceiro dos requisitos referidos.

Por todo o exposto, se acorda em conceder provimento à apelação, revogando-se a sentença apelada e o despacho recorrido (despacho proferido pelo chefe de divisão, por delegação de poderes do Sr. Director de Marcas do Insti-

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tuto Nacional da Propriedade Industrial de 5 de Dezem- bro de 1996, o qual concedeu protecção em Portugal à marca internacional n.° 646 243, Artic).

Sem custas. Notifique e registe.

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