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Keywords: banking spread, interest rates, credit, financial intermediation. JEL Classification: E43,E44

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**Professora Adjunta do Instituto Multidisciplinar da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa de Política Econômica do IM/UFRRJ. Email:e.soihet@globo.com

SPREAD BANCÁRIO BRASILEIRO: EVOLUÇÃO, DETERMINANTES E

DECOMPOSIÇÃO CONTÁBIL (1994-2008)

Elena Soihet**

Raquel Dourado Coutinho***

RESUMO

Diante das elevadas taxas de juros de empréstimo praticadas no Brasil e da influência desta prática no mercado de crédito brasileiro, esse trabalho tem como objetivo analisar a evolução, os fatores determinantes e a decomposição contábil do spread bancário brasileiro no período de 1994-2008. A análise é feita com base em revisão bibliográfica e análise de dados. Os resultados apontaram como principais determinantes a elevada taxa de juros básica e o risco econômico. Na decomposição contábil do spread bancário se destacaram os custos administrativos e os custos com a provisão para inadimplência, assim como o lucro bancário. A análise dos níveis de concentração e competitividade do setor bancário brasileiro indica que os bancos brasileiros não exercem elevado poder de mercado, o que confirma a importância de fatores conjunturais e de fatores relacionados à presença de assimetria de informações na determinação do spread bancário no Brasil.

Palavras -chave: spread bancário, taxas de juros, crédito, intermediação financeira.

ABSTRACT

Given the high rates of loan interest charged in Brazil and influence of this practice in the Brazilian credit market, this paper aims to analyze the evolution, determinants and the accounting decomposition of the Brazilian bank in the period 1994-2008. The analysis is based on literature review and data analysis. The results suggest as main determinants the high basic interest rate and the risk economic. In accounting decomposition of the banking spread stood out administrative costs and the costs of provision for bad debts, as well as bank profit. The analysis of concentration levels and competitiveness of Brazilian banking sector indicates that Brazilian banks do not carry high market power, which confirms the importance of situational factors and factors related to the presence of asymmetric information in determining the banking spread in Brazil.

Keywords: banking spread, interest rates, credit, financial intermediation. JEL Classification: E43,E44

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Introdução

O spread bancário é definido pelo Banco Central do Brasil como a diferença entre a taxa de captação paga pelos bancos aos depositantes e a taxa de empréstimo cobrada pelos bancos aos tomadores de crédito1. É importante considerar uma segunda maneira de mensurar o spread bancário. Segundo Demirguç-Kunt e Huizinga (1999), o spread bancário pode ser mensurado ex-ante e ex-post, o spread bancário ex-ante consiste na diferença entre a taxa de empréstimos cobrada e a taxa de remuneração aos depositantes enquanto o spread bancário ex-post consiste na diferença entre a receita da concessão de crédito e o custo efetivo de remuneração aos depósitos. Portanto, a definição usualmente utilizada pelo BCB se refere ao spread bancário ex-ante.

Outra consideração importante é que o spread não é o lucro bancário decorrente da atividade de intermediação financeira, pois o spread bancário é composto pelos custos e pelos lucros decorrentes da atividade.

O Brasil tem apresentado elevadas taxas de spread bancário em comparação a outros países. Oreiro et al. (2006) ressaltam que após a estabilização de preços, o processo de abertura do mercado financeiro brasileiro ao exterior e a mudança para o regime de taxas de câmbio flexíveis, era esperada uma aproximação do spread bancário brasileiro aos patamares internacionais.

A abertura do mercado financeiro internacional, por sua vez, criou espaço para aumento da concorrência e eficiência do setor bancário e, consequentemente redução dos custos do crédito. No entanto, o spread bancário brasileiro no período 1994-2008 atravessou dois momentos distintos. Houve rápida queda no período 1995-1997 após o Plano Real ( na qual saiu de 140 pontos percentuais (p.p) e caiu para cerca de 60 p.p e houve consideráveis oscilações ocorridas durante o período 1997-1999 (após as crises asiática e russa). Em contraste, o spread bancário passou a apresentar a partir dos anos 2000 taxas de aproximadamente 40 p.p. e permaneceu próximo a este nível durante todo o período de 2000 a 2008.

Ainda assim, os dados a seguir mostram que o spread bancário brasileiro continua muito alto em comparação a outros países. Em uma pesquisa realizada pelo Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial - IEDI - (2004)2, enquanto o Brasil apresentou uma taxa de spread de 43,4 p.p., a média para os países desenvolvidos considerados (área do Euro, Estados Unidos e Japão), foi de 2,6 p.p. e a média para os principais países emergentes considerados na pesquisa, foi de apenas 4,0 p.p., todas referentes ao ano de 2003. Na América do Sul o Chile apresentou um spread de 3,5 p.p; já a Índia e Rússia ambos considerados BRICs3 como o Brasil apresentaram spreads de 5,4 p.p e 9,1 p.p respectivamente ( bem abaixo dos 43,4 p.p apresentados pelo Brasil).

O elevado spread bancário brasileiro resulta em altas taxas de juros de empréstimo, ou seja, quando os custos da intermediação financeira e/ou os lucros decorrentes da atividade são elevados, as taxas de juros de empréstimo cobradas também.

Portanto, entende-se que os elevados spreads bancários contribuem para um ambiente econômico de elevados custos de crédito que, ao limitarem o consumo dos indivíduos e o

1 Conforme BCB (1999, 2001, 2003, 2004, 2006) 2

Os países emergentes pesquisados foram: Rússia, Índia, Tailândia, Cingapura, Coréia, África do Sul, Malásia, Chile, Israel, China, México.

3 Brasil, Rússia, Índia e China- países que se destacaram no cenário mundial pelo rápido crescimento das suas

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3 desenvolvimento das empresas, acabam por impactar negativamente no nível de atividade e no crescimento econômico do país.

Segundo Oliveira e Carvalho (2007), Paula, Alves Júnior e Marques (2001) e Paula e Alves Júnior (2003) a teoria pós-keynesiana considera que a composição do portfólio dos bancos é determinada a partir das combinações de atributos dos ativos (apreciação ou depreciação do valor do ativo (a), rendimento esperado do ativo (q), seu custo de manutenção (c) e prêmio de liquidez(l).

Conforme Carvalho et al. (2007) a preferência pela liquidez é agora representada pelo

trade-off entre os rendimentos esperados (a + q - c) e a liquidez (l), e a retribuição total (Rt)

esperada de um bem, pode ser representado pela fórmula: Rt = a+ q – c + l

Na teoria pós-keynesiana, as decisões bancárias se dão de acordo com o trade-off entre rentabilidade e a liquidez, e dependem das expectativas bancárias quanto à incerteza do futuro. No Brasil, o comportamento dos bancos quanto a essa troca tem uma característica específica decorrente da elevada taxa de juros básica Selic. Segundo Oliveira e Carvalho (2007) pelo fato dos títulos públicos remunerados com base na Selic terem um retorno atraente e ao mesmo tempo elevada liquidez, os bancos têm uma grande vantagem. Nas palavras de Oliveira e Carvalho (2007, p. 397) “isso significa que os altos juros praticados pelo governo brasileiro permitem que a preferência por liquidez dos bancos não implique abstenção pela preferência por rentabilidade dados os referidos atributos dos títulos públicos”.

Portanto, Oliveira e Carvalho (2007) e Paula e Alves Júnior (2003), defendem que altas taxas de juros brasileiras tornam muito atrativa e rentável para os bancos a aplicação em títulos públicos, o que faz com que o custo de oportunidade da concessão de empréstimos seja elevado e seja cobrado no preço do empréstimo, um prêmio de risco4 maior.

O objetivo deste artigo é analisar evolução, determinantes e decomposição contábil do spread bancário brasileiro, assim como a possível influência do grau de concentração e concorrência do setor bancário brasileiro sobre o spread bancário.

A análise dos determinantes do spread bancário, discutida no artigo com base em resultados de exercícios econométricos, procura mostrar de que forma fatores conjunturais e institucionais o afetam, ou seja, quais são suas variáveis explicativas. A vantagem da decomposição econométrica é a capacidade de identificar a sensibilidade do spread a variações de seus componentes.

Neste artigo, a análise dos aspectos do spread bancário brasileiro no período 1994-2008, é realizada a partir de revisão bibliográfica assim como na análise de dados. O artigo, além de introdução, está estruturado em 4 seções, além da presente introdução. A seção dois mostrará uma análise dos determinantes do spread bancário. A seção três consiste em uma análise e interpretação de dados sobre a decomposição contábil do spread bancário através das visões do Banco Central do Brasil (BCB) e da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (FIPECAFI). Por fim, na seção quatro são apresentadas as considerações finais.

4 O chamado prêmio de risco equivale à rentabilidade adicional decorrente de um título com risco, em relação a

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2. Os determinantes do spread bancário brasileiro

2.1 Revisão dos Estudos Econométricos

A análise dos determinantes tem como base a revisão de cinco estudos econométricos brasileiros a partir de 2002. A escolha dos estudos foi baseada nas principais revistas especializadas e na seleção das variáveis as quais a resposta nos pareceu mais precisa para nossa pergunta que era explicar os principais determinantes do spread bancário brasileiro no período recente. Os estudos selecionados foram: Anassief, Lhacer e Nakane (2002), Koyama e Nakane (2002), Oreiro et al. (2005), Bignotto e Rodrigues (2006) e Silva, Oreiro e Paula (2007).

A ênfase foi dada às principais variáveis utilizadas nas estimações, as quais representam os seguintes aspectos: a Selic, o risco financeiro, a inflação, o nível de atividade, a instabilidade econômica e alguns dos custos da intermediação financeira5.

Anassief, Lhacer e Nakane (2002) fizeram uso de um modelo de regressão em duas etapas, para avaliar a relevância de variáveis macro e microeconômicas sobre o spread bancário brasileiro. A primeira etapa relacionou o spread bancário às variáveis microeconômicas, representativas de características bancárias, de forma a estimar um spread “puro”, o qual foi utilizado na segunda etapa como variável dependente e então relacionado a um conjunto de variáveis macroeconômicas.

Os resultados apontaram que as variáveis macroeconômicas são mais relevantes do que as variáveis microeconômicas. Dentre as variáveis macroeconômicas que afetam positivamente o spread bancário “puro”, foram encontradas: a Selic, o crescimento do produto industrial, os impostos indiretos e o Spread over treasury, que é a diferença entre o rendimento do C-Bond (título da dívida externa brasileira) e o rendimento dos títulos do Tesouro americano, que são considerados ativos muito seguros. O rendimento do C-Bond é elevado à medida que aumentam as perspectivas de risco financeiro no Brasil, por parte dos investidores. Portanto, uma grande diferença entre o rendimento do C-Bond e os títulos do Tesouro americano, evidencia um elevado risco financeiro no Brasil.

Contrariamente às expectativas dos autores, os resultados mostraram que aumentos na inflação, medida pelo Índice Geral de Preços (IGP), resultam em diminuição do spread “puro”. Os possíveis efeitos, negativo e positivo, da inflação e do produto industrial sobre o

spread bancário são estudados mais adiante.

Koyama e Nakane (2002 a) apontaram a lenta redução do spread bancário a partir de 1999 e sua rápida ampliação em 2001, e a partir deste aspecto, procuraram avaliar a evolução do spread bancário brasileiro a partir dos fatores: persistência e conjuntura. O fator persistência refere-se à relação entre valores do passado e os valores do presente, já o fator conjuntura refere-se a variáveis macroeconômicas, retirado dele o fator persistência.

Para o curto prazo os resultados sugerem que a ampliação da taxa em 2001 foi causada fatores conjunturais. Assim como o próprio trabalho, vale lembrar que esse momento foi caracterizado por um cenário de incertezas, a crise da Argentina e a queda da economia mundial. As variáveis: Selic, IGP-DI, Spread over treasury, compulsórios e impostos indiretos apresentaram coeficiente positivo e significativo e, portanto afetam positivamente o spread bancário, conforme o esperado pelos autores. A variável “produto industrial” apresentou neste trabalho coeficiente negativo e, contrariamente às expectativas, a variável custo administrativo não se mostrou significativa no longo prazo.

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5 Koyama e Nakane (2002 b) realizaram o estudo com o objetivo de encontrar os principais determinantes do spread e a sensibilidade do spread em relação a alguns dos fatores de sua decomposição contábil, dentre eles as despesas administrativas, os impostos indiretos, os compulsórios e a provisão para inadimplência, essa última representada pela variável Spread over treasury, a qual visa captar o risco.

Os resultados sugerem que o spread bancário é positivamente afetado pelas variáveis: Selic, despesas administrativas, impostos indiretos e Spread over treasury, a qual foi a que mais se destacou. Alguns fatores da decomposição contábil, como os impostos diretos, não foram utilizados na estimação. Além disso, a Selic não é um componente da decomposição contábil e o Spread over treasury não representa exatamente o componente inadimplência, pois, ele capta não somente o risco de crédito, mas também o risco global, além de ser uma variável, conforme explica Koyama e Nakane (2002 b), com caráter antecipador, enquanto as despesas de provisão para inadimplência estão relacionadas a perdas de empréstimos realizados no passado.

Oreiro et al. (2005) procuraram ressaltar a importância de fatores macroeconômicos na determinação do spread bancário brasileiro. Os resultados mostraram que apenas a Selic tem relação positiva e significativa com o spread bancário no longo prazo. O resultado para o impacto da inflação não foi significativo enquanto a volatilidade da taxa de juro Selic foi considerada através dos resultados, como um dos principais determinantes do elevado spread bancário brasileiro. Neste trabalho, o coeficiente da variável produto industrial foi negativo.

Bignotto e Rodrigues (2006) procuraram analisar fatores determinantes do spread bancário assim como o impacto de fatores de risco e de custos de intermediação financeira. Os resultados mostram que a Selic, o risco de juros, o risco de crédito, custos administrativos, receita de serviços, compulsório, liquidez bancária e ativo total têm relação positiva com o spread. Enquanto a variável market-share e o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), apresentaram coeficiente negativo.

Silva, Oreiro e Paula (2007) procuram aprofundar o debate ao analisar os determinantes macroeconômicos do spread. Os resultados confirmam que a Selic é importante na determinação do spread bancário, assim como a taxa de inflação, medida pelo IPCA, que também apresentou um efeito positivo sobre o spread, porém em menor escala que a Selic. Não foram encontrados resultados robustos para o produto interno Bruto (PIB) e a taxa de câmbio.

Koyama e Nakane (2002 a) e Koyama e Nakane (2002 b) argumentam que as alterações da Selic são feitas pelas autoridades monetárias conforme suas reações diante suas expectativas no cenário macroeconômico. Logo, os resultados positivos da variável da Selic comprovam que as elevações na Selic feitas pelas autoridades monetárias causam elevações no spread bancário.Bignotto e Rodrigues (2006) ressaltam que a Selic é uma variável macroeconômica que afeta a política de juros do banco. Portanto, é importante considerar a influência da Selic, sobre as taxas de juros de captação e as taxas de juros de aplicação bancárias.

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6 Gráfico 1 - Spread Bancário e Selic – ao ano – 1994-2008

0 20 40 60 80 100 120 140 160 ju l/9 4 ju l/9 5 ju l/9 6 ju l/9 7 ju l/9 8 ju l/9 9 ju l/0 0 ju l/0 1 ju l/0 2 ju l/0 3 ju l/0 4 ju l/0 5 ju l/0 6 ju l/0 7 ju l/0 8 Selic Spread

Fonte: Elaboração própria com base em dados do BCB.

A influência do risco na determinação do spread bancário brasileiro pode ser comprovada pelo resultado positivo e significante das variáveis: Spread over treasury, risco de crédito e risco de juros. O Spread over treasury, conforme Koyama e Nakane (2002 a) e Koyama e Nakane (2002 b), serve para estimar o efeito de riscos globais, e não somente aos riscos relativos à atividade de concessão de crédito. De forma semelhante, Anassief, Lhacer e Nakane (2002) utilizam essa variável como uma aproximação da idéia de prêmio de risco.

Para Bignotto e Rodrigues (2006) os coeficientes positivos e significativos das variáveis risco de crédito e risco de juros confirmam a idéia de que ao ter uma carteira de crédito mais arriscada e/ ou ser passível de uma grande perda de valor na carteira devido a choques na taxa de juros, o banco cobra um spread bancário mais elevado.

Conforme já citado, o trabalho de Oreiro et al. (2005) mostra que a elevada volatilidade da taxa básica de juros é um dos principais determinantes do spread brasileiro. Os autores argumentam que essa volatilidade é reflexo direto da instabilidade macroeconomia e que, por exemplo, quanto maior a variabilidade da taxa de inflação e da taxa de câmbio, maior a volatilidade da taxa básica de juros, principalmente em um país que adota o sistema de metas de inflação, como o Brasil.

A influência do nível de atividade econômica sobre o spread bancário pode ser observada através dos resultados das variáveis PIB, produto industrial e crescimento do produto industrial. É preciso considerar que o efeito do nível de atividade sobre o spread bancário pode ser positivo ou negativo. Conforme defendem os autores que utilizam tais variáveis: um elevado crescimento da produção interna pode resultar em aumento da demanda por empréstimos bancários e através do efeito poder de mercado provocar uma elevação do spread bancário. Assim como, um aumento na produção pode ser acompanhado por um ambiente econômico mais favorável, com redução da inadimplência.

Anassief, Lhacer e Nakane (2002), ao utilizarem a variável crescimento do produto industrial, obtiveram coeficiente positivo. Enquanto Koyama e Nakane (2002 a) e Oreiro et al (2005) encontraram um sinal negativo para a variável produto industrial. Silva, Oreiro e Paula (2007), não encontraram resultados robustos a respeito da variável PIB. Portanto, não se tem resultado conclusivo sobre a influência do nível de atividade.

Pode-se inferir que de certa forma, que o próprio crescimento do país ajudaria a diminuir o spread bancário. Tal idéia é ratificada por Afonso, Kohler e Freitas (2009), que também defendem que o crescimento econômico está associado a spreads baixos já que o crescimento pode diminuir a inadimplência e atrair capitais, e com isso possivelmente aumentar a oferta de crédito e reduzir custos.

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7 Outro importante aspecto da economia a ser considerado ao analisar os determinantes do spread bancário é a inflação. Após adoção do Plano Real em 1994, houve rápida queda da inflação, acompanhada por uma queda do spread bancário que, todavia continuou alto em comparação a outros países. A partir dos resultados obtidos nos trabalhos revisados, não se tem resultado conclusivo sobre o impacto da inflação no spread. É preciso considerar que além das diferenças nas metodologias usadas, que o efeito esperado da variável pode ser duplo, para alguns autores.

Em Koyama e Nakane (2002 a) o IGP-DI apresentou coeficiente positivo, conforme o esperado pelos autores que utilizaram a inflação pela possibilidade dela representar uma variável de risco macroeconômico. Os resultados de Silva, Oreiro e Paula (2007) também mostraram que a inflação, medida pelo IPCA, age positivamente sobre o spread.

Em Oreiro et al. (2005) o IPCA apresentou uma influência não significativa. Enquanto em Bignotto e Rodrigues (2006) a inflação medida pelo IPCA, incluída na estimação por ser um fator macroeconômico com possibilidade de afetar a política de juros do banco, apresentou coeficiente negativo.

Uma possível explicação para o coeficiente negativo para o IGP-DI é dada por Anassief, Lhacer e Nakane (2002) com base em Cardoso (2000). Segundo este autor, os bancos comerciais podem repassar a perda das receitas com o imposto inflacionário para os depositantes, diminuindo a taxa de captação e para os tomadores de empréstimos, aumentando a taxa de empréstimo.

Quanto as variáveis: despesas administrativas, despesas tributárias, impostos indiretos e compulsório, é esperado que estas tenham uma relação positiva com o spread bancário já que representam custos da intermediação financeira que podem ser repassados aos tomadores de crédito. Em todos os trabalhos em que foi utilizada a variável impostos indiretos, nomeada obteve resultado positivo, confirmando a idéia de que estes impostos são repassados aos tomadores de crédito. Porém a variável “despesas tributárias” em Bignotto e Rodrigues (2006), não apresentou relação significativa.

Os compulsórios, depósitos obrigatórios destinados ao BCB, não apresentaram resultado significativo em Koyama e Nakane (2002 b) e Anassief, Lhacer e Nakane (2002). Já Koyama e Nakane (2002 a) obtiveram coeficiente positivo assim como em Bignotto e Rodrigues (2006) que argumentam que já que o banco necessita manter estes encaixes compulsórios ele tentaria recuperar o possível retorno que o dinheiro que compulsório renderia se fosse usado para a concessão de empréstimos, aumentando o preço do empréstimo.

A variável despesa administrativa apresentou relação positiva com o spread em Koyama e Nakane (2002 a) assim como a variável “custos administrativos” em Bignotto e Rodrigues (2006). Porém, em Koyama e Nakane (2002 a) a influência das despesas administrativas não foi significativa.

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8 Tabela 1 –Resumo dos principais resultados

Fonte: Elaboração própria com base na literatura citada.

Os elevados spreads bancários no Brasil, podem de certa forma sugerir que os bancos têm exercido um elevado poder de mercado. Porém, a revisão de alguns estudos sobre concorrência e concentração bancária no Brasil mostra que apesar da concentração bancária ter aumentado no período 1994-2008, os bancos parecem operar com níveis de concentração não alarmantes e com um considerável grau de competitividade. As razões para o aumento na concentração bancária no início deste período estão ligadas à crise e à reestruturação bancária ocorridas após a adoção do Plano Real.

Nakane (2003) a partir de dados de 1994 a 2003 defende que mesmo com a diminuição do número de bancos operando no país, os resultados da aplicação do Índice de Herfindahl-Hirschman (IHH) 6 revelam que o setor pode ser considerado como não-concentrado ou moderadamente não-concentrado.

De acordo com os padrões que governam as decisões das autoridades antitrustes americanas, tais índices seriam indícios ou de mercados não concentrados (quando o índice de Herfindahl é inferior a 0,1) ou de mercados moderadamente concentrados (índice de Herfindahl entre 0,1 e 0,18) (Nakane, 2003, p. 2)

6 Índice que avalia o grau de concentração em um mercado, ele é calculado a partir da soma dos quadrados das

parcelas de mercado que cada empresa possui.

Estudo Positivo Não significativo Negativo

ANASSIEF, LHACER E NAKANE (2002) 1º Estágio

Custo Operacional, Captação sem custo de juros, Receita de Serviços,

Captação com custo de juros, Liquidez, Número de agências, Alavancagem, Patrimônio líquido. Banco estrangeiro 2º Estágio Crescimento do Produto Industrial, Selic, Spread over treasury, Impostos Indiretos.

Compulsório IGP-DI

KOYAMA E NAKANE (2002 a)

Selic, IGP, Compulsório, Spread over treasury, Impostos Indiretos.

Despesas administrativas Produto Industrial KOYAMA E NAKANE

(2002 b)

Selic, Despesas administrativas, Spread over treasury, Impostos Indiretos

Compulsórios -

OREIRO et al (2005) Selic,

Volatilidade da Selic IPCA

Produto Industrial BIGNOTTO E RODRIGUES (2006) Selic, Custos Administrativos, Risco de Crédito, Risco de juros, Liquidez, Receita de Serviços, Ativo Total, Compulsório.

Despesas Tributárias Market-share, IPCA.

SILVA, OREIRO E

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9 Tabela 2

Número de bancos brasileiros-1995-2003

1997 1995 1999 2001 2003

217 242 194 182 164

Fonte: Elaboração Própria baseada em dados de Nakane (2003)

Gráfico 2 IHH ativos e crédito do setor bancário (1994-2003)

Fonte: Elaboração Própria baseada em dados de Nakane(2003)

Os trabalhos de Belaish (2003), Araújo, Jorge Neto e Ponce (2005) e Nakane e Rocha (2010) utilizaram o modelo de Panzar e Rosse (1987) para estimar o grau de competitividade do setor bancário brasileiro7, e apesar de abordarem periodicidades diferentes, os resultados foram semelhantes e apontam para um regime de concorrência monopolista no setor bancário brasileiro.

A competição monopolista é caracterizada, segundo Pindyck e Rubinfeld (2002), por uma estrutura de mercado na qual as empresas podem entrar livremente, cada uma produzindo seu produto próprio e diferenciado, que apesar de altamente substituíveis, não são substitutos perfeitos. Nakane e Rocha (2010) defendem que apesar do nome “monopolista”, essa estrutura se caracteriza por um elevado grau de concorrência.

7 O modelo de Panzar E Rosse (1987) admite três resultados para a estimativa de grau de competitividade:

monopólio ou cartel perfeito, mercado competitivo com livre entrada e competição monopolista. Para mais detalhes sobre o modelo, ver Panzar e Rosse (1987) ou Nakane e Rocha (2010).

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10 Nakane (2001) e Sanches, Rocha e Silva (2009) utilizaram o modelo de Bresnaham (1982) e Lau (1982) 8, e apesar de periodicidades diferentes, os resultados dos dois trabalhos também foram semelhantes entre si, a maioria deles aponta para uma elevada competitividade no setor bancário.

Apesar dos resultados não apontarem para níveis preocupantes de poder de mercado, é importante considerar, assim como Nakane (2003), que a presença de assimetria de informações no setor bancário pode favorecer o exercício de poder de mercado sob outra forma que não a baseada em estruturas de mercado. Conforme o autor, o banco exerceria poder de mercado ao obter rendas informacionais do cliente, ou seja, devido aos elevados custos que o cliente tem ao transferir suas informações (histórico cadastral e reputação) de um banco para outro, a taxa de empréstimo cobrada pode ser maior.

Chu e Schechtman (2003) explicam que, já que é necessário um tempo de interação para que as características do tomador de empréstimo sejam determinadas, existe um custo para o tomador na mudança de instituição financeira decorrente do fato de que o novo banco escolhido ainda não conhece suas características e, provavelmente demorará a ceder o crédito.

Os dados a seguir confirmam a idéia de Nakane (2003) de que as taxas de juros de modalidades como cheque especial e conta garantida9 têm taxas de juros mais elevadas porque são situações onde os bancos podem exercer poder de mercado devido aos elevados custos que um cliente tem para se transferir de uma instituição para outra.

Tabela 3 – Taxa de juros de empréstimo por modalidade de capital – % a.a.

Hot money Capital de giro Conta garantida Cheque especial Crédito pessoal Aquisição de veículos - PF jul/94 165,44 169,64 209,9 293,95 243,47 - jul/96 58,62 68,45 94,99 174,41 125,66 - jul/98 59,72 55,11 68,63 153,71 109,11 - jul/00 41,26 33,08 58,69 156,82 70,57 35,95 jul/02 45,75 36,91 61,43 158,75 82,79 50,38 jul/04 48,95 34,76 66,3 140,14 71,66 36,1 jul/06 47,2 32,8 67,83 144,09 59,78 32,58 jul/08 50,69 32,08 70,65 162,65 53,59 33,46 Fonte: Elaboração própria com base em dados do BCB.

3. Decomposição do spread bancário

3.1 Banco Central do Brasil

Em diversos relatórios do Banco Central10 foram realizados exercícios de decomposição do spread bancário ex-ante, ou seja, a diferença entre a taxa de empréstimo

8 O modelo de Bresnaham (1982) e Lau (1982) admite que o resultado seja concorrência perfeita, monopólio ou

uma estrutura intermediária à esses extremos, a qual pode ser qualificada por escalas de competitividade. Para mais detalhes sobre o modelo, ver Panzar e Rosse (1987) ou Nakane e Rocha (2010).

9 Conta garantida é uma modalidade de capital para pessoas jurídicas, similar de a modalidade cheque especial,

para pessoas físicas. Ambos são créditos pré-aprovados e, em geral, são utilizados como crédito emergencial. Conforme observa Nakane (2003), estas são modalidades de crédito que exigem a manutenção de contas e os clientes estão “presos” já que existe dificuldade em transferir para outro banco sua reputação e seu histórico cadastral.

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11 cobrada e a taxa de remuneração aos depositantes. O spread bancário foi dividido em componentes de custo e de margem, de forma que é possível avaliar os pesos relativos de cada componente.

Durante o período 2001-2007, apesar das mudanças metodológicas11, se destacaram de forma geral, as participações da inadimplência, dos custos administrativos e da margem líquida. Com destaque para a trajetória crescente do item inadimplência desde BCB (2004).

A análise da metodologia de decomposição mais recente (Gráfico 3) revela os componentes mais importantes continuaram sendo a inadimplência (cerca de 20%), os custos administrativos( cerca de 10%) e a margem líquida(15%). Também é possível observar que durante o período analisado, houve diminuição da participação dos custos administrativos e dos custos de direcionamento no total do spread bancário. Conforme BCB (2008), em contrapartida a essa redução da participação dos custos administrativos e dos custos de direcionamento houve um aumento na participação dos impostos indiretos e da margem líquida, de tal forma que o spread se manteve em um patamar relativamente constante no período analisado.

Gráfico 3 - Decomposição do spread bancário ex-ante, em proporção (%)

0% 20% 40% 60% 80% 100% 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 Custo de direcionamento Encargos fiscais e FGC Impostos diretos Margem líquida, erros e omissões Inadimplência Custo Administrativo

Fonte: Elaboração própria com base em BCB (2008).

Segundo BCB (2008), o custo de direcionamento é composto pelos recolhimentos compulsórios e subsídios cruzados12 enquanto os encargos fiscais e FGC compreendem em contribuições para o Fundo Garantidor de Crédito e em impostos que incidem na atividade

11

As principais mudanças na metodologia foram: (i) a mudança no cálculo das despesas de inadimplência, em BCB (2000); (ii) a ampliação da amostra de bancos, a mudança de metodologia de alocação de custos administrativos e a inclusão do componente relativo aos compulsórios, em BCB (2004); (iii) novas mudanças no cálculo da inadimplência e ajustes na metodologia de alocação de custos administrativos, em BCB (2005); (iv) a inclusão da participação dos subsídios cruzados, as melhorias no cálculo da participação dos compulsórios e dos impostos indiretos, e a mudança na escolha da taxa de captação utilizada para o cálculo do spread (passaram a ser utilizadas as taxas efetivas de captação de depósito a vista, de poupança, e de depósitos a prazo, taxa média de captação das operações de Swap Pré x DI deixou de ser utilizada), em BCB (2008).

12

(12)

12 de concessão de crédito e em seus resultados. Os Impostos Diretos correspondem ao Imposto de Renda e a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL).

Ainda conforme BCB (2008) os custos administrativos compreendem em despesas como água, energia, transporte, salários, propaganda e outros. A margem líquida, é um item obtido por resíduo, logo é composta pelo lucro do banco e eventuais erros e omissões do exercício de decomposição. O item inadimplência corresponde a um provisionamento a partir da estimativa de perdas ocasionadas por tomadores de crédito que não efetuaram os pagamentos devidos. A grande participação deste item denuncia a possibilidade do banco não conhecer suficientemente os tomadores de crédito e, portanto, denuncia a existência de problemas de assimetria de informação no setor bancário.

Conforme Minshkin (2000), as informações assimétricas ocorrem quando uma das partes contratantes não tem conhecimento suficiente sobre a outra. A seleção adversa ocorre antes da efetuação da transação, por exemplo, as chances de emprestar a um mau pagador são maiores porque eles são os tomadores que mais buscam crédito. O risco moral surge após a efetuação da transação, um tomador pode se envolver em atividades de risco financeiro que poderão reduzir a probabilidade do pagamento do empréstimo.

Os bancos, por falta de informações, não conseguem distinguir plenamente quais são os clientes de alto risco e os clientes de baixo risco. Na medida em que são atraídos em maior quantidade os indivíduos de alto risco (seleção adversa), os bancos podem decidir cobrar uma taxa de empréstimo maior para compensar esse risco. Além disso, os bancos precisam realizar uma provisão para inadimplência para se proteger do ônus decorrente de maus pagadores (risco moral), o que também vai pode resultar em aumentos na taxa de empréstimo, dependendo da expectativa do banco.

Mesmo sendo um dos principais componentes do spread bancário, existe ainda a hipótese, exposta por Nakane (2003), de que este item esteja sendo subestimado, causando impacto na mensuração do item relativo à margem.

Um exemplo de erro de medida sendo capturado pela margem líquida do banco diz respeito ao componente relativo à inadimplência. Em princípio, este componente deveria refletir o prêmio pelo risco de crédito envolvido na operação de empréstimo. Há razões, contudo, para acreditar que, da maneira como ele é calculado, exista uma grande subestimativa deste risco na decomposição realizada pelo Banco Central. O risco de crédito diz respeito não somente à eventualidade do devedor entrar em inadimplência, como também ao processo de recuperação de garantias e do valor emprestado pelo banco. O risco de crédito, portanto, é também afetado pelo tratamento dado aos credores pela legislação falimentar vigente, bem como pela maior ou menor agilidade do processo judicial em promover a recuperação do crédito (NAKANE, 2003, p. 8 e 9)

Afonso, Kohler e Freitas (2009) reconhecem que a morosidade judicial, e a própria legislação favorecem a inadimplência, o que acabam por aumentar o preço do crédito para todos os tomadores, bom ou mau.

3.2Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeira

A FIPECAFI (2005) classifica o spread bancário em três categorias: bruto, direto e líquido. O spread bruto consiste na diferença entre a receita de aplicação e a despesa de captação.

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13 Para mensurar o spread direto foram deduzidas do spread bruto as despesas diretas, ou seja, impostos que incidem sobre a operação, a provisão para devedores duvidosos e o Fundo Garantidor de Crédito (FGC). Ao subtrair do spread direto as despesas indiretas, neste caso despesas com capital humano e outras despesas administrativas, o resultado foi o spread antes do Imposto de Renda/Contribuição Social. E finalmente, após a dedução do imposto de renda e da contribuição social, impostos que incidem sobre os lucros, é obtido o spread líquido.

Nos resultados, destacaram-se as participações dos itens: Devedores Duvidosos e Despesas Indiretas, os quais se aproximam respectivamente dos itens: Inadimplência e Custos Administrativos calculados pelo BCB.

Tabela 4 – Componentes do spread bancário em R$ milhões e em participação (%).

ESTRUTURA DO RESULTADO 2003 2005-1

Spread Bruto 100% 100%

Despesas Diretas 39% 34%

Impostos sobre operações 6% 5%

Devedores Duvidosos 33% 27%

Fundo Garantidor de Crédito 0% 2%

Despesas Indiretas 45% 47%

IR/CSLL 6% 7%

Spread Líquido 10% 12%

Fonte: Adaptado de FIPECAFI (2005)

Resultados mais detalhados mostraram que as Pessoas Físicas apresentaram spread mais elevado em relação às Pessoas Jurídicas.

Tabelas 5 – Componentes do spread bancário de pessoas físicas e pessoas jurídicas em R$ milhões e em participação (%). 2003 2005-1sem RESULTADO PF PJ PF PJ Spread Bruto 100% 100% 100% 100% Despesas Diretas 38% 39% 33% 28% Despesas Indiretas 39% 55% 44% 54% IR/CSLL 8% 2% 7% 6% Spread Líquido 15% 4% 16% 12%

Fonte: Adaptado de FIPECAFI (2005)

A diferença entre o spread de pessoas jurídicas e pessoas físicas pode ser explicada por três principais fatores. De acordo com Afonso, Kohler e Freitas (2009) o custo por real emprestado tende a ser maior para pessoas físicas, quando se comparam operações no varejo com operações no atacado. Em geral a taxa de inadimplência é menor para pessoas jurídicas do que para pessoas físicas. Finalmente, o mercado para financiamento para pessoas jurídicas costuma ser mais concorrencial pelo fato de que as empresas tem mais conhecimento das instituições financeiras, o que leva a ter mais histórico nos bancos e consequentemente uma maior possibilidade de operações no mercado de crédito.

(14)

14 Gráfico 4 - Evolução do Spread Bancário 1994-2008 (p.p.) - Pessoas Físicas e Pessoas Jurídicas

Fonte: Elaboração própria com base em dados do BCB.

O gráfico 4 mostra que a diferença entre o spread de pessoas jurídicas e pessoas físicas se mantém durante todo período 1994-2008 e que a trajetória destas taxas foi semelhante durante o mesmo período.

Apesar das disparidades entre metodologias e amostra de dados, pode-se observar a partir dos resultados dos trabalhos do BCB e da FIPECAFI, que grande parte do spread bancário é direcionada aos custos administrativos vinculados à atividade de intermediação financeira e provisões para inadimplência, tais itens, juntos, formam aproximadamente 50% do spread bancário na metodologia do BCB e aproximadamente 70% do spread bancário na metodologia da FIPECAFI. Não devem ser desconsiderados da análise por serem menos expressivos que estes, os itens relacionados à carga tributária, custos de direcionamentos e lucratividade do banco.

4. Conclusão

Este trabalho se propôs a examinar os aspectos do elevado spread bancário brasileiro. Com base na revisão bibliográfica e na análise de dados, foi encontrado como um dos principais determinantes, a Selic, a qual influencia a precificação das taxas bancárias de captação e empréstimo. Além disso, por ser bastante elevada, a Selic torna muito atrativo para os bancos as aplicações em títulos federais indexados a esta taxa e, consequentemente, faz com que a atividade de concessão de crédito tenha um elevado custo de oportunidade e que seja cobrado um maior prêmio de risco no preço do empréstimo. Também se destacaram na determinação do spread o risco financeiro e os custos da intermediação financeira.

Dentre os componentes da decomposição contábil, sobressaíram: os custos administrativos, o lucro e a provisão para inadimplência, a qual é influenciada tanto pela conjuntura econômica quanto pelos possíveis problemas de assimetria de informação característicos do setor bancário.

A análise da estrutura de mercado do setor bancário não mostrou resultados preocupantes, porém foi observada a possibilidade do banco exercer poder de mercado ao

0 20 40 60 80 100 120 140 160 180 200

jul/94 jul/95 jul/96 jul/97 jul/98 jul/99 jul/00 jul/01 jul/02 jul/03 jul/04 jul/05 jul/06 jul/07 jul/08

(15)

15 cobrar uma taxa de empréstimo maior para determinadas modalidades de crédito que requerem um custo elevado para o tomador de crédito em casos de mudança de instituição.

A partir das conclusões quanto aos determinantes, é possível sugerir que a redução do

spread bancário após 1995, foi devida principalmente a redução da Selic, e uma possível

redução da instabilidade financeira após os efeitos do Plano Real. Também é possível sugerir que os picos entre 1994 e 1999 se deram, em parte, com a instabilidade internacional decorrente da crise do México (1995), da Ásia (1997) e da Rússia (1998). Nos anos 2000 mesmo o spread bancário tendo se reduzido, ainda assim ficou muito acima dos padrões mundiais mesmo considerando os países chamados emergentes.

Para a redução do spread bancário, cabe a autoridade monetária adotar medidas que visem à redução da Selic, mantendo a estabilidade macroeconômica. Há que se ressaltar que a instabilidade e a volatilidade da taxa de juros aumentam o spread bancário uma vez que o cenário do país fica mais imprevisível. No âmbito microeconômico é necessário gerar esforços no sentido de gerar medidas que induzam maior transparência nas informações não só por parte dos tomadores de empréstimo como também dos emprestadores. Quanto à concentração bancária, a literatura carece de trabalhos que utilizem uma amostra de dados mais completa e atualizada para melhor análise. Os resultados apontam que apesar de no caso brasileiro o sistema bancário não mostrarem níveis exorbitantes de poder de mercado ele conjugado com a presença de assimetria de informações pode favorecer o exercício de poder de mercado, elevando os custos ao tomador de empréstimos.

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16

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19 INFORMAÇÕES ADICIONAIS SOBRE AS VARIÁVEIS UTILIZADAS NOS ESTUDOS

ECONOMÉTRICOS.

Alavancagem Razão entre o total do passivo e o patrimônio líquido do banco. Ativo total Ativo total do banco.

Bancos estrangeiros Variável dummy para os bancos estrangeiros. Captação com custo de

juros Corresponde, em sua maioria, a caderneta de poupança e depósitos à prazo. Captação sem custo de

juros Corresponde, em sua maioria, a depósitos à vista.

Compulsório Alíquota do compulsório (reservas obrigatórias) sobre os depósitos. Crescimento do Produto

Industrial

Mensurada através da primeira diferença do logaritmo da série dessazonalizada da produção industrial, calculado pelo IBGE.

Custo Operacional Proporção entre os custos administrativos e os ativos totais Custos Administrativos

Custos administrativos nos quais o banco incorre ao realizar a atividade de concessão de crédito.

Despesas

administrativas Razão das despesas administrativas sobre o volume de crédito. Despesas Tributárias Despesas tributárias divididas pelo ativo total.

IGP-DI Índice Geral de Preços- Disponibilidade interna . Impostos Indiretos

Impostos indiretos que incidem sobre a atividade de concessão de crédito (dentre eles: PIS, COFINS, e o IOF).

IPCA Índice nacional de preços ao consumidor-amplo Liquidez Razão entre ativo e passivo bancário.

Market-share

Calculado como o total da carteira de crédito do banco dividido pelo total de crédito livre do sistema financeiro nacional.

Número de agências Número de agência de cada banco Patrimônio líquido Medida aproximada dos ganhos do banco PIB Produto Interno Bruto

Produto Industrial Índice do Produto industrial publicado pelo IBGE, dessazonalizado Receita de Serviços Receita de serviços bancários.

Risco de crédito

Variável construída para servir como proxy para o risco de crédito da carteira de empréstimo dos bancos.

Risco de juros

Variável incluída para medir a variação do valor da carteira do banco decorrente de um choque na taxa de juros

Selic Taxa de juros básica da economia brasileira (ex-ante) Spread over treasury

Diferença entre o rendimento do C-Bond e o rendimento dos títulos do Tesouro americano, mede a influência do risco.

Volatilidade da taxa Selic

Corresponde a variância condicional da taxa Selic (calculado com modelos estatísticos pelos autores)

Referências

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