34.º CURSO
VIA ACADÉMICA – 1.ª CHAMADA
GRELHA DE CORRECÇÃO
GRUPO I
Aprecie a eventual responsabilidade criminal de cada uma das pessoas infra mencionadas.
(14 valores)
FACTOS NOTAS DE APRECIAÇÃO VALOR
I – ANTÓNIO
1
ANTÓNIO cria página de Facebook em nome de Carlos e aí insere foto deste.
Não há crime de falsidade informática (artigo 3.º, n.º 1, da Lei 109/2009), pois ANTÓNIO não tem intenção de provocar engano nas relações jurídicas e essa página não é considera-da ou utilizaconsidera-da para finaliconsidera-dades juridicamente relevantes como se o fosse.
Pode defender-se a integração da conduta no crime previsto
e punido pelo artigo 3.º, n.º 3, da Lei 109/2009. 1 Quanto à foto, só poderá haver crime de (uso de) fotografia
ilícita (artigo 199.º, n.º 2, alínea b), do Código Penal) se se considerar que é relevante a vontade presumida de CARLOS para se opor a essa, o que, porém, poderá ofender os princí-pios da tipicidade e da segurança jurídica no direito penal.
2
ANTÓNIO publica no Facebook: BERTA SER-VE OS INTERESSES DOS CONSTRUTORES CIVIS E NÃO DO POVO! ELA ENRIQUECE E NÓS EMPOBRECEMOS! SERVILISMO NÃO, DEMISSÃO SIM!
Haverá que fazer o confronto entre a liberdade de expressão e o direito à honra, relevando particularmente o facto de BERTA ser titular de cargo político. Note-se que há insinua-ção, mas não afirmação de que BERTA enriquece pelo servi-lismo aos construtores; não há juízo sobre a pessoa, mas sobre as suas acções. Afigura-se inexistir crime de difamação – artigo 180.º, n.º 1, do Código Penal. Sendo Berta titular de cargo político, está sujeita a crítica pública, mesmo que ex-cessiva.
1,2
3
Junto a esse texto, ANTÓNIO insere foto de BERTA que retirou da página oficial da Câ-mara Municipal na internet, sobre a qual colocou, com um programa de edição de imagens, umas barras de ferro cruzadas como se fossem as grades de uma cela.
Não há crime de fotografia ilícita, pois sendo a foto da Presi-dente da Câmara em local e acto público não ofende o seu direito à imagem (não há tipicidade objectiva - há redução da área de tutela típica do direito à imagem – artigo 79.º, n.ºs 1 e 2, do Código Civil.
0,8 Pelos fundamentos antes expostos, o colocar as grades sobre
a imagem de BERTA (com isso insinuando que a mesma co-meteu crime e deve ser presa) também não integra o crime de difamação.
4
ANTÓNIO corre alguns minutos atrás de CARLOS, tentando repetidamente sem su-cesso pontapeá-lo.
O crime de ofensa à integridade física tentada não é punível porque ao crime não cabe pena de prisão superior a 3 anos e a punibilidade não está expressamente prevista – artigos 143.º, n.º 1, e 23.º, n.º 1, do Código Penal.
Não sendo punível esta tentativa, deve questionar-se a exis-tência do crime de ameaça (artigo 153.º, n.º 1, do Código Penal), pois ANTÓNIO ao correr durante vários minutos atrás de CARLOS, manifesta intenção de o ofender na sua integri-dade física e deixou-o com medo (razão por que foge).
5
ANTÓNIO não presta auxílio ao seu irmão HUGO e este acaba por falecer devido a asfixia por afogamento
ANTÓNIO comete, como autor material e na forma consu-mada, por omissão, um crime de homicídio por negligência, previsto e punido pelas disposições conjugadas dos artigos 137.º, n.º 1, e 10.º, n.ºs 1 e 2, do Código Penal.
Ele sabe que o seu irmão está embriagado devido à aguar-dente ingerida e tem dever de garante (ex vi do artigo 2009.º, n.º 1, alínea d), do Código Civil). Vê-o caído no lago, mas confia que o mesmo se levantaria. Ou seja, está em erro quanto à necessidade de o auxiliar, o que exclui o dolo (o crime de homicídio previsto e punido pelo artigo 131.º do Código Penal), mas não a negligência – artigo 16.º do Código Penal. O homicídio é-lhe assim imputável a título de negli-gência (consciente). Há previsibilidade, evitabilidade e nexo causal.
1,3
II – O QUE É BOM SEMPRE ACABA, L.DA
6
Crimes cometidos por ANTÓNIO, seu sócio-gerente
Nenhum dos crimes imputáveis a ANTÓNIO pode ser da res-ponsabilidade da pessoa colectiva - não constam do catálogo do artigo 11.º, n.º 2, do Código Penal.
ANTÓNIO também nunca agiu em nome e no interesse da sociedade.
0,2
III – BERTA
7
BERTA pede a EMÍLIA (Cabo da GNR) que, a bem ou a mal, force DINIS a abandonar a Praça do Município.
Não comete, em autoria material, o crime de abuso de der (artigo 26.º da Lei 34/87), pois não exerce qualquer po-der sobre EMÍLIA, popo-der que nem sequer tem. Porém, é ins-tigadora do crime de abuso de poder que EMÍLIA vem a cometer, pois incita-a a retirar o DINIS a bem ou a mal (tem pelo menos dolo eventual).
0,8
8
BERTA promete a EMÍLIA pensar na solicita-ção desta para passar uma semana na sua casa no Algarve
BERTA não comete crime de corrupção activa (artigo 374.º, n.º 1, do Código Penal), pois não promete a vantagem, mas apenas pensar sobre a vantagem.
0,7
IV – CARLOS
9
CARLOS veste farda da GNR de EMÍLIA Não há crime de abuso de uniforme (artigo 307.º, n.º 2, do Código Penal), pois não actua com intenção de fazer crer que o uniforme lhe pertence, mas apenas de ocultar a sua identi-dade.
0,5
10
CARLOS desfere soco na face de HUGO, pensando tratar-se de ANTÓNIO
Comete, como autor material e na forma consumada, um crime de ofensa à integridade física simples – artigo 143.º, n.º 1, do Código Penal.
0,7
11
DINIS exibe cartaz “BERTA, DEMITE-TE”. DINIS desfere uma pancada na cabeça de EMÍLIA com o pau do cartaz
Ao exibir o cartaz, DINIS está no exercício de direito de liber-dade de expressão. Não comete qualquer crime.
Ao desferir a pancada, comete, em autoria material e na forma, o crime de ofensa à integridade física qualificada - artigos 143.º, n.º 1, 145.º, n.º 1, alínea a), e n.º 2, e 132.º, n.º 2, alínea l), do Código Penal, sendo de afastar o crime de resistência e coacção sobre funcionário (artigo 347.º, n.º 1, do Código Penal) por EMÍLIA estar em abuso de poder. Não há legítima defesa.
1
12
Após GONÇALO ter empurrado EMÍLIA, DINIS foge
DINIS comete, como autor material e na forma consumada, um crime de evasão – artigo 352.º, n.º 1, do Código Penal. A
detenção já se efectivara. 0,7
13
DINIS leva a pistola de serviço de EMÍLIA, que caiu ao chão quando GONÇALO a em-purrou
DINIS comete, como autor material e na forma consumada, um crime de furto simples, previsto e punido pelo artigo 203.º, n.º 1, do Código. Comete ainda, como autor material e na forma consumada, um crime de detenção de arma proibida – artigo 86.º, n.º 1, alínea c), da Lei n.º Lei n.º 5/2006, de 23.II, por referência aos artigos 2.º, n.º 1, alíneas p), q) e ae), e 3.º, n.º 3, da mesma lei. Este crime está numa relação de concurso efectivo com o de furto.
0,8
VI – EMÍLIA
14
EMÍLIA, Cabo da GNR em exercício de fun-ções, solicita a BERTA a utilização da sua casa de férias a troco de um acto que é contrário aos deveres do cargo.
Comete, como autora material, um crime de corrupção passiva – artigo 373.º, n.º 1, do Código Penal. O crime con-sumou-se com a mera solicitação. Os militares da GNR, pela natureza das funções de polícia que exercem, que está com-preendida na função pública administrativa, incluída no Títu-lo IX da CRP, também se incluem na previsão do artigo 386.º, n.º 1, al d), do Código Penal.
0,8
15
EMÍLIA ordena a DINIS para abandonar a Praça.
DINIS estava a exercer um direito, não existindo qualquer fundamento legal para EMÍLIA proferir tal ordem. Fê-lo abu-sando dos seus poderes e violando os deveres de imparciali-dade e respeito pela lei inerentes às suas funções, tendo ainda a intenção de beneficiar BERTA. Cometeu assim, como autora material e na forma consumada, um crime de abuso de poder – artigo 382.º do Código Penal.
0,8
VII – FERNANDO
16
FERNANDO pega no cartaz, que ficara caído no chão, empunha-o e corre para longe dali com GONÇALO e DINIS, pondo-se de imedia-to em fuga.
FERNANDO não é comparticipante nos crimes de DINIS e GONÇALO, pois neles não teve qualquer tipo de participação. Ao subtrair o cartaz, que estava apreendido, comete, como autor material e na forma consumada, um crime de desca-minho – artigo 355.º do Código Penal. Poderia ainda conside-rar-se o crime de favorecimento pessoal (artigo 367.º, n.º 1, do Código Penal), pois o cartaz poderia ser elemento de pro-va. Porém, sendo FERNANDO irmão de DINIS, a sua conduta não é punível – artigo 367.º, n.º 5, alínea b), do Código Penal.
0,8
17
GONÇALO correu na direcção de EMÍLIA e empurrou-a, dizendo a DINIS para fugir
Comete, como autor material e na forma consumada, um crime de tirada de presos – artigo 349.º, alínea a), do Código Penal. DINIS estava regularmente detido pelo crime de ofen-sa à integridade física. A detenção já se efectivara.
0,8
IX – HUGO
18 HUGO ri com tudo o que se passa envolven-do DINIS, EMÍLIA, FERNANDO e GONÇALO
Não comete qualquer crime.