• Nenhum resultado encontrado

ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Jaraguá do Sul Vara da Fazenda Pública

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "ESTADO DE SANTA CATARINA PODER JUDICIÁRIO Comarca de Jaraguá do Sul Vara da Fazenda Pública"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

Autos n° 0306176-43.2015.8.24.0036 Ação: Recuperação Judicial/PROC

Autor: Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda e outro

Vistos, etc.

I – MENEGOTTI MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LTDA. e METALLICA INDUSTRIAL LTDA EPP, em 14.8.2015 (data da protocolização da

inicial), formularam pedido de processamento de recuperação judicial, "(...) com o

objetivo de reorganizar o passivo da empresa e adequá-lo à nova realidade de mercado" (fl.

14).

Sustentam que, "Apesar de todo o narrado, as requerentes acreditam

ser transitória sua atual situação de crise e tem certeza que esse estado de gravidade é absolutamente passageiro, visto já estarem em curso medidas administrativas e financeiras necessárias ao equilíbrio da receita com suas despesas, para sanear sua atual situação de crise financeira" (fl. 14).

Além do pedido de processamento da recuperação judicial, pleiteiam, liminarmente, que a empresa Celesc Distribuição S.A. seja impedida de suspender o fornecimento de energia elétrica da requerente Menegotti Máquinas e

Equipamentos Ltda., em virtude do não pagamento das faturas de n. "(...)

FAT-01-20151609972254-0, unidade consumidora n.º 27161421, emitida em 13/07/2015 no valor de R$ 30.496,28 com vencimento em 24 de julho de 2015, FAT-01-20151608153080-49, unidade consumidora n.º 40856633, emitida em 10/07/2015 no valor de R$ 2.324,41 com vencimento em 27/07/2015, FAT-01-20151652539835-36, unidade consumidora n.º 27161421, emitida em 11 de Agosto de 2015 no valor de R$ 27.964,27 com vencimento em 24 de Agosto de 2015 (portanto, crédito vincendo) e também de toda e qualquer pendencia que existir no sistema e nos registros da Distribuidora Celesc S.A. referentes ao período anterior ao dia do pedido de recuperação judicial (14 de Agosto de 2015), mesmo que disposto em contrato, em nome da Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. (CNPJ/MF de nº 05;.423.994/0001-72), empresa com endereço na Rua Erwino Menegotti, nº 345, Bairro Água Verde, CEP 89.254-000, Jaraguá do Sul/SC, devidamente arrolada e indicada na lista de credores dos autos (...)" (fls. 27-28).

Às fls. 30/175, apresentaram procuração, comprovante de recolhimento das custas iniciais e documentos.

Em 19.8.2015 (fls. 178/312), as requerentes formularam pedido de suspensão do leilão determinado nos Autos n. 0302607-68.2010.824.0036, e com datas designadas nos Autos da Carta Precatória n. 0300885-92.2015.8.24.0026, oportunidade na qual acostaram balanços patrimoniais e

(2)

extratos bancários em complementação aos já apresentados com a exordial.

Em despacho exarado às fls. 313/314, determinou-se a emenda da inicial, com a apresentação de documentos e informações faltantes para apreciação do pedido de processamento da recuperação judicial, a qual foi apresentada às fls. 316/364.

Já às fls. 368/370, as requerentes reiteraram o pedido de abstenção de corte do fornecimento de energia elétrica.

II – Inicialmente, saliento que, conforme já consignado no

despacho de fls. 313/314, item III, o pedido de suspensão do leilão designado na Carta Precatória n. 0300885-92.2015.8.24.0036 perdeu o seu objeto, razão pela qual não será novamente apreciado.

Com relação aos demais pedidos constantes na inicial e nas petições de fls. 316/317 e 368/370, estes serão apreciados separadamente, em itens próprios, para facilitação dos posteriores impulsos processuais.

II.a) Litisconsórcio

As empresas Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. e Metallica Industrial Ltda. EPP, em litisconsórcio ativo, formularam pedido de recuperação judicial, sob o principal fundamento de integrarem o mesmo grupo empresarial.

Segundo Fábio Ulho Coelho, citado no Agravo de Instrumento n. 1.0598.14.001580-4/002, de Santa Vitória/MG, de relatoria do Desembargador

Marcelo Rodrigues, "A lei não cuida da hipótese, mas tem sido admitido o litisconsórcio

ativo na recuperação, desde que as sociedades empresárias requerentes integrem o mesmo grupo econômico, de fato ou de direito, e atendam, obviamente, todas aos requisitos legais de acesso à medida judicial" (Comentários à lei de falências e de recuperação de empresa. São Paulo: Saraiva, 7ª edição, 2010, p. 139).

Sobre a conceituação de grupo econômico, Marina Grimaldi de Castro, em artigo intitulado, "As definições de grupo econômico sob a ótica do direito societário e do direito concorrencial: entendimentos doutrinários e jurisprudenciais acerca da responsabilidade solidária entre seus componentes", o

qual pode ser acessado pelo sítio

<http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=af3b0930d888e15a>, assim

esclarece:

"Para o Direito Societário existirá um grupo econômico de direito quando a sociedade controladora e as sociedades por ela controladas firmarem uma convenção formal para combinarem recursos ou esforços para a realização dos respectivos

(3)

objetos sociais ou empreendimento em comum. Por outro lado, ter-se-á um grupo econômico de fato quando se estiver diante de uma sociedade controladora e de suas controladas ou diante de sociedades coligadas. No primeiro caso, assim como ocorre com o grupo econômico de direito, haverá a configuração do grupo pelo fato das sociedades operarem sob a mesma direção, de forma direta ou indireta. No segundo caso (coligação), deverá ser analisado se a participação de uma sociedade em outra(s) é suficiente para assegurar que a uma delas exerça influência significativa capaz de lhe proporcionar participar de decisões políticas financeira e operacional da(s) sociedade(s) investida(s). Essa influência significante deverá ser verificada mediante a análise do caso concreto, podendo ser, ainda, presumida, nos termos da LSA.

(...)

Verifique-se que em todos os casos, as definições de grupo econômico se encontram pautadas na subordinação de uma ou algumas sociedades em relação a outra (controladora) ou da existência de uma sociedade que exerça influência significativa em outras, seja pela participação societária que possui nestas sociedades, seja por meio de outro tipo de relação jurídica que lhe assegure esse poder. O que irá variar é a ótica sob a qual a configuração da influência significativa capaz de configurar um grupo econômico irá ocorrer". Grifei.

No presente caso, evidencia-se a existência de grupo econômico de fato entre as requerentes, tendo em vista que a empresa Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. é detentora de 99% (noventa e nove por cento) do capital social da empresa Metallica Industrial Ltda., consoante a 8ª alteração contratual acostada às fls. 36/43 e 350/357, caracterizando-se, portanto, como controladora de referida sociedade. Além disso, os administradores desta são os mesmos sócios integrantes da também requerente Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. (44/55).

A respeito da admissão do ajuizamento de recuperação judicial conjunta por empresas integrantes do mesmo grupo econômico, seguem precedentes dos Tribunais de Justiça dos Estados de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul, respectivamente:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO - RECUPERAÇÃO JUDICIAL - GRUPO ECONÔMICO DE FATO - CONFIGURADO - LITISCONSÓRCIO ATIVO - VIABILIDADE DA RECUPERAÇÃO JUDICIAL - DEFERIMENTO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL - EMPRESA DO GRUPO ECONÔMICO - IMPOSSIBILIDADE.

(...)

- Como a lei 11.101/05 não disciplina a possibilidade de litisconsórcio ativo no pedido de recuperação judicial, cabe a utilização do artigo 46 do Código de Processo Civil, o qual viabiliza a pluralidade de pessoas no pólo ativo quando houver comunhão de direitos e obrigações, o que parece existir na hipótese dos autos, uma vez que a atividade desempenhada pelas sociedades está vinculada a um núcleo comum de produção.

(4)

(...)" (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0223.14.019727-6/005,

Relator(a): Des.(a) Heloisa Combat , 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/05/2015, publicação da súmula em 03/06/2015). Grifei.

"Agravo de instrumento - Recuperação judicial - Grupo econômico - Plano único de recuperação judicial - Relação de coordenação das empresas recuperandas - Administração interligada - Possibilidade. É juridicamente possível o litisconsórcio ativo em processo de recuperação judicial, desde que constatados os elementos que justifiquem a apresentação de plano único, bem como a posterior aprovação do cúmulo subjetivo pelos credores, como no caso de grupo econômico que possui administração e contabilidade interligadas.

AGRAVO DE INSTRUMENTO 1.0598.14.001580-4/002 - COMARCA DE SANTA VITÓRIA - AGRAVANTE(S): BANCO FIBRA S.A - AGRAVADO(A)(S): AF ANDRADE EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES LTDA E OUTRO(A)(S), SÃO SIMÃO EMPREENDIMENTOS E PARTICIPAÇÕES S/A, COMPANHIA ENERGÉTICA VALE DO SÃO SIMÃO, ANDRADE ENERGIA LTDA"

(TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0598.14.001580-4/002, Relator(a): Des.(a) Marcelo Rodrigues , 2ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 28/04/2015, publicação da súmula em 18/05/2015). Grifei.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. DEFERIMENTO DO PROCESSAMENTO. PREENCHIMENTO DOS

REQUISITOS. FORMAÇÃO DE GRUPO

ECONÔMICO. LITISCONSÓRCIO ATIVO. APRESENTAÇÃO DE PLANO INDIVIDUALIZADO. MANUTENÇÃO DA POSSE DOS BENS. 1. Comprovada a existência de formação de grupo econômico, correto o deferimento do processamento do pedido de recuperação judicial, nos termos do art. 48 da Lei n. 11.101/2005. 2. A intenção jurídica e social da recuperação judicial é exatamente viabilizar que a empresa monte um plano para saldar suas dívidas e prosseguir operando normalmente. Aplicação do princípio da preservação da empresa. 3. Necessidade de apresentação de plano individualizado para cada uma das recuperandas, sobretudo diante da observância ao princípio da pars conditio creditorum, a fim de preservar a votação somente pelos credores de cada empresa. 4. Possibilidade de manutenção da posse dos bens objeto de alienação fiduciária durante o período darecuperação. Observância ao princípio da preservação da empresa e manutenção da atividade produtiva (art. 47 da Lei n. 11.101/05). RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, EM DECISÃO MONOCRÁTICA" (Agravo de Instrumento Nº 70065841918,

Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Isabel Dias Almeida, Julgado em 25/08/2015). Grifei.

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. LITISCONSÓRCIO ATIVO. POSSIBILIDADE. Considerando que as

(5)

sociedades empresárias devedoras formem grupo econômico de fato, tenham administração comum e sede nesta Capital, não há

óbice legal para o processamento conjunto

da recuperação judicial. RECURSO PROVIDO. POR MAIORIA" (Agravo de Instrumento Nº 70049024144, Quinta Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 25/07/2012). Grifei.

O artigo 3º da Lei n. 11.101/2005 estabelece que o pedido de recuperação deve ser processado no local do principal estabelecimento. Bem por isso, considerando que Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. é a empresa controladora do grupo econômico em questão, muito embora Metallica Industrial Ltda. seja sediada em Rio dos Cedros/SC, o feito deve ser processado nesta Comarca, sede da controladora.

II.b) Processamento da Recuperação Judicial

Segundo dispõe o artigo 47 da Lei n. 11.101/2005, "A recuperação

judicial tem por objetivo viabilizar a superação da situação de crise econômico-financeira do devedor, a fim de permitir a manutenção da fonte produtora, do emprego dos trabalhadores e dos interesses dos credores, promovendo, assim, a preservação da empresa, sua função social e o estímulo à atividade econômica" (grifei).

A mesma Lei, em seu artigo 52, estabelece que se forem atendido todos os requisitos legais pelo interessado direito na recuperação judicial, o juiz deferirá o pleito.

Importante registrar que "Não há, neste momento, enfrentamento da

matéria de fundo – o pedido de recuperação judicial –, mas tão somente dos aspectos formais do pedido: requisitos e impedimentos (art. 48) e regular instrução do pedido (art. 51)" (NEGRÃO, Ricardo. Manual de direito comercial e de empresa: recuperação de empresas e falência. Vol. 3. 7ª ed. São Paulo: Saraiva, 2012, p. 204), ou seja, não há a efetiva verificação da viabilidade do requerimento, mas tão somente do atendimento dos pressupostos legais que admitem o processamento da recuperação.

Para que seja possível o deferimento do pedido de

processamento da recuperação judicial, o requerente deve atender,

cumulativamente, os requisitos dos artigos 48 e 51 da Lei n. 11.101/2005:

"Art. 48. Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente: I – não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

(6)

III - não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

IV – não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta Lei.

(...)

Art. 51. A petição inicial de recuperação judicial será instruída com: I – a exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;

II – as demonstrações contábeis relativas aos 3 (três) últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e compostas obrigatoriamente de:

a) balanço patrimonial;

b) demonstração de resultados acumulados;

c) demonstração do resultado desde o último exercício social; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e de sua projeção;

III – a relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;

IV – a relação integral dos empregados, em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

V – certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;

VI – a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;

VII – os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimento ou em bolsas de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;

VIII – certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;

IX – a relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com a

(7)

estimativa dos respectivos valores demandados. (...)".

Compulsando os documentos acostados às fls. 35/175, 283/312 e 318/364 (emenda), verifica-se que ambas as requerentes preenchem os requisitos transcritos.

Por essa razão, e sem maiores delongas, o pedido de processamento da recuperação judicial das requerentes deve ser deferido.

II.c) Fornecimento de energia elétrica

Tanto na inicial quanto às fls. 368/370, as requerentes pugnam para que a Celesc Distribuidora S.A. se abstenha de efetuar a cessação do fornecimento de energia elétrica de Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. (unidades consumidoras n. 27161421 e 40856633), devido ao não pagamento das faturas referentes aos meses de julho a agosto do ano corrente, bem como qualquer outra fatura pendente de pagamento que anteceda a data do pedido de processamento da recuperação judicial, com a finalidade de manter em atividade suas unidades produtivas, bem como para viabilizar o próprio cumprimento do plano

de recuperação judicial, com a ressalva de que a fatura de n.

FAT-01-20151609972254-0 já foi paga.

Primeiramente, saliento que muito embora referido pedido tenha sido intitulado como de antecipação de tutela, trata-se, em verdade, de providência de natureza cautelar liminar, já que não se objetiva a antecipação do provimento final pretendido, mas sim a manutenção das atividades das recuperandas, ou seja, de essência conservativa e não satisfativa.

Desta forma, com base no artigo 273, § 7º, do Código de Processo Civil, que prevê a fungibilidade entre as medidas cautelares e antecipatórias, conheço o pedido de antecipação da tutela como medida cautelar liminar.

Em sede de medida liminar a cognição é sumária e, para o seu deferimento, devem estar presentes os pressupostos legais, quais sejam, o fumus

boni juris, consistente na plausibilidade do direito substancial invocado, e o periculum in mora, evidenciado pelo risco de lesão grave e de difícil reparação e na

necessidade da medida, sob pena de "resultar frustrada a utilidade do provimento

jurisdicional hipoteticamente a ser ditado a final" (TJSC, Agravo de Instrumento n.

97.003699-0).

De acordo com o artigo 49, caput, do Código de Processo Civil,

"Estão sujeitos à recuperação judicial todos os créditos existentes na data do pedido, ainda que não vencidos".

(8)

Assim, todos os créditos constituídos anteriormente ao dia 14.8.2015, data da protocolização do pedido de processamento da recuperação judicial, estão sujeitos ao pagamento na forma do plano de recuperação.

Em comentários ao artigo 49 da Lei n. 11.101/2005, Manoel Justino Bezerra Filho leciona:

"Este art. 49, ao determinar que estão sujeitos à recuperação os créditos 'existentes' na data do pedido, torna de certa forma inaplicável o § 3.º do art. 6.º, que prevê reserva para créditos ainda não existentes na data do pedido. (...). No que diz respeito a aluguéis vencidos, pois os vincendos não podem ser considerados 'créditos existentes na data do pedido' e, portanto, são exigíveis em seu vencimento, sob pena de despejo por falta de pagamento. Da mesma forma, contas de consumo de energia elétrica, água, telefone e semelhantes, estão sujeitas ao plano de recuperação, se já vencidas no momento do ajuizamento; as vincendas não estão sujeitas e serão cobradas normalmente, inclusive com corte no fornecimento, se for o caso. O mesmo raciocínio aplica-se ao débito condominial, não havendo qualquer alteração ante sua natureza propter rem" (Lei de recuperação de empresas e falência: lei 11.101/2005 comentada artigo por artigo. 7ª ed.

São Paulo: RT, 2011, p. 137).

De acordo com o já decidido pela Corte Catarinense, faturas de energia elétrica vencidas até a data do pedido de recuperação não podem ser exigidas diretamente pela concessionária de serviço público, mas sim submetidas ao plano de recuperação, tampouco podem sustentar o corte do fornecimento de energia elétrica:

"ADMINISTRATIVO. CAUTELAR INOMINADA A PROCESSO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. PEDIDO PARA IMPEDIR A INTERRUPÇÃO DO FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA À

EMPRESA RECUPERANDA. PROCESSAMENTO DA

RECUPERAÇÃO JUDICIAL INICIADO. INADMISSIBILIDADE DO CORTE NO FORNECIMENTO DE ENERGIA SOMENTE EM RELAÇÃO AS FATURAS VENCIDAS ANTERIORMENTE AO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO JUDICIAL. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 'as contas anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitas aos seus efeitos e deverão ser pagas de acordo com o plano aprovado. As contas que se vencerem após o pedido de recuperação judicial não se submetem aos seus efeitos e, inadimplidas, autorizam a suspensão do serviço pela concessionária, desde que observadas as formalidades da lei.' (TJSP, AI n. 523.556.450/0, Rel. Des. Pereira Calças, j. 29.5.2008)"

(TJSC, Agravo de Instrumento n. 2014.024487-0, de Blumenau, rel. Des. Sérgio Roberto Baasch Luz, j. 16-12-2014).

Do inteiro teor extrai-se:

(9)

Evidente que a suspensão do fornecimento de energia elétrica inviabiliza toda atividade produtiva para empresa (...).

(...)

Portanto, os valores anteriores ao pedido de recuperação judicial, dentre eles aquele que pode dar causa à suspensão do fornecimento de energia elétrica, devem fazer parte do plano de recuperação a ser submetido à aprovação ou rejeição.

Importante frisar, que 'as contas anteriores ao pedido de recuperação judicial estão sujeitas aos seus efeitos e deverão ser pagas de acordo com o plano aprovado. As contas que se vencerem após o pedido de recuperação judicial não se submetem aos seus efeitos e, inadimplidas, autorizam a suspensão do serviço pela concessionária, desde que observadas as formalidades da lei.' (TJSP, AI n. 523.556.450/0, Rel. Des. Pereira Calças, j. 29.5.2008).

Nesse diapasão, é de se concluir que, a empresa agravada fica sujeita ao corte no fornecimento de energia elétrica se as contas vencidas após o pedido de recuperação judicial, não forem totalmente adimplidas".

Portanto, tratando-se de faturas com vencimentos datados até o dia 14.8.2015, de fato, não podem ensejar o corte do fornecimento de energia pela falta de pagamento.

Pela fundamentação já consignada, e considerando que o fornecimento de energia elétrica trata-se de serviço essencial, bem como que o instituto da recuperação judicial possui como um de seus pilares a preservação da

empresa, as faturas de n. FAT-01-20151608153080-49 (fl. 168) e

FAT-01-20151652539835-36 (fl. 167), com vencimentos, respectivamente, em 27.7.2015 e 24.8.2015, além de outras faturas vencidas anteriormente ao dia 14.8.2015, não podem ensejar o corte do fornecimento de energia elétrica, já que todas sujeitas ao plano de recuperação.

A fatura n. FAT-01-20151652539835-36, muito embora conte com vencimento em 24.8.2014, ou seja, em data posterior ao ajuizamento do peido de processamento da recuperação judicial, não pode ensejar a cessão do fornecimento do serviço, já que diz respeito a crédito constituído anteriormente à data de 14.8.2015, já que emitida em 11.8.2015 (fl. 167), data em que consolidada a constituição do valor exigido pela prestação do serviço.

Acerca do assunto, colaciono o seguinte julgado:

"AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECUPERAÇÃO JUDICIAL. IMPEDIMENTO DO CORTE DE FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. DÉBITO REFERENTE A PERÍODO ANTERIOR AO PEDIDO DE RECUPERAÇÃO. ART. 49, LEI Nº 11.101/05. RECURSO NÃO PROVIDO. Tendo o débito da empresa recuperanda sido

(10)

constituído anteriormente à formulação e deferimento do pedido de recuperação judicial, inaceitável, à luz do art. 49 da Lei nº 11.101/05, o corte no fornecimento de energia por conta do não pagamento desse débito, posto sujeito ao dito regime de recuperação" (TJMG - Agravo de Instrumento-Cv 1.0035.11.007098-0/002, Relator(a): Des.(a) Peixoto Henriques , 7ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 06/12/2011, publicação da súmula em 20/01/2012). Grifei

Em conclusão, o pedido liminar deve ser atendido, a fim de que a Celesc Distribuição S.A. se abstenha de cessar o fornecimento de energia elétrica à recuperanda Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda., em virtude do não

pagamento dos débitos consubstanciados nas faturas n.

FAT-01-20151608153080-49 (fl. 168) e FAT-01-20151652539835-36 (fl. 167), bem como de outros créditos da mesma natureza constituídos até o dia 14.8.2015.

IV – Ante o exposto:

a) RECEBO a emenda à inicial de fls. 316/364.

b) Com fundamento no artigo 52 da Lei n. 11.101/2005, DEFIRO o processamento da recuperação judicial de MENEGOTTI MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS LTDA. e METALLICA INDUSTRIAL LTDA EPP, devendo estas

apresentarem o(s) plano(s) de recuperação no prazo de 60 (sessenta) dias (artigos 53 e 54 da Lei n. 11.101/2005).

c) NOMEIO como Administrador Judicial a sociedade INNOVARE - ADMINISTRADORA EM RECUPERAÇÃO E FALÊNCIA SS - ME, representada

por MAURICIO COLLE DE FIGUEIREDO e FLÁVIO CARLOS, situada na Rua Travessa Germano Magrin, n. 100, sala 407, Edifício Parthenon, bairro Centro, Município de Criciúma, CEP 88.801-500, telefones (48) 3433-8982, (48) 9975-7977 e (48) 9978-3115, que deverá ser intimada para assinar o termo de compromisso no prazo de 24 (vinte e quatro) horas, sob pena de substituição (artigo 33 e 34 da Lei n. 11.101/2005).

Os credores poderão acessar o sítio

www.innovareadministradora.com.br para demais informações.

d) ARBITRO, desde já, a remuneração inicial e mensal do

Administrador Judicial em R$ 6.000,00 (seis mil reais), para pagamento das despesas iniciais com o múnus, que deverá ser depositada, pelas empresas requerentes, em subconta judicial vinculada ao feito até 10º (décimo) dia de cada mês.

(11)

transferência do valor ao Administrador Judicial, independentemente de novas determinações.

A remuneração definitiva será fixada ao final, da qual serão abatidos os valores já pagos, com fundamento no artigo 24 da Lei n. 11.101/2005, quando será possível melhor avaliar a complexidade do trabalho a ser desempenhado, bem como a própria qualidade dos atos praticados pelo Administrador.

e) DISPENSO, por ora, as recuperandas da apresentação de

certidões negativas de débitos para que possam continuar a exercer suas atividades, exceto para contratação com o Poder Público ou para recebimento de benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, fazendo constar em todos os atos, contratos e documentos firmados a expressão "em Recuperação Judicial" após o nome empresarial (artigos 52, inciso II, e 69, da Lei n. 11.101/2005).

f) Nos termos do artigo 52, inciso III, da Lei n. 11.101/2005, SUSPENDO a prescrição e o processamento de todas as ações e execuções

ajuizadas contra as empresas recuperandas, permanecendo os respectivos autos no juízo onde se processam, exceto as ações com quantia ilíquida já em andamento (artigo 6º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005), ações trabalhistas (artigo 6º, § 2º, da Lei n. 11.101/2005) e execuções de natureza fiscal (artigo 6º, § 7º, da Lei n. 11.101/2005), além das ações relativas a créditos excetuados pelo artigo 49, § 3º (proprietário fiduciário de bens móveis ou imóveis, de arrendador mercantil, de proprietário ou promitente vendedor de imóvel cujos respectivos contratos contenham cláusula de irrevogabilidade ou irretratabilidade, inclusive em incorporações imobiliárias, ou de proprietário em contrato de venda com reserva de domínio) e § 4º (adiantamento a contrato de câmbio para exportação), todos da Lei n. 11.101/2005.

A suspensão fica limitada ao prazo improrrogável de 180

(cento e oitenta) dias, restabelecendo-se, após esse prazo, o direito de

continuidade da tramitação dos referidos feitos, independentemente de novo pronunciamento judicial (artigo 6º, § 4º, da Lei n. 11.101/2005).

A comunicação da suspensão aos Juízos onde tramitam as ações mencionadas é de responsabilidade das recuperandas (artigo 52, § 3º).

g) DETERMINO às recuperandas a apresentação de contas

demonstrativas mensais enquanto perdurar a recuperação judicial, sob pena de destituição de seus administradores (artigo 52, inciso IV, da Lei n. 11.101/2005).

A fim de não conturbar o processamento da própria recuperação,

PROCEDA-SE a criação de incidente específico para apresentação das contas, que

deverá permanecer apensado a este feito.

(12)

Municipal (Jaraguá do Sul e Rio dos Cedros), pela via postal, o deferimento do processamento da recuperação, e INTIME-SE o representante do Ministério Público (artigo 52, inciso V, da Lei n. 11.101/2005).

i) EXPEÇA-SE o edital a que se refere o artigo 52, § 1º, da Lei n.

11.101/2005, com a advertência aos credores de que terão o prazo de 15 (quinze) dias para apresentar, diretamente ao Administrador Judicial, pelo sítio

www.innovareadministradora.com.br, suas habilitações ou suas divergências

quanto aos créditos relacionados (artigo 7º, § 1º, da Lei n. 11.101/2005).

j) OFICIE-SE à Junta Comercial para que inclua nos registros das

recuperandas a observação "em Recuperação Judicial" (artigo 69, parágrafo único, da Lei n. 11.101/2005).

IV – DEFIRO o pedido liminar para que a Celesc Distribuidora

S.A. se abstenha de cessar o fornecimento de energia elétrica à recuperanda Menegotti Máquinas e Equipamentos Ltda. (unidades consumidoras n. 27161421 e 40856633) em virtude do não pagamento dos débitos consubstanciados nas faturas n. FAT-01-20151608153080-49 (fl. 168) e FAT-01-20151652539835-36 (fl. 167), bem como de outros créditos da mesma natureza constituídos até o dia 14.8.2015.

COMUNIQUE-SE, por telefone, à Gerência da Celesc de Jaraguá

do Sul, o teor da presente decisão.

AUTORIZO que a recuperanda Menegotti Máquinas e

Equipamentos Ltda. entregue a intimação da decisão, que seria remetida pela via postal, diretamente à Celesc Distribuidora S.A. (Central e Gerência de Jaraguá do Sul), no prazo de 10 (dez) dias, o que deverá ser comprovado nos autos.

Intimem-se. Cumpra-se.

Jaraguá do Sul (SC), 16 de setembro de 2015.

Candida Inês Zoellner Brugnoli Juíza de Direito

Documento assinado digitalmente Lei n. 11.419/2006, art. 1º, § 2º, III

Referências

Documentos relacionados

No Estado do Pará as seguintes potencialidades são observadas a partir do processo de descentralização da gestão florestal: i desenvolvimento da política florestal estadual; ii

Nesse contexto, o presente trabalho tem como objetivo realizar testes de tração mecânica e de trilhamento elétrico nos dois polímeros mais utilizados na impressão

Ressalta-se que mesmo que haja uma padronização (determinada por lei) e unidades com estrutura física ideal (física, material e humana), com base nos resultados da

Neste capítulo foram descritas: a composição e a abrangência da Rede Estadual de Ensino do Estado do Rio de Janeiro; o Programa Estadual de Educação e em especial as

A presente dissertação é desenvolvida no âmbito do Mestrado Profissional em Gestão e Avaliação da Educação (PPGP) do Centro de Políticas Públicas e Avaliação

de professores, contudo, os resultados encontrados dão conta de que este aspecto constitui-se em preocupação para gestores de escola e da sede da SEduc/AM, em

que sa oU serva a dita complicação nos últimos anos 4 devido a que actualmente sa operam muito mais ulceras am actividade qua anteriormente. Urrutia diz que e por- que se eomeQa

A realização desta dissertação tem como principal objectivo o melhoramento de um sistema protótipo já existente utilizando para isso tecnologia de reconhecimento