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África tem de tomar medidas apropriadas contra o terrorismo

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TER

11

FEV

www.jornaldeangola.co.ao Terça-feira 11 de Fevereiro de 2020

Director: VÍCTOR SILVA Director-Adjunto: CAETANO JÚNIOR

Ano 44 • N.º 15897 Kz 45,00

PRESIDENTE JOÃO LOURENÇO TEVE ENCONTRO COM HOMÓLOGO DE CABO VERDE EM ADDIS ABEBA

FÓRUM MUNDIAL

INFRA-ESTRUTURAS

TROÇO NZETO- SOYO

N E S T A E D I Ç Ã O

ADRIANO MIXINGE

Antes que o petróleo acabe

OPINIÃO •7

AUTARQUIAS LOCAIS

Isenção de taxas a antigos combatentes POLÍTICA •3

CUBANGO

Licua exporta alho para Namíbia e Zâmbia

ECONOMIA •10

DUAS MORTES

Avenida Deolinda Rodrigues “acorda” com acidente trágico

SOCIEDADE •24

VALORIZAÇÃO

Museu Regional do Dundo reforça aposta

na renovação

CULTURA •29

PESCAS

Fiscalização no mar com muitas lacunas

ECONOMIA •11

NIGÉRIA

Grupo Boko Haram assassina 30 pessoas ÁFRICA •12

BANCO ESPANHOL

Abanca pretende comprar EuroBic ECONOMIA •10

Angola

projecta

cidades

inclusivas

África tem de tomar “medidas

apropriadas” contra o terrorismo

Tornar as cidades

ango-lanas e os assentamentos

humanos inclusivos,

segu-ros, resilientes e

susten-táveis são a chave da

Po-lítica Habitacional do

Exe-cutivo, apresentada,

on-tem, em Abu Dhabi, pela

arquitecta Ana Pereira,

ao intervir no painel

so-bre Política

Habitacio-nal, no 10º Fórum Urbano

Mundial.

ÚLTIMA •32

O Presidente da República, João Lourenço,

defendeu, ontem, em Addis Abeba, que

os Estados-membros da União Africana

(UA) devem tomar "medidas apropriadas"

para combater o alastramento do terrorismo

no continente. Em declarações à imprensa,

no final da Cimeira da União Africana, o

Presidente João Lourenço indicou que,

dada a dimensão e gravidade da situação,

foi proposta a realização de uma cimeira

extraordinária, que terá como ponto único

encontrar soluções para fazer frente ao

terrorismo crescente nas regiões do Sahel

e no Corno de África. “Esta cimeira é para

breve. Esperamos que aconteça o mais

rápido possível", disse, indicando que em

pouco mais de um mês se pode realizar

essa cimeira. O Presidente angolano, que

regressou ontem a Luanda, além de

par-ticipar na Cimeira da União Africana,

rea-l i z o u e n c o n t r o s s e p a ra d o s c o m o s

homólogos do Chade, Rwanda, Cabo Verde

e com o Secretário-Geral das Nações Unidas,

António Guterres.

POLÍTICA •2

DR

M.MACHANGONGO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Alemanha

financia

fiscalização

do Okavango

O Governo alemão, através

do banco KFW,

disponibi-liza mais de 800 mil euros,

para a construção de

infra-estruturas de acomodação

dos fiscais dos parques

nacionais de Mavinga e

Luengue-Luiana, no

Cu-ando Cubango, em

desem-bolsos inseridos na Área

Fronteiriça de Conservação

Okavango/Zambeze.

ECONOMIA •10

Empreiteiro

italiano exige

indemnização

A conclusão das obras da

estrada Nzeto/Soyo, com

uma extensão de 150

qui-lómetros, está a

depen-der da indemnização

exi-gida pelo empreiteiro

ita-liano CMC di Ravenna, que

diz ter suportado, ao longo

de anos, o pagamento dos

salários dos trabalhadores

durante as interrupções

forçadas. Falta concluir um

troço de 30 quilómetros.

REGIÕES •22

Noites ao relento para o registo de crianças

ENCHENTES EM CONSERVATÓRIAS

DESTAQUE •4 | 5 DESPORTO • 31

GIRABOLA

Marcha lenta

no topo

(2)

2

POLÍTICA

Terça-feira 11 de Fevereiro de 2020

DR

Chefes de Estado sugerem reunião extraordinária, ainda este mês, para avaliar acções contra o terrorismo na região do Sahel,

Corno de África e Bacia do Chade, no âmbito do roteiro para silenciar as armas e criar condições para o desenvolvimento

Cândido Bessa

e César Esteves | Addis Abeba

As declarações do Presidente

João Lourenço, ontem, à imprensa, em Addis Abeba, depois de dois dias de traba-lho na Cimeira de Chefes de Estado e de Governo da União Africana, traduzem o senti-mento geral: “Precisamos fazer muito mais até alcan-çarmos a paz”.

O Presidente angolano, que além de participar na Assembleia Geral da União Africana, realizou encontros separados com os homólo-gos do Chade, Rwanda, Cabo Verde e com o Secretário-Ge-ral das Nações Unidas, Antó-nio Guterres, sublinhou que os líderes africanos conse-guiram sensibilizar a África e o mundo para a necessidade do calar das armas no con-tinente africano.

“É verdade que precisamos de trabalhar para tornar isso realidade nos próximos anos”, disse, à imprensa, o Presi-dente João Lourenço, subli-nhando que sem paz não há desenvolvimento. “Criamos uma Zona de Comércio Livre a nível do continente, mas quer o comércio, quer a eco-nomia, de uma forma geral, só poderão ter êxito se os paí-ses viverem em paz”, disse o Presidente da República, manifestando-se preocupado com o alastramento do ter-rorismo no continente.

João Lourenço afirmou que o terrorismo não ameaça apenas a segurança dos paí-ses directamente afectados. “Se não se tomarem medidas, a tendência é de se alastrar para o resto do continente”, disse, numa referência às acções que se registam na Bacia do Lago Chade, Corno de África e na região do Sahel, que integra o Senegal, Mau-ritânia, Mali, Burkina Faso, Argélia, Níger, Nigéria, Chade, Sudão e Eritreia.

Reunião urgente este mês

As preocupações do Presi-dente João Lourenço

encon-tram unanimidade nos ho-mólogos, que decidiram vol-tar a reunir-se, ainda este mês, para encontrar soluções para fazer frente ao terrorismo crescente em algumas regiões do continente.

“ Dad a a d i m e n são d o perigo, propusemos, que se pensasse, com alguma urgên-cia, na realização de uma cimeira extraordinária, que tivesse como ponto único debater as soluções para com-bater este terrorismo cres-cente”, disse o Presidente João Lourenço, que ouviu do Secre-tário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, e de homó-logos mensagens de encora-jamento pelo empenho para a estabilidade da região. “Tive um breve encontro, à margem

da Cimeira, com o Secretá-rio-Geral da ONU, que nos encorajou a continuar com este esforço, no sentido de ultrapassar-se o diferendo entre o Rwanda e o Uganda”, confirmou o Chefe de Estado angolano, sublinhando que, caso o consiga, será mais uma pedra nos esforços de paci-ficação dos Grandes Lagos.

Para pôr fim ao conflito na fronteira entre os dois paí-ses e que ameaçava os res-tantes Estados da região, as partes voltam a reunir-se, sob mediação de Angola e da RDC, na cidade de Katuna (Uganda, fronteira com o Rwanda), no dia 21, para ava-liar as decisões tomadas em Luanda, no princípio do mês. A Cimeira Quadripartida de

Luanda juntou os Presidentes João Lourenço, de Angola, Félix Tshisekedi, da Repú-blica Democrática do Congo (RDC), Paul Kagame, do Rwanda, e Yoweri Museveni, do Uganda, e foi o segundo desde Agosto do ano passado, quando foi assinado um Memorando de Entendi-mento entre os dois países. Em Luanda, os Presidentes do Uganda e Rwanda com-prometeram-se a salvaguar-dar a paz, estabilidade e boa vizinhança na fronteira co-mum e a absterem-se de apoiar, financiar e treinar grupos rebeldes para deses-tabilizar ambos os países. Um compromisso que se ajusta bem ao tema da 33ª Cimeira Ordinária de Chefes

de Estado e de Governo da União Africana (Assembleia Geral) de “silenciar as armas”.

O terrorismo também esteve no centro do encontro do Presidente João Lourenço e os homólogos Idris Débi, do Chade (que, além da Bacia com o mesmo nome, é inte-grante da instável região do Sahel) e Paul Kagame, o líder das reformas institucionais da União Africana.

O Presidente Idris Débi sugeriu que a Cimeira para discutir o terrorismo na região fosse realizada nos próximos 15 dias. “Não é apenas um problema da região do Sahel, é um problema africano”, disse o Presidente chadiano, após o encontro de quase uma hora com o Chefe de

Aspectos sobre a Cimeira

da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), a decorrer em Setembro, em Luanda, que deve marcar a assinatura do Acordo de Mobilidade nos Estados-membros, estiveram, ontem, em abordagem, num encon-tro entre os Presidentes de Angola e de Cabo Verde, à margem da Cimeira da União Africana, em Addis Abeba.

A proposta de acordo, de iniciativa de Cabo Verde, prevê a isenção de vistos para uma estadia de 30 dias no espaço da comunidade, bem como vistos de curta temporada para profissio-nais, investigadores e docen-tes, além de autorização de residência.

Os dois Presidentes abor-daram, igualmente, a visita de Estado que o Presidente

João Lourenço tem agendado para Cabo Verde, em Julho, como convidado especial para as comemorações ofi-ciais do 45º aniversário da Independência daquele país. Durante a visita, segundo o Presidente Jorge Fonseca, podem ser assinados acordos em algumas áreas de coo-peração, como Agricultura, Transportes, Administração, Governação Electrónica,

Pescas, Energias Renováveis e Turismo.

“A cooperação é boa, mas queremos sempre mais. Há um clima de franco enten-dimento entre responsáveis políticos e governamentais dos dois países. Portanto, é mais fácil avançar nestes entendimentos, tendo em conta as potencialidades de Angola”, disse o Presidente cabo-verdiano.

Estado angolano.

“África tem de despertar para este problema, que pode desestabilizar todo um con-tinente. O problema está a alastrar-se para toda a África”, declarou, para acrescentar que, hoje, o terrorismo já não está apenas no Iraque, no Paquistão ou no Iémen, mas o epicentro está agora no con-tinente africano.

Na visita a Luanda, em Ou-tubro passado, Idriss Déby Itno foi encorajado pelo Pre-sidente João Lourenço a man-ter os esforços contra o man- terro-rismo, a violência interétnica e a seca e ouviu elogios sobre o combate às ameaças das organizações extremistas que operam na região, que pro-vocam o caos e a desestabi-lização, além de causar perdas de vidas humanas.

ONU pede acções robustas

O Secretário-Geral das Nações Unidas, António Guterres, defendeu uma “abordagem robusta” para responder à violência na região do Sahel, ao conflito na Somália e ao aumento de ataques a civis no Burkina Faso, Mali e Níger.

No seu discurso, afirmou q u e c e r to s m e mb ro s d a comunidade internacional são cúmplices da violência na Líbia e pediu, aos Esta-dos UniEsta-dos, para retirarem o Sudão da lista de países que apoiam o terrorismo. Guterres destacou o sucesso do Governo de transição naquele país, que conseguiu evitar um conflito civil.

À margem da Cimeira da União Africana, o Presidente do Conselho Europeu, Char-les Michel, falou a jornalistas e defendeu a manutenção de uma presença europeia na região do Sahel. “Esta região merece toda a nossa atenção. É uma prioridade para os países da região, para os afec-tados e para os vizinhos, e tem um impacto potencial sobre a segurança na Europa”, disse, citado pela Lusa.

Em Addi s Ab eba para encontros com os Chefes de Estado e de Governo africanos, no âmbito da preparação da Cimeira União Europeia-África, marcada para Outubro, em Bruxelas, Charles Michel anunciou, para Março, a rea-lização, em Bruxelas, de uma reunião para abordar a situação de segurança no Sahel. A reu-nião, disse, vai servir para equacionar o reforço do apoio europeu no Mali e Burkina Faso. A França já anunciou o envio de 600 soldados adi-cionais para a região do Sahel para combater extremistas.

João Lourenço e Jorge Fonseca abordam mobilidade na CPLP

Presidente João Lourenço reuniu com o homólogo chadiano que sugeriu uma Cimeira para discutir o terrorismo na região Chefe de Estado angolano teve, ontem, encontro com o Secretário-Geral da ONU, à margem da Cimeira da União Africana decorrida entre domingo e ontem, em Addis Abeba, capital da Etiópia

LÍDERES AFRICANOS ASSUMEM COMPROMISSO DE TRABALHAR PARA A PAZ E ESTABILIDADE DO CONTINENTE

Cimeira alerta o mundo para a

necessidade de calar as armas

(3)

JARÃO MARTINS | LUBANGO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Secretário para os Assuntos Políticos e Eleitorais do MPLA

MÁRIO PINTO CRITICA A OPOSIÇÃO

Arão Martins | Lubango

O secretário do Bureau

Polí-tico do MPLA para os Assuntos Políticos e Eleitorais, Mário Pinto de Andrade, afirmou, no Lubango, que as eleições autárquicas deverão ser con-vocadas e realizadas dentro do tempo determinado pelos órgãos competentes e não vê motivos da pressão que está a ser feita pela oposição.

Mário Pinto de Andrade, que falava no sábado durante um acto político de massas, em apoio às reformas políticas, económicas e sociais em curso no país, disse que o MPLA tem o compromisso de realizar as eleições autárquicas e ge-rais, mas a sua convocação deve ocorrer dentro dos “ti-mings” determinados pelos órgãos competentes.

O político esclareceu que as primeiras eleições autár-quicas vão ser realizadas den-tro do tempo que for determi-nado, já que primeiro o Par-lamento tem que aprovar todo o pacote legislativo.

“O que acontece é que a oposição, fundamentalmente a UNITA, está nervosa porque nunca ganharam nada nesses 45 anos da nossa Indepen-dência”, disse Mário Pinto de Andrade, para quem a opo-sição não marca a agenda polí-tica. “Quem marca a agenda política no país é o partido que está no poder e não a UNITA, nem tão pouco o seu presidente”.

O dirigente do partido no poder disse ainda que a UNITA não pode fazer ameaças por-que “por-quem manda em Angola e quem tem o mandato para governar no país é o MPLA”. “Eles podem ficar mais ner-vosos, mas vão ter que esperar o tempo certo para haver as eleições autárquicas no país”, afirmou.

Mário Pinto de Andrade garantiu que o MPLA não tem medo das eleições com vista à implantação do Poder Local. “Um partido que ga-nhou todas eleições e nas últimas venceu em mais de 150 municípios, é impossível ter medo das eleições autár-quicas porque o povo teve

confiança e votou sempre no MPLA”, esclareceu.

O também deputado de-fendeu maior vigilância dos militantes, simpatizantes e amigos do MPLA e a popu-lação em geral, e espera que estes continuem a apoiar as reformas políticas, econó-micas e sociais que estão a ser operadas pelo Governo do MPLA.

Moralização da sociedade

Mário Pinto de Andrade reco-nheceu que a forte aposta na moralização da sociedade angolana está a reflectir-se, também, na melhoria da prestação dos serviços públi-cos, através da inibição de práticas indecorosas, como a corrupção.

O Executivo liderado pelo Presidente João Lourenço, disse, tem um mandato muito claro: de combater todos os males que impedem o desen-volvimento do país, relançar a economia e prosperidade para todos os angolanos. Para tal, urge corrigir o que está mal e melhorar o que está bem, defendeu.

“O Presidente João Lou-renço elegeu o combate à cor-rupção, à bajulação e ao nepotismo como uma das suas principais bandeiras de luta. No princípio, houve os que não acreditaram e duvidavam com essa palavra de ordem. Mas hoje, vêem que está a ser cumprida”, afirmou.

Refutou igualmente aque-les que dizem que o combate à corrupção tem apenas como alvos os desfavorecidos, os tipos na gíria popular como “peixes miúdo”. “Muitos pen-savam que só as pessoas que roubam uma galinha é que seriam punidos, mas estavam enganados porque o combate à corrupção é tão sério que já atingiu todos os níveis da esfera política, económica e social do nosso país. O pungo, a garoupa, o leão e o elefante também estão a ser caçados”, ironizou.

Antes da Huíla, Mário Pinto de Andrade esteve no Huambo na qualidade de coordenador do grupo de acompanhmento para aquela província.

Eleições autárquicas serão

marcadas no tempo certo

Adelina Inácio

Os deputados defendem a

isenção do pagamento de taxas autárquicas aos antigos combatentes. A posição foi defendida, ontem, durante o debate, na especialidade, da Proposta de Lei que aprova o Regime das Taxas das Autar-quias Locais.

O diploma, de iniciativa legislativa do Executivo, foi apresentado, no Parlamento, pelo ministro da Adminis-tração do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, e pela secretária de Estado das Finanças, Aia-Eza da Silva. No documento, é proposto que estejam isentos do paga-mento de taxas autárquicas o Estado, as autarquias locais e demais entidades públicas e pessoas colectivas de uti-lidade pública.

A secretária de Estado das Finanças disse que a autarquia deverá criar um regime próprio para que se conduza as acti-vidades diárias. Quanto à pro-posta apresentada pelos de-putados, Aia-Eza da Silva expli-cou que é a autarquia que vai decidir em que medida os anti-gos combatentes pagam mais ou menos taxas.

A responsável do Minis-tério das Finanças adiantou que as instituições de cari-dade e associações que, do ponto de vista da autarquia, trazem benefícios sociais estão isentos de pagamentos de taxas das autarquias.

O ministro da Adminis-tração do Território e Reforma do Estado, Adão de Almeida, reforçou que as autarquias vão decidir a cobrança ou não de taxas em determinados casos específicos. “Quando a autarquia criar uma taxa, toma a decisão sobre quem está e quem não está isento de pagamentos”, sustentou.

Adão de Almeida explicou que o processo autárquico vai fazer com que muitas soluções actualmente em vigor venham a ser diferentes. Citou, como exemplo, o regime dos anti-gos combatentes. Lembrou que existe um regime geral mas que, em relação às taxas, não cabe ao Estado dizer se a autarquia isenta ou não qual-quer serviço.

Para o deputado João Pinto, do MPLA, a isenção de todos os entes públicos pode pre-judicar a solvência ou a arre-cadação. “As empresas e ins-titutos públicos podem levantar um problema de insolvência e pode perigar a arrecadação de receitas e o país ainda não tem a delimitação dos espa-ços”, disse.

João Pinto defendeu, tam-bém, a isenção de taxas para as famílias pobres. “Há ser-viços mínimos em que a isenção pode resultar da con-dição de indigência social. A justiça social nos obriga que os impostos e taxas têm de atender ao rendimento real das pessoas”, referiu.

O deputado Nvunda Salu-combo, também do MPLA, entende que deve ser o autarca a definir a quem dar as isen-ções. A deputada Carolina Fortes, igualmente do partido maioritário, lembrou ao Exe-cutivo sobre a existência de uma Lei que já isenta os antigos

combatentes de várias taxas. Ainda pela bancada do MPLA, Paulo de Carvalho reforçou a ideia apresentada pelo colega João Pinto e defende que as entidades públicas paguem as taxas. “É preciso que as entidades públicas saibam que para que lhes seja pres-tado determinado serviço pela comunidade devem pagar pela prestação deste serviço”, sustentou.

O presidente da comissão dos Assuntos Jurídicos e Cons-titucionais da Assembleia Nacional, Reis Júnior, consi-derou que, caso se dê às autar-quias a liberdade de isentar os antigos combatentes do paga-mento de taxas corre-se o risco da Lei de Isenção de Taxas per-der o seu valor.

A deputada Isabel Peli-ganga, do MPLA, discorda da isenção das taxas aos anti-gos combatentes. A parla-mentar lembrou que o antigo combatente já está isento de muitos serviços, quando até muitos deles já "têm muitas possibilidades”.

Tomás da Silva, presidente da Comissão de Administra-ção do Estado e Poder Local, sublinhou que, com a pro-posta de Lei sobre o Regime das Taxas Autárquicas, não se pretende criar qualquer tipo de taxa, mas sim definir o regime jurídico das taxas das autarquias.

A proposta de Lei, discu-tida ontem na especialidade, visa introduzir um regime jurídico com vista à regulação das relações jurídico-tribu-tárias geradoras da obrigação de pagamento de taxas às autarquias locais.

O diploma esclarece que as taxas autárquicas podem também incidir sobre a rea-lização de actividades dos par-ticulares geradoras de impacto negativo com destaque para o de carácter ambiental.

“Quando a autarquia criar uma taxa, toma a decisão sobre quem está e

quem não está isento de pagamentos”, reforçou o ministro da Administração do Território e Reforma do Estado

PAGAMENTO DE TAXAS NAS AUTARQUIAS

PAULO MULAZA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Ministro da Administração do Território quando apresentava o diploma aos deputados

Deputados defendem isenção

para os antigos combatentes

Secretária de Estado das Finanças diz que é a autarquia que

deve decidir em que medida os ex-militares pagam as taxas

O ministro de Estado para o

Desenvolvimento Econó-mico, Manuel Nunes Júnior, deve ser ouvido hoje, na Câ-mara Criminal do Tribunal Supremo, como testemunha do “Caso 500 milhões de dólares do BNA”.

Arrolado pela defesa do ex-governador do Banco Nacional de Angola, Valter Filipe, o ministro de Estado é consi-derado testemunha necessária por ter estado presente numa reunião, em Luanda, entre o ex-Presidente da República, José Eduardo dos Santos, e os promotores da iniciativa (Per-fectbit, Mais Financial Service, SA e Bar Trading) que visava a criação de um fundo de inves-timento estratégico para finan-ciar projectos estruturantes em Angola.

A indisponibilidade do ministro de Estado para o Desenvolvimento Económico alterou a data para a sua audi-ção, inicialmente prevista para a semana passada. A defesa de Valter Filipe, réu no processo de arguição criminal em que está acusado dos cri-mes de burla por defraudação, branqueamento de capitais e peculato, considera “funda-mental e necessário” ouvir o então ministro de Estado para a Coordenação Económica e Social, por isso convenceu o juiz principal do julgamento, João da Cruz Pitra, a agendar um interrogatório a Manuel Nunes Júnior.

Presença por confirmar

O advogado Sérgio Raimundo garantiu, na última sessão de discussão e julgamento, que Manuel Nunes Júnior “pode estar disponível” hoje, sem, no entanto, assegurar com firmeza ao juiz a presença do ministro de Estado.

Manuel Nunes Júnior pode ser a última testemunha do processo que já ouviu dezenas de declarantes arrolados pela acusação do Ministério Público e pela defesa dos réus Valter Filipe, José Filomeno “Zenu” dos Santos, Jorge Gaudens Pontes Sebastião e António Samalia Bule, representada pelos advogados Sérgio Rai-mundo, António Gentil Simão (defensor oficioso), Bangula Quemba e Adriano Sapuleta, respectivamente.

Está prevista a audição de mais de meia dúzia de decla-rantes nos próximos dias, mas podem ser dispensados com o andar do processo, antes das fases das alegações orais e da formulação dos quesitos pelo Tribunal. Os próximos passos dependem da audição a Manuel Nunes Júnior, considerado pela defesa "necessária” para a fase de produção de provas em que se encontra o processo.

Na base do processo está uma alegada transferência ilegal de 500 milhões de dóla-res de uma conta do BNA no banco Standard Chattered para outra da empresa Per-fectbit no HSBC, de Londres. Santos Vilola

TRIBUNAL SUPREMO

Ministro Manuel

Nunes Júnior

apresenta

testemunho

3

Terça-feira 11 de Fevereiro de 2020

POLÍTICA

(4)

LUTA PELA CIDADANIA

Rodrigues Cambala

São 19 horas 54 minutos. À

distância observam-se dois cães arruaceiros: um branco com manchas pretas e outro castanho e mais robusto. De costas à estrada, os mastins pelejam por espinhas de peixe, antes brutalmente dila-ceradas, agora espalhadas no passeio de betão pelos dois homens de farda cor de tijolo. Ambos fazem parte do corpo de segurança da Loja de Registos da Camama, no Talatona. Têm chinelos nos pés embranquecidos e as mangas da dólman descer-radas, por conta da lufada que transpassa e lavanta pequenas partículas de areia. Um a m u l h e r e s g u i a e baixa, fala alto e gesticula ao compasso das palavras. Outra mulher está sentada numa antiga esteira de palha chinesa. As duas apresentam os corpos ressequidos, talvez pela vida dura. Aparentam não terem mais de 50 anos e menos de 45. Cada uma trouxe dois filhos, ainda ado-lescentes, para fazer registo de nascimento e tratar bilhete de identidade.

A maioria das pessoas está aglomerada à direita da prin-cipal e única entrada da loja. No outro extremo estão cinco homens adultos. Mal cha-gámos, o segurança não esconde a veia simpática: “meu nome é Manuel. O meu colega é o Falé”.

Fim da refeição. Manuel digere na cadeira de plástico e Falé no banco corrido de madeira, igual àqueles uti-lizados nos lugares de crenças e confissões religiosas. Ao lado dois adolescentes com roupas de frio. À direita é o espaço para quem tenciona tratar Bilhete de Identidade. À esquerda é para quem vai fazer o registo de nascimento. “Pode sentar-se, mais velho. Para o bilhete, já tem 22 pessoas. Para o registo, 12 pessoas”, avisa o Manuel. Sendo assim, estamos na 13ª posição. Mas não vemos tanta gente. As conservatórias têm um atendimento limi-tado. Camama, Viana e Golfe 2 são tão-somente exemplos do que acontece em muitas conservatórias. Por dia, 30 a 35 crianças beneficiam de registo de nascimento. Dados do UNICEF estimam que, no país, nasceram, em média, no primeiro dia deste ano, 3.740 bebés. Este número pode implicar que seja a média dos dias subsequentes, ao longo de um ano. Se for o c a s o , n a s c e m , p o r a n o , 1.365.100 crianças. Informa-ções do Ministério da Justiça indicam que, com a entrada das Brigadas de Registo de Nascimento, foram registadas, no ano passado, 1.100.000 cidadãos. Esta cifra engloba adultos e crianças, o que ana-lisado com os dados de bebés que nascem muitas ficam excluídas da cidadania.

É um desafio ímpar para Isa-bel, a mulher que fala alto sem engolir saliva, e todas as outras pessoas que pernoitam ao relento com o fim único de garantir a cidadania. Há riscos de cruzar com marginais. Há riscos de contrair alguma enfer-midade. Um ponto assente: o bendito sono é irrecuperável.

Inicialmente a convicção enche o presságio dos utentes. Esque-cem-se de que a ausência no local de trabalho para o registo do filho vai ser convertida em desconto salarial.

A única coisa que lhes vem à cabeça é apostar no espectro da fé e acreditar, cegamente, que de manhã o atendimento na conser-vatória vai ser célere e ponto final. Afinal o mundo desa-credita naqueles homens de pouca fé. Somos menos de dez pessoas.

A lista surreal e invisível de Manuel contraria o que os olhos vêem e o que o coração percebe. “Alguns foram jantar, mas voltam mais tarde”, bal-bucia o guarda. A mulher franzina que está na esteira, coberta de panos a condizer com o lenço envolta à cabeça, tem a Bíblia aberta na mão. Folheia um capítulo, outro capítulo. Levanta a Bíblia para se aproximar dos olhos. A luz efémera agride a estru-tura interna do olho. Ainda assim não desiste. Graceja abertamente com um

segu-rança que priorizou na sua frugal refeição os cães ao invés dos humanos. “Deste a tua comida aos cães e esqueceste que estamos a fazer-vos com-panhia”.

Todos riem em uníssono, mas o resmungo do simpático segurança não venceu aplau-sos. Uma baforada agonizante de liamba invade o nariz. O processo de inspiração é arra-sado pela inalação do fumo que vem das carcaças de uma oficina contígua à loja. O cheiro do estupefaciente evaporou dez minutos depois. Percorremos curiosamente a oficina para passar em revista os três jovens ali em pé, por entre os ferros velhos. Não são garotos. Têm mais de 30 anos. Por que atulhar tanta fumaça naquele pulmão inde-feso? E logo naquela hora?

21 horas 5 minutos. A ven-tania, ainda que miúda, arre-fece os corpos e promete alguma agressividade. Isabel cala-se por instantes. Tem uma blusa branca e panos pintalgados. Pede um lenço branco que o filho retira da

bolsa cansada. Mantém-se em pé. Ela é extrovertida, mas o sermão tem enredo de terror. Mora no bairro dos Rastas, no Kilamba Kiaxi. Ela relata que crime não tem hora. A notícia de assaltos com arma branca e de fogo, nas principais vielas, fazem parte do dia a dia. Até crianças de dez anos estão atiradas no crime. As mães dobram os joelhos com as mãos abertas, para reaverem o controlo do fruto do ven-tre.

“No nosso bairro, você vê crianças pequenas a anda-rem com facas, catanas e paus. Ontem mesmo, um moço foi esfaqueado. O filho do pastor da igreja é um grande bandido. Os nossos filhos estão na oração”, conta Isabel que tem plateia atenta. Toda a história rela-tada tem uma finalidade: apresentar, única e exclu-sivamente, um quadro de insegurança nos bairros periféricos. Sair muito cedo de casa é mesmo que assinar o boletim do óbito. “Se sair às 4 horas para vir aqui, vais

encontrar bandidos. Se atra-sar, não consegue tratar n a d a ” , a c r e s c e n t a u m homem, que mal chega intro-mete-se na conversa.

Uma jovem de calções verde e blusa com capuz cinza passa por todos, sem fitar pelos lados. O corpo de Maria assemelha-se à bar-rica. Ela entrega o bidão de água ao guarda Manuel, que faz questão de avisar o repór-ter: “essa moça que acaba de chegar está à frente de ti. Ela é a número 12 na fila de registo”. Sim. Não temos argumentos para contrapor. “Vê-me bem, para amanhã não me esquecer”, ordena num sotaque intimista e voz roufenha. De seguida, avisa o segurança que vai para casa ver novela e volta mais tarde. O homem fardado pigarreia e num som gutural faz que sim. Mal a jovem marca dois passos para abandonar o local, Manuel aproveita a deixa da mulher: “quem for a casa, tem de voltar às 4 horas”.

22 horas. Um homem de calças de ganga e camisola

azul acetinada ocupa o 23º lugar na fila do Bilhete de Identidade. Está à espera que chegue o 24º para captar o rosto e deixar tempora-riamente o local.

Ninguém abandona a sua classificação sem conhecer quem está a seguir.

O objectivo é evitar con-flito logo no final da madru-g a d a q u a n d o t o d o s s e apresentarem na fileira da cidadania.

A luta pela cidadania é renhida, fazendo lembrar as infinitas filas serpenteadas no tempo do mono-partida-rismo. Na época, para adquirir pão, arroz e outros bens da cesta básica na loja do povo, tinha de acordar a madru-gada,ou passar a noite ao relento. Até as pedras ocupa-vam espaços. Ou seja, tinham rostos abstractos, porque substituíam literalmente homens de carne e osso.

O silêncio espraia-se na medida em que as viaturas reduzem a circulação na via principal.

Uns com os braços entre-laçados, outros com mãos no queixo, mas todos com rostos de pacatez. Não tarda, um homem, na casa dos 30 anos, com mochila de alças, pen-durada por entre os ombros, incorpora-se e faz a pergunta da praxe: Quem é o último? Ele ocupa, em simultâneo, dois lugares para duas crian-ças “sem nome”. Enquanto se aguarda ansioso pelo fim do movimento de rotação da terra, que dá lugar a um novo dia, socorre-se ao pequeno muro do canteiro, repleto de plantas, para sen-tar-se com esmero.

23 horas e 25 minutos. Uns abandonam o local para ilu-dir o tempo de espera. Fazer vigília longe dos holofotes de quem se crê demorar uma eternidade. Um, dois, três adultos aproximam-se igual-mente para se alistar. A res-posta de um dos guardas não tarda: não existe lista.

“Como assim?” interroga o mais jovem que traja um casaco escuro que se esgota no joelho.

“Agora é proibido fazer-se listas de prefazer-sença à porta da conservatória”. Não fosse a explicação peremptória do o ut ro s egura n ça q u e acaba de sair de uma Toyota Corolla avariada e transfor-mada em dormitório, eles não teriam anuído. Mur-muram em tom estridente, mas não dá em nada.

“Senhores, algumas pes-soas marcaram os lugares às 15 horas e foram para casa”, tartamudeia o sim-pático Manuel, na tentativa d e p o d e r p e r s u a d i r o s inconformados. Ali e nas demais conservatórias basta ser visto pelo corpo de segu-rança para agendar o lugar para o registo de nascimento. “Aqui há corrupção”, sus-sura outro jovem. Para ele, o segurança costuma a ocu-par os lugares cimeiros ocu-para extorquir quem chega depois das 6 horas da manhã. O tempo corre e a conversa a fi a d a ga n h a a d e sã o d o p u n h a d o d e h o m e n s e mulheres. Partilham sorrisos e experiências. Desporto, política, família merecem menos tempo de debate que o tema sobre a prostituição.

4

DESTAQUE

Terça-feira

11 de Fevereiro de 2020

O registo de nascimento acontece ainda dentro de um quadro de dificuldades.

Os pais passam a noite ao relento com filhos menores para tratar uma cédula.

Oportunistas não falham um dia sequer. Fazem morada nas conservatórias,

ocupando os lugares da frente, para, no final, “venderem” a quem tanto

necessita deste serviço gratuito. Quem não tem registo não tem nome.

Cidadãos pernoitam à porta

das conservatórias para fazer

o registo de crianças

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GLOBALMENTE, ESTIMA-SE QUE MAIS DA METADE DESSES NASCIMENTOS OCORRERAM EM OITO PAÍSES:

67.385

Índia

46.299

China

26.039

Nigéria

16.787

Paquistão

13.020

Indonésia

10.452

Estados Unidos da América

10.247

República Democrática do Congo

8.493

Etiópia

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Terça-feira 11 de Fevereiro de 2020

DESTAQUE

Dados do Ministérioda Jus-tiça apontam que, no ano passado, foram registados mais de 1.100.000 (um milhão e cem mil cidadãos) nas conservatórias, entre adultos e crianças. Com a entrada das brigadas de registos estima-se que alcance três a quatro milhões de cidadãos, por ano.

O Governo aprovou, no ano passado, um programa de massificação de registo de nascimento, que abriu no dia 8 de Novembro de 2019 e termina em 2022.

O director Nacional dos Registos e Notariados, Israel Nambi, disse que as briga-das de massificaçao estão a ser instaladas nas admi-nistrações municipais e comunais. “Nesta altura, se for às administrações distritais do Cazenga vai encontrar as brigadas de massificaçao de registo de nascimento”, indicou.

“Estamos numa fase de afinações do projecto”,

aponta, informando que o país já conta com 50 briga-das. Ao admitir que mais brigadas vão ser instaladas ao longo do ano, Israel Nambi assevera que a abertura de brigadas é um mecanismo para reverter uma situação menos abonatória. Aquele responsável explica que, além da necessidade de mais espaços, o Sector regista uma limitação em termos de recursos humanos.

“Uma conservatória tem vários serviços, nomeada-mente áreas de registo de nascimento, óbito e casa-mento”, diz Israel Nambi, reconhecendo que o pessoal que fica alocado para o acto de registo é insuficiente.

Justifica que o programa do Governo propõe-se a registar mais de 12 milhões de cidadãos dentro de três anos. Israel Nambi afirmou que a campanha foi lançada com base os dados do último censo populacional do INE, que indicava que 40 por

cento da população não tinha registo de nascimento. “Tendo em conta que somos a p r o x i m a d a m e n t e 3 0 milhões de cidadãos, pres-supõe dizer que temos 12 milhões de pessoas privadas de registo, daí que o pro-grama prevê registar este número de pessoas”.

Actualmente foram já criadas brigadas de registo em algumas administrações municipais e comunais de Luanda e balcões do BUE. Entretanto, a população pode já fazer o registo no Cazenga, Sambizanga, Dom Bosco, Morro dos Veados, Baya, Bué do Rangel e Qui-lometro 30. Israel Nambi pediu à população para denunciar todos os casos de extorsão que possam ocorrer, através dos terminais afixa-dos nas conservatórias.

“A área de inspeção tem acionado os mecanismos legais para pôr cobro a situa-ção”, disse o director Nacional dos Registos e Notariados.

12 milhões de angolanos

sem registo de nascimento

DR

Nascem mais de um milhão de crianças por ano

Informações do UNICEF esti-mam que, no dia 1 de Janeiro de 2020, nasceram 3.740 bebés em Angola. O relatório não faz referência se nesse número de crianças constam as nas-cidas fora das maternidades convencionais.

Na hipótese de diariamente nascer o aludido número de bebés, pode-se concluir que, p o r a n o , n a s ç a m m a i s d e 1.365.100 bebés. O documento refere que os bebés angolanos foram responsáveis por quase 1% dos 392.078 bebés nascidos. "É uma oportunidade para

reflectir sobre as nossas espe-ra n ç a s e a s p i espe-ra ç õ e s , n ã o somente devido ao nosso futuro, mas também pelo futuro daque-les que virão depois de nós", disse Henrietta Fore, directora executiva do UNICEF.

Acrescenta que na medida em que o calendário muda, “somos lembrados das possi-bilidades e do potencial de cada criança a embarcar na jornada da sua vida se lhes for dada a chance”. Globalmente, estima-se que mais da metade desestima-ses nascimentos ocorreram em oito países:

ANTÓNIO SOARES | EDIÇÕES NOVEMBRO

ARÃO MARTINS | EDIÇÕES NOVEMBRO

A zona revela-se ser um antro arável de quem acha que a vida só é mantida a troco do prazer da carne.

Zero horas. Três mulheres adultas, incluindo Isabel, dormem no chão húmido por entre a parede da con-servatória e uma rolote. Os seus filhos também estão ali deitados no chão de betão frio. Eles cobrem-se com panos do cabelo às unhas.

Mais de 50 pessoas já mar-caram o ponto para fazer o registo de nascimento. De repente, dá-se um apagão na via pública. A claridade fica comprometida. Observa-se um oportunismo dos mos-quitos que supostamente abandonam esconderijos para alvejar todos aqueles que estão sentados no muro do canteiro e em pé na fachada principal da Loja de Registos. A escuridão traz um senti-mento de insegurança.

São 1 hora e 8 minutos. O ruido de viaturas na via prin-cipal escasseia. Sossego. Cada um encontra um espaço para esgrimir a inclemente fadiga do dia anterior. Há trinta minu-tos que não chega um novo h ó s p e d e . O b s e r va - s e o regresso dos que iam para casa e daqueles que iam à procura de uma bebida alcóolica, nas redondezas. Música alta ainda é ouvida em pequenos botecos que têm as portas abertas.

O relógio marca 4 horas e 25 minutos. Acorda. Acorda. Uma voz incessante desperta um a um. É o guarda que grita. Não que não haja quem tenha passado a noite a contar as estrelas do céu. Não há balneário público. Tudo é feito ao ar livre.

O pessoal da segurança ordena que cada um ocupe o lugar por odem de chegada. A voz de mando troou como se houvesse uma chamada à formatura de reclusos. Os primeiros 12, quer da fila do

registo, quer da do bilhete de identidade ausentaram-se, segundo a guarda.

Ninguém percebe. Todos resmungam. Instala-se o tédio que promete novos capítulos em grande dimen-são. Lavanta-se um cordão de cólera pela leveza da argu-mentação dos seguranças.

“Alguns estão a caminho e os lugares não podem ser ocu-pados”, balbuciam os guardas. “Não vale a pena fazerem confusão, os lugares come-çaram a ser ocupados ontem. Conhecemos as pessoas que chegaram aqui entre as 15 horas e meia noite”, titubeou um quarto guarda que não foi visto durante a noite.

São sete horas. Sol tênue e nuvens adornadas para des-cargas. A fila cresce até a e s ca ss o s trê s metro s do asfalto. Há gente que chega. Há mais desorganização. Um homem másculo arroga-se e pisoteia outros utentes. Um militar com galões a vista nos ombros compraz-se com os demais. A paz dura pouco. O homem é perito em ofensas morais. As anciãs quase cobrem os ouvidos, sequer o oficial e os guardas voltaram a pedir ordem e respeito.

O repórter perdeu o lugar, mas Maria ressurge. Parece que a novela terá durado uma eternidade. Com auxílio do segurança, ela consegue rea-ver o seu lugar. O tumulto não tem fim. Todos querem estar à frente. Outro guarda reduz de 12 para cinco, os l u g a r e s d o s a u s e n t e s . Aumenta descofiança, porque essas pessoas não existem.

Maria abandona o lugar e, por ser portadora de uma memória vácua, insta o repór-ter para “comprar o seu lugar”. “Senhor, se chegou agora tenho ali um lugar. Sou a número 13. O lugar são mil e 500 kwan-zas”, avançou a jovem de tran-ças amarfanhadas e olheiras.

Ela anda de um lado para outro na companhia de um casal da mesma faixa-etária, Tê m m e n o s d e 3 5 a n o s . Fazem tudo em conluio com os guardas, cedendo os pri-meiros lugares para em con-trapartida receber dinheiro de forma ilegal.

O grupo interpela todos os t ra n s e u n te s , d e s d e q u e tenham papéis nas mãos. Sempre que encontram um “cliente” dirigem-se, sem pejo, junto dos guardas. A solução é imediata. É um cenário comum em lugares onde se tratam documentos. Os dois sentidos de estrada da Camama está sem passa-deira. Idosos e crianças saltam os separadores de ferro e, de seguida, correm até deixar o asfalto para trás. Uma ven-dedora tem um bule de café que serve em copos de plás-tico aos utentes.

Um quarto para as 8 horas. A porta da Loja de Registos é aberta ao público. As fichas enumeradas são distribui-das: 30 fichas para o Registo de Nascimento e 50 para Bilhete de Identidade.

Os assentos do átrio não têm espaço de sobra. A maio-ria continua em pé. Algumas cadeiras já quebraram faz tempo. O frenesim toma conta de dezenas de pessoas que abandonam o local por não conseguir a ficha.

Se Gonçalves Pascoal, motorista de profissão, está a contento com a ficha que tem nas mãos, depois de uma noite mal passada, o mesmo não se pode dizer do ancião Nicolau, que sai do local lite-ralmente amuado, porque dormiu em casa.

“Estes guardas e algumas pessoas vêm cedo para ocupar lugar e depois vender”, lamenta Nicolau que tem cabelo gri-salho. Na parede está afixado o número de telefone de denúncia. Alguém ligou?

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OPINIÃO

Terça-feira 11 de Fevereiro de 2020

MARIA AUGUSTA | EDIÇÕES NOVEMBRO

Como habitual e anualmente, a cidade de Addis Abeba, capital da Etiópia, foi palco, e desta vez, da 33ª Cimeira de Chefes de Estado e de Governo, sob o lema "Silenciar as armas: criando um ambiente favorável ao desenvolvimento", numa altura em que emerge o desafio da busca e efectivação da paz no continente. Embora África tenha evoluído positivamente para a relativa estabilidade entre os países, com a devida ex-cepção do diferendo que opõe a República Árabe Sarauí Democrática (RASD) ao Marrocos, urge o reforço das acções que visam a estabilização dos Estados. Se outrora, o que mais ameaçava os Estados partia de factores externos, diferendos fronteiriços, rivalidades étnicas e questões económicas ligadas à partilha dos recursos, hoje, os piores inimigos dos Estados encontram-se dentro das suas fronteiras. Grande parte dos países africanos que vivem ainda problemas de instabilidade militar se devem a causas internas, relacionadas com grupos armados dentro do próprio Estado, que reivindicam para si a autodeterminação da região, melhor divisão dos recursos eco-nómicos, entre outros. Hoje, os conflitos em África radicam mais nas questões pré e pós eleitorais que, nalguns casos, passam de problemas políticos eleitorais para os de natureza militar.

Daí o lema da 33ª Cimeira que insta os africanos a “silenciar as armas” porque, na verdade, o desenvolvimento do continente tem estado refém do cano da espingarda. Alguns grupos, em determinados países africanos, aprenderam e persistem na ideia de que uma das formas para ver os interesses acautelados passa pelo recurso a meios violentos, não poucas vezes fomentados por interesses extra-continentais.

África precisa de paz e estabilidade para materializar todas as aspirações, pers-pectivadas em programas e agendas, algumas de carácter continental, que visam integrar as economias, promover a liberdade de circulação e livre comércio. Esta ideia esteve subjacente nas intervenções das lideranças africanas, presentes em Addis Abeba, em que Angola esteve representada pelo Presidente João Lourenço que, oportunamente, fez um discurso na mesma direcção.

Os avanços que o continente e as várias regiões fazem, relativamente aos processos de integração, obrigam a que a paz e estabilidade sejam os ingredientes sem os quais de nada vale evoluir para os referidos estádios. Não podemos esperar que haja liberdade de circulação em toda a SADC se países como Moçambique e a RDC, por exemplo, viverem eternamente situações de instabilidade militar.

A Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO) dificilmente dará passos significativos no processo de integração das economias se países como o Burkina Faso e Mali, apenas para mencionar estes, continuarem sob a mira e acções dos radicais islâmicos.

Como disse o presidente da Comissão Executiva da União Africana, Moussa Faki Mahamat, durante a 36ª Sessão Ordinária do Conselho Executivo, “ ao reflectir sobre o tema do ano 2020, devemos questionar, entre outros, a nossa doutrina sobre segurança e além de causas aparentes, investigar as raízes dos problemas. Em resumo, precisamos de construir a paz de maneira diferente, implementando soluções inovadoras que conferem um certo grau de relatividade às soluções militares, com-pensando-as com medidas de outras áreas, particularmente o desenvolvimento e tudo em solidariedade”.

Angola congratula-se com a passagem de testemunho do Presidente egípcio, Abdel Fattah al-Sisi, ao Chefe de Estado sul-africano, Cyril Ramaphosa, na presidência rotativa da organização continental que, como prometeu, referindo-se às expectativas dos africanos, “os nossos povos estão à espera dos frutos do nosso trabalho”.

EDITORIAL

C A R T A S D O S L E I T O R E S

IMAGEM DO DIA

A União Africana

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

Víctor Silva (presidente)

ADMINISTRADORES EXECUTIVOS

Caetano Pedro da Conceição Júnior José Alberto Domingos Rui André Marques Upalavela Luena Kassonde Ross Guinapo

ADMINISTRADORES NÃO EXECUTIVOS

Filomeno Jorge Manaças Mateus Francisco João dos Santos Júnior

DIRECTOR: Víctor Silva DIRECTOR-ADJUNTO: Caetano Júnior DIRECTOR EXECUTIVO: Guilhermino Alberto EDITOR EXECUTIVO: Diogo Paixão SUB-EDITOR EXECUTIVO: Cândido Bessa GRANDE REPÓRTER: Luísa Rogério EDITORIAS: POLÍTICA:

Santos Vilola (editor-chefe), Fonseca Bengui (subeditor) e Bernardino Manje (subeditor)

Adelina Inácio, João Dias, Edna Dala, Garrido Fragoso e Gabriel Bunga

OPINIÃO:

Ambrósio Clemente (editor-chefe), Faustino Henrique (subeditor)

SOCIEDADE:

Nhuca Júnior (editor), Alberto Pegado (editor),

José Meireles (editor),

Rodrigues Cambala, André da Costa, Kilssia Ferreira, Manuela Gomes, Augusto Cuteta, Alexa Sonhi, César André, César Esteves, Edivaldo Cristóvão,

Carla Bumba e Mazarino da Cunha

REGIÕES:

Sérgio Chivaca (editor-chefe), Béu Pombal (subeditor),

Filipe Eduardo

ECONOMIA:

Cristóvão Neto (editor-chefe), Armando Estrela (subeditor),

Ana Paulo, Kátia Ramos, Madalena José, Natacha Roberto e Victorino Joaquim

MUNDO:

Bernardino Fançony (editor-chefe), António Canepa

DESPORTO:

Amândio Clemente (editor-chefe), Anaximandro Magalhães (subeditor), António Cristóvão,

Armindo Pereira, Teresa Luís, Vivaldo Eduardo, António de Brito, Honorato Silva, Job Franco

CULTURA:

António Bequengue (editor-chefe), Adriano Melo (subeditor), Francisco Pedro (subeditor), Amilda dos Santos, Manuel Albano,

Mário Cohen e Roque Silva

GENTE E FIM-DE-SEMANA:

António Cruz (editor-chefe), Isaquiel Cori (editor)

Edna Cauxeiro (subeditora), Ferraz Neto (subeditor) e Pereira Dinis

EDIÇÕES ESPECIAIS:

Adalberto Ceita, André dos Anjos, Domingos dos Santos, Leonel Kassana e Yara Simão

FOTOGRAFIA:

Kindala Manuel (editor-chefe), José Cola (editor),

Dombele Bernardo, Domingos Cadência, Eduardo Pedro, João Gomes, Maria Augusta, Miqueias Machangongo, Mota Ambrósio, Paulo Mulaza, Kindala Manuel, Santos Pedro, Agostinho Narciso, Vigas da Purificação, Contreira Pipas

CORRESPONDENTES PROVINCIAIS:

Adão Diogo (Lunda-Sul), Alberto Coelho (Cabinda),

João Mavinga (Zaire), Vladimir Prata (Namibe), Esídoro Natalício (Cuanza-Norte),

Luís Pedro (Cuanza-Sul), Noé Jamba (Bengo), Francisco Curinhingana (Malanje)

Fernando Cunha (Huambo), João Constantino (Bié),

José Chaves (Andulo), Jaime Azulay (Benguela),

Jesus Silva (Lobito), Estanislau Costa (Huíla), Joaquim Aguiar (Lunda-Norte),

Silvino Paulo (Uíge), Lourenço Manuel (Cuando Cubango),

Quinito Kanhamei (Cunene), Samuel António (Moxico),

PAGINAÇÃO E ARTE:

Salvador Escórcio (Editor), Soares Neto, Eugénia Victor, Augusta Lucéu, Tomás Cruz, Noé Pungue, Evaristo Sacupalica, João Augusto, Josefa Abreu, Maria Messele, Alberto Bumba, Inês Quingando, Margarida Zilungo, Maria da Silva, António Saldanha,

Henrique Faztudo, António Quipuna, Raúl Geremias, Ana Paula Dias , Isabel Fragão, Manuel Cassinda, Francisco da Silva, Rui Jacinto, Bruno Bernardo, Luquemba Pedro

CARTOON E ILUSTRAÇÃO:

Armando Pululo e Casemiro Pedro

COPY DESK:

Rui Ramos, Arlindo Soares e Esperança Vieira Dias O Jornal de Angola

utiliza os serviços da ANGOP, AFP, Reuters, EFE e Prensa Latina

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Um instantâneo, captado na via que leva ao Mercado do Catinton, que reclama por intervenção e alterna entre o denso areal da época seca e o lamaçal do tempo chuvoso

PROPRIEDADE

Edições Novembro, E.P.

SEDE:

Rua Rainha Ginga, 12-26 Caixa Postal 1312 - Luanda Redacção: 222 020 174 Telefone geral (PBX): 222 333 344

Fax: 222 336 073 Telegramas: Proangola

Sarjetas abertas

Em tempos de chuva e enxur-radas o que menos se aconselha é deixar, por negligência ou propósito, as sarjetas abertas em várias ruas das grandes ci-dades como Luanda. Escrevo sobre essa realidade, atendendo que há dias assisti a um debate em que um dos técnicos alegava que muitas tampas acabam furtadas. "Mui-tos que trabalham com ferro velho, acabam por furtar as tampas que se encontravam em muitas sarjetas, razão pela qual algumas se encontram descobertas”, disse um dos in-tervenientes. Enquanto outras, que possuem as referidas sar-jetas, encontram-se hermeti-camente encerradas, outras mantêm-se abertas porque as tampas foram subtraídas. Há também algumas que acabam danificadas pelo movimento nas estradas de veículos pesa-dos. Relativamente aos orifícios que se e encontram abertos, faço votos de que as unidades técnicas de Luanda, dos muni-cípios e distritos as reponham em tempo útil, inclusive em no-me da segurança. Afinal, muitos transeuntes mutilam os mem-bros inadvertidamente e algu-mas viaturas, com diâmetro re-duzido das suas rodas, andam com sérias dificuldades diante

desta realidade.

Para as tampas que dificilmente abrem em tempos de chuva pa-ra viabilizar a passagem das águas, urge criar condições pa-ra que as mesmas sejam úteis na hora que mais as comuni-dades precisam das sarjetas. Em minha opinião, julgo que uma das revoluções que temos de promover, nos próximos tempos, passa pela criação de condições em que o sanea-mento, o fluxo das águas re-siduais, as valas de drenagem, etc., devem funcionar em ple-no para bem da saúde e bem-estar das comunidades. A água não pode parar em de-terminado espaço sem que en-contre linhas de passagem para o destino normal e esperado da mesma, nomeadamente o mar ou os lençóis.

Andamos a criar muitas difi-culdades para a circulação nor-mal da água que acabam por se transformar em dificuldades para nós mesmos. Para termi-nar, gostaria de endereçar pa-lavras de encorajamento às uni-dades técnicas que trabalham

na área do saneamento, lim-peza e manutenção das valas de drenagem.

ANTÓNIO COIMBRA Samba

Inspecção do Estado

Escrevo para falar sobre o papel importante do Call Center da Inspecção Geral da Adminis-tração do Estado (IGAE), um instrumento que joga um papel muito relevante na sociedade angolana.

A colocação à disposição do público de uma linha de con-tacto para denúncias constitui um passo importante. Nos últimos dias, tem sido mui-to comum os casos de detenção em flagrante de servidores pú-blicos, apanhados em situa-ções que envolvem corrupção ou suborno.

Vi há dias pela televisão ima-gens de um servidor público acompanhado por agentes do SIC, alegadamente num caso de tentativa de corrupção activa. Acho que está a ser bom, esse ambiente em que se pretende acabar com o sentimento de impunidade que muitos servi-dores públicos insistem em cul-tivar, mesmo numa altura co-mo esta.

MARTA COELHO Via Expressa ESCREVA-NOS

Cartas recebidas na Rua Rainha Ginga, 12-26 Caixa Postal 1312 - Luanda

ou por e-mail:

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Terça-feira

11 de Fevereiro de 2020

OPINIÃO

Adriano Mixinge

NA ALVA DAS IDEIAS

PONTO DE VISTA

Algo parecidoterá acontecido na primeira metade do século passado, aquando das descobertas petrolíferas: quando “tipo do nada” surgem instituições, empresas ou personali-dades estrangeiras a financiar o desenvolvimento de “qual-quer coisa”, em Angola ou fora dos seus países de origem é porque têm certeza de que terão retorno.

O projecto foi apresentado ao público, na quinta-feira úl-tima, na Mediateca de Luanda: através do Procultura-Palops, a União Europeia disponibilizou cem mil euros para financiar projectos artísticos e culturais, em Angola, que serão geridos pela Aliança Francesa, em parceria com a rede de Institutos Culturais Europeus e, em visita a Angola, Angela Merkel teve tempo de ir visitar o Museu Nacional de Antropologia, que tem beneficiado da cooperação alemã.

Não é a primeira vez que instituições estrangeiras finan-ciam projectos culturais em Angola ou de artistas, criadores e intelectuais angolanos, em qualquer parte do mundo: com financiamentos directos ou com bolsas de estudo, fa-cilitando-lhes know how ou pondo experts à sua disposição, auxiliando na mobilidade ou contribuindo para as publica-ções, quer queiramos, quer não, estes financiamentos não têm um carácter neutro e desinteressado. Eles são um me-canismo de influência cultural dos mais subtis e, pela sua eficiência, também, dos mais sofisticados uma vez que são (quase) infalíveis.

No ano do quadragésimo quinto da proclamação da In-dependência do nosso país e três décadas depois da im-plantação da economia de mercado, em Angola, que, no en-tanto, deixou sempre nas margens as artes e a cultura, que fez delas o “parente pobre”, o sector “improdutivo” e igno-rando completamente o que acontecia neste domínio, em todo mundo, acontece que, quando parecia que ia vislum-brar-se um novo paradigma digno dos tempos do “Melhorar o que está bem e corrigir o que está mal”, na prática vemos erigir-se outro que não temos certeza de que seja o mais apropriado.

Como é lógico, estes financiamentos de instituições es-trangeiras permitirão, certamente, que os artistas, os colec-tivos, as associações e os empreendedores culturais con-cretizem os seus projectos, mas eles podem, desde já, ajudar a anular o que resta do orgulho, do respeito e da consideração que eles podem ter pelas instituições culturais angolanas muito frágeis, a precisar de serem modernizadas, porque ainda funcionam, maioritariamente, com os modelos dos anos 80 do século passado.

Na prática, o que está realmente a acontecer é que evo-cando a nova Lei de Mecenato ou ao papel que o novo tecido empresarial deve desempenhar para o desenvolvimento das artes e da cultura, através do ministério de tutela (e aqui a culpa não é, de certeza, dos titulares do mesmo), o Estado angolano parece mais tendente à retracção absoluta neste domínio (e também, por exemplo, no do desporto)do que decidido a enfrentar o assunto com agalhas e a optar por um modelo mais sensato que, quanto a mim, continua a ser o que permite potenciar o valor excepcional e inesgotável dos produtos artísticos e culturais como veículos de criação de riqueza.

Sendo o petróleo um recurso que muito provavelmente esgotar-se-á neste século, seguramente nos próximos 80 anos, nós já podemos dizer que as artes e a cultura em Angola surgiram muito antes das descobertas das jazidas, existiram durante o tempo em que elas foram exploradas e sobreviverão à economia do petróleo, são mais perenes. É, pois, tempo de fazermos com as artes e a cultura, em Angola, o mesmo (ou melhor, ainda) do que fizemos com a indústria dos hidrocarbonetos,\ garantindo tanto a sua reestruturação profunda quanto a sua autosustentabilidade.

A cultura não é, propriamente, “qualquer coisa”. Junto com as energias renováveis e a economia digital, as indús-trias culturais e criativas terão, em finais do século XXI e adiante tanta (ou mais) importância que o petróleo teve no século passado. São uma espécie de “novo petróleo” das economias.

Entretanto, antes que o “ouro negro” acabe, urge financiar bem as artes e a cultura já, para que ocupem o lugar que lhes corresponde na economia do conhecimento, na cons-trução de novos imaginários e da autoconsciência colectiva e, sobretudo, no orgulho da Nação que estamos a construir: este será o maior retorno que podemos ter.

Antes que o

petróleo acabe

A Lei da Requisição Civil

e o “medo” dos sindicatos

“É a nós que cabe

a tarefa de construir

uma África próspera

e com paz, uma África

capaz de alcançar

as aspirações

estabelecidas

na Agenda 2063”

Cyril Ramaphosa,

Chefe de Estado da África do Sul e actual presidente em exercício da

União Africana

“O país tem alguma

dificuldade em dispor

de estatísticas fiáveis

sobre o número

de menores em

situação de

vulnerabilidade,

que se encontram

a viver ou a passar

dias nas ruas”

Paulo Kalesi,

Director-geral do Instituto Nacional da Criança (INAC)

“Nestas condições,

é complicado saber,

ao certo, quantos

menores vivem

nas ruas do país, daí

não arriscarmos

avançar dados gerais”

Idem

“Eu viajo com

frequência para

a Namíbia em

negócios e para visitar

familiares e às vezes

viajo com a Air

Namíbia. Esta medida,

com certeza, vai criar

muitos embaraços

a nós comerciantes,

aos estudantes

e às pessoas que

realizam consultas

médicas regulares

neste país”

Mohamed Salin,

Empresário nigeriano, que trabalha em Angola referindo-se à suspensão

dos voos Namíbia-Angola

“As várias linhas

de água que partem

da Humpata e

escorrem até ao monte,

estão totalmente

saturadas ao ponto

de criarem embaraços

ao sistema de

drenagem pluvial

instalado durante

as obras

de reabilitação

do troço Namibe e

Lubango, há mais de

dez anos”

Felisberto Gonçalves, Geólogo

C I T A Ç Õ E S

VIGAS DA PURIFICAÇÃO | EDIÇÕES NOVEMBRO

Teixeira Cândido*

O Parlamentodiscute neste momento a Lei da Requisição Civil, já aprovada na generalidade. Os sindicatos não foram tidos nem achados, quer pelo proponente, o Executivo, representado pelo Ministério da Justiça, quer pelo Parlamento.

A Lei Sindical (Lei nº21/92, de 28 de Agosto) impõe a quem se presta a legislar matérias laborais uma audição prévia aos sindicatos, aos quais compete emitir um parecer prévio, nos termos do artigo 7º, nº1, al d). Este

pres-suposto foi pura e simplesmen-te ignorado pelo proponensimplesmen-te. Os sindicatos consideram que esta proposta, nos termos em que se apresenta, é, por um lado, um cheque em branco para o requisitante, e por outro, um chicote susceptível de asfi-xiar o Direito à Greve. E quais são as razões que fundamen-tam o “medo” dos sindicatos? Primeiro, a proposta de lei apresenta um catálogo de ser-viços sujeitos à requisição civil que não cabem no conceito de serviços “inadiáveis e imprete-ríveis", conforme reza a Cons-tituição da República de Angola, nos termos do artigo 51º, nº3. A doutrina nos permite com-preender melhor o que sejam serviços “inadiáveis e imprete-ríveis”. De acordo com o espe-cialista português em Direito de Trabalho, Leal Amado, ser-viços inadiáveis e impreteríveis “são aqueles que não podem deixar de ser satisfeitos, que se torna imperioso satisfazer, sendo socialmente intolerável que sejam sacrificados”.

Do conceito, depreende-se facilmente que serviços como

o da Televisão e o da Rádio, assim como o da Educação, para citar apenas alguns apresentados pela proposta da Lei da Requisição Civil, nos termos do artigo13º, não se encaixam no conceito de “inadiáveis e impreteríveis”. É aliás este o en-tendimento do legislador de 1991 ( Lei da Greve, nº23/91, de 15 de Junho). Para os sindicatos, a

intenção da proposta é arrolar o maior número de serviços cujas associações têm-se mostrado “activas”, ainda que não caibam no tal conceito. Segundo, a proposta de Lei da Requisição Civil oferece ao requisitante a faculdade de fixar o conceito de serviços mínimos, assim como de-terminar os trabalhadores abrangidos pela re-quisição civil. É um manifesto atentado ao Direito à Greve, pois o conceito de serviços mínimos do requisitante pode se traduzir em serviços normais, destruin-do deste modestruin-do o impacto de uma greve.

E, em caso de recusa por par-te dos trabalhadores em prestar serviços mínimos, estes correm o risco de serem responsabili-zados criminalmente, acusados de desobediência, nos artigo 9º, nºs 1 e 2, da proposta de Lei da Requisição Civil.

Terceiro, as garantias ofere-cidas aos requisitados são té-nues. A proposta de Lei da Re-quisição Civil oferece aos traba-lhadores a possibilidade de impugnarem judicialmente o ac-to de requisição, porém não avança qual seja o efeito. Ou seja, suspensão da requisição ou a sua execução, enquanto se aguarda a decisão do tribunal. Por fim, a possibilidade ofe-recida ao requisitante de publi-car posteriormente o acto de requisição, no Diário da Repú-blica, pode resultar em abusos de poder, conhecendo o histó-rico de relacionamento dos go-vernadores provinciais com os sindicatos. Muitos trabalhadores conheceram as cadeias pela sim-ples razão de pretenderem exer-citar um direito fundamental e constitucional.

Do exposto, não restam dúvidas de que a Lei da Requisição Civil, com a configuração que apre-senta, é um ataque ostensivo ao Direito à Greve.

* Secretário Geral do Sindicato dos Jornalistas Angolanos

Do conceito,

depreende-se

facilmente que

serviços como

o da Televisão e o

da Rádio, assim

como o da Educação,

para citar apenas

alguns apresentados

pela proposta

da Lei da Requisição

Civil, nos termos

do artigo 13º, não

se encaixam no

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“inadiáveis e

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