Cidade Barroca
Introdução
Entendida como um espaço político, centro
poderoso de decisão e de grande importância
estratégica, a
cidade medievo-renascentista
do
século XVI sofreu intervenções que permitiram a
abertura de ruas e praças, edificadas dentro dos
princípios da simetria e da proporção.
Os ideais estéticos da
RENASCENÇA
defendiam o alargamento de vias, as quais
deveriam confluir para construções
monumentais, agora destacadas em praças
ajardinadas, repletas de fontes esculturais,
Sendo concebida como
ARTEFATO HUMANO, a cidade deveria ser a mais geométrica possível e seu
crescimento ditado pela harmonia e pela Razão.
As partes da cidade teriam uma espécie de qualidade
expressiva, tal como as partes do edifício, que manteriam um esquema de
relações lógicas simples: de proporção e posição;
de grandeza e medida.
Place des Vosges, antiga Place Royale
(1609, Paris França)
Plaza Mayor
(1729/55, Salamanca Espanha)
Em I Quattro Libri
dell’Architettura (1570), ANDREA PALLADIO (1508-80) estabeleceu as premissas de concepção tanto da arquitetura como
da cidade, as quais se baseavam em uma atitude
de lógica e de produção mental, estabelecendo a
relação das partes e a harmonia das suas grandezas, o que foi muito bem exemplificado
através do projeto de suas villas. Andrea Palladio (1508-80) Villa Rotonda (1566/70, Vicenza) Villa Emo (1558/64, Fansolo di Vedelago)
Palladio procurou reconduzir a cidade existente de
VICENZA ao paradigma da cidade ideal, não através de intervenções radicais de reforma morfológica,
mas pela coerência de imagens – ligadas aos
diversos tipos de edifícios (teatro, palácio, basílica e igreja) – referidas a uma coerência de estados.
A partir de PALLADIO, a relação cidade-objeto
público passou a reger a ordem urbana – ou seja, a imagem da parte pelo todo
– e a instituição urbana –
como o teatro, a igreja ou o palácio – tornou-se o elemento que determinava
o “espaço-nó” da cidade, este entendido como lugar
importante e simbólico (D’Alfonso & Samsa, 2006).
Palazzo Chiericati
(1549/57, Vicenza)
Andrea Palladio (1508-80)
Palazzo della Razione
Urbanismo barroco
No século XVII até meados do XVIII, a arte BARROCA
promoveu um
prolongamento em escala do Renascimento e, embora
negasse suas normas rígidas e proporções imutáveis, manteve a
perspectiva como elemento primordial na concepção espacial e da valorização
das vias e monumentos (Kostof, 1991).
Piazza del Popolo
(1589/1680, Roma Itália) Carlo Rainaldi (1611-91) Piazza Navona (1648/57, Roma) G. L. Bernini (1598-1680)
A classe dirigente passou a ser formada
pelos reis e suas
cortes, por nobres ricos (burguesia) e pelo novo
clero especializado da CONTRA-REFORMA. Palais de Versailles (1662/70) L. Le Vau (1612-70) e J. Hardoin-Mansart (1646-1708) Jardin (1668/85) de André Le Nôtre (1613-1700) Vista aérea
A CIDADE BARROCA teve que atender às aspirações estéticas aristocráticas pela
grandiloqüência de suas formas – expressão de poder, de ordem e de controle social – e, ao mesmo
tempo, aos interesses burgueses pelo seu aspecto socioeconômico (Goitia, 2003).
Place Stanilas
ant. Place Royale
(Séc. XVII, Nancy, França)
De um lado, alguns
centros urbanos europeus adquiriram as feições de
verdadeiras cidades
ABSOLUTISTAS
(Paris, Roma e Viena) enquanto de outro, alguns
centros importantes se transformam em cidades essencialmente LIBERAIS ou propriamente BURGUESAS (Amsterdã, Bruxelas e Londres). Amsterdã (Holanda)
Vista geral de Viena
(Áustria)
Roma (Itália)
Opondo-se ao classicismo, a
EXPRESSÃO BARROCA
era mais sensual e movimentada, sendo composta por formas esculturais onduladas, composições exuberantes e traçados grandiloqüentes. Passando a valorizar a contribuição espontânea
dos artistas – em seu sentido maneirista –, era
literalmente uma arte
“aberta”, que permitia uma multiplicidade de
significados.
Place de la Concorde
Jardin des Tuileires
Place Vendôme Palais Royal Musée du Louvre Vista aérea de Paris (França)
A ARTE BARROCA
voltou-se ao estudo das qualidades
não-objetivas, mas subjetivas e
sentimentais, servindo como instrumento para controlar os sentimentos coletivos ou exprimir os individuais, oscilando entre o conformismo e a evasão ou o protesto (Benévolo, 2001).
L'Apoteosi dell'Ordine di Jesuiti
(1661/94, Roma Itália)
Andrea Pozzo (1642-1709)
Pluto e Proserpina
(1621/22, Roma Itália)
Houve ainda inegáveis avanços nas ciências e na filosofia – iniciados por GALILEU GALILEI (1564-1642) e por RENÉ DESCARTES (1596-1650) –, além
da progressiva supressão do poder espiritual (Igreja) em detrimento dos interesses do soberano temporal
(Rei), afirmando-se o despotismo e o absolutismo.
Galileo Galilei (1564-1642)
René Descartes (1596-1650)
Midas et Bacchus (1625, Paris)
A cidade tornou-se um espetáculo para os olhos,
emocionante e dinâmico que utilizava um repertório
mais rico que o
renascentista, composto por obeliscos, chafarizes,
estátuas, colunatas e arcadas, além de grandes
planimetrias, traçados radiocêntricos e
ajardinamentos.
Place de la Liberátion
(Séc. XVII, Dijon França)
François Mansart (1598-1666)
Place de la Concorde
(Séc. XVIII, Paris França)
Jacques-Anges Gabriel (1698-1728)
Até o RENASCIMENTO, a arte dos jardins
resumia-se na
apropriação pela cidade de espaços verdes naturais, que eram
cercados e domesticados; ou então no cultivo de áreas verdes domésticas. A partir do BARROCO, os jardins expandiram-se em
amplas praças com desenhos geométricos e escalonados em diversos
planos.
Praça Central
(1580, Zamosc Polônia)
King Circus & Royal Crescent
Eram estes os principais elementos do
URBANISMO BARROCO, característico da Europa dos séculos XVII e XVIII:
a) Traçados de bases renascentistas, guiados pela perspectiva, mas dotados de maior liberdade, movimento e escala, passando a simetria a ser relativa (em composição, mas não em detalhes);
b) Caráter monumental expresso pela busca da
grandiosidade e pela criação de verdadeiras
“cidades-cenário”, o que foi obtido por meio de rasgamento e alargamento de vias, assim como a criação de amplos espaços públicos.
c) Desenho urbano realizado com base na
composição arquitetônica – simetria, ritmo,
dominância de massas compactas e aspecto imponente e sólido das obras –, além da
d) Paisagem concebida como
construção humana, adquirindo assim um
espírito mais arquitetônico artificial e cênico:
proliferam eixos, ruas e avenidas radiais, composições geométricas e a retificação de canais, fontes e espelhos d’água.
Piazza di Spagna
(1690/1720, Roma Itália)
e) Arquitetura urbana
exuberante e retórica, de escala monumental
composta por igrejas, palácios e monumentos para os quais convergiam alamedas arborizadas e consistiam nos principais temas estéticos.
Piazza del Popolo
(1589/1680, Roma Itália)
Carlo Rainaldi (1611-91)
Barroco italiano
O BARROCO originou-se em
Roma, motivado pela Contra-Reforma e pela interpretação
pessoal dos artistas
maneiristas, entre os quais
MICHELANGELO (1475-1564), autor da Piazza del
Campidoglio (1538/1612).
Sob o domínio dos papas, a cidade tornou-se barroca e
sua fisionomia sofreu alterações radicais com o
papa Sixtus V (1521-90).
A Piazza del Campidoglio C Palazzo del Senatore
B Museum D Palazzo dei Conservatori
A
B C
Papa Sixtus V (1521-91)
Plano di Roma
(1588/91)