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RECURSO ORDINÁRIO TRT/RJ PROCESSO N

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Academic year: 2021

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A C Ó R D Ã O 6ª T U R M A

Ementa

O empregado faz jus à reparação moral por ficar impedido de obter aposentadoria especial do Órgão Previdenciário quando fornecido pelo empregador laudo não compatível com as reais condições insalubres de trabalho, além da indenização por dano material relativa às diferenças entre os proventos recebidos proporcionalmente ao tempo de serviço e o valor integral da aposentadoria a que faria jus em condições especiais (artigo 5º, incisos V e X da CF/88 e 186 e 927, do CC)

Vistos, relatados e discutidos estes autos de RECURSO ORDINÁRIO em que são partes OLÍMPICO LUIZ GUSMÃO, como Recorrente, e

PETROBRAS PETRÓLEO BRASILEIRO S.A., como Recorrida. Relatório

O Autor interpõe, às fls. 198/204, Recurso Ordinário contra a sentença de fls. 188/189, complementada pela decisão de Embargos de Declaração que corrigiu erro material da sentença, à fl. 196, proferida pelo Dr. Fernando Reis de Abreu, Juiz Titular da 1ª Vara do Trabalho de Macaé, que julgou improcedente o pedido. Sustenta que o empregador foi responsável pela mora no fornecimento de laudos técnicos para comprovar o trabalho prestado em condições insalubres, impedindo-o de obter a aposentadoria integral antes do ano de 2001. Postula indenização por dano material decorrente do recebimento de apenas 70% do salário de contribuição, e por dano moral por ato ilícito praticado pela Recorrida no fornecimento de laudo não correspondente ao trabalho insalubre efetivamente exercido, além da demora na entrega do documento necessário à aposentadoria, obrigando-o a permanecer mais tempo no emprego do que seria necessário.

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Contrarrazões, nos autos, às fls. 212/214.

Voto

Conhecimento

Conheço do Recurso Ordinário porque preenchidos os requisitos legais de admissibilidade.

Mérito

Da indenização por dano material

O Autor alega que foi impedido de aposentar-se com salário integral e com redução de tempo de serviço por culpa do empregador que forneceu, somente após um ano do requerimento, um laudo que indicava trabalho com níveis de ruído não correspondentes à realidade laborativa, além de não relatar a exposição habitual e permanente a agentes químicos hidrocarbonetos. Alega que em razão deste fato, o INSS não concedeu a aposentadoria especial a que faria jus, percebendo apenas 70% do salário de contribuição.

O Julgador negou o pedido formulado nos autos, sob o seguinte fundamento:

“Não logrou o laudo pericial produzido nos autos, contudo, comprovar a existência efetiva de ambiente insalubre, eis que o I. Perito mediu uma média ponderada de 92dB. Ora, se os EPI's fornecidos pela reclamada atenuavam 15 dB, o ruído baixava para os níveis aceitáveis de tolerância. Embora o I. Perito diga que os motores anteriores eram mais ruidosos e os EPI's menos eficazes, não há qualquer medição neste sentido.

Se o INSS passou a aceitar a DSS 8030 sem a redução oferecida pelo protetor auricular, trata-se de fato estranho à reclamada. Desta forma, mesmo com o ruído dentro dos níveis aceitáveis o órgão previdenciário passou a conceder a aposentadoria especial.

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(...)

Assim, improcedem todos os pedidos, eis que o fornecimento tardio ao autor dos documentos não foi o fato preponderante para a não-concessão da aposentadoria, mas sim a mudança de regras do órgão previdenciário, não havendo culpa da reclamada”(fl. 189)

O laudo técnico emitido pela Petrobrás como exigência para a aquisição de aposentadoria especial apresenta a conclusão, in verbis:

“10. Conclusão:

Considerando a metodologia utilizada e suas intrínsecas limitações, concluímos que o empregado esteve exposto ao nível médio de ruído de 87,3 dB(A) correspondente a uma dose de 205%. O uso de protetor auricular fornecido pela companhia ao empregado durante todo o tempo de exposição ao ruído atenua essa exposição a 77 dB(A), correspondendo a uma dose de 49%. Esta exposição é inferior ao limite de tolerância estabelecido na legislação trabalhista e não é considerada como insalubre nos termos dessa legislação.” (fl. 15).

A carta de concessão emitida pelo INSS indica que o Autor obteve a aposentadoria por tempo de contribuição proporcional a 30 anos, 8 meses e 24 dias (fl. 80), por não considerados os períodos de 19.04.95 a 31.08.97 e de 08.07.98 a 31.07.99 para efeito de aposentadoria especial por falta de provas da exposição a agente de risco (fl. 99).

O laudo pericial produzido nos autos apurou que, durante todo o período laborativo, o Demandante esteve “exposto a riscos químicos e físicos acima dos limites de tolerância previsto na legislação”, concluindo ainda que, embora a Ré estivesse implementando medidas para neutralizar os agentes agressores, a partir de 1997, o ruído encontrado foi de 92,2 dB, considerado insalubre (fl. 112).

Diante da conclusão da perícia técnica, foi deferido o requerimento do Autor para remessa de ofício ao INSS com indagações pertinentes aos parâmetros adotados para a concessão da aposentadoria especial (fl. 158).

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O Órgão Previdenciário respondeu aos quesitos do Autor, esclarecendo inicialmente:

“3. O Laudo apresentado pela empresa Petróleo Brasileiro S.A. relata uso de EPI eficaz, com atenuação de 10,3 dB ficando dentro dos limites de tolerância, de 77dB.

(...)

Resposta aos quesitos apresentados:

A. Se as informações prestadas pela Petrobrás ao INSS (fls. 12 à 20) correspondem às contidas no laudo técnico (fls. 108 à 123).

R. Visto as atividades laborativas do reclamante, apresentadas à fl. 74, a resposta é sim.

B. Se, para fins de caracterização da aposentadoria especial, a realidade atestada pelo perito (fls. 108 a 123) seria bastante, desde que normalmente fornecida a informação pela Petrobrás.

R. Sim, desde que esteja embasada nos critérios técnicos amparados na OI 165 de 26.03.07, fundamentados pela IN 20/07.

C. Qual o prejuízo sofrido pelo segurado, em matéria de tempo em razão de se ter informado o INSS quanto ao teor das condições de trabalho conforme fls. 12 à 20, e não como retratado na perícia.

R. Não há prejuízo nenhum para o segurado." (fls. 177/178)

Tendo em vista a resposta do INSS, novamente, o i. Perito do Juízo foi instado a manifestar-se sobre o nível de ruído apurado com o uso de EPI, bem como a indicar a concentração de agentes químicos aos quais ficava exposto o Autor, nos termos das Normas Regulamentares existentes (fls. 182/183). Foram então prestados os seguintes esclarecimentos:

“Meritíssimo, de acordo com as medições realizadas nos local às fls. 117 em que o nível de ruído vai a uma máxima de 131.9 decibéis é que a média ponderada de 92 decibéis, e há controvérsia sobre o uso de EPIs nos anos anteriores a 1998, também não temos informações sobre o nível de redução de ruído dos EPIs fabricados

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antes desta data. Pela legislação do INSS o trabalho em ambientes que apresentem ruído acima de 90 decibéis são considerados insalubres. Os níveis atuais de redução dos EPIs é de 15 decibéis, por estes abafadores o índice de ruído estaria neutralizado, mas os motores da época eram mais ruidosos do que os atuais e não havia obrigatoriedade do uso efetivo de EPIs e também o Reclamante manuseava graxas e solventes para lubrificar os motores. Não foi apresentado nos autos a entrega de EPIs para os produtos químicos. Podemos concluir que o reclamante estava exposto a trabalho insalubre.” (fl. 184)

Não há dúvidas de que a conclusão do i. Perito, ratificada pelos esclarecimentos prestados à fl. 184, divergem da avaliação realizada pela Petrobras que havia concluído pela ausência de insalubridade na atividade laborativa exercida pelo empregado (fl. 15).

As últimas informações prestadas pelo Perito indicam que o laudo apresentado pela Petrobras induziu o Órgão Previdenciário a considerar que os níveis de ruído estavam neutralizados durante o tempo de serviço prestado pelo Autor, fato que não correspondia à realidade, em razão do maquinário existente à época e por não comprovado o fornecimento regular de EPIs.

Não é possível afastar a prova técnica produzida por Perito habilitado que esteve no local de trabalho do Autor e aferiu os níveis de ruído a que estava submetido em comparação com laudo particular, elaborado unilateralmente pelo empregador para servir à verificação das condições de trabalho especiais do empregado.

Por todo o exposto, a Recorrida é responsável pelos prejuízos materiais causados ao Autor em decorrência de ato ilícito praticado, condenando-a na obrigação de emitir novo laudo e DSS 8030 ao INSS com as informações corretas sobre a atividade insalubre a que estava submetido o Autor, durante todo o contrato de trabalho, bem como no pagamento de indenização equivalente à diferença entre a aposentadoria percebida e o valor de 100% a que faria jus pela aposentadoria especial do INSS, deferindo parcelas vencidas e as vincendas enquanto perdurarem os prejuízos, cessando a obrigação em caso de revisão do benefício pelo Órgão Previdenciário, com fulcro nos artigos 186 e 927 do Código Civil.

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realizada pela Petros porque postulada no item 4 do rol de pedidos sem correspondente causa de pedir.

O provimento é parcial.

Da indenização por dano moral

O ato lesivo praticado pelo empregador, ao fornecer informações dissonantes da realidade laborativa do empregado, o impediu de fazer valer o legítimo direito à aposentadoria especial pelo INSS em razão da exposição a agentes nocivos durante o contrato de trabalho.

A atitude da Ré forçou o empregado a permanecer laborando além do tempo reduzido previsto pela lei previdenciária, colaborando ainda mais para os efeitos danosos à sua saúde.

Os prejuízos de ordem extrapatrimonial configuram o dano moral passível de reparação pecuniária, na forma do artigo 5º, incisos V e X da CF/88 e 186 e 927, do CC.

Quanto à fixação do valor da reparação deve-se ter em vista o critério reparatório, de modo a se compensar pecuniariamente o ofendido, ainda que isto não resulte na convalescença plena da lesão, que por ser de natureza moral acarreta chaga incurável na pessoa, e também o critério pedagógico e punitivo, de modo a impor ao ofensor, na reparação, pagamento que comprometa sensivelmente o seu patrimônio de forma que não se sinta mais estimulado em repetir a falta.

Considerando a ausência de legislação específica quanto aos parâmetros adequados para cada reparação moral, é preciso arbitrar o valor em confronto com as lesões mais graves, que importam em afronta diária à intimidade, honra e dignidade do empregado, como no caso da revista íntima, bem como em casos que resultam em morte do trabalhador, de forma a evitar o pagamento de indenizações desproporcionais à lesão.

O Demandante deixou o valor indenizatório ao arbítrio do Julgador, razão pela qual fixo a condenação na quantia de R$ 20.000,00, que se mostra adequada à reparação da ofensa sofrida pelo Autor, em consonância com o princípio da razoabilidade, consubstanciado no § único do artigo 944 do Código Civil.

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Dou provimento.

Dos honorários advocatícios

São devidos, no percentual de 15% sobre o valor líquido apurado na execução, haja vista que presentes os requisitos da Lei 5584/70 e da Súmula nº 219 do C.TST, estando o Autor assistido pelo Sindicato da categoria profissional e por constar da inicial a insuficiência de recursos para arcar com as despesas processuais.

Dou provimento.

Juros e correção monetária na forma da lei, observada a Súmula nº 381, quanto à época própria para a correção monetária.

Em cumprimento à norma do parágrafo único do artigo 43, da Lei 8.212/91, impõe-se declarar que as parcelas da condenação têm natureza indenizatória e não estão sujeitas às contribuições sociais e fiscais.

Custas de R$ 1.000,00, pela Ré, sobre o valor arbitrado à condenação de R$ 50.000,00.

Pelo exposto, conheço do Recurso Ordinário e, no mérito, dou

provimento parcial, para julgar procedente em parte o pedido, condenando a Ré na

obrigação de fornecer novo laudo e DSS 8030 ao INSS, com as informações corretas sobre a atividade insalubre a que estava submetido o Autor, durante todo o contrato de trabalho, no pagamento de indenização equivalente à diferença entre a aposentadoria percebida e o valor de 100% a que faria jus pela aposentadoria especial do INSS, em relação às parcelas vencidas e vincendas, enquanto perdurarem os prejuízos, cessando a obrigação em caso de revisão do benefício pelo Órgão Previdenciário, na indenização por dano moral no valor fixado em R$ 20.000,00 e nos honorários advocatícios de 15% sobre o valor líquido apurado em execução, na forma da fundamentação supra.

Dispositivo

A C O R D A M os Desembargadores da Sexta Turma do

Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, CONHECER do Recurso Ordinário e, no mérito, DAR PROVIMENTO PARCIAL, para julgar

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procedente em parte o pedido, condenando a Ré na obrigação de emitir novo laudo e DSS 8030 ao INSS, com as informações corretas sobre a atividade insalubre a que estava submetido o Autor, durante todo o contrato de trabalho, no pagamento de indenização equivalente à diferença entre a aposentadoria percebida e o valor de 100% a que faria jus pela aposentadoria especial do INSS, em relação às parcelas vencidas e vincendas, enquanto perdurarem os prejuízos, cessando a obrigação em caso de revisão do benefício pelo Órgão Previdenciário, na indenização por dano moral no valor fixado em R$ 20.000,00 e nos honorários advocatícios de 15% sobre o valor líquido apurado em execução, nos termos do voto do Desembargador Relator.

Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2011.

DESEMBARGADOR THEOCRITO BORGES DOS SANTOS FILHO

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