• Nenhum resultado encontrado

CUIDADO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE JUNTO À POPULAÇÃO MASCULINA

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "CUIDADO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE JUNTO À POPULAÇÃO MASCULINA"

Copied!
20
0
0

Texto

(1)

ARTIGO ORIGINAL DE TEMA LIVRE

CUIDADO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE JUNTO À POPULAÇÃO MASCULINA

Rebeca Valentim Leitea Ana Paula Chancharulo de Morais Pereirab

Resumo

O trabalho do Agente Comunitário de Saúde para a vinculação e acompanhamento dos usuários pelas Equipes de Saúde da Família é primordial para o funcionamento dessa estratégia da Atenção Básica, necessitando a população masculina ser notada, devido à baixa frequência neste nível de atenção. Este estudo tem como objetivo compreender a percepção e as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde junto à população masculina. Trata-se de estudo de caso, de abordagem qualitativa, do tipo descritivo-exploratório, realizado com Agentes Comunitários de Saúde de quatro Equipes de Saúde da Família de um município da Região Metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil. A coleta de dados foi feita por meio de questionário semiestruturado e para a análise dos dados utilizou-se a técnica de Análise de Conteúdo. Os resultados apontaram quatro categorias analíticas: Ser Homem na Perspectiva dos Agentes Comunitários de Saúde; O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde e os Homens; Barreiras do Trabalho do Agente Comunitário de Saúde com os Homens; e Visão dos Agentes Comunitários de Saúde sobre a Promoção do Acesso Masculino em seu Trabalho. Concluiu-se que os Agentes Comunitários de Saúde utilizaram questões de gênero para explicar o comportamento masculino diante de sua saúde e justificar as facilidades e os limites em seu trabalho direcionado a essa população, assim como realizavam atividades que não correspondiam às suas atribuições. Palavras-chave: Saúde do homem. Trabalho. Agentes comunitários de saúde. Estratégia Saúde da Família.

a Enfermeira. Especialista em Saúde da Família. Salvador, Bahia, Brasil.

b Enfermeira. Doutora em Medicina Preventiva. Professora Assistente da Universidade do Estado da Bahia. Salvador,

Bahia, Brasil.

Endereço para correspondência: Rua Silveira Martins, número 2555, Cabula, Salvador, Bahia, Brasil. CEP: 41150-000.

E-mail: rebeca.valentiml@gmail.com

(2)

Revista Baiana

de Saúde Pública THE CARE OF THE COMMUNITY HEALTH AGENT FOR THE MALE POPULATION Abstract

The work of the Community Health Agent for bonding and monitoring users by the Family Health Teams is essential for the operation of Primary Care strategy, requiring male population to be noticed, due to its low frequency at this level of attention. This study aims to understand the perceptions and habits of Community Health Agents with respect to the male population. It is a descriptive and exploratory qualitative approach case study performed with Community Health Agents of four Family Health Teams of a metropolitan town in Salvador region, Bahia, Brazil. Data was gathered by means of a semi-structured questionnaire and for the analysis we used the Content Analysis technique. Results show four analytical categories: Being a Man in the Perspective of Community Health Agents; The Work of the Community Health Agent and the Men; Community Health Agents’ Barriers when Working with Men; and Community Health Agents’ View on the Promotion of Male Access in their Work. Interviews were conducted on May 2016. Community Health Agents relied on gender issues to explain male conduct towards health, and to justify easiness and limits of their work with this population. It was also found that Agents carry out activities that do not correspond to their duties.

Keywords: Men’s health. Work. Community health workers. Primary health care.

EL CUIDADO DEL AGENTE COMUNITARIO DE SALUD JUNTO A LA POBLACIÓN MASCULINA

Resumen

El trabajo del Agente Comunitario de Salud para la vinculación y acompañamiento de los usuarios por los Equipos de Salud de Familia es primordial para el funcionamiento de esta estrategia de la Atención Primaria de Salud, necesitando la población masculina de atención por la baja frecuencia en este nivel de atención. Este estudio tiene como objetivo comprender la percepción y las prácticas de los Agentes Comunitarios de Salud junto a la población masculina. Tratase de un estudio de caso, de abordaje cualitativo, descriptivo y exploratorio, realizado con Agentes Comunitarios de Salud de cuatro Equipos de Salud de Familia de una ciudad de la Región Metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil. La coleta recolección de datos fue realizada por medio de cuestionario semiestructurado, y para el análisis de datos fue utilizada la técnica de Análisis de Contenido. Los resultados apuntaron cuatro categorías analíticas: Ser Hombre en la Perspectiva de

(3)

los Agentes Comunitarios de Salud; El Trabajo del Agente Comunitario de Salud y los Hombres; Barreras del Trabajo del Agente Comunitario de Salud; y Visión de los Agentes Comunitarios de Salud sobre la Promoción del Acceso Masculino en su Trabajo. Concluyóse que los Agentes Comunitarios de Salud utilizaron cuestiones de género para explicar el comportamiento masculino delante de su salud y justificar las facilidades y los límites en su trabajo dirigido a esta población, así como realizaban actividades que no correspondían a sus atribuciones.

Palabras clave: Salud del hombre. Trabajo. Agentes comunitarios de salud. Estratégia Salud de Família.

INTRODUÇÃO

A Atenção Básica (AB), nível do Sistema Único de Saúde (SUS) mais complexo da rede de saúde, objetiva promover atenção integral à saúde da população com melhoria das condições de vida tanto individual quanto coletivamente, mediante a promoção da saúde, prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde1.

A criação do Programa de Agentes Comunitários em Saúde (PACS), em 1991, proporcionou a organização municipal da AB, e com isso aproximou e ampliou o acesso da comunidade às ações e serviços básicos de saúde. A criação do Programa Saúde da Família, em 1994, proporcionou a expansão da AB, que junto com o PACS, possibilitou a superação do modelo tradicional de organização da AB para o da Estratégia Saúde da Família (ESF)2.

O trabalho do Agente Comunitário de Saúde (ACS) vislumbra fortalecer o vínculo da Equipe de Saúde da Família (EqSF) com a comunidade e com as famílias, na medida em que identifica sinais e situações de risco, orienta as famílias e a comunidade e encaminha/comunica à equipe os casos e situações que demandam algum tipo de intervenção1.

Considerando que dentre os grupos populacionais sob a responsabilidade do ACS, o masculino é o que menos frequenta as Unidades de Saúde da Família (USF), em comparação ao feminino3-4, associado ao perfil de risco e de adoecimento dos homens, o Ministério da

Saúde (MS) elaborou uma política voltada a esse grupo específico.

A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), instituída em 20095, visa organizar ações de saúde voltadas aos homens com idade entre 20 e 59 anos,

objetivando orientar serviços e ações de saúde, fomentar mudanças de paradigmas relacionados à percepção masculina em relação à sua saúde e aos cuidados com ela, e ao modo de acolher o homem nos serviços de saúde, fazendo-os sentir-se parte integrante desses serviços. Além disso, tem como desafio mobilizar os homens a reivindicar seu direito à saúde, mediante a

(4)

Revista Baiana

de Saúde Pública sensibilização e a politização dessa população quanto ao reconhecimento e expressão de suas necessidades sociais e de saúde, a fim de empoderá-los6.

A PNAISH estimula, assim, a reflexão sobre os conceitos de gênero e masculinidade, já que estes estão intimamente ligados à temática abordada. O conceito de gênero está relacionado ao papel construído pela sociedade para homens e mulheres. Já masculinidade, envolve um conjunto de características, valores, atribuições e condutas esperadas por parte dos homens em determinada cultura7.

Tanto determinadas características atribuídas ao gênero masculino, quanto determinadas masculinidades influenciam as principais causas de óbitos em homens com idade entre 20 e 59 anos no Brasil, que no ano de 2013, conforme Classificação Internacional de Doenças 10ª Revisão (CID-10), foram causas externas, doenças do aparelho circulatório e neoplasias8, e as morbidades mais frequentes de internação no mesmo ano, foram as lesões

por envenenamento e alguma outra consequência de causas externas, doenças do aparelho digestivo e doenças do aparelho circulatório9. Esse panorama aponta para o papel relevante que

a AB pode ter na redução dessas ocorrências após a implementação e qualificação das ações direcionadas à população masculina.

Esse contexto, juntamente à importância do trabalho do ACS, principalmente na promoção do vínculo entre o homem e a EqSF, bem como do autocuidado masculino, justificam a elaboração deste estudo, que tem como objetivo compreender a percepção e as práticas dos Agentes Comunitários de Saúde junto à população masculina.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de estudo de caso, de abordagem qualitativa, do tipo descritivo- -exploratório que integra o projeto de pesquisa de conclusão de residência “A Percepção e a Prática do Agente Comunitário de Saúde Junto à População Masculina”. A pesquisa foi realizada em uma USF que contava com quatro EqSF e um total de 31 ACS, localizada em um município da Região Metropolitana de Salvador, Bahia, Brasil. A escolha dessa unidade decorreu do fato de se tratar do serviço onde eram realizadas as atividades de estágio-trabalho de um Programa de Residência Multiprofissional do Estado da Bahia.

Para seleção dos ACS elegeu-se como critérios, estar há mais de um ano na equipe e trabalhando no período da coleta de dados. Pela possibilidade de um universo de variáveis, o número de sujeitos foi estabelecido por inclusão progressiva, sendo cessada pelo critério de saturação. Durante a coleta de dados foram aproveitados os espaços de reunião das equipes e encontros com os ACS para apresentar o estudo e convidá-los a participar. Aos que aceitaram,

(5)

se marcou um dia para a realização da entrevista. A pesquisa foi realizada com nove ACS, sendo dois da EqSF A, dois da EqSF B, três da EqSF C e dois da EqSF D.

Os dados foram coletados em maio de 2016, por meio de entrevista semi- -estruturada que buscava caracterizar os sujeitos da pesquisa (sexo, idade, escolaridade, tempo de atuação na equipe) e compreender o objeto de estudo. As entrevistas foram gravadas mediante consentimento do entrevistado, possibilitando uma análise mais profunda e fiel do conteúdo abordado.

A análise e interpretação dos dados foram realizadas mediante a técnica de Análise de Conteúdo de Bardin10, por meio das etapas: pré-análise; exploração do material

e tratamento dos resultados; inferência e interpretação. Essas etapas resultaram nas seguintes categorias analíticas: “Ser Homem na Perspectiva dos Agentes Comunitários de Saúde”, “O Trabalho do Agente Comunitário de Saúde e os Homens”, “Barreiras do Trabalho do ACS com os Homens” e “Visão dos Agentes Comunitários de Saúde sobre a Promoção do Acesso Masculino em seu Trabalho.”

A pesquisa foi realizada mediante aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade do Estado da Bahia (UNEB) sob n. CAAE: 49996715.2.0000.0057 e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) pelos ACS. Para garantia do anonimato, as identidades dos participantes foram codificadas com a letra E, seguida de um número de 1 a 9, e todos os demais citados tiveram os seus nomes alterados.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O estudo foi realizado com nove ACS, sendo apenas um do sexo masculino. Suas idades variaram de 34 a 58 anos. Em relação à escolaridade, três possuíam o 2º grau completo, três tinham o ensino superior incompleto e três haviam concluído o ensino superior. O tempo de atuação como ACS variou de um ano e meio a dez anos, sendo que mais da metade tinha sete anos ou mais de atuação, mesmo tempo de criação da PNAISH.

SER HOMEM NA PERSPECTIVA DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE Anteriormente à discussão sobre o trabalho do ACS, suas dificuldades e facilidades em relação à população masculina, é essencial conhecer quais são as suas concepções sobre o homem e sua saúde. Esse desvelar pode auxiliar na compreensão do processo de trabalho desses profissionais e como esse pensar interfere no seu agir.

Um dos primeiros aspectos analisados acerca da concepção do ACS sobre “ser homem” envolve as relações de gênero e a(s) masculinidade(s). A responsabilidade financeira

(6)

Revista Baiana

de Saúde Pública da família, ou seja, ser provedor foi uma das atribuições dadas por três desses profissionais aos homens, quando questionados sobre sua visão acerca da saúde masculina.

“O homem volta-se muito para o trabalho, por ser o chefe da casa, ser o cabeça da família... responsável pela família, então eles voltam pouco [para a USF], né, esquece um pouquinho da sua saúde.” (E1).

O trabalho é uma atividade considerada digna e valorizada pelo homem, vinculada à sua função de provedor familiar, conferida através da história, sociedade e cultura nas quais está inserido11-12. Por isso, o homem encontra dificuldades de se afastar de sua atividade laboral

para o cuidado com a saúde, já que a ausência no trabalho poderá acarretar em diminuição do rendimento salarial, desvalorização do empregador sobre a sua necessidade de atendimento em saúde, pouca aceitação do atestado apresentado e o risco de demissão13-15. Considerando

essa realidade, percebe-se a pouca observância dos ACS em relação às implicações que a ausência no trabalho tem no papel exercido pelo homem junto à sua família e a sociedade.

Outra característica que emergiu dos discursos foi o sentimento de invulnerabilidade que os homens têm quando o assunto é riscos e agravos à saúde.

“A mentalidade deles precisa mudar, porque o homem é tido assim... tido como um ser indestrutível, né? E na prática a gente sabe que não é.” (E4).

“Eles vêm [de] uma masculinidade, tão grande, machismo tão grande, que eles se colocam perfeitos como se nada fosse [acontecer] a eles, doença nenhuma.” (E9). O silêncio masculino sobre suas necessidades de saúde sustenta a masculinidade hegemônica, cuja imagem está ligada a características como força, coragem, ser decidido, dentre outras, que afirmam o ideal masculino, mas tem em suas práticas, “inimigos” para a autoconservação16. A exposição de problemas de saúde evidenciaria a fragilidade do homem,

característica atribuída por eles às mulheres12, justificando, assim, o uso da “máscara” da

indestrutibilidade. Logo, no sentimento de invulnerabilidade origina-se a dificuldade ou ausência de autocuidado e da procura por profissionais de saúde, conforme sinalizado pela quase totalidade dos ACS (oito), estando a palavra “resistência” bastante associada à indisposição a este cuidado.

(7)

“Já tem a questão deles se prenderem um pouco de se cuidar [...] Homem é assim... Só se cuida quando tá mal. Quando tem alguma preocupação, alguns sintomas, fica ali guardando, guardando, guardando...” (E1).

“E tem essa questão da resistência a médico. Quanto ao tratamento dentário, é a mesma coisa. Eles têm a mesma resistência. E da medicação também, que às vezes eles falam assim: ‘Ah, Dona E8, me dê qualquer remédio aí que eu tô com dor de cabeça’.” (E8).

Diversos estudos apontam que a procura dos homens por serviços de saúde dá-se pela necessidade destes em recorrer a tratamento de doenças, consultas com médicos e/ou dentistas e para realizar exames quando a fase aguda de seu problema de saúde afeta o desenvolvimento do seu trabalho3,14-15,17, corroborando a ideia expressa pelos ACS

sobre a busca masculina tardia por cuidados de saúde. Porém, ao mesmo tempo, a relação feita pelos profissionais entre o autocuidado e a saúde, juntamente com a construção das concepções masculinas, mantêm-se fundamentadas em modelos de gênero edificados pela sociedade18.

Outro aspecto que aflorou foi a relação de dependência com a companheira para provisão de cuidados à saúde.

“Se ele não tiver uma esposa que tá ali pedindo pra ele fazer um checkup, pra ele ir se cuidar, ele não faz.” (E2).

Existe uma construção social que delega à mulher o papel de cuidadora, embasada nas relações de gênero18. Dessa maneira, é dada à mulher a responsabilidade

pela saúde do homem, desresponsabilizando-o pelo cuidado de sua saúde. Esta questão será abordada sob outro prisma no eixo “Elementos Facilitadores do Trabalho Direcionado aos Homens”.

Ainda em relação ao cuidado à saúde, os ACS trouxeram que homens e mulheres têm comportamentos distintos, achado que também foi verificado em outro estudo19.

“Os hábitos dos homens é diferente das mulheres. As mulheres tão sempre buscando se cuidar, se tratar, fazer prevenção.” (E2).

(8)

Revista Baiana

de Saúde Pública Estudos apontaram atributos opostos entre homens e mulheres acerca do cuidado à saúde14,18-19. Essas divergências estão relacionadas muitas vezes a estereótipos sociais que

diferenciam o “ser homem” e o “ser mulher” pela perspectiva de diferença de gênero18.

Todas as características citadas pelos ACS estão ligadas ao padrão de masculinidade hegemônica, que seria aquela avaliada como o modelo a ser valorizado e seguido, sendo os demais modelos inferiores ou inadequados20. Assim, não há apenas uma masculinidade, mas sim

diversas, já que existem vários tipos de comportamentos e identidades masculinas7, entretanto

nenhum outro modelo de masculinidade foi mencionado pelos ACS.

TRABALHO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE E OS HOMENS

O processo de trabalho do ACS pode contribuir positiva ou negativamente para a aproximação da população com a equipe de saúde e para o seu autocuidado. Neste estudo, o trabalho direcionado ao público masculino, em geral, não diferiu do realizado às demais populações. Mais da metade dos profissionais (seis) referiu orientar/informar os homens sobre as atividades e os serviços da unidade, assim como questões relativas à saúde, com vistas à prevenção.

“[No] meu trabalho cotidiano, geralmente... eu busco falar com os homens e oferecer a ele o que tem de melhor na unidade pra eles.” (E9).

“Na verdade a gente incentiva o ano todo, o tempo todo, que é o nosso trabalho, né? [...] E tá levando a informação e tentando trazer eles pra cá [para a unidade de saúde].” (E3).

A orientação dos indivíduos e famílias sobre a utilização dos serviços disponíveis e o desenvolvimento de atividades de promoção à saúde, prevenção de doenças e agravos, além da vigilância à saúde, sejam coletivas ou individuais, em domicílio ou em espaços comunitários, são atribuições específicas do ACS1. Mediante os discursos, se percebeu que

quase todas as orientações citadas foram dadas no ambiente domiciliar, de forma individual. A criação de grupos poderia ser outra estratégia adotada pelos ACS, buscando, por meio de uma abordagem21-22, a valorização da troca de saberes e experiências para a construção

do conhecimento. Entretanto, apenas dois dos nove sujeitos relataram promover grupos de educação em saúde com a inclusão do homem. Vale registrar ainda, que apenas um sujeito desenvolve atividades, já que o outro tem como responsabilidade a organização, cabendo a outro integrante da EqSF a realização das atividades.

(9)

“Geralmente eu faço grupos pra essa médica fazer, voltado pra parte masculina e feminina, né?” (E9).

“Aí quando eu estava saindo, um deles falou: ‘Dona E08, a gente queria conversar com a sra’ [...] [Foi sobre] a questão das Doenças Sexualmente Transmissíveis [...] ‘A gente vai marcar uma hora aqui na igreja, só homens.’ [Fiquei] de levar isso pra eles, né?” (E8).

A Política Nacional de Atenção Básica traz como competência de todos os profissionais da Atenção Primária à Saúde (APS) a realização de atividades de educação em saúde à população¹, porém, na presente pesquisa, observou-se a pouca utilização pelos ACS dessa valiosa ferramenta de trabalho.

A ausência dos homens nas atividades educativas foi outro aspecto que emergiu na fala de um dos sujeitos do estudo:

“Sempre tem alguma palestra na área e a mulher sempre tá ali presente. Já o homem não. [Em uma atividade] mesmo, que a gente fez na área sobre DST, poderia participar tanto homem como a mulher, mas homem nenhum apareceu. Tem trabalho que pode ser direcionado a eles, mas a resistência deles...” (E7). A dificuldade da formação de grupos de educação em saúde é real, e quando isso envolve a inclusão de homens, o desafio é ainda maior23. Os homens procuram pouco as

atividades preventivas quando vão aos serviços de saúde14-15,17 e isso pode trazer repercussões

negativas a longo prazo.

Para a realização das ações de educação em saúde, a estratégia de escolha é a palestra, que é baseada na transmissão de informação de maneira normativa e prescritiva. Esse conceito de educação em saúde pauta-se naquele que promove mudança de comportamentos por meio do convencimento, da repetição de informações ou estratégias de amedrontamento24. Entretanto,

para o seu desenvolvimento é imprescindível a utilização de práticas pedagógicas que envolvam o diálogo horizontal entre profissionais e usuários, com uma linguagem acessível e comum a todos os participantes, e de um espaço dinâmico de aprendizagem e troca de conhecimentos21.

Ainda nessa direção, três ACS referiram não receber nenhum tipo de apoio da Secretaria Municipal de Saúde em relação à distribuição de materiais para a organização e execução de atividades de Educação em Saúde.

(10)

Revista Baiana

de Saúde Pública “Eu já pensei em fazer isso [grupo de Educação em Saúde], mas eu preciso de suporte, que é o que não tenho, né? A prefeitura não me dá respaldo nenhum para que a gente possa fazer isso. Eu tenho muita dificuldade em conseguir material para isso também.” (E8).

O apoio da gestão municipal é essencial para a execução de ações que favoreçam a saúde do homem, devendo ela ser incentivadora de atividades educativas para a promoção e atenção à sua saúde e promotora de informação, educação e comunicação da PNAISH no município5. Assim, é primordial a compreensão dos gestores acerca da importância da política,

as implicações da sua implementação, a incorporação dessa população em seu planejamento e o apoio aos profissionais para o exercício do trabalho direcionado aos homens.

A visita domiciliar é outra atividade para o acompanhamento da situação de saúde da população masculina.

“Estava vendo... ‘Já fez o exame do toque? [...] [Tem que] ter cuidado com o colesterol... Como é que tá?’ [Vejo] se cuida fisicamente... volto um pouquinho pro casamento... ‘A mulher, como é que tá? A relação...’ Eu trabalho assim, de forma bem ampla.” (E1).

O acompanhamento das pessoas e famílias está contemplado no atributo da longitudinalidade da APS, cuja relação de longa duração com o profissional, proporciona ao usuário benefícios como o melhor reconhecimento dos seus problemas de saúde, melhor atenção preventiva, atenção mais oportuna e adequada, dentre outros25. Vale frisar que essa

atividade é comum a todos os membros das equipes da APS¹.

No decorrer dos anos, os ACS foram incorporando novas atividades, em grande parte com forte característica administrativa, como a realização de marcação de consultas e exames, além da busca por medicamentos na farmácia da Unidade de Saúde da Família para os homens. Essas práticas são consideradas como desvio de função, uma vez que não fazem parte das atribuições dos ACS contidas na Política Nacional de Atenção Básica¹.

BARREIRAS DO TRABALHO DO AGENTE COMUNITÁRIO DE SAÚDE JUNTO AOS HOMENS

Algumas dificuldades no trabalho dos ACS podem se constituir como barreiras para a sua relação com o público masculino. Estes profissionais fizeram referência a diversas

(11)

limitações, tais como: ausência do homem no domicílio durante as visitas, recusa por parte de alguns homens da visita domiciliar realizada pelo ACS, o comportamento masculino, a ausência de apoio da gestão municipal e o fato do ACS ser mulher.

A característica social de provedor familiar foi o principal impeditivo do contato do ACS com os homens:

“Uma das maiores dificuldades acaba sendo exatamente por essa questão... deles não se encontrarem [em casa] por conta do trabalho.” (E4).

“É por que geralmente [...] os adolescente ficam em casa. Os outros que são os maridos, os adultos ficam no trabalho. A gente para achar é muito assim... [somente] no dia de sábado pegando para trabalhar. Aí tem essa dificuldade de durante a semana... às vezes você não encontra o homem com a esposa em casa.” (E5). Esse cenário aponta para a necessidade de repensar o modo de organização da APS no Brasil. Existe uma incompatibilidade entre o funcionamento das Unidades Básicas de Saúde e a disponibilidade da população economicamente ativa, sejam homens ou mulheres. Dois ACS trouxeram como uma possibilidade aproveitar o dia de sábado para tentar estabelecer algum contato com a população masculina residente em sua área de abrangência.

A dificuldade de interação do ACS com a população masculina durante a realização da visita domiciliar foi um outro achado, justificado em parte pelo pouco diálogo entre eles e pela recusa masculina do acesso do ACS ao domicílio quando a esposa/companheira não está em casa.

“Não tem muito diálogo em termos de saúde masculina, com o homem, nas visitas domiciliares... no meu caso, entendeu?” (E6).

“Muitos liberam a gente na porta. ‘Não... minha esposa não tá aqui não. Ela saiu pra tal lugar’. Ou então chama a mulher para atender.” (E9).

Uma das possíveis explicações para a ausência de interação entre ACS e homens, pode estar na ausência de vínculo. Estudo considera que acolher o sujeito/família pode ser “[...] o primeiro passo para ampliar um diálogo que pode gerar possibilidades e oportunidades”26:443.

(12)

Revista Baiana

de Saúde Pública melhore a relação entre o ACS e os homens, como a realização de atividades educativas em locais da comunidade reconhecidamente frequentados pelos homens e reajuste nos horários de realização das visitas domiciliares.

O comportamento do homem, no que se refere à sua condição de saúde, foi outro aspecto identificado como entrave na realização do seu trabalho. Os ACS trouxeram que, na sua rotina, as condutas como o falar pouco, ignorar orientações e se opor ao encaminhamento para consultas, sobretudo para a realização do exame de toque, são as mais recorrentes e prejudicam o acompanhamento do ACS junto à população masculina.

“Assim... a dificuldade que eu tenho é no homem. Ele escutar, absorver... Porque dá trabalho.” (E5).

“A outra dificuldade que eles têm de... reconhecer que eles têm problemas, que eles precisam, né? [E] eles falam muito pouco. Eles quase não falam.” (E3).

Estudo14 obteve relato semelhante dos profissionais entrevistados, quando

apontaram a mentalidade dos homens como desafio para trazê-los ao serviço de saúde. Os trechos demonstram limites na compreensão dos ACS no que se refere ao homem e seus comportamentos, reduzindo-o a características estereotipadas que podem dificultar a relação entre eles. Assim, faz-se necessário discutir o comportamento masculino, sua relação com o trabalho do ACS e a construção de estratégias para superação desses limites por meio de Educação Permanente em Saúde (EPS).

Um aspecto relevante foi o fato de que, para um ACS, o “ser mulher” conforma-se em um limite ao acompanhamento dos homens.

“Talvez se fosse um agente de saúde masculino que tivesse entrevistando ele, ele tivesse mais à vontade pra conversar determinados assuntos.” (E9).

Mas será que o fato do ACS ser homem facilitaria a relação com os homens da sua área de abrangência? Tal circunstância merece ser mais bem explorada em outros estudos, a fim de verificar: Em que medida o fato de ser mulher compromete o estabelecimento de vínculo entre o ACS e a população masculina? Será que isso também ocorre com outras categorias profissionais?

(13)

VISÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE A PROMOÇÃO DO ACESSO MASCULINO EM SEU TRABALHO

A promoção do acesso masculino às ações e aos serviços de saúde deve fazer parte do processo de trabalho dos ACS, sendo necessário analisar também os fatores que o promovem. Os ACS trouxeram em seus diálogos elementos que facilitam seu trabalho cotidiano junto ao público masculino. O primeiro deles é o vínculo, que é percebido como uma estratégia de aproximação, gerado com base na relação de confiança estabelecida entre os ACS e a população masculina.

“Os meninos que usa droga, tudo, fiz amizade com eles. Eles me têm como uma mãe [...] Eu conversando com eles... aí me respeitam, me atende bem... não tem problema não.” (E5).

“Nós somos assim... a gente depende muito da confiança, né? Esse trabalho mesmo que a gente faz, a gente acaba passando para as pessoas um elo de confiança. Então muitas vezes aquele homem não quer, não gosta, acha que não é necessário [...] pela falta de esclarecimento. Mas quando a gente chega, que começa a conversar, ele passa a entender... desde o momento que gera aquele elo de confiança com a gente.” (E4).

Essa relação de vínculo é percebida como uma valise tecnológica utilizada para produzir o cuidado. A tecnologia leve, como são chamadas as relações entre sujeitos materializadas somente no ato, é a principal tecnologia empregada no processo de trabalho desse profissional, que utiliza também as tecnologias leve/dura (conhecimento técnico) e, eventualmente, a dura (instrumentos)27. O vínculo e a empatia são os elementos centrais na

relação de cuidado dos ACS para com a população de sua responsabilidade23. O acolhimento,

dessa forma, é fundamental no trabalho desse profissional de saúde, que está em contato direto com a comunidade e acompanha diretamente os problemas sociais e de saúde da população.

A existência de mulheres na família (esposa, filha) foi outra facilidade identificada pelos ACS, pois elas atuam como mediadoras/facilitadoras.

“A facilidade... é que a gente pode, através da família, tá ali insistindo, insistindo, insistindo... Eu fico aconselhando as esposas, as filhas a tomarem a frente,

(14)

Revista Baiana

de Saúde Pública entendeu? Tipo: ‘Vá lá no posto, marque pra ele, incentive a ir’. ‘Vá com o seu pai’. ‘Vá com seu esposo’. Porque sozinho ele não vai.” (E3).

“Então a gente procurou o quê? Também orientar a mulher pra que a mulher volte também um pouquinho o foco pro homem [...] pra que a mulher empurre o homem pra que ele venha a se cuidar. A gente conta com as mulheres [para] esse incentivo.” (E1).

Essa situação também foi verificada em outra pesquisa19 cuja associação

do cuidado como característica feminina, explica a sua mobilização como aliada ao cuidado do homem3, seja por meio do acompanhamento de tratamentos ou estímulo à realização de

consultas e exames. Estudos sinalizam o relevante papel da mulher para a construção do vínculo entre homens e APS, tendo em vista que estas já estão vinculadas a esse nível de atenção3,19. No entanto, urge a utilização de outras estratégias que promovam o cuidado

do homem com a sua saúde, iniciando-se desde a infância e propiciando, desse modo, o processo de desresponsabilização das mulheres.

O acesso do ACS aos domicílios é percebido como outro promotor do acesso. O fato de estar na casa das pessoas pode representar a quebra de protocolos, que acaba por promover uma maior aproximação desse profissional com as famílias, em especial, os homens.

“Facilidade... Eu tenho acesso ao domicílio.” (E2).

“Sempre tenho acesso. Se eu os encontro, eu os abordo, eu converso... Muitos deles vêm até mim quando me encontra, vêm até mim se têm alguma dúvida...” (E4).

Todavia, cabe lembrar o fato de que alguns ACS apontaram a dificuldade em encontrar os homens durante a realização das visitas domiciliares.

Residir na mesma área das famílias foi visto por dois ACS como uma facilidade: “Aí a gente precisa o quê? De um dia de sábado para poder encontrar as pessoas. Como a gente trabalha no lugar que a gente mora, então às vezes a gente encontra na rua.” (E5).

(15)

O fato de o ACS residir na área de abrangência da EqSF é sem dúvida um aspecto que diferencia a organização e o funcionamento das USF, na medida em que favorece não apenas o acesso, mas o conhecimento sobre o modo de vida das famílias e sua repercussão nas condições de saúde da população.

Ao mesmo tempo que residir na mesma área é uma facilidade, para outros, isso é um aspecto que compromete o descanso semanal e a privacidade do ACS.

“A dificuldade, pra mim, no caso, é... não é uma certa dificuldade, mas assim... Estou fazendo um churrasquinho com meu marido, minha família. Aí: ‘Dona E5, queria falar com a sra’. Aí eu pego, abro o portão e saio. Aí meu marido faz assim, fica me dando sinal.” (E5).

“A gente tem que trabalhar como profissional, separar o profissionalismo com a convivência ali no momento. Eu ali me sinto uma pessoa estranha no ponto de vista de intimidade com a vida alheia.” (E9).

O trabalhador assalariado, segundo a Consolidação das Leis de Trabalho (CLT)28,

tem direto a um dia de descanso obrigatório após seis dias de trabalho efetivo. A carga horária de 40 horas semanais dos profissionais da APS (com a exceção do médico)1 é usualmente

cumprida de segunda a sexta-feira, proporcionando mais um dia de descanso (sábado). Logo, é compreensível o incômodo sentido quando o trabalho “invade” sua residência. Morar e trabalhar na mesma comunidade pode repercutir no desgaste emocional do ACS, uma vez que perdem a sua privacidade, são procurados fora do horário de trabalho e estão expostos a boatos29.

Ademais, é necessário destacar que esses profissionais citaram também outras facilidades, como a requisição de exames aos médicos para os homens (dois ACS), marcação de consultas (três) e exames (um) e a busca por medicamentos para o homem (um).

A solicitação de exames diagnósticos aos médicos tem como intenção facilitar a vida do homem, por conta de sua dificuldade em se ausentar do trabalho para ir às consultas, assim como barganhar a sua ida até a USF para a avaliação dos resultados dos exames.

“E tem assim, a facilidade... Agora tem Dr. Nivaldo. Tem a facilidade com ele assim: ‘Oh, Dr. Nivaldo, preciso de uma requisição pra seu ‘Não-sei-quemzinho’. Ele não quer vim, ele quer primeiro fazer o exame pra depois vim, vamos dizer.

(16)

Revista Baiana

de Saúde Pública Aí eu sei o nome completo, sei tudo da pessoa. Eu venho, digo a ele que ele faça a requisição. Eu chego lá [na casa do homem]: ‘Olhe o que eu trouxe pra você!’” (E5).

Este relato evoca grande preocupação, pois os exames são solicitados sem uma devida anamnese e avaliação física masculina. A conduta pode trazer malefícios, tanto pela solicitação desnecessária de exames quanto pela ausência da indispensável avaliação clínica, social e psicológica, que poderiam orientar de forma mais precisa a conduta profissional e promover a indicação de exames que contemplassem as reais necessidades de saúde do usuário do serviço.

Tal situação opõe-se à ideia de prevenção quaternária, na qual se devem evitar diagnósticos nosológicos desnecessários mediante a prática da Medicina Baseada em Evidências e na ética profissional, por meio do entendimento de que a medicina é fundamentada no relacionamento entre o usuário do serviço e o médico, devendo este acompanhá-lo constantemente30.

Com a mesma finalidade, a marcação de consultas e de exames e a busca por medicamentos na USF para os homens foram mencionadas como práticas cotidianas do trabalho desses profissionais.

“Tava na rua e acabei encontrando um rapaz da minha comunidade que eu não tenho a oportunidade de encontrá-lo em casa, exatamente pela questão do trabalho dele. Ele me encontrou e ele veio até mim, me solicitou que marcasse um médico pra ele porque ele não tá se sentindo bem. Embora não seja papel nosso, a gente tem essa flexibilidade, né?” (E4).

“Aí eu tenho essas facilidades. Assim... Por exemplo, aqui mesmo eu estou com um bocado de receita pra poder pegar o remédio pra levar. Aí vem pro médico... Aí diz: ‘Ah, Dona E5, o médico passou tal remédio’.” (E5).

Vale ressaltar que, além de não condizer com nenhuma das práticas estabelecidas pela Política de Atenção Básica¹, estas reforçam práticas de saúde pautadas no modelo biomédico. A proposta brasileira de APS visa justamente superar práticas individuais e centradas no trabalho médico, que além de custosas, pouco contribuem para a mudança do padrão de adoecimento da população.

(17)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As representações sociais quanto ao comportamento de homens e de mulheres dão significado ao modo de agir dos homens quando o assunto é cuidado à saúde. No cotidiano do trabalho do ACS junto à população masculina se verificou dificuldades e facilidades, as quais dão a matize do seu fazer.

Parece ser urgente construir espaços que promovam reflexão sobre como as questões de gênero e masculinidade interferem na prática dos ACS e dos demais profissionais junto aos homens. A EPS deve ser valorizada e aproveitada pelos profissionais para a construção de novas formas de compreender o homem e de trabalhar com/para ele.

Vínculo é um atributo que deriva do modo como os profissionais respondem aos que os procuram e expõe o quanto a APS não é simples. Os resultados apontam ser necessária a utilização de outras formas de vinculação entre a EqSF e os homens, como a promoção do encontro entre profissionais e a população masculina, quer seja na residência, nos espaços na comunidade ou na USF, a modificação das estratégias utilizadas nas atividades de educação em saúde, dentre outras que devem ser construídas com base na identificação das barreiras para posterior elaboração de formas de superação adequadas àquela comunidade.

Considerando que a Estratégia Saúde da Família foi escolhida pelo Ministério da Saúde como sendo capaz de superar o modelo biomédico de atenção à saúde, é estranho, para não dizer contraditório, que uma das formas de “trazer” o homem ao serviço de saúde é lhe oferecer requisições para realização de exames de apoio diagnóstico sem que haja nenhum contato prévio.

Conclui-se que os Agentes Comunitários de Saúde utilizaram questões de gênero para explicar o comportamento masculino diante da sua saúde e justificar as facilidades e os limites em seu trabalho direcionados a esta população, assim como realizam atividades que não correspondem a suas atribuições.

Dessa forma, no contexto estudado, percebeu-se que a efetividade da política de Saúde do Homem no âmbito da AB apresenta fragilidades, demonstrando que, para além das suas diretrizes, é fundamental a qualificação profissional e a garantia de todos os recursos necessários para o pleno desenvolvimento das ações.

COLABORADORES

1. Concepção do projeto, análise e interpretação dos dados: Rebeca Valentim Leite. 2. Redação do artigo e revisão crítica relevante do conteúdo intelectual: Rebeca Valentim Leite e Ana Paula Chancharulo de Morais Pereira.

(18)

Revista Baiana

de Saúde Pública 3. Revisão e/ou aprovação final da versão a ser publicada: Rebeca Valentim Leite e Ana Paula Chancharulo de Morais Pereira.

4. Ser responsável por todos os aspectos do trabalho na garantia da exatidão e integridade de qualquer parte da obra: Rebeca Valentim Leite e Ana Paula Chancharulo de Morais Pereira.

REFERÊNCIAS

1. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 2488, de 21 de outubro de 2011. Aprova a Política Nacional de Atenção Básica, estabelecendo a revisão de diretrizes e normas para a organização da Atenção Básica, para a Estratégia Saúde da Família (ESF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) [Internet]. Brasília; 2011 [citado 2016 jun 20]. Disponível em: http:// bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2011/prt2488_21_10_2011.html 2. Brasil. Ministério da Saúde. Programa de Agentes Comunitários de Saúde

(PACS). Brasília; 2001.

3. Couto MT, Pinheiro TF, Valença O, Machin R, Silva GSN, Gomes R, et al. O homem na atenção primária à saúde: discutindo (in)visibilidade a partir da perspectiva de gênero. Interface (Botucatu). 2010;14(33):257-70.

4. Figueiredo W. Assistência à saúde dos homens: um desafio para os serviços de atenção primária. Ciênc Saúde Coletiva. 2005;10(1):105-9.

5. Brasil. Ministério da Saúde. Portaria n. 1944, de 27 de agosto de 2009. Institui, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem [Internet]. Brasília; 2009 [citado 2016 jun 16]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2009/ prt1944_27_08_2009.html

6. Brasil. Ministério da Saúde. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem: Princípios e diretrizes. Brasília; 2008.

7. Gomes R. Sexualidade masculina, gênero e saúde. Rio de Janeiro: Fiocruz; 2008.

8. Brasil. Ministério da Saúde. Mortalidade - Brasil: óbitos por ocorrência por faixa etária segundo capítulo CID-10, sexo masculino, período 2013 [Internet]. Brasília; 2016 [citado 2016 jun 20]. Disponível em: http://www2. datasus.gov.br/DATASUS/index.php?area=0205&id=6937

9. Brasil. Ministério da Saúde. Morbidade hospitalar do SUS por local de internação - Brasil: Internações por faixa etária 1 segundo capítulo CID-10, sexo masculino, período: 2015 [Internet]. Brasília; 2016 [citado 2016

(19)

jun 20]. Disponível em: http://www2.datasus.gov.br/DATASUS/index. php?area=0203&id=6926

10. Bardin L. Análise de conteúdo. São Paulo: Persona; 1977.

11. Gomes R, Nascimento EF, Araújo FC. Por que os homens buscam menos os serviços de saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com ensino superior. Cad Saúde Pública. 2007; 23(3):565-74.

12. Figueiredo W, Schraiber LB. Concepções de gênero de homens usuários e profissionais de saúde de serviços de atenção primária e os possíveis impactos na saúde da população masculina, São Paulo, Brasil. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(Suppl 1):935-44.

13. Schraiber LB, Figueiredo WS, Gomes R, Couto MT, Pinheiro TF, Machin R, et al. Necessidades de saúde e masculinidades: atenção primária no cuidado aos homens. Cad Saúde Pública. 2010;26(5):961-70.

14. Knauth DR, Couto MT, Figueiredo WS. A visão dos profissionais sobre a presença e as demandas dos homens nos serviços de saúde: perspectivas para a análise da implantação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ciênc Saúde Coletiva. 2012;17(10):2617-26.

15. Silva PAS, Furtado MS, Guilhon AB, Souza NVDO, David HMSL. A saúde do homem na visão dos enfermeiros de uma unidade básica de saúde. Esc Anna Nery. 2012;16(3):561-8.

16. Braz M. A construção da subjetividade masculina e seu impacto sobre a saúde do homem: reflexão bioética sobre justiça distributiva. Ciênc Saúde Coletiva. 2005;10(1):97-104.

17. Gomes R, Rebello LEFS, Nascimento EF, Deslandes SF, Moreira MCN. A atenção básica à saúde do homem sob a ótica do usuário: um estudo qualitativo em três serviços do Rio de Janeiro. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(11):4513-21.

18. Figueiredo WS. Masculinidades e cuidado: diversidade e necessidades de saúde dos homens na atenção primária [tese]. São Paulo (SP): Universidade de São Paulo; 2008.

19. Machin R, Couto MT, Silva GSN, Schraiber LB, Gomes R, Figueiredo WS, et al. Concepções de gênero, masculinidade e cuidados em saúde: estudo com profissionais de saúde da atenção primária. Ciênc Saúde Coletiva. 2011;16(11):4503-12.

20. Cechetto FR. Violência e estilos de masculinidade. Rio de Janeiro: Fundação Getúlio Vargas; 2004.

(20)

Revista Baiana de Saúde Pública

21. Salci MA, Maceno P, Rozza SG, Silva DMGV, Boehs AE, Heidemann ITSB. Educação em saúde e suas perspectivas teóricas: algumas reflexões. Texto Contexto Enferm. 2013;22(1):224-30.

22. Freire P. Pedagogia do oprimido. 17a ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra; 1987. 23. Costa MC, Silva EB, Jahn AC, Resta DG, Colom ICS, Carli R. Processo de

trabalho dos Agentes Comunitários de Saúde: possibilidades e limites. Rev Gaúcha Enferm. 2012;33(3):134-40.

24. Trapé CA, Soares CB. A prática educativa dos Agentes Comunitários de Saúde à luz da categoria práxis. Rev Latino-Am Enfermagem. 2007 jan-fev;15(1):142-9.

25. Starfield B. Atenção primária: equilíbrio entre necessidades de saúde, serviços e tecnologia. Brasília: UNESCO; Ministério da Saúde; 2002.

26. Duarte LR, Silva DSJR, Cardoso SH. Construindo um programa de educação com Agentes Comunitários de Saúde. Interface (Botucatu). 2007 set-dez;11(23):439-47.

27. Franco TB, Merhy EE. O reconhecimento de uma produção subjetiva do cuidado. In: Franco TB, Merhy EE, organizadores. Trabalho, produção do cuidado e subjetividade em saúde. São Paulo: Hucitec; 2013. p. 121-140. 28. Brasil. Presidência da República. Casa Civil. Decreto-Lei n. 5452, de

1 de maio de 1943. Aprova a Consolidação das Leis de Trabalho [Internet]. Brasília; 1943 [citado 2016 jul 19]. Disponível em: http://www.planalto.gov. br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm

29. Lopes DMQ, Beck CLC, Prestes FC, Weiller TH, Colomé JS, Silva GM. Agentes Comunitários de Saúde e as vivências de prazer-sofrimento no trabalho: estudo qualitativo. Rev Esc Enferm USP. 2012;46(3):633-40. 30. Jamoulle M. Quaternary prevention, an answer of family doctors to

overmedicalization. Int J Health Policy Manag. 2015;4(2):61-4. Recebido: 27.4.2017. Aprovado 18.7.2018. Publicado: 12.10.2018.

Referências

Documentos relacionados

Desta forma, é de grande importância a realização de testes verificando a segurança de extratos vegetais de plantas como Manjerona (Origanum majorana) e Romã

Tendo em consideração que os valores de temperatura mensal média têm vindo a diminuir entre o ano 2005 e o ano 2016 (conforme visível no gráfico anterior), será razoável e

Que razões levam os gestores das Universidades Corporativas a optarem pela utilização da educação a distância por meio de cursos on-line na modalidade auto estudo?.

Verificar a efetividade da técnica do clareamento dentário caseiro com peróxido de carbamida a 10% através da avaliação da alteração da cor determinada pela comparação com

Declaro meu voto contrário ao Parecer referente à Base Nacional Comum Curricular (BNCC) apresentado pelos Conselheiros Relatores da Comissão Bicameral da BNCC,

A través de esta encuesta fue posible comprender el desconocimiento que existe sobre este tema y lo necesario que es adquirir información para poder aplicarla y conseguir

O relatório encontra-se dividido em 4 secções: a introdução, onde são explicitados os objetivos gerais; o corpo de trabalho, que consiste numa descrição sumária das

Modeladora  –   Equipamento profissional para indústria alimentícia destinado à. modelar massas pela sua passagem entre