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A violência obstétrica em face dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres

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UNIJUÍ – UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

TANISE JULIANE SCHWARZ

A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM FACE DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DAS MULHERES

Santa Rosa (RS) 2019

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TANISE JULIANE SCHWARZ

A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA EM FACE DOS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DAS MULHERES

Monografia final do Curso de Graduação em Direito da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, como requisito para a aprovação ....

DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth

Santa Rosa (RS) 2019

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Dedico este trabalho à minha família, aos meus amigos por todo apoio e incentivo e a meu orientador, pela paciência e grandes ensinamentos durante esta jornada

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. AGRADECIMENTOS

À Deus, por me manter forte durante todas as dificuldades.

Ao meu orientador, Dr. Maiquel Ângelo Dezordi Wermuth, por ter me apresentado este tema, com todo o suporte e apoio que me foram dados, principalmente ao ensinamento e conhecimento que obtive no decorrer da elaboração deste trabalho.

À minha chefe e colega de trabalho do escritório Cristiana Silveira advocacia e consultoria jurídica, por todos os incentivos e formas de apoio, fazendo com que me sentisse, confiante e realizada com minha escolha.

À minha família, que sempre esteve ao meu lado, me apoiando no decorrer de minha vida, com quem aprendi a lutar pelos meus ideais e correr atrás dos meus objetivos.

Aos meus amigos, que estiveram comigo em todas as etapas, os quais me incentivaram e ajudaram no que precisei, proporcionando confiança e boa vontade quando precisei de amparo e ajuda.

Bem como, a todos que fazem parte da minha vida acadêmica, muito obrigada.

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“A única forma de chegar ao impossível é acreditar que é possível. ”

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso identifica as dificuldades e inseguranças que as mulheres sofrem durante a gestação, quando são submetidas à violência obstétrica. Aborda, no seu conteúdo, o conhecimento que todos os cidadãos de direito precisam ter, para transformar esse momento caótico e desigual em um ciclo que traga emoção e confiança para a criança e sua família, com profissionais capacitados, que passem os melhores métodos para a gestante, deixando ela escolher de que forma quer dar à luz ao seu filho, contudo, respeitando seu próprio corpo, deixando fluir naturalmente e de forma segura, para que o parto se torne uma lembrança emocionante, agregando na relação de mãe e filho.

Traz no seu primeiro capítulo a importância da evolução feminina, através das lutas enfrentadas até os dias de hoje, com o objetivo de garantir a livre escolha no que se refere ao seu próprio corpo, e a importância do amparo e esclarecimento dos profissionais de saúde, no que se refere ao planejamento do parto, durante toda a sua gestação. O segundo capítulo abrange os tipos de violência obstétrica, trazendo consigo as consequências das mesmas para a vida da gestante e de seu filho, expondo a importância do parto humanizado, bem como a garantia de todos os direitos da gestante, perante aos profissionais de saúde do nosso país

Palavras-Chave: A violência obstétrica. Direito das mulheres. Acompanhamento à gestante. Profissionais de saúde. Formas de violência.

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RESUMEN

El presente trabajo de conclusión de curso identifica las dificultades e inseguridades que las mujeres sufren durante la gestación, cuando son sumetidas a la violencia obstétrica. Aborda, en su contenido, el conocimiento que todos los ciudadanos de derecho necesitan tener, para transformar convertir ese tiempo caótico y desigual en un ciclo que traiga emoción y confianza para el niño y su

familia, con profesionales capacitados, que pasentrasmiten los

mejores métodos para la salud que se ha convertido en un recuerdo emocionante, agregando en la relación de madre e hijo. En el caso de la madre y el hijo, el parto se convierte en un recuerdo emocionante, agregando en la relación de madre e hijo.

En su primer capítulo, destaca la importancia de la evolución de las mujeres, a través de las luchas que enfrentan hasta la actualidad, con el objetivo de garantizar la libre elección con respecto a su propio cuerpo, y la importancia del apoyo y la ilustración de los profesionales de la salud. Respecto a la planificación de la entrega, a lo largo de su gestación. El segundo capítulo cubre los tipos de violencia obstétrica, que trae consigo las consecuencias de la misma para la vida de la mujer embarazada y su hijo, exponiendo la importancia del parto humanizado, así como la garantía de todos los derechos de la mujer embarazada, ante los profesionales de la salud de nuestro país.

Palabras clave: La violencia obstétrica. Derecho de las mujeres. Acompañamiento a la gestante. Profesionales de la salud. Formas de violencia.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 09

1 OS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DAS MULHERES ... 11

1.1 A luta pela liberdade de decisão e expressão sobre o seu próprio corpo ... 11

1.2 Dever de cuidado, assistência e amparo durante a gestação ... 22

2 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: O AMOR SUBSTITUÍDO POR OPRESSÃO E MEDO ... 31

2.1 Ações e omissões no trabalho de parto e a configuração da violência obstétrica como violação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres ... 31

2.2 Amparo pelos profissionais de saúde em busca de um parto humanizado .... 38

CONCLUSÃO ... 44

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INTRODUÇÃO

A pesquisa abrange direitos das gestantes, relatando as inúmeras formas de violência em todo o processo de gestação. No Brasil, 1 a cada 4 mulheres sofrem algum tipo de violência, afetando sua dignidade como pessoa, sendo que é nesse período que elas se encontram mais frágeis e vulneráveis, precisando de um suporte adequado e justo. A falta desse suporte faz com que esse acontecimento se repita por várias vezes todos dos dias, deixando claro que o principal ponto desse problema é a falta de profissionais que realmente garantam a dignidade destas gestantes.

O problema deste trabalho consistiu na análise sobre em que medida as intervenções médicas excessivas no corpo da mulher influenciam sua liberdade de escolha e seus direitos sexuais e reprodutivos, configurando casos de violência obstétrica. Diante disso, a pesquisa compreendeu que diversas são as formas de violências perante as mulheres em todas as fases de sua gestação. A maior dificuldade é encontrar profissionais especializados e determinados a não visar apenas lucro em torno destas gestações, mas que foquem primeiramente em ajudar e amparar a gestante, lhe dando a assistência necessária com qualidade e excelência, a fim de evitar o sofrimento tanto para a mãe quanto para o bebê.

O objetivo geral deste trabalho consiste em levantar e comparar as formas com que são tratadas as gestantes, observando as consequências perante as ações e omissões que são realizadas pelos profissionais da saúde para com as pacientes, a fim de demonstrar que a violência obstétrica se configura como uma das principais formas de violação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. Sendo assim, feita a análise dos direitos sexuais e reprodutivos assegurados às mulheres, que garantam sua dignidade humana e liberdade de escolha, bem como, identificar as

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formas de violência obstétrica no sistema público de saúde brasileiro, expondo as consequências e as mudanças que devem ser tomadas rumo à efetivação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres.

Para a realização e conclusão deste trabalho, foram utilizadas coletas de dados em fontes bibliográficas disponíveis em meios físicos e eletrônicos, sendo esta, uma pesquisa exploratória. Na sua realização foi utilizado o método de abordagem hipotético-dedutivo, observando a seleção de bibliografias e documentos afins à temática e em meios físicos e na internet, interdisciplinares, capazes e suficientes para que o fosse construído um referencial teórico coerente sobre o tema abordado, havendo reflexão crítica sobre o material mencionado. Respondendo assim, o problema proposto, corroborando ou refutando as hipóteses levantadas e atingindo propostos nesta pesquisa.

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1 OS DIREITOS SEXUAIS E REPRODUTIVOS DAS MULHERES

Diversas são as formas de violências perante as mulheres em todas as fases de sua gestação. A maior dificuldade é encontrar profissionais especializados e determinados a não visar apenas o lucro em torno destas gestações, mas que foquem primeiramente em ajudar e amparar a gestante, dando a ela a assistência necessária com qualidade e excelência, a fim de evitar o sofrimento tanto para a mãe quanto para o bebê.

O principal motivo para a escolha do tema central desta pesquisa foi ampliar e explanar as dificuldades que as mulheres sofrem durante a gestação, sendo tratadas com descaso e insignificância nos locais onde deveriam ter apoio em todas as fases de sua gravidez, não sendo respeitado seu desejo na hora do parto, sendo infringida a sua liberdade de escolha, não podendo manifestar-se sobre seus desejos e sendo submetidas a métodos desumanos e desnecessários – a exemplo do uso indiscriminado da episiotomia. Todas as mulheres precisam ter conhecimento dos seus direitos, para transformar esse momento caótico e dramático em um momento especial, que lhes traga emoção e confiança, com profissionais que as orientem da maneira mais clara e justa possível.

Feitas essas considerações introdutórias, o presente capítulo tem por objetivo investigar as inúmeras formas de violência em todo o processo de gestação, o que engloba e analisa a violação da dignidade das mulheres enquanto pessoas, já que é nesse período que elas se encontram mais frágeis e vulneráveis, precisando de um suporte adequado e justo. A falta desse suporte faz com que a violência obstétrica se repita por várias vezes, deixando claro que o principal ponto desse problema é a falta de profissionais que realmente garantam a dignidade destas gestantes.

1.1 A luta pela liberdade de decisão e expressão sobre seu próprio corpo

Dentre tantos desejos almejados, o maior é ter a livre escolha no que se refere ao seu próprio corpo. Algo que deveria ser natural, nada mais é do que o reflexo de várias lutas e sofrimentos perante os que simplesmente não concordam e

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muito menos respeitam esse direito que é garantido à todas as mulheres, por força dos arts. 1º, III e 5º da Constituição Federal de 1988.

Nesse sentido, cumpre salientar que os direitos reprodutivos garantem à mulher o poder de ter o controle de suas próprias ações e tomem as decisões que envolvem o seu corpo e sua vida. Os movimentos feministas são de extrema importância na sociedade, pois instigam os demais a entenderem o quão vasto são os direitos das mulheres, principalmente, no sentido de poder escolher se vão ou não ter filhos, quantos, e de que maneira. Também, implicando na livre decisão, se irão constituir ou não uma família, impondo, assim, que o Estado garanta que a igualdade de escolha possa ser usufruída sem qualquer receio.

Os direitos humanos das mulheres incluem seus direitos a terem controle e decidirem livre e responsavelmente sobre questões relacionadas à sua sexualidade, incluindo a saúde sexual e reprodutiva, livres de coerção, discriminação e violência. A igualdade entre homens e mulheres, em se tratando de relações sexuais e da reprodução, inclusive o pleno respeito pela integridade da pessoa, requerem respeito mútuo, consentimento e responsabilidade compartilhada pelo comportamento sexual e suas consequências. (WICHTERICH, 2015, p. 13).

Esses direitos são reflexo do que foi sofrido historicamente, uma vez que as mulheres eram vistas como um mero objeto voltado para a reprodução. A vida feminina era baseada em procriar e servir à sua família, sendo explorada e não tendo direito de se expressar, lutar pelos seus ideais ou mesmo de impor suas opiniões e atitudes dentro de uma sociedade. Segundo Wichterich (2015, p.25) “os Estados têm interesse em controlar e governar a população de um território específico. Ao mesmo tempo, os governos têm o dever de respeitar, proteger e fazer valer os direitos sexuais e reprodutivos dos cidadãos, entendidos como portadores de direito. ”

Quando se fala em preconceito, não se menciona apenas a situação histórica da exclusão na sociedade, mas principalmente – no âmbito da presente pesquisa – no direito de escolher o que bem fazer com sua vida, seu corpo. O que falta ao Estado não são somente direitos mais específicos e diretos tratando desse assunto,

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mas sim o respeito do próximo para com as mulheres, a partir do pressuposto de que “no meu corpo, sou eu que coloco as regras”.

Os movimentos feministas foram essenciais para a evolução e o poder feminino, impondo coragem e vontade, mostrando para todos que ser feminina não é ser frágil, e sim ser forte, ter igualdade nos direitos, poder ter a opção que quiser, sem ter medo de julgamentos e paradigmas forjados pelo modelo patriarcal. E sim esclarecido e expressado de uma forma natural e explícita, sendo que cada pessoa sabe o que quer fazer consigo mesmo, de que maneira agir e responder ao seu próprio corpo, pois cada um reage e se manifesta de uma forma, deixando claro que cada ser é diferente dos demais e é nossa obrigação respeitar e ser respeitado dentro da sociedade, sem discriminação e muito menos exclusão.

Embora atuem sob diferentes enfoques culturais e regionais, os movimentos de mulheres de todo o mundo articulam a resistência contra a violência, discriminação e controle externo sobre os corpos das mulheres, a sexualidade e as capacidades reprodutivas. A linguagem dos direitos sexuais e reprodutivos foi formulada por redes de mulheres para se contrapor as formas seculares e modernas de subordinação e controle do corpo feminino e da sexualidade por instituições patriarcais: a família, sistemas de saúde, comunidades religiosas, sistemas jurídicos e Estados. O paradigma dos DSDR foi visto como fundamental para articular a visão do privado como algo político. Ao mesmo tempo, foi visto como além do estereótipo das mulheres como vítimas e, em vez disso, construí-las como portadoras de direitos que poderiam conter responsáveis estatais e não-estatais para a proteção e a observância dos direitos humanos. (WICHTERICH, 2015, p. 17).

Os direitos sexuais e reprodutivos são essenciais para que as mulheres possam ver efetivados os seus direitos humanos, tanto na vida privada, como na vida pública. Nesse sentido, os movimentos feministas surgiram para mostrar às mulheres que opressão não é a solução para ser vista com respeito, mas sim conquistar o seu espaço evidenciando que preconceito não é regra, não tem fundamento e muito menos motivo para acontecer. O respeito é a base da relação de qualquer humano, qualquer relação.

Os movimentos causam irritabilidade e por muitas vezes, reações grotescas e violentas, essas mulheres sem medo, representam toda a parte oprimida, que não sai na rua pelo fato de se sentirem coagidas dentro e fora de casa, o medo

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perpetua-se de forma gigantesca na sociedade brasileira, que é rica em preconceito e discriminação de todas as formas. Quantas são as mulheres que se calam perante as agressões que sofrem, que não tem apoio de seus familiares, que tendem a ser fortes sozinhas, aprendendo a enfrentar os obstáculos de maneira neutra? É de extrema importância que esses movimentos sejam respeitados, pois trata-se de um direito que deve ser reconhecido e divulgado para toda a sociedade, principalmente porque esse percentual de acontecimentos diários aumenta a cada dia.

Contudo, esse respeito nem deveria ser cobrado, e sim fluir naturalmente do ser humano, garantindo, portanto, que esses direitos devem ser assegurados tanto teoricamente quanto na prática, e jamais deveriam ser violados, assegurando a dignidade e liberdade de qualquer cidadão no Estado Brasileiro.

Uma questão chave para todas as forças ligadas a sociedade civil crítica é se o potencial previsto do paradigma dos direitos humanos ainda é válido como um instrumento universal para criticar as relações de poder, violência e opressão. Como pode este paradigma ser útil em lutas contra as tendências que fazem dos corpos, capacidades reprodutivas e sexualidade das mulheres meros peões de biopolítica e bioeconomia, seja através de controle populacional, lutas domésticas pelo poder ou de estratégias de negócios transnacionais? Durante a era pós-2015, as redes de direitos femininos e de gênero terão de explorar como e se o paradigma de direitos sexuais e reprodutivos ainda poderá ser usado como veículo para conflitos locais e para a solidariedade transnacional. (WICHTERICH, 2015, p. 37 ).

As intervenções farmacêuticas também refletem nestes direitos de escolha. Com efeito, poder adiar uma gestação é direito e tem de ser meramente respeitado, também de suma importância aos homossexuais, que recorrem à estas intervenções, garantindo que também poderão ter filhos e constituir uma família, planejando e escolhendo a forma mais adequada e esperada e não sendo subordinados ao que a sociedade impõe como adequado e sim no que realmente é certo, não há diferença de sexo, cor ou classe econômica, quando se fala de amor e direito de si e de outrem.

O Estado tem obrigação de oferecer segurança e garantir o poder de cada um perante suas reais vontades, deixando claro que não há diferença entre ser homem ou ser mulher, que o que vale é ser humano, ter a consciência de que não se pode

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invadir ou desconsiderar a vontade, o direito de ação do próximo, ainda mais quando se diz sobre a sua própria vida. Nesse marco, tem o Estado o dever de contribuir com as regras e que garantam suas escolhas e amparar no que for necessário, não deixando traumas ou reflexos negativos e sim a possibilidade de usufruir desses momentos que são indiscutivelmente importantes para a vida do que escolher e submeter-se a algum processo, não sendo discutida a sua escolha e sim discutir a melhor forma de amparo e acompanhamento.

O princípio da livre escolha para exercer os direitos sexuais e reprodutivos é baseado na suposição do corpo como uma propriedade individual. “Meu útero me pertence!” é um slogan fundamental nos movimentos europeus de mulheres em seus esforços pela legalização do aborto. O conceito de propriedade privada implica em que o dono pode escolher, tem o poder de decisão sobre o uso – neste caso – de seu próprio corpo, e tem capacidade de negociar um contrato sobre doar, alugar ou vender partes de seu corpo baseado no “consentimento informado”19. Desse modo as mulheres são construídas como agentes que tomam as rédeas de suas próprias vidas e ganham controle: isso inclui que são elas que decidem usar as tecnologias reprodutivas e/ou contratar uma barriga de aluguel para ter um filho, fornecer óvulos ou um útero para carregar o filho de outra pessoa, ou oferecer serviços sexuais. (WICHTERICH, 2015, p. 22 ).

A religião é uma grande influenciadora dos costumes da nossa sociedade, tanto no modo de pensar, tanto no modo de agir, deixando em questão qual seria o comportamento correto perante ao Estado em que vivemos, mesmo ele sendo laico. Sendo assim, o Estado entra na situação para garantir e amenizar essa diferença, garantindo a evolução e as garantias que todos temos, o da escolha, do que é certo ou errado na visão de cada um, sendo um poder neutro, que não pense de forma preconceituosa e sim no que tange a integrar todos iguais, garantindo seu devido lugar.

Esses controles do Estado acabam refletindo nos comportamentos de uns com os outros, nas atitudes tomadas e suas consequências, de forma que não discrimine e nem atinja de nenhuma forma a integridade da pessoa que aqui vive. Quando se fala em Estado, não se fala em mulher ou homem, e sim numa sociedade só, que tem por obrigação manter o respeito e a consideração pela escolha que cada um faz com seu corpo, sem entrar em questão o que é certo ou errado, e sim entender que tal escolha foi o melhor para a vida deste, entendendo

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que quando se trata da mulher, ela não é uma máquina reprodutiva, e sim um ser humano que pode fazer sua escolha, pensando na sua vida e agindo de forma que garanta o seu direito.

A biopolítica pode ser definida como o conjunto de técnicas e estratégias de governança para construção de poder que orienta e controla os corpos, a saúde e a vida de uma população inteira através da regulação da reprodução, fertilidade e mortalidade. Regulam a habitação e mobilidade, através de esquemas de moradia e reassentamento, programas de urbanização, limpeza étnica e políticas de asilo e de migração. Já o biopoder é exercido por meio de políticas demográficas e de saúde, sociais ou de impostos, perfazendo uma forma de governo que intervém profundamente nas práticas sociais, na ordem simbólica e nos sistemas de valor, bem como na intimidade da reprodução. Ele constrói e reenquadra a ordem social – ao interagir com várias forças sociais, políticas e religiosas – alterando a “natureza” da população e da reprodução, sistemas de valores e direitos dos cidadãos. O biopoder intervém também nos efeitos das necessidades individuais, desejos e modos de vida. (WICHTERICH, 2015, p. 25).

A política tem um papel importante no que se refere a estes direitos, pois é daí que vem o amparo estrutural e social às mulheres, principalmente para que as garantias aconteçam e sejam cobradas por todos que não as respeitem. Contudo, leis são feitas para serem respeitadas, deixando claro que se não houver respeito, as penalidades serão exercidas à estas pessoas. Para isso, precisa ter um governo que esteja disposto a garantir efetivamente esses direitos, com projetos e atitudes que farão com que a igualdade e liberdade sejam deveres de respeito de todos. Mas essas normas são infringidas em lugares onde isso deveria vir como exemplo.

Grande parte da violação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres acontece nos hospitais, locais onde sofrem violência de formas variadas. Muitas mulheres são maltratadas pelo simples fato de escolherem ter um filho, ou são vítimas de abuso, oprimindo seu direito de expressão e, assim, ficando mais excluídas da sociedade e dos valores que os Estados vão impondo para a população, entrando a questão social, quando os programas de governo calam a população pobre, impondo regras quanto à sua família e à sua estrutura, que teria que ser conforme seria mais confortável ao país e as economias do Estado.

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Os movimentos das feministas auxiliam com o propósito de levar até a vítima o entendimento que se calar não é a solução, deixando claro que a mulher tem discernimento para entender que a própria vontade prevalece perante seu corpo, que ninguém tem o direito de dizer o que se deve fazer para ser um ser humano digno de respeito. Assim, sem prejudicar o próximo, cada um cuidando de si, partindo da ideia de que ninguém é objeto do outro, que devemos nos impor quando algo não está de acordo e principalmente quando envolve uma violência desnecessária que refletirá num futuro opressor e cheio de tabus dentro da população, já que seu sistema injusto reflete e impõe aos mais pobres e que muitas vezes não tem estrutura e cultura o suficiente para impor o seu lugar dentro de uma sociedade preconceituosa e que não dá voz pra quem não tem poder para influenciar os demais.

Os movimentos de mulheres, nas suas lutas políticas feministas, surgiram para proporcionar condições e oferecer possibilidades nos espaços onde as conquistas de direitos fazem toda a diferença. O que se almeja, nesse processo, é um futuro onde todas e todos possam ter futuro. Na luta contra as políticas de controle de natalidade - que ao invés de assegurarem mecanismos e políticas públicas para que as mulheres e homens escolham a melhor forma de exercerem sua vida reprodutiva, estabelecem políticas autoritárias recaindo, geralmente, sobre a população mais pobre a negação do direito à reprodução - em defesa da autodeterminação reprodutiva das mulheres; pela desconstrução da maternidade como um dever ou como destino obrigatório, pelo poder de decidir ter ou não ter filhos, quando e com quem tê-los, pelo direito ao aborto legal e seguro, contra a homofobia/lesbofobia, por liberdade e pelo direito ao prazer sexual, contra a ditadura heteronormativa, os movimentos de mulheres forjaram o que, no final dos anos 80, se denominou direitos sexuais e direitos reprodutivos. (OLIVEIRA; CAMPOS, 2009, p.2).

Esses movimentos refletem no equilíbrio da sociedade, protegendo cada um e impondo colaboração e neutralidade diante da decisão de outrem. Eles também se afiguram como uma forma de organização, não impondo uma reestruturação familiar, planejando a vida que nem é sua, só para que os índices se enquadrem no percentual que acham corretos, mas visando primeiramente a vontade de ter ou não um filho, de ser ou não barriga de aluguel, ou, que envolva algum procedimento artificial. Deixando exposto que cada um sabe o que quer para si, e que isso é o que realmente importa.

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Direito reprodutivo teve percepção do Estado a partir da indagação da mulher, que lutou para chegar onde queria, insatisfeita com a forma de tratamento e de como era vista na sociedade, onde por muitas vezes foi deixada de lado. A mudança da condição perante a sociedade foi vista como uma ameaça para muitos, mas uma libertação para o sexo que era visto como frágil e irrelevante. Desta forma, foi questionado até onde o homem era o controlador familiar, e foi questionado o porquê de uma mulher não ter voz na participação da das decisões juntamente com seu parceiro. Sendo que o ideal era a valorização de uma pessoa que se doava o máximo e que não tinha autonomia e voz ativa, essa é a indagação que temos até hoje e que a luta só persiste a cada dia, evoluindo cada vez mais e deixando o irrelevante preconceito de lado.

O controle pelo seu próprio corpo garante a proteção sobre seus direitos em meio à sociedade, ainda mais no que se refere às escolhas feitas, tanto do aborto até do seu direito reprodutivo. Isso desafia o seu potencial aos olhos do Estado que remete grande preconceito em meio à opressão e injustiça sofrida por décadas.

As mulheres eram vistas como um meio de reprodução, reprodução esta que conforta a sociedade em que vivem, sendo usadas como um objeto sexual: sua única forma de agregar é procriar. Contudo, essa forma de vê-las é histórica, passando de geração a geração através da cultura imposta nessas comunidades, tendo por muitas vezes, até a denominação da “cultura do estupro”, que nada mais é que o ato sexual sem o consentimento dessa mulher, sem a vontade propriamente dita, a obrigação de ter o ato para garantir o prazer do homem, exaurindo assim, a sua vontade de viver e de ver o seu significado como pessoa de direito.

Através dos movimentos pelas reivindicações houve uma considerável mudança e na idealização sobre esses direitos, ganhando assim, um terreno para trabalhar nesse assunto, trazendo uma forma mais ampla e argumentativa quando não tem seu direito garantido. Por outro lado, há uma estratégia focada na família, sendo argumentado sobre o aborto e colocando o foco na reprodução, indo contra o casamento gay, na família tradicional e que a sociedade impõe como a certa. Isso aconteceu, principalmente, na Europa e Estados Unidos, onde as alianças religiosas eram e, por muitas vezes, ainda são contra essa autonomia e mudança do cotidiano,

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trazendo uma nova cultura cujo principal foco é ressocializar a mulher, o gay, o ateu, enfim, a pessoa que não se enquadra no padrão tradicional do mundo em que vivemos.

Movimentos antigênero orquestrados pela ala da direita, machista e contra ideologias de igualdade estão em ascensão na Europa Central e Oriental, formando alianças com diferentes denominações religiosas12. Na Rússia, esses grupos colaboram com a Igreja Ortodoxa Russa e com o governo Putin; isso acrescenta um forte tom nacionalista à promoção da família russa, composta pelo menos de três filhos e se distancia da Europa Ocidental, acusando-a de estar sob a “influência gay”. Com a ajuda de suas próprias emissoras de TV, grupos ultraconservadores e fundamentalistas organizam uma reação estratégica e bem fundamentada, focada na família: glorificam a maternidade por meio da naturalização da feminilidade, da reprodução e das normas heterossexuais; fazem campanha para derrubar o direito ao aborto; organizam referendos contra o casamento gay e advogam pró-vida e pela família. (WICHTERICH, 2015, p. 18)

Na década de 1970, as técnicas vieram para agregar nas opções de fertilidade, bem como, a fertilidade terceirizada, para dar a liberdade de escolher quando ter um filho, também para desenvolver com mais planejamento e para haver a igualdade de gêneros, pois, há grande preconceito, principalmente no mercado de trabalho quando se trata de gravidez. A gestação pode ser vista como uma maneira de prejudicar a mulher e a empresa, porque para muitos, o rendimento é menor e também o fato de ter a licença maternidade atrapalharia alguns desenvolvimentos e rendimentos com o vínculo profissional.

A busca pela autonomia e da liberdade de escolha é viabilizada através destes sistemas de inovação. Escolher o que fazer com seu próprio corpo é libertador, fazendo com que as mulheres provem que não são apenas objetos sexuais e reprodutivos, e sim donas da própria vontade, que fazem sua escolha diante do que acham certo e que se enquadrem no bem-estar de si próprias, o que representa uma grande evolução, que fez com que a sociedade tivesse que “engolir” que a escolha é direito de cada uma, e que ninguém tem o direito de impor o que acha ser adequado à mulher, se não for ela mesma.

O pensamento individualista e os desejos sobre as necessidades e interesses sexuais e reprodutivos são influenciados, construídos e

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alterados por múltiplos fatores: as normas de interação social, regras e leis feitas pelos Estados Nacionais; desenvolvimento da biomedicina e das tecnologias reprodutivas e das indústrias biomédicas e farmacêuticas; bem como esforços civis e movimentos sociais tais como os movimentos feministas, gay e queer. Assim, o desenvolvimento do desejo e da escolha individual é moldado, em qualquer época, por contextos particulares, relações sociais e pela interação das estruturas econômicas e políticas de poder. Por exemplo, começando na década de 1970, a interação da pesquisa biomédica e da ciência com as indústrias farmacêuticas e reprodutivas abriu novas opções e desejos para gerenciar a fertilidade superar a infertilidade. (WICHTERICH, 2015, p. 20)

Os Estados têm o dever de assegurar esse direito, fazendo com que as mulheres se sintam mais independentes e à vontade para escolher o que fazer com seu corpo e quando fazer. Assim a desigualdade é reduzida e automaticamente o preconceito vai diminuindo. Claro que tem muito para mudar quando falamos de direito e justiça, bem como os direitos humanos precisam abrir portas para todos, a igualdade tem que ser relevante, tornando-se o começo de tudo. O respeito ao próximo é a chave e o segredo para a mudança, para a elevação da sociedade e a esperança da humanidade.

No que diz respeito ao planejamento familiar, a Constituição Federal protege a família e o direito de escolha do casal e ou da mulher, no seu artigo 226 § 7º, e envolve, assim, a dignidade da pessoa humana. O Estado tem o dever de auxiliar no que diz respeito a isso, mas não impondo o que é certo e errado e sim aconselhando o cidadão com formas de incentivar a gravidez para quem tem interesse e também há meio de prevenir a gestação, para quem recorre a estas opções, conforme a lei 9.263 de 12 de janeiro de 1996, sendo que vale frisar que cada pessoa pode e deve escolher o que é de sua vontade e o Estado tem o dever de assegurar isso, colocando opções de tratamentos e medicações para cada caso. Os arts. 3º a 5º da referida Lei que dispõem:

Art. 3º O planejamento familiar é parte integrante do conjunto de

ações de atenção à mulher, ao homem ou ao casal, dentro de uma visão de atendimento global e integral à saúde.

[...]

Art. 4º O planejamento familiar orienta-se por ações preventivas e

educativas e pela garantia de acesso igualitário a informações, meios, métodos e técnicas disponíveis para a regulação da fecundidade.

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Parágrafo único - O Sistema Único de Saúde promoverá o

treinamento de recursos humanos, com ênfase na capacitação do pessoal técnico, visando a promoção de ações de atendimento à saúde reprodutiva.

Art. 5º - É dever do Estado, através do Sistema Único de Saúde, em

associação, no que couber, às instâncias componentes do sistema educacional, promover condições e recursos informativos, educacionais, técnicos e científicos que assegurem o livre exercício do planejamento familiar. (BRASIL, 1996).

No ano de 1984 foi elaborado pelo Ministério da Saúde um programa de assistência à mulher, que trata da sua saúde e auxilia, tratando das formas de prevenção e cuidados com sua forma de prevenir a gravidez e também de evitar doenças. Isso foi um grande marco, elevando a importância da escolha e da autonomia feminina. Passando a ser usufruído de anticoncepcionais a partir de 1990, onde houve a evolução no que se referia a prevenção da gestação, se não desejada. Através destas iniciativas a mudança foi visível, mas às vezes imposta de maneira errada e esquecendo que o planejamento vem de cada pessoa, devendo haver o apoio indiferente da decisão e prioridade de cada um. Contudo, essa garantia evita mais constrangimento e negatividade no que se trata a direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em nosso Estado Democrático de Direito.

Todavia, é preciso ressaltar que, apesar de temos percorrido um longo e difícil caminho, a situação da mulher e dos direitos sexuais e reprodutivos no Brasil está melhor que em outros países, e melhor quando comparada há 10 ou 20 anos atrás. Entretanto, quando revisamos a plataforma de ações que os governos, incluindo o Brasil, aprovaram no Cairo, e se comprometeram executá-la para melhorar as políticas de saúde voltadas para as mulheres, e criar condições favoráveis para o seu “empoderamento”2 e exercício dos seus direitos, vemos que ainda nesse contexto não houve avanços práticos, permanecendo uma grande distância entre os compromissos assumidos em teoria e sua consolidação prática. (DÍAZ, CABRAL, SANTOS, 2004. p 11)

Por mais que já existam várias evoluções no que se trata deste assunto, ainda há grandes obstáculos a serem enfrentados diariamente, pois o “empoderamento” ainda incomoda vários cidadãos, principalmente homens que se dizem conservadores, para não dizer preconceituosos. A luta é diária, o espaço é conquistado aos poucos com muito sacrifício e determinação, não deixando o preconceito desfavorecer o potencial da mulher e o lugar que ela tem na sociedade, a importante é inquestionável, a visão que tem perante aos acontecimentos e aos

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conflitos diz muito para a solução e evolução do Estado, deixando clara a igualdade de direito e dignidade que tem que ser garantida, não desfavorecendo e nem deixando-a ser insignificante no meio da sociedade, mas sim dando o lugar merecido para ela e provando que ser mulher é ter força e um motivo para sentir orgulho.

1.2 Dever de cuidado, assistência e amparo durante a gestação

A gravidez tem um papel de extrema importância na vida da mulher, nada mais emocionante e prazeroso do que gerar uma vida, amar um ser mesmo sem o conhecer. Por isso, esse tem que ser o momento mais emocionante e feliz da vida dela, pois tudo muda, as preocupações, perspectivas de vida e a expectativa de um parto que condiga com todo esse tempo que a mãe e o bebe tem juntos, quando ele está em seu ventre, pois a gestação não é somente deste período, mas sim tem o mais importante que é o primeiro contato da mãe com seu filho.

Cada corpo reage de uma maneira diferente, por isso o acompanhamento é essencial, os riscos são grandes, as alterações são rápidas, por isso qualquer dúvida e mudança, o profissional tem que estar disposto a explanar o acontecido para com ela e também saber ouvi-la de fora que ela se conscientize dos cuidados que deve ter e também para esclarecer qualquer medo ou angústia deste período.

As mulheres devem ter acesso à educação em saúde para compreenderem melhor o que estão vivenciando no momento e, assim, participar de forma mais efetiva das decisões em relação ao parto, ao puerpério e à amamentação. Acreditamos que o conhecimento da mulher em relação ao pré-natal contribui para o autocuidado. (MARTINS, FERREIRA, ARAGÃO, GOMES, ARAÚJO, FERREIRA, 2015, p.04)

O pré-natal é a assistência dos profissionais da saúde durante a gravidez, por exames e consultas, é extremamente importante para que a gestante tenha uma gestação mais tranquila, segura e saudável, visando um acompanhamento completo caso venha a acontecer alguma alteração, o auxílio a ela seja imediato e eficaz. Este acompanhamento deve ser feito desde o planejamento desta gestação, se isso não

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acontecer, um profissional deve ser procurado o mais rápido possível para o bem de si mesmo e do bebê.

Sem esse acompanhamento a gestante estará sendo negligente, colocando em risco a vida de seu filho e dela mesmo e quando essa negligência parte dos profissionais o assunto fica mais delicado, isso é mais rotineiro do que possamos imaginar, a violência obstétrica é comum, quando deveria ser quase rara.

Na definição de obrigatoriedade, devemos analisar o direito de atenção à mulher em seu período gestacional, pois o pré-natal, no seu âmbito de assistência, é obrigatório para toda gestante desde a concepção, sendo dever do município dispor de sistema próprio, organizado, para a assistência pré-natal, no parto, no puerpério e neonatal, bem como fazer a captação precoce e o acompanhamento das gestantes. (MARTINS, FERREIRA, ARAGÃO, GOMES, ARAÚJO, FERREIRA, 2015, p.05)

Dentre todas as violações, o que ocorre facilmente é em relação à gestação das mulheres no Brasil, as ações médicas que deveriam ser baseadas nos princípios e nas leis, são violadas de forma dura, deixando traumas permanentes tanto para as mães, como para os recém-nascidos.

Contudo, quando esses profissionais realizam intervenções desnecessárias ao processo de parto, estão desrespeitando sua total dignidade e individualidade, aumentando os riscos de mortalidade maternal e neonatal. Diversas são as formas abusivas que tem sido praticadas, dentre elas a tortura psicológica, agressão física, moral, socioeconômica, com preconceito, deboche e descaso.

O atendimento desumano faz com que o momento tão esperado seja traumático e completamente negativo. A liberdade de escolha não é respeitada e muitas vezes são praticados os procedimentos que são invasivos no corpo da paciente, como a episiotomia, que aumenta o canal de passagem do bebê, a manobra de Kristeller que hoje é contra indicada pelo Ministério da saúde, pois consiste em pressionar a parte superior do útero para facilitar a saída do bebê causando lesões de grave escala, o uso desnecessário de Ocitocina também é uma forma de violência quando não se tem o consentimento da gestante, que consiste num medicamento que faz com que o nascimento da criança aconteça mais rápido e de forma mais prática. (WERMUTH, GOMES, NIELSON, 2016).

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Uma a cada quatro mulheres já sofreram violência obstétrica no Brasil. A forma com que são tratadas reflete de uma forma devastadora no restante da sua vida, com descuido e descaso, sendo muitas vezes proibidas em se alimentar ou se hidratar, não deixando a gestante se movimentar e nem demonstrar dor, bem como, sem o acompanhamento necessário pelos profissionais da saúde, deboches também são comuns, xingamentos quando se queixam de dor, ou quando gritam com as contrações, insultos que as deixam mais nervosas e sem saber como reagir, não as deixando seguir o fluxo do seu corpo, prejudicando assim, sua saúde física e mental. É obrigação das redes públicas ou privadas de permitir que um acompanhante fique com a gestante durante todo o trabalho de parto e essas instruções muitas vezes nem chegam ao alcance delas, fazendo com que esse momento as faça ter mais medo, mais dores e sofrimento. (JORNAL DA RECORD, 2017).

Um dos procedimentos mais arriscados é a Episiotomia (episio ou pique), que demanda de um corte cirúrgico entre o canal vaginal e o ânus, que tem a intenção de facilitar o parto, alargando a passagem do bebê, encurtando assim, o tempo do trabalho de parto. Foi criada para facilitar quando há alguma urgência grave no parto, no entanto, ele vem sendo aplicado de forma banal, sem necessidade e acaba virando um ato de rotina. Causa lacerações graves, aumentando o risco de infecções, dor e altera a vida sexual da mulher. Esse procedimento acontece em mais de 53% dos partos no Brasil, conforme o Inquérito Nacional sobre Parto e Nascimento (Nascer no Brasil).

Esse canal é composto por uma fibra muscular, capaz de se estender e depois voltar ao normal, é o poder que o corpo da mulher possui, em ter seu filho sem prejudicar sua qualidade de vida após o nascimento, mas essa orientação é raramente passada às pacientes, elas são orientadas na maioria das vezes, de forma incorreta e sendo instigadas a fazer esse procedimentos sem necessidade, com a ilusão que ele evita o rompimento neste canal, onde, na verdade, a Episiotomia é a grande causadora do mesmo.

Outro procedimento agressivo é a Manobra de Kristeller, onde é feita uma pressão na parte superior do útero em direção ao canal de parto, é feita durante as

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contrações, colocando força na barriga da gestante, para acelerar o parto e fazendo com que ela sinta muita dor e desconforto durante esse momento. Assim como a Episiotomia, a Manobra de Kristeller pode causar o rompimento do canal de parto, aumento do risco do parto, podendo até causar fraturas na mãe e na criança.

Essa manobra só deve ser usada em últimos casos, onde não há outra maneira de fazer com que o bebê venha ao mundo, se não através deste método e quando o trabalho de parto se encontra difícil, também quando o sofrimento do nascimento é considerado grave e a gestante não consinta com a cesariana. Tem que ter um grande cuidado, pois se o bebê estiver em posição que dificulte essa manobra, a mesma pode causar graves fraturas na clavícula e braços, podendo piorar a situação.

Episiotomia (episio ou pique): corte no períneo (região entre a

vagina e o ânus) feito com a intenção de facilitar a saída do bebê; atualmente já se sabe que a episiotomia rotineira pode causar mais danos do que benefícios. Por isso, seu uso deve ser limitado.

[...]

Manobra de Kristeller: é um empurrão dado na barriga da mulher

com o objetivo de levar o bebê para o canal de parto. Esta prática pode ser perigosa para o útero e o bebê, não havendo evidências de sua utilidade. (MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO, 2015, p. 13)

Investir em estrutura adequada, bem como, nas casas de parto com profissionais especializados e realmente competentes, que acompanham a gestante em todos os procedimentos e etapas, dando todo amparo que elas precisam, visando o conforto e à segurança para que o trabalho de parto ocorra de forma mais branda e menos traumática possível. Porém, a analgesia ainda não é permitida nestas casas de parto, contudo, quando esse procedimento tem de ser feito, as pacientes são encaminhadas para o hospital, tendo que se locomover e prejudicando o procedimento já feito causando mais nervosismo, tensão e colocando em risco a vida da mãe e do filho. O aperfeiçoamento e crescimento destes locais seria uma das soluções mais importantes para a diminuição dos casos de violência obstétrica.

[...] O parto e o nascimento de um filho são eventos marcantes na vida de uma mulher. Infelizmente muitas vezes são relembrados como uma experiência traumática na qual a mulher se sentiu agredida,

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desrespeitada e violentada por aqueles que deveriam estar lhe prestando assistência. A dor do parto, no Brasil, muitas vezes, é relatada como a dor da solidão, da humilhação e da agressão, com práticas institucionais e dos profissionais de saúde que criam ou reforçam sentimentos de incapacidade, inadequação e impotência da mulher e de seu corpo. Nesse sentido, acredita-se que outras formas de parir e nascer são possíveis e devem ser oferecidas a toda a sociedade. As mulheres usuárias do sistema de saúde brasileiro, devem reinvindicar intervenções urgentes na assistência ao parto e nascimento. Parto sem violência, com respeito, com assistência e escolha informada baseada em evidências é o mínimo que deveria ser ofertado às mulheres. (WERMUTH, GOMES, NIELSON, 2016, p. 13).

O Ministério da saúde apoia expressamente o parto humanizado, onde a gestante é respeitada perante seus desejos para com seu parto, tendo total liberdade de expressão, locomoção nesse momento importante. O programa “Viva mais SUS” determina que elas sejam respeitadas e preparadas para o parto, o cuidado vem desde o pré-natal até o nascimento, diagnosticando problemas e os também os evitando, sabendo que cada corpo reage de uma maneira diferente, com seu tempo, seu jeito, cada corpo tem sua regra e automaticamente tem que ser respeitada como um todo, com todos os auxílios possíveis deixando a gestante escolher de que forma quer proceder, ciente de todos os métodos e direitos dentro deste local. (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2018).

Diante de todos os casos dessa violência, o grande aliado, além das casas de parto e contratação de profissionais preparados e adequados é a conscientização destas gestantes sobre os profissionais deste meio, trazendo também os reflexos que a violência obstétrica leva à vida da mãe e do bebê, deixando claro todos os direitos envolvidos, trazendo políticas eficientes para evitar o sofrimento, trauma e trazer o parto humanizado como uma opção grandiosa que mudaria definitivamente a vida destas mulheres. Conforme a lei nº 11.10/2005, a gestante tem direito de ter presente um acompanhante, de sua preferência, fazendo com que tudo flua da melhor forma, trazendo calma, aconchego e amor a essa gestante.

[...]Nesse sentido, a humanização da assistência ao parto também exige por parte dos profissionais de saúde uma atitude ética e solidária. Além disso, é imprescindível a organização da instituição de saúde, de forma a estabelecer um ambiente acolhedor e que adote condutas hospitalares que não estejam relacionadas ao tradicional isolamento imposto à mulher em trabalho de parto. Outrossim, devem ser adotadas medidas e procedimentos benéficos

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para o acompanhamento do parto e do nascimento, evitando-se, assim, toda e qualquer prática intervencionista desnecessária. (WERMUTH, GOMES, NIELSON, 2016, p. 13).

Procurar informação é a atitude mais adequada e sensata da gestante, atrás disso ela terá a certeza de que forma quer dar à luz, se é de forma natural, humanizado, cesariana ou vaginal. Desta forma a segurança aumenta, a confiança e relação com o bebê melhoram e os laços se empoderam, exigir ter contato com o filho logo após o parto é algo que vai fazer bem para ambos os dois, ajuda na adaptação do recém-nascido, em saber que a mãe está ali, e dar autoconfiança para a gestante, tendo a certeza que seu filho está bem, vivo, e em ótimas mãos.

O acompanhamento de um familiar é de extrema importância, a ajuda, apoio e motivação para continuar com o procedimento faz com que tudo flua de melhor forma, melhorando a relação dos pacientes e fazendo com que o momento seja o mais brando e emocionante possível. O respeito é a base de tudo, sem exceções, e a hora é a da mãe, é o momento em que ela vai saber de que maneira agir, como sentimento de que pode decidir perante seu corpo e de como seu filho irá vir ao mundo.

A obrigação dos hospital e locais onde são feitos estes procedimentos são de profissionais realmente qualificados, onde respeitem que cada gestante deve receber uma atenção especial, que nenhuma será igual a outra, cada corpo reage de uma maneira, e elas precisam sentir que estão em boas mãos e com profissionais que lhe despertem confiança, sabendo que há qualificação, mas principalmente a consciência humana, com bom senso e agilidade para acalmar e ampliar as possibilidades de escolha na hora da gestante ter o seu primogênito.

Os profissionais de saúde precisam ter relação com as pacientes, acolhendo a gestante com educação, enxergá-las e ouvi-las, mostrando que se importam com o bem-estar da paciente, isso também vai muito da gestão do hospital, exigindo um atendimento qualificado, ouvindo o que se passa entre o paciente, seus familiares com estes profissionais. O tempo dos médicos as vezes é curto para esclarecer todas as dúvidas da gestante, portanto, seria essencial que a equipe estivesse toda em sincronia e soubesse orientar essas mulheres para que elas percam a timidez e

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consigam se abrir melhor, com o que sentem e também pelos seus receios perante a hora do parto. O acompanhamento é indispensável, é de obrigação do Estado estar disposto a atender em qualquer hipótese, tanto numa consulta de rotina, como numa emergência. Todos os pacientes pensam diferente, tem receios e duvidas que nem sempre se enquadra no cotidiano, depende de cada médico e atendente expor suas orientações e ouvir as dúvidas separadamente, dando atenção e amparo satisfatório.

Dar o diagnóstico correto e alternativas de procedimentos é um serviço obrigatório, não impor a maneira mais fácil e sim a mais satisfatória para ela, deixando-a escolher e analisar o seu desejo sem ser obrigada a fazer tal e qual o médico acha mais prático e cômodo.

Muitas vezes os profissionais subestimam os riscos envolvidos (para a mãe e o bebê) nos procedimentos, como a cesárea, a indução ou a aceleração do parto, a episiotomia, entre outros, e não explicam as indicações e contraindicações das condutas porque acham que as mulheres “não iriam entender” ou iriam ficar assustadas. Essa é uma postura preconceituosa e que nega às mulheres seu direito à informação. (FUNDAÇÃO FORD, 2002-2003, p.08.)

Essa violência ocorre no mundo inteiro, deixando a gestante tão desconfortável que vira um episódio traumático na vida dela, quando deveria ser prazeroso e inesquecível, os meios menos invasivos são a melhor solução, a diminuição dos maus tratos deve ser abordada para todos os profissionais, sendo proibida a violação deste direito, independente da maneira que ela desejar, apoio é a solução mais eficaz. O acompanhamento vem desde a primeira consulta, a paciente desenvolve uma confiança em seu médico e que através dele ela passa a ter ou não certezas de como quer seu parto, por isso a abordagem tem que ser de forma humana e não cruel.

O Ministério da Saúde recomenta a retirada de vários procedimentos invasivos e violentos no corpo da mulher durante o parto. Deixando de forma explanada a ela, todas as opções e as praticando somente com o seu consentimento. É tão comum haver essas formas de violência, como a imobilidade dela durante o parto, com medicamentos e muitas vezes de forma com que elas

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sejam amarradas para não causar alguma situação desagradável a estes profissionais, ou até mesmo os cortes ou/e uso de ferramentas que violam a vontade dela e também o tempo de seu corpo, estes procedimentos as machucam, são muitas vezes torturadas, censuradas e violentadas de uma forma tão absurda, que deletam a hipótese de ter outro filho, para nunca mais terem que passar por tais situações e sofrimentos.

A lei 8.080/90 determina que a gestante tem direito de um acompanhante durante o parto, o que podemos ver, que isso nem sempre é assegurado. Não há o que descrever sobre a importância desse acompanhante que a gestante escolhe, é a pessoa que vai lhe acalmar e acompanhar neste momento único, as unidades de saúde precisam fazer com que elas saibam disso desde o primeiro momento. Muitas não fazem ideia deste direito, pois, não são informadas e são obrigadas a enfrentar sozinha.

A doula também tem um papel indispensável, é ela quem ampara a gestante, dando o total suporte, fazendo com que a gestante consiga achar um ponto confortável e que se sinta mais conectada com a ajuda que lhe é oferecida, sem medos e receios, deixando-a confortável e com certeza que pode colocar sua confiança nessa profissional, a qual, não medirá esforços para a melhor solução em cada caso e cada pessoa.

A doula é uma profissional que acompanha e dá suporte à mulher em trabalho de parto, ajudando a cuidar do seu bem-estar físico e emocional. Ela acompanha a família desde o pré-parto, orientando e ajudando nas escolhas e também no trabalho de parto, colaborando com o diálogo entre a mulher e os profissionais de saúde. (MINISTÉRIO PÚBLICO DE PERNAMBUCO, 2015, p. 11)

Parto humanizado é o compromisso com os funcionários da saúde, o acesso da gestante e seus familiares deve ser imediato, deixando-a desfrutar de todos os meios para o melhor andamento e bem-estar possível. Ouvir o que ela tem a dizer, dar privacidade e conforto, diminuir a possibilidade de estresse e deixar ela se movimentar, posicionar-se, alimentar- se e fazer o que a deixa mais confiante e relaxada. O tratamento é a principal válvula na influência deste período, desde o primeiro pré-natal até o nascimento de seu filho, Além do que, o primeiro contato

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deve ser feito de forma imediata, isso faz toda a diferença na vida da mãe e de seu filho.

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2 A VIOLÊNCIA OBSTÉTRICA: O AMOR SUBSTITUÍDO POR OPRESSÃO E MEDO

No parto a gestante descobre o significado da vida, gerando um ser que lhe proporciona um amor incondicional que jamais imaginaria poder sentir. Na maior parte dos casos, a mulher imagina uma gestação tranquila e idealizam seu parto de várias formas, com ansiedade, medo, expectativa e felicidade. Por diversas vezes essa essência é quebrada, principalmente quando as mulheres não são tratadas da forma que precisam, não recebem a atenção necessária, mas sim, são recebidas com descaso, grosserias, deboches e são totalmente violentadas perante seu direito de ser humano, de mulher e de mãe.

Com isso, o que era para ser felicidade e emoção, se torna pesadelo, desespero e repressão. O resultado dessa violência é a falta de acompanhamento adequado e necessário, pois, muitas mulheres deixam de ir até o local adequado para não se sujeitar a passar novamente pelo tratamento que sofreram anteriormente e também pelo fato de não receberem a orientação da importância destas consultas de rotina e quando passam por algum episódio anormal durante esse período.

A solução é o tratamento, a atenção, a orientação e principalmente o acolhimento dos profissionais, de forma que faça com que as gestantes e seus familiares se sintam seguros e amparados, tendo certeza que serão atendidos em qualquer hipótese e vistos como ser humanos especiais, que estão passando por uma das melhores fases de suas vidas. É com este tema que se ocupa o presente capítulo.

2.1 Ações e omissões no trabalho de parto e a configuração da violência

obstétrica como violação dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres

O primeiro lugar que toda gestante deve recorrer é o hospital, o pronto atendimento, com especialistas para ter o melhor tratamento e orientação para que possa ter os cuidados necessários no período de gestação, durante o parto e até mesmo depois dele.

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Mas como recorrer a estes recursos se ela vai ser tratada de forma brutal e com tanta violência? Diante disso, o que cada mulher tem que lutar é por suas garantias e direitos, denunciar, expor os acontecimentos e jamais deixar que isso vire rotineiro, tanto para si, como para outras gestantes.

As formas de violências são diversas: vão da orientação até a maneira que as mulheres são tratadas durante o parto, bem como a omissão dos profissionais no momento da informação dos direitos às gestantes, nos procedimentos e na importância de orientá-las da importância em ter um acompanhante no parto, lhes passando confiança e ajudando a amparar a mulher no que for necessário.

O direito do acompanhante não é apenas para quem faz o pagamento no momento do nascimento de seu filho e sim, para todas, nas fases do parto, tanto nos serviços públicos, como nos privados. Isto está previsto na Lei nº 11.108/05. Por se tratar de um procedimento tão íntimo e único em sua vida, nada melhor que ter um acompanhante para lhe ajudar na questão emocional durante o nascimento da criança, pois o emocional influencia muito no andamento e na forma do parto fluir, na segurança dela e também para saber que ela está sendo amparada, cuidada e tendo toda a atenção necessária.

No Brasil, foi interessante constatar que muitas das práticas adotadas pelos profissionais que preconizavam o modelo de atenção humanizada eram referendadas pelas evidências científicas e estavam classificadas no Grupo A. Por exemplo, hoje em dia, reconhece-se que a presença de um acompanhante da escolha da mulher é a melhor “tecnologia” disponível para um parto bem-sucedido: mulheres que tiveram suporte emocional contínuo durante o trabalho de parto e, no parto, tiveram menor probabilidade de receber analgesia, de ter parto operatório, e relataram maior satisfação com a experiência do parto. Esse suporte emocional estava associado com benefícios maiores quando quem o provia não era membro da equipe hospitalar e quando era disponibilizado desde o início do trabalho de parto. (CIELLO, 2012, p. 16).

Correto seria se toda mulher tivesse essa instrução na primeira consulta de sua gestação, para haver o planejamento e a escolha desde o princípio, e saber da necessidade e importância. Porém, mesmo assim nem todos os hospitais cumprem com esse direito. O acompanhante é tão importante que diminui vários problemas no

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momento do parto, diminui a porcentagem de cesárias, de medicamentos, e de procedimentos desnecessários, pois faz com que a paciente tenha mais confiança e bem-estar, fazendo com que o parto flua de forma natural, emocionante e com certeza de que está sendo amparada de forma adequada.

A lei que garante, desde 2005, que a gestante tenha acompanhante de sua escolha é, segundo especialistas, de suma importância para o bom desenvolvimento do trabalho de parto. “A presença de uma pessoa da confiança da mulher, como o seu companheiro, traz benefícios para a gestante e ao bebê, como a diminuição das cirurgias cesarianas, necessidade de medicações para alívio da dor, redução do tempo de trabalho de parto e dos casos de depressão pós-parto”, explicou o ginecologista e obstetra Alberto Jorge Guimarães. (CIELLO, 2012, p. 22).

Outros problemas muito comuns são os procedimentos feitos de forma desnecessária, expondo a gestante a uma situação dolorosa e que provoca danos à sua saúde e qualidade de vida, tanto para si, quanto para a criança. Um desses procedimentos é a episiotomia, que, por muitas vezes, não é notada, pois por muitos momentos é enquadrada como um procedimento normal, que faz parte do trabalho de parto quando se trata de parto normal.

Trata-se de um corte (trauma) na região do canal vaginal, feito na hora do parto e tem como finalidade a ampliação do canal por onde irá passar a criança. É feito com o bisturi, cortando músculos, nervos, vasos da vulva e do canal vaginal, provocando por muitas vezes infecções graves, laceração do canal vaginal e o canal anal; também se corre o risco do canal do clitóris ser cortado, fazendo com que a mulher sinta muita dor nas relações sexuais, hematomas e também grandes chances de complicações mais severas nos próximos partos. Vários estudos já revelaram que esse procedimento é desnecessário e acontece quando os profissionais não respeitam o tempo do corpo da mulher e querem simplificar e comprimir o tempo de trabalho de parto, não pensando nas complicações futuras e na qualidade de vida das pacientes.

Desde o início da década de 1980 há fortes indícios de que a episiotomia de rotina é prejudicial para a mãe e não oferece benefícios para o bebê (CARROLI; BELIZÁN, 1999), e foi contraindicada como procedimento rotineiro em 1985 pela Organização Mundial de Saúde (WHO, 1985). Diante dessas

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informações, constata-se que as mulheres estão sendo submetidas à episiotomia de forma rotineira, em uma relação de confiança com o profissional de saúde, em um momento de vulnerabilidade, muitas vezes sem aviso e sem informações científicas, em uma situação na qual não é possível se defender – constitui violência obstétrica de caráter físico, sexual e psicológico. (CIELLO, 2012, p. 82-83 ).

A episiotomia é, assim, uma forma de mutilação, uma das ações mais absurdas sobre a violência obstétrica, diante de todas as orientações, das diversas formas de procedimentos, é inadmissível que ainda, hoje em dia, essa técnica é tão usada e acaba com a qualidade de vida de uma grande porcentagem das pacientes, que por muitas vezes, nem imaginam o que está acontecendo e que técnica está sendo usada, consequentemente, porque não são respeitadas e nem vistas como a mais influenciadora sobre qual procedimento usar e qual é de sua vontade. Estudos mostram que essa técnica ainda é ensinada nas Universidades de Medicina do Brasil, o que se torna completamente inadequado nos dias de hoje, principalmente envolvendo direito de liberdade de escolha da gestante.

Outro método feito e que muitas vezes sem o consentimento da paciente é o uso da Ocitocina, que serve como uma forma de acelerar as contrações e assim, aumentar as dores da gestante, pode ser muito prejudicial à saúde da criança, como da mãe. Aumenta o sofrimento, tira o prazer do parto, pois, acelera todo o tempo que o corpo tem para o nascimento da criança, já que é algo sintético que invade o organismo da mulher, prejudicando o tempo que cada corpo leva para desenvolver o parto. O uso desse medicamento é indicado em situações específicas e não por rotina quando o profissional quer somente acelerar o trabalho de parto. Cerca de 40% das mulheres recebem esse medicamento sem ao menos ter o seu consentimento, configurando um dos procedimentos mais usados no Sistema Único de Saúde (SUS), sendo extremamente antiético, ferindo gravemente o direito de escolha da gestante, que por muitas vezes está impossibilitada e não consegue perceber a violência que está sofrendo. Segundo Zanardo, Calderón, Nadal e Habigzang (2017, p. 07), os dados da pesquisa “Nascer no Brasil” mostraram que o uso da ocitocina na aceleração do trabalho de parto era mais frequente em usuárias do SUS e nas gestantes de menor escolaridade. Nesses mesmos grupos foi verificado que a frequência do uso de analgesia foi menor.

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Já a manobra de Kristeller, ocasiona lesões graves aos bebês e às gestantes. É realizada a compressão abdominal, com a intenção de empurrar o bebê para baixo. É feita através dos profissionais que, por sua vez, apoiam-se na gestante, as vezes até sobem em cima dela e, com isso, fazem força com os braços em direção ao fundo uterino, forçando assim, a saída da criança. Esta manobra ainda é muito utilizada, provocando fortes dores e desconforto, prejudicando assim a oxigenação do bebê e podendo deslocar seus membros, ou até mesmo lesionar mais gravemente a criança.

Essa manobra ainda é frequentemente realizada na assistência ao parto em conjunto com outras intervenções inadequadas realizadas em cadeia, como condução para mesa de parto antes da dilatação completa, imposição de posição ginecológica (que prejudica a dinâmica do parto e prejudica a oxigenação do bebê), comandos de puxo, mudança de ambiente, entre outros. Salienta-se que os próprios profissionais de saúde reconhecem que a manobra de kristeller é proscrita, porém, continuam a realizá-la, apesar de jamais a registrarem em prontuário (LEAL et al., 2012). (CIELLO, p. 103-104).

Esse método foi considerado inadequado pelo Ministério da Saúde e a Organização Mundial da Saúde, pelos vastos problemas que eram ocasionados e claro, pelo transtorno e sofrimento da criança e da gestante, não tendo qualquer evidência de benefícios ao ser usada. Podendo até ocasionar para a gestante uma laceração do canal vaginal, através da tamanha pressão que esta manobra apresenta, ou até a rotura uterina (rompimento do útero), descolamento de placenta, deslocamento dos órgãos internos, hemorragia e até mesmo fratura das costelas. Para a criança, há um grande risco de traumatismo craniano, fratura de ossos, ferimento na coluna vertebral e lesões nos órgãos internos.

Frequentemente as pacientes descrevem que foram submetidas a esse procedimento, doloroso e desumano, tanto que, essa manobra é totalmente desnecessária se o profissional fazer a sua obrigação e deixar a mulher reagir da sua maneira, respeitando o corpo de cada uma, dando atenção e a acompanhando em cada passo, permitindo a presença do acompanhante, mantendo a paciente calma, orientando-a para ter um parto mais fluente, pois, cada corpo reage de uma maneira, com seu tempo natural.

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