• Nenhum resultado encontrado

Extracto sobre os engenhos de assucar do Brasil, e sobre o methodo já então praticado na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e opulencia do Brasil, para se combinar com os novos methodos que agora se propoem

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Extracto sobre os engenhos de assucar do Brasil, e sobre o methodo já então praticado na factura deste sal essencial, tirado da obra Riqueza e opulencia do Brasil, para se combinar com os novos methodos que agora se propoem"

Copied!
141
0
0

Texto

(1)

H « S

M

ftíj-S--^--*' iHHWi1 i ' ' ' ii

p

I

Í ' " Í ! ^ StíiíÂfâí & 3fc: ^H

(2)

SECÇÀO GRAFICA Departamento de Cultura Restgurgdo e Encadernado em.Zr.XF....] Y-.-l /.%?)

>i i, / u

*.r=r

3,

\0mx\

%

N^

f tTJ^

(3)

% A.

^ v 4

(4)
(5)

E X T R A C T O

OS ENGENHOS DE ASSUCAR

DO B R A S I L ,

E

SOBRE O METHODO JA' ENTÃO PRATICADO

NA FACTURA DESTE SAL ESSENCIAL,

TIRADO DA OBRA

RIQUEZA E OPULENCIA DO BRASIL,

PARA SE COMEINAR COM OS NOVOS METHODOS, QUE AGORA SE PROPÕEM DEBAIXO

D O S A U S P Í C I O S

S. AL T E Z A R E A L

o P R Í N C I P E REGENTE

N O S S O S E N H O R ,

P O R

FR. J O S É M A R I A N O V E L L O S O ,

L I S B O A,

N A T Y P O G R A P H I A C H A 5 L C O G R A P H I C A , £ LITTERARIA DO ARCO DO CEGO.

(6)
(7)

S E N H O R ,

A

OBRA , que tenho a honra de apresentar a

V A. R. sobre o Assacar, segundo a minha no-ticia , hê a única que antecede em nossa lingua-gem ás que de Ordem de V A. R. se tem impres-so a favor dos empreiteiros deste grangeo no Bra-sil. Data dos princípios da centúria decimaoitava, e se óré que seu Author occultára o seu nome de-baixo d'outro suppostò. O alvo, em que fitou os seus olhos, foi huma exposição simples das rique-zas e opulencias do Brasil, derivadas da cultura da Canna, da criação do gado vaccum , e da ex-traccão do oiro no certãò dos Cataguazès, cha-,

maâo, por esses dias, Minas do oiro de S. Paulo,

e hoje Minas Geraes, que então se acabavão de descobrir, e no mesmo momento os Adiceiros co-meçava o a sua cata, ou a sua lavra.

Quanto o Author escreve á cerca da extrac-Ção deste precioso sal essencial hé mais devido aos seus olhos, que ao seu entendimento; pois só

(8)

cre-creve, o que vira fazer nos mais célebres engenhos da Bahia, sem avançar, o que deveriãa fazer, isto hè, cousa alguma sobre o seu melhoramento, ou, no todo , oic nas partes , que o constituem, quero dizer, suavisar o enorme peso das suas máqui-nas , diminuir o imnienso consummo das suas le-nhas , melhorar o chymico processo da extracção deste sal essencial,. assim na quantidade, como na qualidade:

Hum fatal veto ao depois de ter visto a luz publica pela beneficio do prelo, veio- estropear ~a carreira desta abra.-. ãue nada parecia conter

contra a santidade das Leis Religiosas, Políti-cas , e Moraes, como julgarão seus censores. O resultado não foi de menor fatalidade, porque se veio a entender que, não havendo hum vicio so-bre que elle calasse, se não consentiria a impres-são d'obras desta natureza , ainda sendo melhores. Agrilhoados os entendimentos desta maneira

(9)

ser-servarão a sua antiga practica por noventa an-nos (e com quanto detrimento do bem commum ? ) >por- não se poderem communicar algumas idéas

particulares descubertas nas diversas Capitanias d'aquelle Estado ? (••

Tem visos %de. improvável, se a origem desta

prohibição nasceo pelo roteiro, que o Author dá da antiga estrada por onde de S. Paula se viajava nesses dias a Minas , hoje conhecida pelo nome de caminho velho ; I. porque nessa época ja por

Decreto Regio, governando o Sul Artur de Stà, se

, abria a nova estrada muito, mais breve, que hoje

se segup , conhecida pelo nome de caminho^ novo :

/ / . porque, alèm^ dos erras que commetteo o

Au-thor, tendo escripto por informações, a mesma es-trada ja se achava descripta muito antes na Histo-ria Natural do Brasil^, composta por Marcgrave,

• e publicada por La/et, segundo a noticia dada por

Guilherme Glinmierio, Hollandez, recolhido á sua

(10)

pa-pátria, tendo sido antes morador na Vül}a de"Santos,

nos princípios da XVII centúria , eac&mpanhado a expedição, que D. Francisco de Souiàf e primeiro General do Sul pelos Felippes, fèz aos Certões de Sabarabocu ao descobrimento dás esmeraldas. "

Além desta , se imprimio em Pisauro e Roma, e ultimamente em- Lisboa o elegante Carmen De>

Opificío S a c c h a r i , composto pelo Padre Prudencio

do Amaral, filho da Bahia. A Unguà,-" e o verso \t aparta do capto vulgar.

Graças aV.A. R., que, mandando trasladar para o Fazendeiro do Brasil, o rjne escreverão Bryan

Edxvard, o Anonymo Author da Cultura Ame-ricana , Dtí Hàmél du Mónceáú, Dütrohe dela

Goutiire sabre este assumpto, è outros sobre outros análogos, que constituem os interessantes objectos da economia rural , das Colônias Brasilianas, lhes tem. patenteado com toda a evidencia e energia a nullidade daquelle v e t o ; è quanto hé^e será dó seu

(11)

Real agrado { que elléYlhajãóde mostrar, por

gra-tidão a hum tão grande beneficio £ cbrrfõ^lhes aca-ba de fazeY , ãe òs d.èsprendei^'â"hum tal prejuisb .

não só pondo ern'euceçuçãb, d'qub se lhes insinua, ^ mas também, fazendo conhecer, o que tem aprendi-do da experiência sobre os mesmos objectos ; eque as suas almas naõ são degradadas, ou os entendi-mentos pecos, como pensão os injustos Paxvs, nem .temporãos ou precoces, como affirrnàrãói outros da

mesm&lffàus^ &'*3.

As obras de João Manso Pereira , de Manoel d*Arruda Câmara , de José Caetano Gomes , co-mo effeitos dos Soberanos influxos de V A., R. 't^^<Wk\áml^>&Aãà^à&.vãSka verdade. Entretanto. SENHOR , merece esta obra ser lida para o cotejo , com as que V. A. R. manda imprimir; para se co-nhecer o estado dos Engenho&na centúria decimaoi-tava^para se Conservar a nomenclatura Portu-guf&u 'adoptada-•. e^ffl&piàda pelos Fabricantes.

(12)

Per-jPermittao Supçems Distribuidor: dos Impérios que

o de V. Ar R. se caracterise .pelaestabilidade e

prosperidade , como pede, &anciosamente dese-ja para o bem geral da Nação.

De V. A. R.

O mais humilda Vassallo.

(13)

C U L T U R A , E O P U L E N Ç I A

D O B R A S I L ,

\ .

C A P I T U L O I.

Do Cabedal, que ha de ter o Senhor de hum Engenho Real.

\ 3 SER Senhor de Engenho h e titulo, a que

muitos a s p i r a ô ; porque traz conisigo ser servi-d o , o b e servi-d e c i servi-d o , e respeitaservi-do servi-de muitos. E se for, qual deve s e r , h o m e m de c a b e d a l , e g o v e r n o ; b e m se pode estimar no Brasil o ser Senhor d e E n g e n h o , quanto proporcionadamente se estimaõ os Titulos entre os Fidalgos do Reino. Porque E n g e n h o s ha na B a h i a , que daõ ao Senhor qua-tro mil pães de Assucar, e ouqua-tros pouco m e n o s , c o m Canna obrigada á m o e n d a , de cujo rendi-m e n t o logra o E n g e n h o , ao rendi-m e n o s , a arendi-metade , co-m o de qualquer o u t r a , que nelle livreco-mente se m o e : e e m algumas partes , ainda mais que a m e -t a d e .

D o s Senhores d e p e n d e m os L a v r a d o r e s , que t e m Partidos arrendados em terras do mesmo E n -genho , c o m o os Cidadões dos Fidalgos: e quanto os Senhores saõ mais possantes, e bem appare-lhados d e todo o n e c e s s á r i o , affaveis, e

(14)

dei-2 C U L T U R A ,

d e i r o s , tanto mais saõ procurados , ainda dos que naõ tem a C a n n a c a t i v a , ou por a n t lg J

obriga-ção , ou por p r e ç o , que para isso r e c e b e r ã o . Servem ao Senhor do E n g e n h o e m vários ot-íicios , além dos escravos de e n x a d a , e louce., q u e t e m nas Fazendas-, e na m o e n d a ; e tora os M u l a t o s , e M u l a t a s , N e g r o s , e Negras der casa, ou occupados era outras partes ; Barqueiros, Ca-noeiros , Calafates , Carapinas , Carreiros , Olei-ros , VaqueiOlei-ros , Pastores , e Pescadores. Tem mais cada Senhor destes neccessariamente hum M e s t r e de Assucar , h u m B a n q u e i r o , e hum Con-trabanqueiro , h u m Pürgador , h u m Caixeiro no E n g e n h o , e outro na Cidade , F e i t o r e s rios Parti-d o s , e R o ç a s , h u m Feitor Mór Parti-do E n g e n h o : e para o espiritual, h u m Sacerdote , seu Capellaò:e cada qual destes officiaes t e m soldada.

T o d a a escravatura ( que nos mayores Enge-nhos passa o n u m e r o de c e n t o e cincoenta, e da-zentas p e s s o a s , contando as dos Partidos ) quer m a n t i m e n t o s , e farda , medicamentos , enferma-ria , e E n f e r m e i r o : e para isso saõ necessáenferma-rias roças d e muitas mil covas de Mandioca. Querem os barcos v e l a m e , c a b o s , c o r d a s , e breu. Que-r e m as foQue-rnalhas, que poQue-r s e t e , e oito mezes aQue-r- ar-d e m ar-de ar-d i a , e ar-de n o i t e , muita l e n h a : e para isso h a mister dous barcos v e l e j a d o s , para se buscar nos p o r t o s , indo h u m atraz do outro sem parar, e m u i t o d i n h e i r o , para a c o m p r a r : ou grandes ma-tos , com muima-tos c a r r o s , e muitas juntas de Bois, para se trazer. Q u e r e m os Cannaveaes também suas b a r c a s , e carros cora dobradas esquipacoens de bois : q u e r e m enxadas , e fouces. Q u e r e m as serrarias machados , e serras. Q u e r a Moenda de toda a casta de paos de lei de s o b r e c e l l e n t e , e

(15)

-E O P I T Z i f e N C I A D O B R A S I L . 3

muitos quintaes de a ç o , e de ferro. Q u e r a car-pentaria , madeiras s e l e c t a s , e fortes para esteios, v i g a s , a s p a s , e r o d a s : e pelo menos os instru-mentos mais usuaes , a saDer , serras , t r a d o s , v e r r u m a s , c o m p a s s o s , r e g r a s , e s c o p r o s , e n x ó s , goivas, m a c h a d o s , marteltos , cantins , e juntei -r a s , p-regos , e plainas. Que-r a Fab-rica do Assuca-r paroes , e caldeiras , t a c h a s , e bacias , e outros muitos instrumentos menores , todos de cobre ; cujo preço passa de oito mil cruzados , ainda quando se v e n d e naõ taõ c a r o , como nos annos p r e -s e n t e -s . Saõ finalmente nece-s-sária-s , além da-s - san-zallas dos escravos, e além das moradas do Ca-p e l l a õ , F e i t o r e s , M e s t r e , P ü r g a d o r , B a n q u e i r o , e Caixeiro , huã Capella d e c e n t e c o m seus orna-m e n t o s , e todo o aparelho do A l t a r ; e huãs ca-sas para o Senhor do E n g e n h o , com seu quarto separado para os hospedes , que no Brasil, falto totalmente de estalagens , saõ contínuos; e o edi-fício do E n g e n h o , forte , e espaçoso , com as mais Officinas , e casa de purgar , caixaria, l a m b i q u e ; e outras c a u s a s , que por miúdas , aqui se escusa a p o n t a d a s ; e dellas se fallará em seu lugar.

O que tudo , bem considerado , assim como obriga a h u n s homens de bastante c a b e d a l , e d e b o m j u i z o , a q u e r e r e m antes ser Lavradores pos-s a n t e pos-s de Canna , com h u m , ou doupos-s Partidopos-s d e mil pães de A s s u c a r , c o m trinta , ou q u a r e n t a escravos d e e n x a d a , e fouce ; do que ser S e n h o -res de E n g e n h o por poucos a n n o s , com a l i d a , e a t t e n ç a õ , que pede o governo d e toda essa fa-brica ; assim também he para p a s m a r , como hoje se a t r e v e m tantos a l e v a n t a r E n g e n h o c a s , tanto q u e c h e g a r ã o a t e r algum n u m e r o de escravos , e a c h a -r ã o , q u e m lhes emp-restasse alguma quantidade de

(16)

di-4 S C U L T U R A-,

d i n h e i r o , para começar a tratar de huã o b r a , de qiie naõ saõ capazes por falta de g o v e r n o , e de a g e n c i a ; e muito m a i s , por ficarem l o g o , na pri-meira safra, taõ empenhados com dividas , que , na segunda-Ou terceira, j á s e d e c l a r a õ perdidos : sen-d o juntamente c a u s a , que os que fiáraõ sen-delles, dando-lhes fazenda , e d i n h e i r o , t a m b é m q u e b r e m ;

è que outros zombem da sua mal fundada

pre-súmpçaò , que taõ depressa c o n v e r t e o e m palha seca aquella primeira verdura de h u ã a p p a r e n t e , m a s enganosa esperança.

E ainda que n e m todos os Engenhos sejaõ R é à e s , n e m todos p u x e m por tantos gastos, quan-tos até aqui temos a p o n t a d o : c o m t u d o , entenda cada q u a l , que cora as mortes , e fugidas dos ser-vos , e com a perda de muitos cavallos, e bois, e com as s e c a s , que de improviso apertaò , e mir-raô a Canna , e c o r n o s d e s a s t r e s , q u e a cada pas-so s u c c e d e m , c r e s c e m os gastos mais , do que se cuidava. E n t e n d a t a m b é m , que os Pedreiros , e Carapinas , e outros Officiaes desejosos de ganhar a custa alhea , lhe facilitará© tudo de; tal sorte , que lhe parecerá o mesmo levantar h u m E n g e n h o , que huã sanzalla de n e g r o s , e quando c o m e ç a r a ajuntar os a v i a m e n t o s , achará ter ja despendido tudo o que t i n h a , antes de se p ô r pedra sobre pedra , e naõ t e r á , com que pagar as soldadas ; crescendo de improviso os g a s t o s , c o m o por cau-sa das enxurradas os Rios. ,

T a m b é m , se naõ tiver a c a p a c i d a d e , m o d o , e a g e n c i a , que se r e q u e r , na boa disposição , ©go-verno de t u d o , na eleição dos feitores , e offi-ciaes , na boa correspondência com os L a v r a d o r e s , no trato da gente sujeita , na conservação , e la-voura das t e r r a s , que possue , e na. verdade , e

(17)

pon-E O P U L pon-E N C I A D O B R A S ? r . 5 pontualidade com os mercadores , e outros seus

correspondentes na praça, achará confusão, igno-mínia no titulo de Senhor de E n g e n h o , donde esperava a c r e c e n t a m e n t o de e s t i m a ç ã o , e de cre-dito. Por isso , tendo já falia do do que p e r t e n c e ao c a b e d a l , que ha de ter ; tratarei agora dè c o -m o se ha de haver no g o v e r n o ; e-pri-meira-men- e-primeiramen-t e da c o m p r a , e conservação das e-primeiramen-t e r r a s , e seus arrendamentos aos lavradores , que tem : e lo-go da eleição dos Officiaes, que ha de admittir ao seu serviço; apontando as obrigaçoens, e as soldadas de cada n u m delles , conforme o estylo dos Engenhos Reaes da Bahia : e ultimamente do governo doméstico da sua família, fiihos, e escravos , recebimento dos h o s p e d e s , e pontua-lidade em dar satisfação a quem d e v e ; do que d e p e n d e a conservação do seu c r e d i t o , que h e o melhor c a b e d a l , dos que se prezaõ de honrados.

C A P I T U L O I I .

Como se ha de haver o Senhor do Engenho-na compra , e conservação das terras, e

nos arrendamentos dellas.

^ E o Senhor do E n g e n h o naõ conhecer a qua-lidade das terras , comprará saloens por

massa-pés, e apicús por saloens. Por i s s o , valha-se das

iriformaçoens dos Lavradores mais entendidos : e a t t e n t e naõ somente á b a r a t e z a do p r e ç o , mas t a m b é m á todas as conveniências , que se haõ d e buscar , para ter Fazenda com cannaveaes , pas-tos , águas , roças , e matpas-tos , e em falta destes , commodidade para ter lenha mais p e r t o , que pu-der s e r , e para escusar outros i n c o n v e n i e n t e s ,

(18)

6 C U L T U R A ,

q u e os velhos lhe põderaõ a p o n t a r , que * ^ ° s

M e s t r e s , a q u e m ensinou o t e m p o , e a expeu-e n c i a , o q u expeu-e os moços ignoraõ.

Muitos v e n d e m as terras , que t e m , por c à n ç a d a s , ou faltas de l e n h a : outros , porque se naõ atrevem a ouvir tantos recados , s e m e l h a n t e ^ aos que se davaõ a Job , do partido queimado, dos bois a t o l a d o s , dos escravos m o r t o s , e do As-sucar perdido. Outros obrigados a v e n d e r contra vontade por causa dos acredores , que os apertaÔ-b e m pôde s e r , que offereeaõ terras n o v a s , e for-tes ; p o r é m o c o m p r a d o r c o r r e entaõ outro risco d e c o m p r a r demandas e t e r n a s , pelas obrigaçoens, e h y p ò t h e c a s , a que e s t a õ , por repetidas v e z e s , su-jeitas. Por t a n t o nesse caso Palie o comprador Com os L e t r a d o s : p e r g u n t e aos acredores, que h e o q u e p e r t e n d e m ; e se for necessário, com authôridade do Juiz cite a todos, para saber o que na verdade se deve : nem conclua a compra, antes de ver com seus olhos, que he o que com-p r a ; que títulos de domínio tem o vendedor, e se os ditos bens saõ vinculados, ou livres : e se t e m p a r t e n e ü e s Orfaôs , Mosteiros , ©u Igrejas, para que se naõ falte , ao fazer da escritura, á al-g u m a condição , ou solemnidade necessária. Veja t a m b é m as d e m a r c a ç o e n s das t e r r a s ; se foraô m e d i d a s por J u s t i ç a ; e se os marcos estaõ em ser, ©u se h a mister aviventalos: q u e taes saõ os co-. h e r é o s , a s a b e r , se amigos de j u s t i ç a , da verda-d e , e verda-de paz ; o u , pelo c o n t r a r i o , trapaceiros , verda- de-s i n q u i e t o de-s , e violentode-s: porque naõ ha peior p e s t e , que h u m mao vizinho.

Feita a compra , naõ falte a seu t e m p o á pa<-lavra , q u e d e o ; pague , e seja pontual nesta par-t e : e apar-tpar-tenda á conservação , e m e l h o r a m e n par-t o do

(19)

S O P U L E U C I A D O B R A S I L . •>

que c o m p r o u , e , p r i n c i p a l m e n t e , use de toda a diligencia, para defender os m a r c o s , e as á g u a s , de que necessita para moer o seu Engenho : e mostre aos F i l h o s , e aos Feitores os ditos mar-cos; para que saibaõ o que lhes p e r t e n c e , ,e pos-saõ evitar demandas , e pleitos , que pos-saõ huã con-tinua desenquietaçaõ da Alma, e hum continuo sangrador de rios de d i n h e i r o , que vai a entrar n a s casas dos Advogados, solicitadores , e eácri-v a e n s , com pouco proeácri-veito de quem promoeácri-ve o pleito , ainda quando alcança , depois de tantos g a s t o s , e desgostos , e m seu favor a sentença. N e m deixe os papeis, e as escrituras , que t e m , na caixa da mulher , ou sobre huã meza , expostas ao pó , ao vento , á t r a ç a , e ao copim ; para que depois naõ seja necessário mandar dizer muitas Missas a Santo A n t ô n i o , para achar algum papel i m p o r t a n t e , que desapparece©, quando houver mister exhibiío. Porque lhe a c o n t e c e r á , que a Criada, ou Serva tire duas , ou trez folhas dacai^ xa da S e n h o r a , para embrulhar com eílas, o que mais lhe agradar : e o filho mais pequeno tirará t a m b é m algumas da meza , para pintar caretas , Ou para fazer barquinhos de p a p e l , em que nave-g u e m moscas , e nave-grillos: ou finalmente o vento fará , que voem fora da casa sem pennas.

Para ter Lavradores obrigados ao E n g e n h o , . h e necessário passar-lhes arrendamentos das ter-ras , em que haõ de plantar. Estes costumaõ fa-zer-se por nove annos , e hum d e despejo , com obrigação de deixarem plantadas tantas tarefas de Canna : ou por dezoito a n n o s , e m a i s , com as obrigaçoens , e n u m e r o de tarefas , que a s s e n t a r e m , conforme o costume da terra. P o r é m hase de a d v e r t i r , que os que p e d e m a r r e n -damen-r

(20)

8 C U L T U R A ,

d a m e m o s , sejaõ F a z e n d e i r o s , e nao a e S,t l U 1. _ »

da Fazenda ; de sorte , que sejaõ de proveito , e nao, de d a m n o . E na escritura do a r r e n d a m e n t o se nao de pôr as oondiçoens necessárias : Vj,g. q u e nao tirem paos r e a e s : que naõ admittaõ outros eni seu lugar nas terras , que arrendaõ , sem con-sentimento do Senhor dellas : e outras , que se jul-garem n e c e s s á r i a s , para que algum delles, mais confiado , d e Lavrador se naõ faça logo Senhor. E para isso seria boa prevenção , ter huã formula; ou nota de a r r e n d a m e n t o s , feita por algum Le-trado dos mais e x p e r i m e n t a d o s , com declaração de como se haveràõ d e s p e j a n d o , acerca das bera-feitorias ; para que o fim do t e m p o do arrenda-m e n t o naõ seja principio de d e arrenda-m a n d a s eternas.

C A P I T U L O I I I .

Como se ha de haver o Senhor do Engenho com os Lavradores, e outros vizinhos; e

estes com o Senhor.

\J T e r m u i t a fazenda c r i a , c õ m u m m e n t e nos

homens ricos , e p o d e r o s o s , desprezo da g e n t e mais pobre : e por isso D e o s facilmente lha tira , para que se naõ sirvaô delia para c r e c e r em soberba. Q e m chegou a ter titulo de Senhor , p a r e c e , quej em todos quer d e p e n d e r i a d e servos. E i s t o prin-cipalmente se vè e m alguns S e n h o r e s , que tem l a v r a d o r e s e m terras do E n g e n h o , ou de Canna obrigada a moer n e l l a ; t r a t a n d o - s e c o m altivez, e arrogância. D o n d e nasce o serem malquistos, e murmurados, dos que os naõ p o d e m sofrer.* e que muitos se alegrem c o m as p e r d a s , e

(21)

E O P U L E T T C I A D O B R A S I L . 9

tres , que de r e p e n t e padecem ; pedindo os m i -seráveis opprimidos á cada passo justiça a Deos r

por se verem tam vexados; e desejando ver aos seus oppressores humilhados , para que aprenda© a naõ tratar mal os humildes : assim como o M e -dico deseja , e procura tirar fora a malignidade, e abundância do humor peccante , que faz ao cor-po indiscor-posto, e doente ; para lhe dar desta sorte naõ somente v i d a , mas também perfeita saúde..

Nada pois tenha o Senhor do Engenho de altivo , nada de arrogante , e soberbo : antes se-ja muito aífavel~com t o d o s : e olhe para os seus L a v r a d o r e s , como para verdadeiros amigos; pois taes saõ na v e r d a d e , quando se desentranhaõ,. para trazerem os seus partidos bem plantados , e l i m p o s , com grande emolumento do E n g e n h o : e. dé-lhes todo o adjutorio , que poder , em seus aper-tos , assim com a authoridade , como com a fa-zenda. N e m ponha menor cuidado em ser m u i t o justo , e verdadeiro, quando chegar o tempo de moer a C a n n a , e de fazer, e encaixar os Assu-çares : porque naõ seria justiça tomar para si os dias de m o e r , que deve dar aos Lavradores p o r seu t u r n o ; ou dar a h u m mais dias , que a o u t r o ; ou misturar o Assucar , que se fez de hum La-vrador , com o da tarefa de outro ; ou escolher para si o melhor , e dar ao Lavrador o s o m e n o s . E para evitar estas duvidas, e q u a l q u e r outra suspei-ta s e m e l h a n t e , avise , ou mande avisar com tempo a q u é m por direito se segue , para que possa cortar , e c a r r e a r a C a n n a , e tella na moenda ao seu dia : e haja nas formas seu signal , para que se distin-guaõ das outras. Nem estranhe , que os Lavrado-res queiraõ ver no t e n d a l , e casa de purgar , no balcaõ , e casa de encaixar, ao seu Assucar; pois

(22)

tnu-IO C U L T U R A y

tanto l h e s custou chegallo a pôr nesse e s t a d o , e tanta amargura p r e c e d e o á esta limitada doçufa.j

T a m b é m seria sinal de ter ruim coração , f a z e i má vizinhança aos que m o e m a Canna livre e m ou-' tros E n g e n h o s , só porque a naõ m o e m no s e u :

n e m ter boa correspondência com os Senhores de outros Engenhos , só porque cada qual delles fol-ga de moer t a n t o , como outro ; ou p o r q u e á al-gum delles lhe vai m e l h o r , com menos g a s t o , e sem perdas. E se a enveja e n t r e os primeiros ir-mãos , que houve no M u n d o , foi tam arrojada , que chegou a ensangüentar as maõs de Caim com o sangue de A b e l , porque Abel levava a bençaõ do C e o , e Caim n a õ , por sua c u l p a : q u e m duvida, que poderia chegar a renovar semelhantes tragé-dias ainda hoje entre os parentes ; pois ha n o Brasil muitas paragens , em que ©s Senhores d e E n -genho saõ e n t r e si muito chegados por s a n g u e , e pouco unidos por c h a r i d a d e , sendo o interesse a cauza de toda a discórdia , e bastando tal vez h u m pao , que se tire , ou h u m b o i , que e n t r e e m h u m Cannaveal por descuido , para declarar o ódio e s c o n d i d o , e para armar d e m a n d a s , e p e n d ê n c i a s mortaes ? O único remédio p o i s , para atalhar pezados desgostos, h e haverse com toda a u r b a -nidade , e p r i m o r ; pedindo licença /para t u d o , cada vez que for necessário valer-se a o que t e m os vizinhos.* e persuadir-se, que]se negaõ o q u e se p e d e , s e r á , porque a necessidade os obriga. E quando ainda se c o n h e c e s s e , q u e o negar-se h e por desprimor, a verdadeira , e mais nobre vin-gança s e r á , dar logo a q u e m negou o que se pe-di©, na primeira occaziaõ, dobrado do que p e d e , para que desta sorte caya por bom modo na con-ta de como devia p r o c e d e r .

(23)

So-E O P U L So-E N Ç Í A D O B R A S I L . I 1

Sobre todos porém os que se devem haver com maior respeito para com o Senhor do E n g e -n h o , saõ os lavradores, que tem partidos obri-gados á sua moenda ; e muito mais os que lavraõ em terras , que o Senhor lhes t e m arrendado ; p a r t i c u l a r m e n t e , quando desta sorte começarão sua vida, e chegarão por esta via a ter c a b e d a l ; por-que a ingratidão, e o faltar a© respeito , e cortezia d e v i d a , he nota digna de ser muito e s t r a n h a -da : e h u m agradecimento obsequioso cativa aos ânimos de todos com correntes de ouro. P o r é m este respeito nunca hade ser t a l , que incline a obrar contra justiça; principalmente quando fos-sem induzidas a fazer cousa contraria á ley de D e o s ; como s.eria , a jurar em demandas crimes, o u eiveis c o n t r a a verdade , e a por-se mal com os q u e com razaõ se d e f e n d e m . E o que tenho dito dos

Se-nhores do E n g e n h o , digo também das S e n h o r a s : as q u a e s , posto que mereçaõ maior respeito das-o u t r a s , naõ haô de persumir , que devem ser tra-tadas p como R.ainhas ; n e m que as Mulheres dos

L a v r a d o r e s haô de ser suas criadas, e apparecer e n t r e ellas como a Lua entre as Estrellas m e n o r e s .

(24)

CA-12 C U L T U R A ,

C A P I T U L O V I .

Como se ha de haver o Senhor do Engenho .-. na eleição das pessoas , e Officiaes, que

admittir ao seu serviço : e primeira-mente da eleição do Capellaõ.

O E e m alguma cousa m a i s , que em outra , h.

de mostrar o Senhor do E n g e n h o a sua

capacida-de , e p r u d ê n c i a ; esta sem duvida he a boa elei-' çaõ das pessoas , e Officiaes , que ha de admittir ao séu serviço para o bom governo- do Engenho. Porque sendo a eleição filha da prudência ; com razaô se arguirá de i m p r u d e n t e , quem-escolher p e s s o a s , ou de ruim vida , ou ineptas para o que íiaõ de fazer. E claro e s t á , que h u n s com a ruim vida desagradarão a D e o s , e aos h o m e n s , e se-ráõ causa de m u i t o s , e bem pezados desgostos; e outros com a ineptidaõ causaráõ dano naõ ordiná-rio á fazenda. E isto lhe poderáô estranhar cora razaô , naõ só os de casa por mais chegados a quei-mar-se , ou a chamuscar-se com o seu trato ; mas t a m b é m os de fora: e principalmente os Lavra-dores , obrigados a e x p e r i m e n t a r sem culpa os p r e j u í z o s , que se seguem ao seu malogrado suor, de nnõ saberem os Officiaes , o que requer o seu Officio.

O p r i m e i r o , que se hade escolher com cir-cunspecção , e informação secreta do seu proce-' dimento , e saber , h e o Capellaõ. a q u e m se ha f v i d T T h /"* ° e n S Í n° 1 d e t u d o' ° ^ e Pertence

a vida Chrxstaa , para desta sorte satisfazer á maior dus o b n g a ç o e a a , que t e m : a qual h e

(25)

tri-E O P U L tri-E N C I A D O A R A S I L . l 3

trinar , ou mandar doutrinar a famiiíp , e escra-v o s , naõ já por hum c r i o u l o , ou por huui feri cr., que quando muito poderá ensinar-lhes voc<'<J mente as Oraçoens, e os Mandamentosr da Lei de De©-*, e da Igreja: mas por q u e m saiba explicar-lhes o que haô de crer , o que haõ de obrar , e como haõ de pedir a Deos aquillo, de que necessita©. E para iss© se for necessário dar ao Capellaõ al-guma cousa mais do que se costuma , e n t e n h , que este será o melhor d i n h e i r o , que se dará e m boa maô.

T e m pois o Capellaõ obrigação de dizer Mis-sa na Capelia do Engenho nos Domingos , e dias santos , hcando-lhe livre a applicaçaõ das IVüssas nos outros dias de semana por quem q u i z e r ; sal-vo se se concertar de outra sorte com o Senhor da Capelia, recebendo estipendio proporcionado ao trabalho. E nos mesmos Domingos , e dias-santos , ou pelo menos nos Domingos , se se ad-mittir com esta obrigação, explicará a D o u t r i n a Ciiristaâ , a saber os principaes mistérios da F é , e o que D e o s , e a Santa igreja m a n d a õ , que se guarde. Quam grande m a l h e o peccadp mortal, que penita lhe tem Deos aparelhado nesta, e na outra vi-da , aonde a alma vive , e viverá immortalmente. Que remédio nos deo Deos na Encarnaçaõ , e Mor-te de Jesu Christo seu Santíssimo Filho , para que se nos perdoassem assim as c u l p a s , como as p e -nas , que pelas culpas se devem pagar. D e que modo havemos de confessar os p e c c a d o s , e pedir a. D e o s perdaõ delles com vedadeiro arrependi-mento , e propozito firme de naõ tornai* a com-metellos , ajudados da graça divina. Em que con-siste fazer penitencia d e s e u s peccados. Quem tá no Santíssimo Sacramento do Aitai;: porque es-

(26)

tá-i 4 C U L T U R A ,

t á a h i , e se recebe : com que disposição se ha de; receber e m v i d a , e por viatico na d o e n ç a m o r -tal. Quando importa ganhar as Indulgências , pa-, ra descontar o que se deve pagar no Purgatório.^ Como cada qual se lia de e n c o m e n d a r a D e o s pa-ra naõ cahir em peccado , e offerecer-lhe pela ma-nhãa todo o trabalho do dia. Q u a n t o saõ dignos: de abominaçuõ os feticeiros, e curadores de pala- , vras , e os que a elles r e c o r r e m , deixand© a D e o s , de q u e m vem todo o r e m é d i o : os que daõ p e ç o -n h a , ou bebidas ( c o m o dizem ) para a b r a -n d a r , e inclinar as v o n t a d e s : os borrachos , os a m a n -cebados , os ladroens , os vingativos, os m u r m u - , r a d o r e s , e os que juraõ falso , ou por malignida-.-," de , ou por i n t e r e s s e , ou por respeitos h u m a n o s . E finalmente que prernio , e que p e n a ha de dar D e o s e t e r n a m e n t e a cada q u a l , conforme obrou nesta vida.

Procurará t a m b é m a approvaçaõ para ouvir de confissão aos seus applicados ;^e para que sendo S a c e r d o t e , e Ministro de D e o s lhes possa servir fre-q ü e n t e m e n t e de remédio ; naõ se c o n t e n t a n d o só c o m a c u d í r no artigo da m o r t e aos d o e n t e s . Mas ad-virta na administração deste Sacramento , q u e naõ h e Senhor delle , por mui ti* a u t h o r í d a d e , q u e te-n h a : porque se o P e te-n i t e te-n t e te-naõ for disposto , por. causa de estar a m a n c e b a d o , ou andar com ódio do p r ó x i m o , ou por naõ t r a t a r d e r e s t i t u i r a fama ou a fazenda, que d e v e ; ainda q u e fosse o mes-m o Senhor do E n g e n h o , o naõ ha de absolver : e nisto poderia haver , por respeito h u m a n o , gran-de encargo / d e c o n s c i ê n c i a , e culpa b e m grave.

Corre t a m b é m por sua conta pôr a todos em p a z , e atalhar discórdias : e p r o c u r a r , que n a Ca-pelia , e m que assiste, seja D e o s h o n r a d o , e a

(27)

vir-E O P U L vir-E Í I C I A D O vir-E R A S Í L . I 5

Virgem Senhora nossa , cantando-lhe nos sabbados as Ladainhas ; e nos mezes , em que o Engenho naõ nioe , o terço do Rosário : naõ consentindo risadas, nem conversaçoens , e praticas i n d e c e m e s , naõ só na Capelia, mas n e m ainda no copiar, particular-mente, quandose celebra o Santo Sacrifício da Missa.

Advirta além disto de naõ receber noivos-, nem bautizar fora de algum caso de n e c e s s i d a d e , nem desobrigar na Quaresma pessoa alguma, sem licença inscriptis do Vigário, a quem p e r t e n c e r dallá ; n e m fazer cousa , que toque á jurisdição dos Párocos ; para que naõ encorra nas p e n a s , e c e n s u r a s , que sobre isso saõ decretadas , e d e balde se queixe do seu descuido , ou ignorância.

F i n a l m e n t e faça muito por morar fora de ca-sa do Senhor do Engenho : porque assim convém a ambos ; pois he Sacerdote , e naõ c r i a d o . familiar de Deos , e naõ de outro homem : nem t e -nha em casa escrava para o seu s e r v i ç o , que naõ seja adiantada na i d a d e : n e m se faça mercador ao divino , ou ao h u m a n o ; porque tudo isto m u i -to se oppoem ao estado Clerical , que professa, e se lhe prohibe por vários Summos Pontífices.

O que costuma dar ao Capellaõ cada anno pelo seu trabalho , quando tem as Missas da se-mana livres , saõ quarenta , ou cincoenta mil reis : e com o que lhe daõ os applicados , vem a fazer huã porção competente , bem g a n h a d a , se guardar tudo o que acima está dito. E se houver de ensinar aos filhos do Senhor do Engenho , se lhe acrescen-tará o que for justo , e correspondente ao trabalho.

No d i a , em que se bota a Canna a m o e r , se o Senhor do E n g e n h o haõ convidar ao

Vigá-rio , o Capellaõ benzerá o Engenho , e pedirá a D e o s , que dé bom r e n d i m e n t o , e livre aos que

(28)

-atí C U L T U R A ;

nelle trr*nnlhaõ de todo o d e s a s t r e , e ^ n n t0_

fim da safra o E n g e n h o pejar , procurara , H dos dem a D e o s as graças na Capeila.

C A P I T U L O V

X?o feitor mór do Engenho, e dos outros

fei-tores menores , que assistem na moenda , fazendas , e partidos da Canna : suas

obrigaçoens, e soldadas.

S b r a ç o s , de que se vale o S e n h o r , para o bom governo da gente , e da fazenda, saõ os fei tores. P o r é m , se cada h u m delles quizer ser c a b e ç a , será o governo monstruoso, e h u m verda-deiro retrato do Caõ Cerbero, a quem os poetas, fabulosamente daõ trez cabeças. E u naõ digo , qne se naõ dé authoridade aos feitores: d i g o , que esta authoridade ha de ser bem o r d e n a d a , ede-p e n d e n t e , naõ absoluta; de s o r t e , que os meno-res se hajaõ com subordinação ao m a i o r , e todos ao Senhor , a q u e m servem. Convém , que os es-cravos se persuada© , que o feitor mór t e m muito poder para lhes m a n d a r , e para os reprehender, e castigar, quando for n e c e s s á r i o : porém de tal sorte , quo t a m b é m saibaõ , que podem recorrer ao Senhor • e que haõ de ser ouvidos , como pe-de a justiça N e m os outros feitores , por terem marido, haô de c r e r , que o seu poder naõ he Coartado , n e m l i m i t a d o , principalmente no que h e castigar, e prender. Por t a n t o o Senhor ha de declarar muito bem a authoridade , "que dà a cada hum delles, e mais ao m a i o r : e se excede-rem , ha de puxar pelas rédeas com a reprehen-çao, que os excessos m e r e c e m : mas naõ diante dos,

(29)

es-i O P U L E N C I A D O B R A S I L . 1 7

para que outra vez se naõ levantem contra o feitor; e este leve a mal de ser r e p r e -hendido diante delles , e se naõ atreva a gover-nados. Só bastará, que por terceira pessoa se fa-ça entender a© escravo , que p a d e c e o , e á alguns outros dos mais antigos da fazenda, que o Senhor estranhou muito ao feitor o excesso , que com-m e t t e o ; e que quando se naõ e com-m e n d e , o ha d e despedir certamente..

Aos feitores de n e n h u m a maneira se deve consentir o dar couces , principalmente nas barri-gas das m u l h e r e s , que andaõ pejadas; nem dar com pao nos escravos: porque na cólera, se naõ m e d e m os golpes; e pode ferir mortalmente na cabeça a hum escravo de muito p r e s t i m o , q u e vai muito d i n h e i r o , e perdello. Reprehendellos , e chegar-lhes com hum cipó ás costas com algumas varancadas , he o que se lhe p o d e , e deve per-mittir para ensino. Prender os fugitivos, e os q u e brigarão com feridas , ou se e m b e b e d á r a õ , para que o Senhor os mande castigar, como m e r e c e m , h e diligencia digna de louvor. P o r é m a m a r r a r , e castigar com c i p ó , até correr o s a n g u e ; e m e t e r no tronco , ou em huã corrente por mezes ( es-tando o Senhor na Cidade ) a escrava , que naõ quiz consintir no peccado ; ou ao escravo , que deo fielmente conta da infilidade, violência , e cruel-dade do feitor, que para isso armou delitos fin-gidos , isto de nenhum modo se ha de sofrer; Íiorque seria fer hum lobo c a r n i c e i r o , e naõ h u m

eitor moderado , e Christaõ.

Obrigação do feitor mór do Engenho h e go-vernar a g e n t e , e repartida a seu tempo , como h e b e m , para o serviço. A ella pertence saber do S e n h o r , a quem se ha de avisar paia que

(30)

-i 8 ' -,:C;u L T U R A , ••

te a C a n n â ; e mandarlhe logo recado. T r a t a r d e avisar os barcos , e os carros para buscar a Canna , formas, e lenha. D a r conta ao Senhor de tudo© q u e h e necessário para o aparelho do E n g e n h o , -antes de começar a moer; e logo* acabada a sa-r fra, arrumar tudo em seu lugar. V i g i a r , que nin-guém falte á sua obrigação : e a c u d i r depressa a qualquer, desastre, que succeda , para l h e d a r , quanto puder s e r , o remédio. A d o e c e n d o qual-quer escravo, deve livrado do t r a b a l h o , e pôr ou-t r o em seu lugar : e dar. parou-te ao S e n h o r , par* que trate de o m a n d a r curar ; e ao Capellaõ , para que o ouça d ê confissão, e o disponha , c r e -c e n d o a d o e n ç a , -com os mais Sa-cramentos para

morrer. Advirta, que se naõ metaõ no carro o s b o i s , que trabalhara© muito nos dias a n t e c e d e n -tes : e que em todo o serviço , assim, como se dá algum descanço aos bois , e aos Cavados ; assim se dé , e cora maior razaô , por suas esquipaçoens aos escravos. ."•

O feitor da moenda chama a seu t e m p o as e s c r a v a s , r e c e b e a C a n n a , e a manda v i r , e m e -t e r b e m nos eixos , e -tirar o bagaço : a -t -t e n -t a n d o , q u e as negras naõ d u r m a õ , pelo perigo que h a , deficarem p r e z a s , e m o i d a s , se lhes naõ corta-r e m as mãos , quando isto s u c c e d a , e mandando Juntairiente divertir a água da roda , para que pa-r e . P pa-r o c u pa-r a , que de vinte , e q u a t pa-r o e m vinte e quatro h o r a s , se salve a moenda , e que o caldo <rá l i m p o , e se guinde para o paról. Pergunta quanto caldo ha mister nas c a l d e i r a s , para que sai-ba com este aviso, se ha de moer mais C a n n a , ©u parar, até que se d é v a z a õ , para que naõ aze-de o que já está no paról.

Q& feitores, q u e estaõ n o s . p a r t i d o s , e mais

(31)

fa-E O P U L fa-E' N C I A BO B R A S I L. igr

fazendas , tem á sua conta defender as t e r r a s , e avisar logo ao S e n h o r , se ha quem se metta den-tro das r o ç a s , cannaveaes , e matos , para tomar o que naõ he seu. Assistir aonde os escravo» trabalhaõ, para que se faça o s e r v i ç o , como bebem. Saber os tempos de plantar , l i m p a r , e c o r -tar a Canna , e de fazer roças. Conhecer a diver-sidade das t e r r a s , que ha , para servir-se dellas para o que forem capazes de dar. T o m a r a cada escravo a tarefa, e as mãos que he obrigado e n t r e -gar. Attentar para os caminhos dos carrosf, qu» sejaõ t a e s , que por elles se possa conduzir a Can-na , e l e n h a , de sorte que Can-naõ fiquem Can-na l a m a : e que também os carros se concertem, q u a n d o for necessário. V e r , que cada escravo tenha suafiou-c e , e e n x a d a , e o m a i s , que ha mister para o serviço. E esteja muito a t t e n t o , q u e se naõ pegue o fogo nos cannaveaes por descuido dos n e -gros b o ç a e s , que ás vezes deixaõ ao vento o ti-çaõ de fogo, que levâraõ comsigo para usarem do cachimbo . e , em vendo qualquer lavareda, acuda-Ihe logo com toda a g e n t e , e corte com fouces o caminho á c h a m a , que vai crecendo , com grande

Í

>erig© de se perderem em meia hora muitas tare-> às de Canna. Ainda que se saiba a tarefa da C a n n a , que hum negro ha de plantar em hum dia , e a q u e ha de c o r t a r ; quantas covas de mandioca ha de fazer, e a r r a n c a r ; e que medida de lenha ha de d a r , como se. dirá em seu lugar : com t u d o , haô d e attentar os feitores á i d a d e , e ás forças:do ca-da q u a l , para diminuir o t r a b a l h o , aos que elles manifestamente v e m , que naõ podem com t a n t o ; como saõ as mulheres pejadas depois de seis m e z e s , e as que h a p o u c o , que p a i i r a õ , e c r i a õ , os

(32)

\ 2 0 C Ü I T D n A ,

lhos , e as v e l l n s ; e os> que sahiraô ainda c o n n -lecentes de alguà grave doença.

Ao feitor mór d.iô' nos Engenhos reaes ses-senta mil reis. Ao feitor da m o e n d a , a o n d e se móe por sete , e oito mezes , quarenta , ou

cinco-enta mil reis , particularmente se se lhe enco-m e n d a alguenco-m outro serviço:-enco-mas aonde ha enco-menos

que fazer, e n i õ se occupa e m outra cousa , daô, trinta mil reis. Aos que assistem nos partidos,, e fazendas , também hoje -,- aonde a lida h e gran-d e , gran-daô q u a r e n t a , ou quarenta e cinco mil reis*,

C A P I T U L O VI.

Do mestre do Assucar, e soto-mestre a quem chamaõ banqueiro , e do seu ajudante, a

quem chamaõ ajudabanqueiro.

*

XTL Quem faz o Assucar, com razaô se dá o n o m e d e mestre ; porque o seu obrar pede intelligencia, attençaõ , e e x p e r i ê n c i a : e e s t a , naõ basta que seja q u a l q u e r ; mas he necessário a experiência local, a saber, do lugnr, e qualidade da C a n n a , a o n d e se p l a n t a , e se moe : porque os cannaveaes de huã parte , -daô C a n n i muito forte , e d'outra, muito fraca. Diverso sumo tem a Canna da* v á r z e a s , do què t e m a dos oiteiros ; a das vár-zeas vera muito aguacenta e o caldo delia terá muito que purgar n i s caldeiras , e pede mais de-c o a d a : a dos outeiros vem bem assude-carada , e o seu caldo pede menos t e m p o , . e menos decoada

Í

* r a se purificar, e clarificar. Nas tachas ha me-a d o , que quer maior c o z i m e n t o ; e ha outro de m e n o r : h u m , logo se condensa na bateria :

(33)

E O P U L E N C I A D O B R A S I L . 2 1

t t o , mais de vagar. Das tu-z t f i r r - e i . s , que se hao de fazer paia encher rs f c i u i í s , , d< pti.de o purgar-se o Assucar b e m , ou m ; . l , íonfoinie el-ías saõ. Se o mestre se liar dos c;ldeii t r i o s , e dos tacheiros , huãs vezes a nçodos , outras sono-rent©s , e outros 'degres m-is do que convém , e com a cabeça e s q u e n t a d a : a c o n t e e t r l h í - h a ver perdida huã , e outra meladura , sem lhe poder dar remedi©. Por isso vigie em cousa de tanta impor-tância : e se o banqueiro , e o ajuda banqueiro naõ tiverem a inteligência , e experiência necessária para supprirem em sua ausência, naõ descance sobre e l l e s : ensine-os, avise-os, e se for neces-s á r i o , reprehenda-oneces-s , pondo-lheneces-s diante doneces-s olhoneces-s o prejuízo do Senhor do Engenho , e dos lavra-dores , se se perder o melado nas t a c h a s , ou se for mal temperado para as formas.

Veja , que o feitor da moenda modére de tal sorte o m o e r , que lhe naõ venha ao parôl mais caldo , do que ha mister ; para lhe poder dar va-zão antes que se comece a azedar , purgando-o, cozendo-o , e batendo-o , quanto he necessário.

Antes de se botar--decoada nas caldeiras do caldo , experimente , que tal ella he ; e depois veja , como os caldeiros a botaô , e quando haõ d e p a r a r : nem consulta , que a meladura se coe , antes de v e r , se o raldo está purificado, como ha de s e r ; e o mesmo digo da pásagem de huã para outra tacha , quando seha.de cozer , e b a -t e r : sendo a ai mu de -todo o bom successo a di-ligente attençaõ.

A jimiça , e a verdade o obriga a naõ mis-turar o Assucar de hum.Lavrador com o do o u t r o : e por isso nas formas, que manda pôr DO tenda!, *aça, que haja sinal com que se possaô distinguir

(34)

22 C U L T U R A ,

das o u t r a s , que p e r t e n c e m a outros d o n o s , para que o m e u , e o t e u , inimigos da p a z , naõ sejaõ causa de bulhas. E para que a sua obra seja per-feita, tenha boa correspondência cora o feitor da m o e n d a , que lhe envia o Cíddo ; com o ban-» queiro , e sotobanqneiro, que lhe s u c c e d e m de noi* te no officio ; e com o -pürgador do A s s u c a r ; pa-ra que vejaó juntamente donde n a c e o purgar bem , ou mal e m as formas -. e sejaõ e n t r e si co-m o os o l h o s , que igualco-mente vigia©; e coco-mo as màos , que u n i d a m e n t e trabalhaô.

O que até agora está d i t o , p e r t e n c e _ em grande parte ao banqueiro t a m b é m , que h e o s o t o - m e s t r e , e ao soto-banqueiro seu ajudante. E alem disso p e r t e n c e a estes dous officiaes t e r cuidado do tendal das formas , d e tapar-lhès os buracos , cavar-lhes covas de baga«-**ocom cavado* r e s , endireitallas , e botar nellas o A s s u c a r , feito com as trez temperas , das q u a e s . se falará era seu l u g a r : e dep©is de trez d i a s , enviadas para a casa de p u r g a r , ou sobre paviolas , ou as costas dos negros , para que o pürgador trate dellas. >

D e v e m t a m b é m p r o c u r a r , q u e se faça a repartição justa dos claros e n t r e os e s c r a v o s , c o n -forme 'o Senhor ordena , e que nesta casa haja toda a l i m p e z a , ê claridade , água d e c o a d a , e to*, dos os instrumentos , dos quaes nella se usa. E ao mestre pertence ver , antes de começar o E n g e -n h o a m o e r , se os fu-ndos das caldeiras , das ta-chas tem necessidade de se r e f a z e r e m ; e se os assentos dellas p e d e m n o v o , e mais firme con# certo.

A soldada do mestre d e Assucar nos E n g e -nhos , que fazem quatro ou cinco mil p ã e s , par-ticularmente se eMe visita t a m b é m a casa de pur-»

(35)

E O P U L E N C I A D O B R A S I L . z5

gar , h e de cento e trinta mil reis : em outros daõ-íhe só cem mil reis. Ao banqueiro nos m a i o r e s , quarenta mil reis. Ao" sotobanqueiro ( que cõ-m u cõ-m e n t e he algucõ-m cõ-m u l a t o , ou crioulo escravo de casa ) dá-se também no fim da safra algum m i m o , se servi© com satisfação no seu officio ; para que a esperança deste linaitudo prêmio o alente suavemente para o

trabalho-C A P I T U L O V I I .

Do pürgador de Assucar.

O pürgador do Assucar pertence ver o b a r -r o , que vem pa-ra o gi-rao a secca-r-se sob-re o çhi-r z e i r o , se h e qual deve s e r , como se dirá em seu lugar : olhar para o amassador , se a n d a , com© d e v e , com o rodo no c o c h o : furar os paens nas formas, e levantadas. Conhecer quando o Assu-car está e n x u t o , e quando h e tempo de lhe b©«* t a r o primeiro barro , e como este se ha de

esten-der , e quanto tempo se ha de deixar , antes de lhe botar o segundo : como se lhe haõ de dar as humidades , ou lavagens, e quantas se lhe haõ de d a r : e quaes saõ os sinaes de p u r g a r , ou n a õ p u r -gar bem o Assucar, conforme as diversas quali-dades , e temperas. A elle também pertence t e r cuidado dos m e l e s , ajuntallos,.. cozellos, e fazer delles batidos; ou g u a r d a d o s , para fazer -Água a r d e n t e . D e v e juntamente usar de toda adiligeu-e i a , para q u adiligeu-e sadiligeu-e naõ sujadiligeu-em os tanquadiligeu-es do madiligeu-el ;

e de alguma industria para afugentar aos mor-cegos , que cõmumerite saõ a praga quase de to-das as casas de purgar.

(36)

24 C U L T U R A ,

Ao pürgador de quatro mil pães de Assucar dá-se soldada de cincoeiita mil reis. Aos que tem menos trabalho dá-se t a m b é m m e n o s , c o m a de-vida proporção.

C A P I T U L O V I I I .

Do caixeiro do Engenho.. '•

-\ j Q u e aqui s© d i r á , naõ p e r t e n c e ao caixeiro

da c i d a d e ; p o r q u e este trata só de r e c e b e r o As-sucar já e n c a i x a d o , de o mandar ao t r a p i c h e , de © v e n d e r , ou e m b a r c a r , conforme o Senhor do -Engenho o r d e n a r : e tem livro de razaô de d a r , « h a v e r : ajusta as contas, e serve d e a g e n t e , c o n t a d o r , procurador, e depositário d e seu amo, ao q u a l , se a lida he g r a n d e , dá-se soldada de qua-r e n t a ou cincoenta. mil qua-reis. Falio aqui do cai-xeiro , que encaixa o Assucar , depois de purga-d o . E sua obrigação h e , m a n purga-d a r tirar © Assucar das f o r m a s , estando ja purgado , e e n x u t o com dias claros , e de sol: assistir, quando se mascava; e beneficia no balcaõ de s e c c a r , partindo-o , què-b r a n d o - o , como se dirá em seu lugar. Elle he que peza o Assucar, e que o reparte com fidelidade enu*e os lavradores, e o Senhor do E n g e n h o ; e tira o d i z i m o , que se deve a D e o s ; e a v i n t e n a , ou q u i n t o , que pagaõ ©s que lavraõ em terras d© E» g e n h o , conforme o concerto feito nos arrenda^ mentos , e o estilo ordinário da t e r r a , o qual em vários l u g a r e s , he diverso : e tudo assenta , para dar conta exactamente de tudo. A elle também per-t e n c e levanper-tar as caixas , e riiandallas barrear nos c a n t o s : e n c a i x a r , e m a n d a r pilar o-Assucar , com

(37)

E O P U L E N C I A DO B R A S I L . 25 a divisão do branco m a c h o , dõ batido, e mascavado.* fazer as caras , e os fechos , quando assim lho en-comendarem os donos do Assucar, e finalmente pre-g a r , e marcar as caixas, e pre-guardar o Assucar, que sobejou, para seus donos em lugar seguro, ena© humido , e os instrumentos, de que usa. Entregar as c a i x a s , quando se haõ de e m b a r c a r , com ordem de q u e m as arrecade ou com© dono deltas, ou porque as alcançou por justiça, c o m o muitas vezes a c o n t e c e , fazendo os acredores penhora no Assucar dos de-vedores , antes que saia do E n g e n h o , e de tudo pedirá r e c i b o , e clareza ; para poder dar conta de s i , a quem lha pedir.

A soldada do caixeiro nos Engenhos maiores h e de quarenta mil reis: e se feitoriza algum a par-te do d i a , ou de n o i t e , daõ-se-lhe cincoenta mil reis : nos menores daô trinta mil reis.

C A P I T U L O I X .

Como se ha de haver o Senhor do Engenho com seus Escravos.

v J ^ S escravos saõ as mãos , e os pés do Senhor do Engenho ; porque sem élles no Brasil naõ h e possível fazer, c o n s e r v a r , e aumentar fazenda, -nem ter E n g e n h o c o r r e n t e . E do modo , com que

se ha com elles, d e p e n d e tellos b o n s , ou mãos para o serviço. Por isso he necessário comprar ca-da anno algumas, peças , e repartica-das pelos partidos , roças , serrarias ,e barcas. E porque c õ m u m -m e n t e saõ de Naçoens diversas , e huns -mais bx>-çaes q u e outros , e de forças muito differentes, se ha de fazer, a repartição com r e p a r o , e esco-lha , e n a õ ás cegas. Os (.que vem para o Brasri,

(38)

28 C t í L 'TU Ri A',

saõ Ardàs , Minas , G o n g o s , de S. T h o m é , d e An-gola, de Cabo V e r d e , ©alguns de M o ç a m b i q u e , que vem nas Náos da índia. Os Ardas , e os Mi-nas saõ robustos. Os de Cabo V e r d e , e de S. Tho^ m é saõ mais fracos. Os de Angola creados em Loanda saõ mais capazes de a p r e n d e r officias me-cânicos , que os das outras partes já nomeadas. E n t r e os Congos ha também alguns bastanteraen-t e indusbastanteraen-triosos', e b o n s , naõ somenbastanteraen-te p a r a . o ser-viço da C a n n a , mas para as offieinas, e para o m é n e o da casa.

H u n s chegaõ ao Brazil muito r u d e s , e muito fechados , e assim continuaõ por toda a vida. Ou-t r o s , em poucos a n n o s , saem l a d i n o s , e esperOu-tos , assim para a p r e n d e r e m a D o u t r i n a Christaã , c o -mo pkra buscarem -modos de passar a vida , e para se lhes encomendar h u m barco , para levarem r e -cados, e fazerem qualquer diligencia, das que cos-tumaõ/Ordinariamente occorrer. As mulheres usaõ de f o u c e , e de e n x a d a , c o m o os H o m e n s : po-r é m nos mattos , somente os escpo-ravos usaõ d e ma-chado.' Dos ladinos se fas escolha p a r a caldeireiros',

carapinas , calafates , tácheiros, b a r b e i r o s , eman-n h e i r o s ; porque estas occupaçoeeman-ns q u e r e m maiár advertência. Os que desde novatos se m e t e r ã o erá alguma fazenda, naõ he b e m que se t i r e m dellá contra sua vontade ; porque facilmente se amofi-n a õ , e morrem. Os que amofi-nacéraõ amofi-n o Brasil, ou se creáraõ desde pequenos em casa dos brancósif, affeiçoando-se a seus S e n h o r e s , d a õ b o a conta de s i , e levando bom c a t i v e i r o , qualquer delles vai por quatro boçaes. '* •

Melhores ainda saõ para qualquer officio os mulatos Í p o r é m muitos delles ,-usando m a l do fa-Vor dos S e n h o r e s , saô soberiaos , e viciosos, e

(39)

pe-E O r u L E j s r . c i A D O B R A S I L . 27

prezaõ-se de valentes , e aparelhados para qualquer desaforo. E comtudo elles , e ellás da mesma c o r , ordinariamente levaõ no Brasil a melhor sor-te ; porque com. aquella parsor-te de sangue de brancos , que tem nas veas , e talvez dos seus m e s -mos S e n h o r e s , os enfeitiçaõ de tal maneira que alguns tudo lhes sofrem , tudo lhes perdoaõ : e p a r e c e , q u e se naõ atrevera a reprehendeUos , an-tes todos os mimos saõ seus. E naõ he. fácil cousa decidir , se nesta partje saõ mais remissos os Senho-res, ou as Senhoras; pois naõ falta entre elles, e ellas quem se deixe governar de mulatos, que naõ saõ 0$ melhores :,para que se verifique o provérbio que diz: que o Brasil he Inferno dos negros , Purgatório dos b r a n c o s , e Paraíso dos m u l a t o s , e das mula-tas : salvo quando *pov alguma desconfiança, ou ciúme,', o amor se muda em ó d i o , e sahe armado de tod© o gênero de c r u e l d a d e , e rigor. Bom h e valer-se de suas habilidades,, quando quizerera usar bem dellas , como assim o fazem alguns , p©-r é m naõ se lhes ha de dap©-r tanto a m a õ , que pe-guem no b r a ç o , e de escravos sefaçaõ Senhores. F o r r a r mulatas desenquietas, h© perdição., manir festa; porque o d i n h e i r o , que da ò para se liberta-r e m , liberta-raliberta-ras vezes- sahe de outliberta-ras m i n a s , que dos seos mesmos c o r p o s , com repetidos

peccados-e», depois de forras, continuaò a ser ruína d e mui-tos.

. • Oppoem-se alguns Senhores aos casamentos dos escravos, e e s c r a v a s ; e naõ somente naõ fa-zem caso .dós seus a m a n c e b a m e n t o s , mas quasi claramente os c o n s e n t e m , e lhes daõ principio, dizendo : tu fulano a s e u tempo casarás com fu-l a n a , © d a h i por diante os d e i x a õ conversar en-t r e s i , como se já fossem recebidos, por marido-,

(40)

28 C U L T U R A ,

/ e m u l h e r : dizem, que os rtaô casaõ, porque t e m e m , q u e ^ e n f i d a n d o - s é do c a s a m e n t o , se m a t e m logo c o m p e ç o n h a , ou com feitiços ; naõ faltando entre elles mestres insignes nesta a r t e . O u t r o s , depois de estarem casados os e s c r a v o s , os apartaõ de tal sorte por a n n o s , que ficaõ c o m o se fossem solteiros: o que naõ podem fazer e m consciência. Outros saõ tam pouco cuidadosos do que perten-ce á salvação dos seus escravos , q u e os tem por m u i t o tempo no C a n n a v e a l , ou no Engenho sem Bautismo : e dos bautizados muitos naõ sabenT, q u e m h e o seu C r e a d o r ; o que haõ de c r e r , que lei haõ de guardar , como se haõ de encomendar a Deos ; a que vaó os Christãos á Igreja; p o r q u e adoraõ a Hóstia consagrada , que vaõ a dizer ao P a d r e , quando ajuelhaô, e lhe fallaõ aos ouvidos; se t e m a l m a , e se ella . m o r r e , e para onde v a i , quando se aparta do corpo. E sabendo logo os mais boÇaes , como se chama , e q u e m h e seu Senhor; quantas covas de Mandioca haõ d e plan-. t a r cada d i a ; quantas mãos de Canna haõ de cor-t a r ; quancor-tas medidas de lenha haõ de d a r , e ou-tras cousas p e r t e n c e n t e s ao serviço ordinário de seu S e n h o r , e sabendo t a m b é m pedir-lhe perdaô, quando errâraõ , e encomendar-se-lhe para que os n a õ c a s t i g u e , com promettimentos da emenda;

dizem os Senhores , que estes n a õ saõ capazes de aprender a confessar-se , n e m de pedir perdaf a D e o s , n e m rezar pelas contas , n e m de «aberos

dez MandamenrOs ; tudo por falta de ensino, e por naõ considerarem a c o n t a g r a n d e , que d e tu-do isto haô de dar a Deos ; pois ( c o m o diz S. Paulo ) sendo Christàos , e descuidando-se dos seus e s c r a v o s , se haõ c o m elles p e i o r , do q u e se fos-sem Infiéis, os obriga© os dias -Santos a ouvir Mis-s a ;

(41)

E O P U L E W C I A D O B R A S I L , 29

sa ; antes talvez os occupaò de sorte , que na© tem lugar para isso : nem encommendaõ ao Capel-laõ doutrinados, dando-lhes por este t r a b a l h o , se for necessário, maior estipendio.

O que p e r t e n c e ao sustento , vestido , e m o -deração do trabalho ; claro está , que se lhes naõ deve negar : porque a quem o serve deve o Se-nhor de justiça dar sufficiente alimento ; mézi-nhas na doença , e modo , com que decentemen-t e s e cubra , e visdecentemen-ta , como pede o esdecentemen-tado de ser-vo , e naõ apparecendo quasi nu pelas r u a s , e deve também moderar o serviço de sorte, que naõ seja superior ás forças dos que t r a b a l h a õ , se q u e r que possaô aturar. N o Brasil costumaõ

di-zer , que para o escravo saõ necessários trez P P P , a saber Pao , P a õ , e Pano. E posto que comecem m a l , principiando pelo castigo , que he o p a o ; cora tudo prouvèra a De©s , que taõ abundante fosse o c o m e r , e o v e s t i r , como muitas vezes he o cas-tigo , dado por qualquer causa pouco p r o v a d a , ou l e v a n t a d a , e com instrumentos de muito rigor, ainda quando os ©rimes saõ c e r t o s : de que s e n a õ usa nem cora brutos anima es , fazendo algum Se-nhor mais caso de hum Cavallo , que de meia dú-zia de escravos : pois o Cavallo he servido , e t e m quem lhe busque capim ; tem panno para o s u o r ; e sella, e freio dourado.

Dos escravos novos se ha de t e r maior cuida-do ; porque ainda naõ tem mocuida-do de viver , como os que trataõ de plantar suas roças, e os que as t e m por sua i n d u s t r i a , naõ c o n v é m , que sejaõ sò reconhecidos por escravos na repartição do t r a b a l h o , e esquecidos na d o e n ç a , e na farda.

Os Domingos , e dias santos de D e o s , elles os r e -cebem , e quando seu Senhor lhos t i r a , e os obri-ga©

(42)

3 o r t. - u G U L T U R A , a í

gaõ a t r a b a l h a r , com© nos dias de serviço,, se.amo-finaõ,, e l h e rogaõ mil pragas. Costumaõ alguns Senhores dar aos escravos hura dia e m ead& se-m a n a , para plantarese-m para s i , se-m a n d a n d o , algu-mas vezes Com elles O feitor, para que se na©) d es-; c u i d e m , e isto serve , para que naõ padeçaõ fo-m e , n e fo-m c e r q u e fo-m cada dia a casa do s e u Se-n h o r , pediSe-ndo-lhe a raçaõ de fariSe-nha. P o r é m Se-naò lhes dar. farinha, n e m .dia*para p l a n t a r e m ; eque? r é r , que sirvaõ, de Sol a Sol no p a r t i d o , ^de dia, 3 de n o i t e , com pouco descanço no E n g e n h o :COÍ mo se admittirá no T r i b u n a l de Deos sem casti-r go ? Se o negar a esmola ? a q u e m com grave n e

-cessidade a p e d e , h e n e g a l a a Christo Senhor nos-» so , e©mo elle o diz no Evangelho,, que s e r á . n e

-gar © s u s t e n t o , . e o vestido, ao s e u escravo ?• E q u e razaô dará de si , quem dá serafina, e s e d a , e outras, galas , ás que saõ occasiaõ da sua p e r d i ç ã o ; e depois nega quatro , ou cinco varas de a l g o d ã o , e outras poucas de p a n n o da serra , a q u e m se d e r r e t e em suor para o s e r v i r , e apenas t e m tem» po para buscar huã raiz , e h u m carangueijo para c o m e r ? E se , era <tima disto , o castigo for frequ-, e n t e , e excessivo; ou se iráõ e m b o r a , fugindo para o matto ; ou se mataráõ per. s i , c o m o costu-maõ , tomando a r e s p i r a ç ã o , ou enforcando-se, ou procuráõ" tirar a vida aos que lha daô tam má"; r e c o r r e n d o ( s e for necessari© ) á artes diabólicas; ©u clamará© de tal sorte a Deos , que os ouvirá, e fará aos Senhores , o que já fez aos Egypcios, quando vexavaõ cora extraordinário trabalho aos H e b r e o s , mandand© as pragas terríveis contra suas fazendas, e filhos, q u e se lem na sagrada. Escritura : ou permitirá , que assim com© os H e - , breos foraõ levados cativos para Bábdonia em per

(43)

E O P U L f í ! C .1 A D.O) B R A S I L . *Zl

na do duro» cativeiro, que davaõ aos seus escrar T O S , assim algum cruel inimigo leve esses

Se-nhores -para suas terras , > para que neUas experimentem quain penosa he a vida, que elles d e -raõ•', e daô continuamente aos seus escravos. ll}

Naõ castigar os excessos , que elies çõinetr tem , seria culpa naõ leve : poféra estes se haõ de averiguar a n t e s , para naõ castigarinnocentes, e se haõ de ouvir os delatados , e convericidos ,cas-tàgatse-haõ com açoutes moderados , ©u com os m e t t è r era huã corrente de ferro por algum t e m p o , ou tronco. Castigar com impet© , com a n i -m o vingativo , por -maõ p r ó p r i a , e co-m--instru- com--instru-mentos terríveis , e chegar tal vez aos pobres cora fogo , ou l a c r e , ou marcados na cara , naõ seria para se sofrer entre bárbaros; muito menos entre Cbristãos Catholicos. O certo' h e , se o Senhor se houver.com ©s escravos com© f>ai , dando-lhes.O necessário para o sustento , e vestido, © algum descanço no trabalho , se poderá também depois h a v e r como S e n h o r , e naõ e s t r a n h a r á õ , sendo convencidos das culpas , que c õ m e t t é r a õ , de r e -ceberem Com misericórdia o j u s t o , et merecido

castigo. E , se depois; de errarem i cora© fracos, vierem per si mesmos a pedir perdaõ ao Senhor ; ou huscarem padrinhos, que os acompanheiri:. em t a l caso h e costume no Brasil perdoar-lhes. E bem h e , que saiba©, que isto lhes ha de va-t l e i *. porque de outra s©rte, f©giráô; por huã v,ez

para1 algum mocambo no m a t t o , e se forem

apa-nhados , poderá s e r , que se matem a si mesmos , antes que o Senhor chegue a açoutallos ; ou que algum, seu p a r e n t e tome á sua conta a vingança, ou com feitiço, ou com veneno.

(44)

que-Sa C U L T U R A ,

saõ o único alivio do seu cativeiro , h e querellos desconsolados , e m e l a n c ó l i c o s , de pouca vida , e saúde. Por tanto naõ lhes e s t r a n h e m os Senho-res o .crearem seus R e i s , c a n t a r , e bailar por algumas horas h o n e s t a m e n t e e m alguns dias do an-n o , e o alegrarem-se i an-n an-n o c e an-n t e i an-n e an-n t e á tarde depois d e t e r e m feito pela m a n h a a suas festas de Nossa Senhora do Rozario, de Saõ B e n e d i t o , e do Orago da Capelia do E n g e n h o , sem gasto dos e s c r a v o s , acudindo o Senhor c o m sua libéralidade aos J u i z e s , e dando-lhess algum prêmio do seu continuado trabalho. Porque se os J u i z e s , e Juízas da festa houverem de gastar do s e u ; será causa d e muitos i n c o n v e n i e n t e s , e offensas de Deos", por serem poucos os que p o d e m licitamente a-juntar. '

"V** O que se ha de evitar nos E n g e n h o s , h e © eniborracharem-se com garápa a z e d a , ou água ar-d e n t e ; bastanar-do concear-der-lhes a garápa ar-d o c e , que lhes naõ faz dano , e com ella fazem' -seus resgates com os que a troco lhe daô farinha ,

fei-joens , a i p i n s , e batatas. * V e r , quê os Senhores t e m cuidado d e dar

alguma cousa dos sobejos da mesa aos filhos peque-nos h e causa d e que os escravos os sirvaõ de boa vontade , e que se alegrem de lhes multiplicar ser-vos ,-e servas. Pelo contrario algumas escravas pro-curaõ de propósito aborto, só para que naõ cheguem os filhos d e suas entranhas a p a d e c e r , o q u e ellas padecem.

(45)

CA-E © P T J L CA-E N C I A D O B R A S I L . 3 5

C A P I T U L O X .

Como se ha de haver o Senhor do Engenho no governo da sua casa de família, e nos

gastos ordinários de casa.

J T E d i n d o a fabrica do Engenho t a n t o s , e taõ gran-des gastos, quantos acima dissemos; bem se vé a p a r c i m ô n i a , que he necessária nos particulares de casa. Cavados de respeito mais dos que b a s t a õ , charameleiros, trombeteiros tangedores , e lacaios mimosos naõ servem para ajuntar fazenda , mas sim para diminuila em pouco tempo com obrigações , e empenhes. E muito menos servem as recreações amiuaadas , os convites supérfluos , as galas, as serpentinas , e o jogo ; e por este caminho alguns em poucos annos do estado de Senhores ricos chegaráõ ao de p o b r e s , e arrastados l a v r a d o r e s , sem terem que dar de dote ás filhas, nem m o d o , para encaminhar honestamente aos filhos.

Máo h e ter nome de avarento : mas naõ h e gloria digna de louvor o ser pródigo. Quem se r e -solve a lidar com E n g e n h o , ou se ha de retirar da C i d a d e , fugindo das oecupações da Republi-c a , q u e o b r i g a õ a divertir-se; ou ha de ter aRepubli-ctual- actual-m e n t e duas casas abertas , coactual-m notável prejuiso , aonde quer que falte a sua assistência, e c o m dobrada despeza. T e r os filhos sempre comsigo n o E n g e n h o , h e creallos t a b a r ê o s , q u e , nas c o n -v e r s a ç õ e s , naõ saberáõ fallar de outra cousa mais que do c a õ , do cavallo, e do boi. Deixados

sós na C i d a d e , h e dar-lhe l i b e r d a d e , para se fa-zerem logo viciosos, e encherem-se d e vergonho-sas doenças , que se naõ podem facilmente curar.

(46)

Pa-54- C U L T U R A

Para evitar pois h u m , e o u t r o e x t r e m o , o melhor conselho será pollos em casa de algum parente , ou amigo g r a v e , e h o n r a d o , onde naõ haja occa-ziões de t r o p e ç a r , o qual folgue de dar boa conta de s i , e com toda a fidelidade avise do b o m , ou rifáo procedimento , e do proveito, ou negligen-cia no estudo. N e m c o n s i n t a , que a mãi lhes r e m e t t a d i n h e i r o , ou naõ dé secretamente ordens para isso ao seu correspondente , ou ao cai-xeiro , n e m crea , que , o que pedem para livros, naõ possa ser também para jogos. E por isso, avise ao procurador , e ao m e r c a d o r , de quem se v a i , que lhes naõ dé cousa alguma sem sua or-d e m . P o r q u e , para peor-direm, seráô muito especu-lativos , e saberáõ excogitar razões , pretextos ve-rosimeis, principalmente, se forem , dos quejá;

an-da© no curso , e tem vontade de levar três annos de hoa vida á custa do P a i , ou Thio , que naõ s a b e m , o que passa na Cidade, estando nos seus C a n n a v e a e s , e quando se jactaô nas conversações de ter hum Aristóteles nos pateos , pôde ser que tenhaõ na praça hum asno, ou hum apricio. Porém se se resolver a ter os filhos em casa, contentando-se com que saibaô l e r , escrever, e c o n t a r , e ter alguma tal qual noticia desucces-s o desucces-s , e hidesucces-storiadesucces-s, para fallarem entre g e n t e , naõ se descuide de vigiar sobre elles , quando a ida-de o pedir : porque também o campo largo he lu-gar de muita liberdade, e pôde dar abrolhos, e es-pinhos. E se se faz cercados aos bois, e aos Ca-valios, para q u e naõ vaõ para fora do pasto, para ' que se naõ porá também algum limite aos filhos, assim d e n t r o , como fora de casa; mostrando a experiência ser assim necessari®? Com tanto que a circuinspecçaô- seja p r u d e n t e; a

(47)

E O P V L E,N C I A D O B R A S I L . 3 5

e a demasia naõ acrecente malícia. O melhor en-sino porém he o exemplo do bom procedimen-to do» P a i s , e o descanço mais seguro h e d a r , a seu tempo, estado assim ás filhas , como aos filhos: e se se contentarem com a igualdade, naõ falta-rão casas , aonde se possaò fazer, t r o c a s , e rece-ber recompensas.

C A P I T U L O X I .

Como se ha de haver o Senhor d Engenho no recebimento dos hospedes, assim

Reli-giosos , como Seculares.

J\. Hospitalidade h e huã acçaõ c o r t e z , e

tam-b é m virtude Christaâ , e no Brasil muito exerci-tada , e louvada : porque , faltando fora da Cidade as estalagens, vaõ necessariamente os passageiros a dar comsigo nos Engenhos , e todos ordinaria-m e n t e achaõ de g r a ç a , o que eordinaria-m outras terras cus-ta dinheiro: assim os Religiosos, que buscaõ suas esmolas, que naõ saõ p o u c o s , e os Missionários, que vaõ pelo recôncavo , e pela terra dentro com grande proveito das Almas a exercitar seus ministérios ; como os Seculares , q u e , ou por n e c e s -s i d a d e , ou por conhecimento particular, ou por parentes busca© de caminho agazalho.

T e r casa separada para os hospedes h e gran-de a c e r t o : porque melhor se r e c e b e m , e com m e n o r estorvo da família , e sem prejuízo do re-colhimento , que haõ de guardar as mulheres , e as filhas , e as moças de serviço interior occupa-das no aparellho do j a n t a r , e da cea.

O t r a t a m e n t o naõ ha de exceder o estado

Referências

Documentos relacionados

A mensuração dos respectivos valores presentes foi calculada pelo método do fluxo de caixa descontado, considerando as datas em que se estima a saída de

Os trabalhos foram realizados durante um ano, janeiro/2003 e dezembro/2003, quando foram registrados o tamanho da colônia em termos do número de pares reprodutores, sucesso

O pescado é um importante constituinte da dieta humana, entretanto, a presença de parasitos pode constituir um risco à saúde pública, além de impor prejuízos econômico

2.3 Para candidatos que tenham obtido certificação com base no resultado do Exame Nacional do Ensino Médio - ENEM, do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens

Το πρόσωπο του άβελ ήταν καλυμμέ­ νο από μύγες, υπήρχαν μύγες (πα ανοιχτά του μάτια, μύγες στη σχισμή των χειλιών του, μύγες &lt;ττις πληγές που είχε δε­

Este artigo tem por finalidade mostrar a utilização da ferramenta de Planejamento Estratégico Análise Swot, e sua importância para alcançar a excelência no desenvolvimento

De certa forma, quando você faz muito rapidamente uma tarefa e não pára e revisa seu trabalho, você está agindo um pouco como alguém que se recusa a usar partes do

Qual a principal fonte de recursos financeiros (Descreva se a instituição recebe doações, recursos municipal, estadual ou federal, tem fonte de receita própria e outros). Institutos