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Compreensão sobre grupos e trabalho com grupos entre estudantes da área da saúde

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Academic year: 2021

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DCVIDA – DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA VIDA CURSO DE NUTRIÇÃO

PRISCILA GRACIELE RAMOS DA COSTA

COMPREENSÃO SOBRE GRUPOS E TRABALHO COM GRUPOS ENTRE ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE

Orientadora: Profª Drª Maristela Borin Busnello

Ijuí 2018

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PRISCILA GRACIELE RAMOS DA COSTA

COMPREENSÃO SOBRE GRUPOS E TRABALHO COM GRUPOS ENTRE ESTUDANTES DA ÁREA DA SAÚDE

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Nutrição da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul - Unijuí

Orientadora: Profª Dra. Maristela Borin Busnello

Ijuí 2018

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RESUMO

O estudo busca conhecer a compreensão sobre grupos e o trabalho com grupos entre os estudantes da saúde. Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa e quantitativa. A coleta de dados ocorreu por meio do envio de um questionário eletrônico, elaborado via formulário do Google Docs, por e-mail a todos os acadêmicos, os quais tiveram primeiramente acesso ao termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) e posteriormente às questões. Constatou-se que 91,07% dos acadêmicos que colaboraram com a pesquisa são mulheres, a idade média foi de 22 anos, maioria dos estudantes já ultrapassou a metade da duração de seu curso e 39,29% são acadêmicos do curso de Nutrição. A grande maioria dos estudantes já tinha conhecimento sobre o tema Grupos de Saúde e sabia atribuir alguma importância para a saúde pública ou sua área de conhecimento. Contudo, um número expressivo dos estudantes que participaram da pesquisa (46,45%) nunca realizou nenhuma ação com grupos. Percebe-se a falta de aprofundamento do tema na graduação, não somente pelo fato de os estudantes não terem realizado ações com grupos, mas devido a grande maioria acreditar nos grupos como sendo um trabalho multiprofissional, voltado para o atendimento clínico e individualizado. Os acadêmicos que souberam falar amplamente da importância dos grupos como um potencial para promoção à saúde e autonomia dos indivíduos foram os que tiveram experiências em estágios desde o início da graduação e os que participam de projetos de extensão que abordam a educação em saúde. Sugere-se que a temática dos grupos seja mais abordada e vivenciada no percorrer da graduação, pois se acredita que se o modelo de educação em saúde não estiver voltado apenas à atenção individual, mas sim voltado à produção de experiências coletivas com diferentes formas de intervenção, tanto a população quanto o sistema de saúde brasileiro será beneficiado.

Palavras chaves: Grupos de saúde, Atenção Básica, Estudantes, Educação em

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ABSTRACT

This study aims to investigate the understanding about Health Groups and the work with these groups among health students. It is a descriptive study of qualitative and quantitative approach. Data has been collected through an electronic questionnaire elaborated with a Google Docs form and sent by e-mail to university students, who firstly had access to the consent form, and later to the questions. It was found that 91.07% of the students who collaborated with the research were women, average age was 22 years old, most of the students have already attended more than half the duration of their courses, and 39.29% are Nutrition students. The vast majority of the students interviewed already knew about Health Groups and attributed some importance to public health or their fields of knowledge. However, an expressive number of the students who participated of the research (46.45%) has never taken part in any action with groups. It is possible to notice a lack of deepening of the theme in the undergraduation, not only because of the fact that the students have not participated of actions with groups, but because the vast majority believes that the groups are a multiprofessional work oriented towards the clinical and individualized care. The students who were able to talk more broadly about the importance of the groups as potential for the promotion of health and autonomy of individuals were those who have had experiences in internships since the beginning of their undergraduation courses, and those who participated in extension projects that address the subject of health education. It is suggested that the theme of groups be more strongly addressed and experienced along undergraduation, because if the model of health education is aimed not only at the individual attention, but to the production of collective experiences with different forms of intervention, both the Brazilian population and the health system would benefit.

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SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ... 7 2 OBJETIVOS ... 11 2.1. OBJETIVO GERAL ... 11 2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ... 11 3 METODOLOGIA ... 12 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ... 13 4.1. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA ... 13

4.2. CONHECIMENTO E ENTENDIMENTO SOBRE O TEMA GRUPOS DE SAÚDE E SUA ABORDAGEM DURANTE A GRADUAÇÃO ... 15

4.3. O ENTENDIMENTO SOBRE TRABALHO GRUPAL ... 16

4.4. SOBRE OS TRABALHOS E AÇÕES REALIZADAS COM GRUPOS DE SAÚDE ... 20

4.5. A IMPORTÂNCIA DO TEMA NA ÁREA DE CONHECIMETNO DOS ESTUDANTES ... 24

4.6. RELEVÂNCIA DAS AÇÕES COM GRUPOS PARA A SAÚDE PÚBLICA ... 28

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 32

REFERÊNCIAS ... 34

ANEXOS ... 38

ANEXO I. Questionário... 38

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1 INTRODUÇÃO

Na sociedade moderna, as doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) estão fortemente presentes, a alimentação inadequada e o estilo de vida são grandes fatores de risco. A promoção de hábitos saudáveis, logo, a promoção da saúde, torna-se um desafio para a saúde pública. Por sua vez, a Promoção da Saúde, de acordo com a Política Nacional de Promoção da Saúde, envolve “um modo de pensar e de operar articulado às demais políticas e tecnologias desenvolvidas no sistema de saúde brasileiro, contribui na construção de ações que possibilitam responder às necessidades sociais em saúde” (BRASIL, 2010, pg. 10).

Pensando nisso, diversos documentos e materiais de apoio, disponibilizados pelo Ministério da Saúde, que focam na promoção da saúde, destacam a necessidade da elaboração de políticas públicas que apoiem e favoreçam as escolhas alimentares mais saudáveis pelos indivíduos, famílias e comunidades. Pois, devido ao atual cenário que estamos vivenciando em que há um grande

“crescimento das doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) e de seus fatores de risco, como a inatividade física e a alimentação inadequada, é indiscutível a necessidade da realização de ações de promoção da saúde pautadas na autonomia e no empoderamento”(BRASIL, 2016, pg. 9).

Neste contexto, uma importante estratégia para promoção da saúde pública e coletiva no Brasil, visando autonomia e empoderamento, é o desenvolvimento de ações coletivas entre os sujeitos, a fim de trocar experiências e conhecimentos. Dentro dessas ações coletivas podem-se destacar os grupos de promoção a saúde, os quais se compreendem como espaços para socializar e criar vínculos. Assim, uma das propostas educativas nos grupos de saúde “está em proporcionar uma oportunidade de participação no qual todos aprendem e ensinam, reformulam concepções e produzem novo conhecimento” (FREITAS et al., 2015, p. 49, tradução nossa).

Para Umpierre et al. (2017, pg 31), os grupos tem grande potencial cooperativo, “o participante atua como suporte para outros membros, facilitando a expressão das necessidades, das expectativas e das angústias, favorecendo a abordagem integral das condições de saúde e dos modos de viver”. A literatura nos mostra que, atualmente, estes grupos vêm ganhando mais espaço dentro de diversas áreas da saúde no Sistema Único de Saúde (SUS). Neste ambiente é

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possível provocar reflexões e senso crítico sobre os condicionantes no processo saúde-doença, permitindo aos usuários problematizar e aprender, melhorando a qualidade de vida.

Menezes e Avelino (2016, pg. 125) acreditam ainda que, na Atenção Primária, este crescente processo de aprendizado que a prática de discutir e problematizar promove nesses grupos, tem a capacidade de criar condições mais favoráveis no que diz respeito ao processo de trabalho. Isso se traduz na “diminuição das consultas individuais, participação ativa do indivíduo no processo educativo e envolvimento da equipe de profissionais com o paciente”. Para que os grupos sejam eficazes no decorrer desses processos,

é indispensável, portanto, que os profissionais da Saúde discutam e aprendam sobre os fenômenos grupais, pois a organização desses grupos como modalidade de atenção coletiva é cada vez mais frequente em nosso Sistema de Saúde, principalmente como prática educativa e preventiva na Atenção Primária. (MENEZES e AVELINO, 2016, pg. 125)

Segundo o Ministério da Saúde no caderno HumanizaSUS (BRASIL, 2010), no entanto, podemos perceber que entre os profissionais da saúde a compreensão das práticas grupais ainda é limitada, ressaltando a falta de instrumentos e conhecimentos para se trabalhar no âmbito do coletivo. Sugere-se então, que esse cenário possa ser o reflexo da sistemática do ensino e formação destes profissionais, pois está mais voltado para as práticas de saúde na atenção individual. Além disso, o documento ainda refere que a configuração de alguns dos cursos que não centram suas terapêuticas em medicações (terapeutas ocupacionais, psicólogos, fisioterapeutas, nutricionistas, enfermeiros), não contemplem habilidades voltadas para práticas grupais.

Outras limitações também foram exploradas na Série Atenção Básica e Educação na Saúde – O Pequeno Grupo como um Sistema Complexo, a qual cita e realiza críticas enquanto as “teorias tradicionais” existentes na literatura, no que diz respeito ao modo em que os grupos são conduzidos, através de “uma estrutura de grupo especialmente hierárquica na qual o saber/poder está no facilitador/líder (que pode ser um trabalhador da saúde, na Atenção Básica)” (SEMINOTTI, 2016, pg. 22). Todavia, considerar o profissional/trabalhador como um “líder” de grupo está longe de ser o ideal, pois ele deve estar no grupo e fazer parte dele, estimular e compartilhar a aprendizagem e vivências, sem impor o saber.

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Embora nos cursos que prevejam em suas diretrizes curriculares o desenvolvimento de habilidades e práticas voltadas ao coletivo, conforme o Ministério da Saúde nos traz, através do caderno HumanizaSUS,

“muitos profissionais relatam dificuldades em encontrar tempo para atuar em ações educativas, de grupos, visitas domiciliares, de prevenção e promoção, ou em atividades curativas e clínicas que poderiam ser realizadas de forma grupal” (BRASIL, 2010, pg. 106).

As ações educativas, no entanto, deveriam ser entendidas como parte do processo de trabalho, sendo contemplada já no planejamento e organização pelos profissionais, e não somente como uma atividade esporádica ou complementar. Diante disso, para a tomada de ações, o profissional acaba utilizando as técnicas que foram mais aprofundadas e que mais se destacaram no seu processo de formação, as quais tendem a contemplar os atendimentos individuais e, quando desafiado a promover educação em saúde para coletividades, acaba por utilizar metodologias expositivas/palestras, confirmando o conceito das teorias tradicionais, anteriormente expostas.

Em um estudo, os usuários de uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) relataram alguns dos motivos que proporcionavam também o desestímulo para a participação de grupos de saúde. De acordo com Alves et al. (2012, pg. 404), uma das dificuldades encontradas estava na metodologia e linguagem utilizadas pelos profissionais de nível superior na condução das atividades, pois, segundo eles, os idosos que também frequentam o grupo possuem baixo nível de escolaridade, logo, havia dificuldade de entendimento e compreensão na fala do profissional. Contudo, o baixo nível de escolaridade constatado no estudo não deve ser encarado como um fator condicionante para a falta de entendimento, mas sim a maneira em que a atividade é conduzida, pois a metodologia e linguagem acabam distanciando o profissional e população, onde o profissional acaba tomando um papel de superioridade. Além disso, outra dificuldade relatada pelos idosos participantes do grupo era a “falta de abertura”, que acabava por dificultar o diálogo.

Neste contexto, para que as atividades grupais consigam atingir seus objetivos, afirmando sua relevância na saúde pública, os profissionais deverão dispor de habilidades e capacidades para garantir a adesão dos usuários aos grupos e proporcionar uma boa experiência. Portanto, este estudo possibilitou compreendermos o entendimento dos futuros profissionais em relação às práticas

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grupais, pois através do que podemos perceber em vivências e estudos (ainda que escassos) a formação em saúde possivelmente não tem abordado de maneira adequada as práticas grupais durante a graduação, logo, os profissionais acabam por entender os grupos de maneira equivocada, conduzindo-os de forma tradicional (através de palestras/exposição) não proporcionando o impacto desejado na promoção da saúde.

Considerando estas reflexões o estudo buscou responder a seguinte pergunta de pesquisa: Qual a compreensão dos futuros profissionais da área da saúde, de nível superior, em relação ao tema grupos e as práticas grupais?

Observa-se a necessidade de uma maior compreensão dos fatores envolvidos em torno desta lacuna existente entre os profissionais e as práticas grupais. Pois para que estes grupos sejam possíveis, é fundamental que os profissionais saibam como envolver os usuários de maneira a proporcionar uma boa experiência e aderência aos grupos.

Acredita-se que a construção de habilidades para desenvolvimento dessas estratégias de ações grupais aconteça durante o processo de formação dos profissionais. Portanto, este estudo pôde proporcionar um maior esclarecimento, visto que estudos que também se preocupem em compreender mais sobre esta temática ainda são escassos. Para tal, foi efetuada uma investigação do entendimento dos futuros profissionais da área da saúde, sobre trabalhos com grupos e sua importância para a educação em nutrição e saúde como um todo.

A partir daí, conseguiremos analisar como a graduação vem abordando o tema. Desta forma, será possível também a compreensão das dificuldades encontradas no decorrer da graduação, que talvez possam impossibilitar ações efetivas e contínuas no âmbito dos grupos de saúde nas Atenções Básicas.

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2 OBJETIVOS

2.1. OBJETIVO GERAL

Conhecer qual é a compreensão dos futuros profissionais da área da saúde, de nível superior, em relação ao tema grupos e as práticas grupais.

2.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Investigar qual é o entendimento dos futuros profissionais da área da saúde, de nível superior, acerca da existência e relevância das ações grupais na Atenção Básica.

- Conhecer como a formação em saúde vem abordando as ações de educação em grupo de saúde;

- Descrever as possíveis dificuldades e limitações enfrentadas pelos estudantes em relação à abordagem do tema grupos e trabalhos com grupos durante a graduação.

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3 METODOLOGIA

Trata-se de um estudo descritivo de abordagem qualitativa e quantitativa, realizado de Agosto a Novembro de 2018. O estudo buscou compreender o entendimento dos futuros profissionais dos cursos de Nutrição, Farmácia, Fisioterapia e Enfermagem, em relação à temática de grupos e as práticas grupais nas ações coletivas.

O estudo apoiou-se ao propósito de compreender, visto que a análise qualitativa se dá principalmente por este objetivo, ou seja, pela capacidade que temos de nos colocarmos no lugar do outro, tendo em vista que, como seres humanos, temos condições de exercitar esse entendimento (Minayo, 2012, pg. 623). Foram contatados 550 acadêmicos dos cursos da saúde, dentre eles Farmácia, Nutrição, Fisioterapia e Enfermagem, da Universidade Regional do Noroeste do Estado (UNIJUI). O acesso aos sujeitos se deu mediante autorização prévia das coordenadoras de cada curso, para que fosse possível o envio de um questionário eletrônico por e-mail a todos os acadêmicos. Através do questionário eletrônico (disponível no ANEXO I), elaborado via formulário do Google Docs, os acadêmicos tiveram primeiramente acesso ao termo de consentimento livre esclarecido (TCLE), sendo necessário realizar o aceite prévio para prosseguir com a resposta das demais questões.

Após o retorno dos acadêmicos, os questionários foram revisados, exportados para uma planilha Excel, e, em seguida para o software Epiinfo versão 7.0 para realização da análise quantitativa.

Primeiramente buscou-se descrever as características dos acadêmicos, no que diz respeito ao semestre cursado, ao curso propriamente dito, assim como idade e gênero. Nesta etapa as informações receberam tratamento quantitativo buscando descrever quem são os acadêmicos entrevistados (CARDOSO, 2014, MINAYO, 2010). Referente às questões cunho qualitativo, as mesmas foram lidas em sua totalidade, no intuito de que fosse possível perceber a compreensão sobre trabalho com grupos entre os acadêmicos.

A pesquisa foi avaliada e aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Unijuí (CEP) sob parecer número 2.761.783, no ano de 2018.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA

O questionário foi respondido por 10,18% (n=56) dos aproximados 550 acadêmicos inicialmente contatados para participação do estudo. A introdução do questionário conta com informações que possibilitam visualizar o perfil dos acadêmicos, quanto ao gênero, idade, curso e semestre cursado. A baixa adesão à pesquisa assemelha-se ao estudo de Cori et al. (2014), o qual também utilizou em sua metodologia uma pesquisa online para a coleta de dados, enviada ao mailing de profissionais nutricionistas, onde as respostas representaram 11,5% dos sujeitos da pesquisa.

Quanto ao gênero, a grande maioria dos acadêmicos que colaboraram com a pesquisa são mulheres (91,07%). Este achado assemelha-se ao estudo de Rodrigues e Bosi (2014), onde a grande maioria das participantes eram mulheres e somente 1 participante homem. Isso se confirma também no estudo publicado pelos Cadernos do GEA (2014) - Grupo Estratégico de Análise da Educação Superior no Brasil - cujo tema aborda A Mulher no Ensino Superior – Distribuição e Representatividade, onde uma análise foi realizada a partir dos dados do Enade, permitindo identificar algumas questões, dentre elas a relação entre gênero e tipo de curso. De modo geral, parte desta análise conclui que as mulheres continuam, em sua grande maioria, em cursos que perante a sociedade são considerados “mais femininos”, dentre eles cursos da área da Saúde.

Para melhor caracterização do perfil dos acadêmicos que responderam ao questionário, foram analisadas as variáveis como idade, curso e semestre cursado (Tabela 1).

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Tabela 1. Características sociodemográficas dos acadêmicos dos cursos da Saúde da UNIJUI Variáveis N = 56 % Idade 18 - 20 13 23,21 21 - 30 41 73,21 31 - 40 1 1,79 >40 1 1,79 Total 56 100,00 Curso Enfermagem 14 25,00 Farmácia 7 12,50 Fisioterapia 13 23,21 Nutrição 22 39,29 Total 56 100,00 Semestre 1 - 4 11 19,64 5 - 7 21 37,50 8 - 10 24 42,86 Total 56 100,00

Conforme a tabela 1, a maioria dos participantes da pesquisa é jovem, sendo que 73,21% (n=41) dos estudantes possuem idade entre 21 e 30 anos, e a média de idade foi de 22 anos. No estudo de Nardeli et al. (2013, pg. 10), que aborda o perfil de estudantes ingressantes da área da saúde, também é possível visualizar que a sua grande maioria é composta por jovens (média de idade 18 anos) e mulheres. Quanto ao semestre cursado, ficou evidenciado que a maior parte dos estudantes que responderam o questionário, já ultrapassou a metade da duração de seu curso.

Os estudantes do curso de Nutrição foram os que mais colaboraram para a pesquisa, sendo 39,29% (n=22) das participações. Acredita-se que, devido à pesquisadora ser do Curso de Nutrição, possivelmente o fato de ser conhecida entre os estudantes deste curso pode ter contribuído para maior adesão destes acadêmicos.

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4.2. CONHECIMENTO E ENTENDIMENTO SOBRE O TEMA GRUPOS DE SAÚDE E SUA ABORDAGEM DURANTE A GRADUAÇÃO

Os Grupos de Saúde, conforme o estudo de Santos et al. (2005, pg. 347), são caracterizados como uma “intervenção coletiva e interdisciplinar de saúde” em que um conjunto de pessoas ligadas por algumas características em comum (como tempo, espaço, interesses...) “interagem cooperativamente a fim de realizar a tarefa da promoção da saúde”. Podemos levar em consideração que a participação dos sujeitos neste tipo de abordagem, torna-os capaz de refletir sobre suas próprias vidas sendo capazes de promover o autocuidado.

Antes de aprofundar com perguntas mais específicas e pertinentes ao tema do estudo, primeiramente buscou-se visualizar de maneira mais geral e direta se os acadêmicos sabem ou se já ouviram falar em Grupos de Saúde. 75% (n=42) dos acadêmicos sabem o que é e 5,36% (n=3) responderam que já ouviram falar sobre Grupos de Saúde, enquanto que 3,57% (n=2) dos acadêmicos nunca ouviram falar e 16,07% (n=9) não sabem o que é.

Teoricamente, este é um resultado esperado entre os acadêmicos da Saúde. Pois, apesar de estudos em relação ao conhecimento entre estudantes do nível superior sobre Grupos de Saúde serem escassos, o desenvolvimento de ações coletivas (e não somente individuais) para promoção, prevenção e tratamento de doenças é previsto pela Política Nacional de Atenção Básica (2012). Outra habilidade prevista pelos profissionais da saúde é a capacidade de atuar em equipe, conforme instituído nas Diretrizes Curriculares Nacionais dos Cursos de Graduação em Nutrição, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia, sob Resoluções CNE/CES Nº 5, CNE/CES Nº 3, CNE/CES Nº 6 e CNE/CES 4, respectivamente. Na Atenção Primária à Saúde, o trabalho em equipe é essencial no cuidado à pessoa com doença crônica, conforme bem colocado pelo caderno sobre Cuidado da Pessoa com Doença Crônica, pois a aproximação entre equipe e população pode contribuir para a ampliação de diálogo dos mais diversos saberes sobre os cuidados à saúde (BRASIL, 2014, pg. 32). Logo, o desenvolvimento de ações com este foco faz parte do processo de trabalho na Atenção Básica, portanto os acadêmicos deverão estar aptos para atuarem neste setor com o mínimo de compreensão sobre a existência de ações coletivas e trabalho em equipe.

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O presente estudo apontou diversos contextos em que o tema Grupos de Saúde foi abordado. Dentre eles destacou-se o contexto do SUS e Saúde Coletiva, abordado em disciplinas e em estágios, como por exemplo, Estágios em Saúde Coletiva, disciplina de Nutrição em Saúde Coletiva e Fisioterapia em Saúde Coletiva. Os acadêmicos, em sua maioria, tem acesso a estas disciplinas e estágios a partir da segunda metade do curso (5º, 6º, 7º semestre em diante), com exceção dos acadêmicos da Enfermagem, que vem aprendendo sobre o tema no contexto da Saúde Coletiva, tanto em disciplinas quanto em estágio, desde a primeira metade do curso (o 4º semestre foi o mais citado entre os acadêmicos).

O campo da Saúde Coletiva se faz necessário durante o percorrer da graduação, pois é um campo de intervenção interdisciplinar, “onde não há limites precisos ou rígidos entre as escutas ou diferentes modos de olhar, pensar e produzir saúde”, conforme nos reforça Campos et al. (2006, p. 138), neste campo é possível pensar sobre saúde, indo muito além de questões relacionadas com a doença em si, incentivando uma participação mais ativa da sociedade neste processo.

O segundo contexto de estudo sobre o tema Grupos de Saúde mais abordado entre os acadêmicos, foi como parte de disciplinas voltadas para a Educação em Saúde, a qual se trata de um modo de pensar dentro da Saúde Coletiva, contribuindo para um saber que vá além de conhecimento técnico ou à ciência (Ibid., p. 138).

4.3. O ENTENDIMENTO SOBRE TRABALHO GRUPAL

Seminotti (2006, pg. 17) em seu livro considera que os Grupos trabalham com diferentes fins e que são constituídos por pessoas com um objetivo em comum, através de estratégias coletivas que possam intervir em nosso dia-a-dia, “sistematizar e resolver problemas e de provocar reflexões e aprendizagem”.

Uma das características mais atribuídas ao trabalho grupal pelos estudantes refere entender o grupo como conjunto de profissionais que trabalham em prol de algum objetivo. A palavra “multidisciplinar” foi muito usada para descrever esse ponto de vista sobre trabalho grupal, onde os profissionais de diversas áreas trabalham em grupo, unindo seus conhecimentos para atender as necessidades do paciente/individuo. Conforme os relatos a seguir, é possível visualizar este ponto de vista levantado por alguns estudantes:

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“Acredito que deve ser um grupo ou mais com diferentes profissionais da saúde trabalhando em cooperação” (N7);

“Onde uma equipe multidisciplinar/pessoas trabalham em prol de um grupo paciente/individuo ou algo para atender suas necessidades” (E16).

Nas falas acima é possível perceber que o entendimento dos estudantes em relação ao trabalho grupal, compreende-se na composição de profissionais de diferentes áreas, com união de conhecimentos em busca de atingir um objetivo em comum. Para complementar, a fala que se segue “todos os profissionais envolvidos

na saúde do paciente, para melhor desempenho da qualidade do trabalho” (F24), faz

também referência à melhoria do atendimento, tornando-o mais qualificado. Contudo, aqui entendemos que os grupos não são controlados pelos profissionais, mas que a relação deles com os usuários/pacientes se estreita, tornando um ambiente menos formal. Segundo o caderno HumanizaSUS, o profissional faz parte do grupo, também está nele, assim como os demais participantes, onde “o espaço de grupo propicia que o saber esteja nas pessoas, e não centrado em um profissional de saúde, mas também nele” (BRASIL, 2010, pg. 107).

Além desta questão, a visão dos estudantes de que dentro dos grupos é possível trabalhar com objetivos e interesses em comum também foi descrito no estudo de Santos e Da Ros (2016, pg. 191), fazendo parte das características em que os grupos foram conceituados, bem como no estudo de Menezes e Avelino (2016, pg. 125), onde apresentam uma série de definições sobre Grupos, dentre as quais apresentam o conceito “conjunto de pessoas com finalidades comuns em direção ao alcance da tarefa”.

Em algumas falas que fazem referência ao trabalho multidisciplinar, podemos perceber uma visão mais limitada e técnica em relação à funcionalidade dos Grupos de Saúde. Por exemplo, na utilização de frases como “atender as demandas” (F17), “tratamento de um indivíduo ou mais” (F45), “visão mais ampla do problema e

interferindo de maneira correta” (F43) as palavras “demandas”, “tratamento” e

“problema” nos apresentam uma visão mais voltada para abordagem clínica, assistencial e individual.

O objetivo dos Grupos de Saúde vai além de papel meramente curativo, assistencial ou de prevenção, no volume 1 do caderno Núcleo de Apoio à Saúde da Família (BRASIL, 2014, pg. 67) é reforçada a questão de que o trabalho com grupos não deve ser incorporado somente para “dar conta da demanda”, através de “consulta coletiva” ou “sessões informativas”, mas sim ofertar uma formação em

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Saúde mais reflexiva, de maneira integral e humanizada (MENEZES e AVELINO, 2016, pg. 125). No estudo de Santos e Sampaio (2017, pg. 281) os autores realizam uma crítica em relação a como o ensino superior vem abordando a formação em saúde para o mercado de trabalho. O modelo pelo qual vem se fazendo educação ainda não alcança o esperado, traduzindo-se na formação de sujeitos que ainda não são capazes de pensar além do modelo tecnicista e biomédico e nem são “capazes de atuar de forma proativa na superação das necessidades sociais de saúde”.

Ainda sobre o entendimento do trabalho grupal, muitos estudantes acreditam que se trata de uma maneira de troca de experiências e conhecimentos, possuindo um potencial cooperativo, de socialização e criação de vínculos. Algumas representações desse pensamento podem ser verificadas nas falas a seguir: “trabalho em grupo ajuda aos indivíduos a terem mais confiança, o grupo serve para

ambos se ajudarem” (N18); “Atividade de interação com compartilhamento de

informações e aprendizagem” (E4).

É interessante observar a importância dada à interação entre os indivíduos para produção de conhecimentos, experiências e o diálogo, conforme citado: “uma

atividade que une à todos, ouve a opinião de todos, melhora o diálogo entre todos

envolvidos” (N1). Em um ensaio teórico, a fim de mostrar o modo Pichon-Riviére de

pensar a realidade e a ideia de grupos, Pereira (PEREIRA, 2013, pg. 27), expõe a importância da transformação que o diálogo é capaz de realizar, a partir da interação, da troca da palavra entre eu e o outro. A produção de saúde só será efetiva a partir da transformação dos saberes técnicos e dos saberes dos usuários em um diálogo munido de significados. A partir destes saberes é possível construir soluções aos problemas expostos dentro dos grupos.

Houve ainda alguns estudantes que levantaram um aspecto muito importante em relação aos Grupos de Saúde, no que diz respeito à ajuda mutua, à construção de confiança, ao poder de cooperação que os grupos possuem, onde “os sujeitos

que estarão envolvidos no grupo, poderão ver e entender a realidade do outro, que

vive na mesma situação que ele” (F54).

Para melhor esclarecimento da importância dos grupos neste sentido, no estudo de Santos e Da Ros (2016, pg. 194) foram realizados encontros com profissionais de uma ESF de modo a avaliar criticamente a maneira com que vinham realizando educação em saúde nas Unidades. Uma das características apontadas pelos profissionais foi no intuito de fortalecer a coletividade, pois, conforme relatado

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por um dos profissionais, os Grupos de Saúde teriam grande capacidade de enfrentamento junto ao outro, tornando mais “fácil” passar por determinadas situações quando há um grupo onde se possa contar.

Estes aspectos de caráter subjetivo deveriam ser mais explorados durante a graduação, na formação em saúde, pois quando determinado grupo de indivíduos está passando pela mesma situação ou patologia, compartilhar as experiências, dicas, ideias, ou até mesmo apenas falar com alguém que saiba a situação pela qual está passando, pode potencializar o cuidado à saúde.

Os Grupos de Saúde como um instrumento para realizar Educação em Saúde, autocuidado e a promoção de saúde, também foram citados entre os estudantes: “grupo de pessoas com a mesma faixa etária ou doença crônica, para

prevenção e educação em saúde” (N20). A educação em saúde foi muito

relacionada com “promoção de saúde”, frase muito utilizada entre os estudantes, como é possível visualizar: “Reunir as pessoas para promover a saúde. Através de

atividades ou abordagem de algum assunto” (E26).

Se bem aproveitados de maneira que possibilite o real envolvimento dos participantes, os Grupos de Saúde são potentes tecnologias para promoção de saúde. Conforme já mencionado neste estudo, a PNAB prevê políticas coletivas e, dentre estas, estão às ações educativas. Estas ações podem “interferir no processo de saúde-doença da população, no desenvolvimento de autonomia, individual e coletiva, e na busca de qualidade de vida pelos usuários” (BRASIL, 2012, pg. 41).

Por meio de atividades de Educação em Saúde, é possível provocar o aprendizado e reflexão dos participantes, ampliando a autonomia dos mesmos, para que, a partir do conhecimento, sejam capazes de realizar escolhas adequadas, tanto em relação à alimentação quanto a demais hábitos saudáveis. Muitos materiais do Ministério da Saúde referem esta importância, como no volume 1 do caderno Núcleo de Apoio à Saúde da Família (BRASIL, 2014, pg. 68), onde as práticas grupais de educação em saúde na Atenção Básica são “excelentes espaços e oportunidades de promoção à saúde”, bem como poder de potencializar a participação popular sobre as políticas e serviços de saúde.

Por outro lado, alguns estudantes demonstraram entendimento limitado sobre os grupos, havendo respostas mais vagas e simplistas, conforme alguns exemplos:

“Trabalho realizado em grupo” (F3);

“Um trabalho no qual as pessoas realizam juntas” (F4); “Algo que um complete o trabalho do outro” (FA27);

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“Equipe” (N44).

Esta limitação representada pelas falas acima, é uma das dificuldades que buscamos chamar atenção no presente estudo. O caderno HumanizaSUS (BRASIL, 2010, pg. 106) reforça esta percepção, fazendo-nos refletir no que diz respeito ao despreparo dos profissionais para se executar atividades em âmbito grupal. Se os acadêmicos têm dificuldades em expor seu entendimento sobre os grupos, provavelmente a formação possua ainda alguma carência em relação à abordagem deste tema no decorrer da graduação. Este cenário vai ao encontro com o que trazem Santos e Sampaio (2017, pg. 282) em seu estudo, no que diz respeito à necessidade de uma educação mais crítica na formação em saúde, onde “ler para memorizar tem sido um meio eficiente de alcançar notas, e nem sempre de aprender”. Como consequência, iniciativas em âmbito coletivo podem ser comprometidas.

4.4. SOBRE OS TRABALHOS E AÇÕES REALIZADAS COM GRUPOS DE

SAÚDE

Outro aspecto investigado no estudo foi como as ações com grupos estão acontecendo durante a graduação. Dentre os acadêmicos que já realizaram alguma ação com grupos de saúde, em sua maioria as atividades foram desenvolvidas como parte de estágio curricular ou projetos de extensão. O estágio mais mencionado foi no campo da Saúde Coletiva. Conforme mencionado anteriormente, os profissionais da saúde devem sair da graduação aptos a trabalharem não somente em nível individual, mas também coletivo. Isso se confirma nas diretrizes curriculares de todos os cursos da saúde mencionados neste estudo, Nutrição, Enfermagem, Farmácia e Fisioterapia, sob Resoluções CNE/CES Nº 5, CNE/CES Nº 3, CNE/CES Nº 6 e CNE/CES Nº 4, respectivamente, onde estágios no campo da Saúde Coletiva estão contemplados nos projetos pedagógicos dos cursos. Diante disso, a menção sobre ações com grupos nos campos de estágio de Saúde Coletiva, reforça a importância de se trabalhar com coletividades.

Conforme relatado pelos estudantes, as ações com grupos durante o estágio foram realizadas principalmente em Estratégias de Saúde da Família (ESF), e os que citaram o projeto de extensão, em sua maioria, foi de Educação em Saúde. Apenas um estudante citou projeto de Saúde da Criança. As ESFs são um

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importante espaço para desenvolvimento de práticas que promovam a saúde, por meio da educação em saúde, para que a comunidade sinta-se acolhida e mais próxima da equipe de saúde, sendo vista também como um local de integração. Pois através do incentivo das ações grupais nas ESFs, conforme aborda Alves et al. (2012, pg. 402), “acredita-se que favoreçam a participação, garantindo ao indivíduo e à comunidade a possibilidade de decidirem sobre seus próprios destinos”.

Para além dos estágios curriculares, a universidade local deste estudo desenvolve projetos de pesquisa e extensão, dentre os quais está o de Educação em Saúde, o qual foi mencionado pelos estudantes que participam e realizaram atividades com grupos dentro do contexto do projeto. A abordagem deste tema dentro de um projeto de extensão é de extrema importância, visto que a formação busca salientar a importância do envolvimento dos acadêmicos em ações com grupos de saúde, para qualificação profissional, trabalho em equipe e para desenvolvimento de condições efetivas para promoção de saúde na Atenção Básica. Contudo, mesmo com iniciativas nos estágios curriculares e projetos de extensão, 46,4% dos sujeitos do estudo nunca realizou ações com grupos de saúde, o que é um número expressivo. Este dado pode nos esclarecer enquanto à crítica que Campos et al. (2006, pg. 143) faz ao fato de os estudantes sentirem-se ainda muito despreparados para a vida profissional, pois “há distância dos estudantes das realidades de intervenção e não se produz a convocação ao pensamento em virtude das práticas pautadas pela memorização de informações”.

Dentre os estudantes que realizaram atividades com grupos de saúde, houveram percepções muito positivas em relação à experiência, conforme falas a seguir:

“Foi uma experiência muito rica e com trocas de experiências que vem nos trazendo mais conhecimento e segurança para formação [...]” (N11);

“Foi muito gratificante, pois tivemos uma boa resposta dos pacientes, 23 compareceram no dia [...]” (E16);

“Foi engrandecedor os trabalhos realizados”. (F50).

Na fala a seguir, contudo, podemos perceber que a mesma inicia-se com gratificações, porem novamente aparece a questão anteriormente mencionada, em relação à preocupação em dar conta das demandas.

“Trabalho gratificante, os pacientes são muito beneficiados e sentem-se agradecidos, principalmente quando trata-se de prevenção e promoção da saúde. Entretanto, essas atividades nem sempre dão conta da demanda dos indivíduos, sendo então necessária uma intervenção individualizada”. (F17)

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Nesta fala, contudo, a ideia e entendimento de grupos de saúde estejam um pouco confusa, pois as intervenções individualizadas, quando necessário, não podem nem devem deixar de acontecer. Porem o grupo de saúde vem ao encontro da ideia de facilitar a comunicação do profissional e usuário, onde através da informalidade das ações grupais, os usuários sejam capazes de compreender alguns determinantes prejudiciais à saúde, manejar de forma mais adequada seu cuidado e/ou evitar a consulta individualizada, por exemplo.

O que foi referenciado na fala a seguir demonstra que a ação com grupos de saúde pôde proporcionar um olhar positivo em relação ao trabalho em equipe:

“foi muito bom porque vemos a realidade da situação e esperamos que nos proximos anos os profissionais sejam formados parar trabalharem em conjunto, sendo humilde a aceitar a opinião de todos profissionais envolvidos”. (FA27)

O trabalho em equipe ou em conjunto, como bem mencionado, proporciona diferentes olhares para o cuidado e para a promoção de saúde, através da união de diferentes conhecimentos e condutas, o cuidado aos indivíduos e coletividades torna-se mais qualificado e integral. Conforme menciona o Caderno de Estratégias Para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica: Obesidade (BRASIL, 2014, pg. 32), em relação à prevenção e tratamento do sobrepeso/obesidade, por exemplo, enfatiza-se o potencial que o apoio interdisciplinar tem nas resoluções das ações das equipes da Atenção Básica, “pois promove a ampliação dos saberes acerca da complexidade desses agravos e permite uma melhor oferta de cuidados”.

Além das trocas de saberes, outro aspecto positivo levantado pelos estudantes foi o reconhecimento da história e dos relatos dos usuários, como forma de também agregar conhecimento à caminhada acadêmica, sendo uma inspiração para a vida profissional, conforme se pode observar no relato abaixo:

Os grupos de saúde sempre são muito produtivos. Você vai com uma proposta e aprende muito com os pacientes/usuários, com o relato de cada um. Na maioria das ações desenvolvidas, tem um professor junto, que nos orienta, mas nem sempre isso é possível [...] A troca de saberes é rica, nos instiga a estarmos em constante atualização e aprendizados. (E41)

Independente da função que ocupam dentro da Atenção Básica, a participação de todos os profissionais com esse tipo de abordagem seria ideal para a construção de conhecimento e criação de vínculos, pois “a troca de experiência e o apoio mútuo entre os participantes e entre participantes e profissionais de saúde é o real significado do trabalho com grupos” (SEMINOTTI, 2016, pg. 113).

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Em relação a como se deu a coordenação e desenvolvimento das atividades com grupos, dentro dos projetos de extensão, em sua maioria, os estudantes mencionaram que o desenvolvimento foi feito pela professora coordenadora do projeto. Enquanto que nos estágios em ESFs, o mais citado foram professores, alunos e a equipe das unidades juntos no desenvolvimento. As atividades realizadas com grupos foram as mais diversas, por exemplo, “como lidar com vícios no final de

semana” (E28), “grupo de diabéticos” (FA33), “sobre hipertensão e diabetes” (F37).

Alguns estudantes demonstraram um olhar mais crítico em relação às experiências com grupos, de modo geral, a pouca adesão e falta de interesse aos grupos ficaram claras nas falas dos mesmos. Nos seguintes relatos, “palestra, grupo

de gestantes e idosos [...] foi pouco participativo” (N20) e “foi bom mas parece que

aquelas pessoas estão cansadas de ouvir sobre a doença sempre acabam indo mais pra medir glicemia” (FA33) algumas observações devem ser feitas.

Na primeira fala, a “palestra” citada traz consigo alguns aspectos a serem considerados, conforme o conceito de teorias tradicionais já apresentados neste estudo. Este método de educação em saúde expositivo, como é a palestra, restringe o conhecimento somente ao profissional que será o facilitador do grupo, gerando uma estrutura hierárquica e dificultando o diálogo. Enquanto que na segunda fala, estar cansado de “ouvir falar sobre a doença” acaba desestimulando a adesão aos grupos, também observado por Alves et al. (2012, pg. 404), onde os participantes do estudo demonstraram preferir dialogar sobre outros temas pertinentes ao seu dia-a-dia, do que apenas na doença em si.

Neste ponto, acreditamos ser também pertinente atentar para o fato de que nenhum acadêmico citou a realização de ações com grupos, como sendo parte de atividade em disciplinas curriculares. Talvez o processo de formação esteja mais voltado a contemplar metodologias para cuidado individualizado, podendo ser entendido como uma formação tradicional, com currículos “menos interdisciplinares e mais especializados, conduzindo ao estudo fragmentado dos problemas de saúde das pessoas e das sociedades”, conforme levantado por Oliveira et al. (2016, pg. 554), sendo esta uma das limitações, conforme já citado no estudo, onde apenas a transmissão de conhecimento possa deixar a desejar a formação de senso crítico e produção de experiências dos estudantes.

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4.5. A IMPORTÂNCIA DO TEMA NA ÁREA DE CONHECIMETNO DOS ESTUDANTES

Buscou-se também entender qual a percepção dos estudantes sobre a importância dos trabalhos com grupos, dentro da área de conhecimento de cada um. Atividades com grupos de saúde para enriquecer a qualificação profissional foi muito citada entre os estudantes, conforme representado nas falas a seguir:

“Grupos de saúde é uma maneira de reunir indivíduos e trabalhar vários temas que possibilitam inserir nossa profissão, trabalhando com a saúde de maneira geral.” (N1);

“Penso ser muito importante para a formação profissional, é um grande desafio que proporciona um olhar diferente sobre o cuidado [...]” (E16); “muito legal, crescimento profissional e academico..realização do farmacêutico” (FA31);

“Pois é atraves deste trabalho que nos fortalecemos e nos constituimos como profissionais melhores. Aprender e ensinar ao outro é o que engrandece a profissao.” (F40).

Conforme viemos abordando ao longo deste estudo, um dos objetivos do desenvolvimento de ações com grupos durante a graduação é o de preparar os acadêmicos a serem capazes de planejar e implementar atividades de promoção de saúde para coletividades. Menezes e Avelino (2016, pg. 125) reforçam ainda que é imprescindível o envolvimento de profissionais da Saúde com as ações grupais, “pois a organização desses grupos como modalidade de atenção coletiva é cada vez mais frequente em nosso Sistema de Saúde, principalmente como prática educativa e preventiva na Atenção Primária”.

Ainda houve os que consideraram os grupos como um importante instrumento para beneficiar os usuários, de diferentes maneiras e para diferentes fins (no atendimento, para educação/autocuidado e recuperação/reabilitação). Através das falas a seguir podemos visualizar esta ideia:

“Na minha área tem os grupos de saúde nas ESF, que são de extrema importância para auxílio dos usuários com doenças crônicas!” (E8);

“Eu acredito q na área da fisioterapia o trabalho em grupo é essencial pelo fato de tratar o paciente como um todo, facilitando ainda mais a sua reabilitação” (F14);

“Acho muito importante pois hoje precisa ser feita uma abordagem sobre a medicação que é tão banalizada mas que pode trazer consequentes gravíssimas e muitos casos” (FA33);

“Os grupos de saúde são de suma importância, pois é um momento onde você pode tirar suas dúvidas, assim como, abordar várias temáticas.” (N38)

Podemos observar que cada estudante possui uma visão diferente em relação aos benefícios que o grupo pode proporcionar aos usuários, dentro de sua área de conhecimento. Muitos estudantes acreditam que os grupos podem ser

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benéficos durante o tratamento de doenças, conforme referido por E8. O Caderno de Atenção Básica que aborda Estratégias Para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica – Obesidade (BRASIL, 2014, pg. 104), traz dentre suas estratégias uma abordagem cognitivo-comportamental, na qual está inserido o trabalho com grupos para a “construção coletiva de conhecimento”.

Em relação à fala de F14, os benefícios das ações grupais referidos estão mais voltados para um aspecto terapêutico. Zimerman (2007) nos esclarece que mesmo que a essência dos grupos sejam a mesma, há uma classificação de acordo com a finalidade pelo qual foi criado. A reabilitação citada na fala do estudante é uma das características dos grupos Terapêuticos, sendo esta classificação de grupo mais voltado à “melhoria de alguma situação de patologia dos indivíduos”.

A abordagem de diferentes temáticas dentro dos grupos também é um dos benefícios para os usuários. Conforme preocupação demonstrada na fala de FA33, ao abordar determinada temática que muitas vezes é banalizada, muito pode ser esclarecido e, assim como menciona N38, é um bom momento para que se traga as dúvidas, onde poderão serão discutidas entre todos os participantes. O grupo de saúde se compreende em um ambiente em que os usuários possam estar mais a vontade para expor as suas dúvidas, e não somente um ambiente para compartilhar experiências ou simples participação. Falar sobre diferentes temas pode possibilitar que tragam curiosidades, podendo discuti-las e esclarece-las, pois, no geral, “os grupos oferecem mais tempo que uma consulta individual para essa exposição pessoal” de acordo com o caderno HumanizaSUS (BRASIL, 2010, pg. 108).

Dentro do que os estudantes consideram ser pertinente em sua área, acreditam também que os grupos são importantes para que se possa compartilhar os conhecimentos e saberes, possibilitando o autocuidado através de um processo educativo. Além de adquirir conhecimento, a fala “[...] os participantes se

transformam em multiplicadores do conhecimento” (N11) traz um importante ponto

de vista, onde os participantes não somente empoderam-se do conhecimento nas ações grupais, mas também tornam-se multiplicadores, podendo socializar e agregar mais conhecimento aos que estão à sua volta, como uma espécie de rede social, conforme sugere o caderno HumanizaSUS onde “a troca de experiências vislumbra a possibilidade de formar-se rede social e de suporte para o cotidiano” (Ibid., pg. 108).

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A partir da fala a seguir, o acadêmico apresenta uma visão muito ampla referente a algumas necessidades enfrentadas pela sociedade na saúde pública e do que os grupos poderiam proporcionar para facilitar os processos,

“As demandas em saúde são urgentes e o conhecimento é fundamental. Os grupos em saúde tem sua importância nesta base de conscientização, de promoção, proteção, prevenção, recuperação e reabilitação dos pacientes em suas necessidades de saúde. É imprescindível para promover o conhecimento, que o profissional qualificado compartilhe seu aprendizado com a população, tornado-a capacitada para o auto-cuidado, para o cuidar do outro quando depender de auxílio e para buscar auxílio quando necessário ao bem estar”. (E29)

As atividades de promoção à saúde tornam-se fundamentais, pois “a alta demanda numérica populacional que chega à Atenção Básica e a escassez de recursos e de tempo no cotidiano”, conforme abordado pelo caderno HumanizaSUS (BRASIL, 2010, pg. 107), é uma das razões para que os grupos de saúde aconteçam, pois atualmente os problemas de saúde mais recorrentes, como as DCNT, não dão conta apenas de enfrentamento clínico/individual, bem observado também na fala a seguir.

“É muito importante as ações em grupos de saúde, pensando no tema Promoção da Alimentação Adequada e Saudável, o Brasil apresenta hoje uma tripla carga de doenças sendo uma delas as DCNT cada vez mais incidentes na sociedade, este tema abordará questões relevantes para os participantes de grupos, promovendo o autocuidado e gerando autonomia dos usuários nas escolhas alimentares, reconhecendo a importância dos Direitos Humanos a Alimentação Adequada e Saudável (DHAA) e da Segurança Alimentar e Nutricional (SAN)”. (N39)

A racionalização de recursos, por assim dizer, não é a única questão, de acordo com as falas. A promoção de conhecimento para o autocuidado é a grande questão abordada pela maioria dos estudantes, no que diz respeito à importância de sua área de conhecimento. Um dos motivos citados no Caderno de Estratégias para o Cuidado da Pessoa com Doença Crônica (BRASIL, 2014, pg. 140), pelos quais os grupos demonstram-se fundamentais, está em “apoiar as pessoas a conhecerem mais e melhor suas condições de vida e de saúde e a realizarem as ações de autocuidado que estiverem ao seu alcance, estimulando sua autonomia”.

Os estudantes novamente mencionam a importância de se ter um olhar mais sensível, voltado a aspectos subjetivos dos indivíduos, uma vez que os grupos possibilitam muito essa abordagem, podendo ainda fortalecer a criação de vínculos e apoio entre os sujeitos. É interessante observar que quem mais fez esta relação com sua área de conhecimento foram os acadêmicos do curso de Nutrição,

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conforme observado nas falas a seguir, já os demais estudantes estes aspectos como sendo importante na área da saúde como um todo.

“A alimentação é um ponto chave para desencadeamento de doenças e é nela que como profissional devo focar para a prevenção. A alimentação é um assunto muito cultural, que aborda vivências e conhecimento popular e por isso alguns paradigmas devem ser esclarecidos para evitar dúvidas, elucidando aquilo que é passado de boca em boca pela população”. (N35); “Nosso principal conhecimento é sobre alimentação e nutrição do individuo, mas sabemos que a melhor orientação vai alem do que a pessoa come, envolve também seus habitos de vida, sua saúde em todos os aspectos, tanto fisica, quanto biologica e mental, assim quanto mais conhecimento tivermos a cerca do real problema que pode estar levando aos maus habitos, melhor sera nosso atendimento”. (N43).

Na fala de N35 foram levantados aspectos subjetivos importantes, quanto ao respeito às culturas dos sujeitos e a importância do profissional para que isso não somente seja preservado, mas que algumas questões possam ser discutidas. No livro Mudanças Alimentares e Educação Nutricional, as autoras partem do princípio de que todas as dimensões de nosso ser estão ligadas à alimentação, como “corpo, mente, psique, cultura e sociedade”, portanto dentro de um processo educativo, não há como separá-las. Sendo assim, a educação na área da nutrição não pode estar voltada somente à transmissão dos conhecimentos científicos “[...] nem a um discurso sobre alimentos, nutrientes e culinária. Ela busca compreender os fatos alimentares a partir de um pensamento multidimensional” (GARCIA-DIEZ e CERVATO-MANCUSO, 2017, pg. 65).

Devemos nos empenhar em conhecer o real problema, conforme nos lembra N43, para que sejamos capazes de influenciar positivamente na saúde dos indivíduos, e isso nos demanda empatia. A partir do momento em que tivermos a capacidade de nos colocarmos no lugar do outro, o diálogo será mais fácil e produtivo, nos possibilitando desvendar a “problemática com a qual se defrontam e consigam analisar os problemas alimentares, considerando o tempo presente, o passado e as perspectivas futuras” (GARCIA-DIEZ e CERVATO-MANCUSO, 2017, pg. 66).

Houve ainda poucos estudantes que não souberam responder sobre a relevância que os grupo possuem na sua área de conhecimento, ou que talvez não tenham compreendido bem o questionamento ou até mesmo não saibam a finalidade das ações grupais, conforme a fala “tema bastante complexo, precisa de

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4.6. RELEVÂNCIA DAS AÇÕES COM GRUPOS PARA A SAÚDE PÚBLICA

Conforme abordado desde o princípio deste estudo, o crescente aumento das DCNT demanda estratégias para promoção da saúde pública e, principalmente, coletiva no Brasil. Propostas educativas realizadas em âmbito grupal possibilitam que as pessoas criem vínculos, socializem e consigam aumentar seu conhecimento sobre alguns determinantes, ampliando sua autonomia para uma vida mais saudável (FREITAS et al., 2015, p. 49, tradução nossa).

Quando questionados sobre a importância do trabalho grupal para a saúde pública, alguns estudantes acreditam que o trabalho em conjunto de vários profissionais tornará o atendimento mais qualificado. Por exemplo, conforme mencionado por FA27, “o problema só será resolvido com vários profissionais e

cada um na sua área ajudando e muitas vezes conseguindo um diagnóstico muito

preciso”. Aqui o “problema” referido seria em relação ao usuário e sua demanda e/ou

patologia, onde o trabalho multiprofissional poderia auxiliar na resolução devido aos diferentes olhares que estarão voltados a ele, assim como também foi lembrado por F24 “com certeza, o trabalho multiprofissional coloca o paciente como centro do

tratamento e todas as atividades visam a melhor qualidade de vida do mesmo [...]”.

O trabalho multiprofissional é lembrado no caderno com Estratégias Para Cuidado de Pessoa com Doença Crônica (BRASIL, 2014, pg. 24), em que uma das diretrizes para a organização da Rede de Atenção à Saúde consiste na “garantia de implantação de um modelo de atenção centrado no usuário e realizado por equipes multiprofissionais”. Neste caderno ainda podemos encontrar alguns aspectos a serem seguidos para melhor controle e qualidade de vida, estabelecidos pela Associação Americana de Educadores em Diabetes, dentre os quais “é necessário que o processo educativo seja coordenado por uma equipe multiprofissional, possibilitando um olhar complexo da condição crônica”. Contudo, a questão norteadora estava voltada para a percepção dos estudantes sobre a influência das ações grupais na saúde pública, ou seja, em âmbito coletivo, pois se entende através destas falas e das referências trazidas pelo Caderno, um olhar mais voltado ao atendimento clínico individualizado, por meio do cuidado multiprofissional.

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A relevância dos grupos na Saúde Pública, também foi lembrada como importante instrumento para a organização dos serviços. As falas abaixo representam esta ideia:

“importante, por que no momento que tem esses grupos de apoio e prevenção, diminui muitas doenças evitando super lotação em hospitais”. (FA36);

“[...] se os grupos de saúde estiver como prioridade nas ESF, consegue minimizar a procura da consulta individual, desafogando filas e realizando a educação popular em saúde, assim a equipe também consegue estar mais perto dos usuários, reforçando os vínculos”. (N39);

“Com certeza sim. Podemos citar, se desde a atenção primária, os trabalhos em grupo da saúde ocorressem de forma organizada e ativa, o paciente seria visto como um todo, e talvez, por esse trabalho ser de forma tão efetiva, não precisaria ser encaminhado para os demais níveis [...]” (F54).

O que sugerem os estudantes é que muito poderia ser feito ainda em nível Primário de Atenção à Saúde, se acaso as ações com grupos de saúde fizessem parte das atividades da Atenção Básica, ou fosse dado maior “prioridade”, conforme citado por N39. Na obra de Eugênio Vilaça Mendes, que aborda o cuidado das DCNT na Atenção Primária à Saúde, sugere-se algumas estratégias de intervenção em autocuidado. Dentre as estratégias foi apresentado o Modelo da Pirâmide de Riscos. A pirâmide é dividia em 3 níveis, os quais correspondem a complexidade da condição crônica de uma população. 70 a 80% da população estaria no nível 1, pois apresentam baixo perfil de risco, com condições crônicas mais simples e controladas, “essas pessoas têm uma capacidade para se autocuidarem e constituem a grande maioria da população total portadora de condição crônica” (MENDES, 2012, pg. 158).

Neste primeiro nível, no geral, o cuidado é realizado por profissionais da ESF e dentre as principais estratégias está a educação em saúde dos usuários. Logo, as atividades com grupos de saúde estariam inseridas neste nível de atenção, pois um dos objetivos é promover educação em saúde para o autocuidado. Conforme esclarece o autor, “essa lógica de organização tem um forte impacto racionalizador na agenda dos profissionais de saúde [...] essa sobreoferta de serviços profissionais compromete e desorganiza a agenda das unidades da ESF” (MENDES, 2012, pg. 159). Sendo assim, a fala de F54 e FA36 faz sentido se pensarmos que a efetividade dos grupos poderia evitar que os usuários buscassem os demais níveis de atenção, consequentemente evitando a “superlotação de hospitais”.

Na Saúde Pública os grupos foram lembrados novamente, pela grande maioria dos estudantes, como um importante meio para promoção de saúde através

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de educação em saúde, proporcionando um autocuidado, conforme a fala de N1 “Sim, pois o individuo que participa do grupo de saúde encontra uma escuta

qualificada de sua doença, tira duvidas, aumenta seu conhecimento sobre o

assunto, está inserido na sociedade participando da ação”. O Segundo Caderno de

Educação Popular em Saúde (BRASIL, 2014, pg. 125) também reforça este aspecto empoderador que o conhecimento proporciona aos indivíduos, onde “a construção da autonomia dos sujeitos envolvidos no processo de formação que se desenvolve como ser atuante, ético, criativo, amável e protagonista de si e da sua ação na sociedade” é um dos princípios pedagógicos da Educação Popular em Saúde.

Nesta ideia sobre realizar Educação em Saúde dentro dos grupos, alguns estudantes destacam a capacidade que os indivíduos tem de multiplicar o conhecimento que adquirem, não somente para seu autocuidado, mas também para compartilhar com o outro. Nas falas abaixo é possível observar este ponto de vista.

“[...] os participantes podem se tornar multiplicadores do conhecimento, além disso podem ser desenvolvidas diversas ações de educação em saúde, onde se trabalha com a promoção e prevenção da saúde dos sujeitos, que consequentemente podem a vir há adoecer menos ou apresentar menos complicações de saúde”. (N11);

“Sim; pois tudo o que é transmitido e compreendido pelo grupo tende a ser passado para outros da população em geral, sendo o grupo o foco da ação mas também o ponto de transmissão de ideias, disseminando o conteúdo e fazendo com que haja engajamento entre os mesmos para o enfrentamento das doenças”. (N35).

A rede social já citada neste estudo, que os grupos de saúde proporcionam, possibilita essa disseminação de conhecimento através dos vínculos que são criados dentro dos grupos. Se o que for abordado dentro das atividades de educação em saúde tocar de alguma maneira o sujeito e fizer real sentido na vida dele, ele irá transferir o conhecimento para quem desejar que também tenha este cuidado, afinal, assim como aborda Garcia-Diez e Cervato-Mancuso em seu livro, uma das definições do que é educar está em

“interferir na psique das pessoas: na mente, nas emoções, em seus valores e, até mesmo, em seus desejos, por isso é imprescindível que o educador tenha consciência da intencionalidade das ações educativas que desenvolve” (GARCIA-DIEZ e CERVATO-MANCUSO, 2017, pg. 63).

Uma questão muito importante foi levantada na fala de E29, conforme citado a seguir, onde se reconhece a importância da relevância dos grupos para a Saúde Pública como um instrumento para que as pessoas consigam adquirir mais conhecimento e possa cuidar melhor de si mesmo. No entanto, o estudante levanta

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uma limitação muito recorrente nas atividades grupais, por parte de quem os desenvolve, que seria a falta de tempo e dedicação para atividades em âmbito coletivo. Contudo, conforme já reforçado neste estudo, os grupos deveriam ser priorizados e fazer parte do planejamento das equipes de saúde, devido sua relevância para a saúde coletiva.

“Sim, há relevância. Um indivíduo que se conhece, conhece suas debilidades, limitações e fragilidades, que sabe como cuidar de sua saúde, será um indivíduo forte, que impulsionará conhecimento. No entanto a demanda é imensa, e os profissionais nem sempre se habilitam e se dispõe a ser educadores em saúde. Logo isso nos leva a uma saúde frágil, cujo principal enfoque e atuação é na hospitalização”. (E29)

Há um pensamento um pouco conflituoso na fala acima. Se a “demanda é imensa”, conforme bem coloca o estudante, as ações coletivas - como os grupos de saúde, por exemplo - não poderiam então ser capazes de ampliar a comunicação entre os profissionais e a população? Fortalecendo o cuidado e acompanhamento? Esta lógica foi lembrada na fala de alguns estudantes, como na fala de N18 “com

certeza há relevância, as ações grupais abrangem bem mais que o trabalho

individual” e E46 “[...] as ações possuem maior abrangência do que quando

comparadas as individuais”.

Aqui voltamos novamente para aspectos da formação em saúde. Apesar de as diretrizes curriculares nos dizerem que ambos os cursos possuem, dentre suas habilidades, ações voltadas ao coletivo “permanece uma sensação que tais profissionais também sentem dificuldade de sair do tão almejado encontro individual terapeuta-paciente”, ou quando realizam tais ações, acabam utilizando metodologias tradicionais (palestras, por exemplo), ou “outros nem se arriscam a fazer grupos e se justificam dizendo que não têm a formação necessária” (HUMANIZASUS, 2010, pg. 106). Questionamos aqui novamente o modelo de educação que está sendo utilizado, conforme abordado anteriormente neste estudo, os quais “carecem de uma formação emancipadora, em detrimento do modelo tradicional que caracteriza o ensino” (SANTOS e SAMPAIO, 2017, pg. 278).

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo buscou investigar a compreensão dos estudantes da área da saúde sobre grupos e como vem sendo abordado e realizado atividades em âmbito grupal durante a graduação.

Dentre os resultados encontrados, destaca-se o perfil feminino dominante entre os estudantes da área da saúde, tal dado pode ser encontrado em outros estudos. Quanto à idade, a maioria dos estudantes que participaram da pesquisa é jovem. Os acadêmicos do curso de nutrição foram os que mais colaboraram com a pesquisa, sendo 39,29% das participações.

Frente aos objetivos gerais, que buscou conhecer qual é a compreensão dos futuros profissionais da área da saúde, de nível superior, em relação ao tema grupos e as práticas grupais, pode-se considerar que, apesar de muitos estudantes terem ciência desta temática, ainda não há total esclarecimento ou há até mesmo total ausência do entendimento sobre o tema. Ações com grupos de saúde são muito realizadas durante o campo de estágio e pouco abordadas em disciplinas no decorrer da graduação.

Embora a maioria dos estudantes tenha ouvido falar sobre tema em disciplinas e estágios no campo da saúde coletiva, o entendimento da importância desta temática para a saúde pública, em sua maioria, não leva em consideração como uma importante ação voltada à educação em saúde de coletividades, mas sim como um atendimento multiprofissional, tornando o atendimento clínico individualizado mais qualificado e eficiente.

Uma das limitações do estudo foi a dificuldade de adesão pelos estudantes, sendo que apenas 10,18% acadêmicos contatados retornaram a pesquisa. Como sugestão, acredita-se que além de questionário eletrônico, os estudantes devem ser lembrados/contatados verbalmente, mesmo que em um pequeno grupo de cada curso, para que seja reforçada a importância da contribuição da pesquisa para o meio acadêmico. Outra limitação também foi observada na dificuldade que alguns estudantes tiveram na compreensão de algumas questões. Sugere-se que seja realizada a aplicação de um pré-teste, a fim de que seja possível aprimorar as questões, se necessário, e evitar futuras dificuldades de interpretação por parte dos participantes da pesquisa.

Referências

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