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Conciliação e mediação Extrajudicial: possibilidade jurídica de sua realização por notários e registradores em face da Constituição Federal e da legislação em vigor

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UNIJUÍ - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

ELENI INÊZ WOICIECHOSKI MALLMANN

CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL: Possibilidade jurídica de sua realização por notários e registradores em face da Constituição Federal e da

legislação em vigor

Orientadora: MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijui(RS) 2017

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ELENI INÊZ WOICIECHOSKI MALLMANN

CONCILIAÇÃO E MEDIAÇÃO EXTRAJUDICIAL: Possibilidade jurídica de sua realização por notários e registradores em face da Constituição Federal e da

legislação em vigor

Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUI, DCJS - Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientadora: MSc. Eloisa Nair de Andrade Argerich

Ijui(RS) 2017

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Dedico este trabalho, primeiramente, а Deus, pоr ser essencial еm minha vida; aоs meus filhos, Cristiane e Jean Karlo; às minhas netas, Alice e Melissa e a Mariana (que está vindo à vida); ao meu esposo e eterno companheiro, Otilio Mallmann (”In memorian”); bem como, também, ao meu genro, Edson, e minha nora, Juliana, е toda minha família que, cоm muito carinho е apoio, nãо mediram esforços para qυе еυ chegasse аté esta etapa dе minha vida.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, especialmente aos meus filhos, Cristiane e Jean Karlo, que sempre estiveram presentes nas minhas lutas, incentivando-me para que eu tivesse persistência em continuar a superar os desafios que foram surgindo neste período de aprendizado.

À minha orientadora, MSc Eloisa Nair de Andrade Argerich, que me auxiliou com o seu conhecimento, e que me permitiu ter a enorme satisfação de conviver durante esta fase, como professora e amiga.

Ao meu genro, Edson, e minha nora, Juliana, que me apoiaram e ajudaram dentro de suas possibilidades para que eu atingisse o objetivo.

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"Pode garantir-se que um conflito foi solucionado segundo os princípios da não violência se não deixa nenhum rancor entre os inimigos e os converte em amigos".

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RESUMO

O presente trabalho de conclusão de curso visa oferecer uma base teórica e prática da realidade dos serviços notariais e de registro no Brasil. Tais serviços extrajudiciais são de fundamental importância para a sociedade e é possível implantar novas atribuições que venham a contribuir com a Justiça. Nesse sentido, necessário se faz a exposição de fundamentos jurídicos que demonstrem a viabilidade da atividade de mediação e conciliação serem desenvolvidas nas serventias extrajudiciais. Não basta ter meios abstratos para se resolver conflitos sociais ou enunciar em lei os direitos objetivos dos cidadãos, afinal, é preciso ter instrumentos e profissionais habilitados para tornar esses meios tangíveis e concretos. Neste trabalho, propõe-se um debate no que tange à possibilidade de desenvolvimento de técnicas de resolução voluntária de conflitos nas serventias de notas e de registro, como forma de dar uma alternativa potencialmente eficaz para os cidadãos resolverem seus problemas de modo rápido e efetivo, bem como ajudar a desafogar o Poder Judiciário brasileiro. Em busca do pleno acesso à justiça, conveniente avaliar cientificamente as possibilidades/impossibilidades jurídicas e as potenciais vantagens/desvantagens na utilização desses profissionais do direito, dotados de fé pública, como intermediários para formas alternativas de solução de litígios, despertando, assim, uma nova possibilidade ao cidadão de ter seus conflitos resolvidos conjuntamente com Estado, sem necessidade de sofrer as agruras do atualmente moroso sistema judiciário. Importante, pois, tentar idealizar um prognóstico sobre o possível impacto positivo em relação à uma possível redução das demandas ajuizadas no Poder Judiciário decorrente da adoção da mediação e conciliação nas serventias extrajudiciais.

Palavras-chave: Mediação. Conciliação. Notário. Registrador. Serventias extrajudiciais.

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ABSTRACT

The present work of course completion aims to provide a theoretical and practical basis for the reality of notary and registration services in Brazil. Such out-of-court services are of fundamental importance to society and it is possible to establish new responsibilities that will contribute to justice. In this sense, it is necessary to expose legal foundations that demonstrate the viability of the mediation and conciliation activity to be developed in extrajudicial services. It is not enough to have abstract means to solve social conflicts or enunciate in law the objective rights of citizens, after all, it is necessary to have instruments and professionals qualified to make these means tangible and concrete. In this work, a debate is proposed regarding the possibility of developing techniques for voluntary resolution of conflicts in the services of notes and registration, as a way of providing a potentially effective alternative for citizens to solve their problems quickly and effectively, as well as helping to unburden the Brazilian Judiciary. In the search for full access to justice, it is advisable to scientifically evaluate the legal possibilities / possibilities and the potential advantages / disadvantages in the use of these legal professionals, endowed with public faith, as intermediaries for alternative forms of dispute settlement, thus awakening a new possibility of having their conflicts resolved jointly with the State, without the need to suffer the hardships of the current moribund judicial system. It is important, therefore, to try to idealize a prognosis about the possible positive impact in relation to a possible reduction of the lawsuits filed in the Judiciary Branch resulting from the adoption of mediation and conciliation in the extrajudicial services.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 9

1 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE A ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL ... 12

1.1 Natureza jurídica dos delegatários de notas e registro ... 12

1.2 Competências materiais: as atribuições dos notários e registradores ... 17

1.2.1 Notários (ou tabeliães) ... 23

1.2.1.1 Tabelião de notas ... 23

1.2.1.2 Tabelião e oficial de registro de contratos marítimos ...,.. 24

1.2.1.3 Tabelião de protesto ... 25

1.2.2 Registradores (ou oficiais de registro) ... 27

1.2.2.1 Oficial de registro de distribuição ... 28

1.2.2.2 Oficial de registro civil das pessoas naturais ... 31

1.2.2.3 Oficial de registro civil das pessoas jurídicas ... 32

1.2.2.4 Oficial de registro de títulos e documentos ... 33

1.2.2.5 Oficial de registro de imóveis ... 33

2. OS PRINCIPIOS NOTARIAIS E REGISTRAIS E OS PRINCIPIOS DA MEDIAÇÃO E DA CONCILIAÇÃO: APLICAÇÃO DAS TÉCNICAS DE RESOLUÇÃO DE CONFLITOS EM CARTÓRIO ... 40

2.1 Alguns princípios notariais... 40

2.2 O princípio registral da legalidade (qualificação registral, legitimação registral, ou juridicidade) ... 43

2.3 Princípios comuns à atividade notarial e registral ... 44

2.4 Princípios e regras da mediação e da conciliação... 52

2.5 Conceitos e definições da mediação e da conciliação ... 57

2.6 Mediação e conciliação nos cartórios brasileiros: breve histórico e situação atual ... 61

CONCLUSÃO ... 70

REFERÊNCIAS ... 74

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INTRODUÇÃO

Uma alternativa tangível para reestruturar a forma de se promover a justiça em nosso país está em utilizarmos estruturas e instituições já consolidadas. Com tal desiderato, sustentamos a ideia de que os serviços notariais e de registro são capazes de albergar novas funções, mormente aquelas que hoje estão vinculadas aos meios alternativos de resolução de conflitos.

Até mesmo atos que, até então, era considerados privativos de decisão da magistratura, como os procedimentos de jurisdição voluntária, atualmente estão migrando para a possibilidade de serem resolvidos extrajudicialmente. Seguindo o exemplo de outros países, como Portugal e Espanha, que tiveram ótimas experiências com a chamada desjudicialização por meio de parcerias com os delegatários das atividades de notas e de registro, bem como levando-se em conta os exemplos já existentes em nosso ordenamento jurídico, como é o caso das escrituras públicas de divórcio, separação, inventário e partilha de bens, podemos seguramente predizer que a desjudicialização é uma tendência e, certamente, deve ter os notários e os registradores como opção segura e profissionais importantes para a sua aplicação.

A tendência da desjudicialização está na sua contribuição para reduzir o volume de processos judiciais e melhorar os índices de efetivo acesso à justiça, sem se descurar do princípio do acesso à Justiça, que estabelece que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”, podendo ter o Poder

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Judiciário como meio alternativo, mas não único de resolução de conflitos (art. 5º, inc. XXXV, CF).

Do mesmo modo, parece axiomático utilizar-se da estrutura das serventias de notas e de registro para promover resoluções de conflitos por meio da mediação e da conciliação. O fato de se fornecer uma nova alternativa de solução de litígios aos interessados não fere o referido princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, mas, pelo contrário, fortalece o acesso à justiça.

Em nosso entender, qualquer entidade privada ou pessoa física que, nos moldes da atual Lei 13.140/15 (Lei de Mediação e Conciliação), cumpra os pressupostos de legitimidade para exercer estes meios alternativos de soluções de conflitos poderá empregar a mediação ou a conciliação com validade jurídica. Com efeito, notários e registradores, por se enquadrarem como profissionais do direito que exercem uma função pública em caráter privado, tendo como função precípua a pacificação social, seriam essenciais para a implantação efetiva destas atividades jurídicas no Brasil.

Em tese, a desjudicialização ou ao menos a alternativa de composição de conflitos fora do âmbito do Poder Judiciário possibilitaria o próprio fortalecimento deste Poder e Função Estatal, tornando-o mais moderno, democrático, ágil e com um foco muito mais em seu papel jurisdicional e menos na administração dos interesses privados ou em causas que poderiam ser resolvidas extrajudicialmente. Os métodos alternativos de solução de conflitos são, pois, instrumentos a favor do Poder Judiciário e possibilitam a concretização e ampliação do acesso à justiça com maior celeridade, informalidade e eficácia.

Ademais, pelo lado da atividade notarial e de registro - cada vez mais imbricado como uma função essencial à justiça -, dar-se-á ferramentas para que cumpra com maior afinco as funções que lhe são inatas: a cautela de direitos e a paz social.

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Desse modo, é fundamental ter em mente a importância da conciliação e mediação extrajudicial e a compatibilidade do exercício destas formas de composição de conflitos por notários e registradores, enfatizando o trabalho realizados por estes profissionais.

Com este desiderato, dividimos este trabalho em duas partes.

No primeiro capítulo, buscou-se realizar um breve estudo das normas que regulamentam a atividade e as atribuições destes profissionais do direito. A ideia central deste capitulo inicial é apresentar a atividade de notas e registro e o profissional do direito que exerce tais funções. Dessa forma, cada uma das especialidades de notas e de registros públicos são comentadas, a fim de que o capítulo seguinte possa retomar o tema, traçando um paralelo com o assunto primordial deste trabalho.

No segundo e último capítulo foram abordados os princípios notariais e registrais e os princípios da mediação e da conciliação, traçando um panorama que corrobora com nossa tese de inter-relação entre a atividade registral e notarial e as técnicas de resolução de conflitos, demonstrando a proximidade existente entre os institutos de composição de conflitos e à atividade extrajudicial apaziguadora notarial e de registro. Por fim, traça-se o histórico da mediação e conciliação nos cartórios brasileiros, abordando como o atual ordenamento jurídico trata do tema, o que nos impulsiona à conclusão referendada ao final desta monografia.

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1 CONCEITOS ESSENCIAIS SOBRE A ATIVIDADE NOTARIAL E REGISTRAL

Não se pode dar início à discussão acerca da conciliação e mediação extrajudicial realizada por notários e registradores em face do artigo 236, da Constituição da República Federativa do Brasil - CF/88, sem que antes se faça uma discussão mais pontual sobre a natureza jurídica dos serviços delegados de notas e registro, verificando-se como a doutrina e a jurisprudência pátria, os qualificam, ou seja, se é considerado um serviço público, ou mesmo se aquele que atua no exercício privado desta atividade pode ser chamado de agente público.

Pretende-se, também, abordar sobre as competências e atribuições deferidas aos agentes que exercem a atividade de notarial e registral, bem como sobre os princípios que a estruturam, para posteriormente adentrar em aspectos que dizem respeito à conciliação e à mediação extrajudicial.

1.1 Natureza jurídica dos delegatários de notas e registro

Decifrar a natureza de determinado ente jurídico é de fundamental importância para saber qual o regime jurídico que a ele se aplica. A natureza jurídica dos notários e registradores tem características peculiares, que lhe são próprias e que tornam o serviço público notarial e registral1 verdadeira figura sui generis no

ordenamento brasileiro.

Conforme estabelece a Constituição Federal de 1988, os serviços notariais e de registro são exercidos em caráter privado, por delegação do Poder Público (art.

1 Para o STF, os serviços notariais e registrais constituem-se em serviços públicos. Em sentido

oposto, todavia, já decidiu o Min. Ayres Britto: “Numa frase, então, serviços notariais e de registro são típicas atividades estatais, mas não são serviços públicos, propriamente. Inscrevem-se, isto sim, entre as atividades tidas como função pública lato sensu, a exemplo das funções de legislação, diplomacia, defesa nacional, segurança pública, trânsito, controle externo e tantos outros cometimentos que, nem por ser de exclusivo domínio estatal, passam a se confundir com serviço público” (STF, ADI 3.643, voto do Rel. Min. Ayres Britto, j. em 08/11/2006, Plenário, DJ de 16-2-2007, grifo nosso).

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236, caput, CF). Com efeito, temos uma figura híbrida, uma vez que, “embora o tabelião e o registrador sejam agentes públicos, seu exercício profissional tem caráter privado, ou seja, cabe-lhes suportar os encargos econômicos de sua atividade em face de seus fornecedores, empregados, prestadores de serviços” (CENEVIVA, 2010, p. 38). É dizer, os delegatários são um tertium genus, uma vez que seus atos gozam dos atributos dos atos do poder público, característica inerente à função pública que estão investidos; não obstante, não recebem eles quaisquer valores dos cofres públicos a título de remuneração e sua atividade é exercida por conta e risco, tal como ocorre na atividade empresarial.

Mas então, como podemos classificar estes profissionais do direito dentro da organização do Estado? Primeiramente, cabe destacar que os notários e registradores se enquadram no amplo conceito de “agentes públicos”. Como é cediço, dentro deste conceito há certas subdivisões, as quais importam para estabelecer diferentes espécies de agentes públicos, visando enquadrar estas em seus respectivos regimes jurídicos e, assim, sistematizar os regramentos específicos afetos a cada uma destas espécies.

Em proposta clássica, Celso Antonio Bandeira de Mello (2010, p. 247) classifica os agentes públicos em “a) agentes políticos; b) servidores estatais, abrangendo servidores públicos e servidores das pessoas governamentais de direito privado; e c) particulares em atuação colaboradora com o Poder Público”. Outra proposta de classificação pode ser extraída das lições de Hely Lopes Meirelles (2013, p. 77), o qual classifica os agentes públicos em cinco grandes grupos: “agentes políticos, agentes administrativos, agentes honoríficos, agentes delegados e agentes credenciados”.

A depender da classificação adotada, a doutrina qualifica os notários e registradores como particulares em colaboração com o poder público ou como agentes delegados.2

2 A doutrina especializada classifica os particulares em colaboração com o Poder Público do seguinte

modo: a) requisitados ou convocados (p. ex., mesários, jurados, conscritos); b) voluntários, honoríficos ou sponte propria (p. ex., dirigentes de conselhos, médicos voluntários); c) concessionários e permissionários de serviço público (p. ex., empresas que firmam contratos de

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Ressalte-se, ademais, que a atividade notarial e de registro é essencialmente distinta da atividade exercida pelos poderes de Estado, de modo que o titular da serventia extrajudicial não é servidor público nem empregado público e com estes não se confunde. Como alhures referido, tais serviços possuem regime jurídico de caráter privado, sendo pública apenas a função exercida.3

Tendo uma natureza jurídica própria, que não se confunde com a dos servidores estatais, o regime jurídico aplicável aos notários e registradores é distinto, uma vez que são estes “agentes públicos particulares”. Por isso mesmo, quando estamos diante de uma norma que seja aplicável aos agentes públicos em geral, esta norma será aplicável a todos que se inserem neste conceito, inclusive notários e registradores4. De seu giro, as normas aplicáveis apenas a uma determinada

categoria de agentes públicos, como, p. ex. aos servidores públicos (também chamados de agentes administrativos), não se aplicam, como regra, aos notários e registradores, por força da diferente natureza jurídica destes. O que faz, por sua vez, com que o regime jurídico aplicável a cada um seja também distinto.5

Os notários enquadrados no art. 236, em virtude de atuarem em caráter privado, não integram sequer a estrutura do Estado. Atuam em recinto particular, contando com os serviços de pessoas que

prestação de serviço público com o Estado) e; d) delegatários de serviço público (notadamente os notários e registradores).

3 Nesse sentido: STF, ADI 1.800, Rel. p/ o ac. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 11/06/2007, Plenário,

DJ de 28/09/2007.

4 Por exemplo, improbidade administrativa (art. 2º, Lei 8.429/92), crimes funcionais (art. 327, CP), etc. 5 Por esse motivo, aliás, não se aplicam as regras da aposentadoria compulsória aos notários e

registradores. "O art. 40, § 1º, II, da Constituição do Brasil, na redação que lhe foi conferida pela EC 20/1998, está restrito aos cargos efetivos da União, dos Estados-membros, do Distrito Federal e dos Municípios – incluídas as autarquias e fundações. Os serviços de registros públicos, cartorários e notariais são exercidos em caráter privado por delegação do Poder Público – serviço público não privativo. Os notários e os registradores exercem atividade estatal, entretanto não são titulares de cargo público efetivo, tampouco ocupam cargo público. Não são servidores públicos, não lhes alcançando a compulsoriedade imposta pelo mencionado art. 40 da CF/1988 – aposentadoria compulsória aos setenta anos de idade." (STF, ADI 2.602, Rel. p/ o ac. Min. Eros Grau, j. em 24/11/2005, Plenário, DJ de 31/03/2006). No mesmo sentido: STF, AI 494.237-AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, j. em 23/11/2010, Segunda Turma, DJE de 07/12/2010; RE 478.392-AgR, Rel. Min. Cezar Peluso, j. em 14/10/2008, Segunda Turma, DJE de 21/11/2008; Rcl 5.526-AgR, Rel. Min. Ricardo Lewandowski, j. em 25/06/2008, Plenário, DJE de 15/08/2008; AI 655.378- AgR, Rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 26/02/2008, Segunda Turma, DJE de 28/03/2008; RE 556.504- ED, Rel. Min. Dias Toffoli, j. em 10/08/2010, Primeira Turma, DJE de 25/10/2010; ADI 139, RTJ 138/14; ADI 575, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. em 25/03/1999, Plenário, DJ de 25/06/1999. Vide também: A Constituição e o Supremo, 2015, p. 1.728-1.729.

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também não tem qualidade de servidor e que auferem salário em face de relação jurídica que os aproxima, regida não pela lei disciplinadora do regime jurídico único, mas pela Consolidação das Leis do Trabalho. Sim, os empregados do Cartório, do notário dele titular, tais como este, nada recebem dos cofres públicos, não passando pela cabeça de ninguém enquadrá-los, mesmo assim, como servidores e atribuir-lhes os direitos inerentes a esse status (MEIRELLES, 1989, p. 290, grifo nosso).

No mesmo sentido, são didáticas e precisas as explicações de Mello (2000, p. 197-198, grifo nosso):

Nada obstante, os sujeitos titulados pela delegação em apreço conservam a qualidade de particulares (investidos em poderes públicos) visto que a exercerão em caráter privado; donde, não recebem dos cofres públicos, não operam em próprios do Estado nem com recursos materiais por ele fornecidos. A Constituição Federal, no art. 236, não engendrou qualquer novidade na configuração da relação estatal entre notários e registradores.

Unicamente declarou-a às expressas. Segue-se que não há como ou porque extrair dele ou da lei que o regulamentou pretensas mudanças de sistemática e imaginárias transformações radicais em relação ao sistema precedente.

Aliás, a jurisprudência do STF afasta qualquer interpretação que possa equiparar notários e registradores aos servidores públicos em geral.

[...] o STF possui entendimento consolidado de que a atividade notarial e de registro é essencialmente distinta da atividade exercida pelos poderes de Estado, de modo que o titular da serventia extrajudicial não é servidor e com este não se confunde [...]. Os serviços notariais e de registro possuem regime jurídico de caráter privado, enquanto as serventias do foro judicial fazem parte do quadro único de servidores do Poder Judiciário local. São, pois, atividades essencialmente distintas que não podem, em face da Constituição, ser equiparadas ou assemelhadas (mesmo que sob o rótulo de serventias mistas) por legislação infraconstitucional, sob pena de afronta à exigência de simetria funcional ou não recepção. (STF, MS 28.440-EDAgR, voto do rel. Min. Teori Zavascki, julgamento em 19/06/2013, Plenário, DJe de 07/02/2014, grifo nosso).

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Por fim, cabe fazer o adendo de que as serventias de notas e de registro (cartórios) não têm personalidade jurídica autônoma nem se confundem com os seus titulares (delegatários). Os cartórios são, pois, unidades de serviço com natureza de organismos privados6, que não se configuram, de modo algum, como

sujeitos de direito, não detendo patrimônio, responsabilidade ou capacidade própria, nem possuindo, pois, a aptidão genérica para adquirir direitos ou contrair deveres na órbita civil.7

Nas lições de José Afonso da Silva (2007, p. 875-876, grifo nosso):

As serventias de notas e de registro público são organismos privados que prestam um serviço público, desempenham uma função pública. E não há nada de extraordinário nisso. Ao contrário, o direito positivo dos países ocidentais acolhe atualmente, com significativa generalidade, a possibilidade de que os particulares ou organizações particulares que, atuando em nome próprio e por sua conta e risco, desempenham uma função pública em substituição da Administração Pública. A diferença de outras formas de prestação de serviço público por colaborador particular é que a serventia não é pessoa jurídica – como o são, por exemplo, os concessionários de serviço público. A serventia é uma estrutura orgânica a serviço e seu titular particular, desde a Lei de 11.10.1827, tanto como qualquer empreendimento individual que mantém estrutura administrativa necessária ao exercício do empreendedor. Por isso, não é ela que contrata, não é ela que recebe e paga, não é ela que emprega pessoal, mas o seu titular; é este que aufere as rendas da atividade, e também responde por suas dívidas e sofre os eventuais prejuízos; ele é que declara e paga imposto de renda, na qualidade e rendimento de trabalhador autônomo. O Poder Público é inteiramente alheio a tudo isso. [...] Se referidas serventias são organismos particulares, seus titulares, o notário e registrador ou oficial do registro, não podem ser senão também particulares, até porque as serventias não têm personalidade própria; são, como visto, organismos por eles montados para servi-los no desempenho de suas atribuições.

6 As serventias extrajudiciais, comumente chamadas de “cartórios”, não são órgãos públicos, uma vez

que não integram a estrutura formal da Administração Pública, não são fruto de desconcentração administrativa nem são criados ou extintos por mero ato administrativo. Ao contrário, são unidades de serviço privadas cuja criação e extinção condicionam-se à necessária determinação por lei em sentido formal (princípio da reserva legal) a cargo dos Estados-membros da federação.

7 Nesse sentido: AgRg no REsp 624.975/SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, DJe 11/11/2010; AgRg

no AREsp 460.534/ES, Rel. Min. Sidnei Beneti, Terceira Turma, j. em 27/03/2014, DJe 28/04/2014; AgRg no AREsp 277.313/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. em 20/02/2014, DJe 06/03/2014; REsp 1177372/RJ, Rel. Min. Sidnei Beneti, Rel. p/ Acórdão Min. Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, j. em 28/06/2011, DJe 01/02/2012.

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Na verdade, as serventias extrajudiciais não compõem a Administração Pública, não fazem parte dela e os titulares dos serviços de notas e registro (notários, ou tabeliães, e oficiais de registro, ou registradores, nos termos do art. 3º da LNR) atuam por delegação do Estado, todavia, em caráter privado, assumindo a condição de particulares em colaboração com o Poder Público. Com efeito, para melhor elucidar a matéria cabe compreender as atribuições materiais (competências) dos notários e registradores.

1.2 Competências materiais: as atribuições dos notários e registradores

As atribuições dos notários e registradores estão previstas na Lei 8.935/94, a lei orgânica da atividade notarial e registral (doravante denominada apenas de LNR), bem como na Lei 6.015/73 (doravante LRP), no que pertine especificamente aos registros públicos e na Lei 9.492/97 (doravante LPT), no que tange ao tabelionato de protesto. Segundo a LNR, os titulares dos serviços notariais e registrais são: a) os tabeliães de notas; b) os tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos; c) os tabeliães de protesto; d) os oficiais de registro de imóveis; e) os oficiais de registro de títulos e documentos e civis das pessoas jurídicas; f) os oficiais de registro civis das pessoas naturais e de interdições e tutelas; bem como g) os oficiais de registro de distribuição (art. 5º, LNR).

Cada delegatário atua em determinada especialidade e, portanto, detém atribuições diversas, as quais também estão expressas em lei.

Antes, porém, de estudarmos as atribuições de cada titular de serventia extrajudicial, precisamos diferenciar as figuras que compõem o bipartido feixe dos delegatários de notas e de registro: o notário, ou tabelião e o oficial de registro, ou registrador.

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Consoante o art. 3º da LNR, são eles profissionais do direito, dotados de fé pública, a quem é delegado o exercício da atividade notarial e de registro.

Primeiramente, são profissionais do direito, pois se exige deles o conhecimento teórico-científico do direito, das normas que permeiam a sua atividade, já que é de seu ofício a aplicação prática das leis e é seu dever o cumprimento dos ditames do ordenamento jurídico. Estes profissionais têm por obrigação examinar a legalidade, validade e eficácia dos atos que lhe são requeridos, que praticam e dos títulos que lhe são apresentados, obstando aqueles que porventura possuam vícios (art. 198, LRP).

Os atos emanados desses delegatários, ademais, são dotados de força probante, decorrente da fé pública que lhe são inerentes. Com efeito, os atos que praticam presumem-se verdadeiros, legais e legítimos. Em geral, presumem-se válidos e eficazes até prova em contrário (presunção iuris tantum)8.

Em resumo, o que aproxima notários e registradores e os tornam “co-delegatários” de serventias extrajudiciais é a forma como desempenham suas atividades (em caráter privado, por delegação do Poder Público) e as duas características a eles inatas, que acabamos de discorrer (profissionais do direito + fé pública). De outro lado, o que distingue notários e registradores é a atividade que desempenham, a qual, a despeito de por vezes terem alto grau de correspondência e até complementariedade (como, p. ex., quando um tabelião lavra uma escritura de compra e venda de imóvel, cujo direito nela estabelecido será objeto de registro perante o registro de imóveis), é diferente em cada uma das especialidades e,

8 Vale frisar que na seara registral, por força do Princípio da Publicidade, os atos e fatos jurídicos

registrados presumem-se de conhecimento geral, ou seja, há neles uma presunção absoluta (iure et de iure) de cognoscibilidade erga omnes do conteúdo objeto de registro. Ademais, outra exceção à regra da presunção relativa (iuris tantum) dos atos notariais e registrais é o chamado “Registro Torrens”, o qual goza de presunção absoluta de validade e efic[acia (art. 277 e ss., LRP).

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principalmente, é diferente no que tange à dicotomia notário e registrador. Conforme explica Vitor Frederico Kümpel (2013, p. 2, grifo do autor):

O notário extrai a vontade negocial das partes, reduzindo-a a termo, instrumentalizando-a e autenticando-a, para que possa valer para o futuro, e pode fazer tudo o que a lei não proíbe (princípio da autonomia privada dos usuários), enquanto o registrador, destinatário dos atos praticados pelos notários, examina a validade destes, para que possa atribuir a publicidade erga omnes e os efeitos deles esperado. E submete-se ao bloqueio de legitimação, ou seja, só faz o que a lei autoriza (princípio da legalidade).

Os notários (ou tabeliães) possuem maior independência criativa, já que tem por função a instrumentalização de atos e negócios jurídicos, ou seja, sua atividade permite a criação de instrumentos voltados a satisfazer a autonomia privada das partes que solicitam a prestação dos serviços notariais, sendo possível conceber contratos de qualquer espécie, típicos ou atípicos, em numerus apertus, desde que seu objeto não lhe seja vedado por lei.

É por isso que o notário deve conhecer os institutos jurídicos e a arte de materializar esses institutos por meio de instrumentos notariais adequados. Contudo, não significa que o tabelião tenha que se ater a modelos e fórmulas pré-constituídas, antes, pelo contrário, deve dominar o conteúdo do direito e da técnica notarial para instrumentalizar a vontade das partes de forma exata e com suas peculiaridades (BRANDELLI, 2011).

Como já nos referimos, os delegatários exercem uma atividade jurídica, na qualidade de profissionais do direito (art. 3º, LNR), objetivando fins jurídicos. No caso dos notários, a juridicidade da função notarial possui duas vertentes: a primeira é a chamada polícia jurídica notarial, que consiste no dever do tabelião de qualificar a vontade das partes, expurgando as ilicitudes porventura existentes, a fim de não dar guarida a manifestações de vontade contrárias ao direito. A segunda corrente,

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diz respeito à obrigatoriedade de o tabelião zelar pela livre e correta manifestação de vontade das partes (BRANDELLI, 2011, grifo nosso).

Em verdade, o único notário que possui a característica pura de tabelião é o tabelião de notas, como veremos adiante, quando trataremos individualmente das atribuições de cada especialidade.

De outra banda, o registrador, ou oficial de registro, rege-se, como regra geral, por atos vinculados - desprovidos de juízo de valor e margens de escolha, sendo livre, porém, na sua interpretação jurídica, em razão da sua independência funcional -, uma vez que registra fatos ou atos desde que os títulos ou documentos que lhe sejam apresentados tomem determinada forma e preencham conteúdo previamente estabelecido em lei. É dizer, há uma restrição criativa do registrador, não necessariamente no que tange à forma de materialização dos atos registrais, mas notadamente no que toca à chamada qualificação registral.

A qualificação registral consiste na análise do título, documento e/ou declarações apresentadas a registro para verificar se é possível ou não o ato pretendido pelo interessado. É, no dizer de Ricardo Henry Marques Dip (2005, p. 168), um “juízo prudencial, positivo ou negativo, da potência de um título em ordem à sua inscrição, importando no império de seu registro ou na sua irregistração”.

Desse modo, estando em termos o título ou documento apresentado, ou seguindo as prescrições legais a declaração a ser inscrita, o registrador não terá outra opção a não ser promover o registro do ato ou fato. De outro lado, não estando em termos ou não preenchendo os requisitos legais, caberá ao registrador negar motivadamente o registro.9

9 Importante ressaltar que, com o advento da Lei Federal nº 13.105/15 (novo Código de Processo

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Assim, p. ex., comparecendo o adquirente de um bem imóvel numa serventia predial com um contrato particular, reconhecido firmas, cujo objeto seja o comodato desse bem, em princípio, não poderá o registrador promover a inscrição deste direito pessoal no fólio real, uma vez que não há previsão legal de seu registro. Do mesmo modo, como regra, não é possível que se faça o registro de nascimento de uma criança sem que seja apresentada a declaração médica de seu nascimento (Declaração de Nascido Vivo - DNV), mesmo que o requerente tenha comparecido com várias testemunhas do parto.

É dizer, os atos dos registradores são, regra geral, atos estritamente vinculados (isto é, estão sob o jugo do princípio da legalidade estrita). Nesse sentido, é dever dos oficiais de registro, como profissionais do direito, identificar as normas aplicáveis, mediante a extração de uma interpretação válida, sempre imbuído de independência para o exercício funcional. O que implica possibilitar que diferentes interpretações sejam dadas, desde que o produto da interpretação (a norma) decorra de um entendimento jurídico exarado pelo registrador e por ele devidamente fundamentado.

Ou seja, o registrador, a despeito de ter seus atos vinculados à estrita legalidade, não pode ser penalizado (na seara administrativa, cível ou penal) por uma interpretação que tenha dado à legislação, desde que não tenha agido de má-fé (dolo) ou incorrido em imperícia, negligência ou imprudência (culpa), face gozar de independência funcional e agir no estrito cumprimento de seu dever legal.

Os notários, por sua vez, gozam de uma maior independência interpretativa, já que criam negócios jurídicos até então não existentes (e não os inscrevem em

processada no registro de imóveis, cuja atribuição do oficial de registro é muito parecida com a atividade do juiz, com análise de provas e juízo de valor para deferir ou indeferir a prescrição aquisitiva, devendo decidir de acordo com o seu convencimento, sempre de modo fundamentado.

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uma base registral), sendo que oficiam no campo contratual e declarativo, donde há uma gama meramente exemplificativa de direitos (numerus apertus). Por exemplo, nada impede que o notário lavre uma escritura pública cujo objeto seja um contrato de time sharing de um imóvel, ainda que a legislação brasileira não tenha regulamentado tal contrato, sendo ele, portanto, um contrato atípico, porem, plenamente válido e eficaz na ordem jurídica.

Não obstante, para que as escrituras públicas, atas notariais e outros atos jurídicos emanados dos tabelionatos produzam seus efeitos o tabelião tem de observar a forma e os requisitos prescritos em lei (art. 108 e 215 do CC, Lei 7.433/85, Decreto9.380/86, normas administrativas etc.).

Desse modo, é forçoso convir que há uma independência mitigada quanto à forma de elaboração dos atos, que seguem ritos específicos a fim de produzirem seus efeitos (requisito ad solemnitatem, aplicando-se aqui o princípio da legalidade estrita) e há uma menor restrição de conteúdo para os atos contratuais e declarativos notariais, os quais somente não terão validade e eficácia quando materializarem escopos vedados em lei (princípio da autonomia privada).

Delineada a diferença entre notários e registradores, é possível discorrer detalhadamente sobre cada uma das especialidades, no que tange às atribuições exercidas pelas serventias.

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1.2.1. Notários (ou tabeliães)

Consoante estabelece o art. 6º da LNR, aos notários (ou tabeliães) compete: “I – formalizar juridicamente a vontade das partes; II – intervir nos atos e negócios jurídicos a que as partes devam ou queiram dar forma legal ou autenticidade, autorizando a redação ou redigindo instrumentos adequados, conservando os originais e expedindo cópias fidedignas de seu conteúdo; III – autenticar fatos”.

O aludido dispositivo legal preceitua uma competência geral dos notários, na intenção legislativa de abarcar as três especialidades de atividades tabelioas (tabelionato de notas, de contratos marítimos e de protestos).

1.2.1.1. Tabelião de notas

De modo mais específico, o art. 7º da LNR descreve as competências específicas dos tabeliães de notas, que são as seguintes: “I – lavrar escrituras e procurações públicas; II – lavrar testamentos públicos e aprovar os cerrados; III - lavrar as atas notariais; IV – reconhecer firmas; V – autenticar cópias”. O tabelião de notas (que é o tabelião que dá nome à denominação “notário”) é aquele que possui atribuições mais genéricas, cuja competência está na produção contratual, na percepção de fatos jurídicos, na lavratura de atos de última vontade e na certificação da autenticidade de assinaturas e cópias de documentos.

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No que interessa explanar, o tabelião de notas tem, por excelência, a atribuição de formalizar a vontade das partes que requerem seus serviços em um instrumento contratual, seja um contrato de compra e venda, de doação, de alienação fiduciária, de mandato, etc., conferindo fé pública aos seus atos. É seu dever de ofício promover o aconselhamento e assessorar juridicamente as partes que solicitam a sua intervenção, buscando sempre uma solução jurídica às situações apresentadas, o que deve fazer de forma técnica e fundamentada, tomando o cuidado para que as partes, mesmo leigas, compreendam e se cientifiquem do melhor modo de instrumentalização de suas vontades.

Ao tabelião de notas, portanto, cabe encontrar meios contratuais possíveis e consentâneos com o direito para formalizar as relações contratuais e declaratórias, de modo que atenda ao interesse das partes.

1.2.1.2. Tabelião e oficial de registro de contratos marítimos

De outra banda, aos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos compete “I – lavrar os atos, contratos e instrumentos relativos a transações de embarcações a que as partes devam ou queiram dar forma legal de escritura pública; II – registrar os documentos da mesma natureza; III – reconhecer firmas em documentos destinados a fins de direito marítimo; IV – expedir traslados e certidões”.

Esses delegatários guardam a peculiaridades de terem a dúplice função: notarial e registral. A eles é dado o ofício de lavrarem instrumentos contratuais e de também registrá-los.

São tabeliães de atribuições específicas, destinadas a contratos e transações de cunho marítimo. Ou seja, as atribuições dos tabeliães e oficiais de registro de contratos marítimos, diferentemente daquela exercida pelos tabeliães de notas (que

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é mais genérica), destinam-se a um contrato que envolve um objeto específico: transações de embarcações.10- 11

1.2.1.3 Tabelião de protesto

Os tabeliães de protesto têm suas atribuições especificadas em dois diplomas: na LNR e na Lei 9.492/97 (a chamada Lei de Protesto de Títulos, doravante LPT), esta última que regulamenta os serviços concernentes ao protesto de títulos e documentos de dívida.

Consoante as citadas legislações, aos tabeliães de protesto compete privativamente I – protocolar de imediato os documentos de dívida, para prova do descumprimento da obrigação; II – intimar os devedores dos títulos para aceitá-los, devolvê-los ou pagá-los, sob pena de protesto; III – receber o pagamentos dos

10 Segundo Kümpel (2014), existem no Brasil apenas quatro serventias extrajudiciais de contratos

marítimos: Rio de Janeiro (capital do Estado do Rio de Janeiro), Belém (capital do Estado do Pará), Manaus (capital do Estado do Amazonas) e em um município, não capital de estado, chamado Caucaia (localizado no Estado do Ceará). O autor afirma, ademais, ser difícil de entender a não existência da referida serventia em Santos (Estado de São Paulo), a não ser conjecturando que, na época em que a referida legislação iniciou sua vigência, o Estado de São Paulo era bem provincial em relação a alguns dos já mencionados. Outra questão a ser respondida seria o porquê da criação de apenas quatro serventias de contratos marítimos, lembrando que a costa brasileira tem 9.198 km de litoral.

11 O primeiro diploma legal a tratar do assunto de registro de embarcações foi o Decreto 15.778, de 8

de novembro de 1922, o qual acabou sendo revogado recentemente pelo Decreto 11, de 1991, o qual, mesmo disciplinando assunto totalmente estranho à matéria, revogou expressamente o decreto imperial mencionado. O outro decreto fundamental sobre o tema é o Decreto 15.809, também datado de 8 de novembro de 1922, que disciplina os Ofícios de Registro de Contratos Marítimos, sua competência, estrutura e livros, e que da mesma forma foi revogado pelo Decreto 11, de 1991. Outros decretos se seguiram, entre os quais o Decreto 5.372-B, de 1927, e o Decreto 18.399, de 1928, ainda em vigor. Por incrível que possa parecer, o Decreto 22.826, de 1933, incorporou seu texto ao Decreto 18.399 e ao Decreto 5.372-B, de forma que mesmo revogados expressamente continuam a incidir em outro diploma, mostrando a colossal confusão que existe nessa seara. Por fim, cabe mencionar a Lei 9.764, de 1988 (Dispõe sobre o registro da Propriedade Marítima e dá outras providências), que não alterou os ofícios de registro mencionados, porém autorizou qualquer tabelionato de notas do país, nas localidades em que não haja o tabelionato privativo, a lavrar a escritura dos contratos marítimos (KÜMPEL, 2014). Atualmente, diante da alteração legislativa promovida pela Lei 9.774, de 1998, as escrituras públicas que tiverem por objeto atos relativos a promessas de compra e venda, cessões, compra e venda e outra qualquer modalidade de transferência de propriedade de embarcação sujeitas a registro podem ser lavradas em qualquer tabelionato de notas do país, independentemente de haver ou não na comarca ofício privativo de contratos marítimos. Ou seja, a atribuição de formulação de contratos marítimos pelos tabelionatos de notas que era residual, passou a ser concorrente.

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títulos protocolizados, dando quitações; IV – lavrar e registrar o protesto; V – acatar o pedido de desistência do protesto formulado pelo apresentante; VI – averbar o cancelamento do protestou ou qualquer outras alterações necessárias para atualização dos registros efetuados; VII – expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e prestar informações relativas a todos os atos praticados (art. 11 da LNR e art. 3º da LPT).

O tabelião de protesto atua na tutela dos interesses públicos e privados (art. 3º da LPT), tendo sua atividade diversas funções. A visão clássica do instituto do protesto já apontava que a atividade protestual possui diversas funções, especialmente uma função probatória ou testificante (criando prova revestida de fé pública da inadimplência ou descumprimento de uma obrigação, criando presunção de inidoneidade do devedor); uma função conservatória (conservando direitos de regresso contra sacado, endossantes e avalistas – art. 53 da LUG e art. 32 do Decreto 2.044, de 1908); e uma função informativa (permitindo que qualquer pessoa tenha conhecimento da potencial idoneidade econômico-financeira de outra). Além disso, é forçoso convir que o protesto também possui outras funções importantíssimas: a função executória (para aqueles casos de protesto necessário, em que o protesto seja conditio sine qua non para a execução judicial de uma dívida); a função moratória (uma vez que, salvo regra especial em contrário ou prazo previamente assinalado, o protesto tem o condão de fixar o termo inicial da incidência de juros, taxas e correção monetária – art. 40 da LPT) e a função interruptiva da prescrição (sendo meio legal para promover a interrupção da contagem do prazo prescricional da pretensão – art. 202 do Código Civil).

Numa visão mais moderna deste ofício, reconhece-se o tabelionato de protesto como um instrumento de pacificação social, uma vez que desenvolve uma função pacificadora ou de profilaxia jurídica (sendo uma forma segura, efetiva e rápida de composição e prevenção de litígios, sem passar por manobras protelatórias ou que gerem insegurança jurídica aos bons pagadores), uma função coativa e recuperatória do crédito (como meio relevante de possibilitar a adimplência e evitar que alguém deixe de ter crédito para suas futuras relações negociais) e, por

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fim, uma função extrajudicante (isto é, de descarrego do Poder Judiciário, com a redução de demandas face a prevenção de litígios que proporciona).

A despeito de a nomenclatura utilizada para designar este delegatário ser apenas de “tabelião”, julgamos que o mais correto seria que ele fosse considerado um “tabelião e oficial de registro de protesto”, uma vez que não apenas lavra o instrumento de protesto, como também o registra em livro próprio. No dizer de Sérgio Luiz José Bueno (2013), o protesto é, pois, ato misto (notarial e registral). Do ponto de vista material (mecânico), seria possível dizer que o protesto não e primeiro lavrado para depois ser registrado. Esses atos são concomitantes: ao mesmo tempo em que lavra, o tabelião registra o protesto.12

Delineadas as atribuições dos notários, passemos a discorrer sobre as atribuições dos registradores.

1.2.2. Registradores (ou oficiais de registros)

As atribuições e disciplina de trabalho dos registradores estão amplamente regulamentadas na LRP. A aludida legislação estabelece as atribuições dos oficiais de registro de pessoas naturais, pessoas jurídicas, títulos e documentos e de imóveis. As atribuições do oficial de registro de distribuição estão previstas na LNR. Comecemos por este último.

12 Essa simples análise material ou física da questão nos levaria, sem maiores problemas, a afirmar

que lavratura e registro são atos simultâneos, como anteriormente fizemos. No entanto, sob o aspecto formal, se aceita a simultaneidade sem ressalvas, teríamos como possível um protesto meio registrado. Imaginemos que determinado tabelião começou a lavrar o protesto e por qualquer razão não concluiu o ato. Por certo, não concluída a lavratura, não teríamos um protesto lavrado, mas poderíamos ter um protesto parcialmente registrado. dessa forma, é oportuna a distinção entre os aspectos material e formal da lavratura e do registro. Materialmente há simultaneidade, mas formalmente (e esse é o aspecto jurídico a ser considerado) são atos sucessivos (BUENO, 2013, p. 41).

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1.2.2.1. Oficial de registro de distribuição

Conforme enuncia o art. 13 da LNR, aos oficiais de registro de distribuição compete privativamente: “I – quando previamente exigida, proceder a distribuição equitativa pelos serviços da mesma natureza, registrando os atos praticados; em caso contrário, registrar as comunicações recebias dos órgãos e serviços competentes; II – efetuar as averbações e os cancelamentos de sua competência; III – expedir certidões de atos e documentos que constem de seus registros e papéis”.

Pela letra da lei, somente é exigida a prévia distribuição de títulos ou documentos para os tabeliães de protesto, quando existentes mais de um tabelião com competência territorial sobre a mesma circunscrição.

A LPT, mais recente, porém, disciplina de modo diferenciado a atividade de distribuição, estabelecendo que “onde houver mais de 1 (um) Tabelionato de Protesto de Títulos, a distribuição será feita por um serviço instalado e mantido pelos próprios tabelionatos, salvo se já existir ofício distribuidor organizado antes da promulgação desta Lei”. É dizer, a figura do oficial de registro de distribuição só existirá enquanto não houver vacância da delegação referente à serventia distribuidora, sendo que, posteriormente, caberá aos tabeliães de mesma circunscrição territorial a organização de um serviço de distribuição desenvolvido por esforço comum, sustentado por conta e risco de todos os delegatários envolvidos.

Uma importante consideração é preciso ser feita nesta sessão: a despeito de a legislação federal prever apenas serviços de distribuição de títulos e outros documentos de dívida destinados aos Tabelionatos de Protesto, alguns Estados normatizaram e regulamentaram serviços distribuidores para outras especialidades. Em São Paulo, por exemplo, a capital paulista possui um serviço de distribuição facultativo destinado aos instrumentos a serem inscritos nos Registros de Títulos e Documentos: o CDT – Centro de Distribuição de Títulos e Documentos de São Paulo é uma central que reúne os 10 Ofícios de Registro de Títulos e Documentos da cidade de São Paulo, desenvolvido a partir do Provimento 29 da Corregedoria Geral

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da Justiça paulista e em funcionamento desde 02/01/2002. O CDT tornou-se um instrumento de parceria em gestão eficiente, já sendo reconhecido carinhosamente como o "Poupa Tempo dos cartórios” (alusão ao programa paulista de mesmo nome que reúne vários órgãos, entidades e empresas prestadoras de serviços públicos num único local para atendimento da população).

No Rio Grande do Sul, a Lei Estadual 11.383/99 prescreve igualmente sobre a criação de uma central de distribuição de atos da competência dos cartórios de Registro de Títulos e Documentos na capital do Estado, tendo sido criada, a exemplo do serviço de distribuição bandeirante, o CDT POA – Centro de Distribuição de Títulos e Documentos de Porto Alegre.

No Paraná, por sua vez, o Provimento 249/13 da Corregedoria-Geral de Justiça, que instituiu o Código de Normas do Foro Extrajudicial, foi ainda mais longe, criando além dos serviços de distribuição dos Tabelionatos de Protesto e dos serviços de distribuição dos Registros de Títulos e Documentos, os centros distribuidores dos cartórios de Registro Civil das Pessoas Jurídicas. Além disso, criou um sistema de “registro” de alguns atos do Tabelionato de Notas.

Malgrado salutar e até mesmo importante para a promoção da eficiência e simplificação dos atos procedimentais nas atividades de notas e de registro, em nosso ver, a criação de serviços de distribuição de atos notariais e/ou registrais devem seguir determinados requisitos para que possam ser legitimados e ter uma importância prática para a população.

Com efeito, é preciso considerar o seguinte: a) os serviços de distribuição de documentos para o Tabelionato de Protesto são obrigatórios, sempre que houver mais de um tabelionato atuando em uma mesma base territorial, ex vi da previsão expressa do art. 7º da LPT c/c art. 11, parágrafo único, da LNR; sendo que, ao contrário, os serviços de distribuição referentes a outras serventias (RTD e RCPJ) somente podem ser criados se forem facultativos, ou seja, o usuário deve ter o direito de optar entre distribuir o documento na central de distribuição ou entrega-lo diretamente para recepção em qualquer das serventias da comarca ou circunscrição

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territorial, uma vez que, neste segundo caso, a obrigatoriedade de distribuição restringiria o direito dos cidadãos, o que somente pode ser feito mediante lei em sentido formal, sob pena de violação ao princípio da reserva legal (art. 5º, inc. I, da CRFB/88); b) não se pode criar um serviço de distribuição para os atos do tabelionato de notas, do registro civil das pessoas naturais ou do registro de imóveis, respectivamente porque o primeiro é de livre escolha pelo interessado por expressa previsão legal (art. 8º da LNR) e a atuação do notário se dá mediante a imediação e audiência das partes, motivo pelo qual a distribuição de atos notariais desvirtuaria sua qualidade de assessor e conselheiro; sendo que nos dois últimos casos a impossibilidade de distribuição adviria da própria natureza e competência territorial das serventias, que possuem, de modo geral, uma competência territorial estática, baseada em dados objetivamente identificáveis (local de nascimento, domicílio, etc. no RCPN ou base territorial imobiliária no RI). Ademais, por tratar o RCPN de atos essenciais ao exercício da cidadania é evidente que não lhe é compatível a distribuição, a qual poderia atrasar a realização de registros de nascimento ou de óbito, por exemplo. Sem falar, diga-se ainda, que o RCPN é receptor de declarações (e não apenas documentos), e exigir um serviço intermediário para este papel não nos parece salutar; c) os serviços de distribuição devem ser instalados e mantidos pelas próprias unidades de serviço cartorário a que se destinam os atos distribuídos, evitando-se a criação de novas delegações para “oficiais de registro de distribuição”, a fim de não causar quaisquer ônus aos usuários e proporcionar uma administração gerencial compartilhada entre os delegatários, de acordo com parágrafo único do art. 7º da LPT; e, por derradeiro, d) quaisquer atos, prévios ou posteriores ao ato de lavratura ou registro, não necessários para a validade e eficácia do ato ou fato jurídico realizado pelo delegatário, tampouco agregadores de segurança jurídica (tais como informações para “registros” posteriores para ofício distribuidores de escrituras ou testamentos, como exige o Código de Normas do Paraná, por exemplo), não devem ser exigidos dos notários ou registradores, sob pena de se admitir a criação de uma burocracia desnecessária e de um serviço inútil, vide não possuir qualquer eficácia prática.

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1.2.2.2 Oficial de registro civil das pessoas naturais

Por seu turno, o oficial de registro civil das pessoas naturais tem por desiderato organizar, manter e gestar um repositório dos fatos e atos da vida civil das pessoas, tendo como atribuições registrar nascimentos, casamentos, óbitos, emancipações, interdições, ausências, opções de nacionalidade, bem como uniões estáveis. Além disso, devem averbar quaisquer alterações de conteúdo ou de efeitos dos respectivos registros (art. 29 da LRP e art. 9º do CC).

Com efeito, o registro civil das pessoas naturais é um instrumento de segurança jurídica nas relações entre as pessoas e possibilita o exercício da vida civil das pessoas sob uma dimensão de cidadania e Direitos Humanos (sendo essencial para o exercício da cidadania, dotando as pessoas - no dizer do Min. Nelson Jobin, em seu voto na ADI 1.800 - do “documento-mãe” de todos os outros, que é a certidão de nascimento, além da gratuidade de grande parte de tais atos), uma dimensão social (gerando informações aos mais diversos órgãos públicos, para fim de organização estatal, seja no campo de gestão, tributário, estatístico ou geopolítico) e uma dimensão de individualização da pessoa natural (donde se dá cognoscibilidade de dados como o nome, domicílio e estado da pessoa natural, seja este último estado político – cidadania, nacionalidade e naturalidade -, estado individual – idade, sexo e capacidade - ou estado familiar – parentesco, filiação e situação conjugal ou convivencial) (CAMARGO NETO; OLIVEIRA, 2014).

A Lei Federal nº 13.484/17, que alterou a LRP, reconhece expressamente a qualidade de “ofícios da cidadania” aos registros civis das pessoas naturais, outorgando novas competências que já lhe são de sua seara. A partir desta lei, possibilita-se que diversos serviços públicos possam ser prestados de maneira capilarizada e eficiente como, por exemplo, o cadastro no CPF, emissão de carteira de identidade, de passaporte, de carteira de trabalho e previdência social (CTPS), etc. Veja-se o teor do atual art. 29, §§ 3º e 4º, da LRP:

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§ 3º. Os ofícios do registro civil das pessoas naturais são considerados ofícios da cidadania e estão autorizados a prestar outros serviços remunerados, na forma prevista em convênio, em credenciamento ou em matrícula com órgãos públicos e entidades interessadas.

§ 4º. O convênio referido no § 3º deste artigo independe de homologação e será firmado pela entidade de classe dos registradores civis de pessoas naturais de mesma abrangência territorial do órgão ou da entidade interessada (grifo nosso).

Os registros civis das pessoas naturais são reconhecidamente hoje, inclusive, ofícios extrajudiciais que têm por finalidade primordial garantir determinados direitos básicos aos cidadãos, como o reconhecimento formal de certos direitos da personalidade (como o direito ao nome, à prova de existência e de estado, etc.). Ademais, a atual conjuntura legislativa vem ampliar tais serviços, possibilitando que uma grande gama de atos necessários para o exercício da cidadania sejam realizados nestes cartórios.

1.2.2.3 Oficial de registro civil das pessoas jurídicas

De outro giro, o oficial de registro civil das pessoas jurídicas tem como atribuições promover o registro I - dos contratos, estatutos, compromissos ou outros atos constitutivos das sociedades de natureza jurídica simples (não empresariais), das associações, das fundações, das organizações religiosas e dos partidos políticos; bem como a matrícula II – dos jornais e demais publicações periódicas, das oficinas impressoras, das empresas de radiodifusão, e das empresas de agência de notícias (arts. 114 e 122 da LRP).

Trata-se de um registro de pessoas jurídicas que não se confunde com o registro mercantil das juntas comerciais, uma vez que esta tem competência de registrar sociedades de natureza jurídica empresarial, enquanto aquela as sociedades simples. As demais pessoas jurídicas também são registradas no cartório de registro civil das pessoas jurídicas, exceto a EIRELI de natureza empresarial.

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1.2.2.4 Oficial de registro de títulos e documentos

O oficial de registro de títulos e documentos é aquele que possui atribuições mais genéricas de registro de títulos e documentos designados em lei, referentes a direitos pessoais e/ou direitos reais mobiliários, bem como possui a atribuição residual quanto à realização de quaisquer registros não atribuídos expressamente a outro ofício (art. 127 da LRP).

O RTD apresenta particularidades quando comparado com a teoria geral de registros públicos (especialmente em relação à taxatividade), sendo que há: a) aplicação relativa da taxatividade, em função do rol aberto dos atos de registro de competência material do RTD (art. 127, inc. I e VII e seu parágrafo único, da LRP); b) permite a modulação de efeitos do registro por iniciativa da parte, ou seja, um registro com eficácia restrita, apenas para fins de conservação do conteúdo (art. 127, inc. VII c/c art. 148 da LRP); c) exerce função suplementar no sistema nacional de registros públicos, isto é, o RTD registra os demais atos não relacionados à competência material dos demais registros (art. 127, parágrafo único, da LRP) (CÂNDIDO DA SILVA, 2012).

1.2.2.5 Oficial de registro de imóveis

Por fim, o oficial de registro de imóveis possui competência para o registro lato sensu de direitos reais e até mesmo alguns direitos pessoais com eficácia real no que tange a bens imóveis. De acordo com expressa disposição do art. 172 da LRP, no Registro de Imóveis serão feitos o registro e a averbação dos títulos ou atos constitutivos, declaratórios, translativos e extintivos de direitos reais sobre imóveis reconhecidos em lei, inter vivos ou mortis causa, quer para sua constituição, transferência e extinção, quer para sua validade em relação a terceiros, quer para a sua disponibilidade.

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O RI corresponde a uma serventia especializada, legalmente criada e sob as ordens do oficial de registro autorizado pelo Estado a exercer, em dada circunscrição territorial privativa, a função e registro público e todas as operações relativas a bens imóveis e a direitos a eles condizentes, promovendo atos de escrituração que assegurem aos adquirentes a aquisição e o livre exercício do direito de propriedade, bem como a instituição de ônus ou direitos reais de fruição, garantia ou de aquisição. Ademais, por revestir-se de publicidade, que lhe é inerente, torna os dados registrados conhecidos de terceiros (criando um “sujeito passivo universal”) e fornece meios probatórios da situação do imóvel, testificados com fé pública (DINIZ, 2012).

O principal benefício da existência de um registro imobiliário nos moldes brasileiros é a segurança jurídica13 por ele proporcionada. A serventia imobiliária em

nosso país serve não só como repositório de dados imobiliários como um sistema de certificação e acautelamento da propriedade e de outros direitos de alguém sobre um bem imobiliário, resguardando tais direitos face a abusos de quaisquer terceiros.14

Conforme mais completa classificação extraída da doutrina registrária, sob o ponto de vista dos efeitos15 que o registro produz, temos como principais sistemas

registrais imobiliários os seguintes: a) sistemas de registro de documentos ou sistemas declarativos, subdivididos em dois subsistemas: a.1) sistema de inoponibilidade ou sistema consensualista (França, Itália, Portugal, etc.) e a.2) sistema publicitário (EUA); de outro lado, b) sistemas de registro de direitos ou

13 Conforme explica Márcio Guerra Serra e Monete Hipólito Serra (2013, p. 16), “qualquer sistema de

registro, seja imobiliário, de empresas, ou e qualquer outra natureza, tem, como fim último, conferir segurança jurídica ao setor que tutela. No caso do registro de imóveis brasileiro, a segurança que se busca é a estática, ou seja, a do titular dos direitos referentes a determinado imóvel, sendo atribuição o tabelião a tutela da segurança jurídica dinâmica (do adquirente).

14 Ricardo Henry Marques Dip (2004, p. 58) bem sentenciou, ao afirmar que o Oficial de Registro

Imobiliário “actuando como guardián jurídico e la propiedad privada y, así, como garante mediato de las libertades concretas del puebli – inclusive frente al Estado – ejerce uma función social essencialmente ordenada a la seguridade jurídica”.

15 “Esta é a classificação [classificação quanto aos efeitos] relacionada ao valor jurídico da

publicidade gerada pelos assentos que se praticam no Registro de Imóveis. Assim, o sistema registral, de acordo com esta classificação, pode desde simplesmente dar publicidade do direito imobiliário inscrito até servir como base para o próprio surgimento deste” (SERRA; SERRA, 2013, p. 75, grifo nosso).

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sistemas constitutivos, os quais, por sua vez, se dividem em: b.1) sistema de inatacabilidade, sistema de inscrição constitutiva absoluta ou sistema Torrens (Austrália); e b) sistema de presunção absoluta, ou sistema de inscrição constitutiva absoluta, ou sistema de fé pública (Alemanha); e, por fim, uma sistema misto (constitutivo e declarativo), também chamado de sistema de presunção relativa, ou sistema de inscrição constitutiva relativa, ou, ainda, sistema de legitimação registral (Brasil).

Os sistemas meramente declarativos são aqueles em que os direitos reais constituem-se pela contratação entre as partes, sendo prescindível o registro (basta o modus).

O sistema consensualista (a.1) é aquele que gera uma presunção simples (omnis) de veracidade, é causal, não possui qualquer efeito saneador, tendo uma natureza derivada (o registro se vincula ao registro anterior) e se registra documentos (não se verificando o conteúdo).

O sistema publicitário (a.2) possui as mesmas características, diferenciando-se que, pelo diferenciando-seu registro não diferenciando-se cria um efeito erga omnes de defesa do direito de propriedade contra terceiros. É o sistema norte-americano, motivo pelo qual é comum nos EUA a contratação de seguros junto a empresas que têm informações da cadeia dominial, o que acaba por encarecer bastante a aquisição e manutenção da propriedade privada, uma vez que há pouca segurança jurídica registral neste sistema. Nesse sistema, portanto, há pouca burocracia para a aquisição da propriedade imobiliária, porém, a segurança jurídica acaba por ser bastante reduzida.

De outra banda, os sistemas constitutivos são aqueles em que a inscrição imobiliária é condição constitutiva de direitos reais, exigindo-se o instrumento contratual e o registro (corpus + modus).

O sistema Torrens (b.1) é aquele que exige um procedimento especial para o registro, impingindo grande segurança jurídica quanto ao direito registrado e

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