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Relatos e acontecimentos na itinerância de formação em pedagogia

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CURSO DE PEDAGOGIA

RELATOS E

ACONTECIMENTOS

NA ITINERÂNCIA DE

FORMAÇÃO EM

PEDAGOGIA

ARILMA BISPO DOS SANTOS

SALVADOR – BAHIA 2008

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RELATOS E ACONTECIMENTOS NA ITINERÂNCIA DE FORMAÇÃO EM

PEDAGOGIA

Monografia apresentada ao Colegiado de Pedagogia da Faculdade de Educação – Universidade Federal da Bahia, como requisito para conclusão do Curso de Pedagogia.

Orientadora: Profª Drª Maria Roseli G. B. de Sá

Salvador – Bahia 2008

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RELATOS E ACONTECIMENTOS NA ITINERÂNCIA DE FORMAÇÃO EM

PEDAGOGIA

Banca examinadora:

Marcea Andrade Sales

Mestra e Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, Brasil. Universidade do Estado da Bahia, Faculdade de Educação.

Maria Roseli Gomes Brito de Sá (Orientadora)

Doutora pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, Brasil. Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação.

Maria Inez da Silva de Souza Carvalho

Doutora pela Universidade Federal da Bahia, UFBA, Brasil. Universidade Federal da Bahia, Faculdade de Educação.

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A vida é composta por pessoas, umas que passam outras que ficam, mas sempre deixam algo, um sentimento ou um simples sorriso. Agora se encerra encerrada mais uma etapa de minha vida, caminho longo, cheio de desafios, alegrias, (auto)conhecimento e amizades. Por isso não posso deixar de agradecer a participação de cada uma delas na minha formação a Maria Olga, minha mãe pela garra e luta; aos meus irmãos de sangue Ivanete, Ivone, Neto (in memorian) e aos irmãos do coração pela amizade e confiança; a minha prima Núbia Cristina pelo estimulo; aos meus tios, avós e primos pela força; a Rudy Cuneo pelo convite para construirmos um caminho juntos; à família Cuneo que me ofereceu muito carinho e segurança; as professoras Iracy Picanço, Lúcia Maria da F. Rocha, Regina Antoniazzi, Lícia Beltrão, Rilmar Lopes pelo incentivo; à minha orientadora Professora Roseli Sá por me mostrar o leque de possibilidades na escrita monográfica; aos funcionários da faculdade Magali, Jorge, Sebastião, Robson, Lurdes, Vera por serem solícitos comigo, me ajudando sempre; aos meus alunos que, como espelhos, me fizeram ver e refletir sobre minha prática pedagógica e me apaixonar, ainda mais, pela minha profissão; Por fim agradeço a Deus e à natureza, que está dentro e fora de mim, pelo vazio que me fez seguir em frente nessa eterna e maravilhosa busca por respostas e a todos que direta ou indiretamente me fizeram ser a pessoa que sou.

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Este trabalho apresenta minha itinerância de formação por meio do relato de experiências e acontecimentos vividos na construção de um percurso tanto no âmbito familiar como no escolar, onde começam as primeiras aprendizagens do ser humano e sua interação com o outro. Percorre também pelo exercício acadêmico, dialogando com a formação no ensino superior, com destaque para conhecimentos construídos em diferentes disciplinas, com suas diferentes metodologias, evidenciando a proposta curricular do curso de Pedagogia como um terreno fértil de possibilidades, pois comporta relações complexas que envolvem referências múltiplas, fazendo-me, à medida que fui vivendo e me relacionando com o currículo, experienciar situações únicas, levando-me a crescer e desabrochar em mim e para o mundo.

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O difícil começo de um relato ... 07 Relembrando acontecimentos vividos na construção de um percurso 10 Ensino superior: dialogando com a formação acadêmica 17 Na fogueira de um ser inacabado: chegando a uma finalização, mas não a um fim 26 Referências 29

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O difícil começo de um relato ...

Numa terra estrangeira, lutando contra o frio, a minha monografia não sai da minha cabeça. Lembro-me de tudo que disse minha orientadora em nosso primeiro encontro e como cada palavra foi importante para mim. Ela me deu, antes de sair do Brasil1, uma lista de textos

para ler, mas faz tanto frio aqui, meu Deus! Esse frio me deixa tão cansada, sonolenta... me sinto culpada por não iniciar as minhas leituras. Depois de alguns dias, como diz o poeta2, “vencendo

estrada e muro”, inicio os textos.

Começo minhas leituras pelo artigo “Palavras que inscrevem a nossa história”, cujo primeiro parágrafo traz um convite que me deixou profundamente sensibilizada: “Refletir sobre as nossas memórias é, portanto refletir sobre o nosso processo formativo [...]. Fica, então, um convite à reflexão: Que histórias nos tornaram professores?” (SALES, CAVALHO e SÁ, 2007, p. 39).

Um turbilhão de pensamentos e sentimentos me invade, meus olhos enchem de lágrimas. Fragmentos de minha memória, significados de fatos dispersos, alguns claros e outros aparentemente confusos criam sentidos que me preenchem mostrando-me quanto cada um deles contribuiu para minha formação.

Para isso preciso entender melhor o que formação venha a ser. Formação, esta palavra que ao longo da história foi e é muito questionada por possuir vários sentidos, desde místicos até puramente de forma. Na tradição mística o ser traz em sua alma a essência divina e tem que desenvolvê-la. Já no outro sentido, encontra subentendido a noção de forma, cópia, modelo pronto. A esse respeito, Sá (2005) afirma que:

Segundo Gadamer, através de Kant e Hegel completa-se o cunho dado por Herder ao conceito que temos hoje. Kant não usava a palavra formação, mas fala da ‘cultura’ da faculdade (ou da ‘aptidão natural’) que, como tal, é um ato de liberdade do sujeito atuante. Hegel, ao contrário, fala de forma-se e de formação ao acolher o mesmo pensamento kantiano do dever para consigo mesmo. Já Gadamer (1999) trabalha com um conceito de formação que não significa mais cultura, no sentido do aperfeiçoamento de faculdades e talentos. Para tanto, acrescenta outra observação atinente à ‘historia efeitual’ da formação: ‘A ascensão da palavra formação desperta, mais do que isso, a antiga tradição mística, segundo a qual traz em sua

1 Dezembro de 2007.

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alma a imagem de Deus segundo a qual foi criado, e tem de desenvolvê-la em si mesmo’. (p. 1,)

Ela continua:

O termo formação, segundo Gadamer, embora derive de forma, triunfa sobre esse último não por acaso, mas ‘Porque em ‘formação’ (Bildung) encontra-se a palavra’imagem’ (Bild). O conceito de forma fica recolhido por trás da misteriosa duplicidade, com a qual a palavra ‘imagem’ (Bild) abrange ao mesmo tempo ‘cópia’ e modelo’. (GADAMER, 1999, p. 50). Com essa conotação, a formação designa mais o resultado de um processo de deveir do que o próprio processo. (Idem)

É essa perspectiva de receita pronta e ideal que permeia as cabeças dos estudantes ante uma proposta curricular e é a que estava na minha cabeça também. Considerava que depois de cursar algumas disciplinas existentes no currículo do curso de Pedagogia, eu sairia a “super” profissional com a receita pronta para resolver todos os problemas educacionais, mas percebi que não era bem assim, que não existe um modelo ideal ou uma verdade única que seja “posta” de fora para dentro e nem uma verdade imutável dentro de nós já que o ser humano está em constante transformação. Essa idéia é criticada por diversos autores, como reforça Sá, ao colocar que desconfia “da pretensa função do currículo de assegurar percursos únicos de formação, com vistas a um perfil modelar [...]”. (2005, p. 3).

Acredito que não exista uma fórmula ideal, já que a formação é muito além do mero cultivo de aptidões pré-existentes e que o currículo deva levar em conta a formação não só como algo objetivo, mas também como algo carregado de subjetividade.

Contudo ainda não me sinto satisfeita, quero compreender mais sobre formação e começo a ler “Niestzsche e a Educação”, leitura que ajudou a me esquentar um pouco do frio! Para Niestzsche, segundo Larrosa (2005), a formação é a busca de “como ser o que é”. Assim, a formação pode ser entendida “como a idéia que subjaz ao relato do processo temporal pelo qual um indivíduo singular alcança sua própria forma, constitui sua própria identidade, configura sua particular humanidade ou, definitivamente, converte-se no que é” (LARROSA, 2005, p.52). É essa idéia de formação que me preenche, é assim que eu a percebo e a sinto.

Porém, Niestzsche coloca outro ponto que para mim é importante, que a formação só poderá acontecer quando o sujeito, ou seja, eu Arilma Bispo me colocar contra o presente, inclusive contra “o que se é”, contra o que eu sou para redimensionar as minhas possibilidades sobre as minhas verdades, para me (re)construir e me (re)significar. Logo, “A luta contra o

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presente é também, e sobretudo, uma luta contra o sujeito”. Para “chegar a ser o que se é” há de combater o que já se é. Porém o sentido dessa luta é afirmativo” (LARROSA, 2005, p.61).

Como essa luta é positiva, vou travá-la contra mim, como? Pela experiência. Experiência essa que segundo Larrosa (2001) é “aquilo que ‘nos passa’, ou que nos toca, ou que nos acontece, e ao passar nos forma e nos transforma. Somente o sujeito da experiência está, portanto, aberto a sua própria transformação” (p.5). Com isso, eu retorno ao convite: “Refletir sobre as nossas memórias é, portanto refletir sobre o nosso processo de formativo [...]. Fica, então, um convite à reflexão: Que histórias nos tornaram professores, [que experiências foram importantes para a minha itinerância de formação em Pedagogia]?” Então é isso que eu vou fazer, a partir do meu itinerário refletir sobre as experiências significativas que nele estão contidas, haja vista que trabalhar com a análise da nossa própria história de vida permite:

[...] colocar em evidência a pluralidade, a fragilidade e a mobilidade de nossas identidades ao longo da vida. A essa constatação junta-se a tomada de consciência de que a questão da identidade deve ser concebida como processo permanente de identificação e de definição de si mesmo e que se trata de uma característica de nossa existência humana [...]. No entanto, essa constatação e essa tomada de consciência não impedem que tais identidades, em constante transformação, sejam às vezes mais fortemente atingidas pelos efeitos de mudanças sociais, estruturais ou conjunturais. (JOSSO, 2007, p. 16).

Nesse sentido, eu irei refletir, analisar e dialogar com minhas histórias percebendo as influências que elas tiveram no nível familiar, profissional e social para minha formação, com o entendimento de que “A trama da formação é tecida na itinerância [...]” e “[...] tudo que ela [a formação] assimila, nela desabrocha” (SÁ, 1995).

...

De volta às terras quentes do Brasil, na minha terra, na minha história, aqui é onde tudo começou, aqui é meu chão e só aqui que eu posso começar a contar o meu itinerário de formação em Pedagogia que neste trabalho é tecido pelas minhas experiências, “relembrando acontecimentos vividos na construção de um percurso” formativo no âmbito familiar, escolar, onde começam as primeiras aprendizagens do ser humano e sua interação com o outro e no que concerne ao “ensino superior: dialogando com a formação acadêmica”, já que a proposta curricular do curso de Pedagogia é um terreno fértil de possibilidades, pois comporta relações complexas e envolve referências múltiplas, fazendo-me, à medida que fui vivendo e me relacionando com o currículo, experienciar situações únicas, levando-me a crescer e desabrochar

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em mim e para o mundo. E finalmente, “Na fogueira de um ser inacabado: chegando a uma finalização, mas não a um fim”, procuro dar uma amarração no relato, ressaltando a escrita reflexiva como possibilidade mais viável para a reconstrução de minha história formativa.

Relembrando acontecimentos vividos na construção de um percurso

Pois um acontecimento vivido é finito ou pelo menos encerrado na esfera do vivido, ao passo que o acontecimento lembrado é sem limites, porque é apenas uma chave para tudo o que veio antes e depois. Num outro sentido, é a reminiscência que prescreve, com rigor, o modo de textura.

(Walter Benjamim apud SOUZA, 2004).

Para falar de mim tenho que falar de minha mãe, é com ela que começa minha história. Mãe solteira, semi-analfabeta, com quatro filhos para criar sozinha, ela sempre lutou muito para alimentar, vestir e para que seus filhos estudassem. Um dos seus muitos empregos era em uma creche no bairro do Alto do Coqueirinho. Como eu filha caçula ainda não estudava e não tinha ninguém para ficar comigo fui matriculada na creche onde ela trabalhava. Por alguns anos, todos os dias pela manhã, acompanhei minha mãe ao trabalho, acordávamos cedo e íamos andando de Mussurunga, passando pelo Bairro da Paz até o Alto do Coqueirinho. Eu me sentia tão importante ao ir para a creche porque seu sentido era bem maior pra mim, eu ia para o trabalho com minha mãe. Foi daí que comecei a compreender a importância do trabalho no social e, principalmente, na minha vida.

Lembro-me também que foi naquela creche que a Pedagoga começou a se formar, nas rodas que as crianças faziam ao meu redor para me ouvirem contar histórias a partir das revistas de histórias em quadrinhos. Nenhum de nós sabia ler as palavras, mas eu era a eleita a ler as imagens que me davam uma imensa alegria. Aquelas crianças e eu éramos um e é esse sentimento que tenho hoje ao ministrar minhas aulas, o sentido da unidade com meus alunos.

Foi nessa época que quando minha família se reunia para falar de futuro sempre diziam: – “Arilma vai ser professora... é aqui que ela construirá sua escola!” Lembro que não falava nada, ainda não entendia o que era futuro, mas ficava entusiasmada todas as vezes que falavam sobre

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isso, pois elas transbordavam de alegria e orgulho. E é esse orgulho que foi do passado e que hoje é presente que relembro todas as vezes que digo a alguém que faço Pedagogia.

Quando fiz sete anos em 1988, fui matriculada na Escola Estadual Dirlene Mendonça, onde vivi todo o ensino fundamental. No primeiro dia de aula, não tinha a farda da escola e coloquei uma roupa comum, mas era a minha roupa mais bonita, que só usava quando ia sair. Minha irmã ao me ver vestida se abaixou, ficando mais baixa que eu, colocou as mãos no meu ombro e disse que eu estava muito bonita e que fardada estria mais bonita ainda. Quanta ansiedade fiquei à espera da farda da escola, que minha mãe só pode comprar semanas depois do início das aulas.

Minha mãe e minhas irmãs sempre me deram muito apoio, me enraizaram de valores que me sustentaram e me sustentam, com elas aprendi, dentre tantas coisas, a me vestir, a respeitar o indivíduo, o valor do trabalho e a amar a natureza. Como eu era uma criança muito ativa e como a minha casa tinha um belo quintal, com várias plantas frutíferas era lá que eu gastava minha energia, subindo nos pés de mangas, jambo, chupando fruta no pé, construindo castelos de barro, fazendo comidas com as folhas pra minhas bonecas comerem; fiz até uma casa na árvore. Minha infância foi bem diferente das crianças de hoje que moram nas grandes cidades e, na maioria, passa, infelizmente, todo o tempo livre em frente da televisão e do computador.

Voltando para minha experiência na Escola Dirlene Mendonça, as minhas primeiras aulas foram ótimas, minha mãe me ensinou a ficar quietinha nas aulas e prestar atenção em tudo que minha professora ensinava. A escola era, para mim, o lugar de ficar quieta, negar meu corpo, uma disciplina exercida por meio de redes invisíveis que acabavam parecendo algo natural (VEIGA-NETO, 2005), enquanto minha casa era meu paraíso, um lugar em que eu podia ser “eu”. De certa forma, na escola a “descoberta do corpo e do seu prazer se constituíram numa experiência de subversão.” (ALVES, apud PILLETTI, 1995, p. 51). Afinal:

O ser humano existe via corpo, pelo corpo ele estabelece suas relações consigo mesmo, com o outro e com o mundo. Sendo assim, o corpo é nossa maior identidade, afinal, ele é o lugar de onde o homem se experimenta como existente. O corpo é o mais íntimo signo humano, pois o homem não consegue, de modo algum, se desvincular dele enquanto ente vivo/vivente. (BORDAS, ZOBOLI, SILVA e SILVA, 2007, p.1).

Certo dia, a professora Cacilda, que tem desvio nos olhos, olhou na minha direção e reclamou. Como eu achei que não era comigo já que estava quieta, olhei para trás pensando que

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ela estava reclamando com a colega que estava atrás de mim. Isso a deixou furiosa, ela me pegou com força pelo braço me arrancando da cadeira e colocou-me de frente para a parede e lá fiquei até uma hora depois do fim da aula “de castigo para aprender”, ela falou. Aprender o quê? Até hoje me pergunto que conhecimento ela queria que eu tirasse daquela experiência? Mas, minha conduta mudou depois disso, eu comecei a ficar mais introspectiva, no meu mundo, não expressava o que sentia ou queria refletindo inclusive em casa. Isso levei comigo por muitos anos, todavia quando cheguei no ensino médio mudei um pouco.

No Colégio Estadual M. A. Teixeira de Freitas, no bairro da Mouraria- Nazaré, fui matriculada. Como o colégio era no centro eu tinha que acordar cedo para chegar lá às 7:20h da manhã e era uma aventura, um mundo novo para mim, estudar no centro da cidade, onde tudo acontece. No meu primeiro ano no colégio, os alunos foram levados para a igreja anexa a Universidade Visconde de Cairu para uma missa de aniversário. Lá vi um casal de violinistas tocando, fiquei em estado de graça, nunca tinha visto ou ouvido nada igual. Ouvir aquele som sentindo-o se reverberar pelo corpo, me fazia tal bem, eu queria aquilo para mim. Para tal, eu precisava sair do meu mundo, lembro que eu tremia de nervoso ao me aproximar do casal para perguntar como eu faria para aprender a tocar violino. Eles, os professores Deodato Guimarães e Ogvalda Devay foram muito gentis comigo e me deram todas as informações necessárias para eu começar as aulas. Contudo, como eu faria isso se a possibilidade financeira de minha família não permitia que eu fizesse o curso de violino? Minha família não queria a princípio, mas eu fui de encontro, acho que foi a primeira vez que fiz isso, romper com as “práticas capilares” instituídas na minha casa. Tais práticas mostram que:

[...] somos cada vez mais governados por mecanismos sutis de poder tais como os analisados por Foucault, é também evidente que continuamos sendo também governados, de forma talvez menos sutil, por relações e estruturas de poder baseadas na propriedade de recursos econômicos e culturais. (SILVA, 1999, p. 145).

Foi então que comecei a lutar pelas coisas que queria. Assim, consegui comprar meu violino, em contrapartida, só tinha dinheiro para pagar três meses de curso, mas apesar disso fiquei por quatro anos lá no Ateneu Musical. No Ateneu, aprendi com os meus professores a ser solícita, pois no período que passei lá, Deodato e Ogvalda me deram tudo que precisei e, principalmente, exemplos que eu trago comigo até hoje. Eles entraram na minha vida como eu na

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vida deles, saindo para além dos muros da escola, me relacionando com suas famílias. Sentia que para eles eu era igual, era assim que me tratavam, no entanto para mim não era assim, eu tinha vergonha ao almoçar com eles, ficava tímida ao ver o luxo de suas casas, a diferença de classe existia, mas era na minha cabeça que ela era cultivada. Entretanto, com o passar dos anos, fui podando as ervas daninhas que estavam em minha mente.

Para mim ser professor não é ser um mero transmissor ou executor de saberes. Ser professor é se auto-questionar sobre a sua vida, suas práticas, sua formação. É ser exemplo porque os alunos podem considerá-lo um herói. Que não se esquece que sua formação “se dará durante todo o seu caminho, se prolongará durante toda a sua vida, constituindo-se dos acertos, dos erros, dos encontros e desencontros”, como diz a hoje pedagoga M. Mercês (2007) em sua monografia, referindo-se ao pensamento de Maurice Tardiff. É também com base em Tardiff que a autora vem me lembrar que os saberes experienciais a que me refiro representam:

[...] o núcleo vital do saber docente, pois é a partir daí que os professores tentam transformar suas relações exteriores com os saberes em relações de interioridade com suas práticas; ou seja, é o saber próprio da identidade do docente, construído a partir de suas práticas sociais cotidianas, (nas relações com os outros sujeitos e na interação com os demais saberes docentes). (MERCÊS, 2007, p. 12).

O professor Deodato passou a ser um pai para mim e foi nessa relação que comecei a sentir falta de algo que há muito tempo me negava a sentir, que era a ausência do amor do meu pai. Isso foi difícil, não entendia por que ele agia assim distante de mim. Foi então que decide dar importância ao que realmente era importante, as pessoas que gostam de mim e que me queriam por perto, era isso que verdadeiramente valia a pena, então a vida sorriu para mim e me deu tantos outros pais-amigos, me fazendo mais forte.

Nesse período no Colégio comecei a me aproximar da professora Tereza, de História, que tinha uma metodologia diferente de todos os professores que até então tinha tido contato na escola. Ela tinha uma metodologia baseada no diálogo, participação ativa dos alunos, nossas idéias eram ouvidas desenvolvendo o nosso campo de possibilidades, fugindo dos moldes tradicionalistas que refletem “os critérios e os parâmetros de um modelo social que não mais existe” (SILVA, 2004). Haja vista que nós, os sujeitos sociais que na modernidade somos, ao mesmo tempo, homens ou mulheres, de determinada etnia ou classe, com múltiplas identidades

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que se definem, se articulam, podendo ser contraditória provocando diferentes oposições. (HALL, 1999).

Quando passei para o segundo ano o colégio entrou em reforma, então fomos locados na Escola Parque. Apesar dos problemas, alguns espaços fechados e falhas na segurança, a Escola Parque era um espaço belíssimo, com muitas árvores, muito espaço, anfiteatro, uma arquitetura que nunca tinha visto igual. Gostei tanto de estar lá, nas aulas livres e nos intervalos sempre saía da sala e ia explorar, conhecer seus espaços, suas árvores, lá sempre tinha algo novo e isso fazia com que eu me sentisse livre.

Depois de três meses nessa escola – que nasceu como um modelo dos projetos educacionais de Anísio Teixeira – tivemos que sair de lá e voltar para o Teixeira de Freitas, mesmo sem a reforma acabar. Ficamos, por uns quatro meses, em salas de madeirite, pequenas e super empoeiradas. Esse período foi uma tortura para mim, sair do paraíso que era a Escola Parque para ficar em um lugar mal-estruturado que tira todo prazer de ir para o colégio. Foi assim que, de forma simples, comecei a pensar sobre a estrutura escolar e como isso influenciava na aprendizagem. Na Escola Parque, senti que a aprendizagem era “era uma extensão progressiva do corpo, que vai crescendo, inchando” (ALVES, apud PILLETTI, 1995, p. 51). Então, junto com outros colegas buscamos nossa volta para essa escola, porém por questões burocráticas nossa reivindicação não foi atendida pela diretoria da escola.

Em paralelo com o inicio dos estudos, no segundo ano fui chamada para trabalhar no Liceu de Artes e Ofícios da Bahia como menor aprendiz na Oficina de Vídeo, por um ano. Foi bem significativa a minha experiência no Liceu, primeiro pelo significado do trabalho que traz consigo independência, segundo a aprendizagem prática que até então não tinha tido a oportunidade de experimentar, ao mesmo tempo em que íamos aprendendo a teoria sobre a linguagem áudio-visual íamos colocando em prática, assim teoria e prática caminhavam juntas tornando o aprendizado bem mais rico.

No Liceu também aprendi que os adolescentes podem ser cruéis. Como eu era reservada e introspectiva “caí na boca” dos colegas, eles criticavam destrutivamente meu jeito de falar, de andar, meu cabelo. Isso foi muito difícil, não sabia como lidar com essa situação, pensei em desistir e sair, contudo o trabalho no Liceu tinha significados muito além, lembrei de mim e de minha mãe acordando cedo, fazendo aquela longa caminhada e agora aquela caminhada era minha, então fiquei, mas me mantive, de certa forma, a parte de tudo, uma alienígena.

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Mantive-me assim, por um tempo até que ouvi alguém dizer que a árvore pequena não briga com a árvore grande por causa do seu tamanho, pois cada uma sabe da sua necessidade de existir. Com isso, percebi que não tinha nada de errado comigo ou com meu cabelo e decidi que não me deixaria intimidar, não mudei nada em mim, só fiquei mais decidida e quando tinha algo para falar ou fazer eu fazia, e “se eu tivesse mais alma pra dar eu daria. Isso para mim [agora] é viver”.(DJAVAN, 1991).

Esse sentimento de segregação que vivi no Liceu trago comigo até hoje, no sentido de não deixar repetir em minha viva ou em sala de aula com meus alunos, que eu não diferencie ninguém e nem deixe que eles o façam entre si.

No terceiro ano do Colégio foi maravilhoso, não sei se era o colégio que tinha mudando ou era eu, talvez os dois, mas principalmente eu. Tive um grupo de amigas que, diante das propostas de trabalhos feitas pelos professores, o que eu criava elas queriam colocar em prática, então fizemos seminários e peças teatrais de muita qualidade. Nesse período também, aquela menina introvertida começou a namorar o menino mais popular do colégio, então todos os alunos me conheciam, sabiam meu nome, falavam comigo, vinham tirar dúvidas. Eu era solícita com todos, mas achava estranha aquela situação, pois aquilo tudo era novo para mim. Foi uma experiência muito agradável e como diz o ditado popular “depois da tempestade vem a bonança”, depois da tempestade que passei no Liceu veio a calmaria do 3º ano de escola.

Fim do terceiro ano e a ânsia pela universidade, era realmente Pedagogia que devia fazer? Então comecei a correr atrás disso e no ano seguinte consegui uma bolsa para estudar no cursinho pré-vestibular do Sartre, não pagava nada, entretanto trabalhava no Colégio Sartre como fiscal de prova nos sábados. As aulas no cursinho eram um forte “tapa na minha cara”, percebi quantos conhecimentos a escola tinha me negado. Meu primeiro ano foi de susto, muitas informações e, eu não estava preparada, senti que não acompanhava os demais. No segundo ano, consegui novamente a vaga no Sartre, me preparei, estudei bastante, mas não passei no vestibular para Pedagogia na UFBA e na UNEB, fiz uma pontuação ótima, mas como eu tinha optado pelas cotas não passei, as cotas estavam mais concorridas do que os sem cota e, se assim tivesse optado eu teria entrado na universidade, isso foi frustrante. Algum tempo depois minha irmã teve bebê, meu sobrinho Iuri, e pediu para eu ficar morando com ela no Cabula, então fui para lá, ficava com meu sobrinho pela tarde e fazia o cursinho intensivo do Status pela manhã. Esse cursinho ficou muito a desejar e junto com uns colegas do cursinho fizemos um grupo de estudo, no

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próprio espaço cedido pelo Status, eu fiquei responsável pelas aulas de matemática, ensinando os assuntos que o cursinho não explicou. Que experiência emocionante, subir no tablado, explicar um assunto que outrora tinha tido dificuldade e mostrar como a geometria espacial, por exemplo, pode ser fácil, perceber que eles aprendiam, essa dinâmica é espetacular, amei isso. A partir daí, eu sabia que era Pedagogia mesmo que devia fazer, era isso que eu queria para minha vida, então passei para a faculdade em 2004.1.

É engraçado como tudo conspira a seu favor, alguns dias atrás encontrei um amigo que participava do grupo e, de repente, me agradeceu pelas aulas e disse que minha contribuição foi muito importante para ele estar na universidade hoje. Ele me deixou deveras emocionada e na certeza que no caminho da formação as experiências que ela/nela produz reverberam mutuamente entre os sujeitos que nela estão envolvidos.

Analisando os anos que passei na escola, sem negar sua importância, percebo que ela não teve uma participação ativa na minha vida, não tive uma escola que me fizesse experienciar, refletir e analisar criticamente a sociedade e os conhecimentos que nela germinam. A experiência escolar que transcorreu em mais ou menos 11 anos, sua maior parte foi fixa, rígida, tradicionalista, mergulhada em modelos cristalizados de ideologias que não correspondiam às necessidades minhas e daquelas outras identidades que estavam se formando. Esta se revela desatualizada frente às novas exigências socioculturais, desses sujeitos sociais permanentemente inquietos, agitados, em movimento, que opinam e produzem. Logo, a escola não pode “continuar sendo um lugar para memorização de informações descontextualizadas” (SANTOMÉ, 1995, p. 176), para poder retomar sua característica de “locus privilegiado para a formação desses sujeitos sociais instituintes, (re)construtores de uma nova e plural sociedade, também instituinte.” (BURNHAM, 1994, p. 3)

A escola, o espaço familiar, dentre tantos outros espaços, são importantes na formação do ser que vai crescendo, amadurecendo, se descobrindo e descobrindo o mundo em sua volta. Já que:

Na errância do ser-no-mundo, opera-se o movimento de velamento e desvelamento do ser, mediante o qual cada pre-sença singular vai ‘formando’ sua compreensão de mundo e, diria aqui, vai descobrindo suas possibilidades de atuação no mundo e configurando, dessa forma sua existência. (SÁ, 2005, p. 06).

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Essa relação constante e profunda do ser-no-mundo e no seu mundo, essa troca com nós mesmos e com aqueles com quem interagimos vai, progressivamente, nos ajudando a assumir e reconhecer nosso ser, nossa identidade, enquanto sujeitos individuais e coletivos.

Ensino superior: dialogando com a formação acadêmica

Janeiro de 2004: a notícia da aprovação no vestibular da UFBA para cursar Pedagogia já no primeiro semestre foi uma festa, uma grande emoção. A terceira universitária da família! Eu oscilava entre o êxtase e o torpor, acho que nem andava, flutuava. Um novo mundo se abria em minha frente, novos professores, amigos, perspectivas e relações.

O primeiro dia de aula transcorreu com muita ansiedade, eram tantos pensamentos e questionamentos: quem será o professor? Como vai ser a turma? Será que vão aprontar alguma coisa já que sou caloura? Será que vou achar as salas facilmente? Eram tantas perguntas que me deixaram tensa, mas ao mesmo tempo, feliz. Era ali que queria estar, era ali o meu lugar.

Ao entrar na faculdade eu não fazia idéia da abrangência do curso de Pedagogia, eu podia direcionar minha formação para várias áreas: Docência, Gestão, Administração, Recursos Humanos, dentre outras, de acordo com o currículo do curso. Seriam 25 disciplinas obrigatórias, sem contar monografia, estágios e estudos independentes e 12 optativas. Termos novos, possibilidades novas. Por onde começar? Ah, mas o primeiro semestre é conhecido como PF (prato feito), com cinco disciplinas obrigatórias, já definidas, o que considerei bom. Afinal, se fosse para eu escolher, não saberia fazê-lo, pela imaturidade e por não conhecer a dinâmica do curso.

Fui descobrindo que a gama de possibilidades de atuação previstas na proposta faz com que as disciplinas obrigatórias pincelem um pouco de tudo sem se aprofundar, até porque isso deveria ocorrer com o auxílio das optativas que deveriam proporcionar que os estudantes tomassem as rédeas de sua formação. As disciplinas optativas foram me levando a me aprofundar em conteúdos afins, o que eu tinha estudado nas obrigatórias e gostei. Infelizmente a quantidade de disciplinas optativas é pequena e por muitas vezes não consegui, como tantas outras alunas, fazer o que eu queria, tendo que escolher muitas vezes o que tinha vaga.

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No início, eu não sabia o que queria, mas hoje eu estou consciente que quero trabalhar na docência, pois a sala de aula me exerce um arrebatamento, um bem estar maravilhoso que me dá certeza onde eu devo estar. Aquela criança que ouvia a família falar que ela seria professora agora crescida toma para si o discurso e diz: Eu quero ser professora, eu quero a docência pra minha vida!

Se eu olhar com vistas ao mercado de trabalho, sei que essa área poderá ser não tão rentável e sei dos desafios que são impostos à docência. Entretanto, é lá que poderei participar ativamente do processo educativo que é o meu lugar, e quando você encontra o seu lugar no mundo não há nada melhor.

Foi com essa formação abrangente oferecida pelo currículo de Pedagogia que eu encontrei meu caminho, foi no experienciar da riquíssima diversidade teórica que me deu recursos para tecer meu próprio horizonte.

Chega a hora do estágio, será que estou realmente pronta? Será que realmente tenho suporte teórico e psicológico para atuar em sala de aula? Ufa, quanto o estágio é fundamental para o exercício da minha profissão, foi nessa prática que vi os reflexos das teorias que estudei e os dilemas que pouco a pouco fui aprendendo a lidar. Assim, fui trançando teoria e prática em mim e nas minhas ações, pois a teoria se tornava viva aos meus olhos.

Um outro aspecto da formação acadêmica que me provocou bastante fascínio e em muitos os estudantes foi a Pesquisa, ser um aluno bolsista em Iniciação Científica. Eu literalmente “babava” pela pesquisa, queria tanto estar mergulhada, nesse meio que é bastante dinâmico com grupos de discussões, produção de seminários, pesquisa de campo e muito mais. As vagas para ser um aluno bolsista são oferecidas anualmente e é bastante concorrido; vários estudantes querem, porém poucos conseguem. O número de vagas é bem pequeno e o ideal seria que todos os estudantes tivessem uma vaga, mas vivemos no mundo real onde essa possibilidade não existe. Os estudantes passam por uma breve seleção com o professor e depois de aceito ele e o professor passam pela seleção do Programa de bolsas e essa eu considerei bem cruel para o professor, mas principalmente para os alunos, pois eles ficam na maior expectativa, dão tudo de si, pois é a pesquisa é algo que eles querem muito e que muitas vezes não dá para eles ficarem como voluntários por causa de seus recursos financeiros.

Ao participar da Iniciação Cientifica uma das coisas mais interessantes para mim foi que pude perceber que eu já fazia pesquisa há muito tempo, uma pesquisa teórica ao me aprofundar

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nos textos das disciplinas de forma crítica, questionadora, reflexiva, essas são atitudes de um pesquisador e que fui estimulada a praticar desde que entrei na faculdade. A pesquisa, sem sombra de dúvida, contribui na lapidação de mim, me deixando mais decidida, atuante e segura.

Outro ponto relevante do currículo de Pedagogia são os Estudos Independentes, que consistem na participação em palestras, mesas-redondas, seminários, conferências e possibilita entrar em contato com as discussões contemporâneas na área da educacional extra-sala, o que também me proporcionou o aprofundamento dos assuntos com que eu tenho afinidade. Nos caminhos dos Estudos Independentes, fui trilhando, socializando saberes, ganhando intimidade com outras literaturas, outras práticas, conheci autores renomados, fiz amizades, visitei outros Estados e outras Faculdades. Eu era uma verdadeira “rata”, quando conciliava os meus horários e a palavrinha mágica gratuita, eu estava lá. Apesar de que, para muitos estudantes os Estudos Independentes são considerados um fardo, para mim eles transcorreram naturalmente durante os quatro anos na Faculdade.

Um dos momentos felizes que vivi na faculdade, foi ser chamada no segundo semestre para estagiar com a professora Iracy Picanço. A partir daí, eu me senti, verdadeiramente ‘vivendo a universidade’. Estava sentindo a faculdade em suas peculiaridades, conhecendo sua personalidade, dinâmica, singularidade, pluralidade, defeitos e virtudes, agora eu fazia (faço) parte de um todo. Como coloca Edgar Morin “o que nos circunda está inscrito em nós” agora a faculdade está em mim como eu estou nela, se mostrando indissociável de mim, pois “cada parte conserva a sua singularidade e sua individualidade, mas, de algum modo contém o todo” (MORIN, 1996, p. 279).

Na faculdade comecei a ter acesso a determinados conhecimentos, que aumentaram meu ângulo de visão de mim e da sociedade de que eu faço parte, contribuindo significativamente para minha formação. Destaco a seguir as disciplinas que veicularam esses conhecimentos.

Em História da Educação, História da Educação na Bahia e História do Pensamento Educacional Brasileiro pude perceber como as primeiras civilizações já estavam marcadas pelo dualismo educacional e o Brasil com seus tropeços e tentativas de melhoras do quadro educacional, ao longo desses 500 anos de descoberta. Também que cada autor tem uma abordagem única ao contar a História e essa diversidade se dá por vários motivos como, por exemplo, o ponto de partida que o autor usa para começar o seu trabalho.

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Percebi também que a parcialidade/ neutralidade é relativa, pois quando o autor faz seleção do material que ele vai utilizar para falar de um fato histórico, ele acaba, de certa forma, se mostrando, se colocando, se desnudando seguindo um referencial afim com a sua identidade. Com isso, vejo como as minhas experiências influenciam nas escolhas de textos para serem trabalhado com meus alunos. Eu acabo escolhendo para os meus alunos textos que eu gosto mais, que me motivam.

Vários autores estudados nessas disciplinas têm histórias de vida diferentes, identidades diversas, fazendo que uns descrevam, outros analisem e outros questionem os fatos históricos. Com isso, o estudo da História e/ou da vida não pode ter uma visão fechada ou única das coisas. Temos vários caminhos que podemos seguir, tento estar sempre atenta para isso. Agora quando penso na História associo a uma árvore: seu tronco é o fato histórico e seus galhos, folhas e frutos são as várias abordagens que podemos ter da história.

Já em Antropologia da Educação com os estudos sobre a sociedade do “eu”, representações de sociedades fechadas em sua própria cultura, associei ao meu comportamento que, por um bom tempo fiquei fechada em mim mesmo, pude perceber também tal representação na escola onde estagiei onde uma grupo de meninas ficavam tão fechadas, com dificuldade de interagir com os outros colegas.

Pude estudar a escola como espaço de valores e atitudes socialmente privilegiado com respaldo no livro didático que é o instrumento articulador do conhecimento acadêmico, carregado de representações e categorias com as quais constrói determinados saberes. Percebi que a escola tentou me colocar alguns valores, muitos deles contraditórios aos familiares, o que me deixou confusa na infância. Quando o livro didático falava sobre família, essa representação era tradicionalista (pai, mãe e filhos) e a minha família não era assim, isso era uma ambigüidade para mim.

A Antropologia da Educação me ajudou bastante a compreender as relações entre as pessoas nas escolas, na sala de aula e “como a criança adquire conhecimento na sua comunidade para escolher as interferências que transformaram tudo isso em aprendizagem” (ROCHA, 2004, p. 23).

Assim a Antropologia da Educação me fez ver os fenômenos sociais a partir do homem agindo na sociedade, diferentemente da Sociologia da Educação, que parte do universo social para o homem. Segundo Durkhein, embora sejamos uma unidade, somos constituídos por dois

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seres: um ser individual formado por todos os estados mentais e um ser social que é “um sistema de idéias, sentimentos e hábitos, que exprimem em nós, não a nossa individualidade, mas o grupo ou os grupos deferentes de que fazemos parte” (1988, p. 42).

Logo a educação em seus vínculos íntimos com a sociedade da qual depende grande parte o próprio funcionamento da escola e da sala de aula, a educação tem um processo fortemente social, que consiste na ação das gerações adultas sobre as mais novas, podendo variar no tempo e no espaço, segundo os ideais e interesse dos grupos que a promovem.

Uma disciplina que chamou muito minha atenção foi Currículo, que também me fez debruçar no estudo de alguns teóricos e nos entreteve em amplas discussões e explanações. No estudo, por exemplo, de Tomaz Tadeu da Silva que abriu meus olhos cerrados para algo que, até então, eu não havia me dado conta “o currículo é masculino”, ao dizer que “o pensamento educacional brasileiro é inflexível, machista e patriarcal” logo as idéias, as perspectivas e a abordagem sobre a educação é predominantemente masculina. Isso reflete de forma direta no Currículo que fortalece o domínio masculino sobre a razão, o conhecimento, a produção educativa e as mulheres. A produção educativa feminina fica submetida, subjugada, oferecendo-lhe a irracionalidade. Ironicamente, cabe a esse ser subalterno e apático a responsabilidade de cultivar e desenvolver o homem crítico e dotado de razão.

Por isso retorno a minha experiência no terceiro ano do ensino médio, ao começar a namorar o menino mais popular do colégio. Será que no ato de todos os alunos (me conheciam e falavam por está aí) passarem a me cumprimentar estava subentendida uma relação de dominação masculina na escola? Ou eu que havia mudado, era mais segura nas minhas relações, transmitindo para os outros alunos mais confiança?

Como mudar a inflexibilidade e o machismo do currículo na formação do sujeito social? Estando tão impregnado na sociedade, qual seria o primeiro passo? Se quisermos mudar o mundo em nossa volta, temos que começar com o que está mais próximo que somos nós mesmos, pois “a aceitação da nossa própria identidade é uma das principais condições para saber valorizar a dos demais” (SANTOMÉ, 1995, p.163), para depois disso nos auto-aprimorar e buscar melhorar a sociedade.

Já que todos nós somos cultivadores, seja qual for a nossa atuação profissional, todos os seres, “fora de sua profissão, desenvolve uma atividade intelectual qualquer, ou seja, é um filósofo, um artista de gosto, participa de uma concepção do mundo, possui uma linha consciente

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de conduta moral, contribui assim para manter ou para modificar uma concepção do mundo, isto é, para promover novas maneiras de pensar” (GRAMSCI, 1968, p.125).

Não podemos perder de vista o caráter essencial da educação nessa luta por mudanças, pois não tenho “qualquer dúvida de que a educação é um dos processos mais fundamentais para a construção desses sujeitos sociais tão complexos, para lidar com essa também complexa inter-relação de trocas e exigências” (BURNHAM, 1994, p. 2). Logo, a escola é um locus vital para a formação, informação, desconstrução e (re)construção desses sujeitos. O currículo escolar deve ser contextualizado e satisfazer todos os níveis da escola. O que importa é que o aluno efetivamente aprende, não o conteúdo transmitido pelo professor. Ou seja, o foco principal sai dos conteúdos para a maneira de passar a informação de forma a garantir que ocorra a aprendizagem (COLL, 2002, p. 22).

Promover uma renovação na formação dos indivíduos e conseqüentemente uma reformulação curricular não é fácil, posto que, o poder e o conhecimento se relacionam intimamente. Por isso:

Talvez possamos pensar, com Foucault, que, muito maior que uma suposta força dos poderes instituídos (que em muitos momentos paralisam as ações), é a força dos micros poderes que a sociedade ensinou a cultivar, através de práticas capilares, invisíveis, disciplinares, que vão forjando os ‘regimes de verdade’ e que se manifestam sempre que nossos corpos vislumbram ameaças de saírem de seu ‘enquadramento’ original. (SÁ, 2004, p. 13).

Para Tomaz Tadeu da Silva o currículo “é um dos locais onde se codificam formas de conhecimento e saber (...) onde se entrecruzam saber e poder, representação e dominação, discurso e regulação”, então eu poderia dizer que, o currículo e eu somos a mesma coisa? Se eu como um ser pensante (imagético e intelecto), dou forma e conteúdo ao currículo, decido o que vai ser decodificado e recodificado nele, conseqüentemente o currículo tem a minha identidade. Sendo eu uma pessoa evasiva, inflexível e tradicional o currículo refletirá isto, então ele será indiscutível, conservador e discriminatório, se tenho uma perspectiva multicultural, ele assim será.

Essa discussão sobre o currículo me faz perceber que minha itinerância/identidade/currículo/eu está apenas começando, mas já cresce forte dentro de mim, pois essas relações complexas eu nunca esperava encontrar aqui.

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Em Educação e Identidade Cultural conheci um pouco mais sobre a pluralidade cultural do Brasil, esse fruto de tantos encontros étnicos e culturais, que ainda vive com os olhos voltados para a Europa, mas que começa a se descobrir, sua gente, suas singularidades e pluralidade. Essa disciplina provocou profundamente minha “brasilidade”, a minha cultura popular adormecida pelo contexto acadêmico, deixando que ela tivesse voz e vez. Refletimos sobre vários temas, como a ancestralidade que fez voltar o olhar para a história de minha família que uma mistura tipicamente brasileira: indígena, africana e levemente portuguesa, uma verdadeira mestiçagem. Mestiçagem esta que segundo Abib (2000, s/p), é um “terreno impreciso de definições, pois faltam elementos substancias que possam caracterizar o mestiço enquanto uma etnia que traz seus traços culturais claramente definidos”, mas apesar de saber que essa consciência de que a “identidade mestiça ainda está em processo de construção” ela se mostra vivamente na minha família, depois de algumas lutas travadas, no sentido de equilíbrio entre as parte que a constituem. Mostrando o quanto “é inevitável a luta pelo reconhecimento dos custos que o preconceito de cor tem deixado para os grupos vitimados por ele”. Isso porque toda natureza humana “traz algumas necessidades fundamentais aos homens, e uma delas está relacionada com o desejo de representação étnica. Os homens sentem necessidade de ter seus ídolos, de se ver numa história e essa disciplina atuou de forma expressiva para essa representação”. (GUIMARÃES apud MIRANDA e OLIVEIRA, 2004, p. 70).

A disciplina Movimento Negro e Educação: Trajetória de uma luta Histórica que representou traços da minha identidade que até então o currículo da Faculdade não tinha colocado, principalmente no que se refere ao sentimento do indivíduo de pertença sobre as questões de raça, cor, cultura, capazes de unir todas as pessoas, se bem trabalhadas. Por isso, devemos enaltecê-las já que são traços marcantes na identidade do indivíduo e na minha também, mostrando nossa fragmentação e que não somos compostos de uma única identidade, mas de várias, algumas vezes contraditórias ou mal resolvidas.

Pude perceber isso quando entrei no Liceu, já que eu não tinha resolvido em mim minha introspecção “caí na boca” dos colegas. Como não sabia como lidar com essa situação poderia ter continuado uma alienígena, ser contraditória ao que era, adotando um papel de uma pessoa extrovertida ou assumir minha introspecção. E foi isso que fiz.

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Assim, “A identidade torna-se uma ‘celebração móvel’: formada e transformada continuamente em relação às formas pelas quais somos representados ou interpelados nos sistemas culturais que nos rodeiam”. (HALL, 1999, p.13)

Uma das atividades da disciplina foi a vivência prática visitando grupos populares e a Feira de São Joaquim, que trouxe recordações de minha infância, pois era ali que fazíamos as compras do mês. Eu não visitava a feira há muitos anos e percebi que ali dentro daquela feira, ora com cores belíssimas ora com um cheiro super desagradável, a aprendizagem está acontecendo, uma aprendizagem não-formal é verdade, mas que tem um valor extraordinário.

“Ninguém nasce mulher, torna-se3”. Essa foi uma das primeiras provocações trazida na

disciplina Sexualidade e Educação, nos questionando se desconstruirmos o determinismo biológico a favor da perspectiva sócio-cultural que está imbricada nessa questão. Apurado nosso olhar para as desigualdades de gênero e para nossa identidade, como nos víamos ou como se auto-cataloga e ao nosso papel que em geral expressa a identidade, mas também pode estar em desacordo com a identidade.

A professora tinha um discurso apaixonado sobre gênero, que segundo Scolt (apud LOURO, 2004, p. 22) é uma “construção social sobreposta a um corpo sexuado. É uma forma de significação de poder”. Era belíssimo ouvi-la falar, mas ela mão queria que nos tornássemos feministas, somente que ficássemos mais conscientes de nosso papel na sociedade enquanto mulheres e educadoras.

Outra disciplina recheada de provocações foi Dimensão Estética da Educação que tinha uma metodologia singular, divida em teoria e prática. Na teoria estudamos o livro: O sentido dos Sentidos de Duarte Júnior (2001) que mostra como está fragmentado o nosso ser e como os nossos sentidos estão em crise, uma crise que está no cotidiano. Que está em nossas casas, na comida, no trabalho. Ou seja:

a casa onde moramos, os lugares por onde caminhamos, aquilo de que falamos e aqueles com quem conversamos, a alimento que ingerimos e a maneira como ganhamos a vida, além de darem um sentido, de emprestarem um significado à nossa existência, também estão diretamente relacionados com o nosso corpo, com as nossas sensações, percepções e sentimentos. (DUARTE JR., 2001, p. 75).

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A prática era o momento de ouvir o próprio corpo, onde nos relacionávamos uns com os outros, onde a turma não se fragmentava em “panelinhas”, tinha que olhar, tocar, ouvir os colegas, sentir e se sentir, era um momento onde todos nós éramos um.

Na disciplina Introdução à Supervisão Educacional eu me questionava muito sobre a necessidade dessa disciplina e se era realmente necessário a manutenção dela no currículo, já que o profissional de supervisão não existe mais na Bahia. Ficava pensando se não deveria ter outra disciplina no lugar, mas tivemos discussões muito profundas, fizemos um estudo sobre a origem e a evolução da Supervisão no Brasil e na Bahia, analisamos as legislações, o que me fez pensar sobre tantas coisas, inclusive que é das entranhas da escola que embute a ideologia dos dominantes, que emerge o agente transformador dela. Isto me lembra a história de cada um de nós. Quantos de nós na sala de aula não somos as primeiras universitárias da família? Quantas apesar da cultura que foi negada na escola conseguiram vencer tantas barreiras para entrar na universidade? Pois é, não somos somente produto do meio, mas somos também modificadores dele. Que não podemos ser mais um a continuar hierarquizando ou negando saberes e que a escola:

transforma-se quando todos os saberes se põem a serviço do aluno que aprende, quando os sem-voz se fazem ouvir, revertendo a hierarquia do sistema autoritário. Esta recupera a sua função social e política, capacitando os alunos das classes trabalhadoras para a participação plena na vida social, política, cultural e profissional. (GARCIA, 1986, p. 14).

Que as relações de poder envolvem não só a escola como todas as instituições, pude compreender melhor ao estudar Foucault em Filosofia da Educação. Analisar a obra de Foucault foi para mim a descoberta da pólvora, pensar no poder disseminado no cotidiano, nas relações sociais, nas pequenas relações do dia-a-dia, a Micro física do Poder, fantástico! Assim:

O termo ‘poder’ designa relações entre ‘parceiros’ (entendendo-se por isto não um sistema de jogo, mas apenas – e permanecendo, por enquanto, na maior generalidade – um conjunto de ações que se induzem e se respondem umas às outras) (FOUCAULT, 1995, p. 240).

Mas, não podemos esquecer que o poder também tem seu lado positivo, ele também pode estimular e produzir a noção de indivíduo. Ou seja, “[...] nesses processos contínuos e ininterruptos que submetem os nossos corpos, governam os nossos gestos, ditam nossas condutas, etc., esses processos nos constituem como sujeito”. (HOY, 1988, p. 4).

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Enfim, essas disciplinas, dentre outras disciplinas e experiências contidas no currículo do curso me deram suporte para melhor compreender a realidade de que faço parte, haja vista que nos tempos atuais, faz-se da maior importância compreender o mundo, entendendo as micro e macro relações que se processam no seu interior e do mesmo modo, oportunizaram que eu (re)construísse e (re)significasse as minhas verdades redimensionando minhas possibilidades de verdades, incentivando-me a pensar em perspectivas outras, emancipando-me de convenções, dogmas e ideologias.

Na fogueira de um ser inacabado: chegando a uma finalização, mas não a um fim

Você tem que estar preparado para se queimar em sua própria chama: como se renovar sem primeiro se tornar cinzas? (Zaratustra apud YALOM, 2005) Travar essa luta contra mim pelas experiências que substanciam minha itinerância de formação em Pedagogia foi como me queimar em minha “própria chama”, o que criou uma desordem na minha vida, uma desordem para o crescimento tanto pessoal como profissional e social. No decorrer da escrita tive vários momentos de angústia, alegrias na tentativa de organizar minhas idéias, haja vista que falar de si não é algo fácil, penetrar no universo, às vezes adormecido e descortiná-lo tem seus desafios. Já que rever tais experiências, ou seja, as coisas que me aconteceram, que me tocaram:

[...] requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir , sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2001, s/p).

Acordar e expor as experiências que auxiliaram na reflexão sobre a minha formação foi um momento que pude compartilhar “com diferentes interlocutores possibilidades de reinventar o

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vivido, assumindo a palavra e tornando públicas as [minhas] opiniões, inquietações, experiências e memórias” (GUEDES-PINTO e BATISTA, 2007, p. 31).

Nesse movimento frenético de retomada das histórias que contribuíram para minha itinerância de formação em Pedagogia confrontando-os com meu presente e de reconstrução, (re)significação de ambos pela escrita, já que estas estavam perdidas em mim, vou me defrontando com as pessoas com quem compartilhei as relações sociais, concepções de valores, com aqueles que aprendi a ser o que sou, o olhar de cada um deles se unem e forma o meu. Sou um ser indivíduo/coletivo, sou ator e diretor da minha própria criação, tudo que faço está tão rico de mim, já que sou também feita de partes que não são minhas, são partes que as relações diárias me dão: amigos, família, inimizades, professores, teorias, exemplos... Tudo isso se integra de forma tão singular que resulta nesse ser, mulher, filha, noiva, pedagoga, negra nesse que não é ideal, mas é o que é.

Mas, como me renovar sem primeiro me tornar cinzas? Para tal faço minhas as palavras de Paulo Freire: “gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado” (FREIRE apud ZITKOSKI, 2006, p. 82).

Assim, consciente do meu inacabamento vou costurando passado e futuro, vejo-me em transformação e reivento meu presente, para melhor compreender o que estou fazendo em minha vida e em minha profissão para a vida, haja vista que é no encontro com o passado que encontro subsídios para enfrentar o meu presente e me (re)construir, me (re)significar e preparar o futuro. Um futuro inacabado, pois sou incompleta e a formação é eterna.

E se o conhecimento de si “é navegação em um oceano de incertezas, entre arquipélagos de certezas” (MORIN, 2002, p. 86) que deixa a mostra suas fragilidades e potencialidades, considero a itinerância, a escrita reflexiva, a análise das histórias da vida em forma de memorial um exercício bastante completo, que deveria ser incorporado no currículo de Pedagogia, pois com ele o “estudante toma consciência de si para explicitar experiências formais ou informais à luz dos conteúdos disciplinares” (PASSEGGI, 2007, p. 36). Logo, ele toma consciência da reflexividade crítica sobre a aprendizagem expondo: como lida com o conhecimento; como articula teoria e prática; como incorpora hábitos, externa valores; constrói sua identidade; como se relaciona com o outro nas suas diversas dimensões experienciais.

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Conceber a escrita reflexiva “como dispositivo híbrido, que conjuga (auto)avaliação e (auto)formação, constitui apenas o primeiro passo para se pensar formas de avaliar que valorizem a historicidade do sujeito, o percurso histórico de suas aprendizagens e o desafio de se fazer outro durante incontáveis travessias em busca de si mesmo”(Idem, p. 37). Logo, esse trabalho pode se mostrar rico de possibilidades, pois leva o estudante a “redescobrir caminhos percorridos, cenários e fatos vivenciados [...] em diferentes tempos e espaços, encaminhando-o a uma reflexão sobre sua própria atuação, quer pessoal, quer profissional” (SOUZA; CORDEIRO, 2007, p. 46).

Essa colocação também é posta por Josso (2007, p. 16): O trabalho de formação a partir de histórias de vida, “[...] permite conhecer mutações sociais e culturais nas vidas singulares e relacioná-las com a evolução dos contextos profissionais e sociais”.

Quando selecionei lembranças, experiências da minha existência e ao tratá-las na perspectiva escrita, organizei minhas idéias, me defrontei comigo mesmo, potencializei a reconstrução de uma vivência pessoal e profissional de forma auto-reflexiva que gerou uma base para a compreensão de minha itinerância formativa. Hoje, ao sair desse útero acadêmico que me acolheu por quatro anos, me nutriu e me fortaleceu, tremo de medo! Mas a natureza segue seu rumo e esse ser, que é o que é, consciente que é inacabada, mas inteira vai agora em busca de novos caminhos, novas práticas, novas relações, para novas possibilidades, pois tomei a minha

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Referências

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4 - Valores da Refl ectância Bidirecional (em fração, de 0 a 1) versus o comprimento de onda central da banda obtidos para a vegetação na imagem sem correção atmosférica e