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A PROVA DE PUJALS E SAMBARINO DA CONJECTURA DE PALIS EM SUPERFÍCIES III

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EM SUPERF´ICIES III

ALINE GOMES CERQUEIRA E CARLOS MATHEUS

Abstract. Esta ´e a ´ultima nota numa s´erie de trˆes textos visando entender as id´eias da prova de Pujals e Sambarino [PS] da conjectura de Palis para C1 difeomorfismos de

su-perf´ıcies. Como j´a tinhamos antecipado ao leitor que o esquema da prova deste resultado ´e longo e cheio de muitas id´eias, resolvemos dividir este conjunto de notas assim:

• na primeira nota (j´a) estudamos os argumentos de Denjoy e Schwartz (envolvendo a

combina¸c˜ao das propriedades de distor¸c˜ao limitada e somabilidade dos comprimentos

de intervalos errantes) para mostrar que C2difeomorfismos f do c´ırculo S1verificam

Ω(f ) = S1;

• nesta segunda nota (j´a) vimos a prova de um teorema de Ma˜n´e sobre a hiperbolici-dade de endomorfismos do intervalo e do c´ırculo; em particular, veremos que todo C2

endomorfismo gen´erico f cujos pontos cr´ıticos estejam nas bacias de po¸cos satisfazem o Axioma A (mais precisamente, f admite um n´umero finito de po¸cos tal que o max-imal invariante do complementar das bacias destes po¸cos ´e um conjunto hiperb´olico

uniformemente expansor );

• finalmente, nesta terceira nota seguiremos as id´eias de Pujals e Sambarino para

es-tender estes dois argumentos para o contexto bidimensional e aplic´a-los na prova da conjectura de Palis em dimens˜ao 2.

1. Introduc¸˜ao

Um dos objetivos centrais na teoria dos sistemas dinˆamicos ´e compreender a dinˆamica1

das trajet´orias da “maioria” dos sistemas. Nos anos 60, o enorme sucesso do estudo dos

sistemas (uniformemente) hiperb´olicos (por Anosov, Smale, etc.) levou a conjectura de que

os sistemas hiperb´olicos formariam a “maioria” dos sistemas dinˆamicos (no sentido de que hiperbolicidade seria uma propriedade aberta e densa). Entretanto, com o advento da d´ecada seguinte, alguns exemplos por Smale, Abraham (em dimens˜ao > 4), Shub (em dimens˜ao 4), Ma˜n´e (em dimens˜ao 3) e Newhouse (em dimens˜ao 2) mostraram que este “sonho” de densi-dade de hiperbolicidensi-dade ´e imposs´ıvel em geral.2 Particularmente engenhoso ´e o exemplo (ou

fenˆomeno) de Newhouse: basicamente ele come¸ca com um conjunto hiperb´olico possuindo

uma tangˆencia homocl´ınica (i.e., um ponto peri´odico hiperb´olico cujas variedades invariantes se intersectam n˜ao-transversalmente) e mostra que se as interse¸c˜oes do conjunto hiperb´olico com estas variedades invariantes s˜ao suficientemente “gordas” (ou mais precisamente

espes-sas), ent˜ao a tangˆencia homocl´ınica ´e persistente (ou seja, a tangˆencia continua existindo para Date: 25 de Janeiro de 2008.

1I.e., o comportamento a longo prazo.

2Note que a ordem de aparecimento dos trabalhos de Smale-Abraham, Shub, Ma˜n´e e Newhouse nesta frase n˜ao segue a ordem hist´orica.

(2)

muitos difeomorfismos pr´oximos do original). Desdobrando estas tangˆencias homoc´ınicas per-sistentes, Newhouse conseguiu exibir um conjunto residual de difeomorfismos Cr(r ≥ 2) com

infinitos po¸cos/fontes e, a fortiori, um C2 aberto de difeomorfismos n˜ao hiperb´olicos. Como

uma observa¸c˜ao interessante, cabe ressaltar que o fenˆomeno de Newhouse n˜ao ´e conhecido no mundo C1 (e de fato alguns resultados recentes de Moreira sobre conjuntos de Cantor

dinˆamicos indicam que o fenˆomeno de Newhouse n˜ao ocorre na topologia C1 e a densidade de hiperbolicidade ´e v´alida para C1 difeomorfismos em dimens˜ao 2).

Motivado pelo programa inicial de Smale e algumas id´eias de Kolmogorov sobre m´etodos probabil´ısticos no estudo de sistemas dinˆamicos, Jacob Palis propˆos um ambicioso programa para o estudo global dos sistemas dinˆamicos. Basicamente, a filosofia de Palis ´e: longe dos fenˆomenos conhecidos de obstruem hiperbolicidade, devemos ter um conjunto denso de sis-temas admitindo apenas um n´umero finito de atratores hiperb´olicos cujas bacias de atra¸c˜ao cobrem quase todo espa¸co de fase (no sentido da medida Lebesgue). Por fenˆomenos con-hecidos de obstru¸c˜ao de hiperbolicidade queremos denotar os dois mecanismos: o primeiro j´a mencionamos que s˜ao as tangˆencias homocl´ınicas; o segundo ´e um fenˆomeno dito ciclos

heterodimensionais, os quais foram descobertos no processo de tentar encontrar vers˜oes do

fenˆomeno de Newhouse em dimens˜ao alta3. Em particular, notando que ciclos

heterodimen-sionais n˜ao ocorrem em dimens˜ao 2, podemos enunciar uma vers˜ao da conjectura de Palis em superf´ıcies assim:

Conjecture 1 (Palis em superf´ıcies). Seja M uma superf´ıcie compacta e f ∈ Dif fr(M )

um difeomorfismo (r ≥ 1). Ent˜ao, f pode ser Cr-aproximado por um difeomorfismo exibindo

uma tangˆencia homocl´ınica ou por um difeomorfismo essencialmente hiperb´olico4

Nesta dire¸c˜ao, um dos resultados principais do trabalho de Pujals e Sambarino ´e a prova desta conjectura (em superf´ıcies) no caso r = 1:

Theorem 1.1 (Theorem A de [PS]). Seja M2 uma superf´ıcie compacta e f ∈ Dif f1(M2) um difeomorfismo C1 de M2. Ent˜ao, f pode ser C1-aproximado por um difeomorfismo ex-ibindo uma tangˆencia homocl´ınica ou por um difeomorfismo Axioma A (i.e., uniformemente hiperb´olico).

Antes de prosseguirmos, vejamos um corol´ario direto deste teorema:

Corollary 1.1. Seja MS o conjunto dos difeomorfismos de Morse-Smale5. Considere o aberto U := Dif f1(M2) − M S. Ent˜ao, existe um conjunto aberto e denso V ⊂ U tal que todo f ∈ V possui uma interse¸c˜ao homocl´ınica transversal (i.e., uma ´orbita peri´odica hiperb´olica com variedades invariantes transversais). Em particular, pelos trabalhos de Smale6, temos que o 3N˜ao discutiremos ciclos heterodimensionais aqui pelo seguinte motivo: ciclos heterodimensionais n˜ao

ocor-rem em dimens˜ao 2, de modo que o trabalho de Pujals e Sambarino sobre a conjectura de Palis em superf´ıcies n˜ao precisa lidar com estes ciclos.

4I.e., um difeomorfismo com n´umero finito de atratores hiperb´olicos com bacias cobrindo quase toda

variedade.

5Ou seja, os difeomorfismos cujo n˜ao-errante ´e a uni˜ao finita de ´orbitas peri´odicas hiperb´olicas com

var-iedades invariantes mutualmente transversais.

(3)

fecho do interior do conjunto de difeomorfismos com entropia topol´ogica nula coincide com M S.

Proof. Logicamente a propriedade de possuir uma interse¸c˜ao homocl´ınica transversal ´e aberta

e densa dentro do conjunto dos difeomorfismos com interse¸c˜oes homocl´ınicas. Isto reduz nossa tarefa a provar que U cont´em um subconjunto denso de difeomorfismos com ´orbitas homocl´ınicas. Para isto, tomamos f ∈ U e aplicamos o teorema 1.1. Da´ı sabemos que f pode ser aproximado por um difeomorfismo com uma tangˆencia homocl´ınica ou por um difeomor-fismo Axioma A. No caso de f ser aproximado por tangˆencias homocl´ınicas acabamos. J´a quando f ´e aproximado por Axioma A, notamos que o fato de f ∈ U significa que f n˜ao ´e aproximado por difeomorfismos Morse-Smale. Logo, vemos que f ´e aproximado por difeo-morsfismos g Axioma A mas n˜ao Morse-Smale. Isto implica que a decomposi¸c˜ao espectral de g ´e n˜ao-trivial, i.e., alguma de suas pe¸cas b´asicas n˜ao se reduz a uma ´orbita peri´odica. Portanto, g deve possuir interse¸c˜oes homocl´ınicas transversais. Finalmente, a segunda parte do corol´ario segue do fato de os trabalhos de Smale implicarem que interse¸c˜oes homocl´ınicas transversais gerarem ferraduras, as quais possuem entropia topol´ogica positiva. ¤ Agora iremos usar o restante desta introdu¸c˜ao para descrever as linhas gerais da prova do teorema 1.1 e a organiza¸c˜ao destas notas. A prova de Pujals e Sambarino do teorema 1.1 come¸ca seguindo as id´eias de Ma˜n´e [M1]. Basicamente iremos mostrar que difeomorfismos longe de tangˆencias homocl´ınicas podem ser aproximados por Axioma A. Com este intuito, dividimos a demonstra¸c˜ao em duas partes:

• usando as id´eias de Ma˜n´e, mostra-se que longe de tangˆencias podemos encontrar uma

decomposi¸c˜ao dominada7 sobre o conjunto n˜ao-errante;

• em seguida prova-se que esta decomposi¸c˜ao dominada deve ser hiperb´olica.

Em termos grosseiros, Pujals e Sambarino mostram que longe de tangˆencias os ˆangulos dos espa¸cos est´aveis e inst´aveis de todos os pontos peri´odicos devem estar uniformemente afas-tados de zero. Usando esta informa¸c˜ao, podemos estender esta decomposi¸c˜ao natural sobre os pontos peri´odicos para o conjunto n˜ao-errante (passando ao fecho) de modo a construir a decomposi¸c˜ao dominada desejada. Infelizmente, os argumentos de Ma˜n´e para o teorema de estabilidade n˜ao podem ser puxados muito mais para o contexto de Pujals e Sambarino. Com efeito, a id´eia de Ma˜n´e consiste em mostrar que uma decomposi¸c˜ao dominada n˜ao-hiperb´olica permite construir um ponto peri´odico n˜ao-hiperb´olico. No contexto do teorema

de estabilidade, sabemos que todo difeomorfismo numa vizinhan¸ca de um difeomorfismo

es-truturalmente est´avel possui apenas pontos peri´odicos hiperb´olicos (exerc´ıcio), de modo que isto encerra o argumento. Entretanto, no caso de Pujals e Sambarino (i.e., conjectura de Palis), as decomposi¸c˜oes dominadas e os pontos peri´odicos n˜ao-hiperb´olicos coexistem, o que n˜ao permite encerrar o argumento se seguirmos Ma˜n´e diretamente. Por isso, Pujals e Sam-barino adotam um ponto de vista diferente: ao inv´es de procurar contradi¸c˜ao atrav´es da constru¸c˜ao de pontos peri´odicos n˜ao-hiperb´olicos, eles procuram por uma propriedade a qual for¸ca decomposi¸c˜oes dominadas a serem hiperb´olicas. Neste ponto, eles buscam inspira¸c˜ao nos trabalhos de Ma˜n´e [M2] sobre dinˆamicas unidimensionais (discutidos na segunda nota [CM2])

7Uma decomposi¸c˜ao do espa¸co tangente em espa¸co tangente com certas propriedades a serem precisadas

(4)

– a propriedade procurada ´e suavidade (mais precisamente, regularidade C2). Com efeito, o

resultado-chave ´e o seguinte teorema (o qual ´e interessante por si mesmo):

Theorem 1.2 (Theorem B de [PS]). Seja f um C2 difeomorfismo de uma superf´ıcie com-pacta, Λ ⊂ Ω(f ) um compacto f -invariante com uma decomposi¸c˜ao dominada TΛM = E ⊕ F e suponha que os pontos peri´odicos de f em Λ s˜ao hiperb´olicos de tipo sela. Ent˜ao, Λ = H ∪C1∪· · ·∪Cn, onde H ´e um conjunto hiperb´olico e Ci s˜ao curvas simples fechadas peri´odicas

normalmente hiperb´olicas de per´ıodo mi tais que fmi : Ci → Ci ´e topologicamente conjugada

a uma rota¸c˜ao irracional.

Aqui devemos dizer algumas palavras sobre este teorema. Primeiramente, lembramos que Definition 1.1. Uma decomposi¸c˜ao dominada sobre um conjunto f -invariante Λ ´e uma

decomposi¸c˜ao TΛM = E ⊕ F em subfibrados f -invariantes E e F tal que existem constantes

0 < λ < 1 e C > 0 com

kDfn|E(x)k · kDf−n|F (fn(x))k ≤ Cλn

para todo x ∈ Λ e n ≥ 0.

Conforme dissemos antes, Ma˜n´e usou decomposi¸c˜ao dominada como um passo preliminar na prova da hiperbolicidade de sistemas estruturalmente est´aveis. De fato, a ´unica diferen¸ca entre decomposi¸c˜ao dominada e hiperbolicidade ´e que na defini¸c˜ao de hiperbolicidade requer-emos que os vetores dos subfibrados invariantes sejam contra´ıdos ou expandidos por itera¸c˜ao, enquanto que na decomposi¸c˜ao dominada n˜ao pedimos controle sobre o tamanho absoluto dos vetores (mas apenas um controle relativo do tamanho dos vetores de E com rela¸c˜ao aos vetores de F ).

Em segundo lugar, relembramos o enunciado do teorema unidimensional de Ma˜n´e (para uma prova veja a nota [CM2]):

Theorem 1.3 (Theorem A de [M2]). Seja Λ um compacto invariante de um C2endomorfismo f : N → N (onde N = [0, 1] ou S1). Suponha que Λ n˜ao possui pontos cr´ıticos de f e todo ponto peri´odico de f em Λ ´e repulsor. Ent˜ao, Λ ´e um conjunto hiperb´olico (expansor) ou

Λ = S1 e f ´e topologicamente conjugada a uma rota¸c˜ao irracional.

Olhando para os enunciados do teorema 1.2 e o teorema de Ma˜n´e acima, vemos uma analogia ´obvia atrav´es do seguinte “dicion´ario”8:

Theorem B de [PS] Theorem A de [M2]

decomposi¸c˜ao dominada ausˆencia de pontos cr´ıticos

regularidade C2 regularidade C2

pontos peri´odicos em Λ de tipo sela pontos peri´odicos em Λ repulsores Λ = conj. hiperb. e/ou curvas com dinˆamica irrac. Λ ´e hiperb. ou curva com din. irrac.

Em terceiro lugar, notamos uma pequena omiss˜ao do theorem B de Pujals e Sambarino com rela¸c˜ao ao modo como enunciamos acima: no artigo original, eles n˜ao fazem men¸c˜ao expl´ıcita a hip´otese Λ ⊂ Ω(f ), a qual certamente ´e necess´aria para a prova funcionar.

8Uma observa¸c˜ao fundamental deve ser feita em rela¸c˜ao a primeira linha (decomposi¸c˜ao dominada e ausˆencia

de pontos cr´ıticos s˜ao “iguais”) deste dicion´ario. De fato, esta linha ´e um fato conceitual muito importante o qual foi levado ao extremo num recente e interessante trabalho de Pujals e Rodriguez-Hertz [PR].

(5)

Finalmente, vamos fechar esta longa introdu¸c˜ao dando a organiza¸c˜ao desta nota e alguns coment´arios sobre o atual “status” da conjectura de Palis. Para estas notas, dividiremos a prova do teorema 1.1 assim:

• na pr´oxima se¸c˜ao reduziremos a prova do teorema 1.1 ao teorema 1.2;

• na terceira se¸c˜ao reduziremos a prova do teorema 1.2 ao teorema 3.1 abaixo cujo

enunciado ´e mais pr´oximo do teorema de Ma˜n´e;

• na pen´ultima se¸c˜ao, reduziremos o teorema 3.1 ao lema fundamental desta nota (Main Lemma do artigo [PS]);

• finalmente, provaremos este “Main Lemma” de modo a completar a prova do

teo-rema 1.2.

O leitor ir´a notar na pr´oxima se¸c˜ao que comparando o trabalho de Pujals e Sambarino com o trabalho de Ma˜n´e sobre a conjectura de estabilidade, a grande novidade de Pujals e Sambarino ´e a introdu¸c˜ao do theorem B (teorema 1.2). Logicamente, o theorem A (teorema 1.1) ´e o “carro-chefe” do desfile em [PS], mas o teorema importante nas recentes aplica¸c˜oes ´e o theorem B (teorema 1.2) o qual ´e a real novidade no esquema da prova da conjectura de Palis.

Agora daremos trˆes palavras sobre o “status” da conjectura de Palis (at´e onde eu sei). A conjectura de Palis tem v´arios resultados (al´em do teorema de Pujals e Sambarino claro) em seu favor (especialmente em dimens˜ao 1): no caso unidimensional, Kozlovski, Shen e van Strien provaram a densidade de Axioma A (ap´os os esfor¸cos de diversos matem´aticos, dentre eles, Jakobson, Douady, Sullivan, Yoccoz, Lyubich, Avila e Moreira, etc.); em dimens˜ao 2, um resultado importante de Tsujii diz que endomorfismos gen´ericos devem possuir um n´umero finito de SRBs (uma esp´ecie de atrator erg´odico) cujas bacias cobrem quase toda variedade (entretanto, Tsujii n˜ao faz men¸c˜ao nenhuma a hiperbolicidade destes atratores); finalmente, em dimens˜ao mais alta (≥ 3), Crovisier e Pujals possuem um trabalho em conjunto (ainda em prepara¸c˜ao) sobre a prova de uma vers˜ao “topol´ogica” da conjectura de Palis: mais precisamente, eles mostram que longe de tangˆencias e ciclos heterodimensionais temos C1

densamente apenas um n´umero finito de atratores hiperb´olicos cujas bacias atraem um aberto

e denso9 da variedade.

Sem mais demoras, passemos agora ao estudo do teorema 1.1.

2. Prova do teorema 1.1 assumindo o teorema 1.2 Come¸camos por enunciar dois lemas b´asicos:

Lemma 2.1 (lemma 2.0.1 de [PS]). Seja f ∈ Dif f1(M2) um difeomorfismo tal que para alguma constante γ > 0 e para alguma vizinhan¸ca U (f ) de f vale

](Eps(g), Eup(g)) > γ

para todo g ∈ U (f ) e p ∈ P erhyp(g) (onde P erhyp(g) denota o conjunto de pontos peri´odicos

hiperb´olicos de tipo sela de g). Ent˜ao, P erhyp(f ) possui uma decomposi¸c˜ao dominada.

9Neste enunciado a condi¸c˜ao de medida total da conjectura de Palis foi trocada por aberto e denso, foi por

(6)

Para o segundo lema, denotaremos por U := Dif f1(M2)−{f tem tangˆencia homocl´ınica }

e Ω0(f ) = Ω(f ) − (P (f ) ∪ F (f )), onde P (f ) ´e o conjunto de po¸cos de f e F (f ) ´e o conjunto das fontes de f . Note que Ω0(f ) ´e um compacto invariante (exerc´ıcio).

Lemma 2.2 (lemma 2.0.2 de [PS]). Existe U1 ⊂ U aberto e denso em U tal que Ω0(g) possui decomposi¸c˜ao dominada para todo g ∈ U1.

Munidos destes lemas, podemos provar o teorema 1.1 assim:

Prova do teorema 1.1 (m´odulo lemas 2.1, 2.2 e teorema 1.2). Seja f um C1 difeomorfismo

longe de tangˆencias homocl´ınicas, ou seja, f ∈ U. Nosso objetivo ´e mostrar que f pode ser C1 aproximado por um difeomorfismo Axioma A. Com esse intuito, usamos o teorema

de Kupka-Smale e o fato de U1 ser aberto e denso em U para fixarmos g ∈ U1 um C2

difeomorfismo10 de Kupka-Smale arbitrariamente pr´oximo de f . Olhamos para o conjunto Ω0(g). Pelo lema 2.2, Ω0(g) possui decomposi¸c˜ao dominada e o fato de g ser Kupka-Smale

diz que os pontos peri´odicos de g em Ω0(g) s˜ao hiperb´olicos de tipo sela. Mais ainda, g ´e C2. Logo, o teorema 1.2 garante que Ω

0(g) ´e a uni˜ao de um conjunto hiperb´olico e uma

cole¸c˜ao finita de curvas peri´odicas normalmente hiperb´olicas com dinˆamica irracional. Por´em, a existˆencia destas curvas n˜ao ´e gen´erica11e U1 ´e aberto, podemos assumir que g n˜ao possui

tais curvas, de modo que Ω0(g) ´e hiperb´olico.

Afirmamos que Ω(g) = Ω0(g) ∪ P (f ) ∪ F (f ) ´e hiperb´olico. Para isto, basta mostrar que

os conjuntos P (f ) e F (f ) de po¸cos e fontes de f s˜ao finitos. Suponha que #P (f ) = ∞ (o caso #F (f ) ´e an´alogo) e considere o conjunto n˜ao-vazio P (f ) − P (f ) ⊂ Ω0(g). Como Ω0(g)

´e hiperb´olico, existe uma vizinhan¸ca U de P (f ) − P (f ) cujo maximal invariante T

n∈Z

gn(U ) ´e

hiperb´olico (de tipo sela). Por´em, sendo U uma vizinhan¸ca de P (f )−P (f ), vemos que apenas um n´umero finito de po¸cos de f possui sua ´orbita passando no complementar de U . Logo, a hip´otese de #P (f ) = ∞ acarreta na existˆencia de um po¸co em T

n∈Z

gn(U ), uma contradi¸c˜ao com o fato deste conjunto ser hiperb´olico (de tipo sela).

Encerrando a prova do teorema 1.1, Pujals e Sambarino mostram que g satisfaz ao Axioma A assim: como o conjunto limite L(g) est´a contido em Ω(g) e Ω(g) ´e hiperb´olico (conforme discutido acima), temos que L(g) ´e hiperb´olico. Pelos trabalhos de Newhouse, segue que os pontos peri´odicos de g s˜ao densos em L(g) e podemos fazer decomposi¸c˜ao espectral de

L(g). Por outro lado, caso esta decomposi¸c˜ao espectral n˜ao tenha ciclos, temos Ω(g) = L(g),

donde g verifica o Axioma A (pois j´a sabemos que L(g) = P er(g)). Em seguida, notamos que o fato de M ter dimens˜ao 2 diz que os ciclos de L(g) s´o podem ser formados por pe¸cas b´asicas de tipo sela. Da´ı, afirmamos que os fatos de g ser Kupka-Smale e a dimens˜ao de

M ser 2 implicam que as interse¸c˜oes das variedades invariantes das pe¸cas envolvidas no 10Aten¸c˜ao a regularidade C2aqui!

11Com efeito, podemos fazer duas perturba¸c˜oes para destruir estas curvas do seguinte jeito: primeiro

fazemos um caminho suave ligando a dinˆamica da curva at´e identidade. Como os n´umeros de rota¸c˜ao de

f nesta curva e da identidade s˜ao distintos (um ´e irracional e o outro ´e zero, podemos achar difeomorfismo

arbitrariamente pr´oximo com n´umero de rota¸c˜ao racional. Em particular, todos os pontos desta curva agora passam a ser peri´odicos com o mesmo per´ıodo. Da´ı fazemos uma nova perturba¸c˜ao para que a dinˆamica fique Kupka-Smale. Como pontos peri´odicos de mesmo per´ıodo s˜ao isolados, a curva ´e destru´ıda.

(7)

ciclo devem ser todas transversais. Isso segue do fato das interse¸c˜oes no ciclos provirem de pontos peri´odicos (uma situa¸c˜ao parecida com o Axioma B). Com efeito, sendo as pe¸cas localmente maximais, podemos usar a constru¸c˜ao de Newhouse e Palis (a qual usa o fato dim(M ) = 2) de parti¸c˜oes de Markov para obter que uma das seguintes possibilidades: ou os pontos das pe¸cas envolvidas no ciclos n˜ao est˜ao nos bordos est´avel e inst´avel das pe¸cas (i.e., eles s˜ao acumulados pelos dois lados de Ws e Wu por pontos das pe¸cas) – nessa situa¸c˜ao, aproximamos convenientemente esses pontos por ´orbitas peri´odicas de modo que o ciclo ´e gerado por ´orbitas peri´odicas; ou algum ponto de alguma pe¸ca est´a no bordo est´avel ou inst´avel de uma pe¸ca: nesse caso, Newhouse e Palis garantem que este ponto ´e peri´odico. Neste ponto, agradecemos ao Sylvain Crovisier o qual nos ajudou a esclarecer esse argumento numa conversa em 25/01/2008. Com isso, vemos que, em qualquer possibilidade, podemos assumir que o ciclo ´e gerado por pontos peri´odicos (como afirmamos). Sendo g Kupka-Smale, temos que o ciclo ´e formado apenas por interse¸c˜oes transversais das variedades invariantes de algumas pe¸cas. Em particular, segue que os pontos de interse¸c˜ao destas variedades deveriam estar em P er(g) = L(g), uma contradi¸c˜ao com a defini¸c˜ao de ciclo. Logo, g n˜ao possui ciclos

e a demonstra¸c˜ao est´a terminada. ¤

Agora iremos completar uma parte da prova do teorema 1.1 mostrando os lemas 2.1 e 2.2.

Prova do lema 2.1. Para come¸car a demonstra¸c˜ao, revisaremos um resultado fundamental na

teoria de C1-difeomorfismos:

Lemma 2.3 (Lema de Franks). Sejam f ∈ Dif f1(M2) e U (f ) uma C1-vizinhan¸ca de f . Ent˜ao, existem ε > 0 e U0(f ) ⊂ U (f ) tais que, para todo difeomorfismo g ∈ U0(f ), todo subconjunto finito {x1, . . . , xN} ⊂ M , toda vizinhan¸ca U de {x1, . . . , xN} e toda cole¸c˜ao

finita de transforma¸c˜oes lineares Li : TxiM → Tg(xi)M com kLi− Dg(xi)k ≤ ε ∀ 1 ≤ i ≤ N,

podemos encontrar um difeomorfismo h ∈ U (f ) satisfazendo h(x) = g(x) para qualquer x ∈ {x1, . . . , xN} ∪ (M − U ) e Dh(xi) = Li para qualquer 1 ≤ i ≤ N .

Agora consideramos f ∈ Dif f1(M2) e U (f ) a vizinhan¸ca de f das hip´oteses do lema e

fixamos ε > 0 e U0(f ) fornecidos pelo lema de Franks. Afirmamos que nas condi¸c˜oes do

lema 2.1, existe δ > 0 tal que para todo g ∈ U0(f ) e p ∈ P erhyp(g) vale

|λ(p)| < (1 − δ)n ou |σ(p)| > (1 + δ)n,

onde n ´e o per´ıodo de p e |λ(p)| < 1 < |σ(p)| s˜ao os autovalores de Dgn(p) : T

pM →

TpM . Em outras palavras, estamos dizendo que a hip´otese de ˆangulo entre os subespa¸cos

invariantes afastado de zero implica que a “for¸ca de hiperbolicidade” dos pontos peri´odicos deve ser uniforme (ao longo de uma das dire¸c˜oes pelo menos) numa vizinhan¸ca de f . A prova desta afirma¸c˜ao segue por contradi¸c˜ao: suponha que existem δm → 0, gm ∈ U0(f ) e pm∈ P erhyp(gm) com per´ıodo nm tais que

(1 − δm)nm < |λ(pm)| < 1 e 1 < |σ(pm)| < (1 + δm)nm.

A id´eia ser´a usar o lema de Franks para reduzir o ˆangulo entre os subespa¸cos invariantes de pm, o que d´a um absurdo. Concretamente, fixamos m inteiro grande e introduzimos as

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transforma¸c˜oes lineares Ti : Tgi(pm)M → Tgi(pm)M definidas por Ti|Es(gi(pm)) = (1 − β1)Id

e Ti|Eu(gi(p

m)) = (1 + β2)Id, onde β1 = 1 − λ(pm)1/nm e β2 = σ(pm)1/nm− 1. Note que a

condi¸c˜ao

](Eps(g), Eup(g)) > γ

e a hip´otese sobre λ(pm), σ(pm) implicam que as transforma¸c˜oes lineares Ti est˜ao

arbitraria-mente pr´oximas da identidade quando m → ∞.

Tomemos u, v ∈ TpmM vetores quaisquer com ](u, v) < γ e fixemos β3 > 0 pequeno tal

que a transforma¸c˜ao linear S : TpmM → TpmM dada por S(u) = (1 − β3)u, S(v) = (1 + β3)v

est´a muito pr´oxima da identidade. Finalmente, definimos Li : Tgi(pm)M → Tgi(pm)M por

Li = Ti+1◦ Dg(gi(pm)) para 0 ≤ i ≤ nm− 2 e Lnm−1 = S ◦ T0◦ Dg(gnm−1(p)). Escolhendo

convenientemente β3 > 0, uma conta simples mostra que kLi − Dg(gi(p))k < ε para todo

0 ≤ i ≤ nm− 1. Aplicando o lema de Franks, obtemos um difeomorfismo h ∈ U (f ) tal que

pm ´e um ponto peri´odico de h e Dh(hi(pm)) = Li. Como Dhnm(pm) = Lnm−1◦ · · · ◦ L0 = S,

segue que pm ∈ P erhyp(h) e Es

pm(h) = R · u e Epmu (h) = R · v, donde

](Epms (g), Epmu (h)) < γ, uma contradi¸c˜ao a qual prova nossa afirma¸c˜ao.

Com esta afirma¸c˜ao em m˜aos, o resto da prova segue argumentos cl´assicos de Ma˜n´e [M3]. Sendo estes argumentos bem conhecidos da literatura e como eles foram detalhados em [PS] (p. 968–971), iremos nos contentar em fornecer apenas um esquema deste argumento. Primeiramente observa-se que basta mostrar que o conjunto P erhyp(f ) possui uma decom-posi¸c˜ao dominada (porque isto implica diretamente que P erhyp(f ) tem decomposi¸c˜ao

dom-inada). Em segundo lugar, um exerc´ıcio elementar para o leitor consiste em verificar que a condi¸c˜ao de decomposi¸c˜ao dominada em P erhyp(f ) equivale a condi¸c˜ao: existe L inteiro tal que para todo p ∈ P erhyp(f ) podemos encontrar 1 ≤ m ≤ L com

kDfm|Es(p)k · kDf−m|Eu(fm(p))k < 1/2.

Raciocinando por contradi¸c˜ao, assuma que L n˜ao existe. Isto significa que existe uma sequˆencia pn∈ P erhyp(f ) com

kDfm|Es(p)k · kDf−m|Eu(fm(p))k ≥ 1/2

para todo 1 ≤ m ≤ n. Observemos que os per´ıodos de pn formam uma sequˆencia ilimitada.

De fato, caso os per´ıodos de pn fossem limitados, poder´ıamos passar a uma subsequˆencia de

maneira que, sem perda de generalidade, pn iria convergir a um ponto peri´odico p, Es(p n)

convergiria para um subespa¸co invariante E(p) e Eu(p) convergiria para um subespa¸co

in-variante F (p). Note que p n˜ao ´e hiperb´olico mas, pela afirma¸c˜ao do par´agrafo anterior, p tem dois autovalores reais, um deles com m´odulo diferente de 1. Por outro lado, nossas hip´oteses sobre pn garantiriam que

kDfm|E(p)k · kDf−m|F (fm(p))k ≥ 1/2,

o que ´e imposs´ıvel porque um dos autovalores tem m´odulo diferente de 1.

Denotemos por mn o per´ıodo de pn (o qual verifica mn→ ∞ quando n → ∞ como vimos

acima). Usando a afirma¸c˜ao acima, podemos assumir sem perda de generalidade que

(9)

para todo n (sendo o caso de |σ(pn)| > (1 + δ)mn an´alogo). A id´eia de Ma˜n´e ´e a seguinte:

fixamos v ∈ Es(p

n) e w ∈ Eu(pn) vetores unit´arios onde n ´e um inteiro grande (para que mn

seja arbitrariamente grande e |λ(pn)| muito pequeno). O fato de |λ(pn)| tender

exponencial-mente r´apido para zero combinado com o fato da domina¸c˜ao falhar12permite introduzir uma fam´ılia de transforma¸c˜oes lineares Li ε-pr´oximas de Df (fi(pn)) as quais “deitam”

ligeira-mente os espa¸cos inst´aveis Eu(fi(p), f ) na dire¸c˜ao de Es(fi(p), f ) enquanto que eles n˜ao

alteram o comportamento dos espa¸cos Es(fi(p), f ) (veja [PS] p.969–970). Utilizando o lema

de Franks, obtemos um difeomorfismo g C1-pr´oximo de f com Dg(gi(p)) = Li. Como

con-sequˆencia, vemos que Es(gi(p), g) = Es(fi(p), f ) (porque L

in˜ao altera os espa¸cos est´aveis de

f ), Eu(p, g) = Eu(p, f ), mas Eu(gm(p), g) = L

m−1◦· · ·◦L0(Eu(p, f )) faz ˆangulo menor que γ

com Es(gm(p), g) para algum 0 < m < m

n(isto ´e o efeito das muitas “rota¸c˜oes” compostas).

Da´ı temos uma contradi¸c˜ao com a hip´otese de ˆangulos afastados de zero, o que mostra que

P erhyp(f ) tem decomposi¸c˜ao dominada. Isto termina a prova do lema 2.1. ¤

Prova do lema 2.2. Come¸camos por enunciar um resultado sobre ˆangulos de subespa¸cos

in-variantes e a existˆencia de tangˆencias homoc´ınicas:

Lemma 2.4. Sejam f um C1 difeomorfismo e ε > 0. Assuma que f possui um ponto peri´odico com autovalores |λ| < 1 < |σ| satisfazendo13 |λσ| < 1 e

](Es(p), Eu(p)) := γ < |σ| − 1 2(|σ| + 1) · ε.

Ent˜ao, existe g um difeomorfismo ε C1-pr´oximo de f tal que p ´e ponto peri´odico hiperb´olico de g e g possui tangˆencia homocl´ınica associada a p.

Proof. Os detalhes da demonstra¸c˜ao deste fato est˜ao em [PS] p. 972–973. Geometricamente,

a prova passa por fazer uma pertuba¸c˜ao local de f em torno de p de modo a “empurrar” a

Ws(p) na dire¸c˜ao de Wu(p) com uma pequena perturba¸c˜ao a qual toma proveito da hip´otese

de ˆangulo pequeno entre Eu(p) e Es(p). Veja a figura 1 abaixo. ¤

Figure 1. Criando tangˆencias a partir de ˆangulos pequenos.

12O que implica que o tamanho de kDfn(p)vk ´e compar´avel com o tamanho de kDfn(p)wk: mais

precisa-mente, kDfn(p)vk ≤ 2kDfn(w)k para todo n.

(10)

Usando este lema como ferramenta (al´em do lema de Franks), Pujals e Sambarino [PS, p.974–975] concluem que

Lemma 2.5. Seja f um difeomorfismo longe de tangˆencias homocl´ınicas (i.e., f ∈ U).

Assuma que f ´e Kupka-Smale. Ent˜ao, existem γ > 0 e U (f ) vizinhan¸ca de f tais que

](Es(p), Eu(p)) > γ

para todo g ∈ U (f ) e p ∈ P erhyp(g).

Com este lema na nossa “caixa de ferramentas”, podemos finalizar a prova do lema 2.2 do seguinte jeito. Definimos a aplica¸c˜ao Γ associando para cada difeomorfismo g o conjunto Γ(g) = P erhyp(g). Como pontos peri´odicos hiperb´olicos nunca s˜ao destru´ıdos por pequenas

perturba¸c˜oes, vemos que Γ ´e uma aplica¸c˜ao semi-cont´ınua inferiormente (i.e., Γ(g) pode “ex-plodir” mas nunca “implode” quando variamos g). Da topologia geral sabemos que aplica¸c˜oes semi-cont´ınuas possuem um conjunto residual de pontos de continuidade. Denotemos por R1 o conjunto (residual) de pontos de continuidade de Γ. Em seguida, definimos KS como o conjunto dos difeomorfismos de Kupka-Smale e R2 o conjunto dos difeomorfismos g tais que

Ω(g) = P er(g). Pelos teoremas de Kupka-Smale e densidade geral de Pugh (resp.), temos que KS e R2 s˜ao conjuntos residuais. Tomamos R := R1∩ KS ∩ R2 subconjunto residual

de Dif f1(M2) e R

0 := R ∩ U subconjunto residual de U.

Para uso posterior, lembramos o seguinte teorema:

Theorem 2.1 (Pliss). Seja f um C1 difeomorfismo com infinitos po¸cos ou fontes (i.e.,

#P (f ) ∪ F (f ) = ∞). Ent˜ao, para todo ε > 0, existe g um difeomorfismo ε C1-pr´oximo de f e p ∈ P (f ) tal que p ´e ponto peri´odico n˜ao-hiperb´olico de g. Em particular, se bifurcamos este ponto peri´odico n˜ao-hiperb´olico, podemos achar h um difeomorfismo ε C1-pr´oximo de f com um ponto peri´odico hiperb´olico de tipo sela q arbitrariamente pr´oximo de p.

Neste ponto, afirmamos que Ω0(f ) = P erhyp(f ) para todo f ∈ R0. Com efeito, como a

inclus˜ao P erhyp(f ) ⊂ Ω0(f ) sempre vale, nossa tarefa ´e mostrar Ω0(f ) ⊂ P erhyp(f ). Supondo

que este n˜ao fosse o caso, ter´ıamos um ponto x ∈ Ω0(f ) − P erhyp(f ). Fixe U uma vizinhan¸ca

de P erhyp(f ) tal que x /∈ U . Como f ∈ R0 ⊂ R1, segue que podemos tomar uma vizinhan¸ca U (f ) de f tal que todo g ∈ U (f ) satisfaz P erhyp(g) ⊂ U . Por outro lado, como f ∈ R0 ⊂ R2, x deve ser acumulado por pontos peri´odicos e sendo x ∈ Ω0(f ) − P erhyp(f ) um ponto

n˜ao-peri´odico, vemos que x deve ser acumulado por uma sequˆencia de po¸cos ou fontes. Em particular, f deve possuir uma quantidade infinita de po¸cos e/ou fontes. Pelo resultado de Pliss (teorema 2.1), existe g ∈ U (f ) e q ∈ P erhyp(g) arbitrariamente pr´oximo de x. Como

x /∈ U , isto implica que podemos escolher g ∈ U (f ) tal que P erhyp(g) * U , uma contradi¸c˜ao com a escolha de U (f ). Isto prova nossa afirma¸c˜ao.

Utilizando nossa afirma¸c˜ao junto com o lema 2.5 e o lema 2.1, vemos que Ω0(f ) possui uma

decomposi¸c˜ao dominada E ⊕ F . Combinando esta informa¸c˜ao com o fato de f ∈ R0 ⊂ R,

podemos fixar U0, U vizinhan¸cas de Ω0(f ) com U0 ⊂ U e U (f ) ⊂ U uma vizinhan¸ca de f tais

que o maximal invariante T

n∈Z

gn(U ) possua uma decomposi¸c˜ao dominada e P er

hyp(g) ⊂ U0

para todo g ∈ U (f ). Afirmamos que Ω0(g) ⊂ U para todo g ∈ U (f ). De fato, caso contr´ario, existiriam g ∈ U (f ) e x ∈ Ω0(g) ∩ (M − U ). Claramente x n˜ao ´e um ponto peri´odico. Al´em

(11)

disso, x n˜ao pode ser acumulado por po¸cos e/ou fontes14de g. Por outro lado, aplicando o

Closing Lemma de Pugh, ter´ıamos arbitrariamente perto de g um difeomorfismo h ∈ U (f ) tal que x seria um ponto peri´odico hiperb´olico de h. Como x n˜ao ´e acumulado por po¸cos e/ou fontes de g, x seria um ponto peri´odico hiperb´olico de tipo sela de h, o que seria uma contradi¸c˜ao com a continuidade de Γ em f . Isto prova que Ω0(g) ⊂ U para todo g ∈ U (f ),

de modo que para todo g ∈ U (f ), Ω0(g) possui decomposi¸c˜ao dominada (pela escolha de U ).

Encerrando a demonstra¸c˜ao do lema 2.2, vemos que

U1 =

[

f ∈R0 U (f )

´e o subconjunto aberto e denso de U desejado. ¤

Resumindo a discuss˜ao desta se¸c˜ao, n´os fizemos a prova do teorema 1.1 (conjectura de Palis) inicialmente assumindo dois lemas ( 2.1 e 2.2) e o teorema 1.2. Em seguida, provamos os dois lemas, de modo que fica “apenas” a tarefa de mostrar o teorema 1.2 (o que pretendemos fazer nas pr´oximas 3 se¸c˜oes deste texto).

3. Prova do teorema 1.2 assumindo o teorema 3.1 Nesta se¸c˜ao, pretendemos reduzir o teorema 1.2 ao seguinte resultado

Theorem 3.1 (Theorem 3.1 de [PS]). Seja f um C2 difeomorfismo de M2 e Λ ⊂ Ω(f ) um compacto f -invariante com decomposi¸c˜ao dominada. Assuma que todos os pontos peri´odicos de f em Λ s˜ao hiperb´olicos de tipo sela. Ent˜ao, uma das duas alternativas abaixo ocorre:

• Λ ´e um conjunto hiperb´olico ou

• Λ cont´em uma curva fechada simples C peri´odica (i.e., C ´e invariante por fm para algum m inteiro) e normalmente hiperb´olica tal que fm|

C : C → C ´e topologicamente

conjugada a uma rota¸c˜ao irracional (onde m ´e o per´ıodo de C).

Conforme dissemos na introdu¸c˜ao, este resultado tem duas vantagens sobre o teorema 1.2 (apesar deles serem equivalentes no fim das contas): o seu enunciado ´e um pouco mais fraco e se assemelha mais ao enunciado do teorema 1.3 de Ma˜n´e15. Por enquanto, iremos assumir

o teorema 3.1 e ver como o teorema 1.2 seguiria.

Prova do teorema 1.2 (m´odulo teorema 3.1). As hip´oteses do teorema 1.2 fornecem um

com-pacto f -invariante Λ ⊂ Ω(f ) com decomposi¸c˜ao dominada TΛ = E ⊕ F tal que todos os seus pontos peri´odicos s˜ao hiperb´olicos de tipo sela. Nestas condi¸c˜oes, desejamos provar que Λ pode ser escrito como a uni˜ao de um conjunto hiperb´olico e um n´umero finito de curvas fechadas simples peri´odicas (normalmente hiperb´olicas) com dinˆamica irracional. Come¸camos por notar o seguinte fato trivial: em vista do teorema 3.1, basta mostrar que Λ cont´em ape-nas um n´umero finito de curvas fechadas simples peri´odicas normalmente hiperb´olicas com

14Porque sen˜ao poder´ıamos usar o teorema 2.1 de Pliss para contrariar a continuidade de Γ em f do mesmo

modo como fizemos na afirma¸c˜ao anterior.

15Ou seja, este teorema seria uma generaliza¸c˜ao “mais natural” do teorema de Ma˜n´e do ponto de vista de

(12)

dinˆamica irracional16. Neste sentido, iremos argumentar por contradi¸c˜ao: suponha que existe

uma sequˆencia Cn de curvas simples fechadas invariantes por fmn normalmente hiperb´olicas

com dinˆamica irracional. Sem perda de generalidade, podemos assumir que estas curvas s˜ao

normalmente atrativas, de maneira17 que TxCn = F (x) para todo n. Afirmamos que neste

contexto o comprimento destas curvas n˜ao tende a zero: Lemma 3.1. Existe η > 0 tal que diam(Cn) > η para todo n.

Proof. Suponha que o lema ´e falso. Passando a subsequˆencia se necess´ario, podemos assumir

que diam(Cn) → 0 quando n → ∞. Al´em disso, podemos fixar xn∈ Cn e assumir que xn→ x

(passando a uma nova subsequˆencia). Sendo Λ ´e compacto, temos que x ∈ Λ. Por outro lado, como diam(Cn) → 0, vemos que para qualquer escolha de pontos yn∈ Cn, vale yn→ x. Como

decomposi¸c˜oes dominadas s˜ao cont´ınuas, temos F (yn) → F (x). Por outro lado, trivializando o fibrado tangente numa vizinhan¸ca de x, vemos que, para todo n grande, podemos escolher

yn, zn ∈ Cn tais que TynCn e TznCn s˜ao ortogonais, i.e., F (yn) ⊥ F (zn) (porque Cn ´e curva

fechada). Isto ´e um absurdo porque F (yn) → F (x) e F (zn) → F (x). Veja a figura 2 abaixo

para uma descri¸c˜ao pict´orica desse argumento. ¤

Figure 2. Curvas fechadas com diˆametro pequeno n˜ao podem ser sempre tangentes a dire¸c˜ao F .

Nosso objetivo seguinte ser´a mostrar que n˜ao existem infinitas curvas peri´odicas de dinˆamica irracional com diˆametro afastado de zero. Grosseiramente falando, a id´eia ´e usar que a dinˆamica de f nas curvas sendo irracional (e como o c´ırculo n˜ao possui homeomorfismos expansores), o subfibrado E deve ser uniformemente contrativo. Da´ı como as curvas tem diˆametro afastado de zero, suas bacias devem ter um tamanho bem-definido, de modo que s´o pode haver um n´umero finito de tais curvas (j´a que as bacias s˜ao disjuntas).

16Com efeito, denotando por Λ

2 a uni˜ao de tais curvas (contidas em Λ), vemos que o fato destas curvas

serem isoladas (por serem normalmente hiperb´olicas e termos apenas uma quantidade finita destas curvas) combinado com a hip´otese Λ ⊂ Ω(f ) garante que o conjunto Λ1= Λ − Λ2´e um compacto f -invariante (o qual

est´a contido em Ω(f ) e possui decomposi¸c˜ao dominada). Aplicando o teorema 3.1, como Λ1 n˜ao possui curvas

com dinˆamica irracional (por defini¸c˜ao), vemos que Λ1´e hiperb´olico, o que prova o teorema 1.2.

17Isso porque se C ⊂ Λ ´e uma curva peri´odica com dinˆamica irracional, ent˜ao TxC ´e um subespa¸co invariante.

(13)

Para formalizar esta id´eia, come¸camos por observar que na defini¸c˜ao de decomposi¸c˜ao dominada:

kDfn|E(x)k · kDf−n|F (fn(x))k ≤ C · λn,

onde C > 0 e λ ∈ (0, 1), podemos assumir que C = 1. De fato, devemos ter um pouco de aten¸c˜ao aqui: o jeito cl´assico de remover a constante C (no contexto hiperb´olico por exemplo) ´e usar a chamada m´etrica adaptada. Por´em, esta t´ecnica n˜ao se aplica aqui porque queremos ter uma m´etrica suave no que se segue e geralmente as m´etricas adaptadas n˜ao s˜ao muito suaves. Em qualquer caso, existe uma maneira mais simples de livrar-se da constante C em nosso caso: simplesmente trocamos f por um iterado fm para m suficientemente grande.

Como o enunciado do teorema 1.2 ´e “invariante” por esta mudan¸ca, esta troca ´e inofensiva. Al´em disso, relembramos um lema fundamental de Pliss sobre trechos de ´orbitas com boas propriedades hiperb´olicas (conhecidos na literatura mais recente como tempos hiperb´olicos): Lemma 3.2 (Pliss). Sejam f um difeomorfismo e 0 < γ1 < γ2 < 1 duas constantes dadas. Ent˜ao, existem N = N (γ1, γ2, kf kC1) inteiro e c = c(γ1, γ2, kf kC1) > 0 tais que, para qualquer x ∈ M e qualquer subespa¸co S ⊂ TxM com

n−1Y i=0

kDf |Sik ≤ γ1n (onde n ≥ N e Si= Dfi(S)),

podemos encontrar inteiros 0 ≤ n1< n2 < · · · < nl≤ n verificando j

Y

i=nr

kDf |Sik ≤ γ2j−nr

para todo 1 ≤ r ≤ l e nr ≤ j ≤ n, onde l ≥ cn.

Um corol´ario ´util (para nossos pr´opositos) do lema de Pliss ´e

Corollary 3.1. Nas condi¸c˜oes do lema de Pliss, dados x ∈ M , S ⊂ TxM um subespa¸co e m

inteiro satisfazendo

n−1Y i=0

kDf |Sik ≤ γ1n para todo n ≥ m,

ent˜ao podemos encontrar uma sequˆencia infinita de inteiros 0 ≤ n1 < n2. . . tais que

j

Y

i=nr

kDf |Sik ≤ γ2j−nr

para todo j ≥ nr e r ∈ N.

A prova deste corol´ario usando o lema de Pliss fica como um exerc´ıcio para o leitor. Uma observa¸c˜ao simples (mas relevante no nosso contexto) ´e a seguinte: quando S ⊂ TxM ´e um

subespa¸co unidimensional, temos que

kDfn|Sk =

n−1Y i=0

(14)

Esta observa¸c˜ao sempre estar´a impl´ıcita nas nossas aplica¸c˜oes futuras do lema de Pliss (e seu corol´ario). Fechando a se¸c˜ao de preliminares (visando formalizar a id´eia acima), precisaremos falar sobre variedades localmente invariantes tangentes as dire¸c˜oes E e F da decomposi¸c˜ao dominada. O primeiro passo nesta linha ser´a mostrar que nas hip´oteses do teorema 1.2, a condi¸c˜ao de domina¸c˜ao pode ser melhorada para 2-domina¸c˜ao:

Lemma 3.3. Nas hip´oteses do teorema 1.2, existem C > 0 e 0 < σ < 1 tais que para todo

x ∈ Λ e n ≥ 0 temos a condi¸c˜ao de 2-domina¸c˜ao: • kDfn|E(x)k · kDf−n|F (fn(x))k2 ≤ Cσn • kDfn|E(x)k2· kDf−n|F (fn(x))k ≤ Cσn

Proof. A id´eia deste lema ´e a seguinte: a condi¸c˜ao de 2-domina¸c˜ao vem da ausˆencia de

po¸cos em Λ. Mais precisamente, note que a condi¸c˜ao do primeiro item equivale18a seguinte propriedade: existe L inteiro positivo tal que para todo x ∈ Λ podemos encontrar 1 ≤ m ≤ L com

kDfm|E(x)k · kDf−m|F (fm(x))k2 < 1/2.

Agora suponha que o primeiro item da conclus˜ao do lema ´e falso. Isto implica que para todo

n ≥ 0 existe xn∈ Λ tal que

kDfj|E(xn)k · kDf−j|F (fj(xn))k2≥ 1/2

para qualquer 0 ≤ j ≤ n. A menos de passar a subsequˆencia, podemos assumir que xn→ x ∈

Λ. Nosso objetivo ser´a encontrar um po¸co p ∈ ω(x) ⊂ Λ, o que fornecer´a uma contradi¸c˜ao com as hip´oteses do teorema 1.2 (segundo as quais Λ n˜ao tem po¸co nem fonte). Para isto, passamos ao limite na estimativa anterior e utilizamos a condi¸c˜ao de decomposi¸c˜ao dominada (com C = 1) para obter

1/2 ≤ kDfj|E(xn)k · kDf−j|F (fj(xn))k2 < λjkDf−j|F (fj(x))k.

Como F ´e unidimensional, kDf−j|F (fj(x))k = kDfj|F (x)k−1, de modo que a estimativa

acima diz que

kDfj|F (x)k ≤ 2λj

para todo j ≥ 0. Em outras palavras, acabamos de mostrar que a ausˆencia de domina¸c˜ao for¸ca o fibrado F a ser “contrativo”. Usando novamente a domina¸c˜ao, podemos passar a estimativa acima para o fibrado E:

kDfj|E(x)k ≤ λjkDfj|F (x)k ≤ 2λ2j.

Em seguida lembramos que o fato da decomposi¸c˜ao TΛM = E ⊕ F ser dominada implica que

](E, F ) ≥ γ > 0. Da´ı segue que, para qualquer z ∈ Λ e n ≥ 0, vale

kDfn(z)k ≤ K · max{kDfn|E(z)k, kDfn|F (z)k} ≤ K · kDfn|F (z)k

para alguma constante K > 0. Em particular, sendo F unidimensional, temos

kDfqn(z)k ≤ n−1Y j=0 kDfq(fjq(z))k ≤ n−1Y j=0 KkDfq|F (fjq(z))k = kDfqn|F (z)k.

(15)

Fixando λ < σ0 < 1 e tomando q inteiro grande tal que 2Kλq< σ

0, vemos que para o ponto x ∈ Λ escolhido acima vale

n−1Y j=0

kDfq(fjq(x))k ≤ Kn· (2λqn) ≤ σn0 para todo n ≥ 0. Fazendo g := fq, obtemos que

n−1Y j=0

kDg(gj(x))k ≤ σ0n

para todo n ≥ 0. Dito de outro modo, passamos o fato de Df ser contrativo ao longo de F (x) para o fato de um iterado grande fq ter derivada contrativa ao longo da ´orbita de x. Com

isso, podemos aplicar o corol´ario 3.1 do lema de Pliss para obter uma sequˆencia de inteiros

nk→ ∞ tal que

kDgn(gnk(x)k ≤

n−1Y j=0

kDg(gj+nk(z))k ≤ σ1n

para todo k e n. Combinando esta informa¸c˜ao com o fato de g ser um difeomorfismo C1,

segue que, fixando λ < σ0 < σ1< σ2 < 1, existe uma constante ρ > 0 (independente de k) tal

que g atua como uma σ2-contra¸c˜ao na bola B(gnk(x), ρ) para todo k (i.e., d(gj(y), gj(z)) ≤ σ2j · d(y, z) para todo j ≥ 0 e y, z ∈ B(gnk(x), ρ)). Utilizando esta informa¸c˜ao, o leitor ´e

convidado a mostrar que g = fq possui um po¸co p em ω(x) ⊂ Λ. Conforme j´a dissemos antes, isto ´e uma contradi¸c˜ao (porque no teorema 1.2 assumimos que Λ n˜ao tem po¸cos). ¤ Da teoria de lamina¸c˜oes invariantes de Hirsch, Pugh e Shub [HPS], temos a seguinte consequˆencia interessante da 2-domina¸c˜ao:

Corollary 3.2. Denotemos por Iµ= (−µ, µ). Nas condi¸c˜oes do lema anterior, existem duas

lamina¸c˜oes cont´ınuas φcs : Λ → Emb2(I

1, M ) e φcu : Λ → Emb2(I1, M ) tais que as curvas Wcs

ε (x) := φcs(Iε) e Wεcu(x) := φcu(Iε) satisfazem as seguintes propriedades:

• TxWεcs(x) = E(x) e TxWεcu(x) = F (x) (as curvas s˜ao tangentes as distribui¸c˜oes E e

F );

• para todo 0 < ε1 < 1 existe 0 < ε2 tal que f (Wεcs2(x)) ⊂ W

cs ε1(x) e f (W cu ε2(x)) ⊂ Wcu ε1(x) (invariˆancia local).

Em particular, da invariˆancia local, temos que, para todo ε > 0, existe δ > 0 tal que • y ∈ Wcs

ε (x) e d(fj(y), fj(x)) ≤ δ para 0 ≤ j ≤ n implica fj(y) ∈ Wεcs(fj(x)) para

0 ≤ j ≤ n;

• y ∈ Wcu

ε (x) e d(f−j(y), f−j(x)) ≤ δ para 0 ≤ j ≤ n implica f−j(y) ∈ Wεcu(f−j(x))

para 0 ≤ j ≤ n.

Em outras palavras, estas lamina¸c˜oes s˜ao “dinamicamente definidas” enquanto as ´orbitas dos pontos ficam pr´oximas.

Agora veremos um crit´erio f´acil (baseado no terceiro item do corol´ario acima) e ´util para saber quando as variedades centro-est´aveis locais Wcs

ε (x) s˜ao variedades est´aveis

(16)

Corollary 3.3. Sejam x ∈ Λ e 0 < γ < 1 tais que kDfn|E(x)k ≤ γnpara todo n ≥ 0. Ent˜ao,

existe ε > 0 tal que `(fn(Wcs

ε (x))) → 0 quando n → ∞, i.e., a variedade centro-est´avel local

Wcs

ε (x) ´e uma variedade est´avel local.

Proof. Fixemos ε1> 0 e tomemos δ = δ(ε1) > 0 dado pelo corol´ario anterior. Fixando c > 0

com γ1 = (1 + c)γ < 1, podemos assumir δ pequeno tal que definindo eE(z) := TzWεcs1(y)

valha

kDf | eE(z)k

kDf | eE(w)k ≤ 1 + c

para todo z, w ∈ Wcs

ε1(y) e y ∈ Λ. Em seguida tomamos ε > 0 pequeno tal que `(W

cs

ε (y)) ≤ δ

para todo y ∈ Λ. Com isto, vˆe-se que `(fn(Wcs

ε (x))) ≤ γn1 · `(Wεcs(x)) e fn(Wεcs(x)) ⊂

Wcs ε1(f

n(x)). Isto prova o corol´ario. ¤

Finalmente, vamos concluir a prova do teorema 1.2 (assumindo o teorema 3.1). Relembre que neste ponto nossa situa¸c˜ao ´e a seguinte: temos uma sequˆencia infinita Cn de curvas

fechadas simples peri´odicas (de per´ıodo mn) normalmente atrativas com dinˆamica irracional

cujos diˆametros ficam afastados de zero (pelo lema 3.1). Como j´a comentamos, queremos ver que isto ´e imposs´ıvel e a estrat´egia ser´a mostrar que as bacias de atra¸c˜ao de Cns˜ao “grandes”.

Com este intuito, fixemos 0 < λ < γ1 < γ2 < 1 (onde λ ´e a constante de domina¸c˜ao) e c > 0

com (1 + c)λ < γ1. Como a dinˆamica de fmn : Cn → Cn ´e conjugada a rota¸c˜ao irracional

(minimal, em particular) e sabemos que n˜ao existem homeomorfismos expansivos do c´ırculo (e difeomorfismos expansores, em particular), vemos que para cada curva Cn pode-se selecionar

um ponto xn∈ Cn e um inteiro kn tais que

kDfj|F (xn)k ≤ (1 + c)j

para todo j ≥ kn (i.e., temos pontos onde a dire¸c˜ao dominadora F n˜ao ´e muito expandida).

Pela domina¸c˜ao, isto significa que a dire¸c˜ao E deve ser contra´ıda:

kDfj|E(xn)k ≤ (1 + c)jλj < γj

para todo j ≥ kn. Pelo corol´ario 3.1 do lema de Pliss, existe jn inteiro tal que

kDfj|E(yn)k ≤ γ2j, para todo j ≥ 0,

onde yn:= fjn(xn). Colocando esta informa¸c˜ao no corol´ario 3.3 acima, existe ε > 0 tal que,

para todo n, vale

`(fj(Wεcs(yn)) → 0

quando j → ∞. Por outro lado, passando a uma subsequˆencia se necess´ario, podemos assumir que yn → y ∈ Λ. Como os diˆametros das curvas Cn est˜ao afastados de zero, vemos

que para n16= n2 grandes, Wεcs(yn1) deve intersectar a ´orbita de Cn2 (porque ambas as curvas

s˜ao tangentes a F , as variedades est´aveis Wcs

ε (yn) s˜ao aproximadamente tangentes a E e o

ˆangulo entre E e F sempre ´e afastado de zero). Isto ´e a contradi¸c˜ao desejada, a qual encerra

o argumento. ¤

At´e este momento, todo o trabalho destas notas consistiu em reduzir os teoremas principais (teoremas 1.1 e 1.2) ao teorema 3.1 cujo enunciado est´a mais pr´oximo do enunciado do teorema de Ma˜n´e. No restante destas notas, pretendemos adaptar o argumento de Ma˜n´e (uma tarefa

(17)

nada trivial!) para que este funcione no caso bidimensional do teorema 3.1. Por isso, para que o leitor aprecie melhor nossa discuss˜ao, sugerimos que ele tenha em mente o esquema do argumento de Ma˜n´e como apresentado nas notas [CM2] (em particular, ter estas notas em m˜aos para efeito de compara¸c˜ao de argumentos seria ideal). Bem, ap´os este aviso, passemos para a pr´oxima se¸c˜ao.

4. Prova do teorema 3.1 assumindo o Main Lemma

Lemma 4.1 (Main Lemma de [PS]). Seja Λ0 ⊂ Ω(f ) um compacto invariante n˜ao-trivial19 com uma decomposi¸c˜ao dominada TΛ0M = E ⊕ F . Suponha que Λ0 n˜ao ´e uma curva fechada

simples peri´odica com dinˆamica irracinal e assuma que todo subconjunto pr´oprio compacto invariante de Λ0 ´e hiperb´olico. Ent˜ao, Λ0 ´e hiperb´olico.

Com este lema em m˜aos, a id´eia de Pujals e Sambarino consiste em seguir os argumentos de Ma˜n´e [M2] para obter o teorema 3.1. Com efeito, nosso argumento abaixo ser´a idˆentico ao esquema feito na p´agina 12 da nota [CM2].

Come¸camos nossas considera¸c˜oes com um crit´erio simples de hiperbolicidade para decom-posi¸c˜oes dominadas similar ao lemma I.1 de [M2] (veja tamb´em o lema 4.1 de [CM2]). Lemma 4.2. Seja Λ um compacto invariante com decomposi¸c˜ao dominada TΛM = E ⊕ F . Suponha que kDfn|E(x)k → 0 e kDf−n|F (x)k → 0 (quando n → ∞) para todo x ∈ Λ.

Ent˜ao, Λ ´e hiperb´olico.

Proof. Seguiremos o argumento da prova do lema 4.1 de [CM2]. No que se segue, iremos

mostrar que o fibrado E ´e est´avel (i.e., uniformemente contra´ıdo), sendo a prova de que o fibrado F ´e inst´avel inteiramente an´aloga. Como kDfn|E(x)k → 0 (quando n → ∞)

para todo x ∈ Λ, podemos selecionar nx ≥ 0 inteiro tal que kDfnx|E(x)k < 1/2. Por

continuidade, para cada x ∈ Λ existe uma vizinhan¸ca U (x) tal que kDfnx|E(y)k < 1/2

para qualquer y ∈ U (x). Por compacidade, existem x1, . . . , xk ∈ Λ tais que as vizinhan¸cas

U1 := U (x1), . . . , Uk := U (xk) cobrem Λ. Denotemos por nj = n(xj) para todo 1 ≤ j ≤

k e N0 := max{n1, . . . , nk}. Em seguida, fixemos C > 0 uma constante grande tal que kDfj|E(x)k ≤ C para todo 0 ≤ j ≤ N

0. Para cada x ∈ Λ e n ≥ 1 inteiro, dividimos o trecho

de ´orbita {x, f (x), . . . , fn(x)} de acordo com a cobertura {U

j} assim: tomamos i0inteiro com x ∈ Ui0, i1 inteiro com fni0(x) ∈ U (i1), etc. at´e chegarmos em fn(x). Em outras palavras,

estamos escrevendo20

n = ni0 + ni1 + · · · + nil−2+ r,

onde 0 ≤ r < N0 e l ≥ n/N0. Isto permite concluir a seguinte estimativa:

kDfn|E(x)k =

l−2

Y

j=0

kDfnij|E(fnij−1(x))k·kDfr|E(fnil−2(x))k ≤ C

µ 1 2 ¶l−1 = 2Cλl·N0 ≤ C 0λn,

19Ou seja, Λ0 n˜ao se reduz a uma ´orbita peri´odica.

20Basicamente isto ´e um algoritmo de divis˜ao com n´umeros nj ≤ N0, de modo que o resto r verifica

(18)

onde λ :=¡12¢1/N0

< 1 e C0= 2C. Isto finaliza a prova.21 ¤

Agora vamos repertir o argumento de Ma˜n´e (descrito na p´agina 12 de [CM2]) para mostrar o teorema 3.1:

Prova do teorema 3.1 assumindo o Main Lemma 4.1. Lembre que o enunciado do teorema 3.1

pede para mostrar que nas hip´oteses do teorema 1.2 temos que Λ ´e hiperb´olico ou Λ cont´em curvas com dinˆamica irracional. Visando demonstrar este teorema, iremos assumir que Λ n˜ao cont´em tais curvas. Com isso, nossa tarefa ´e provar que Λ ´e hiperb´olico. Suponha que Λ n˜ao ´e hiperb´olico. Considere a cole¸c˜ao

H := {eΛ ⊂ Λ : eΛ ´e compacto invariante n˜ao hiperb´olico}

munida da ordem parcial dada pela inclus˜ao. Note que Λ n˜ao hiperb´olico implica Λ ∈ H (de modo que H 6= ∅). Al´em disso, dado HΓ = {Λγ : γ ∈ Γ} um subconjunto totalmente

ordenado de H (indexada por Γ), defina o compacto invariante ΛΓ =

T

γ∈Γ

Λγ. Obviamente

ΛΓ ´e uma cota inferior para os elementos de HΓ. Afirmamos que ΛΓ ∈ H (i.e., ΛΓ ´e

n˜ao-hiperb´olico). Com efeito, se ΛΓ fosse hiperb´olico, existiria uma vizinhan¸ca U de ΛΓ tal que o

maximal invariante T

n∈Z

fn(U ) seria hiperb´olico. Por´em a defini¸c˜ao de Λ

Γ e o fato de HΓ ser

totalmente ordenado implicam que para algum γ ∈ Γ ter´ıamos Λγ ⊂ U , de maneira que Λγ

seria hiperb´olico, uma contradi¸c˜ao.

Com isto, podemos aplicar o lema de Zorn para obter um elemento minimal Λ0⊂ Λ em H.

Por minimalidade, todo subconjunto pr´oprio de Λ0 compacto invariante deve ser hiperb´olico.

Mais ainda, afirmo que Λ0´e transitivo n˜ao-trivial. Com efeito, sabemos que Λ0⊂ Λ, donde as

hip´oteses do teorema 1.2 garante que os pontos peri´odicos em Λ0 s˜ao hiperb´olicos. Como Λ0

n˜ao ´e hiperb´olico, Λ0 n˜ao pode se reduzir a uma ´orbita peri´odica (i.e., Λ0 ´e n˜ao-trivial). Por

outro lado, se Λ0n˜ao fosse transitivo, ter´ıamos que α(x) e ω(x) seriam subconjuntos pr´oprios de Λ0 para todo x ∈ Λ0. Em particular, como estes conjuntos s˜ao compactos invariantes,

seguiria que α(x) e ω(x) seriam conjuntos hiperb´olicos para todo x ∈ Λ. Da´ı temos que

kDfn|E(x)k → 0 e kDf−n|F (x)k → 0 quando n → ∞ para todo x ∈ Λ

0. Pelo crit´erio de

hiperbolicidade do lema 4.2, obtemos que Λ0 ´e hiperb´olico, uma contradi¸c˜ao. Portanto, Λ0 ´e

n˜ao-trivial transitivo.

A conclus˜ao desta discuss˜ao ´e que Λ0 satisfaz as hip´oteses do Main Lemma 4.1 (ou seja,

Λ0 tem decomposi¸c˜ao dominada, todos os seus pontos peri´odicos s˜ao hiperb´olicos, seus sub-conjuntos pr´oprios compactos invariantes s˜ao hiperb´olicos e Λ0´e n˜ao-trivial transitivo); mas

isto ´e absurdo porque o Main Lemma garante que nestas condi¸c˜oes Λ0 ´e hiperb´olico. Esta

contradi¸c˜ao termina a prova do teorema 3.1. ¤

Finalmente, iremos para a parte principal (e mais dura) destas notas: o esquema de demon-stra¸c˜ao do Main Lemma.

21Uma sugest˜ao numa primeira leitura deste argumento ´e pensar que todos os n

js˜ao iguais (a N0), aplicar

o algoritmo de Euclides para escrever n = lN0+ r e fazer a estimativa direta. Fazendo isso o leitor ter´a mais

(19)

5. Prova do Main Lemma

Como a demonstra¸c˜ao do Main Lemma ´e bem longa e cheia de tecnicalidades22, fornecer-emos o esquema geral da prova para guiar o leitor:

• o primeiro passo consiste em estudar as propriedades dinˆamicas das variedades

centro-est´aveis Wcs(x) e centro-inst´aveis Wcu(x): basicamente estaremos interessados em ver

que muito localmente estas variedades centro-est´aveis s˜ao est´aveis no sentido de que seus comprimentos tendem a zero por itera¸c˜ao positiva (e similarmente variedades centro-inst´aveis s˜ao inst´aveis), ou seja, `(fn(Wcs

ε(x)(x)) → 0 quando n cresce23;

• o segundo passo ser´a introduzir os conceitos de caixas adaptadas (e bem-adaptadas) e

seus retornos, os quais ser˜ao os substitutos bidimensionais dos conceitos de intervalos

adaptados e seus retornos idealizados por Ma˜n´e (veja a nota [CM2] p. 11); essen-cialmente estas caixas s˜ao definidas usando as variedadas est´aveis e insta´veis; usando estas caixas prova-se um lema chave sobre as variedades centro-inst´aveis de todos os pontos: ou estas variedades centrais locais de tamanho fixo s˜ao “inst´aveis” (i.e., seus comprimentos tendem a zero por itera¸c˜ao negativa) ou a dire¸c˜ao

F ´e inst´avel (usando-se para isso argumentos de distor¸c˜ao limitada do tipo Denjoy);

al´em disso, mostra-se que todos pontos de caixas bem-adaptadas com retornos con-trativos possuem dire¸c˜ao F sendo inst´avel;

• finalmente, seguindo o argumento de Ma˜n´e (como em [CM2] p. 13),divide-se a an´alise em dois casos: Λ n˜ao minimal e Λ minimal; o caso n˜ao-minimal ´e um pouco mais f´acil: usando as propriedades de caixas adaptadas (e seus retornos), prova-se que ao redor de um ponto x de Λ com x ∈ ω(x) (o qual existe por n˜ao-minimalidade) existe uma caixa bem-adaptada com infinitos retornos; da´ı segue que existe uma subcaixa com retornos contrativos, o que acabaria a prova pelo segundo passo acima; j´a o caso minimal ´e um pouco mais t´ecnico porque pode n˜ao existir caixas com infinitos retornos e o argumento baseia-se num argumento do tipo Denjoy-Schwartz para a constru¸c˜ao (“no bra¸co”) de caixas bem-adaptadas “boas”; uma vez constru´ıda esta caixa, o argumento termina porque a minimalidade for¸ca todos os pontos de Λ a passarem por esta caixa, um fato que implica que F ´e inst´avel.

Para tornar nossa exposi¸c˜ao mais organizada, iremos dividir esta se¸c˜ao em trˆes subse¸c˜oes, cada uma das quais ir´a corresponder a um passo no esquema delineado acima.

5.1. Dinˆamica das variedades centro-est´aveis. Como falamos anteriormente, nosso ob-jetivo ser´a mostrar que muito localmente as variedades centro-est´aveis (resp. centro-inst´aveis) s˜ao “est´aveis” (resp. “inst´aveis”) no sentido de que seus comprimentos tendem a zero por itera¸c˜ao. Com esse intuito, vamos introduzir algumas nota¸c˜oes e defini¸c˜oes preliminares. Come¸camos com um compacto invariante Λ0 com decomposi¸c˜ao dominada TΛ0M = E ⊕ F .

Tomamos 0 < a < 1 pequeno suficiente de modo que os campos de cones Ccs

a e Cacu ao redor

de E e F possam ser estendidos a uma vizinhan¸ca Va(Λ0) (a qual chamaremos de vizinhan¸ca admiss´ıvel).

22:(

23Note a dependˆencia de ε em x aqui! Por isso dissemos que a propriedade vale muito localmente (porque ε(x) ´e muito pequeno dependendo de x).

(20)

Definition 5.1. Um intervalo I ⊂ Va0) ´e a-transversal `a dire¸c˜ao E se TxI ⊂ Ccu

a (x) para

todo x ∈ I.

Remark 5.1. Dois fatos decorrentes diretamente da defini¸c˜ao s˜ao:

• Existe η > 0 tal que todo intervalo I transversal a dire¸c˜ao E com comprimento `(I) < η pode ser estendido a um intervalo I0 ⊃ I transversal a dire¸c˜ao E com `(I0) > η.

• Variedades centro-inst´aveis (Wcu(x)) sempre s˜ao transversais a dire¸c˜ao E.

Dada V uma vizinhan¸ca admiss´ıvel e U ⊂ U ⊂ V , denotamos por Λ1 =

T

n∈Z

fn(U ) o

maximal invariante de U e Λ+1 = T

n≥0

f−n(U ) o conjunto de pontos com ´orbita futura em U .

Definition 5.2. Dizemos que um C2-intervalo aberto I de M ´e um δ-E-intervalo se • I ⊂ Λ+1 e `(fn(I)) ≤ δ para todo n ≥ 0;

• fn(I), n ≥ 0, sempre ´e transversal a dire¸c˜ao E.

Al´em disso, dizemos que I ´e um (δ, γ)-E-intervalo se I ´e um δ-E-intervalo tal que kDfn|E(x)k ≤ γn

para todo x ∈ I e n ≥ 0.

Moralmente, um δ-E-intervalo ´e um intervalo com ´orbita nunca tangente a dire¸c˜ao E (dire¸c˜ao com mais “talento” para ser contra´ıda) e mesmo assim ele nunca cresce (ou seja, n˜ao exibe o comportamento expansor esperado). Com este arsenal de nota¸c˜oes, podemos reformular nossas expectativas para esta subse¸c˜ao assim: sabemos que as variedades centro-inst´aveis locais Wcu

δ (x) s˜ao δ-E-intervalos; por outro lado, queremos mostrar que Wδcu(x) ´e

uma variedade fracamente est´avel (no sentido do comprimento tender a zero por itera¸c˜ao); nesse ponto fazemos uma observa¸c˜ao simples e muito relevante: se Wcu

δ (x) n˜ao ´e fracamente

est´avel, os comprimentos de seus iterados ficam afastados de zero, de modo que Wcu

δ (x) ´e um

δ-E-intervalo! Isso motiva o estudo da seguinte proposi¸c˜ao sobre δ-E-intervalos:

Proposition 5.1. Existe δ0 > 0 tal que todo δ-E-intervalo I com 0 < δ < δ0 satisfaz uma das seguintes propriedades:

• ω(I) ´e uma curva fechada simples peri´odica normalmente hiperb´olica com dinˆamica irracional ou

• ω(I) ⊂ P er(f |V ).

Uma consequˆencia imediata desta proposi¸c˜ao ´e

Corollary 5.1. Suponha que Λ0 n˜ao cont´em curvas fechadas peri´odicas de dinˆamica irra-cional. Ent˜ao, existe uma vizinhan¸ca admiss´ıvel V de Λ0 tal que todo δ-E-intervalo (com δ > 0 pequeno) verifica ω(I) ⊂ P er(f |V ).

Proof. Tomamos V0 vizinhan¸ca admiss´ıvel, U ⊂ U ⊂ V0 e Λ1 =

T

n∈Z

fn(U ). Se U n˜ao cont´em

tais curvas, podemos tomar V = V0 e usar a proposi¸c˜ao 5.1 para concluir o corol´ario. Caso contr´ario, n´os usamos o argumento da nota-de-rodap´e 18 na p´agina 12 desse texto e obtemos

(21)

que o fato de Λ1 possuir decomposi¸c˜ao dominada implica que Λ1 cont´em apenas um n´umero finito de curvas peri´odicas de dinˆamica irracional. Como nenhuma dessas curvas est´a em Λ0

(por hip´otese), podemos encontrar uma vizinhan¸ca admiss´ıvel V de Λ0 a qual n˜ao encontra

nenhuma das curvas. Aplicando novamente a proposi¸c˜ao 5.1, acabamos a prova. ¤ Voltando ao Main Lemma, assumimos que Λ0 n˜ao tem curvas simples fechadas peri´odicas

de dinˆamica irracional. Pelo corol´ario 5.1, conseguimos uma vizinhan¸ca admiss´ıvel V de Λ0 e

uma constante δ0> 0 tais que todo δ-E-intervalo I com 0 < δ < δ0verifica ω(I) ⊂ P er(f |V ).

Uma vez fixados V e δ0, podemos enunciar o resultado principal dessa subse¸c˜ao assim: Proposition 5.2. Para todo 0 < ε ≤ δ0 existe γ = γ(ε) > 0 tal que

• f−n(Wcu

γ (x)) ⊂ Wεcu(f−n(x)) e fn(Wγcs(x)) ⊂ Wεcs(x) para todo n ≥ 0;

• para todo 0 < γ < γ(δ0) vale `(f−n(Wcu

γ (x)) → 0 quando n → ∞ ou x ∈ Wu(p) para

algum p ∈ P er(f |Λ0) e p ∈ Wγcu(x) (mais ainda, a propriedade an´aloga para Wcs

tamb´em vale).

Para o resto dessa subse¸c˜ao, faremos os esquemas das provas das proposi¸c˜oes 5.1 e 5.2.

Prova da proposi¸c˜ao 5.1. Come¸camos com um pequeno lema garantindo que sempre podemos

iterar δ-E-intervalos para que eles se tornem (δ, γ)-E-intervalos:

Lemma 5.1. Seja 0 < λ < γ < 1 (onde λ ´e a constante de domina¸c˜ao). Ent˜ao, existe

δ1 = δ1(γ) > 0 tal que para cada I ´e um δ-E-intervalo com δ ≤ δ1 podemos encontrar m ≥ 0 inteiro de modo que fm(I) ´e um (δ, γ)-E-intervalo.

Proof. Da defini¸c˜ao segue que se I ´e δ-E-intervalo ent˜ao fm(I) ´e δ-E-intervalo para todo

m ≥ 0. Por isso, resta apenas mostrar que existe δ1 = δ1(γ) > 0 tal que se I ´e δ-E-intervalo com δ < δ1, ent˜ao para algum m ≥ 0 temos kDfn|E(y)k ≤ γnpara todo y ∈ fm(I). Fixemos

0 < λ < λ0 < λ1 < γ < λ2 < λ3 < 1 constantes com λ/λ2 < λ0 e tome c > 0 com

(1 + c)λ1 < γ, (1 − c)λ3 < λ2.

Dada esta escolha de c > 0, sabemos que existe δ1 = δ1(c) = δ1(γ) > 0 pequeno e Va(Λ0)

vizinhan¸ca admiss´ıvel tais que a seguinte propriedade de distor¸c˜ao vale

kDf | eF (x)k

kDf | eF (y)k > 1 − c e

kDf |E(x)k

kDf |E(y)k < 1 + c

para todo x, y ∈ Va0) com d(x, y) < δ1, onde eF ´e uma dire¸c˜ao qualquer dentro do cone

centro-inst´avel Ccu

a . Considere I um δ-E-intervalo com δ < δ1. Pela escolha de δ1, vemos

que Txfn(I) ⊂ Cacu(x) para todo x ∈ I. Mais ainda, como ω(x) ∈ Λ1 para qualquer x ∈ Λ+1,

segue que existe um inteiro n0 grande tal que fn(I) ⊂ Va(I) para todo n ≥ n0. Neste

ponto, trocamos I por fn0(I), de maneira que podemos assumir as propriedades descritas

acima v´alidas para todo n ≥ 0. Denotemos por eF (x) = Txfn(I) quando x ∈ fn(I). Como

e

F (x) ⊂ Ccu

a (x) e a > 0 ´e pequeno, vemos que a condi¸c˜ao de domina¸c˜ao implica kDf |E(x)k ·

kDf−1| eF (f (x))k < λ.

Tome x ∈ I. Afirmamos que o fato de I ser um δ-E-intervalo (i.e., I n˜ao cresce muito por itera¸c˜oes) implica que kDfn| eF (x)k ≤ 1/λn

2 para todo n grande. Com efeito, caso contr´ario

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