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DINÂMICA DO RELACIONAMENTO AFETIVO NA CONTEMPORANEIDADE: A MANUTENÇÃO DAS NORMAS SOCIAIS

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Academic year: 2021

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1 DINÂMICA DO RELACIONAMENTO AFETIVO NA

CONTEMPORANEIDADE: A MANUTENÇÃO DAS NORMAS SOCIAIS

Flávia Silva Neves Juliana Rízia Félix de Melo Universidade Federal da Paraíba-UFPB

Resumo

O amor foi historicamente romantizado e permeado por concepções fantasiosas, onde está posto no outro uma expectativa irreal e que, por vezes, ele não tem condições de suprir. Culturalmente há padrões de comportamento aceitáveis às mulheres na conquista amorosa e na manutenção dessa relação. Objetivo: Avaliar a atitudes de passividade/atividade destas mulheres diante do ideal romântico. Método: Com a aprovação do Comitê de Ética CCS-UFPB, participaram 15 estudantes dos cursos de psicologia, administração e arquitetura, do sexo feminino, na faixa etária de 18 a 26 anos, com média de 22 anos, solteiras. A renda familiar média era de R$ 4.520,00, portanto pertencentes à classe social média. A maioria (67%) afirmou a religião católica. Foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada tendo como questões norteadoras “No relacionamento quem toma mais a iniciativa?” e “Como você é na dinâmica da conquista?”. Utilizou-se a técnica de Análise de Discurso para a obtenção dos resultados. Resultados: Em relação à iniciativa no relacionamento, observou-se a expectativa masculina na conquista, entretanto, cabendo à mulher a manutenção e o fervor da relação. Dentre os discursos evocados, apenas um se mostrou claramente ativo na dinâmica da conquista, já os demais se mantiveram na postura passiva. As motivações para justificar a atitude passiva apresentaram-se como; a prerrogativa masculina na conquista; segurança no desejo masculino quando a iniciativa é dele; e timidez. Conclusões: Tais resultados apontam que, independente dos movimentos femininos pela igualdade entre os gêneros, as dinâmicas dos relacionamentos afetivo-sexuais se mantém centrada nas expectativas e movimentos masculinos e responsabilidade feminina.

Palavras-Chave: Romantismo. Gênero. Atitudes.

Problemática

Um dos temas mais evocados pela mídia é o amor, ele está presente nas canções, no cinema, nas novelas, nas peças de teatro e na conversa cotidiana em bares, na internet e nas confidencias dos amigos. A concepção do que é amor evolui e vem evoluindo no decorrer dos anos, quando as pessoas utilizam o termo ‘amor’ referem-se a um forte sentimento em relação a o outro ao qual estão atraídos fisicamente e

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2 emocionalmente. Norteando seus padrões de conduta e comportamento em relação ao mesmo.

A concepção que temos hoje do amor romantizado e permeado por concepções fantasiosas, onde está posto no outro uma expectativa irreal e que por vezes ele não tem condições de suprir. “Em geral, ainda que existam diversas concepções sobre o amor, a maioria é contaminada por uma fundamentação idílica, no sentido de ser irreal tal qual um devaneio. Então, ilusões românticas e idealizações com altas expectativas no que diz respeito ao outro se mesclam para forjá-lo nos pensamentos das pessoas”.(Almeida & Mayor , 2006, p. 3). O outro assume o lugar de deus, ou seja, atribui-se a ele aspectos dignos de serem venerados. O amor romântico suscita a questão da intimidade, que se torna incompatível com a luxuria, não tanto pela idealização que se faz do outro, mas porque presume uma comunicação psíquica, um encontro de almas que tem um caráter reparador. (Saldanha, 2003).

O ser humano se relaciona amorosamente mediante as estruturas pessoais de cada um, a identidade pessoal guia as relações e seus desdobramentos. Porém não podemos compreender a identidade com fixa e sim como um construto que é historicamente elaborado. Rocha-Coutinho (2004) entende que a identidade é continuamente formada e transformada em relação com a maneira com os outros nos percebem. Na dialética entre o nosso eu ideal e a identidade social. Nosso self1 é formado entre este dois poderes, entre o individual e o coletivo, tratar-se de uma moldagem onde o indivíduo lida com forças internas e as do ou dos grupos em que está inserido.

Quando falamos de identidade feminina temos que entender que os poderes que exercem pressão na construção desta passam pelos caminhos da descriminação e dominação, passando por uma multiplicidade de papéis. “A mulher nem sempre foi dividida e, ao mesmo tempo, múltipla como hoje. A transformação dos papéis sociais de homens e mulheres começou a acontecer no século XVIII em virtude de importantes mudanças políticas, sociais e econômicas, tais como: a ascensão da burguesia, criação dos estados nacionais, início da industrialização e a formação da sociedade capitalista”. (Caixeta, 2004).

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3 Normalmente a mulher tem que ser capaz de gerenciar uma série de itens simultaneamente; como casa, filhos, compras, carreira, marido e sua vida pessoal. E ainda manter-se apresentável, para não dizer linda, e fascinante. Geralmente compreende-se que a feminilidade está associada a características “esperadas, ou próprias de algumas mulheres, tais como ‘fragilidade’, ‘intuição’, ‘abnegação’, ‘altruísmo’, ‘docilidade’, ‘sensibilidade’, entre outras, acabam por definir a chamada ‘identidade feminina’, isto é, acabam por ser vistas como parte de uma ‘natureza feminina’. (Rocha-Coutinho, 2004, p. 3).

A dinâmica da conquista é também fortemente influenciada pela concepção romantizada de amor e pelos papeis desempenhados e esperados pelos gêneros. Um emaranhado de questões compõe as relações afetivas; o romantismo, o amor idealizado, a identidade, padrões sociais; enfim uma série de coisas que permitem que de forma impar percebamos tanto as relações como o outro com quem nos relacionamos. É na sede desta descoberta que partimos e de alguma forma esperamos lançar um pouco mais de luz na complexa compreensão das teias que tecem os relacionamentos e como estes ainda influenciam as mulheres.

Desenvolvimento

Método

Este estudo foi realizado a partir de uma amostragem não-probabilística e acidental. A amostra foi composta por 15 sujeitos, adultos jovens do sexo feminino na faixa etária de 18 a 30 anos, solteiras, estudantes nos cursos de psicologia, administração e arquitetura. Onde 100% da amostra não possuía nenhum outro curso superior, e 100% solteiras. A renda familiar média era de R$ 4520,00, e 67% da amostra era de religião católica. Foi utilizada a técnica de entrevista semi-estruturada tendo como questões norteadoras “No relacionamento quem toma mais a iniciativa?” e “Como você é na dinâmica da conquista?”

A análise dos discursos de cada entrevista foi com base em categorias determinadas a partir dos temas suscitados e processados em uma série de etapas, de acordo com a proposta de Figueiredo (1993), de modo a considerar:

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4 I - Os conteúdos relacionados a várias categorias, no mesmo sujeito ou mesmo grupo.

II - Os conteúdos de vários sujeitos nos grupos, em uma mesma categoria. A realização do estudo foi precedida pela aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba, e do contato com as Secretarias Estadual e Municipal de Educação, e com a direção das escolas selecionadas, bem como o consentimento do próprio aluno, o qual foi esclarecido que as informações fornecidas seriam mantidas em sigilo, utilizadas para fins de pesquisa.

Resultados e discussão

Nos discursos evocados emergiram no que se refere ao relacionamento afetivo duas categorias: as atitudes na relação e o tipo da relação (ficar ou namorar), para este trabalho tratamos apenas dos aspectos concernentes as atitudes femininas nos relacionamentos afetivos, onde destacaram-se as posturas de passividade e atividade no processo da conquista e manutenção da relação afetiva.

Relacionamentos

afetivos

Atitudes

Ficar/Namorar

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5 Dentro dos discursos frente a atitude no relacionamento podemos perceber fortemente a manutenção das normas sócias esperadas para homens e mulheres, no discurso feminino, conforme pode ser observado no Quadro I.

Quadro I – Discursos femininos referentes à atitudes no relacionamentos afetivos.

Atitude Discurso

1. Passiva

“eu diria que eu sou mais passiva” (Part. 9 – Arquitetura)

“na conquista acho que eu sou passiva. Na minha cabeça ele vem, se ele não vem eu também não vou atrás não.” (Part. 10 – Arquitetura)

“de primeira eu sou quieta na minha, eu sou conquistada, mas no relacionamento eu sou a que conquista, a que bota gasolina pro carro andar” (Part. 5 – Psicologia)

“eu acho que não tenho uma postura muito ativa foram meio que acontecendo” (Part. 6 – Psicologia)

“sou passivíssima minha filha, morro querendo (...) mas não tomo a iniciativa.” (Part. 8 – Psicologia)

“totalmente passiva, eu espero, eu não sei demonstrar assim tomar a iniciativa e dizer ah! Eu to gostando de você, eu sou muito, eu espero muito eu espero que a outra pessoa tome a iniciativa.” (Part. 11 – Administração)

“passiva, se bem que assim não tem problema nenhum em tomar a iniciativa também, mas eu prefiro ser conquistada. Se você gosta daquela pessoa, você já tem certeza do seu sentimento, mesmo que ela não tenha certeza, o que você quer é ter certeza dos sentimentos dela, é uma questão até assim de defesa, você não se deixar entregar tanto, sem saber o que a outra pessoa ta esperando. Acho que é mais isso do que cavalheirismo e esse negócio todo de que o homem é quem tem que guiar que tem que vir atrás.” (Part. 13 – Administração)

“passiva (risos) as vezes eu até queria ser um pouco mais ativa mas eu não tenho coragem, tenho muita vergonha sou tímida, não consigo. Até que assim quando ele já deu o primeiro passo eu me libero, mas até eu fico esperando” (Part. 14 – Administração)

“eu acho que eu fico no meio (gargalhada) não eu acredito que eu seja mais passiva, eu sou passiva eu espero uma atitude do outro na verdade.” (Part. 15 – Administração)

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6 coisa declarada, ...independente deu ta esperando, mas na vida real eu tomo a iniciativa” (Part. 4 – Psicologia)

Em relação a passividade podemos perceber que as diferenças entre homens e mulheres ainda não foram erradicadas, há a manutenção do status do homem como o conquistador do afeto feminino. Onde o privilégio da posse cabe ao homem, ao passo que a mulher é restrita a posição de ser a ser possuído por ‘dono’.

Sendo assim:

a ideologia machista sempre esteve, em grande parte, associada à sexualidade: o ‘macho’ é um ser predominantemente sexual. À mulher cabe o papel de ser objeto a ser possuído e ceder ao homem. Este deverá satisfazê-la para provar a si mesmo e a sociedade a sua potência.(Rocha-Coutinho, 2001, p.10).

Isso nos leva a supor que as atitudes tidas como mais modernas ainda não adentraram os redutos da conquista nas relações afetivas. Lógico que o estímulo em na entrevista utilizada fez menção ao relacionamento e não aos encontroa casuais; com isso não podemos deduzir se haja uma distinção nesta amostra entre uma relação estável e um encontro casual. Todavia no que concerne a um relacionamento estável ainda há a idéia da responsabilidade masculina para o inicio deste relacionamento.

Percebe-se também a valorização da segurança no sentimento masculino quando a iniciativa para a conquista é dele, cabendo a mulher a entregar-se a esse que investe nela seus afetos e sentimentos; isto nos remete a visão machista de que virilidade está associada há um extenso rol de encontros casuais que este homem tenha, ou seja, quanto mais ‘troféus’ ele possuir, mais viril ele é; ao passo que num relacionamento estável é exigido desse mesmo homem habilidade para gerar na mulher uma entrega irrestrita fazendo dela mais que um ‘troféu’, e sim um investimento afetivo, tornando-a especial e diferente das demais.

Outro aspecto interessante que emerge nos discursos é a responsabilidade feminina na manutenção do relacionamento quando o mesmo é estabelecido, como se o dia a dia do casal fosse mais um prerrogativa feminina que masculina; onde cabe a ela ser o agente capaz de segurar ou manter ao seu lado o ser amado. É bem comum nos discursos na mídia frases como “você é que tem que segurar teu homem”, ou “ele me

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7 deixou por que não fui boa o bastante”; o que nos leva a inferir que a imagem da mulher como companheira gere essa expectativa dela como abnegada e cúmplice, como uma junção da mãe, amiga e mulher em uma só.

O único discurso onde há uma postura ativa se mostra frágil pelo fato do mesmo indicar uma expectativa por parte da entrevistada em ser conquistada, mas a sua diferença estaria no fato de que a mesma não se contenta em fica nessa espera e toma a iniciativa. E quando a mesma coloca na vida “real” nos dá a idéia de que há um mundo irreal onde ela gostaria que as coisas fossem diferentes, onde ela não tivesse que tomar a iniciativa nos relacionamentos afetivos.

Conclusão

O amor romântico permanece presente e vivo em nossos dias, algumas mudanças podem ser vistas em sua configuração; mas a maneira de esperar do outro a fonte da felicidade individual e está felicidade intimamente atrelada a um relacionamento estável, ainda representa o ideal romântico. Estes ainda estão pautados na capacidade do ser amado em suprir as necessidades do que ama.

Mesmo que elementos como timidez e vergonha surjam nos discursos aqui analisados, vimos que as mulheres mantêm uma expectativa acerca das relações afetivas e estão de algum modo à espera de companheiro capaz de fazer delas pessoas especiais e que valham um alto investimento deles para que as mesmas se entreguem.

Referências

ALMEIDA, T. & Mayor, A. S. O Amar, o Amor: uma perspectiva contemporâneo-ocidental da dinâmica amorosa para os relacionamentos. In R. R. Starling & K. A. Carvalho. Ciência do Comportamento Humano: conhecer e avançar, São Paulo: ESETec, 2006.

ARAUJO, D. R. D. O amor no feminino: ocultamento e/ou revelação? Tese de Doutorado – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

BORGES, M. L. Gênero e Desejo: a inteligência estraga a mulher? Rev.Estud. Fem. V.13 n.3 Florianópolis set/dez 2005

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8 COSTA, S. Romantismo e Consumo na Modernidade Tardia. Cebrap n.73. São Paulo novembro de 2005

FOUCAULT, M. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro, Graal, 1977

LEITE, J.C.T. Dimensões do Amor. Agora v.8 n.1 Rio de Janiero. Jan/jun 2005

ROCHA-COUTINHO, M. L. Dos contos de fadas aos superheróis: mulheres e homens brasileiros reconfiguram identidades. Psicologia Cínica, Rio de Janeiro, v. 12, n.2, p.65-82, 2001.

SALDANHA, A.A.W. Vulnerabilidade e construções de enfrentamento da soropositividade ao HIV por mulheres infectadas em relacionamento estável. Tese de Doutorado – Instituto de Psicologia, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2003.

CAIXETA, J. E. & BARBATO, S. Identidade feminina: um conceito complexo. Paidéia v. 14 - N° 28, 2004.

Referências

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