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FEMINIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO? MULHERES EM PROFISSÕES TIPICAMENTE MASCULINAS 1

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FEMINIZAÇÃO DO MUNDO DO TRABALHO?

MULHERES EM PROFISSÕES TIPICAMENTE MASCULINAS1

Kelly de Souza Resende*

Raquel Quirino **

Resumo: Nos últimos anos evidencia-se um crescimento de mulheres no mundo do trabalho assalariado e no exercício de profissões ditas masculinas. Pesquisas como as empreendidas por Hirata (2002), Lombardi (2004), Quirino (2011), Resende (2012), dentre outras, evidenciam tal fenômeno em diversas áreas de atuação e analisam a feminização das profissões e das ocupações. Destarte, questiona-se nesse artigo a existência de uma possível “nova” divisão sexual do trabalho. A partir de aproximações teórico-conceituais acerca da teoria da divisão sexual do trabalho, preconizada pela Sociologia do Trabalho Francesa, de abordagem marxista, pretende-se discutir essa possível “nova” divisão do trabalho entre homens e mulheres na sociedade. Reitera-se que tal discussão perpassa pela divisão do trabalho doméstico, uma vez que cabe à mulher a maior parte de tais atividades precarizadas, não remuneradas, desvalorizadas e realizadas no ambiente privado. Espera-se que a discussão possa suscitar reflexões, diante das vicissitudes e das novas (?) formas que a divisão sexual do trabalho tem apresentado no mundo contemporâneo.

Palavras-chave: Relações de Gênero; Feminização das profissões; Desigualdades; Divisão sexual do trabalho.

1. INTRODUÇÃO

O presente artigo, parte integrante do referencial teórico de uma pesquisa em andamento, objetiva discutir a divisão sexual do trabalho e as relações sociais de gênero presentes na sociedade contemporânea. Mediante um levantamento dos/as principais autores/as sobre essa temática que postulam a Sociologia do Trabalho Francesa de base marxista, os itens a serem abordados são a divisão sexual do trabalho com seus dois princípios organizadores: (i) o princípio de separação – no qual existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres e o (ii) princípio de hierarquização – em, que um trabalho de homem “vale” mais do que um trabalho de mulher. Por sua vez, também a divisão sexual do trabalho doméstico será abordada, pois, a opressão e exploração sofridas pelas mulheres e a servidão a que estão submetidas na esfera doméstica ainda refletem nas mutações da atividade feminina no mundo do trabalho assalariado (KÉRGOAT, 1996 p. 1-2).

1 Pesquisa realizada com recursos do Programa Institucional de Fomento à Pesquisa do CEFET-MG – PROPESQ e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais – FAPEMIG.

*Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica do CEFET/MG, Belo Horizonte. E-mail:

kelresende@yahoo.com.br

**Professora Doutora Adjunta do Programa de Pós-Graduação em Educação Tecnológica do CEFET/MG, Belo Horizonte. E-mail: quirinoraquel@hotmail.com

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As pesquisas sobre gênero não têm por finalidade vitimizar a mulher. O que se espera é fomentar o debate, dar visibilidade à atuação e produtividade femininas - nem sempre vistas e valorizadas nas tramas sociais -, e evidenciar, que não obstante o trabalho duplicado que exerce, a mulher está rompendo com preconceitos e com a exclusão, transgredindo o senso comum e sendo protagonista de sua própria história.

2. A DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

Segundo Kérgoat (1996 p. 1), homens e mulheres estão inseridos em papeis definidos pela sociedade. Sendo assim, essas duas categorias de gênero - masculino e feminino - não podem ser apenas consideradas como seres que possuem diversidade biológica, a questão vai além do biológico e torna-se centro de uma separação social, ocupando dois grupos diferenciados na sociedade.

As condições em que vivem homens e mulheres não são produtos de um destino biológico, mas são antes de tudo construções sociais. Homens e mulheres não são uma coleção – ou duas coleções – de indivíduos biologicamente distintos. Eles formam dois grupos sociais que estão engajados em uma relação social específica: as relações sociais de sexo. Estas, como todas as relações sociais, têm uma base material, no caso o trabalho, e se exprimem através da divisão social do trabalho entre os sexos, chamada, de maneira concisa: divisão sexual do trabalho. (KÉRGOAT, 1996 p. 1)

Assim, Hirata e Kérgoat (2007 p. 596), apresentam a divisão sexual do trabalho, em duas acepções de conteúdos distintos, a saber:

[...] Trata-se, de um lado, de uma acepção sociográfica: estuda-se a distribuição diferencial de homens e mulheres no mercado de trabalho, nos ofícios e nas profissões, e as variações no tempo e no espaço dessa distribuição; e se analisa como ela se associa à divisão desigual do trabalho doméstico entre os sexos. (HIRATA e KÉRGOAT, 2007 p. 2)

Dessa forma, ao se estudar a divisão sexual do trabalho discutem-se as desigualdades entre homens e mulheres no trabalho remunerado e nas profissões, mas, também no trabalho doméstico, acompanhando o desenvolvimento, avanços e deslocamentos dessa divisão desigual. Nesse sentido Kérgoat (1996 p. 1) enfatiza que a divisão sexual do trabalho ocorreu inicialmente para designar uma diferença entre atividades desenvolvidas por homens e de mulheres na sociedade, como complementares e com base em uma estruturação familiar orgânica. No entanto, essa “estruturação familiar” era um espaço de demonstração de poder do gênero masculino sobre o feminino,

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estabelecendo assim “uma relação de poder dos homens sobre as mulheres”. Dessa forma, a autora aponta que:

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; esta forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares, etc...) (KÉRGOAT, 1996 p. 1).

Nesse mesmo sentido, Quirino e Fidalgo (2009, p.15) afirmam que as mulheres têm buscado seu lugar no mundo do trabalho assalariado e isso reflete também em suas buscas por direitos e pela cidadania. Para os autores,

A crescente participação das mulheres no mercado de trabalho capitalista, em diferentes contextos nacionais, sobretudo nos últimos 20 anos, pode significar, à primeira vista, uma conquista social, não só das mulheres em direção à igualdade de direitos e à cidadania plena, mas à emancipação de toda a sociedade (QUIRINO e FIDALGO, 2009, p. 14).

Infere-se, assim, que uma evolução da mulher no mercado de trabalho, em várias áreas, profissões e ocupações pode lograr uma conquista social dos direitos das mulheres decorrente de uma luta perante as desigualdades vivenciadas na sociedade e na divisão sexual do trabalho.

Também nessa perspectiva Hirata e Kérgoat (2007 p. 2), afirmam que a análise acerca da divisão sexual do trabalho é fundamental para “ir bem além da simples constatação das desigualdades”. É necessário mostrar o sistema por trás dessa desigualdade, mostrar de forma concreta como ocorre na sociedade à utilização dessas disparidades para manter um padrão de separação e hierarquização das atividades, assim como de sexo e, por conseguinte “criar um sistema de gênero”.

2.1 Os princípios organizadores da divisão sexual do trabalho

Segundo Kérgoat (1996 p. 1), a divisão sexual do trabalho traz em si dois princípios organizadores que permanecem ao longo do tempo e do espaço: (i) o princípio de separação (existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres) e (ii) o princípio de hierarquização (um trabalho de homem “vale” mais do que um trabalho de mulher) (KÉRGOAT, 1996 p. 1).

Assim, a forma de se estabelecer o poder dos homens sobre as mulheres na sociedade apropria-se da reafirmação de lugares diferenciados para o trabalho de ambos os sexos. Para a mulher o espaço reprodutivo, privado e doméstico, dedicada ao lar, a família, a prole, e aos homens

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o espaço produtivo, público e valorizado, preconizado pelo trabalho assalariado. Tal princípio evidencia a segregação dos papeis sociais na sociedade, divididos entre homem e mulher.

Diante da mulher subsumida no mundo do trabalho, restrita aos cuidados domésticos, o homem assume os espaços de poder e seu trabalho passa a ter mais valor econômico e social se comparado ao trabalho da mulher, caracterizando assim o princípio de hierarquização.

Hirata e Kérgoat (2007 p. 599) esclarecem ainda que a ideia dos princípios organizadores da divisão sexual do trabalho

[...] são válidos para todas as sociedades conhecidas, no tempo e no espaço. Podem ser aplicados mediante um processo específico de legitimação, a ideologia naturalista. Esta rebaixa o gênero ao sexo biológico, reduz as práticas sociais a “papéis sociais” sexuados que remetem ao destino natural da espécie.

Por sua vez, Olinto (2011, pg. 69) afirma que, não apenas no trabalho, mas também, na dimensão sociocultural encontra-se a base para as diferenças de gênero. Dessa forma crenças, valores e atitudes socialmente estabelecidas, formam estereótipos sobre as habilidades distintas entre homens e mulheres criando mecanismos que geralmente são identificados para descrever as barreiras enfrentadas pelas mulheres para sua inserção e ascensão profissional: (i) a segregação horizontal e (ii) a segregação vertical.

Entende-se por segregação horizontal um mecanismo, nem sempre explícito nas tramas sociais, que levam as mulheres:

[...] a fazer escolhas e seguir caminhos marcadamente diferentes daqueles escolhidos ou seguidos pelos homens. Sobretudo pela atuação da família e da escola, as meninas tendem a se avaliar como mais aptas para o exercício de determinadas atividades e a estabelecer para si mesmas estratégias de vida mais compatíveis com o que consideram ou são levados a considerar como mais adequados para elas (OLINTO 2011, pg. 69).

A segregação horizontal preconizada por Olinto (2011) está de certa forma relacionada ao princípio da separação proposto por Hirata e Kérgoat (2007, p. 599). Se as escolhas das mulheres ao longo do tempo as segregam em guetos acadêmicos e profissionais feminizados, evidencia-se, dessa forma, o princípio organizador da separação, no qual “existem trabalhos de homens e trabalhos de mulheres”. Ainda conforme Olinto (2011, pg 69), esse fenômeno inclui mecanismos que fazem com que as escolhas de carreiras sejam marcadamente segmentadas por gênero e que independente da escala social e intelectual existe uma divisão do trabalho entre homens e mulheres como se fosse um dado natural, inerente ao sexo/gênero.

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Sendo um princípio consequência do outro, como as escolhas femininas são tendenciosas para profissões de menor valor econômico, de prestígio e poder, em sua maioria direcionada ao cuidado, em uma extensão do trabalho doméstico, instala-se o segundo princípio organizador proposto por Hirata e Kérgoat (2007, p. 599): o princípio da hierarquia ou da valorização. Conforme tal princípio as profissões e ocupações femininas têm menor valor econômico no mercado de trabalho, assim como menor valor social, sendo quase sempre associado a uma ajuda ao homem provedor. Ou seja, existe trabalho de homem e existe trabalho de mulher definidos pelo sexo biológico, e o trabalho de homem vale mais que o trabalho da mulher. Sendo assim há uma valorização econômica, cultural e simbólica do trabalho do homem.

Nesse mesmo contexto, dialogando com o segundo princípio, Olinto (2011, p.69) descreve outro tipo de segregação chamada segregação vertical.

A segregação vertical é um mecanismo social talvez ainda mais sutil, mais invisível, que tende a fazer com que as mulheres se mantenham em posições mais subordinadas ou, em outras palavras, que não progridam nas suas escolhas profissionais. Estudos que abordam a segregação vertical têm se valido de termos como ‘teto de vidro’, indicando os processos que se desenvolvem no ambiente de trabalho que favorecem a ascensão profissional dos homens. (OLINTO, 2011 pg. 69)

No entanto, Steil (1997, p. 62) afirma que as mulheres em média correspondem à maioria das pessoas no mercado de trabalho no mundo. E, “no Brasil, a taxa de entrada de mulheres no mercado de trabalho foi muito superior à apresentada por homens” (idem, p. 62). Porém, não obstante esse número favorável de mulheres no mercado de trabalho formal, não existem estatísticas em relação à ocupação feminina de cargos de alta hierarquia no Brasil. Ainda segundo a autora, faz-se necessária a discussão acerca do “fenômeno do teto de vidro”, que pode faz-ser comparado à segregação vertical, proposta por Olinto (2011) e ao principio hierárquico da divisão sexual do trabalho, proeconizados por Hirata e Kérgoat (2007).

O conceito de teto de vidro foi produzido na década de 80 nos Estados Unidos para descrever uma barreira que, de tão sutil, é transparente, mas suficientemente forte para impossibilitar a ascensão de mulheres a níveis mais altos da hierarquia organizacional. Tal barreira afetaria as mulheres como grupo, impedindo avanços individuais exclusivamente em função de seu gênero. STEIL (1997, p. 62- 63)

A característica marcante desse fenômeno é a barreira que as mulheres encontram para ascenderem a cargos, salários e empregos de alta hierarquia nas organizações. “Não pela inabilidade

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de ocupar posições no topo da hierarquia organizacional, mas, sim, por serem mulheres” (STEIL (1997, p. 62- 63).

Nesse sentido, as mulheres lidam diariamente com a exploração econômica e a opressão de gênero, uma vez que

[...] as características do cargo e diferenças no comprometimento de homens e mulheres nas organizações sugere que os cargos ocupados por mulheres são menos remunerados e possuem menores perspectivas de promoções. De maneira geral, os cargos ocupados por mulheres também possuem menos características que estimulam o comprometimento com a organização, mulheres ocupam cargos de supervisão em menor número e, mesmo quando os ocupam, possuem um escopo de autoridade mais restrito do que os homens [...] STEIL (1997, p. 65).

Por sua vez, Alves (2013, p. 284) afirma que essa condição da mulher perante as desigualdades na divisão sexual do trabalho é também cultural e histórica, pois,

o trabalho para o qual as mulheres eram contratadas era considerado ‘trabalho de mulher’, dito como apropriado às suas capacidades físicas e produtivas, determinando sempre a elas as funções mais baixas na hierarquia ocupacional e menores salários. Os homens, por sua vez, observavam a entrada de mulheres no mercado de trabalho como uma ameaça para a diminuição dos seus salários. Entretanto, vale esclarecer, conforme Safiotti (1979, p.39), que o salário pago pelos empregadores tanto para homens como para mulheres “não representa o valor criado pelo produtor imediato e que muitas vezes não chega mesmo a corresponder às necessidades de produção e reprodução da vida do trabalhador” (ALVES, 2013, p. 283 -284).

Evidencia-se na fala de Alves (2013) que a opressão de gênero vivenciada pelas mulheres é usada para legitimar a divisão sexual do trabalho. Com uma justificativa machista e dominante repetida historicamente, justifica-se os baixos salários femininos por ser a renda da mulher apenas para complementar o salário do homem, que por sua vez, seriam os responsáveis para garantir o sustento da família e da casa. Outro fator citado pela autora era a baixa produtividade feminina, “[...] pois, não trabalhavam tão arduamente quanto eles; além do mais, o que produziam importava um menor valor econômico’ (ALVES, 2013, p. 284).

Destarte, faz se necessário, segundo a autora, mostrar as bases históricas da divisão sexual do trabalho que marcam a desigualdade entre os sexos, pois essas concepções desnaturalizam o que é chamado de natural pelas organizações e pelo mercado de trabalho e evidencia um movimento de separação do lugar do trabalho produtivo e reprodutivo e do trabalho de homem e de mulher.

Isso posto, instala-se uma lógica social que naturalizam as diferenças genuínas de características e habilidades entre os dois sexos, “[...] o que explicaria a exclusão das mulheres de algumas ocupações e a sua dificuldade em atingir posições de destaque na hierarquia ocupacional.

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Tais características também explicariam as diferenças de gênero na academia e na atividade científica” (OLINTO, 2011 pg. 69).

Refutando tal assertiva, convém lembrar que muitos estudos têm se ocupado da questão da divisão sexual do trabalho e da atuação de mulheres em profissões consideradas tipicamente masculinas. No Brasil, ainda se observa uma produção tímida, mas significativa de estudos sobre o tema, ressaltando-se os trabalhos de Lombardi (2004), Quirino (2011), Resende (2012), Ferreira (2013), Yannoulas et. al. (2013), dentre outras. As autoras citadas se ocupam de desvendar os elementos que conjugados, possibilitaram às mulheres condições para a superação das diferenças de gênero na divisão sexual do trabalho e atuarem em áreas e funções típica e historicamente exclusivas aos homens.

O trabalho de Ferreira (2013) busca compreender a existência de um tratamento diferenciado em razão do sexo/gênero. As mulheres desde a infância são condicionadas a uma socialização para papéis sociais pré-definidos, como o cuidado/afetividade e o ato de servir, que pode ser caracterizado como trabalho reprodutivo na esfera doméstica. Enquanto os homens são condicionados a papéis sociais de prover a família uma função instrumental.

É interessante destacar que mesmo com todas as mudanças no mundo do trabalho e consequentemente o ingresso de mulheres em postos de trabalho que antes eram preenchidos exclusivamente por homens, ainda persiste no imaginário dos homens lugar social diferenciado para homens e mulheres. [...] eles consideram que o fato de ser homem ajuda no exercício de suas atividades [...]. (FERREIRA, 2013, p. 7).

Contrária a esse pensamento de base cultural e machista, Ferreira (2013), ressalta que

Já as mulheres pensam de forma totalmente contrária aos homens, elas avaliaram que não existe diferença se for homem ou mulher. Argumentam que se a pessoa tiver alguns atributos como ser esforçada e/ou persistente ela dá conta de exercer as mesmas atividades que as dos seus colegas (FERREIRA, 2013, p. 7).

Nessa perspectiva, Quirino (2011) evidencia que as mulheres sempre atuaram em atividades pesadas mesmo anteriormente ao avanço tecnológico, exercendo funções tais como:

[...] arar a terra, cuidar de animais, esfregar o chão, lavar roupas e transportar água, cortar cana, carregar os filhos, entre outras atividades; o que demonstra que a ideologia de sua fragilidade é uma imposição cultural da sociedade capitalista que varia de acordo com as necessidades da indústria por este ou aquele trabalhador/a em determinados momentos (QUIRINO, 2011, p. 3).

Para a autora, afirmar que as mulheres possuem qualidades e habilidades de destreza, minúcia e precisão em nada enaltece o trabalho feminino. Ao contrário, essas características

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apresentadas como “naturalmente femininas”, levam a uma desvalorização da mulher e a uma desqualificação de seu trabalho e das tarefas por elas executadas, pois na pesquisa realizada no setor de mineração,

[...] as tarefas masculinas consistem em exercer os ofícios de mecânica, elétrica e engenharia em máquinas mais complexas, como os Sistemas Numéricos Computadorizados – SNC das salas de controle, na operação dos equipamentos fixos nas instalações de beneficiamento, operar softwares sofisticados e utilizar das ferramentas de gestão, as mulheres executam tarefas, cujas qualificações sociais foram adquiridas histórica e culturalmente, notadamente no trabalho doméstico (QUIRINO, 2011, p. 5).

A autora enfatiza ainda, que embora as mulheres adentrem em postos de trabalho que antes eram preenchidos exclusivamente por homens, as características biológicas e as construções sociais levam a um determinismo de que o gênero feminino é frágil. Evidencia-se assim, que as mulheres não estão tendo as mesmas oportunidades que os homens, o acesso a profissões tipicamente masculinas não se traduz em qualificação e valorização desse gênero no mundo do trabalho assalariado.

3. As diferenças entre homens e mulheres no mercado de trabalho

Segundo Oliveira et al. (2011, p.15) no contexto atual do mundo do trabalho é perceptível uma intensificação e inserção das mulheres no mercado de trabalho, assim como, o aumento desse gênero em áreas, profissões e atividades antes exclusivas ao gênero masculino. Concomitantemente ao avanço da mulher no mercado de trabalho cresce cada vez mais a representatividade das mulheres nas famílias. Ainda que uma grande parcela do gênero feminino busque exercer atividades tradicionalmente femininas, o que se encontra hoje é um “cenário ligeiramente mais favorável ao gênero feminino se compararmos ao passado”. Desta forma torna-se comum mulher em profissões antes exclusivas em áreas masculinas, como as mulheres que atuam na manutenção de peças.

Deve-se ressaltar que,

[...] nota-se que a inserção do gênero feminino no mercado de trabalho é aceita pela sociedade, mas a execução de trabalhos considerados do gênero masculino pela mulher ainda encontra resistências. Primeiro pelos gestores que em sua maioria é do gênero masculino e preferem contratar homens [...] (OLIVEIRA et al. 2011, P. 14).

As autoras justificam essa resistência acerca da mulher em profissões masculinas devido ao fato do gênero masculino no imaginário popular possuir certa “superioridade” se comparado ao feminino. Contudo como afirmam as autoras, o gênero feminino é incansável na busca por

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qualificação e formação profissional, justamente para poder adentrar em vagas antes exclusivas ao gênero masculino.

Nas profissões, áreas e atividades com predominância masculina, nota-se que as mulheres criam estratégias de sobrevivência e resistência para permanecerem no mercado de trabalho antes exclusivo ao gênero masculino. Segundo Daniel (2011), homens e mulheres (re) constroem as noções acerca da existência de papeis diferenciados para os gêneros. Quando as mulheres são minoria no local de trabalho os homens criam formas de lidar com a situação, isso ocorre também com as mulheres. Mesmo em áreas onde existem menos mulheres atuando, esse gênero é participativo e traz experiências de vida anteriores para agregar a suas atividades.

Para Oliveira et al. (2011) a diferenciação do trabalho masculino e feminino é divergente principalmente na estrutura física dos gêneros, e que prejudica a mulher nessa comparação com o masculino. Existem muitas lacunas nessa divisão sexual do trabalho em ditar quais profissões são do gênero feminino e masculino. Em virtude de uma cultura tradicional e cheia de crenças. Mas, muito se tem avançado acerca dessa temática, e isso se deve pelo fato das mulheres estarem buscando cada vez mais a igualdade de gênero na esfera social e profissional.

Segundo Quirino e Fidalgo (2009),

É incontestável reconhecer que a conquista do mundo do trabalho produtivo pelas mulheres colabora para a concretização de sua cidadania, mas, somente com a ampliação da concepção de sua pluralidade como ente humano - a qual está em constante processo de crescimento - e enfrentando as ant’inomias implícitas nas sociedades modernas, que a mulher poderá desvincular-se do paradigma de uma figura silenciosa e submissa. (QUIRINO e FIDALGO, 2009, p. 15)

Considerações Finais

Diante do exposto como explicar a atuação de mulheres em profissões tipicamente masculinas, que rompem com a “predestinação” para a escolha de determinadas áreas e profissões? Mulheres que mudaram a história, que transgrediram o status quo de vida delas, e ao invés de reproduzirem o princípio da separação e da segregação horizontal, conquistaram profissões historicamente ocupadas apenas por homens?

Segundo a Fundação Carlos Chagas (2007), existe um movimento no qual amplia-se o leque profissional de possibilidades profissionais para as mulheres nos últimos 40 anos até os dias atuais, de forma inquestionável e contínua. Como exemplo, evidenciam-se pioneiras desse movimento, como pilota comercial, reitora de universidade, em cargos militares, mecânica de automóvel, tratorista, condutora de ônibus ou caminhão e etc.

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Ou seja, as mulheres vêm ganhando espaço no mercado de trabalho mercantil e esse fato pode ser explicado, em parte, pelo aumento de mulheres como chefes de família e sua inerente necessidade de se sustentar e sustentar sua prole. Assim, partem para o mundo do trabalho assalariado, mesmo em áreas e funções tradicionalmente ocupadas por homens.

Dessa forma pesquisas que visem compreender essa “nova” divisão sexual do trabalho, são fundamentais para elucidar e ampliar o debate acadêmico com vistas à busca de igualdade entre os gêneros seja no âmbito do trabalho seja no aspecto social.

REFERÊNCIAS

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World of Work Feminization? Women in typically male professions

Abstract: Over the last 40 years, there has been an increase in the number of women in the world of remunerated work and in the practice of so-called male professions. Researches such as those undertaken by Hirata (2002), Lombardi (2004), Quirino (2011), Resende (2012), among others, evidence this phenomenon in several areas of activity and analyze the feminization of professions and occupations. Thus, the existence of a possible "new" sexual division of labor is based on the analysis of the social relations of gender present in the social practice of women gas stations attendant in the Metropolitan Region of Belo Horizonte. Based on the analysis of these women life story reports, it is discussed the paths taken by them until they got into the profession, the challenges they deal with, the professional training, the double working hours they carry out in the external and domestic environment; also sexual harassment and the symbolic violence which they have to face daily. The data collected and the results obtained may give rise to reflections up on the

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vicissitudes and new forms which sexual division of labor has been presented in the contemporary world.

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