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ATUALIZAÇÃO Manual de Processo do Trabalho - Volume Único 1ª edição Autor: Felipe Bernardes

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ATUALIZAÇÃO

Manual de Processo do Trabalho - Volume Único – 1ª edição

Autor: Felipe Bernardes

CAPÍTULO X - DESPESAS PROCESSUAIS 7.2) Cenário posterior à Reforma Trabalhista

A Reforma Trabalhista alterou significativamente os critérios utilizáveis na avaliação de requerimento de gratuidade de justiça, a partir da nova redação do art. 790, §§3º e 4º, da CLT.1 Havia

algumas situações de distorção, nas quais se concedia o benefício da gratuidade a trabalhadores que recebiam altíssimos salários ou indenizações milionárias por ocasião da rescisão do contrato de trabalho. Foi esse o motivo que levou o legislador a tentar mudar esse panorama. Essa é a chamada mens legis (o

espírito da lei): evitar esse tipo de distorção que vinha acontecendo em alguns casos na Justiça do

Trabalho.

A polêmica que surge quanto a esse dispositivo é que ele retira a menção feita à chamada declaração de hipossuficiência. Ou seja, no novo texto da CLT, não há mais a previsão da declaração de hipossuficiência.

São dois os subsistemas de concessão da gratuidade:

- (i) o subsistema da concessão automática (CLT, art.790, §3º), segundo o qual será beneficiário da gratuidade a pessoa física (reclamante ou reclamado) que receber salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do teto do INSS. Nessas hipóteses, haverá presunção absoluta de hipossuficiência, ou seja, sequer há possibilidade de prova em contrário;

- (ii) o subsistema da concessão da gratuidade condicionada à comprovação da hipossuficiência de recursos financeiros (CLT, art. 790, §4º), aplicável às pessoas físicas (reclamantes ou reclamados) que recebam salário superior a 40% do maior benefício pago pelo INSS.

Em primeiro lugar, deve-se observar que, se o trabalhador estiver desempregado no curso do processo, não estará percebendo qualquer salário; nesses casos, haverá o enquadramento no art. 790-A, ou seja, a gratuidade será avaliada e deferida com base no subsistema de concessão automática. Basta comprovar ou indicar que está desempregado para ser beneficiário da justiça gratuita.

Além disso, perceba-se que o texto do art. 790, §4º, da CLT, não faz - e nem poderia fazer - menção ao meio de prova necessário à comprovação da hipossuficiência. Isso porque o direito probatório

1 Art. 790, § 3º É facultado aos juízes, órgãos julgadores e presidentes dos tribunais do trabalho de qualquer

instância conceder, a requerimento ou de ofício, o benefício da justiça gratuita, inclusive quanto a traslados e instrumentos, àqueles que perceberem salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do limite máximo dos benefícios do Regime Geral de Previdência Social.

§ 4º O benefício da justiça gratuita será concedido à parte que comprovar insuficiência de recursos para o pagamento das custas do processo.

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é regido pelo princípio do livre convencimento motivado do juiz (CPC, art. 371).2 Dessa forma, nada

impede que o Juiz do Trabalho entenda que a declaração de hipossuficiência, firmada pela própria parte, seja meio de prova apto a comprovar a insuficiência de recursos.

Evidentemente, pode ser que, em determinados casos concretos, a declaração de hipossuficiência seja inverossímil. Por exemplo: a parte declara ser hipossuficiente, mas reside em endereço de luxo, indicado na petição inicial; ou, então, surgem elementos que demonstram que a parte é proprietária de veículo de luxo etc. Nessas hipóteses - e somente nelas - será lícito ao Juiz do Trabalho exigir outros meios de prova da insuficiência de recursos.

Na maioria dos casos, portanto, a mera declaração de hipossuficiência deve ser considerada prova suficiente da incapacidade econômica da parte, para fins de enquadramento no art. 790, §4º, do CPC.

Além disso, veja-se que o art. 769 da CLT prevê que os dispositivos do processo comum serão aplicados no Processo do Trabalho em caso de omissão da CLT e de compatibilidade com os princípios processuais trabalhistas.

Cabe reiterar que, cada vez mais, existe uma tendência de aproximação entre o Processo Civil e o Processo do Trabalho, o que permite a transposição da regulamentação atinente à gratuidade de justiça, prevista no CPC, para os processos trabalhistas.

O CPC regulamenta essa matéria no art. 98, caput, que dispõe que a pessoa natural ou jurídica,

brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.

Veja-se, ainda, que o art. 99, §3º, do CPC prevê presumir-se verdadeira a alegação de

insuficiência deduzida exclusivamente por pessoa natural. Trata-se de presunção relativa (juris tantum),

que admite prova em contrário. Tal regramento é plenamente aplicável ao Processo do Trabalho. Assim, se a pessoa física alegar ser hipossuficiente, presume-se que seja verdade até que se prove o contrário. Contudo, segundo o CPC, a pessoa jurídica precisa comprovar que não tem condição de pagar as despesas processuais.

Logo, deve-se recorrer à interpretação sistemática e teleológica da nova regulamentação legal, sob pena de se configurar violação à Constituição (CF, art. 5º, XXXV) em várias situações de denegação do benefício da gratuidade de justiça.

A interpretação sistemática deve levar em conta o art. 99, §2º, do CPC, segundo o qual o juiz

somente poderá indeferir o pedido se houver nos autos elementos que evidenciem a falta dos pressupostos

2 Art. 371. O juiz apreciará a prova constante dos autos, independentemente do sujeito que a tiver

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legais para a concessão de gratuidade, devendo, antes de indeferir o pedido, determinar à parte a comprovação do preenchimento dos referidos pressupostos.

Ora, se no Processo Civil, que regula lides entre pessoas que estão, em princípio, em plano de igualdade, presume-se a veracidade da declaração de hipossuficiência deduzida por pessoa física, não faria sentido estabelecer regramento mais rigoroso e restritivo para os autores de ações trabalhistas, já que, no Processo do Trabalho, há desnível entre as partes da relação de trabalho: o empregador detém, em geral, melhores condições econômicas e jurídicas, ao passo que o trabalhador é hipossuficiente.

Haveria, portanto, quebra de coerência do ordenamento processual, que é uma unidade, à luz de uma perspectiva científica. Do ponto de vista lógico-sistemático, não há qualquer justificativa para que seja mais difícil litigar na Justiça do Trabalho do que na Justiça Civil, como pretendido pela literalidade do texto da Lei nº 13.467/2017.

A interpretação teleológica sinaliza que o objetivo do legislador, já analisado, foi o de evitar situações excessivas e abusivas, em que o benefício da gratuidade era concedido a pessoas que nitidamente ostentavam capacidade financeira.

Assim, conclui-se que se deve aplicar, subsidiariamente, o regramento do CPC, de modo que o Juiz do Trabalho pode e deve indeferir o benefício da gratuidade de justiça, mas apenas se houver nos autos elementos que evidenciem o requerente tem condições de pagar as despesas do processo (como no exemplo do sujeito que mora no bairro mais rico do Rio de Janeiro e possui veículo de luxo).

Quanto à pessoa jurídica - com ou sem fins lucrativos - é preciso comprovar a insuficiência de recursos, o que pode ser feito, por exemplo, por meio de demonstração de balanços financeiros ou outros meios de prova legalmente admitidos. Nesse contexto, seria lícito presumir, portanto, pela insuficiência de recursos de empresa em recuperação judicial ou cuja falência haja sido decretada.

Assim, em síntese, no cenário pós-Reforma:

- (i) o empregador pessoa jurídica pode ser beneficiário da justiça gratuita, desde que comprove insuficiência de recursos;

- (ii) a pessoa física que ganhe salário igual ou inferior a 40% (quarenta por cento) do teto do INSS automaticamente é beneficiária da gratuidade de justiça;

- (iii) a parte que receba mais de 40% (quarenta por cento) do teto do INSS, mas não haja elementos que comprovem que ela tem condições de pagar as despesas processuais, pode ser beneficiária da gratuidade de justiça, a partir da mera declaração de hipossuficiência, que se presume verdadeira até prova em contrário;

- (iv) casos em se evidencie que a parte tem condições de pagar as custas do processo (ganha R$ 30, 40, 50 mil reais, possui patrimônio, reside em endereço de luxo): diante dos elementos que evidenciem a boa condição financeira, mesmo que a parte declare ser hipossuficiente, não é possível

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admitir que seja beneficiário da gratuidade da justiça pela mera declaração. Nessas hipóteses, caberá ao requerente da gratuidade comprovar a insuficiência de recursos, o que deve ser avaliado com cautela e razoabilidade pelo Juiz do Trabalho.

8.2.4.8) Reclamante beneficiário da gratuidade de justiça e sucumbência recíproca: inexigibilidade dos honorários advocatícios sucumbenciais

Nas situações em que houver sucumbência recíproca (procedência parcial dos pedidos da inicial), o reclamante será considerado devedor de honorários advocatícios ao advogado do reclamado, sendo vedada a compensação entre honorários (CLT, art. 791-A, §3º).3

Interessante observar que a lei veda a compensação de honorários advocatícios entre si (= honorários do patrono da reclamada não podem ser compensados com os honorários do patrono do reclamante), conforme se extrai do art. 791-A, §3º, da CLT, mas pretende admitir a compensação do débito de honorários advocatícios com o crédito que o trabalhador tenha a receber no processo - conforme previsto no §4º do mesmo dispositivo.

Ora, embora os honorários advocatícios sejam crédito de natureza alimentar (como corretamente reconhece a jurisprudência), é no mínimo questionável privilegiar, de forma absoluta (como pretende fazer o texto da Reforma) o crédito do advogado da reclamada, em detrimento do crédito do trabalhador-reclamante.

Contudo, apesar de não explicitado no texto legal, deve-se considerar que, se o reclamante for beneficiário da gratuidade de justiça, o seu débito de honorários advocatícios fica sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderá ser executado se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário (CLT, art. 791-A, §4º).4

Com efeito, há necessidade de proceder à interpretação conforme a Constituição, com redução de texto, de modo a reconhecer a inconstitucionalidade da locução desde que não tenha obtido em juízo,

ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a despesa, constante do art. 791-A, §4º, da

3 § 3º - Na hipótese de procedência parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca,

vedada a compensação entre os honorários.

4 § 4º - Vencido o beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro

processo, créditos capazes de suportar a despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

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CLT.5 Isso porque o mero fato de o reclamante vir a receber créditos em juízo, por si só, não faz com que

deixe de ser hipossuficiente, nas situações em que o valor da condenação não seja tão significativo a ponto de mudar a situação econômica do trabalhador.

De fato, cobrar despesas processuais de pessoa hipossuficiente contraria os art. 5º, XXXV e LXXIV, da CF, pois a assistência judiciária deve ser integral e gratuita para os que comprovarem insuficiência de recursos, sob pena de violação do princípio do acesso à justiça.

Se o cidadão é hipossuficiente e não tem condições de pagar as despesas processuais, e se o montante de créditos que tenha a receber no processo não modificar sua situação de hipossuficiência, ele não pode ser compelido a pagar honorários sucumbenciais ao advogado da parte contrária, já que a

integralidade da justiça gratuita abrange todas as despesas processuais, inclusive os honorários, por força

de imperativo constitucional.

Além disso, pensar diferentemente geraria grave incongruência no ordenamento processual, já que, no Processo Civil (que regula lides entre partes niveladas), o beneficiário da gratuidade de justiça jamais paga despesas processuais, ainda que receba créditos em juízo - lá, se dá a suspensão de exigibilidade durante 5 (cinco) anos (CPC, art. 98, §3º).6 No Processo do Trabalho, que regula lides entre

partes desniveladas sob o ponto de vista socioeconômico, o regramento não pode ser mais gravoso para a parte hipossuficiente. Logo, a interpretação lógico-sistemática também referenda a solução aqui adotada.

Ressalve-se que, se o reclamante receber quantia vultosa de recursos financeiros no processo, deve ser revogado o benefício da gratuidade de justiça, o que autoriza a exigibilidade dos honorários. No entanto, enquanto beneficiário da gratuidade, não há exigibilidade dos honorários advocatícios devidos pelo reclamante ao advogado do reclamado, e não se pode deduzir, abater ou compensar o respectivo valor do crédito que o trabalhador tenha a receber no processo.

Em suma, tanto na improcedência total de pedidos, quanto na procedência parcial (= sucumbência recíproca), é inexigível o crédito de honorários advocatícios que passa a ser titularizado pelo advogado da reclamada, se e enquanto o reclamante for beneficiário da gratuidade de justiça.

8.2.4.9) Reclamante não beneficiário da gratuidade de justiça: sucumbência recíproca, improcedência total e honorários advocatícios equitativos

5 Após maior reflexão, evoluí e modifiquei o entendimento sustentado na 1ª edição deste Livro, na qual

sustentei que, nas hipóteses de sucumbência recíproca envolvendo reclamante beneficiário da gratuidade, também deveriam ser fixados honorários equitativos.

6 § 3º - Vencido o beneficiário, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição

suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser executadas se, nos 5 (cinco) anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais obrigações do beneficiário.

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Quando o reclamante não for beneficiário da gratuidade de justiça, abre-se espaço para a exigibilidade de honorários advocatícios sucumbenciais devidos ao advogado do reclamado.

Observe-se que, caso se opte pela aplicação pura e simples de percentuais nos casos de sucumbência recíproca, podem surgir situações de perplexidade, nas quais o trabalhador reclamante perderia totalmente os créditos a que fizesse jus, e ainda ficaria com débito pendente a título de honorários, em virtude da compensação realizada.

Exemplo: reclamante faz pedido cujo montante total é R$ 100.000,00 (cem mil reais), e obtém julgamento de procedência apenas de R$ 8.000,00 (oito mil reais). Se o juiz fixar percentual de 10% (dez por cento) a título de honorários advocatícios, aplicando-os sobre o valor dos pedidos julgados improcedentes (R$ 92.000,00), o reclamante teria uma dívida de R$ 9.200,00 (nove mil e duzentos reais) a título de honorários, e um crédito de R$ 8.000,00 (oito mil reais) para receber. Feita a compensação, o reclamante nada receberia, e ainda teria um débito pendente de R$ 1.200,00 (mil e duzentos reais).

Da mesma forma, no que tange à improcedência total dos pedidos, nem sempre será possível aplicar o critério de percentuais, por diversos motivos: (i) nem sempre a petição inicial será líquida7; (ii)

na improcedência, não há propriamente um proveito econômico a ser obtido pelo réu; (iii) nem sempre o valor da causa pode ser utilizado, como ocorre nas ações meramente declaratórias e constitutivas.

Pode-se chegar a duas conclusões parciais: (i) a Lei nº 13.467/2017 pretende inibir o ajuizamento de ações temerárias e de pedidos infundados, responsabilizando o autor pelo pagamento de honorários advocatícios; (ii) a aplicação pura e simples de percentuais, na hipótese de sucumbência recíproca, gera situações injustas e violadoras do acesso à justiça.

Nesse cenário, veja-se que não há, no âmbito trabalhista, dispositivo equivalente ao art. 85, §6º, do CPC8, o qual prevê expressamente que, nos casos de improcedência ou de extinção sem resolução de

mérito também se aplica o critério de incidência de percentual sobre o valor do pedido. À luz do art. 769 da CLT, o intérprete deve concluir pela inaplicabilidade do art. 85, §6º, do CPC, aos processos trabalhistas, em virtude da omissão da CLT e da incompatibilidade do referido dispositivo com o Direito Processual do Trabalho, o que se explica pelos seguintes fundamentos:

- (i) nem sempre o julgamento de improcedência decorre do fato de a lide ser temerária ou o pedido infundado. A prática forense demonstra que, muitas vezes, a improcedência decorre de insuficiência probatória do autor;

- (ii) nesse cenário, a cobrança de honorários advocatícios, com base em percentuais, no caso de sucumbência recíproca, pode gerar situação de nítida injustiça e enriquecimento sem causa do advogado

7 Sobre o ponto, ver Capítulo XV, item 2.

8 § 6o Os limites e critérios previstos nos §§ 2o e 3o aplicam-se independentemente de qual seja o conteúdo

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do reclamado (Código Civil, art. 884), que poderia receber - através de compensação de créditos - os valores de verbas rescisórias e outros direitos básicos do trabalhador (adicional de insalubridade, horas extras etc.), em função do trabalho decorrente da elaboração de uma simples contestação pelo advogado da reclamada;

- (iii) a cobrança de percentuais no caso de sucumbência recíproca pode inviabilizar, na prática, o acesso à Justiça do Trabalho, pois cria despesa e risco demasiadamente elevados para o trabalhador;

- (iv) a fixação de honorários sucumbenciais em valores exacerbados é incompatível com o sistema de precedentes obrigatórios vigente no Direito Processual. Ora, se o advogado não puder defender tese contrária ao precedente (propondo a superação do entendimento, ou a distinção do caso concreto), por temer condenação elevada em honorários sucumbenciais, haverá nítido engessamento do Direito e supremacia dos Tribunais Superiores, de forma antidemocrática.

É preciso reiterar e deixar claro que não há nada no texto da CLT que obrigue o Juiz do Trabalho a fixar os honorários advocatícios com base em percentuais, nas hipóteses de sucumbência recíproca e de improcedência total. A previsão de fixação obrigatória de percentuais nas hipóteses de improcedência e de extinção sem resolução de mérito está escrita apenas no art. 85, §6º, do CPC, que não se aplica no âmbito trabalhista, pelos motivos já expostos.

A solução que deve ser adotada, portanto, deve buscar a ponderação e o equilíbrio entre os valores envolvidos, sem excessos nem radicalismos: se o trabalhador não for beneficiário da gratuidade, é válida a exigência de honorários advocatícios sucumbenciais devidos ao advogado da reclamada, porque as lides temerárias e os pedidos infundados realmente devem ser coibidos; de outro lado, não se pode inviabilizar o acesso à justiça e tornar incoerente o sistema judiciário de tutela de direitos.

Abre-se, então, a possibilidade de fixação de honorários advocatícios equitativos nas situações de sucumbência recíproca e de improcedência total de pedidos. Tal solução era adotada pelo Superior Tribunal de Justiça sob a égide do CPC/1973, o qual - exatamente como a CLT no cenário posterior à Reforma Trabalhista - não continha dispositivo que estabelecesse a fixação de honorários sucumbenciais necessariamente com base em percentuais, no caso de julgamento de improcedência do pedido.9

9 AGRAVO REGIMENTAL NOS EMBARGOS DE DECLARAÇÃO NOS EMBARGOS DE

DECLARAÇÃO NO RECURSO ESPECIAL. PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA. IMPROCEDÊNCIA. HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS. FIXAÇÃO. REGRA DA EQUIDADE. VALOR RAZOÁVEL. MODIFICAÇÃO. INADMISSIBILIDADE.

1. Tendo sido o pedido julgado improcedente, não há falar em condenação, cumprindo ao magistrado fixar os honorários advocatícios com observância do disposto no § 4º do art. 20 do Código de Processo Civil, ou seja, consoante a apreciação equitativa.

2. Na verba honorária arbitrada com base na equidade, o julgador não está adstrito a nenhum critério, como os limites inscritos no art.20, § 3º, do CPC, podendo valer-se de percentuais tanto sobre o montante da causa quanto sobre o da condenação, bem como fixar os honorários em valor determinado.

3. Não merecem modificação os honorários advocatícios arbitrados por equidade, seguindo os critérios de razoabilidade.

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Na fixação dos honorários equitativos, o juiz não está adstrito à observância de percentuais, podendo estipular um valor fixo, com base no bom senso e razoabilidade. Eventualmente, a estipulação do valor dos honorários com base na aplicação de percentuais até pode se revelar adequada, mas isso nem sempre ocorrerá, conforme já demonstrado.

No arbitramento do valor dos honorários advocatícios sucumbenciais relativos aos pedidos julgados improcedentes, ou extintos sem resolução de mérito, o juiz deve se pautar em diversos critérios, entre os quais se destacam:

- (i) a extensão do trabalho do advogado do réu, de modo a evitar o enriquecimento sem causa de quaisquer sujeitos processuais. Por exemplo, se houve simples oferecimento de contestação, o valor será mais baixo; se houve atuação do advogado até o grau recursal e também na execução, o valor será mais elevado etc.;

- (ii) o grau de zelo do profissional e o tempo exigido para o patrocínio da causa;

- (iii) o fato de que os honorários sucumbenciais têm o objetivo simultâneo de remunerar o trabalho do advogado, e também de coibir ações temerárias e pedidos infundados. Assim, se o julgamento de improcedência se der por falta de provas, os honorários devem ser fixados em patamar mais baixo; se o juiz constatar que se trata de lide temerária, o montante pode ser mais elevado etc.

Voltando ao exemplo anterior, do pedido cujo montante total é R$ 100.000,00 (cem mil reais), e o autor obtém julgamento de procedência apenas de R$ 8.000,00 (oito mil reais), o juiz poderia fixar, por exemplo, à luz dos critérios expostos, honorários advocatícios no montante de R$ 2.000,00 (dois mil reais), considerando o trabalho tido pelo advogado na situação concreta. O reclamante receberia, nesta hipótese, a quantia líquida de R$ 6.000,00 (seis mil reais).

Depreende-se que a solução ora preconizada, além de extraída diretamente das leis infraconstitucionais pertinentes, é pautada nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade, atendendo a todos os interesses envolvidos: não se inviabiliza o acesso à justiça; cria-se a necessidade de maior consciência do trabalhador-reclamante, desestimulando o ajuizamento de ações temerárias e pedidos infundados; prestigia-se o trabalho do advogado da reclamada, que terá justa retribuição pelo seu trabalho.

(AgRg nos EDcl nos EDcl no REsp 1367922/SE, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA TURMA, julgado em 25/08/2015, DJe 31/08/2015)

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