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II USO PRODUTIVO DE EFLUENTES TRATADOS EM HIDROPONIA NFT

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Academic year: 2021

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23º Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental

II-163 - USO PRODUTIVO DE EFLUENTES TRATADOS EM HIDROPONIA

NFT

Renata Carolina Pifer Abujamra(1)

Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal do Paraná, Mestre em Engenharia Sanitária pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Bolsista (DTI/CNPq) do PROSAB/RN - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico.

Henio Normando de Souza Melo

Engenheiro Químico, Mestre em Química Ambiental, Doutor em Engenharia Ambiental pelo Institut National des Sciences Appliqées, Toulouse/França, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Coordenador do PROSAB-RN - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (FINEP/CNPq/CAIXA).

Cícero Onofre de Andrade Neto

Engenheiro Civil, Mestre em Engenharia Civil com Concentração em Saneamento, Doutor em Recursos

Naturais, Professor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Membro do Grupo Coordenador do PROSAB - Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (FINEP/CNPq/CAIXA), Membro do Comitê Científico do Programa de Pesquisas do Departamento de Engenharia de Saúde Pública da FUNASA.

Endereço(1): Av. Praia de Tibau, 2169 - Ponta Negra – Natal/RN - CEP: 59.094-500 - Brasil - Tel: (84) 219-5741 -

e-mail: abujamrarenata@eq.ufrn.br

RESUMO

Com a evolução dos conhecimentos sobre as exigências nutricionais das plantas, aeração, irrigação e sanidade, outras técnicas de cultivo passaram a ser utilizadas em todo o mundo. Neste aspecto, a hidroponia, que consiste no cultivo sem solo, vem se tornando amplamente difundida, já que o controle das propriedades físico-químicas do meio é mais fácil que no solo in situ.

Por outro lado, a água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola, principalmente nas regiões áridas e semi-áridas, neste sentido surge o conceito de “substituição de fontes”, – liberando águas de melhor qualidade para usos mais nobres e promovendo o uso de águas de menor qualidade, tais como esgotos domésticos, como fontes de usos menos restritivos. E sendo a agricultura a maior responsável pelo uso consuntivo de águas (cerca de 80%), relacionar o uso e manejo das tecnologias envolvidas na produção agrícola de forma adequada e a sustentabilidade do meio ambiente tornou-se, atualmente, algo de primordial importância.

O uso de esgotos tratados em hidroponia, em substituição ás soluções nutritivas convencionais é prática viável e já comprovada por diversas pesquisas (MELO, 2003) e pode ser realizado de duas formas: sem correção das características e composição do esgoto, neste caso se utilizam culturas que melhor se adaptem ás características do efluente; ou com correções das características físico-químicas do esgoto tratado em função da cultura utilizada.

Para avaliar a eficiência e a adequação do cultivo hidropônico utilizando efluente de filtros anaeróbios para produção de plantas ornamentais (Gérbera – Gerbera jamesonii) realizou-se um experimento utilizando-se a Técnica do Filme Nutriente (NFT). A NFT é a técnica hidropônica na qual se faz passar um fluxo laminar de solução nutritiva ou de esgoto, por meio do sistema radicular das plantas dispostas em canaletas inclinadas a fim de remover sais eutrofizantes dos esgotos que servem de adubos para as plantas. Este esquema permite a recirculação do efluente, em sistema fechado a fim de proporcionar sua reutilização.

PALAVRAS-CHAVE: Reúso de águas, tratamento de esgoto, hidroponia com esgoto tratado.

INTRODUÇÃO

Com a evolução dos conhecimentos sobre as exigências nutricionais das plantas, aeração, irrigação e sanidade, outras técnicas de cultivo passaram a ser utilizadas em todo o mundo. Neste aspecto, o cultivo sem solo, hidroponia, vem se tornando amplamente difundido, já que o controle das propriedades físico-químicas do meio é mais fácil que no solo in situ.

Por outro lado, a água tornou-se um fator limitante para o desenvolvimento urbano, industrial e agrícola principalmente nas regiões áridas e semi-áridas, neste sentido surge o conceito de “substituição de fontes” –

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liberando águas de melhor qualidade para usos mais nobres e promovendo o uso de águas de menor qualidade tais como esgotos, particularmente domésticos, como fontes de usos menos restritivos.

A utilização de efluentes para o reuso das águas reduz a necessidade de captação de águas primárias em mananciais naturais e, devido a menor geração de efluentes finais, evita a poluição ambiental, que é outra forma de esgotar a capacidade dos mananciais, pela degradação da qualidade (ANDRADE NETO, 2001).

O uso de esgotos tratados em hidroponia, em substituição ás soluções nutritivas convencionais, pode ser realizado de duas formas: sem correção das características e composição do esgoto, neste caso se utilizam culturas que melhor se adaptem ás características do efluente; ou com correções das características físico-químicas do esgoto tratado em função da cultura utilizada (MELO, 2003).

As gérberas (Gerbera jamesonii) são flores provenientes da família das Asteráceas, originária do sul da África, de grande importância comercial no Brasil, sendo a 3ª colocada em quantidade de flores comercializadas no mercado interno brasileiro. São plantas perenes, herbáceas que possuem flor composta de coloração variada e diâmetro de capítulo de 6,0 a 10,5 cm e haste de 30,5 a 46,0 cm. O sistema radicular é, originalmente, pivotante, mas à medida que se desenvolve, converte-se em fasciculado e é composto por grossas raízes de onde partem numerosas radicelas (INFOAGRO, 2002).

O ambiente exerce bastante influência sobre as gérberas, sobretudo a temperatura que tem exerce efeito direto no crescimento das folhas, no comprimento da haste floral , diâmetro do capítulo e na precocidade de floração. A temperatura média ideal para o bom desenvolvimento está entre 17° e 25°C, no período diurno e uma variação de +/- 5°C noturna (LEFFRING, 1975). Baixas temperaturas podem provocar abortamento de botões florais, devido à baixa atividade fotossintéticas e à baixa absorção de nutrientes pelas raízes. Altas temperaturas, no momento do plantio e da irrigação podem proporcionar desequilíbrio entre a parte aérea e as raízes da planta, causando atraso no desenvolvimento e florescimento das plantas.

Este trabalho visou avaliar a adequação do efluente de filtros anaeróbios à Técnica de hidroponia NFT para produção de gérberas.

MATERIAIS E MÉTODOS

As pesquisas foram realizadas no âmbito do Programa de Pesquisa em Saneamento Básico (PROSAB) EDITAL 4, no campo experimental de tratamento e uso produtivo de esgotos sanitários da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) situado no bairro de Lagoa Nova, em Natal/RN, coordenadas 5°50´13´´S e 35°12´6´´W. O efluente tratado, utilizado em substituição à solução nutritiva, é proveniente de um tratamento composto de decanto-digestor de duas câmaras em série seguido de filtros anaeróbios afogados. O sistema hidropônico é o NFT na qual se faz passar um fluxo laminar de solução nutritiva ou de esgoto, por meio do sistema radicular das plantas dispostas em canaletas inclinadas com recirculação (sistema fechado). O experimento hidropônico foi conduzido em casa de vegetação de 7x5 metros, coberta com lona plástica transparente 30mm e sombrite 40%, onde estão instaladas 04 (quatro) bancadas contendo 04 (quatro) calhas de 3,0m cada uma. O sistema hidráulico de cada bancada é independente e constam de um reservatório de 50 L (para solução nutritiva ou esgoto), bomba para alimentação e registro para aferição da vazão, a recirculação era realizada por gravidade. O ciclo de rega era intermitente e foi controlado por meio de temporizadores (Figuras 01e 02).

Cada bancada correspondeu a um tratamento, portanto foram instalados 04 (quatro) tratamentos, a saber: T1 – alimentado com esgoto tratado com recirculação de 48 horas; T2 - alimentado com esgoto tratado com recirculação de 24 horas; T3 – alimentado com solução nutritiva convencional e T4 - alimentado com esgoto tratado com recirculação de 72 horas. Todos os tratamentos trabalharam com o mesmo ciclo de rega de 10 de irrigação x 30 minutos parado (Figura 03).

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Figura 01 – Vista geral da Case de Vegetação Figura 02 – Vista geral das bancadas NFT

Figura 03 – Esquema Representativo dos Tratamentos e do Delineamento Estatístivo.

Para a caracterização do esgoto doméstico tratado por filtros anaeróbios afogados e comparação com a solução nutritiva sintética convencionalmente recomendada para a cultura, bem como para avaliar o consumo dos nutrientes pelas plantas quando fornecidos pela solução nutritiva e pelo esgoto tratado foram realizadas as seguintes análises físico-químicas:

a) Análises de Caracterização (efluente tratado entrada) – realizadas quinzenalmente nos dois primeiros meses, posteriormente realizadas 1 vez por mês: DBO, DQO, COT, Alcalinidade, AGV.

b) Análises de Rotina (efluente tratado entrada, solução nutritiva nova, solução nutritiva recirculada, efluentes recirculados) – realizadas quinzenalmente durante todo andamento da pesquisa: pH, condutividade, temperatura, turbidez, sólidos suspensos (fixos e voláteis), macronutrientes (nitrogênio NTK - nitrogênio amoniacal, nitrogênio orgânico, nitrito, nitrato, fósforo total e ortofosfato, potássio, cálcio, magnésio e enxofre) além de sódio e cloreto.

Os parâmetros temperatura, pH e condutividade eram monitorados diariamente em todos os tratamentos às 9:00 e às 15:00 horas, bem como a temperatura ambiente na casa de vegetação. De acordo com estes parâmetros eram realizados os ajustes da solução nutritiva que compreendem, reposição da água evapotranspirada e/ou consumida e reposição da concentração dos nutrientes absorvidos. Em nenhum momento foram realizadas correções no esgoto.

A cultivar de Gérbera usada foi a Patrizia. A mudas utilizadas foram produzidas in vitro por empresa especializada e transplantadas para as bancadas quando estavam com 89 dias (28/08/2004) e 05 cm de altura, com aproximadamente 3 folhas. Semanalmente era analisado o desenvolvimento das plantas através da altura e do número de folhas viáveis. Aos 52 dias (18/10/2004) após o transplante para as bancadas procedeu-se a retiradas destas para avaliação da produção de matéria seca, acúmulo de nutrientes no tecido vegetal que foi avaliado de acordo com o Sistema Integrado de Diagnose e Recomendação (DRIS). Para análise de parâmetros de desenvolvimento o delineamento escolhido para análise estatística dos resultados obtidos foi o Inteiramente Casualizado e o Teste de Tukey 5%, uma vez que o experimento foi conduzido sob condições uniformes.

Ao final do experimento, foram ainda analisadas 22 amostras de plantas sadias (Padrões 1 e 2), adquiridas no mercado local aleatoriamente, para se determinar a faixa de concentração adequada de cada macronutriente

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para o cultura da gérbera, uma vez que não foram encontrados, na bibliografia especializada, dados referente as estas concentrações.

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Nas Tabela 1 e 2 apresentam-se, as principais características da composição da solução nutritiva recomendada e do efluente tratado de entrada, bem como os resultados obtidos para os esgotos e solução nutritiva recirculados:

Tabela 1. Teor de macronutrientes (mg/l) na solução nutritiva convencional e no efluente tratado entrada: pH Cond µS/cm N-org N-NH4 N-NO3 P K Ca Mg S Sol. Nutritiva recomendada* 6,0-6,5 2200 - 17,5 210,0 54,25 448,5 180,0 30,0 32,0 Efluente tratado entrada** 7,2 750 18,2 25,4 1,4 2,43 20,0 7,25 6,86 6,55

*Fonte: Adaptado E. Maloupa, (1999/2001).

** Valores médios 4 coletas.

Tabela 2. Teor de macronutrientes na solução nutritiva recirculada e efluentes recirculados:

VARIÁVEIS T2 (24) T1 (48) T4 (72) T3 (SNR) Temperatura (°C) 27,8 27,3 27,5 29,0 pH 7,9 7,2 6,8 6,0 Condutividade (µS/cm) 790 743 752 2040 Turbidez (NTU) 2,41 1,85 1,47 1,16 SST (mg/l) 16 14 13 8 Nitrogênio amoniacal (mg/l) 29,12 21,40 19,20 0,44 Nitrito (mg/l) 0,54 0,39 0,42 3,45 Nitrato (mg/l) 24,30 18,07 19,30 138,27 Fósforo Total (mg/l) 2,13 1,93 1,51 22,74 Potássio (mg/l) 18,1 21,6 21,8 240,3 Cálcio (mg/l) 15,06 13,47 15,71 149,26 Magnésio (mg/l) 11,91 7,48 16,67 37,76 Enxofre (Sulfato) (mg/l) 4,65 6,70 7,95 13,23 Cloreto (mg/l) 97,33 91,29 100,14 59,87 Sódio (mg/l) 58,3 66,3 76,6 54,7

Volume consumido (l/dia) 4,82 2,52 9,66 1,81

A temperatura exerce efeito direto na absorção de íons pelas raízes. Baixas temperaturas causam redução na atividade metabólica e conseqüente redução na assimilação de nutrientes. Por outro lado, temperaturas mais elevadas favorecem a assimilação dos nutrientes pelas plantas pelo aumento da intensidade respiratória, sendo estes transportados pelo xilema movendo-se, pois, na corrente transpiratória. Aumentando a intensidade transpiratória provoca-se um aumento da tensão, que “puxa” a solução externa através dos espaços intraceleulares (apoplastos) onde os elementos são absorvidos junto com a água. Por outro lado, aumentos excessivos na temperatura causam aumento elevado na tensão, fazendo acumular sais na solução próximo às raízes, juntamente com a evaporação de água do reservatório, o acúmulo de sais é tal, que causa aumento da pressão osmótica da solução nutritiva fazendo com que a planta passa a perder água a fm de se estabelecer um equilíbrio osmótico entre os meios (extermo-interno).

O acompanhamento da variação da temperatura, juntamente com a condutividade elétrica dos esgotos durante o período da pesquisa permitiu observar que não houve grandes variações das mesmas a ponto de prejudicar o crescimento da cultura estudada. A amplitude de variação da temperatura foi de 2,3°C, sendo a máxima e 28,8° e a mínima de 26,5°C, a condutividade elétrica máxima observada foi de 1,32 mS/cm não se

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constituindo em problemas. Porém, para a solução nutritiva a mera variação de 2,0 °C na temperatura da solução e na temperatura ambiente verificou-se um aumento significativo da condutividade elétrica da solução nutritiva, de 2,04 para 2,52 mS/cm nas horas mais quentes do sai (12:00hs). Quando considerada a pressão osmótica da solução, esta atinge o valor de -0,98 atm bem próximo ao limite de -1,0 atm, o que pode

prejudicar na assimilação e absorção de água e nutrientes minerais, conforme descrito acima.

Variação Diária de Temperatura x Solução 2 3 2 0 0, 1 1, 2 2, 3 09:0 12:0 15:0 2 2 3 3 3

Con Temp Amb

Figura 04 – Gráfico Variação Diária Temperatura Ambiente x Condutividade Solução Nutritiva

Como pode ser observado na Figura 04, as 12:00 a temperatura ambiente média é de 31°C, onde o máximo chegou a atingir 34°C. Temperaturas dessa magnitude, relacionadas com a condutividade elétrica da solução, são suficientes para ocasionar perdas de água pelas raízes devido á alta pressão osmótica e a elevada taxa de transpiração da planta.

O efeito do pH na absorção dos nutrientes pela plantas pode ser direto ou indireto. A concentração hidrogeniônica, além de afetar a disponibilidade dos elementos nutrientes pode afetar o processo de absorção, principalmente do Ca.

O pH do esgoto tratado teve valor muito próximo do neutro, apresentando uma média de 7,2. Acompanhando as medições diárias, tanto do esgoto de entrada como os recirculados mantiveram sua variação entre 6,0 e 8,5; que não constitui forte restrição para a absorção dos nutrientes, pois a maioria encontra-se na forma assimilável pelas culturas. O pH da solução nutritiva foi sempre monitorado e corrigido quando necessário, portanto manteve-se entre 6,0 e 6,5.

Em relação às concentrações e comportamentos dos nutrientes pode-se verificar que:

Houve uma grande remoção de nitrogênio amoniacal na solução nutritiva, este fato deve-se principalmente ao fenômeno de nitrificação. Este efeito também ocorre no esgoto tratado, porém no T2 (24) ocorre um inicial aumento, pois, o nitrogênio orgânico (proteínas e aminoácidos) presentes no esgoto são inicialmente convertidos em amônia e posteriormente é reduzido à nitrito e nitrato. Dessa forma a alta remoção de amônia implica no elevado acúmulo de nitrito e subseqüentemente em nitrato, forma preferencial de assimilação de nitrogênio pela maioria das culturas.

Quanto a disponibilidade de fósforo verificou-se maiores reduções na solução nutritiva e bem menores nos tratamentos com esgoto tratado. Este fato está relacionado com o pH que afeta diretamente a disponibilidade do fósforo. O ácido ortofosfórico dissocia-se em três espécies iônicas diferentes: o H3PO4 predomina em pH menor que 2; PO---4 em pH maior que 11,5; e os H2PO-4, que é a espécie iônica mais absorvida, predomina em pH menor que 7. Uma vez que a solução nutritiva sofreu correção constante do pH, mantendo-se sempre entre 6,0 e 6,5, permaneceu em uma faixa adequada de assimilação pelas culturas. Como o pH dos esgotos atingiu máximos de 8,5, pode ter influenciado na disponibilidade deste elemento em um determinado momento.

O íon potássio foi largamente absorvido pelas plantas da solução nutritiva, porém nos tratamentos com esgoto verificou-se um pequeno consumo no T2 (24) e um aumento nos tratamentos T1 (48) e T4 (72). Este fato pode ter ocorrido tanto pela sua concentração devido à evaporação da água como pode estar havendo inibição competitiva ou antagonismo com outros íons presentes. A inibição trata-se da diminuição de um determinado nutriente devida ä presença de outro, diz-se competitiva quando os dois elementos (nutriente inibido e

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nutriente inibidor) se combinam com o mesmo sítio de carregador. A inibição competitiva pode ser eliminada aumentando-se a concentração do nutriente. O antagonismo é um caso particular de inibição e ocorre quando a presença de um determinado elemento no meio diminui a absorção do outro do modo que a toxidez do segundo não se manifeste na planta. O mesmo acontece para os elementos cálcio, magnésio e enxofre.

A cultura da gérbera em cultivo hidropônico no que se refere ao crescimento e desenvolvimento das plantas tanto nos tratamento com esgotos tratados como em solução nutritiva, foi verificado, logo nos primeiros dias após o transplante das mudas para as bancadas grandes perdas (cerca de 50%) no T3 (SN), os sintomas eram “murchas” e “queima” nas folhas, além de um “apodrecimento” dos brotos apicais com posterior morte.

O desenvolvimento inicial das plantas nos tratamentos T1 (48) e T2 (24) foram bastante semelhantes em relação à altura e número de folhas. Posteriormente verificou-se um maior desenvolvimento das plantas em T2 (24), embora apresentem sintomas visuais de deficiência nutricional bastante acentuados e em maiores proporções que T1 (48). O T4 (72) apresentou retardo no desenvolvimento das plantas. Esse comportamento a princípio foi atribuído ao tempo de recirculação de 72 horas que pode estar sendo excessivo, o que ocasionaria um esgotamento dos elementos minerais nutritivos, em especial dos micronutrientes.

Para melhor interpretação dos resultados obtidos da concentração de nutrientes na solução nutritiva e esgoto tratado e avaliar o estado nutricional das plantas foram realizadas análises do tecido foliar de cada tratamento. A Tabela 3 e as Figuras 05 a 10 apresentam os resultados de acúmulo de nutrientes e o teor de matéria seca nas plantas inteiras (folhas + raízes) dos 04 tratamentos bem como para as plantas que serviram de padrão.

Tabela 3. Acúmulo de nutrientes nas plantas (folhas + raízes) – Valor Médio (11 repetições):

NUTRIENTE/TRATAM T2 (24) T1 (48) T4 (72) T3 (SN) PADRÃO Nitrogênio (%MS) 4,32 3,32 2,53 3,13 3,67 Fósforo (%MS) 0,37 0,36 0,33 0,56 0,45 Potássio (%MS) 1,94 2,12 2,18 5,57 2,91 Cálcio (%MS) 0,56 0,60 0,70 1,95 2,45 Magnésio (%MS) 0,25 0,27 0,28 0,50 0,68 Enxofre (%MS) 0,23 0,22 0,22 0,51 0,22 Matéria Seca (%) 43,17 46,47 48,63 51,34 54,6

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NITROGÊNIO FÓSFORO

POTÁSSIO CÁLCIO

MAGNÉSIO ENXOFRE

Figuras 05 a 10 – Gráficos Box Plot: Acúmulo dos Nutrientes (%MS) no Tecido Vegetal (Nitrogênio, Fósforo, Potássio, Cálcio, Magnésio, Enxofre).

O diagnóstico do estado nutricional das plantas para cada tratamento, a partir da análise de foliar, foi realizado através do Sistema DRIS, onde os nutrientes não são considerados pelas suas concentrações individuais (análises univariadas), mas sim, a partir de relações envolvendo as concentrações de todos os nutrientes, tomados dois a dois (análises bivariadas), o que confere maior precisão que as interpretações individuais dos nutrientes apresentadas acima. Assim, foram determinados índices negativos ou positivos, em função de um equilíbrio nutricional padrão, estabelecido a partir da base de dados escolhida. Através dos índices DRIS é possível informar a ordem de limitação dos nutrientes, não só por falta (índices negativos), mas também por excesso (índices positivos), indicando o equilíbrio nutricional das plantas em cada tratamento.

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Tabela 4. Resultados DRIS T2 (24) (g/kg):

Nutrientes: N P K Ca Mg S

Teor Foliar 43,2 3,7 19,4 5,6 2,5 2,30

Classificação Adequado Adequado Adequado Deficiente Deficiente Deficiente

Indice DRIS -4,2 22,0 7,4 -17,7 -14,8 7,3

Classificação Adequado Exceso Adequado Deficiente Def Provável Adequado

Índice de Balanço Nutricional: 73,4 Índice de Balanço Nutricional médio: 12,2

Tabela 5. Resultados DRIS T1 (48) (g/kg):

Nutrientes: N P K Ca Mg S

Teor Foliar 33,2 3,6 21,2 6,0 2,7 2,20

Classificação Deficiente Adequado Adequado Adequado Deficiente Deficiente

Indice DRIS -21,2 21,8 15,2 -13,0 -8,2 5,5

Classificação Deficiente Excesso Provável Exc. Adequado Adequado Adequado

Índice de Balanço Nutricional: 84,9 Índice de Balanço Nutricional médio: 14,1

Tabela 6. Resultados DRIS T4 (72) (g/kg):

Nutrientes: N P K Ca Mg S

Teor Foliar 25,3 3,3 21,8 7,0 2,8 2,20

Classificação Deficiente Adequado Adequado Adequado Deficiente Deficiente

Indice DRIS -42,3 18,8 20,7 -1,9 -2,9 7,6

Classificação Deficiente Provável Exc. Excesso Adequado Adequado Adequado

Índice de Balanço Nutricional: 94,1 Índice de Balanço Nutricional médio: 15,7

Tabela 7. Resultados DRIS T3 (SN) (g/kg):

Nutrientes: N P K Ca Mg S

Teor Foliar 31,3 5,6 55,7 19,5 5,0 5,10

Classificação Deficiente Excessivo Excessivo Excessivo Adequado Excessivo

Indice DRIS -108,0 13,4 55,0 24,5 -8,2 23,4

Classificação Deficiente Adequado Excesso Adequado Adequado Adequado Índice de Balanço Nutricional: 232,6

Índice de Balanço Nutricional médio: 38,8

A interpretação dos resultados das análises foliares juntamente com o diagnóstico gerado pelo Sistema DRIS nos permite avaliar a interação entre os elementos minerais em cada tratamento.

As concentrações de N nos diferentes tratamentos referentes às análises foliares isoladas apresentarem-se acima da média do padrão no T2 (24) e abaixo nos demais tratamentos, o que foi comprovado pelo Sistema DRIS que classifica o equilíbrio do N como adequado para o T2 (24) e deficiente para os demais.

O P teve comportamento diferente do N, apesar de ter se apresentado abaixo da média do padrão nos tratamentos alimentados com esgoto, no Sistema DRIS aparecem em níveis suficientes para a nutrição das plantas, e no tratamento com solução nutritiva foi considerado excessivo. O mesmo foi observado com o K. O Ca e o Mg apresentaram-se abaixo das médias em todas as análises unilaterais, entretanto nos tratamentos T1 (48) e T4 (72), o cálcio foi considerado satisfatório e excessivo para o T3 (SN). Para o magnésio o único nível adequado foi no T3 (SN) nos demais, alimentados com esgoto tratado são considerados limitantes. Vale salientar que existe uma interação antagônica entre os íons cálcio, magnésio e o potássio. E os níveis de potássio apesar de adequados podem estar interferindo na assimilação do cálcio e magnésio.

O nível de desequilíbrio dos nutrientes pode ser observado em função da amplitude dos índices negativos ou positivos. Quanto mais distante do zero for um índice, maior será o efeito negativo desse nutriente sobre as plantas para a obtenção de altas produtividades. Desse modo, é possível estabelecer, em ordem de prioridade, os nutrientes mais ou menos limitantes, desde o mais deficiente (mais negativo) até o mais excessivo (com maior valor positivo), em termos relativos.

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Com o somatório, em módulo (negativos ou positivos), dos índices de todos os nutrientes, obtém-se o Índice de Balanço Nutricional (IBN). O IBN médio é a divisão do IBN pelo número de macro e micronutrientes avaliados em cada amostra.

A interpretação dos resultados obtidos indica um desequilíbrio nutricional maior no tratamento alimentado com solução nutritiva (T3 (SN) = 232,6). Esse desequilíbrio pode ter ocorrido, além das interações entre os elementos nutritivos (antagonismo e sinergismo), em função da alta temperatura durante o período de desenvolvimento da pesquisa, ocasionando uma evapotranspiração elevada associada a alta salinidade da solução nutritiva (condutividade = 2,5 mS/cm) e conseqüentemente do aumentando o potencial osmótico da solução fazendo com que as plantas não absorvessem água e nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.

Em relação ao desenvolvimento das plantas, não foram verificadas, na análise de variância (Tabela 7), diferenças significativas em relação ao número de folhas entre os tratamentos T1 (48) e T2 (24), porém, ambos diferem significativamente do tratamento T3 (SN) e T4 (72), como pode ser observado na Tabela 4., ficando a significância, desta forma, relacionada com o desequilíbrio nutricional, uma vez que o T3 (SN) foi o tratamento que apresentou maior índice de Balanço Nutricional (232,6) seguido do T4 (72) (94,1).

Tabela 8. Número de folhas viáveis – Comparação de médias entre os tratamentos:

TRAT/REP 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 MÉDIAS

T2 (24) 5,67 6,00 5,33 4,25 5,00 6,50 5,75 5,33 5,25 4,25 6,25 5,42 a

T1 (48) 5,25 6,25 6,25 7,75 5,50 7,00 7,00 6,25 6,50 4,00 3,75 5,95 a

T3 (SN) 4,00 3,50 3,75 2,50 1,50 4,00 3,75 2,00 3,50 4,00 2,75 3,20 b

T4 (72) 2,50 3,50 5,00 3,25 4,75 4,25 3,00 4,25 4,50 4,50 2,75 3,84 b

Teste Tukey a 5% de probabilidade – médias com letras iguais não diferem significativamente entre si.

CONCLUSÕES

Os resultados da pesquisa permitiram comprovar o potencial do esgoto sanitário tratado ser utilizado em substituição à solução nutritiva para o cultivo de flores. Porem, como os elementos minerais nutritivos não estão presentes em quantidades balanceadas, pode-se exigir alguma correção na composição do efluente para adequação as necessidades da cultura.

Mediante aplicação do Sistema DRIS, é possível estabelecer as futuras ações para a solução dos problemas nutricionais ocorridos. Contudo, deve-se observar que o índice DRIS de um nutriente nas folhas, classificado como tendente à deficiência ou deficiente, pode ser devido não somente pela sua baixa disponibilidade, mas, também, pelas possíveis interações entre os elementos, que podem aumentar ou diminuir a absorção de um nutriente, com reflexo no seu teor nas folhas. Além disso também devem ser observados os fatores climáticos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. INFOAGRO, El Cultivo de la Gérbera. URL://www.infoagro.com.br, (24/03/2005).

2. ANDRADE NETO, Cícero Onofre de, Sistemas Simples para Tratamento de Esgotos Sanitários

Experiência Brasileira. Rio de Janeiro: ABES, 1997. 301p.

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Referências

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