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Palavras chaves: Paisagem; Poder; Romantismo; Alemanha.

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Academic year: 2021

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Philippe Dias Leão Torres

Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)

philippe.uerj@gmail.com

O Império Alemão do III Reich: O Romantismo como máscara do Racionalismo na construção do espírito nacional através da paisagem.

RESUMO

Para a construção de um grande império germânico, Hitler e o Nacional Socialismo buscaram os ideais no passado alemão, ainda presente no imaginário do povo. O romantismo, filosofia estética, foi apropriado e reformulado intencionalmente de maneira vulgarizada para mascarar um racionalismo perverso edificado a partir da Lei das Ruínas e Ponte das Tradições nas grandes obras megalomaníacas aplicadas, entre outros, pelo arquiteto Albert Speer. Dessa forma, as políticas de paisagem teriam sido de suma importância para o imaginário e construção do povo, uma vez que traziam à tona narrativas que buscavam a identidade nacional no Espaço Vital germânico do que seria o grande e tenebroso império do III Reich.

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INTRODUÇÃO

O nacional-socialismo implementado por Adolf Hitler na Alemanha pressupunha uma apropriação de conceitos românticos trazidos por grandes filósofos germânicos. Buscou-se no passado glorioso a capacidade de criar uma ideia nacionalista de um grandioso império pautado no mito do reino, onde se busca estabelecer a mística de uma união germânica e cristã. A tentativa da restauração da grandeza alemã que, segundo a ideologia nazista, estaria em decadência na República de Weimar, começaria.

A adoção do pensamento romântico representava uma regressão gloriosa a um mundo estético, como obra de arte. Apesar de vulgarizado, alguns dos elementos desta filosofia são aproveitados, principalmente a ideia da busca pelo povo como coisa em si, impulsionando o conhecimento de sua cultura orgânica capaz de, ao ser exposta como comum a todos, introduzir uma substância poética que guiaria indivíduos a uma identidade nacional, ao povo germânico. A escolha pelo romantismo não é ao acaso. Presente no passado germânico, este estava no imaginário do povo, possibilitando a construção do espírito.

A construção do espírito romântico adotado pelo Estado Nazista, contudo, funcionara como uma máscara que não revelava suas verdadeiras intenções. De romântico o nazismo não tinha nada. O romantismo de aço, como pejorativamente fora chamado, pressupunha de maneira contraditória uma sociedade extremamente tecnocrata não desejando, nesse aspecto, voltar aos tempos arcaicos. A crítica do romantismo ao racionalismo técnico é apagada, vulgarizando o pensamento romântico. Por trás da máscara a criação de um culto ao ídolo aparece, importante na percepção da paisagem à época. O desinteresse político do povo alemão era um projeto, escondida por detrás da figura de seu líder que guiaria todos à glória. Dessa forma, o romantismo foi utilizado como uma ferramenta alienatória que criava um mito heroico, para a construção de um

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racionalismo perverso que estaria presente nas máscaras da paisagem megalomaníaca do grande império que se desejava construir.

A edificação desse grande império no Espaço Vital germânico era o projeto. O racionalismo técnico construiria inúmeros monumentos heroicos de natureza romântica, a contradição estava constantemente presente. As influências da megalomania nazista são trazidas da arquitetura greco-romana sob, segundo Albert Speer (1975), arquiteto de grandes obras Hitleristas, a Lei das Ruínas. Sendo assim, o mundo refletido na paisagem alemã tornar-se-ia um receptáculo estético que provocaria a transmissão do espírito germânico ao futuro. O transporte significado de um tempo para outro em forma de monumento arquitetônico que guardaria a memória de um período glorioso de seu povo.

As obras nazistas, sob a tutela da Lei das Ruínas, pressupunham uma Ponte de Tradições, ser eternas. Ao contrário das construções modernas, as inspirações gregas trariam às edificações um futuro de ruínas memoriais, não destroços enferrujados. O conceito é inspirado nas ideias dos grandes impérios do passado e, tendo a Alemanha o interesse de tornar-se um, a prática da paisagem tornou-se um projeto político.

AS INFLUÊNCIAS DA MEGALOMANIA NAZISTA E O ROMANTISMO COMO FERRAMENTA

As influências do projeto cultural nazista partem de uma rica filosofia de origem alemã. O romantismo alemão, em sua essência nacionalista busca as origens do povo, suas singularidades e narrativas que constituem a ideia de nação. Assim como fizera Alexander Von Humboldt, o filosofo Johann Gottfried Herder pouco antes teria revelado novos ares ao que se chamaria de antropologia cultural. Suas expedições marítimas, segundo Safranski (2010), buscavam as origens das nações e o espírito do povo, através de canções populares, literatura, linguagem e narrativas que constituem sua cultura. Assim, as individualidades dos povos aparecem e, soberanamente, contrapõem-se de maneira democrática, ou seja, em suas singularidades deveriam viver

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em harmonia. As sociedades criam documentos e normas de convivência de acordo com as narrativas de suas regiões: mitos e tradições familiares, por exemplo. A poesia é de suma importância, portanto, na constituição do espírito nacional.

O projeto político nazista se apropria de tal filosofia, como dito, de origem alemã – o que remonta uma ideia de nacionalismo e busca por uma glória no passado – de maneira vulgarizada. O nacionalismo nazista, apesar de individualista, não era democrático, uma vez que tentava impor como verdade absoluta suas concepções em uma relação violenta – as vezes sangrenta, outras sutis – de poder. Contudo, a acepção de tal filosofia fez com que houvesse uma maior preocupação na busca pelo passado germânico, trazer as narrativas do passado glorioso para uma nação que, segundo Hitler, estava em decadência moral durante a República Weimar.

A cultura, para que seja eficaz precisa ser reproduzida nas ações da população de maneira não reflexiva, para que pareça senso comum. Dentre outros, as políticas de paisagem foram importantes para adoção do sinistro projeto nazista.

A influência romântica faz com que o partido nazista adote políticas de paisagem pensando em narrativas pretéritas. A arte e arquitetura greco-romana são as principais influências da nova política. Não era atoa, as formas estavam no imaginário germânico, sua acepção seria de fácil aderência, e as intencionalidades funcionais para um projeto de futuro.

Arquiteto oficial do partido, Albert Speer (1975) confirma tais influências, havendo uma maior ocorrência para o classicismo. Assim, a arquitetura grega tinha maior aceitação da ordem clássica de estilo dórico.

Foi motivada por minha preferência pelo mundo dórico. Não fui à Itália contemplar os palácios do Renascimento e as colossais obras romanas, embora lá tivesso podido encontrar modelos para minhas construções. Dirigi-me à Grécia, o que me parecia lógico naquele tempo (Speer, A. 1975. p.76-77)

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A escolha pela arquitetura greco-romana, obviamente, carregava narrativas poéticas a medida que intencionava criar um espírito alemão antes em decadência. Sua megalomania buscava infundir nos alemães a confiança em si, para afirmar sua grandiosidade, coloca-los em situação de igualdade com qualquer outra nação.

Uma das megalomanias arquitetônicas do projeto nazista de política de paisagem é o Zeppelinfeld. O projeto, que fora concluído na Arena de Desfiles do Partido Nazista. A construção dantes localizada na Arena de Desfiles do Partido Nazista, tem inspiração no Altar de Pérgamo, estrutura dedicada a Zeus que localizava-se na cidade grega de Pérgamo (atual Turquia).

Nos começos de 1934, Hitler surpreendeu-me com a primeira das minhas grandes tarefas. A tribuna provisória de madeira no Zeppelinfeld de Nuremberg tinha de ser substituída por uma construção de pedra. Estive muito preocupado com os primeiros desenhos, até que me acudiu uma ideia salvadora: grandes escadarias, realçadas e rematadas na parte superior por uma grande galeria, sustentada por pilares, flanqueada nas duas extremidades da construção por dois bastiões de pedra, que a fechariam por ambos os lados. Não havia dúvida de que o projeto fora influenciado pelo altar de Pérgamo. (Speer, A. 1975. p.66)

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Figura 1 - Zeppelinfeld. disponível em: http://edjoseph.blogspot.com.br/2010/09/decision-at-nurnberg.html

Figura 2 - Altar de Pérgamo. disponível em: http://www.smb.museum/nachrichten/detail/3d-modell-des-pergamonaltars.html

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O Zeppelinfeld foi palco do congresso de Nuremberg, que visava demonstrar toda a força do novo império que surgiria. O congresso foi brilhantemente documentado pela diretora do partido Leni Riefenstahl do filme O Triunfo da Vontade (1935). Com posicionamentos de câmera revolucionários a diretora conseguiu implementar uma grandiosidade estética à paisagem e símbolos de poder.

Com o fim da II Guerra Mundial, os americanos explodiram a suástica no topo da estrutura. Nos anos 70 as pilastras foram retiradas, o resto da estrutura permanece.

Outro projeto do arquiteto Albert Speer é o Estádio de Nuremberg. A construção seria o maior estádio do mundo à época e, ainda hoje o seria, cabendo, Segundo Speer (1975), aproximadamente quatrocentas mil pessoas. O sonho nazista jamais fora concluído devido ao inicio e derrota da Alemanha na segunda guerra mundial. Hoje, as escavações da construção transformaram-se em um grande lago. O Projeto tem influências romanas, mais especificamente o Circo Máximo, arena de entretenimento dos Reis e sede dos primeiros jogos romanos.

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Figura 4 - Circo Máximo. Disponível em: http://picshype.com/circus-maximus

Há, contudo, intencionalidades maiores presentes na megalomania nazista. Um projeto de poder expresso nas políticas de paisagem que visavam a construção de uma nova nação, buscando transpassar gerações de alemães orgulhosos de seu passado e esperançosos de seu futuro.

As paisagens funcionam como máscaras. Suas dimensões visíveis escondem os significados que por trás estão. A megalomania nazista não apenas é grande, mas representa um projeto de poder.

O ponto de partida da análise geográfica seria, sem dúvida, o seguinte: mesmo sendo a paisagem uma dimensão do visível, esta paisagem é o resultado, o efeito, ainda que indireto e complexo, de uma produção. A paisagem é um produto objetivo, do qual a percepção humana só capta, de inicio, o aspecto exterior. Há como que um “interior” da

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paisagem, uma substância, um ser da paisagem que só deixa ver seu exterior. (Besse, J. 2006. p.65)

A substância dita por Jean-marc Bessé são as intencionalidades presentes em uma paisagem. Tais intencionalidades são revestidas por uma camada visível, material, representada por formas, no caso das nazistas, megalômanas. A substância, portanto, sendo revestida por seu exterior, permite-se comunicar sem que seja percebida, vista, passando como senso comum e permitindo com que as ações se reproduzam culturalmente. Como no estudo das máscaras no teatro, a máscara permite a fala àquilo que por trás se esconde. Há mais de uma verdade nas paisagens.

As intencionalidades são melhor visualizadas quando ditas, quando por algum instante a cultura hegemônica desmascara as formas e revelam, mesmo que por partes, seus significados. Segundo Speer (1975) Hitler teria dito:

– Por que sempre o maior? Faço-o para infundir nos alemães a confiança neles mesmos, para se poder dizer a cada pessoa, em centenas de campos: “De modo nenhum somos inferiores, mas, ao contrário, estamos inteiramente em situação de igualdade com qualquer outra nação (Speer, A. 1975. p.84)

A busca pelo interior da paisagem deve, portanto, não ser uma busca pela verdade – já que seu exterior também o é – mas a busca por uma melhor compreensão de uma estrutura de poder, vigilante, massificadora dos corpos.

Como visto na citação, as grandes obras tinham intencionalidades presas não apenas no futuro, mas também na construção do presente. Um novo espírito, abalado pelas derrotas alemãs na primeira guerra mundial e suas consequências, precisava ser construído.

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PARA NÃO CONCLUIR

O novo império nazista, dentre outros, teria como fator primordial as políticas de paisagem para sua constituição. As diversas camadas das formas arquitetônicas megalômanas são mais bem percebidas quando se estuda a estrutura do todo. O passado e as narrativas de um povo são considerados para tal através de uma filosofia condizente com a nação. Assim, as referências para as construções não são uma mera ocasionalidade, mas um estudo nacional. Assim, as inspirações nas obras de impérios do passado foram alvos para o conturbado período da história alemã, para que pudesse mostrar ao mundo sua grandiosidade e uma tentativa de apagar de vez na história as decepções do povo alemão.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

SAFRANSKI, Rüdiger. Romantismo: Uma questão alemã. São Paulo: Editora Estação Liberdade, 2010.

SPEER, Albert. Por Dentro do Terceiro Reich. São Paulo: Editora Círculo do Livro, 1975.

EVANS, Richard J. O Terceiro Reich no Poder. São Paulo: Editora Planeta do Brasil. 2014

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